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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

DIREITO ADMINISTRATIVO
Estrutura e Organização da Administração

Autarquias e Fundações Públicas

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DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Estrutura e Organização da Administração

Prof. Márcio Fernando Elias Rosa

1. INTRODUÇÃO - CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE SERVIÇO


PÚBLICO

O serviço público, de acordo com a combinação das conceituações doutrinárias,


pode ser definido como toda atividade desempenhada direta ou indiretamente pelo Estado,
visando solver necessidades essenciais do cidadão, da coletividade ou do próprio Estado.
Com efeito, o serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por quem lhe
faça as vezes, mediante regras previamente estipuladas por ela, visando à preservação do
interesse público.

Para melhor compreensão do tema, no estudo da organização da Administração


Pública, adotar-se-á a regra de grafia já consagrada pela doutrina, em iniciais maiúsculas
quando a expressão Administração Pública for sinônima a Estado, e em iniciais minúsculas
(administração pública), quando sinônima à atividade pelo Estado realizada.

1.1. Dever de Prestar


A prestação de serviços públicos é de responsabilidade da Administração Pública,
ou de quem lhe faça as vezes, de acordo com o artigo 175 da Constituição Federal e das
regras de delegação de serviços estipulada pela Lei n. 8.987/95. O titular da prestação de
um serviço público é a Administração, e ela só poderá transferir a execução do serviço
público para terceiros. Sendo a Administração a única titular da prestação desses serviços,
poderá fiscalizar a execução e aplicar sanções e penalidades. A título de exemplo, citamos
a criação de agências reguladoras, a serem estudadas em módulo específico, cujo objetivo é
fiscalizar a prestação de serviços públicos por terceiros, a exemplo da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel).

Observa-se, ainda, que em razão da competência dos Municípios ser informada pelo
princípio do peculiar interesse, também denominado interesse local, a estes compete o
dever de prestar a maior gama de serviços públicos.

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1.2. Regras para a Prestação de Serviços Públicos


A regulação da forma de prestação dos serviços públicos, notadamente a
descentralizada, se dá mediante regras previamente fixadas pelo Estado e pela
Administração Pública, de forma unilateral, ou seja, as regras são fixadas com o fim de
evitar que os interesses particulares se sobressaiam aos interesses públicos. Todas as
situações das quais decorra para a Administração a posição de supremacia em relação aos
terceiros que com ela pactuam são chamadas “cláusulas exorbitantes”.

1.3. Formas de Prestação dos Serviços Públicos


A execução dos serviços públicos poderá se dar de maneira centralizada, ou ainda
de forma descentralizada, a seguir definidas:

• Centralizada: sempre que a execução do serviço for realizada pela


Administração direta do Estado, ou seja, pelo próprio ente político competente,
que por sua vez, poderá realizá-las por meio do ente político ou ainda por meio
de seus órgãos, visando imprimir eficiência aos serviços que disponibiliza, a
exemplo das Secretarias, Ministérios etc.

• Descentralizada: quando os serviços forem prestados por pessoas físicas ou


jurídicas que não se confundem com a Administração direta, mas que podem ou
não integrar a Administração Pública indireta ligada ao ente político competente
para a prestação do serviço. Se estiverem dentro da Administração Pública
indireta, poderão ser autarquias, fundações, empresas públicas ou sociedades de
economia mista (Administração indireta do Estado). Se estiverem fora da
Administração, serão particulares e poderão ser concessionários,
permissionários ou autorizados.

2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública pode ser conceituada, em sentido amplo, como o conjunto


de entidades e de órgãos incumbidos de realizar a atividade administrativa, visando à
satisfação das necessidades coletivas e segundo os fins desejados pelo Estado.

Com efeito, Estado, Governo e Administração são instituições diferentes. Enquanto


Estado corresponde à definição de pessoa jurídica de direito público interno consistente em
nação politicamente organizada, com povo, território, poder soberano e finalidades
definidas, Governo corresponde à atividade que fixa objetivos do Estado ou conduz
politicamente os negócios públicos, e Administração, por sua vez, corresponde ao conjunto
de entidades e órgãos que realizam a atividade administrativa, anteriormente definidos.

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2.1. Organização Administrativa


A organização administrativa brasileira apresenta o seguinte organograma, de
acordo com as lições da doutrina:

Administração Pública Direta


União; (dotada de soberania)
Estados; Autônomos
Distrito Federal; idem
Municípios. idem
Administração Pública Indireta
Autarquias;
Organização Fundações;
Administrativa Empresas Públicas;
Brasileira Sociedades de Economia .Mista.

Terceiro Setor
Entes Paraestatais;
Organizações Sociais;
Entidades de Interesse Coletivo.

2.2. Administração Pública Direta


Administração Pública direta é aquela formada pelos entes integrantes da federação
e seus respectivos órgãos. Os entes políticos são a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios. À exceção da União, que é dotada de soberania, todos os demais são
dotados de autonomia.

2.3. Administração Pública Indireta


A Administração Pública indireta pode ser definida como um grupo de pessoas
jurídicas de direito público ou privado, criadas ou instituídas a partir de lei específica, que
atuam paralelamente à Administração direta na prestação de serviços públicos ou na
exploração de atividades econômicas. Em que pese haver entendimento diverso registrado
em nossa doutrina, integram a Administração indireta do Estado quatro espécies de pessoa
jurídica, a saber: as Autarquias, as Fundações, as Sociedades de Economia Mista e as
Empresas Públicas. Ao lado destas, podemos encontrar ainda entes que prestam serviços
públicos por delegação, embora não integrem os quadros da Administração, quais sejam, os
permissionários, os concessionários e os autorizados.

Essas quatro pessoas integrantes da Administração indireta serão criadas para a


prestação de serviços públicos ou, ainda, para a exploração de atividades econômicas,
como no caso das empresas públicas e sociedades de economia mista, e atuam com o

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objetivo de aumentar o grau de especialidade e eficiência da prestação do serviço público


ou, quando exploradoras de atividades econômicas, visando atender a relevante interesse
coletivo e imperativos da segurança nacional.

Com efeito, de acordo com as regras constantes do artigo 173 da Constituição


Federal, o Poder Público só poderá explorar atividade econômica a título de exceção, em
duas situações, conforme se colhe do caput do referido artigo, a seguir reproduzido:

Artigo 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta


de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos
de segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

Cumpre esclarecer que, de acordo com as regras constitucionais e em razão dos fins
desejados pelo Estado, ao Poder Público não cumpre produzir lucro, tarefa esta deferida ao
setor privado. Assim, apenas explora atividades econômicas nas situações indicadas no
artigo 173 do Texto Constitucional. Quando atuar na economia, concorre em grau de
igualdade com os particulares, e sob o regime do artigo 170 da Constituição, inclusive
quanto à livre concorrência, submetendo-se ainda a todas as obrigações constantes do
regime jurídico de direito privado, inclusive no tocante às obrigações civis, comerciais,
trabalhistas e tributárias.

2.4. Terceiro Setor


O denominado Terceiro Setor é composto por sociedades paraestatais, que, por sua
vez, incluem as organizações sociais e os serviços sociais autônomos, além de outras
pessoas jurídicas, como os entes de cooperação e as entidades de interesse coletivo. Com
efeito, os entes paraestatais são pessoas jurídicas de direito privado, instituídas pela
vontade particular e que não integram a Administração indireta; todavia, atuam
paralelamente à Administração prestando relevantes serviços de interesse público, e
recebendo, por isso, determinados benefícios, a serem estudados oportunamente.

2.5. Diferença entre Descentralização e Desconcentração


As duas figuras, descentralização e desconcentração, dizem respeito à forma de
prestação de um serviço público. Descentralização, entretanto, significa transferir a
execução de um serviço público para terceiros que não se confundem com a Administração
direta, ao passo que desconcentração significa transferir a execução de um serviço público
de um órgão para o outro dentro da própria Administração.

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3. AUTARQUIAS

3.1. Definição
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, de natureza administrativa,
criadas para a execução de serviços públicos, antes prestados pelas entidades estatais que
as criam. Contam com patrimônio próprio, constituído a partir de transferência pela
entidade estatal a que se vinculam, portanto, capital exclusivamente público. Logo, as
autarquias são regidas integralmente pelo regime jurídico de direito público, podendo, tão-
somente, ser prestadoras de serviços públicos, contando com capital oriundo da
Administração direta. A título de exemplo, citamos as seguintes autarquias: Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), Departamento nacional de Registro do
Comércio (DNRC), Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Banco Central do Brasil
(Bacen) etc.

O Banco Central é uma autarquia de regime especial, em razão de suas atribuições.


Com efeito, por força do artigo 21, inciso VII da Constituição Federal/88, a competência
para emissão de moedas é da União por meio do Banco Central.

O Banco Central também tem por finalidade fiscalizar as atividades desenvolvidas


pelas instituições financeiras.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica é uma autarquia vinculada ao


Ministério da Justiça. Possui regime especial de atuação, em face de seus objetivos de
regramento do desenvolvimento econômico nacional.

3.2. Características
• Dirigentes próprios: depois de criadas, as autarquias possuem uma vida
independente, contando com dirigentes próprios, escolhidos na forma prevista
na lei específica criadora da autarquia ou, na falta de previsão legal, de
conformidade com os estatutos. De acordo com a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, qualquer condicionante externo na escolha de seus dirigentes
pode causar ilegalidade se importar invasão de competência. A aprovação de
dirigentes das autarquias, porém, pode ser admitida, a exemplo da aprovação
posterior do presidente do Banco Central, pelo Legislativo (sabatina). Por fim,
saliente-se que, de acordo com análise etimológica da expressão autarquia
(originalmente grafada como autos arquia), encontramos o significado de
governo próprio.
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• Patrimônio próprio: o patrimônio da autarquia é transferido pelo ente político


criador, por termo ou escritura pública, a depender de sua natureza. É
considerado público e, conseqüentemente, impenhorável e imprescritível,
suscetível de proteção pelo Ministério Público e submete os atos relativos à
disposição de patrimônio ao controle pelo Tribunal de Contas da respectiva
esfera de governo.

• Liberdade financeira: as autarquias possuem verbas próprias (surgem como


resultado dos serviços que presta) e verbas orçamentárias (decorrentes de
previsão e repasse pelo Poder Público). Terão liberdade para manejar as verbas
que recebem como acharem conveniente, dentro dos limites da lei que as criou,
sempre sob controle do Tribunal de Contas competente.

• Liberdade administrativa: as autarquias têm liberdade para desenvolver os seus


serviços como acharem mais conveniente (comprar material, contratar pessoal
etc.), dentro dos limites da lei que as criou. Em relação aos cargos, ressalte-se
que devem ser criados por lei e a investidura se dá por concurso público, sendo
os admitidos, equiparados aos agentes públicos para inúmeros efeitos, inclusive
penais (artigo 327 do Código Penal). Os atos de seus dirigentes são passíveis de
questionamento por meio de mandado de segurança e ação popular, e as
reclamações trabalhistas processar-se-ão perante a Justiça do Trabalho (artigo
114 da Constituição Federal).

3.3. Controle
Não existe hierarquia ou subordinação entre as autarquias e a Administração direta.
Embora não se fale em hierarquia e subordinação, é forçoso reconhecer a existência de
controle em relação à legalidade, ou seja, a Administração direta controlará os atos das
autarquias para observar se estão dentro da finalidade e dentro dos limites legais. Observa-
se que a inexistência de hierarquia entre a Administração direta e as autarquias não implica
o não reconhecimento da hierarquia dentro da própria autarquia.

