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IGNIUS - O SEGREDO DA TRANSMUTAÇÃO, POR EMMANUEL DE CÉRIZ (1)

(Síntese Vol.I)

A Aventura Quântica e o Transmutalismo

Toda a Mentalidade e Pensamento Quotidiano assentam sobre axiomas.


Os axiomas são tomados como as verdades básicas ou fundamentais a partir das quais toda a estrutura
do pensamento é construída.
Essa estrutura de pensamento determina a forma como interpretamos a Realidade e o modo como
lidamos com a mesma.

Porém, os axiomas são apenas proposições aceites como verdades apesar de não poderem ser
demonstrados como tal.
Um dos axiomas básicos é o Princípio da Identidade que diz:
"Uma coisa é igual a si própria, ou A = A".

Eu suponho que este axioma (como outros) está incompleto, o que originou toda uma matemática e lógica
incompletas e um resultante sistema de pensamento deficiente.
Como consequência ficamos privados da possibilidade de domar a Realidade por não possuirmos uma
instrumantação mental completa.

Assim, para completar o Princípio da Identidade, e apesar de aparentemente ilógico, enunciei o Axioma 1
do Transmutalismo como:
"Uma coisa é igual e diferente de si própria, ou A = A Ù A ≠ A".

Dste axioma resulta o Conceito Transmutalista de que qualquer entidade é, afinal, uma Nuvem de
Possibilidades:
Uma entidade é o núcleo denso de uma nuvem de possibilidades que engloba em si todas as entidades
alternativas, isto é, tudo aquilo que essa entidade não é!

Este é o mecanismo que permitirá a Transmorfose do ser.

.....
Enquanto se dirigiam para o Instituto de Estudos Quânticos, Íris contemplou Atlan, ali ao seu lado, e recordou-
se das estranhas circunstâncias em que o conhecera.

Fora em Montserrat, nas Filipinas, durante a violenta erupção daquele feroz vulcão...

Como mais tarde veio a saber, Atlan aventurava-se frequentemente em locais muito além dos seguros. E fora ali
que o vira pela primeira vez mesmo na margem do rio de lava fervente que o começara a cercar...

"Ele não apercebeu que eu, da outra margem, o observava... tão secretamente, quanto fascinada!", reflectiu Íris.
.....

TRANSMORPHOSYS

E, quase sem ter dado por isso, ali se encontrava Atlan


naquela terrível situação: agachado na margem,
enfrente ao rio de lama fervente.
Estava muito calor e a lava principiava a rodeá-lo.
Precisava urgentemente de atravessar para a outra margem.
Ele possuía dois braços e duas pernas -
- nada que lhe fosse útil naquela situação!
Precisaria de voar sobre a lava,
para lá chegar.
O calor era insuportável.
O magma ardente incendiava as ervas próximas.
Ele saltou para cima do pequeno rochedo.
Mesmo a tempo, porque agora, a lava rodeava-o.
Ameaçava engolir tudo.
E ele estava ali, aprisionado naquele corpo.
No seu corpo.
Sem poder alcançar a outra margem.
A pele ardia-lhe.
Anichou-se na pequena rocha.
A lava subia.
O ar quente queimava-lhe as narinas e os pulmões.
Se pudesse libertar-se dali...
deixaria tudo, até o seu próprio corpo!

Era o fim.
Porque o magma já rasava os seus pés.
E ele estava ali, no seu último reduto.
Se pudesse desfazer os limites do seu corpo...
...voava dali!
Aninhou-se mais ainda, desesperado.
Iria ser engolido...

...Iria ser engolido...


"Pois então que fosse!...",
pensou ele, já subitamente Indiferente*.
E foi quando tudo aconteceu!
Eu não sei explicar:
algo nele rasgou limites,
estourou com a rigidez da sua forma.
Ele tornou-se em nada,
ou em tudo.
E o que vi foi ele diluir-se,
tornar-se uma mancha de mata-borrão
e voar por cima da lava ardente.
(Se é que se poderia chamar àquilo
"voar"!...)
Íris.

