ACÓRDÃO
01070-2008-101-04-00-3 RO Fl.1
ISSO POSTO:
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SUPRESSÃO DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. INCORPORAÇÃO.
ALTERAÇÃO LESIVA DO CONTRATO DE TRABALHO
A sentença declarou a nulidade da supressão da gratificação de função e
condenou o reclamado ao pagamento dos valores equivalentes à
gratificação GF/4 desde agosto/2008 até a efetiva incorporação, em
parcelas vencidas e vincendas, com reflexos. Fundamentou que a
percepção da gratificação de função de forma habitual por mais de dez
anos fez com que esse valor passasse a fazer parte do salário do
reclamante. Adotou o entendimento da Súmula 372 do TST.
O reclamado não se conforma. Sustenta o uso de critérios subjetivos do
administrador para o preenchimento dos cargos de confiança ou funções
de chefia, sendo a sua ocupação precária por natureza. Salienta que a
reversão do ocupante ao cargo anterior não é considerada alteração
lesiva, a teor da art. 468 da CLT. Afirma ter o autor recebido a gratificação
de função sempre que desempenhou cargo de confiança. Argumenta
inexistir direito à incorporação do valor dessa verba no caso de ocorrer a
suspensão do seu pagamento. Invoca ofensa ao princípio da legalidade
disposto no art. 37 da Constituição Federal. Transcreve jurisprudência a
respeito.
Analisa-se. Há prova nos autos de que o reclamante percebeu função
gratificada por período superior a 10 anos. A certidão da fl. 09 demonstra
que o SANEP – Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas reconhece
o recebimento da FG/4 a partir de 01-02-97 até 08-4-97 e de 11-11-97 a
31-7-08, períodos em que exerceu a função de chefe do setor de
vigilância. A reclamada não impugnou esse documento quando da sua
contestação.
Por longo interregno – mais de dez anos - e em contraprestação ao
serviço prestado em cargo de confiança, o reclamante recebeu a “FG”, o
que ao certo lhe garantira, como é natural, uma estabilidade financeira e
determinado padrão de vida, incorporando-se, pois, ao seu patrimônio
jurídico. À evidência, a verba recebida por tão longos anos proporcionou
patamar mais elevado de ganhos, de acordo com os quais, por certo,
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organizou sua vida para fazer frente a compromissos ordinários.
A reclamada, de resto, em ônus que lhe incumbia, não prova a alegação
de que o reclamante somente recebeu a função gratificada nos meses de
março, abril, novembro e dezembro/1997, conforme contestação à fl. 16
(art. 818 da CLT, c/c inciso II do art. 333 do CPC).
A incontroversa supressão encontra óbice no art. 468 da CLT, por
caracterizar alteração contratual prejudicial ao trabalhador. Ademais, vai
de encontro ao princípio da irredutibilidade salarial, consubstanciado no
artigo 7º, inciso VI, da CF/88. De fato, o item I da Súmula 372 do TST,
cuja redação advém da conversão da Orientação Jurisprudencial nº 45 da
SDI-1/TST (Res. 129/2005), assim estabelece:
Percebida a gratificação de função por dez ou mais anos
pelo empregado, se o empregador, sem justo motivo,
revertê-lo a seu cargo efetivo, não poderá retirar-lhe a
gratificação tendo em vista o princípio da estabilidade
financeira.
Ante o exposto,
ACORDAM os Magistrados integrantes da 1ª Turma
do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região:
Por unanimidade, negar provimento ao recurso do
reclamado.
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Intimem-se.
Porto Alegre, 6 de agosto de 2009 (quinta-feira).