3.4. Criação e Extinção (artigo 37, inciso XIX, da Constituição


Federal/88)
A Emenda Constitucional n. 19 dispõe que as autarquias serão criadas por lei
específica de iniciativa do Poder Executivo (artigo 61, § 1.º, inciso II, “e”, da Constituição
Federal/88). Assim, cada autarquia criada deverá ter uma lei própria, específica, que a crie,
institua e regule pormenorizadamente. Cumpre observar que as autarquias são extintas da
mesma forma que são criadas, ou seja, também necessitam de lei específica que determine
a extinção de cada uma destas, obviamente, editada pelo ente político competente para a
criação.

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3.5. Privilégios
As autarquias são dotadas dos mesmos privilégios que a Administração direta. Com
efeito, por atuarem na busca do interesse público e submeterem-se ao regime jurídico da
Administração, obtém, legalmente, benefícios de ordem processual, a exemplo das regras
constantes do artigo 188 do Código de Processo Civil, e mesmo de fundo, a exemplo da
imunidade na área tributária, que prevê como privilégio o constante no artigo 150, § 2.º, da
Constituição Federal.

3.6. Responsabilidade
As autarquias respondem pelas próprias dívidas e obrigações contraídas. A
Administração direta tem responsabilidade subsidiária quanto às dívidas e obrigações das
autarquias, ou seja, a Administração direta somente poderá ser acionada depois de exaurido
todo o patrimônio das autarquias.

As autarquias também terão responsabilidade objetiva quanto aos atos praticados


pelos seus funcionários (artigo 37, § 6.º, da Constituição Federal/88), respondendo pelos
prejuízos que esses causarem a terceiros. Tal responsabilidade se justifica não só em razão
da previsão constitucional, mas sim em razão da natureza das atividades e fins de criação
das autarquias.

3.7. Falência
As autarquias não se submetem ao regime falimentar, pois, por serem prestadoras de
serviços públicos, além de não realizar atos comerciais, têm como princípio a sua
preservação para manutenção e expansão dos serviços por elas prestados, visando à plena
obtenção do interesse público. Logo, por não explorarem atividades econômicas, não se
lhes aplica a regra que equipara todas as suas obrigações às da iniciativa privada (artigo
173, § 1.º, inciso II, da Constituição Federal).

4. FUNDAÇÕES

4.1. Definição
As Fundações são pessoas jurídicas compostas por um patrimônio personalizado,
destacado pelo seu instituidor para atingir uma finalidade específica, denominadas, em
latim, universitas bonorum.

Essa definição serve para qualquer fundação, inclusive para aquelas que não
integram a Administração indireta (não-governamentais). No caso das fundações que
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integram a Administração indireta (governamentais), quando forem dotadas de


personalidade de direito público, serão regidas integralmente por regras de direito público.
Quando forem dotadas de personalidade de direito privado, serão regidas por regras de
direito público e direito privado.

Tanto uma quanto outra são compostas por patrimônio personalizado. No caso da
fundação pública, o referido patrimônio é destacado pela Administração direta, que é o
instituidor da fundação. Podemos citar, a título de exemplo, as seguintes fundações:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Universidade de Brasília (UNB),
Fundação Estadual do Bem-estar do Menor (Febem), Fundação Nacional do Índio (Funai);
Fundação Memorial da América Latina (FMAM), Fundação Padre Anchieta (TV Cultura).

Para melhor entendimento da sistematização das fundações no Direito brasileiro,


segue abaixo organograma explicativo:

Fundações de Direito Privado:


(não-governamentais)
Criadas pelas regras do Código
Civil, com patrimônio particular
destinado a fim determinado e
submetem-se ao regime jurídico
de Direito privado.
Fundações:
Entes com patrimônio
personalizado sempre a) Com Personalidade jurídica
destinados a um fim. de Direito Público: semelhantes
(Universitas bonorum) ao regime jurídico das autarquias,
consideradas modalidade destas,
Fundações de Direito chamadas por expressiva doutrina
Público: de autarquias fundacionais
(governamentais)
Integram a administração b) Com Personalidade jurídica
indireta, e são instituídas de Direito Privado: instituídas
pelos entes políticos com patrimônio público, de
(doação patrimonial). acordo com as regras do Código
Civil, e submissa tanto ao regime
de direito público quanto de
Direito privado.

As fundações integrantes da Administração indireta do Estado (fundações de direito


público ou governamentais) poderão assumir personalidade jurídica de direito público ou
privado, em que pese aos entendimentos doutrinários diversos, no sentido de somente ser
possível a instituição de fundações sob a sistematização do Código Civil (artigos 24 a 30),
com criação por meio de escritura pública ou testamento e sempre com personalidade
jurídica de direito privado.

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Com efeito, de acordo com o permissivo constitucional constante do artigo 37,


inciso XIX, e de regras legais vigentes (Lei n. 5.540/68 – fundações ligadas a
universidades e estabelecimentos de ensino superior), para a criação de fundações públicas
com personalidade jurídica de direito público, faz-se necessário autorização legislativa e
conseqüente elaboração de atos constitutivos, diferente do que ocorre com as autarquias,
que são efetivamente criadas por lei específica. Posto isso, cumpre observar que grande
parcela da doutrina entende que, quando é instituída uma fundação pública com
personalidade jurídica de direito público, esta em tudo se equipara às autarquias; por isso
devem ser criadas por lei específica, e não somente autorizadas, e denominam-se
autarquias fundacionais. Com efeito, o Egrégio Supremo Tribunal Federal já decidiu ser a
fundação espécie de autarquia, com conseqüente aplicação do regime jurídico das
autarquias às fundações, in verbis “... o entendimento desta Corte é o de que a finalidade, a
origem dos recursos e o regime administrativo de tutela absoluta a que, por lei, estão
sujeitas, fazem delas espécie do gênero autarquia”.

4.2. Características
• Liberdade financeira: a exemplo das autarquias, as fundações desfrutam de
liberdade, nos limites da lei e das finalidades que perseguem, para definir a
melhor forma de utilização de seu patrimônio e capital; todavia, porque
integrantes da Administração indireta do Estado e destinatárias de verbas
públicas, submetem-se ao controle do respectivo Tribunal de Contas do ente a
que se vincula.

• Liberdade administrativa: cumpre às fundações decidir a melhor forma de atuar


na busca dos objetivos que nortearam sua instituição, definindo sua política de
prestação de serviços; todavia, com controle finalístico dos atos pelo Judiciário.

• Dirigentes próprios: também possuem liberdade na escolha de seus dirigentes,


que deve ser realizada na forma determinada nos atos constitutivos da fundação.

• Patrimônio próprio e personalizado: significa que sobre ele recaem normas


jurídicas que o tornam sujeito de direitos e obrigações e está voltado a garantir
que seja atingida a finalidade para qual foram criadas. Em coerente lição da
doutrina, a fundação não é dotada de patrimônio, ela é o patrimônio.

4.3. Controle
Não existe hierarquia ou subordinação entre a fundação e a Administração direta.
Com efeito, o que existe é uma vinculação entre a fundação e o ente da Administração
direta. Ressalte-se que, em razão da inexistência do contencioso administrativo no Direito
brasileiro, todos os seus atos são suscetíveis de reapreciação pelo Poder Judiciário, por
meio de um controle de legalidade, finalístico.

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4.4. Criação e Extinção


As fundações são criadas no ordenamento jurídico. Se sua personalidade for de
direito público, será criada por lei específica (regras de direito público).

As fundações governamentais, sejam de personalidade de direito público, sejam de


direito privado, integram a Administração Pública. Com efeito, de acordo com maioria
doutrinária, a lei cria e dá personalidade para as fundações governamentais de direito
público, denominadas autarquias fundacionais. As fundações governamentais de direito
privado são autorizadas por lei e sua personalidade jurídica se inicia com a constituição e o
registro de seus estatutos (artigo 37, inciso XIX, da Constituição Federal). Cumpre
observar que as fundações são extintas da mesma forma como são criadas.

4.5. Privilégios
As fundações, por perseguirem finalidades públicas, são dotadas dos mesmos
privilégios que as autarquias. Logo, por atuarem na busca do interesse público e
submeterem-se ao regime jurídico da Administração, obtêm, legalmente, benefícios de
ordem processual, a exemplo das regras constantes do artigo 188 do Código de Processo
Civil, e mesmo de fundo, a exemplo da imunidade na área tributária, que prevê como
privilégio o constante no artigo 150, § 2.º, da Constituição Federal.

4.6. Responsabilidade
As fundações também respondem pelas suas próprias dívidas e obrigações
contraídas. A Administração direta tem responsabilidade subsidiária quanto às dívidas e
obrigações das fundações, ou seja, a Administração somente poderá ser acionada depois de
exaurido todo o patrimônio, as forças das fundações.

As fundações governamentais, independentemente de serem dotadas de


personalidade de direito público ou privado, assim como as autarquias, também terão
responsabilidade objetiva quanto aos atos praticados pelos seus funcionários (artigo 37, §
6.º, da Constituição Federal/88), respondendo pelos prejuízos que esses causarem a
terceiros. Tal responsabilidade se justifica não só em razão da previsão constitucional, mas
sim em razão da natureza das atividades e dos fins de criação das fundações.

4.7. Falência
As fundações também não se submetem ao regime falimentar, pois, por serem
prestadoras de serviços públicos, além de não realizar atos comerciais, têm como princípio
a sua preservação para manutenção e expansão dos serviços por elas prestados, visando à
plena obtenção do interesse público, assim como acontece com as autarquias.

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DIREITO CIVIL
Atos e Fatos Jurídicos

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Atos e Fatos Jurídicos

Para um acontecimento ser considerado um fato jurídico é necessário que esse


acontecimento, de alguma forma, reflita no âmbito jurídico, ou seja, fato jurídico é todo
acontecimento da vida relevante para o direito, mesmo que seja ilícito.

O ato ilícito é fonte de obrigação, ou seja, gera a responsabilidade de indenizar.


Então, o ato ilícito é relevante para o direito, podendo ser considerado um fato jurídico.

1. CLASSIFICAÇÃO

1.1. Fatos Naturais


Podem ser:

• Ordinários: são aqueles que normalmente acontecem e produzem efeitos


relevantes para o direito (exemplos.: nascimento, morte etc.);

• Extraordinários: são aqueles que chamamos de caso fortuito e força maior, tendo
importância para o direito porque excluem qualquer responsabilidade (exemplo:
tempestade, etc.).

1.2. Fatos Humanos


Também chamados de atos jurídicos em sentido amplo, podendo ser:

• Ilícitos: os atos ilícitos têm relevância para o direito por gerarem obrigações e
deveres;

• Lícitos: a conseqüência da prática de um ato lícito é a obtenção do direito. O


Código Civil trata do ato jurídico em sentido estrito e do negócio jurídico como
sendo ambos negócios jurídicos:

• Ato jurídico em sentido estrito (meramente lícito): é pobre em conteúdo, ou seja,


não permite a obtenção de vários e múltiplos efeitos. Quem o pratica obtém
apenas um único efeito já preestabelecido na lei, ou seja, não obtém nada de
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novo (exemplo: a notificação – quem notifica uma outra pessoa obtém um único
efeito já previsto na lei que é constituir em mora o devedor). O ato jurídico em
sentido estrito será sempre unilateral (tendo em vista se aperfeiçoar com uma
única manifestação de vontade) e potestativo (visto que influi na esfera jurídica
de outra pessoa sem que ela possa evitar).

• Negócio Jurídico: é mais amplo porque permite a obtenção de múltiplos efeitos


não necessariamente previstos em lei. Quando se fala em negócio jurídico,
sempre se lembra de contrato. Quando um ato qualquer tem por finalidade
modificar ou criar direitos, não será apenas um ato jurídico, mas sim um Negócio
Jurídico. Então, pode-se dizer que o negócio jurídico possibilita a obtenção de
múltiplos direitos e é bilateral, tendo por finalidade criar, modificar ou extinguir
direitos.