A vida é o conjunto das


forças que resistem à morte.
Xavier Bichat

Quando interrompemos o fluxo da descrição da nossa própria pessoa, libertamo-nos do encantamento do ego
que quer fazer-nos acreditar que representa a única realidade. Nesse momento podemos reconhecer a nossa
verdadeira natureza de campos de energia, livre e fluida. A partir de então, podemos assumir a tarefa de nos
reinventarmos de um modo intencional e voluntário, capaz de responder de novas maneiras a novas situações
surgidas a qualquer instante.
"Os ensinamentos de Carlos Castañeda", Victor Sanchez
.....
"Será que foi uma alucinação?", pensou Íris ainda muito pouco segura do que acabara de observar, "Eu vi
mesmo aquilo?!?". Mas não conseguia impedir-se de ir avançando em direcção ao monte de arbustos por trás
dos quais caíra aquele ser que supostamente se diluira e esvoaçara por cima do rio de lava fervente. Tinha de se
certificar do que vira.
De súbito pensou "Será perigoso?", e prosseguiu a sua aproximação mas de forma mais cautelosa para não
perturbar o que quer que ali estivesse. "Ver sem ser vista", sim, isso seria o mais prudente. Sentia cada vez mais
receio do que tudo aquilo pudesse significar. Mas a curiosidade era mais forte...
E então viu-o. Através da folhagem apercebeu-se que era o mesmo homem jovem que estivera, ainda há
momentos, encurralado do outro lado do rio de fogo provocado pela erupção do vulcão. Ele ainda não se
apercebera da presença dela e ela esquadrinhava-o de alto a baixo procurando descobrir-lhe qualquer
característica invulgar que justificasse o insólito fenómeno que presenciara. Era um rapaz alto, de longos
cabelos loiros e vestia-se de uma forma que continha um toque pouco comum... como se tivesse um-não-sei-o-
quê de época medieval, de cavaleiro, ou algo assim. Ele encontrava-se soerguido e de perfil para Íris, como
procurando recompor-se de qualquer coisa. "Talvez da experiência por que passara", pensou Íris.
Foi quando ele virou repentinamente a cabeça na sua direcção e, através da folhagem, os seus olhos se
cruzaram.
.....

.....
Aqueles olhos vibrantes fitavam-no com uma intensidade quase feroz, pensou Atlan quando se apercebeu
daquilo que inicialmente lhe pareceram ser duas brasas que cintilavam através da folhagem. Fora a sensação de
estar a ser observado e analisado que o fizera voltar-se naquela direcção. E ali estava alguém por trás daquela
moita que não tirava os olhos de si. Deveria ser uma mulher porque lhe vislumbrava, por entre a folhagem,
aquilo que pareciam ser uns longos cabelos cor-de-fogo.
Ficaram assim imóveis, observando-se, medindo-se, algo receosos, algo desconfiados durante o que parecia
estar a tornar-se uma eternidade.
O que estariam a sentir? Ainda não se conheciam... mas parecia um daqueles momentos ainda mais mágicos do
que a "magia" que tinham acabado de passar e presenciar. Talvez ainda não o soubessem definir mas era como
se sentissem que algo no íntimo deles se estava a retorcer e ao mesmo tempo a tocar-se por fim, após uma longa
espera.
.....

.....
Quando Íris saiu da folhagem e os dois se viram frente a frente sentiu que ele estava tão estupefacto quanto ela
com tudo aquilo. Pareceu-lhe que ele não tinha a certeza de que ela o tivesse ou não observado. De qualquer
modo não havia tempo para conversar. Ele ofereceu-se para a conduzir sem demora a um porto seguro, e ela
aceitou. Urgia abandonar a ilha.
Só muito mais tarde, perante a insistência de Íris, Atlan lhe falou sobre o que quer que pudesse ter ocorrido com
ele próprio, ali, durante a violenta erupção do vulcão.
Ele introduziu a mão na sua pequena mochila e retirou de lá um livro espesso.
- Esta é uma edição do "Livro dos Mortos" do Antigo Egipto. Talvez o livro mais antigo da humanidade -
explicou. Possivelmente escrito há cerca de 7.000 anos!... Mas uma tradução mais exacta do seu título seria
"Livro da Saída para a Luz de o Dia". Quanto a mim, prefiro chamá-lo de "Livro das Transmorfoses"...
- "Transmorfoses"? - interrompeu Íris.
- Sim, é como designo as mutações temporárias da forma de um ser. Este livro leva a crer que esse era um tema
da maior importância para os antigos egípcios. Repara, por exemplo, neste capítulo...
Abriu o livro numa página seleccionada e leu:
....

Capítulo LXXXVI
Para ser transformado em Andorinha

Eu sou uma andorinha, uma andorinha...


Eu sou também a deusa Escorpião, filha de Rá...
Oh! deuses quão doce e agradável me é vosso perfume que arde e sobe para o horizonte!
Vós que habitais a Cidade Celeste!
Estendei-me vossas mãos protectoras para que eu possa, sem perigo, residir no Lago de Fogo!...
Pronuncio as palavras de Poder, digo: "Olhai bem, Eu sou Horus, eu me apodero da Barca Celeste e torno a pôr
em seu trono Osíris, meu Pai.

do ‘Livro das TransMorfoses'


...também chamado ‘Livro da Saída para a Luz de o Dia'
...conhecido como ‘Livro dos Mortos do Antigo Egipto'