O Código Civil de 1916, no artigo 81, apresenta um conceito de ato jurídico, mas
que hoje se amolda mais ao negócio jurídico. Hoje, a doutrina é pacífica ao dizer que o
conceito disposto no artigo 81 é o conceito de negócio jurídico. O atual Código Civil não
apresenta nenhuma conceituação de negócio jurídico.

Existe, entretanto, alguns negócios jurídicos que podem ser unilaterais. O negócio
jurídico unilateral é aquele que se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade e
permite a obtenção de múltiplos efeitos. Um exemplo de negócio jurídico unilateral é o
testamento, visto que, por meio dele, o testador pode obter variados efeitos, ou seja, o
testamento pode ser utilizado, além de doar seus bens aos seus herdeiros, para reconhecer
filhos, perdoar pessoas, etc. Então, o testamento estará perfeito somente com a
manifestação de vontade do testador (unilateral) e poderá produzir os mais diversos efeitos.

2. REQUISITOS DE EXISTÊNCIA DOS ATOS JURÍDICOS

A teoria dos atos de inexistência surgiu no Direito de Família para resolver os


problemas dos casamentos inexistentes, visto que o Código Civil dispunha somente sobre
casamentos nulos e anuláveis. Como o rol do artigo 183 do Código Civil de 1916 era
taxativo, os doutrinadores passaram a adotar a teoria dos atos inexistentes, tendo em vista
haver o problema de ser considerado válido um casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Essa teoria acabou passando também para os contratos e, hoje, diz-se contrato
inexistente aquele que tem os requisitos essenciais, quais sejam:

2.1. Manifestação de Vontade


Sem a manifestação de vontade o contrato não chega a formar-se, sendo inexistente.
A vontade é fundamental em matéria de contrato. O artigo 112 do Código Civil dispõe que
“nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção que ao sentido literal da
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linguagem”. Se os contratantes combinaram uma coisa e não souberam redigir no contrato


o que foi convencionado, havendo prova, prevalecerá a intenção.

2.2. Finalidade Negocial


É a intenção de criar, modificar ou extinguir direitos. Se as pessoas manifestam a
sua vontade para obter um direito já previsto em lei, não estarão realizando um negócio
jurídico, mas sim um ato jurídico em sentido estrito. Então, um dos requisitos de existência
dos atos jurídicos é a finalidade negocial.

2.3. Idoneidade do Objeto


O objeto do contrato deve ser apto à criação do contrato que se pretende. Se o objeto
for diferente, estar-se-á criando um contrato diverso daquele que se pretendia.

3. REQUISITOS DE VALIDADE DOS ATOS JURÍDICOS

Presente os requisitos de existência, dever-se-á observar se o contrato é válido ou


não. Os requisitos de validade estão dispostos no artigo 104 do Código Civil, quais sejam:

3.1. Agente Capaz


Para que um contrato seja válido, o agente deverá ser capaz. No caso de
incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios legais. A incapacidade absoluta será
suprida pela representação e a incapacidade relativa será suprida pela assistência.

3.2. Objeto Lícito


O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. A redação do artigo
104, inciso II, do Código Civil. É mais perfeita que a do artigo 82 do Código Civil de
1916, que falava apenas em objeto lícito. O artigo 166, inciso II, do Código Civil, diz que é
nulo o negócio jurídico, quando o objeto for ilícito, impossível ou indeterminável.

A impossibilidade do objeto pode ser física ou jurídica. Impossibilidade física


ocorre quando a prestação não pode ser cumprida por nenhum humano. Impossibilidade
jurídica ocorre quando a prestação esbarra numa proibição expressa da lei (exemplo: o
artigo 426 do Código Civil, que proíbe herança de pessoa viva).
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3.3. Forma Prescrita e Não Defesa em Lei


Nos casos em que a lei dispõe sobre a forma que o ato deverá ser realizado, esta
forma será considerada requisito de validade (exemplo: venda de imóveis – a lei dispõe
que será válido somente por escritura pública). Nos casos em que a forma é colocada como
condição de validade, diz-se que a formalidade é ad solemnitatem (artigo 108 do Código
Civil).

Algumas vezes, entretanto, a lei exige uma determinada forma que não será usada
como requisito de validade, mas facilitará a prova. Essa forma, chamada de ad
probationem tantum, se não for observada, não será o contrato considerado nulo, entretanto
haverá uma dificuldade de se provar o que foi acordado.

O ato nulo é aquele que vem inquinado com defeito irremediável, estando ausente
um elemento substancial para que o negócio jurídico ganhe validade. O artigo 166 do
Código Civil determina que o negócio nulo é aquele celebrado por pessoa absolutamente
incapaz; o negócio que tem objeto ilícito; o motivo determinante também ilícito; o negócio
jurídico que tenha por finalidade fraudar a lei; o negócio jurídico sem forma prescrita em
lei ou que venha preterir alguma solenidade formal ou ainda qualquer outra hipótese em
que a lei taxativamente declarar nulo.

Inovou o Código Civil ao determinar que a simulação é uma hipótese de negócio


jurídico nulo (artigo 167). A simulação é uma declaração enganosa da vontade que visa
produzir efeito diferente do ostensivamente indicado. Oferece uma aparência diferente do
efetivo querer das partes. As partes fingem o negócio que de forma alguma querem ou
desejam. É uma burla intencional, um conluio das partes que almejam disfarçar a realidade
enganando terceiro.

Temos duas espécies de simulação, a absoluta e a relativa. Na simulação absoluta


não há qualquer negócio jurídico a ser encoberto, enquanto na simulação relativa existe um
negócio jurídico a ser encoberto. Quando o proprietário de um imóvel, para motivar uma
ação de despejo contra o inquilino, finge vender o imóvel a terceiro, temos uma simulação
absoluta, pois não existe venda alguma por trás do ato fraudulento. Já na hipótese da venda
do imóvel consignando preço inferior para ser pago menos imposto, temos uma simulação
relativa, pois temos um negócio real e um negócio aparente.

O ato nulo, por ser de ordem pública, possui um defeito irremediável, viola o
interesse público e deve ser fulminado através de uma ação declaratória. Por tais razões, a
eficácia é retroativa, para que não produza qualquer efeito válido. O ato nulo pode ser
alegado por qualquer pessoa, pelo Órgão do Ministério Público e até pelo Juiz de ofício. O
ato nulo não pode se ratificado e o defeito não convalesce, sendo um ato imprescritível.

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DIREITO CIVIL

4. DA REPRESENTAÇÃO

Inovou o Código Civil de 2002 ao introduzir um Capítulo exclusivamente para tratar


da representação. O Anteprojeto de 1972 na Parte Geral, com colaboração do Ministro
Moreira Alves já tratava desse Capítulo.

De acordo com o artigo 115 do Código Civil, os poderes de representação conferem-


se por lei ou pelo interessado. Temos então uma representação legal e outra convencional,
decorrendo uma da norma, como a do pai que representa o filho, e outra da vontade das
partes, como no caso do mandato.

O limite da representação é exatamente o limite de poderes que vincula o


representante com o representado (artigo 116 do Código Civil).

Hoje o artigo 117 do Código Civil autoriza o contrato consigo mesmo, isto é, a
convenção em que um só sujeito de direito, está revestido de duas qualidades jurídicas
diferentes, atuando simultaneamente em seu próprio nome, bem como no nome de outrem.
Temos como exemplo, a possibilidade da pessoa vender um bem a si mesmo, através de
um contrato de mandato. O Código Civil de 1916 rechaçava a hipótese (artigo 1.133).

O representante que pratica um negócio jurídico contra o interesse do representado,


na hipótese do fato ser do conhecimento do terceiro ou no fato do mesmo ter a obrigação
de ter a ciência gera anulabilidade (artigo 119 do Código Civil). Portanto, o terceiro de
boa-fé jamais pode alegá-la se obrou com desídia.

5. CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO

5.1 Condição

5.1.1. Conceito e Elementos


É a cláusula acessória, que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento
futuro e incerto. Prescreve o artigo 121 do Código Civil: "Considera-se condição a cláusula
que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio
jurídico a evento futuro e incerto".

A condição tem dois elementos fundamentais: a) Futuridade e b) Incerteza.


Exemplo: Compro uma escultura se esta ganhar prêmio.

A condição afeta sempre a eficácia do negócio, nunca a sua existência, uma vez que
a vontade foi legítima.
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A condição imprópria é aquela em que o evento não é futuro, é apenas ignorado.


Exemplo: Faço doação do carro se o Brasil ganhar a Copa 94. Ou a declaração é ineficaz,
se não ganhou, ou é obrigação pura e simples, se ganhou.

Temos as seguintes variações da incerteza:

1.ª Incertus An Incertus quando - Não se sabe nem se acontecerá e nem quando - Ex.
Comprarei um hotel se o EUA se desmilitarizarem.

2.ª Incertus An Certus quando - Não se sabe se acontecerá mas se sabe quando. Ex.
Faço doação de minhas jóias, se meu filho passar no concurso até o final do ano.

3.ª Certus An Incertus quando - Sabe-se que o fato ocorrerá, porém não quando. Ex.
Compro um apartamento quando minha sogra morrer.

4.ª Certus An Certus quando - Sabe-se que o fato ocorrerá e quando. Exemplo:
Doarei meu carro com o término da Copa do Mundo de 98.

Só as duas primeiras são condições. Nas duas últimas falta a incerteza do evento.

5.1.2 Espécies
Quanto À Possibilidade - Possíveis

- Impossíveis

Quanto À Licitude - Lícitas

- Ilícitas

Quanto À Natureza - Necessárias

- Voluntárias

Quanto Ao Modo De Atuação - Suspensivas

- Resolutivas

5.1.2.1 Condições Possíveis e Impossíveis


A condição é possível quando realizável física ou juridicamente.

A condição é impossível quando não realizável física ou juridicamente. Exemplo:


Doação de dinheiro pela captura de mula-sem-cabeça. A impossibilidade deve alcançar
todas as pessoas. A condição não é impossível se atingir apenas uma pessoa ou pequeno
grupo.
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DIREITO CIVIL

A condição juridicamente impossível fere a lei, a moral e os bons costumes.


Exemplo: Vendo um carro e faço doação se beneficiário provocar a morte de alguém.
Exemplo: Condição baseada na prostituição.

5.1.2.2. Condições Lícitas e Ilícitas


Condições lícitas são aquelas que estão de acordo com a lei e os bons costumes.

Condições ilícitas são as contrárias às leis e aos bons costumes.

5.1.2.3. Condições Necessárias e Voluntárias


Necessárias - são as condições inerentes à natureza do ato. Exemplo: Se o comodato
for gratuito.

Voluntárias - são as condições em geral, isto é, um acréscimo aposto ao ato jurídico


pela vontade das partes.

5.1.2.4. Condições Suspensivas e Resolutivas


Condições suspensivas são aquelas cuja eficácia do ato fica protelada até a
realização do evento futuro e incerto. Exemplo: A doação do imóvel só vai ocorrer com o
casamento.

Condições resolutivas são aquelas cuja eficácia do ato opera desde logo
(entabulamento) e se resolve com a ocorrência do evento futuro e incerto. Exemplo:
Empresto o quadro enquanto você morar em São Paulo.

Na condição suspensiva há uma expectativa de direitos. Exemplo: Compro o carro


se não sair modelo novo. O comprador pode realizar atos conservativos antes do
implemento (artigo 121), como o registro do contrato para vigorar erga omnes.

O negócio se aperfeiçoa desde logo, sujeitando-se ao desfazimento com a ocorrência


de evento futuro e incerto no acordo. Se frustrar a condição, o negócio se desfaz. Exemplo.
Vendo um pesqueiro sob a condição dos peixes se reproduzirem em cativeiro em dois anos.

O legislador presume haver uma condição resoluta em todos os contratos bilaterais


(prestação bilateral).

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DIREITO CIVIL

5.1.3. Negócios Jurídicos Que Não Admitem Condição


São os negócios que depende de norma cogente. Estão presentes no Direito de
Família e Sucessão. Traria incerteza aos institutos públicos. Exemplo: Ninguém pode se
casar sob condição; ninguém pode aceitar ou renunciar a herança sob condição (artigo
1808 do Código Civil).

5.2. Termo
É o dia em que nasce e se extingue o negócio jurídico. É a cláusula que subordina a
eficácia de um negócio jurídico a um evento futuro e certo.

A diferença entre a condição e o termo é que na condição, o evento é futuro e


incerto. Já no termo, o evento é futuro e certo.

5.2.1 Espécies
- Certo

Termo -

- Incerto

Essa classificação é ruim, pois faz confundir o termo incerto com a condição. O
termo é sempre certo, podendo apenas haver imprecisão quanto ao momento.

Temos o termo determinado e o indeterminado.

- Inicial - dies a quo - Termo Suspensivo - suspende exercício do


direito. Exemplo: Locação inicia-se no Natal.

Termo -

- Final - dies ad quem - Termo Resolutivo - Dá término a um


direito. Exemplo: Locação dura até 01/01/99

A condição suspensiva impede a aquisição do direito. O termo inicial suspende o


exercício, já que a aquisição se deu com aposição de vontades.

O termo final não destrói o negócio jurídico, apenas retira a eficácia.

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5.3. PRAZO

5.3.1 Conceito
É o lapso de tempo entre a manifestação válida de vontade e a superveniência do
tempo.

É o lapso de tempo entre dois termos, o inicial e o final. Isso porque a manifestação
de vontade pode estar subordinada a uma condição.

Os prazos são contados por unidade de tempo - hora - dia - mês - ano.

Desde o Direito Romano - Exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento.

ANO - Lei 810/49 - Período de doze meses do início ao dia e mês correspondente ao
ano seguinte. Ex.: 8 de março de 1989 a 8 de março de 1990.

MÊS - (artigo 132, § 3.º) – os prazos de meses e anos expiram no dia de igual
número de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. Por exemplo: período de
um mês – 30 de janeiro e deveria recair no dia 30 de fevereiro. Por não haver tal dia, recai
no dia 1.º de março.

MEADO - (artigo 132, § 2.º) – 15.º dia de cada mês.

FERIADOS - São datas festivas em que, em princípio, não se trabalha. Não inclui
"ponto facultativo" e "dia santo".

5.3.2 Contagem
Art. 132, "caput", do Código Civil - Exclui o dia do começo incluindo-se o do
vencimento. Esse princípio é adotado em todos os ramos do direito, afora o Direito Penal.
O tempo de pena inclui o dia do começo. Utiliza-se o calendário comum. Não se
computam frações de dia.

Contagem da hora – artigo 132, § 4.º, do Código Civil - Minuto a minuto. Exemplo:
13:30 às 14:30 h.

Se o prazo cair no feriado - prorroga-se até dia útil seguinte.

Artigos 133 e 134 - Prazo em favor do herdeiro e do devedor.

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DIREITO CIVIL

5.4. ENCARGO OU MODO DO ATO JURÍDICO

5.4.1 Conceito
É uma limitação trazida a uma liberalidade. É uma restrição a uma vantagem para o
beneficiário de um negócio jurídico.

O encargo é diferente da condição porque é coercitivo, isto é, a parte não pode se


eximir de cumprir o encargo.

O encargo vai aparecer em doações ou legados, não precisando ser exclusivamente


gratuito.

5.4.2 Espécies
1.º Encargo Propriamente Dito

Espécies 2.º Encargo Condicional

De

Encargo 3.º Encargo Impróprio

4.º Encargo Impossível

1.º - Encargo propriamente dito – é aquele estabelecido no artigo 136 do Código


Civil, não ocorrendo a suspensão do direito enquanto não cumprido o encargo. Temos
como exemplo a doação de um terreno para a construção de um hospital. O terreno é
automaticamente doado antes mesmo do início das obras.

2.º - É uma variedade de condição, não sendo encargo. É uma condição cujo evento
apresenta como elemento de fato uma certa modificação de alguma vantagem auferida pela
parte. (artigo 136, fine, do Código Civil).

3.º - É aquele que se apresenta como mero conselho ou recomendação. Não há


encargo por não obrigar juridicamente.

4.º - É aquele que a modificação da vantagem auferida implica numa prestação


impossível física ou juridicamente - Ou a modificação é não escrita ou invalida o ato
(juridicamente impossível) (artigo 137, do Código Civil).

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6. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

São aqueles defeitos que decorrem, em geral, da manifestação de vontade. São seis
as hipóteses de vícios, se subdividindo em vícios do consentimento (erro, dolo, coação,
estado de perigo e lesão) e o vício social da fraude contra credores. Foi retirada a
simulação dos vícios, sendo inserida a hipótese entre os atos nulos.

Nos vícios do consentimento, há uma contradição entre aquilo que a pessoa deseja e
o que ela faz, ou seja, o que a pessoa manifesta não é o que ela realmente desejaria fazer. A
vontade declarada não corresponde com a intenção do agente. Nos vícios sociais, a vontade
declarada corresponde exatamente à intenção do agente, entretanto uma intenção de
prejudicar terceiros ou fraudar a lei.

Nos seis casos, o contrato será anulável, havendo um prazo decadencial de 4


(quatro) anos para requerer a anulação. Caso não seja respeitado esse prazo, o contrato não
poderá mais ser anulado. O decurso do prazo decadencial vem a sanar o defeito do negócio
jurídico (artigo 178, incisos I e II, do Código Civil).

6.1. Vícios do Consentimento

6.1.1. Erro e ignorância


No erro, a pessoa se engana sozinha a respeito de uma circunstância importante que,
se ela conhecesse, não faria o negócio. O erro é de difícil prova, tendo em vista o que se
passa na mente da pessoa; existe um elemento subjetivo. O fato de o legislador estabelecer
algumas exigências (artigo 138 do Código Civil), torna as ações baseadas no erro muito
raras. O erro deverá ser substancial, escusável e real para que o contrato seja anulável.

O erro é substancial quando diz respeito a aspectos relevantes do negócio, ou seja,


só se pode falar em erro se a pessoa se engana a respeito de algo que, se ela soubesse,
jamais faria o negócio. Se há um engano a respeito de um aspecto irrelevante, não será
considerado um erro substancial, mas sim erro acidental, que não vicia a vontade.

Escusável é o erro aceitável, desculpável, o erro que a maioria das pessoas


cometeria.

Real é o erro que causa um efetivo prejuízo. Há dois critérios para se saber se um
erro é escusável ou não:

• Homo medius: toma-se por base a média das pessoas. Se um homem médio
também cometeria o engano, o erro seria escusável. Não foi esse, entretanto, o
critério aplicado pelos tribunais.

• Caso concreto: é o critério aplicado pelos tribunais.

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DIREITO CIVIL

É aplicado, por analogia, a cada caso concreto o critério do artigo 152 do Código
Civil (que trata da coação), que determina que o juiz leve em conta as condições pessoais
da vítima (deve-se levar em conta a idade, a saúde, o sexo, temperamento, e outras
condições). O juiz deve levar em conta as condições pessoais para saber se ela seria levada
ao erro (exemplo: uma pessoa semi-analfabeta seria mais facilmente levada ao erro do que
alguém que possui curso superior).

O Código Civil dispõe, no artigo 139, incisos I a III, quando haverá erro substancial,
quando haverá aspecto relevando o negócio. Será relevante, então, o erro que diz respeito à
natureza do negócio (a pessoa se engana a respeito da espécie do contrato que celebrou); ao
objeto principal da declaração (a pessoa adquire coisa diferente daquela que imaginava
estar adquirindo); às qualidades essenciais do objeto (a pessoa adquire o objeto que
imaginava, mas engana-se quanto às suas qualidades); e à pessoa (nos casos de contratos
personalíssimos ou no caso de se contratar um profissional que se acreditava ser bom e não
era).

Em princípio, não se pode alegar erro de direito, ou seja, alegar que não se conhecia
a lei. A ignorância da lei, entretanto, só não poderá ser alegada em caso de descumprimento
da lei (artigo 3.º da Lei de Introdução ao Código Civil). O desconhecimento da lei poderá
ser alegada para justificar a boa-fé (ex.: firma-se um contrato de importação de uma
mercadoria e logo após descobre-se que existia uma lei que proibia a importação de tal
mercadoria. Poder-se-á alegar ignorância da lei para anular o contrato). O artigo 139, inciso
III, do Código Civil, expressamente adite o erro de direito e anulação do negócio jurídico,
desde que não implique em recusa à aplicação da lei e desde que seja o único ou principal
motivo do negócio.

Erro obstativo ou impróprio: não existe no Brasil. Na Alemanha o erro quanto à


natureza do negócio ou o objeto principal da declaração é um erro obstativo, ou
seja, é um erro tão grave que impede a própria existência do contrato. Então o erro
obstativo torna o contrato inexistente.

Deve-se distinguir o erro quanto às qualidades essenciais do objeto e vício


redibitório, que possuem ações e prazos distintos.

Vício redibitório é o defeito oculto (não aparece facilmente) que torna a coisa
imprestável ao uso a que se destina. É de natureza objetiva. As ações cabíveis são
chamadas de Edilícias e são de duas espécies: ação redibitória (para rescindir contrato); e
ação quanti minoris (pedido de abatimento no preço). O prazo dessa ação é decadencial de
trinta (30) dias para bem móvel e um (1) ano para bem imóvel (artigo 445 do Código
Civil). No Código de Defesa do Consumidor o prazo é de 30 dias para bem não durável e
90 dias para bem durável.

Erro quanto às qualidades essenciais é de natureza subjetiva e a ação cabível é a


anulatória, com prazo decadencial de 4 anos.

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DIREITO CIVIL

O artigo 141 do Código Civil fala do erro em caso de mensagem “truncada”, ou


seja, pode haver erro no negócio quando há algum defeito na mensagem devido ao
instrumento ou à pessoa intermediária. Quando a mensagem é transmitida erroneamente
por meio de instrumento ou de intermediário, poderá ser considerado vício do
consentimento, sendo o contrato anulável.

O artigo 140 do Código Civil dispõe sobre o falso motivo (falsa causa) como razão
determinante do contrato. Se a causa do contrato, desde que seja colocada expressamente
como razão determinante do negócio, for declarada falsa, o contrato poderá ser anulado
(exemplo: uma pessoa fica sabendo por terceiros que tem um filho; tentando ajudar, faz
uma doação, mas dispõe expressamente na escritura que está fazendo a doação porque foi
informada que o donatário é seu filho; caso seja comprovado que o donatário não é filho, a
doação poderá ser anulada).

6.1.2. Dolo
A pessoa é induzida em erro pelo outro contratante ou por terceiro. Existe um
elemento objetivo de induzimento, sendo mais fácil a sua prova, tendo visto poder haver
testemunhas. Dolo é o induzimento malicioso à prática de um ato que é prejudicial ao
agente.

Segundo o disposto no artigo 146 do Código Civil, o dolo pode ser:

• Principal: aquele que é a causa do negócio, ou seja, é o dolo que foi responsável
pelo negócio. Se não houvesse o induzimento, a pessoa não faria o negócio.

• Acidental: aquele que a seu despeito o negócio teria sido realizado, mas em
condições melhores para a vítima. Como não é a causa do negócio, o dolo
acidental não anula o mesmo, mas dá direito a perdas e danos.

Há uma segunda classificação doutrinária, que divide o dolo em:

• Dolus bonus (dolo bom): é o dolo tolerável nos negócios em geral, ou seja, as
pessoas não se sentem enganadas porque já esperam esse tipo de dolo; é normal,
fazendo parte do comércio, e não causa nulidade do negócio.

• Dolus malus (dolo mau): é aquele exercido com a intenção de prejudicar e, se for
provado, causa nulidade do negócio.