.....
Mais tarde, Atlan explicou a Íris que uma das alavancas que lhe permitiu escapar com vida daquela aflitiva
situação em que se encontrara, rodeado pela lava fervente, fora um invulgar *estado de indiferença que dele se
apoderara quando esgotara todas as outras possibilidades de fuga...
Mas Íris queria saber mais, muito mais. Subitamente sentia-se acometida por uma incontrolável curiosidade em
conhecer Atlan e tudo o que o levara até ali, até àquela estranha façanha. Queria saber as suas motivações e os
seus objectivos profundos porque principiava a pressentir que eles se relacionavam de algum modo com os seus
próprios.
Atlan confidenciou-lhe então que a "transmutação" representava o sonho e o trabalho de toda uma vida, de toda
a sua vida...
Íris pediu-lhe para a esclarecer melhor sobre o que é que ele queria dizer com essa "transmutação".
- Desde a minha mais remota infância que sinto haver em nós uma enorme verdade escondida - respondeu -
uma verdade capaz de transformar tudo. Capaz de transformar completamente a nossa relação com o que nos
rodeia e... até de nos transformar a nós próprios!
- Capaz de nos transformar a nós próprios?
- Sim, capaz de nos transformar a nós, meros seres humanos, em seres semelhantes a deuses!... - disse ele
enquanto estendia os braços... muito abertos!
E Íris ficou ali, abismada com tão estranha revelação a olhar para aquele jovem homem e a pensar que ele
dedicara toda a sua vida a perseguir um sonho tão inédito quanto aparentemente impossível: o de se transmutar!
Enquanto contemplava o seu olhar profundo parecia-lhe estar a viver uma espécie de sonho acordada. Ela
própria vinha investigando o tema da transmutação há vários anos, embora de uma perspectiva mais impessoal,
mais teórica, mais relacionada com a transmutação física dos elementos... e, mesmo assim, muitas vezes se
interrogava se não estaria a perseguir uma quimera e a perder o seu tempo numa pesquisa impossível. Porém,
pela primeira vez na sua vida, tinha acabado de encontrar alguém que parecia acreditar ainda mais naquilo do
que ela.
Quis saber o que ele tinha já descoberto, até onde tinha ele chegado, quais tinham sido os seus passos.
Atlan começou então a contar-lhe que a sua longa investigação se iniciara há muito tempo atrás, ainda na sua
infância, com uma coisa a que ele gostava de chamar "a teoria do puzzle"...
....

A Teoria do Puzzle...

Atlan sempre fora uma criança muito diferente das outras. Possuía uma forma tão invulgar, tão clara e tão
estranhamente pura de ver as coisas que parecia deixar adivinhar em si uma qualquer natureza alienígena...
como se viesse, não daqui, da Terra, mas de um outro mundo distante.
A sua vida sempre fora pautada por retumbantes brilhantismos nas áreas mais diversas, assim como por
desencantos e totais períodos de desinteresse.
Nasceu morto, vítima de um parto difícil e para além da época.
Quando, finalmente, abriu os olhos para o mundo, achou que ele deveria ter mais cor, mais beleza, mais amore,
sobretudo... deveria ser mais delicado. Foi essa falta de delicadeza e sensibilidade com que deparou que o levou
a esbarrar, várias vezes, com os que o rodeavam. Sentia-se como uma lisa placa de cristal, coberta apenas por
uma fina camada de cera, que aterrava numa terra de arestas pontiagudas e escarpadas que feriam a sua sensível
superfície... rasgando nela rudes e violentos sulcos.
O mundo que percepcionava labutava já, frenética e atarefadamente, numa algazarra de agressividade e truques
de competição que, aos olhos do pequeno Atlan, era egocêntrica e grotesca.
No entanto, havia muitas outras coisas, no mundo, que o fascinavam e a sua maior paixão era descobrir,
descortinar "o que era tudo isto" no qual se encontrava inserido.
Foi assim que, aos seis anos, quase dois antes da sua entrada para a escola, esboçou a sua primeira teoria: a
"teoria do puzzle"...
...havia no mundo, na vida, na existência em geral, uma grande quantidade e diversidade de "peças" soltas
(como num "puzzle" ou "quebra-cabeças") - ainda que fosse, de facto, uma quantidade bem pequena quando
comparada com a imensidão da "imagem" total, constituída por todas as "peças" da existência.
Num típico jogo de puzzle, reconstituir a imagem global era uma tarefa simples: bastava, para isso, procurar e
encaixar as peças em falta.
Mas o mesmo não se passava com a "Imagem" do mundo, com a "imagem" da Vida e da Existência: havia
muitas peças que faltavam e que não era possível encontrar - porque não estavam ainda disponíveis pelo
conhecimento humano.
Eram questões fundamentais cujas respostas ninguém parecia conhecer. E como encontraria ele essas "peças"?...
essas "peças" da "imagem" global da existência - do "o que é a existência?" - que o pequeno Atlan procurava
reconstruir, como se de um puzzle gigantesco se tratasse...
Sim. E como?... Como descobrir, por si próprio, aquilo que a ciência ignorava ainda?
Seria possível?

A ideia reveladora surgiu-lhe como que por mero acaso.


Foi durante uma desses longos momentos que ocorriam quando sua mãe encontrava uma amiga na rua e
conversava sobre coisas que nada diziam a Atlan. Ainda por cima, ele ficava ali preso, pela mão da mãe, sem
poder saltar e brincar nas suas loucas cavalgadas imaginárias.
O seu espírito irrequieto era por demais activo para ficar parado, imóvel, por tanto tempo. E, já que o seu corpo
não podia mover-se, restava-lhe mover o seu espírito.
Foi assim que começou a entreter-se, ao olhar para o molho de chaves que sua mãe agitava enquanto
conversava:
"Como será uma fechadura por dentro?"
"Qual será o tipo de mecanismo que permite, às chaves, abrir e cerrar as fechaduras das portas?", foram os seus
primeiros pensamentos.
Talvez que se Atlan tivesse, naquele momento, os movimentos livres, se aventurasse a desmanchar uma
fechadura e a ver qual seria o seu mecanismo interior.
Mas encontrava-se restrito à prisão da imobilidade... e restava-lhe apenas o seu pensamento para descobri-lo.
O que o terá levado a enveredar por "caminhos" menos experimentalistas...
...Sentiu a sedução do processo de descoberta realizada sem ver o interior do objecto que pretendia conhecer...
"Era muito interessante", pensou, "e era um óptimo entretenimento para se distrair durante as horas de
interminável "seca".
A fechadura, que era tapada, oculta - e que nem sequer estava ali presente - era como um espécie de "caixa
negra" para Atlan, que desejava "adivinhar-lhe", ou "deduzir-lhe" o seu conteúdo.
Restava-lhe, assim, tentar descobrir como seria o mecanismo no interior dessa "caixa negra" através, apenas,
das suas relações com o meio, isto é, através das interacções da "caixa" com a chave.
Começou por olhar atentamente para a forma das chaves e para todas as suas ranhuras...

E foi assim que esboçou toda uma série de processos mentais baseados no que, ele não sabia ainda, se
designaria por indução, lógica, dedução, intuição, extrapolação...
Atlan ficou fascinado com a sua "teoria da caixa negra" porque se apercebeu, imediatamente, que ela o poderia
ajudar imenso... A descobrir quais e como eram essas "peças" em falta: essas "peças" ainda desconhecidas pelo
homem. Esses "fragmentos de imagem" do seu enorme "brinquedo": o imenso "puzzle" da "imagem" do
universo.
Portanto, as suas teorias da "caixa negra" e do "puzzle" completavam-se!...

Curiosamente, poucos anos mais tarde, um grupo de cientistas norte-americanos viria a elaborar uma teoria
cibernética muito semelhante à sua: à qual chamaram - também por curiosa coincidência - "the black box
theory", a teoria da caixa negra. Que constituiu um dos marcos mais significativos da ciência: através de
diversas operações mentais e da análise das interacções de um objecto cujo interior é desconhecido ("black
box"), algoritmizar o seu funcionalismo, para chegar a inferir, a descobrir, como é o seu mecanismo interior -
sempre sem o ver.

...
No regresso das Filipinas Íris contemplava pensativa as águas distantes do oceano azul-turquesa...

Agora que ela conhecera uma parte importante da infância de Atlan adivinhava que viria a compreendê-lo e
sentia que aquele manto de estranheza que o encobria, derivado da forma inédita como o conhecera, parecia
estar a desvanecer-se e a deixar transparecer um Atlan bem mais humano e com uma sede de respostas, afinal,
um tanto semelhante à sua.
Ela própria também nunca aceitara completamente esta nossa posição colectiva de simples e frágeis seres
mortais sujeitos às forças da natureza, do tempo e da morte. No fundo, não sabia bem porquê, sempre tivera
essa estranha intuição de que nós, humanos, possuímos "mais qualquer coisa" lá bem no nosso interior,
enterrada ou perdida nas nossas profundezas; e que "essa tal coisa" nos poderia potenciar até ao ponto de nos
transformar, isto é, de nos "transmutar" em seres capazes de dominar o Tempo e o Espaço...
...Sim, de algum modo ela sempre pressentira que existia em nós, algures, a "essência adormecida dos deuses"...
nos quais nos poderíamos a nós próprios transmutar!
Talvez não passasse de um sonho louco...
Mas agora ela conhecera Atlan... que parecia ter um sonho comparável ao seu!

Olhou para trás no tempo e reviu algumas das suas pesquisas e apercebeu-se como elas estavam tão
relacionadas com a grande busca de Atlan. Também ela procurava uma nova forma de lidar com a realidade,
capaz de actuar sobre ela e de a alterar através da pura acção da nossa vontade e consciência.
Recordou-se dos tempos passados no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, o CERN, onde obtivera as suas
primeiras experiências com aceleradores de partículas atómicas. Ali conseguiam já transmutar-se algumas
porções ínfimas de matéria (até mesmo chumbo em ouro!) embora sem qualquer interesse económico ou prático
devido às enormes e dispendiosas quantidades de energia necessárias ao processo...
...

APONTAMENTO #1:

"/.../ Em ordem a compreender as leis destas transmutações e, se possível, tirar proveito do seu conhecimento, o
Homem começou por estudar a radiação cósmica natural, fonte das partículas de alta energia originadas na
nossa galáxia ou alhures e construir depois aceleradores [de partículas] e pilhas atómicas. Todavia, as
quantidades de material tratado pelos aceleradores de alta energia permanecem infinitesimais em relação, por
exemplo, ao ciclo do dióxido de carbono. Um moderno sincrotrão precisaria de mais de dez mil anos para tratar
um grama de material protónico!