O dolo pode ser exercido por ação ou por omissão. Geralmente o dolo é praticado
por ação. O artigo 147, no entanto, prevê um dolo por omissão, situação em que um dos
contratantes omite uma circunstância relevante que, se fosse conhecida pelo outro
contratante, não haveria o negócio. O legislador quis, com isso, proteger a boa-fé nos
negócios. Essa omissão dolosa pode ser chamada de reticência.

O dolo pode ser da parte ou de terceiro. O Código Civil tem uma regra especial
sobre o dolo de terceiro. Em geral, o dolo de terceiro não anula o ato, visto que o terceiro
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DIREITO CIVIL

não é parte no negócio, salvo se a outra parte souber do dolo. Então, no caso de o terceiro
agir por si só, não tendo o outro contratante conhecimento do dolo, só caberá à vítima ação
de perdas e danos contra o terceiro que agiu de má-fé. Dispõe o artigo 148: "Pode também
ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse
ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o
terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou".

Ainda, o dolo pode ser unilateral e bilateral. O dolo bilateral é quando os dois
contratantes tentam enganar-se um ao outro, ou seja, há dolo de ambas as partes. Neste
caso, não há ação cabível para nenhuma das partes, visto terem ambas agido de má-fé.

6.1.3. Coação
Ocorre quando alguém força uma pessoa para que ela faça ou deixe de fazer alguma
coisa. A coação pode ser:

• Absoluta: quando o coator usa força física e a vítima não chega a manifestar a
sua vontade, agindo mecanicamente. Neste caso, o ato é inexistente, visto que
não houve um dos requisitos de existência do negócio jurídico, que é a
manifestação de vontade. Não é um vício do consentimento, visto que sequer
houve o consentimento;

• Relativa: também chamada de coação moral, ocorre quando o coator faz uma
grave ameaça à vítima, que terá a opção de ceder ou de resistir à ela. Neste caso,
existe um vício do consentimento, visto que houve a manifestação da vontade,
embora sob pressão.

Nos casos de negócio jurídico, o artigo 151 do Código Civil faz uma série de
exigências para que se caracterize a coação que vicie o negócio. São requisitos da coação:

• a coação deve ser a causa do negócio, ou seja, se não houvesse a coação não
haveria o negócio;

• a coação deve ser grave, ou seja, quando causa um fundado temor, um receio na
vítima. O artigo 153 do Código Civil não considera coação o simples temor
reverencial, visto que não tem gravidade suficiente;

• a coação deve ser injusta, ou seja, coação ilegal. O artigo 153, na 2.ª parte, não
considera coação o exercício normal de um direito;

• a coação deve ser proporcional, ou seja, o legislador exige que haja uma certa
proporção entre os prováveis prejuízos que a vítima possa ter. Deve-se levar em
consideração que essa proporcionalidade é relativa, visto que existem coisas que
possuem grande valor estimativo;

• a coação deve recair sobre a pessoa do contratante, alguém de sua família ou


seus bens. A doutrina entende que a palavra “família” descrita na lei deve ser
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DIREITO CIVIL

entendida no seu mais amplo sentido, devendo ser incluídas todas as pessoas que
possuem uma relação de intimidade com o contratante que está sendo coagido.

O artigo 152 do Código Civil dispõe que, ao apreciar a gravidade da coação, o Juiz
deve levar em conta as condições pessoais da vítima, ou seja, a idade, a saúde, o
temperamento, o sexo e outras circunstâncias que possam influir na gravidade da coação.

A coação pode ser da própria parte ou de terceiro. O legislador entendeu que a


coação é mais grave que o dolo e, por conseqüência, a coação exercida por terceiro sempre
viciará o ato, ainda que o outro contratante não tenha sabido que houve coação por parte de
terceiro.

6.1.4 Estado de Perigo


Dispõe o artigo 156 do Código Civil: "Configura-se estado de perigo quando
alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único.
Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as
circunstâncias".

É, portanto, a hipótese de alguém, ameaçado por perigo iminente, anui em pagar


preço desproporcional para o seu livramento. Temos o exemplo do náufrago que oferece ao
seu salvador recompensa exagerada ou o caso do doente que se dispõe a pagar alta cifra
para obter a cura pelo médico.

Nas hipóteses acima mencionadas não é nem justo que o salvador fique sem
remuneração e nem justo que o obrigado empobreça. O ato calamitoso não foi provocado
por ninguém, apenas o contrato foi efetuado de maneira desvantajosa. O perigo não é
provocado por qualquer contratante, por isso o problema não é simples.

Diante da contraposição de interesses, em que ambas as partes obram de boa-fé, a


mera anulação do negócio jurídico, exonerando o declarante de cumprir sua obrigação
conduz a um resultado injusto. O autor da promessa anulada enriqueceu indevidamente.
Nesses casos, o juiz deve apenas invalidar o negócio jurídico no que exorbite como
determinou o parágrafo único do artigo 156 do Código Civil.

6.1.5 Lesão
Disciplina o artigo 157 do Código Civil: "Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob
premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1.º Aprecia-se a desproporção das
prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

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DIREITO CIVIL

§ 2.º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se


a parte favorecida concordar com a redução do proveito".

Portanto, a lesão é o prejuízo que um contratante experimenta quando, em contrato


comutativo, deixa de receber valor correspondente ao da prestação que forneceu. É uma
instituição fundada na eqüidade e se inspira na idéia de equivalência das prestações.

Apresenta como principais requisitos:

1.º) Comutatividade contratual. Deve haver presunção de equivalência das


prestações, tendo ambas as partes pré-ciência de suas prestações;

2.º) Desequilíbrio entre as prestações no momento da celebração do contrato;

3.º) Grande desproporção, gerando enriquecimento para uma das partes e


empobrecimento para outra;

4.º) decisão judicial. Só o juiz pode rescindir ou modificar o contrato;

5.º) Possibilidade da parte reequilibrar o contrato.

6.2 Vício Social


No vício social embora a vontade se manifeste de acordo com o desejo dos
contratantes, a intenção é sempre de prejudicar um terceiro.

6.2.1. Fraude contra credores


Baseia-se no princípio da responsabilidade patrimonial: “é o patrimônio do devedor
que responde por suas obrigações”. Ocorre a fraude contra credores quando um devedor
pratica negócios que o torne insolvente. Ainda que o devedor venda algum bem, se
restarem bens suficientes para pagar as dívidas, não será considerado insolvente.

O Código Civil dispõe quatro situações em que podem ocorrer fraudes contra
credores, as quais passamos a analisar:

a) Alienações onerosas (artigo 159 do Código Civil)

É a situação mais comum de fraude contra credores. Se o devedor vende seus bens,
tornando-se insolvente, caracteriza-se fraude contra credores. O terceiro adquirente poderá
estar de boa-fé (quando não sabe da situação real do devedor) ou de má-fé (quando sabe da
situação real do devedor). Havendo boa-fé do terceiro adquirente, os bens não retornam ao
devedor para o pagamento dos credores.

São dois os requisitos exigidos para que os credores tenham sucesso na ação contra
o devedor que vende seus bens para fraudar os credores:
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DIREITO CIVIL

• eventus damni: o credor deve provar que, com a venda, o devedor se tornou
insolvente, não mais possuindo bens suficientes para o pagamento de suas
dívidas;

• consilium fraudis (má-fé do terceiro adquirente): não há necessidade de se


provar que o terceiro adquirente estava combinado com o devedor, bastando a
prova de que ele estava ciente da situação financeira do devedor.

• artigo 159 do Código Civil prevê duas presunções de má-fé do terceiro


adquirente:

• quando era notória a insolvência do devedor;

• quando o terceiro adquirente tinha motivos para conhecer a má situação


financeira do devedor. Os tribunais estabeleceram quando o terceiro teria
motivos (parentes próximos, amizade íntima, negócios feitos anteriormente etc.).
Essa presunção não é absoluta, visto que o legislador deixou meio vago quanto
aos motivos.

b) Alienações à título gratuito e remissões de dívidas (artigo 158 do Código Civil)

Quando o devedor faz doações de seus bens. Quando se trata de doações, o único
requisito que os credores devem provar é a insolvência do devedor. Não há necessidade de
prova da má-fé do terceiro adquirente. Ocorre fraude na remissão de dívidas quando o
devedor é credor de terceiro e deixa de cobrar o seu crédito, perdoando o terceiro devedor.

c) Pagamento de dívida ainda não vencida, estando o devedor insolvente (artigo


162 do Código Civil)

Quando o devedor já está insolvente e privilegia o pagamento a um credor que tem


uma dívida ainda não vencida. Se isso ocorrer, os outros devedores poderão ingressar com
uma ação contra o credor que recebeu. Havendo o pagamento de dívida não vencida, a
presunção de fraude se torna absoluta.

d) Concessão de garantia real a um credor quirografário, estando o devedor


insolvente (artigo 163 do Código Civil)

Quando o devedor, já insolvente, resolve privilegiar um dos credores quirografários,


dando-lhe uma garantia real (exemplo: hipoteca de um imóvel). Neste caso, os outros
credores podem ingressar com uma ação para anular essa garantia.

7. AÇÃO PAULIANA OU REVOCATÓRIA

A ação pauliana somente é utilizada nos casos de fraude contra credores. Não se
confunde esta com a ação revocatória da Lei de Falências.
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__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
DIREITO CIVIL

A ação pauliana foi tratada no Código Civil como uma ação anulatória, portanto de
natureza desconstitutiva. Se o juiz julga procedente a ação, ele anulará a venda ou a doação
do bem. Hoje, a jurisprudência passou a considerar a ação pauliana como ação declaratória
de ineficácia do negócio jurídico em face dos credores que a ajuizaram. Então, não haverá
anulação, o Juiz autorizará os credores a penhorarem os bens alienados pelo devedor.

7.1. Legitimidade Ativa


O artigo 158 do Código Civil dispõe que somente credor quirografário está
legitimado para propor ação pauliana, e desde que já fosse credor na data da alienação,
visto que o credor quirografário depende dos bens do devedor para a quitação da dívida.
Excepcionalmente, o credor com garantia real poderá propor ação pauliana nos casos em
que já tenha esgotado a garantia e sem conseguir quitar o seu crédito.

7.2. Legitimidade Passiva


O artigo 161 dispõe que a ação pauliana poderá ser proposta contra o devedor e os
terceiros adquirentes de má-fé.

O artigo 164 do Código Civil dispõe que são válidos os negócios ordinários
indispensáveis à manutenção de seu comércio, indústria e agricultura. O artigo 160 do
Código Civil trata de uma situação que a doutrina chama de “fraude não consumada”. Há a
permissão de que o terceiro adquirente de boa-fé – que dá um sinal e fica de pagar o preço,
descobrindo a situação do devedor –, para evitar a consumação da fraude, pode depositar o
restante do preço em juízo, requerendo a citação dos credores para, eventualmente,
levantarem o dinheiro depositado.

8. DIFERENÇAS ENTRE A FRAUDE CONTRA CREDORES E A FRAUDE


À EXECUÇÃO
FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO

É defeito do negócio jurídico, regulada no É incidente do processo, regulada no


direito privado (CC) direito público (CPC).
Ocorre quando o devedor ainda não Pressupõe demanda em andamento.
responde à nenhuma ação ou execução.
Só pode ser alegada em ação pauliana. Pode ser alegada incidentalmente; não
depende da propositura de nenhuma ação.

Exige-se a prova da má-fé do 3.º Não é exigida a prova da má-fé do 3.º


adquirente, em se tratando de alienação adquirente, visto estar presumida.
onerosa.
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__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
DIREITO CIVIL

No caso da presunção da demanda em andamento na fraude à execução, existem


duas correntes:

1.ª Corrente: considera-se proposta a demanda desde a distribuição da ação;

2.ª Corrente: exige prévia citação do devedor para existir a fraude à execução
(considera-se proposta a ação a partir da citação). Sobre o assunto, a segunda corrente é a
que prevalece na jurisprudência.

Há uma corrente que admite a alegação de fraude contra credores em embargos de


terceiros (exemplo: em uma ação de cobrança, o credor penhora um bem que supõe ser do
devedor, e o terceiro que adquiriu o bem ingressa com embargos de terceiros; o credor se
defende, alegando que o terceiro estava de má-fé, existindo a fraude contra credores). A
Súmula 195 do Superior Tribunal de Justiça, entretanto, dispôs o contrário: “não cabe
alegação de fraude contra credores em embargos de terceiros”.

Tanto na fraude contra credores quanto na fraude à execução, o juiz não anula o ato,
apenas declara a sua ineficácia em relação aos credores.

O ato jurídico anulável é aquele que vem inquinado com um defeito que não ofende
de forma direta ao interesse social, ofendendo a ordem particular. Possui uma diferença de
grau com o ato nulo, sendo mais tênue, mais brando. De acordo como artigo 171 do
Código Civil o ato é anulável quando praticado por pessoa relativamente incapaz, ou nos
vícios acima estudados, isto é, no caso de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou
fraude contra credores.

Ao contrário do ato nulo, o ato anulável é determinado através de uma ação


desconstitutiva, tendo, por conseguinte, eficácia ex nunc, isto é, sem qualquer
retroatividade. Por tais motivos a nulidade relativa convalesce e só pode ser alegada por
pessoa juridicamente interessada, não podendo ser alegada nem pelo Representante do
Ministério Público e nem pelo juiz de Ofício. O ato é suscetível de ser ratificado. A
anulação do negócio jurídico, no caso dos vícios de vontade ou social, decai em quatro
anos (artigo 178 do Código Civil). Em todas as hipóteses da Parte Especial que a lei falar
que o ato é anulável, porém sem estabelecer prazo, este será de dois (2) anos contados da
conclusão do ato (artigo 179 do Código Civil).

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

DIREITO COMERCIAL
Classificação das Sociedades Empresárias

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DIREITO COMERCIAL

DIREITO COMERCIAL

Classificação das Sociedades Empresárias

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. INTRODUÇÃO

Em nosso ordenamento jurídico, nem todas as sociedades são reguladas pelo Novo
Código Civil, que apesar de listar todas elas, não regula as Sociedades Anônimas que é
regulada pela Lei n. 6.404/76.

Lembre-se que, em razão da promulgação do novo Código Civil (Lei n. 10.406/02),


o Código Comercial foi derrogado no tocante à matéria societária, passando ao novo
Código Civil a competência para regrar tal matéria, que, já no artigo 981 trouxe o conceito
de sociedade.

Segundo tal dispositivo, “celebram contrato de sociedade as pessoas que


reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”.

2. CLASSIFICAÇÃO

As sociedades são classificadas segundo vários critérios, a seguir dispostos, para


melhor compreensão do tema.

2.1. Quanto ao Objeto

Com base nesse critério, as sociedades são classificadas em empresárias e simples.

a) Sociedades Empresárias: a teor do que dispõe o artigo 982, do Código Civil,


empresária é a sociedade que tem por escopo o exercício da atividade própria do
empresário, ou seja, atividade econômica organizada para a produção de bens ou serviços,
saliente-se que toda Sociedade Anônima, independentemente do objeto, é sociedade
empresária
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DIREITO COMERCIAL

Ainda, segundo dispõe o artigo 983, deverão se constituir segundo os tipos


regulados pelos artigos 1.039 a 1.092, do mesmo diploma legal, devendo ser registradas
nas Juntas Comerciais.

b) Sociedades Simples: no mesmo artigo 982, verifica-se que simples são as


sociedades não definidas como empresárias, constituindo-se nos termos do artigo 983.

2.2. Quanto à Tipologia


Com relação ao critério da tipologia (forma pela qual as sociedades escolhem seu
modo de operar, as regras de sua responsabilidade e sua nomenclatura), as sociedades
classificam-se em:

• sociedade em nome coletivo (N/C) – disposta nos artigos 1.039 ao 1.044, do


diploma civil;

• sociedade em comandita simples (C/S) – artigos 1.045 ao 1.051;

• sociedade em conta de participação (C/P) – prevista nos artigos 991 a 996, do


diploma civil;

• sociedade limitada (LTDA) – artigos 1.052 ao 1.087;

• sociedade anônima (S/A) – artigos 1.088 e 1.089;

• sociedade em comandita por ações (C/A) – previstos nos artigos 1.090 ao 1.092;

• sociedade simples – previstas nos artigos 997 ao 1.038, do Código Civil;

• sociedade em comum (que divide-se em sociedade de fato e sociedade irregular)


– previstas nos artigos 986 ao 990;

• sociedade cooperativa – prevista nos artigos 1.093 a 1.096, do diploma civil.

Os tipos societários acima descritos, quando empresariais, serão oportunamente


detalhados no estudo em separado.

Saliente-se que as sociedades de capital e indústria (C/I) foram abolidas pelo novo
Código Civil. Entretanto, continua admitida para sociedade simples, conforme artigo 1.006
e 1.007, do diploma civil.

2.3. Quanto à Lei Disciplinadora


Considerando-se a lei disciplinadora, as sociedades comerciais são as previstas no
novo Código Civile na Lei n. 6.404/76, com as alterações processadas pela Lei n.
10.303/01, citadas a seguir.
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DIREITO COMERCIAL

2.3.1. Previstas no Novo Código Civil


• O diploma Civil pátrio prevê e regula em seu texto as seguintes sociedades
empresárias:sociedade em comum – artigos 986 ao 990

• sociedade em conta de participação – artigos 991 ao 996;

• sociedade em nome coletivo – artigos 1.039 ao 1.044;

• sociedade em comandita simples – artigos 1.045 ao 1.051;

• sociedade limitada – artigos 1.052 ao 1.087;

• sociedade anônima – artigos 1.088 e 1.089;

• sociedade em comandita por ações – artigos 1.090 ao 1.092.

2.2.3. Previstas na Lei n. 6.404/76 (LSA)


A Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/76), por sua vez, prevê duas
sociedades comerciais:

• sociedade anônima;

• sociedade em comandita por ações.

Saliente-se que, atualmente, as sociedades em comandita por ações são reguladas


conjuntamente pelo novo Código Civil.

2.3. Quanto à Forma de Constituição


Quanto à forma de constituição as sociedades comerciais dividem-se em sociedades
regulares e não-regulares, ou, como denominado pelo novo Código Civil, em sociedade
personificada e não personificada.

2.3.1. Regulares ou personificadas


Sociedades regulares são as que apresentam contrato escrito e registrado na Junta
Comercial. Encontram-se previstas à partir do artigo 997, do Código Civil.

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DIREITO COMERCIAL

2.3.2. Não-regulares ou não personificadas


São sociedades não-regulares aquelas que não possuem contrato escrito, ou
registrado na Junta Comercial, encontram-se previstas nos artigos 986 ao 996, do novo
Código Civil. A doutrina classifica as sociedades não-regulares em três espécies:

• sociedades irregulares: possuem contratos escritos; todavia, não registrados na


Junta Comercial competente para registro de seus atos constitutivos;

• sociedades de fato: possuem apenas contrato verbal, ou mesmo formal, todavia,


sem os requisitos mínimos para que seja considerado como ato constitutivo de
sociedade;

• tácitas: não resultam de contrato escrito ou ajuste verbal.

Essa classificação é apenas didática, pois as três espécies estão sujeitas ao mesmo
regime jurídico, com todas as limitações e prerrogativas que se impõem às sociedades não-
regulares.

O Novo Código Civil prevê dois tipos de sociedades não personificadas; a sociedade
em comum (art. 986 ao 990) e a sociedade em conta de participação (art. 991 ao 996).

Dentre as limitações decorrentes da irregularidade das sociedades, ressaltamos que


as sociedades não-regulares não têm legitimidade para o pedido de falência e concordata
dos seus devedores comerciantes; seus livros comerciais não têm eficácia probatória (salvo
contra estas mesmas), bem como todos os seus sócios responderão subsidiária, mas
ilimitadamente, pelas dívidas contraídas em nome da sociedade, ainda que o contrato social
disponha o contrário.

Interessante questão surge das limitações decorrentes da irregularidade das


sociedades. Assim, pergunta-se: as sociedades irregulares, de fato ou tácitas possuem
personalidade jurídica?

Com efeito, de acordo com o artigo 985 do Código Civil, as sociedades não possuem
personalidade jurídica enquanto não forem registradas. O artigo 8.º, inciso III, da Lei de
Falências, entretanto, confere capacidade processual às sociedades não-regularespara que
possam ser sujeitos passivos de procedimentos à referida lei submetidos.

2.4. Quanto ao Regime de Constituição e Dissolução da Sociedade


As sociedades empresárias, quanto aos regimes de constituição e dissolução,
classificam-se em sociedades contratuais e sociedades institucionais.

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DIREITO COMERCIAL

2.4.1. Sociedades contratuais


Sociedades contratuais são aquelas constituídas a partir de um contrato social,
podendo ser dissolvidas nas hipóteses previstas em lei. Os artigos 1.033, 1.044 e 1.087 do
novo Código Civil enumeram as hipóteses de dissolução total, que devem existir sempre
que não for possível a dissolução parcial, solução priorizada em razão do princípio da
preservação da empresa. Registre-se que, se ocorrer substituição dos sócios integrantes da
pessoa jurídica, será necessária a alteração do contrato, atualizando o rol de integrantes
desta.

Nas sociedades contratuais, os sócios possuem maior grau de liberdade para mudar
o conteúdo do contrato social, preenchidos os requisitos legais previstos para cada hipótese
(a exemplo do quórum para modificação do objeto social da empresa), diferentemente do
que ocorre nas sociedades institucionais, nas quais o sócio se agrega, não podendo, em
regra, alterar o estatuto.

Dentro da tipologia das sociedades, caracterizam-se como contratuais as seguintes:

• sociedade em nome coletivo;

• sociedade em comandita simples;

• sociedade limitada.

Aqui, cabe novamente destacar: nas sociedades contratuais o capital social é


dividido em quotas e o titular de cada quota denomina-se sócio.

2.4.2. Sociedades institucionais


Sociedades institucionais são aquelas constituídas a partir de um estatuto social,
podendo ser dissolvidas por deliberação majoritária dos acionistas (assim denominados os
integrantes de tais sociedades). A substituição dos acionistas é feita por agregação,
operacionalizada por meio da alienação das partes societárias, denominadas ações, não
sendo necessário que participem do ato de constituição.

Apresentam-se, na tipologia das sociedades, como institucionais:

• sociedade anônima;

• sociedade em comandita por ações.

Cumpre ressaltar: nas sociedades institucionais o capital social é dividido em ações e


o titular de cada ação denomina-se acionista.

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DIREITO COMERCIAL

2.4.3. Da sociedade em comum e da sociedade em conta de participação

Referidas sociedades não se enquadram nessa classificação, pois não possuem


personalidade jurídica, inclusive são consideradas pela doutrina como sociedades secretas.

Cumpre salientar que os sócios participantes da sociedade em conta de participação


são divididos em duas categorias:

• sócio ostensivo: aquele que mantém relação jurídica direta com terceiros, em
nome próprio, assumindo obrigações e adquirindo direitos. Deve
obrigatoriamente ser empresário e é o responsável por todas as obrigações dos
sócios.

• sócio participante (oculto): apenas mantém relação jurídica com o sócio


ostensivo, participando da sociedade geralmente com a disponibilização de
capital e por vezes tomando decisões junto ao sócio ostensivo, mas sem vínculo
direto com aqueles que negociam com a sociedade.