"Portanto, até agora apenas se tem podido recorrer à química mais simples para produzir moléculas à custa dos
elementos tal como se nos apresentam, sem possibilidade de neles encontrar a energia que permitiria a
transmutação directa do carbono em oxigénio, a não ser que um fenómeno, presentemente desconhecido e de
toda a aparência improvável, tornasse possível a referida transmutação a baixa energia."
Robert Gouiran, Particles and Accelerators
Íris pensava que o seu "Princípio da Certeza" seria a alavanca fundamental para conseguir realizar a
transmutação a baixa energia.
Sem dúvida que muito admirava os fabulosos aceleradores de partículas. Eram admiráveis obras da Física
Nuclear e muito tinham contribuído para a descoberta da constituição da matéria.
Mas não era esse, o tipo de abordagem transmutacional que procurava.
As partículas constituintes dos átomos mantêm-se coesas por poderosas forças - principalmente pela força
electromagnética, pela força nuclear forte e pela força nuclear fraca. Para provocar um novo arranjo nessas
partículas era necessário aplicar-lhes uma outra força que contrariasse essas forças de coesão. O que exigiria um
dispêndio enorme de energia...
Não lhe parecia nada elegante, para os fins em vista.
Era o que se passava nos aceleradores de partículas: para se obter a transmutação de apenas pequenas
quantidades de átomos de um dado elemento em átomos de outro elemento diferente, era utilizado o processo de
os bombardear com partículas super-aceleradas a muito altas energias.
Este método duro, de bombardear umas partículas com outras, aceleradas por forças gigantescas, para
perfurarem as suas barreiras de forças electromagnéticas e nucleares, resultava num consumo imenso de
energia. Além de exigir meios tecnológicos muito sofisticados.
Deveria haver uma forma mais essencial, mais vinda de dentro, para o fazer.
Mexer no cerne da questão, na ‘raiz' do problema, para lhe alterar os ‘ramos'. Em vez de os procurar ‘vergar' à
força.
E claro que, supunha Íris, a criação de algo como o que designava de ‘MetaConsciência' representaria, também,
um factor vital na transmutação directa...
...era aí que a sua linha de pesquisa colidia com a de Atlan.
Mas Atlan queria, para além de tudo isso, e fundamentalmente, transmutar-se a ele próprio!...

FASE I

NASCENTE

....
O mais insólito é que parecia a Íris haver mesmo algo de profundamente alienígena em Atlan. Ele parecia
possuir estranhas memórias. Recordações mais ou menos fugazes de um qualquer "passado" distante vivido não
sabia onde nem quando...
Algumas dessas "lembranças" eram tão invulgares que parecia não se poderem enquadrar em qualquer época,
mundo, ou situação em que nós, seres humanos, pudéssemos alguma vez ter vivido. E, no entanto, ele
confidenciou-lhe que por vezes as sentia tão suas e tão reais que era como se, por breves instantes, a sua mente
interior descerrasse uma cortina para lá da qual se escondia uma outra realidade pessoal ainda mais ampla, ainda
mais verdadeira e profunda do que aquela em que vivemos.
Uma dessas aparentes "memórias", talvez uma das mais remotas, era a de "um deus muito antigo", algo que
Atlan tentara descrever e sintetizar num pequeno texto que escrevera na sua adolescência...
...

Um deus antigo

Ele era Ptah, o três vezes grande Ptah.


E caminhava para Ptah, capital do seu império de GoneWonLane...

Ele era um ser muito antigo.


Talvez um deus... de um universo há muito desaparecido ou perdido no tempo.
Não sei...
Talvez tenha sido poupado, tolerado ou respeitado por todos os deuses e universos que lhe sucederam.
...Até ao nosso Tempo.
Mas quis misturar-se com a espécie. Sentir Tudo.
Vislumbrar todos os parâmetros.
Ser um ser ínfimo e ser também o infinito.
Ser animal e ser humano.
Perfeito, mas também tropeçar.
Descobriu ser essa a sua plenitude do seu desejo: tudo ser.
...
Mas, para isso, pareceu-lhe ser necessário descer dos céus e morrer como deus que era...
Criou então um adversário ..
...e deixou-se despedaçar por ele. Fragmentou-se em vários pedaços dispersos.
E assim, de certo modo, morreu.
...E nasceu no seio da sua própria criação,
como apenas mais um ser por ele criado.

...
Agora iria empreender toda a longa marcha
que o levaria de novo ao seu ser.
E no fim,
teria realizado a grande síntese sinérgica:
Seria mais do que ele próprio havia alguma vez sido.