Geralmente, a figura da sociedade em conta de participação ocorre na área da


construção civil. A construtora (sociedade empresarial) procura o dono de um terreno
(sócio oculto) para lhe propor a construção de um prédio.

A teor do que dispõe o artigo 991 e parágrafo único, nas sociedades em conta de
participação, a atividade é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome
individual, obrigando-se este perante terceiros exclusivamente; já os sócios participantes
(anteriormente denominados “ocultos”) obrigam-se perante o sócio ostensivo.

Segundo o artigo 992, a constituição da sociedade independe de qualquer


formalidade, podendo ser provada por todos os meios de direito. Por outro lado, o contrato
social produz efeitos tão somente entre os sócios, e o seu eventual registro não confere
personalidade jurídica à sociedade (art. 993, do Código Civil). Ainda, o sócio participante
não tem poderes de gerência, sob pena de se tornar solidariamente com ele responsável
pelas obrigações em que intervier (parágrafo único do artigo 993).

Saliente-se que as participações dos sócios representam patrimônio especial, que


produz efeitos somente em relação aos mesmos. Outrossim, falido o sócio ostensivo haverá
a dissolução da sociedade, sendo conferida ao crédito natureza quirografária. O artigo 994
finaliza determinando que a falência do sócio participante acarretará ao contrato social a
sujeição às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.

A admissão de novos sócios pelo sócio ostensivo sem o consentimento expresso dos
demais sócios é vedada, salvo estipulação expressa em sentido diverso no contrato social.

O artigo 996 determina que as Sociedades em Conta de Participação são reguladas


subsidiariamente pelas disposições da sociedade simples e sua liquidação rege-se pelas
normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual.

Finalmente, cumpre frisar que, nesta modalidade de sociedade, a lei exige uma
condição especial: deve o sócio ostensivo manter uma escrituração separada dos negócios
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DIREITO COMERCIAL

da sociedade. A justificativa para necessidade de separação na escrituração decorre de


poder a sociedade serconstituída por qualquer forma (escrita, verbal), e seus atos
constitutivos não podem ser arquivados na Junta Comercial (pois, se o fizesse, teria a
sociedade personalidade jurídica).

2.5. Quanto às Condições para a Alienação da Participação Societária


Com relação às condições para a alienação da participação societária, as sociedades
comerciais subdividem-se em duas modalidades de classificação, quais sejam, sociedades
de pessoas e sociedades de capital.

2.5.1. Sociedades de pessoas


Nas sociedades de pessoas, as características pessoais dos sócios têm relevância
para a sua constituição, desenvolvimento e sucesso. Assim, as sociedades de pessoas são as
constituídas em função da qualidade pessoal dos sócios. Nelas não se admite a alienação da
participação societária por um sócio sem anuência dos demais. Nas sociedades de pessoas,
os sócios têm direito de vetar o ingresso de estranho no quadro associativo. São sociedades
de pessoas:

• sociedade em nome coletivo;

• sociedade em comandita simples.

2.5.2. Sociedades de capital


Nas sociedades de capital, relevante é a contribuição material dos sócios em favor
da sociedade. Esse tipo de sociedade é constituído visando, principalmente, o capital
social, ou seja, a pessoa do sócio é irrelevante. Nesta espécie, a participação societária é
livremente transferível a terceiros.

São sociedades de capital:

• sociedade em comandita por ações;

• sociedade anônima.

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DIREITO COMERCIAL

2.5.3. Observações
Na verdade, não há sociedade composta somente por pessoas ou somente por
capital, pois em qualquer sociedade estão presentes esses dois elementos. O que faz uma
sociedade ser de pessoas ou de capital é a necessidade, nas sociedades de pessoas, de
anuência para a transferência da participação societária e de atos de administração.

Outra conseqüência importante dessa distinção é o fato de que as quotas sociais


relativas a uma sociedade de pessoas são impenhoráveis por dívidas particulares do seu
titular, pois a penhorabilidade seria incompatível com o direito de veto previsto no
dispositivo supracitado para alienação de participações societárias, uma vez que a
conseqüência lógica de qualquer penhora é a posterior alienação das referidas quotas.

A última conseqüência dessa distinção diz respeito à morte do sócio. Em uma


sociedade de pessoas, ocorrerá dissolução parcial se um dos sobreviventes não concordar
com o ingresso do sucessor do sócio morto no quadro social. Na sociedade de capital, os
sócios não podem opor-se a tal ingresso e, assim, não ocorre dissolução.

Por fim, cumpre mencionar que as sociedades contratuais, em regra, são sociedades
de pessoas, ao passo que as sociedades institucionais, em regra, são sociedades de capital.

2.5.4. As particularidades da sociedade por quotas de


responsabilidade limitada
A sociedade limitada é modalidade de sociedade empresarial, de natureza híbrida,
em que os sócios formam o capital da pessoa jurídica por meio de subscrição e
integralização de sua respectiva quota, em dinheiro ou bens, e estipulam, sempre com base
em votos apurados de acordo com a participação social, a gerência e administração da
sociedade.

A sociedade limitada poderá, conforme o conteúdo de seu ato constitutivo, reger-se como
sociedade de capital ou de pessoas, a depender das denominadas cláusulas-chave previstas
no respectivo contrato social. As cláusulas-chave, quando expressamente inseridas,
destinam-se a vedar ou permitir a alienação livre das partes societárias, a substituição sem
oposições do sócio falecido pelos seus sucessores e a penhorabilidade ou não das quotas
dos sócios, por dívidas particulares destes. Por isso, parte da doutrina a considera como
uma sociedade híbrida ou mista. Nesse sentido, expressivo o artigo 1.057, do Novo Código
Civil.

2.6. Quanto à Responsabilidade dos Sócios ou Acionistas pelas


Obrigações da Sociedade
Os bens particulares dos sócios só podem ser executados por dívidas da sociedade
depois de executados todos os bens sociais pois a sociedade tem personalidade jurídica, ou
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DIREITO COMERCIAL

seja, possui patrimônio, capacidade negocial e processual próprios, diversos do patrimônio


e capacidade individuais dos sócios. Pelas dívidas da sociedade inicialmente responderá o
patrimônio social e, de maneira subsidiária, o patrimônio individual do comerciante.

O artigo 596 do Código de Processo Civil também prevê a possibilidade de os bens


particulares dos sócios responderem subsidiariamente pelas dívidas da sociedade,
corroborando assim como o ensinamento da diferença de personalidades entre a pessoa
jurídica e seus integrantes.

Note-se que essa regra também vale para a sociedade não-regular, ou seja, o sócio
sempre responderá subsidiariamente pelas dívidas por ela contraída, pois, mesmo não-
regular, a sociedade possui patrimônio próprio, sendo este responsabilizado em primeiro
lugar, em que pese às divergências doutrinárias ainda existentes.

A sociedade empresarial, segundo o critério de responsabilidade subsidiária dos


sócios, pode ser ilimitada, mista ou limitada.

2.6.1. Sociedade ilimitada


Na sociedade ilimitada, todos os sócios respondem com seu patrimônio pessoal, de
forma ilimitada, pelas obrigações da sociedade, após esgotadas as forças desta. Citamos
como exemplo a sociedade em nome coletivo.

A sociedade em nome coletivo é disciplinada pelo novo Código Civil (artigos 1.039
ao 1.044), e adota o nome empresarial firma, o qual é composto pelos nomes civis dos
sócios, ou de um deles seguido da expressão “e Cia”. São suas características:

• somente pessoas físicas podem ser sócias;

• todos os sócios têm responsabilidade solidária e ilimitada, podendo, entre si, os


sócios, limitar a responsabilidade de cada um (essa é a grande novidade);

• aplicação subsidiária da regulamentação das sociedades simples;

• o contrato social deve prever todas as matérias do artigo 997, além da firma
social;

• a administração compete exclusivamente aos sócios;

• não pode o credor particular do sócio, antes de dissolver-se a sociedade,


pretender a liquidação da quota do devedor, podendo fazê-la, entretanto, se ela
prorrogar-se tacitamente ou for acolhida judicialmente a oposição do credor;

• dissolve-se de pleno direito por qualquer das causas do artigo 1033 e, se


empresária, também pela falência.

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DIREITO COMERCIAL

2.6.2. Sociedade mista


Na sociedade mista, uma parte dos sócios responde de forma ilimitada pelas
obrigações da sociedade e outra parte responde de forma limitada ou sequer responde pelas
obrigações contraídas pela sociedade. Pertencem a esta espécie as seguintes sociedades:

a) Sociedade em comandita simples

A sociedade em comandita simples é disciplinada pelo novo Código Civil. De


acordo com as lições da doutrina, tem origem na expansão da navegação comercial,
quando pessoas empregavam capital de outrem em seus projetos de navegação (comenda
marítima). É constituída por duas categorias de sócios:

• sócio comanditado: responde ilimitadamente com seu patrimônio pelas


obrigações da sociedade;

• sócio comanditário: responde com seu patrimônio de forma limitada pelas


obrigações da sociedade.

Adota o nome comercial firma, e apenas o sócio comanditado é quem pode


emprestar o nome civil para a sua formação. São características desta sociedade:

• sociedade de organização mista, com dois tipos de sócios;

• sócios comanditários, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente


pelas obrigações sociais;

• sócios comanditados, obrigados somente pelo valor da sua cota e, não obstante
poderem deliberar nos assuntos da sociedade e de fiscalizar as operações, não
podem praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena
de ficarem sujeitos às responsabilidades de sócio comanditado;

• o sócio comanditário pode ser constituído procurador da sociedade para negócio


determinado e com poderes especiais;

• a modificação do contrato social que disser respeito à diminuição da quota do


comanditário, em conseqüência de ter sido reduzido o capital social, somente
produz efeitos perante terceiros após averbada, sempre sem prejuízo dos
credores preexistentes;

• no que forem compatíveis, aplicam-se as normas da sociedade em nome


coletivo;

• não é obrigado o sócio comanditário obrigado à reposição de lucros recebidos de


boa-fé de acordo com o balanço, mas, diminuído o capital por perdas
supervenientes, não pode o comanditário receber quaisquer lucros, antes de
reintegrado o capital social;
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DIREITO COMERCIAL

• a sociedade se dissolve por todos os casos do artigo 1044 ou quando por mais de
180 dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio;

• no caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição em


contrário, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os
represente;

• na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão administrador


provisório para a prática, por no máximo 180 dias, e sem assumir a condição de
sócio, os atos de administração.

b) Sociedade em comandita por ações

A sociedade em comandita por ações está prevista na Lei das Sociedades por Ações
(Lei n. 6.404/76), bem como artigos 1.090 ao 1.092, do novo Código Civil.

Os acionistas comuns respondem de forma limitada pelas obrigações sociais, ao


passo que os administradores (gerentes ou diretores) respondem de forma ilimitada.

Pode adotar como nome comercial tanto a firma (razão social) quanto a
denominação.

2.6.3. Sociedade limitada


Na sociedade limitada, todos os sócios respondem com seu patrimônio pelas
obrigações da sociedade de forma limitada. Pertencem a esta categoria a sociedade limitada
propriamente dita e a sociedade anônima.

2.7. Regras de Limitação de Responsabilidade do Sócio ou Acionista

2.7.1. Noções gerais


As regras que determinam o limite de responsabilidade variam de um tipo societário
para outro. Essas regras servem para incentivar o particular a investir em atividade
econômica. Antigamente, os sócios respondiam de modo ilimitado. Com o passar do
tempo, percebeu-se que a empresa é uma fonte de riqueza para o Estado, pois esta gera
empregos, paga tributos etc. Os particulares precisam de segurança para investir na
atividade econômica e sua conseqüente produção de riquezas. Desta forma, surgiram regras
de limitação de responsabilidade dos sócios.