A aventura quântica começa na Grécia Antiga, há 2500 anos (pelo menos segundo a História conhecida)...
É quando Demócrito considera que a matéria é um conjunto de minúsculas partículas, às quais chama ‘átomos'.
‘Clinamen' é a noção do incessante e errático movimento destas partículas ("de uma desconexa turbulência!")
expressa mais tarde pelo poeta romano Lucrécio.
Empédocles , Epicuro e Pitágoras defendem a teoria da descontinuidade da matéria.
Mas a teoria oposta, a da continuidade, defendida por Heraclito e pelos Eleatas mantém-se dominante durante
mais 23 séculos...
...até à descoberta do movimento browniano em 1827.
Mas é só com os trabalhos de Wiener, Delsaux e Carbonelle, entre 1863 e 1895 que se chega à teoria molecular
dos gases.
Já em 1811, Avogadro estabelecera a sua hipótese de que volumes iguais de gases contêm o mesmo número de
moléculas.
Porém só em 1875, Van der Waals mede o número de Avogadro = 6 x 1023 moléculas por mole (molécula-
grama de um gás).
Mas só com a realização de experiências no domínio da electricidade se dá o grande passo...
Assim, em 1880, é observado o primeiro feixe de raios catódicos num tubo de Crookes.

E em 1895 J. Perrin demonstra que os raios catódicos são na realidade partículas em movimento.
Mas é com a famosa experiência de J. J. Thomson que se evidencia, por um lado, serem tais partículas
desviadas pelos campos eléctricos e magnéticos e possibilita, por outro, medir o quociente e/m - das suas cargas
pelas respectivas massas.
E assim nasce o electrão, a primeira das partículas elementares, indicada pelo símbolo e-... A Aventura
Quântica, 1
...
Em outras ocasiões, os "estranhos sonhos", ou "vislumbres tumultuosos de uma qualquer memória não terrena"
de Atlan condensavam-se na visão de miríades de Seres Alados que nos primórdios turbilhonaram a ebulição
dos céus num frenesim de estranhas batalhas.
Eram milhares, ou mesmo milhões, de seres poderosos que viviam entre o céu e a terra e que pareciam ter
resultado da fragmentação em múltiplos estilhaços de uma qualquer divindade única e inicial...
Era uma época de tempos sem tempo.
E em que o poder desses seres prevalecia sobre as próprias leis da física.
Atlan mostrou a Íris a folha de papel já amarelecida pelos anos onde descrevera um desses seus "sonhos" de
invulgar nitidez que tivera recorrentemente na sua infância.
Chamava-lhe "Batalha Púrpura" porque lhe parecia uma contenda travada sobre as nuvens inflamadas dos tons
avermelhados do sol poente e tingidas do sangue dos cavaleiros...
E durante esse "sonho" ou "regresso momentâneo do seu espírito a outro lugar e a outro tempo" ele, Atlan,
sentia que estivera lá, naquele cenário, lutando por uma qualquer causa agora desconhecida.
.....

Mas Ptah decaíra inicialmente apenas para um estado intermédio...


E, tal como o bosão intermediário,
...Ele(s) viviam entre o céu e a terra.
...Eram miríades de cavaleiros que povoavam as nuvens fúlgidas...

A Batalha Púrpura

Os cascos dos cavalos martelavam furiosamente


as poças vermelhas dispersas por toda a parte.

Os cavalos seriam brancos,


mas, ou tinham reflexos de fogo,
ou estavam tingidos de sangue.
No centro de todas estas nuvens, banhadas de púrpura
pelo sol poente, Eólipus lutava com vigor.
Mergulhado até aos joelhos, mas de pé firme,
brandia furiosamente a espada.
O seu cavalo estava já não sabia onde,
mas ele continuava,
escorrendo sangue pelos braços, pelos flancos,
pelas espáduas.
Golpeava, penetrava e decepava
os valentes e nobres adversários.

O vermelho tudo tingia.


Era um banho de sangue,
era a violência total. A dor. Implacável.
As nuvens estavam alagadas
de pequenas e grandes poças de sangue;
os cavalos atropelavam-se;
os guerreiros rasgavam-se.

Mas, surpreendentemente... era belo.


Até mesmo magnífico!
Era a apologia total da violência...
...Mas de uma violência divina...

...porque, afinal, todos eles eram Reversíveis.


E por isso tinham o poder de se reconstruirem,
de se regenerarem..
...totalmente!

...
e
então,
no agora,
Atlan supunha
que o que tornava tão terrível
a violência na Terra,
e insuportável a dor,
era a irreversibilidade.

... porque todos nós somos, afinal,


escravos do Tempo.

Nunca houve um tempo que Eu não tenha existido, nem tu, nem todos esses reis; nem no futuro nenhum de nós
deixará de existir...
Diálogo entre Krishna e Arjuna,
antigo texto Veda do "Bhagavad-gitä"

Fragmento #1

Os Seres Alados...

Olhos de azul-lápis
e todas as cores
que te olhavam
e te não viam.

Asas douradas
esvoaçantes nos céus;
riscos brancos
tingidos de lágrimas.
Tingidos de lilás
ou roxo...
...Até encontrar, de novo,
o néctar do Impossível!

Fragmento #2

...e os Pheros
O grande monarca, no trono sumptuoso, estava imerso em profundas reflexões:

"Um dia, Gea veio ter comigo a Uruk. Foi há muito, muito tempo...
"Trazia um pequeno Phero* ao colo.
"E pediu-me que a deixasse levá-lo ao mundo de baixo.
"Seria uma curta viagem", dissera, "...em breve regressaria."
"Como justificação deu-me um propósito indefinido.
"Mas o Phero nunca mais voltou."
...tinha ficado perdido no tempo.
"Estranho e Pheroz Phero aquele, que se refugiava no convívio dos leões.
"Sempre lhe pressenti uma vontade obstinada e qualquer objectivo desconhecido, mas nunca o compreendi.
"Nem à sua força Impetuosa e indomável, capaz de vergar leões*.

"Gilgamesh, onde andará ele agora?..."

...
Reminiscências passadas?
Porque se identificava Atlan tanto com algumas espécies de seres lendários?
Em certos momentos a sua memória parecia descerrar um véu que o deixava entrever vivências de seres
poderosos que se situavam entre os deuses e os homens...
Íris questionava-se muitas vezes se esse fenómeno não seria afinal uma capacidade mais aguçada que o comum
que Atlan tinha de recordar fragmentos de uma "memória colectiva" subjacente a todos nós. O "inconsciente
colectivo" da nossa espécie?... Não, parecia algo mais profundo e abrangente do que isso...
Segundo mais tarde Atlan lhe explicou, ele considerava todas as entidades existentes, isto é, todos os seres e
objectos, como "nuvens de possibilidades".
- Qualquer entidade existente, Íris, é afinal uma nuvem de possibilidades que contém, predominantemente, essa
determinada entidade mas também todas as outras entidades alternativas, as quais, aparentemente, ela não é.
- Mas então, se tudo são "nuvens de possibilidades" - perguntou-lhe Íris - o que é que distingue as coisas umas
das outras?
"Uma boa questão, sem dúvida", pensou Atlan continuando a caminhar com o olhar preso no infinito.
- Talvez apenas a memória Íris. Talvez seja apenas um diferencial de memória o que nos separa, por exemplo,
dos deuses...
...
Finalmente, em 1910 Milikan realiza a experiência que permite medir a carga eléctrica do recém-nascido
electrão.
Já há algum tempo atrás se conhecia o fenómeno luminoso da interferência que levava a admitir ser a luz uma
onda sinusoidal que se propagasse no espaço como as vagas no oceano.
E Maxwell, em 1868, definira o seu movimento numa das mais elegantes equações da física, considerando as
vibrações luminosas como o caso particular das ondas electromagnéticas em que a frequência de oscilação é
maior , o que corresponde a um menor comprimento de onda.
Em 1896 Henri Becquerel descobre a radioactividade, através da impressão acidental das radiações de sais de
urânio numa placa fotográfica.
E em 1899 Giesel e Meyer descobrem uma outra radiação penetrante dotada de carga eléctrica.
Marie Curie, Villard e Becquerel descobrem radiações sem carga eléctrica em 1901.
É então que Rutherford, em 1903, identifica a radiação a como uma partícula e conclui que a radioactividade é o
sinal da desintegração do núcleo atómico.
Mais tarde, sugere um modelo atómico onde electrões giram em torno de um núcleo de carga eléctrica positiva
mas da mesma magnitude que a dos seus electrões.
Admite-se então que:
a partícula a é um núcleo de hélio (2 protões e 2 neutrões)
o raio beta é um electrão
o raio gama é um quanto de radiação electromagnética

...e supõe-se que o fotão será um "grão de luz".

A Aventura Quântica, 2
...
"Um deus no corpo de um homem não é um deus nem é um homem", ouvia Íris tantas vezes dizer Atlan quase
que num queixume. E, nesses momentos, quando olhava para ele, talvez num fugaz momento da sua
imaginação, parecia-lhe não o ver simplesmente a ele mas a um ser complexo... talvez algo como uma mistura
de seres, talvez algo como um Ptah-Eólipus-Gilgamesh-Atlan...
E então soltava a sua fantasia e deixava-a voar até admitir a hipótese de que aquele jovem que caminhava ali, ao
seu lado, pudesse ter sido, algures nos meandros da teia da existência e do tempo, uma qualquer espécie de ser
dotado de poderes quase ilimitados ou divinos que, por algum motivo, decaíra para um estado de baixa energia
e agora sofria com isso e só ansiava por recuperar a divindade da sua natureza perdida... Percebia-lhe o seu
sofrimento, angústia e pavor de nunca vir a conseguir recuperar o seu anterior estado intemporal e quase
absoluto. Isso claro, se as "estranhas memórias" de Atlan tivessem qualquer base real...

Por vezes Atlan também sonhava com supostas soluções para o seu problema: soluções que possibilitassem
transmutar-se a si e à realidade nas suas condições anteriores à queda no estado humano e mortal. Alguns desses
sonhos seriam possivelmente o resultado de tantas horas de pesquisa como as que despendia na física das
partículas sub-atómicas:

"Se alterarmos o bosão intermediário, toda a realidade se alterará"... fora esse um dos estranhos sonhos que
tivera. E que no momento lhe parecera uma estrela, uma luz na escuridão. Uma porta para a Liberdade Total.
Mas, de novo lhe faltavam meios para testar mais essa ideia. Não era fácil remar sozinho contra tudo e todos e
querer abarcar ao mesmo tempo os segredos mais íntimos da estrutura da existência...
...
Devido a partilharem cada vez mais o encantamento que rodeava o segredo da transmutação, Íris e Atlan
passaram a encontrar-se com frequência.
Eram habituais os seus longos passeios através da frescura de frondosos jardins onde passavam horas e horas a
deliciarem-se com aquilo que iam conhecendo um do outro.
Por vezes entrelaçavam as mãos e Atlan apercebia-se de como era macia e acolhedora a pele de Íris e de como
era bom estar ali, simplesmente, com ela.
Ele possuía uma invulgar memória onírica e contou-lhe, com uma precisão admirável, sonhos que tivera há
muitos anos atrás, alguns deles ainda na sua infância. Mas aquele que mais a impressionou foi "A Saga de
Eoalkper Eoasell".
Devido à sua estranha nitidez assemelhava-se mais a uma experiência realmente vivida do que a um sonho. E
quando Atlan o evocou, ao começar a contar-lho, Íris olhava para ele e sentia que ele o vivia de novo:
- Subitamente caí num sono profundo e vi-me a mim próprio numa outra parte da Terra sulcada de ilhas numa
época distante. E nem sequer me chamava Atlan, chamava-me Eoalkper Eoasell...
...
A saga de eoalkper eoasell
síntese simbólica de um percurso
Há coisas que nunca se podem verdadeiramente dividir...
Há muitos milhares de anos, perdida na imensidão do tempo, existia uma pequena nação de guerreiros onde
vivia uma criança chamada Eoalkper Eoasell.

Eoasell era um menino com sete anos de idade em tudo semelhante aos outros. Mas, tinha a estranha sensação
de que aquilo que era, não correspondia ao seu verdadeiro ser. Sentia que este seu corpo era muito frágil e
limitado; como que o estranhava. Porém, perguntava-se:
"Como posso estranhá-lo se nunca tive outro?"

Por vezes, tinha realmente a sensação de que já tinha tido uma natureza diferente, poderosa e ilimitada e, que
agora, estava aprisionado neste corpo onde aprisionadas estavam também as suas capacidades.
Não, esta não poderia ser a sua verdadeira natureza: nas suas brincadeiras, a sua força interior, fazia-o saltar de
altos muros, mas ao aterrar, rachava a cabeça e magoava-se. Apesar disso, persistia, sentia que não poderia ser
assim, ele não era assim, não poderia ser assim frágil. Ao brincar de guerreiro, atirava-se sozinho contra muitos
adversários. As outras crianças envolviam-no como formigas e acabavam por fazê-lo tombar. No interior de
Eoasell pulsava um outro tipo de ser - um ser indomável e ilimitado. Um ser que se entristecia por não poder
cruzar os céus como um cometa e mergulhar no fogo do sol, atravessando-o de um lado ao outro e ficando ao
rubro, mas mantendo-se indestrutível, imparável, pleno de liberdade total. Deveria ser capaz de derrubar muros,
de remover rochedos, de parar a chuva e, sempre que se ferisse, o seu corpo deveria regenerar-se de imediato.
Eram estas as estranhas sensações do pequeno Eoalkper Eoasell.

Quando fez quinze anos, passou casualmente em casa de Elinoa, uma velha sábia, e encontrou-a reunida com
outras anciãs. Soube que algumas eram de terras distantes, do outro lado da costa. Como estavam na estação
fria, sentavam-se em volta do fogo que crepitava e contavam lendas e histórias de um passado longínquo e
nebuloso. Uma dessas lendas causou um impacto e um sentimento de familiaridade inesperados em Eoasell.
Quem a contava chamava-se Amaroa:

"Há muito tempo atrás, existia um deus chamado Manu. A sua aparência física era semelhante à de um humano.
Diz-se até que foi criada por ele a nossa espécie.
"A dada altura, não se sabe bem porquê, Manu decidiu deixar de ser um deus para se tornar humano. Talvez
porque se sentia só e queria ser um entre muitos seus iguais, ou porque queria fazer evoluir os seres humanos a
algo semelhante a si próprio, ou porque se queria transcender... ninguém sabe ao certo.
"Manu fragmentou-se então em muitas partes e misturou -se com as almas dos embriões humanos. Ao dividir-se
em várias partes perdeu a consciência de si próprio e entrou no oblívio, no esquecimento de si mesmo. Porém,
em algumas crianças, sobraram memórias vagas da natureza passada de Manu.
"Foi o que ocorreu com um menino chamado Eus. Desd

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