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DIREITO COMERCIAL

2.7.2. Subscrição de capital


A subscrição de capital é o ato por meio do qual o sócio se compromete a contribuir
para o capital da sociedade, em valor que ele estipula.

2.7.3. Integralização de capital


A integralização de capital é o ato por meio do qual o sócio efetivamente contribui
para a sociedade, ou seja, na medida em que for pagando o valor a que se comprometeu,
diz-se que o sócio está integralizando a sua participação societária.

2.7.4. Das Regras

a) Aplicáveis às sociedades contratuais

A responsabilidade dos sócios da sociedade limitada e dos sócios comanditários,


pelas obrigações da sociedade, limita-se ao valor do total do capital social subscrito e não-
integralizado. Desse modo, os sócios respondem solidariamente pelo total do capital
subscrito e que falta integralizar. Exemplo: dois sócios (“A” e “B”) subscrevem R$
1.000,00 cada um, resultando um total subscrito de R$ 2.000,00. “A” integraliza R$
1.000,00 e “B” integraliza R$ 500,00. “A” e “B” respondem solidariamente pelo total que
falta integralizar, ou seja, pelo valor de R$ 500,00. Se “A” pagar, poderá, posteriormente,
em regresso, ressarcir-se de “B”.

b) Aplicáveis às sociedades institucionais

Os acionistas de sociedade anônima e de sociedade em comandita por ações (com


responsabilidade limitada) respondem com seu patrimônio pessoal pelas obrigações da
sociedade até o limite do valor das ações individualmente subscritas e não-integralizadas.
Não há responsabilidade solidária entre os acionistas, ou seja, cada acionista responde
individualmente pelo que deixou de integralizar.

Para fins de entendimento, podemos considerar que, em termos genéricos, as


obrigações podem ser simples (um só credor e um só devedor) ou complexas (pluralidade
de credores ou devedores). Nas complexas com devedores múltiplos, ou cada um deles
responderá por uma quota ou todos responderão solidariamente pela dívida total.
Aplicando essa noção geral das obrigações, pode-se afirmar que as sociedades podem ser:
solidárias ou não-solidárias, conforme sejam ou não os sócios responsáveis pelo total do
capital subscrito e não-integralizado.

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Poder Constituinte

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Poder Constituinte

Professor Ricardo Cunha Chimenti

1. PODER CONSTITUINTE

1.1. Introdução
Os poderes “constituídos” da República são os Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário. Se eles são constituídos, significa dizer que algo os constituiu. Logo, existe um
Poder maior: o Poder Constituinte.

O Poder Constituinte é aquele capaz de editar uma constituição, dar forma ao Estado
e constituir Poderes.

Costuma-se distinguir a titularidade e o exercício do Poder Constituinte. Seu titular


é o povo, mas quem exerce esse poder é um órgão colegiado (Assembléia Nacional
Constituinte) ou uma ou mais pessoas que se invistam desse poder (é o caso das
constituições outorgadas).

1.2. Poder Constituinte Originário


O poder capaz de editar a primeira ou uma nova constituição é chamado Poder
Constituinte Originário (Genuíno ou de 1º Grau). O Poder Constituinte Originário é a
expressão soberana da maioria de um povo em determinado momento histórico, expressão
(vontade) que pode ser manifestada por meio de aceitação presumida do agente
constituinte, por eleições (que geralmente selecionam os membros de uma assembléia
constituinte) ou mesmo por uma revolução.

O Poder Constituinte Originário tem as seguintes características:

• inicial: não se funda em nenhum outro. Há um rompimento com a ordem


jurídica anterior, ocorrendo a criação de um novo Estado;

• autônomo: não se submete a limitações de natureza material;

• incondicionado: não obedece nenhuma forma.

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Embora seja autônomo, o Poder Constituinte Originário está limitado ao Direito


Natural (limites transcendentais). Assim, a autonomia do Poder Constituinte Originário não
significa que ele seja ilimitado. Os positivistas chamam essa categoria de poder de
soberano, visto que o Poder Constituinte Originário não se submete a nenhum limite do
Direito Positivo.

1.3. Poder Constituinte Derivado


Quando o Constituinte Originário exercita o poder de editar uma nova constituição,
tem consciência de que, com o passar dos anos, haverá necessidade de modificações.
Então, vislumbrando essa hipótese, a Assembléia Constituinte dispõe quando, por quem e
de que maneira poderão ser feitas tais modificações, instituindo para tanto o Poder
Constituinte Derivado.

O Poder Reformador (Poder Constituinte Derivado ou de 2º Grau) é exercido pelo


Congresso Nacional por meio de emendas constitucionais.

O Poder Constituinte Derivado tem as seguintes características:

• derivado: criado pelo poder originário e dele deriva;

• subordinado: sujeita-se a limitações de natureza material chamadas “cláusulas


pétreas”;

• condicionado: submete-se a condicionamentos formais.

1.3.1. Poder Constituinte Decorrente


Além do Poder Constituinte Originário e do Poder Constituinte Derivado (ou
Reformador), temos o Poder Constituinte Decorrente (artigo 11, caput, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias). Para alguns, aliás, o Poder Constituinte
Decorrente é uma simples espécie do gênero Poder Constituinte Derivado, apresentando as
mesmas limitações deste. Poder Constituinte Derivado Decorrente é o poder de que se
acham investidos os Estados-membros de se auto-organizarem de acordo com suas
próprias constituições (artigo 25 da Constituição Federal), respeitados os princípios
constitucionais impostos (de forma explícita ou implícita) pelo Poder Constituinte Federal
(originário ou derivado). O Distrito Federal também é um ente federativo autônomo regido
por sua lei orgânica (artigo 32 da Constituição Federal). O Poder Legislativo do Distrito
Federal chama-se Câmara Legislativa (o dos Estados-membros chama-se Assembléia
Legislativa e o dos Municípios chama-se Câmara Municipal).

Os Municípios ganharam com a Constituição Federal de 1988 a capacidade de auto-


organização. Regem-se e se organizam por meio das suas Leis Orgânicas Municipais,
devendo observância à Constituição Federal e às Constituições Estaduais (artigo 11,
parágrafo único, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).
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Segundo alguns doutrinadores, a Lei Orgânica do Município é uma espécie de


Constituição e, portanto, é também manifestação do poder decorrente. Para outros
doutrinadores, o poder decorrente pertence somente aos Estados.

2. PODER DE REFORMA CONSTITUCIONAL (ARTIGO 60)

Quando o constituinte originário estabeleceu que o exercente do poder reformador


seria o Congresso Nacional por meio de emenda constitucional, acabou por colocar limites
e condicionamentos à reforma constitucional. Se houver a violação dos limites
estabelecidos, a emenda constitucional será inconstitucional.

2.1. Limites à Emenda Constitucional


Os limites têm natureza procedimental, circunstancial, temporal e material.

2.1.1. Limites procedimentais (ou formais)


a) Iniciativa (artigo 60, “caput”)

A Constituição poderá ser emendada mediante proposta de um terço (no mínimo)


dos deputados ou um terço dos senadores, do Presidente da República, ou de mais da
metade das Assembléias Legislativas. A iniciativa para os membros do Congresso Nacional
é necessariamente coletiva, ou seja, para que uma proposta de emenda constitucional possa
tramitar, deverá haver, no mínimo, assinatura de um terço dos deputados ou senadores. Não
poderá haver iniciativa parlamentar individual. A única iniciativa individual é a do
Presidente da República. As Assembléias Legislativas das unidades da Federação poderão
apresentar um projeto de emenda constitucional se houver a adesão de, no mínimo, mais da
metade delas. Em cada Assembléia Legislativa é necessário o quorum simples (maioria
relativa) para adesão à proposta.

b) Votação (artigo 60, § 2.º)

A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois


turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos
respectivos membros.

Observação: O poder anômalo de revisão, previsto no artigo 3.º do Ato das


Disposições Constitucionais Transitórias, possibilitou alterações na Constituição Federal
pelo quorum de maioria absoluta (voto favorável de mais da metade de todos os deputados
e senadores, em sessão unicameral) e encerrou seus trabalhos em 1994, após a edição da
Emenda Constitucional de Revisão n. 6. Trata-se, pois, de norma de eficácia exaurida.
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c) Promulgação (artigo 60, § 3.º)

A promulgação será feita pelas Mesas da Câmara e do Senado. Aprovada a emenda


constitucional pelo Congresso, não irá para a sanção do Presidente da República.

2.1.2. Limites circunstanciais (artigo 60, § 1.º)


Durante a vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio, o
poder de reforma não poderá ser exercido. Essa limitação é chamada pela doutrina de
limitação circunstancial, pois são circunstâncias que limitam o exercício do poder de
reforma.

A norma constitucional decorrente do poder de reforma editada durante essas


situações de anormalidade será inconstitucional.

2.1.3. Limites temporais (artigo 60, § 5.º)


A Constituição do Império (1824) instituía que o poder de reforma somente poderia
ser exercido após quatro anos da vigência da Constituição. A Constituição Federal de 1988
não trouxe essa limitação temporal.

Alguns doutrinadores entendem que existe uma limitação temporal no § 5.º do artigo
60 o qual dispõe que “a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”. Outros
doutrinadores consideram essa limitação procedimental.

2.1.4. Limites materiais


As limitações materiais dizem respeito às matérias que não podem ser objeto de
emenda. As limitações expressamente dispostas no § 4.º do artigo 60 (cláusulas pétreas)
são chamadas limitações materiais explícitas, entretanto, existem limitações materiais não
dispostas neste artigo, que decorrem do sistema constitucional, e são chamadas limitações
materiais implícitas.

Passamos a estudar as limitações materiais explícitas.

O § 4.º do artigo 60 dispõe que:

“Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - voto direto, secreto, universal e periódico;

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III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.”

Observe-se que a Constituição diz “tendente”. Assim, a vedação atinge a pretensão


de modificar qualquer “elemento conceitual” (exemplo: a autonomia dos Estados-membros
é elemento conceitual do Estado Federal).

O Inciso I dispõe que o Estado Federal é imutável. Muitos doutrinadores entendem


que há uma limitação implícita quanto à modificação da forma do governo e do regime de
governo, tendo em vista o resultado do plebiscito de 1993.

O Inciso II dispõe que o voto direto, secreto, universal e periódico é imutável.

• Voto direto: o eleitor escolhe diretamente os seus mandatários, sem interposição


de Colégio Eleitoral. Observação: Há uma hipótese de exceção ao voto direto no
§ 1.º do artigo 81 da Constituição Federal, que prevê eleição indireta para o
cargo de Presidente e Vice-Presidente da República se houver impedimento do
Presidente e do Vice-Presidente nos dois últimos anos do mandato.

• Voto secreto: visa garantir a lisura das votações, inibindo a intimidação e o


suborno.

• Voto universal: estende-se a todas as pessoas. O condicionamento imposto por


força do amadurecimento das pessoas (idade) não tira o caráter universal do
voto.

• Voto periódico: significa que os mandatos políticos são provisórios.

Pergunta: A Constituição Federal poderá ser reformada para que o voto passe a ser
facultativo?

Resposta: Sim. O artigo 14, § 1.º, inciso I, dispõe sobre a obrigatoriedade do voto.
Essa obrigatoriedade, entretanto, não é limitação material por não se tratar de “cláusula
pétrea”, podendo ser objeto de emenda.

O inciso III dispõe sobre o princípio da separação dos poderes. A Constituição


consagra que os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo são independentes e
harmônicos entre si. O Poder, embora seja único, repartiu-se em três e nenhum deles pode
ser abolido, ou seja, não poderá ser criado um novo Poder ou restringido um já existente
(exemplo: não se pode transferir funções de um Poder para outro).

Por fim, o inciso IV dispõe que não se podem suprimir os direitos e garantias
individuais. Assim, a limitação não alcança todos os direitos e garantias fundamentais.

Para melhor vislumbrarmos o alcance dessa limitação, é recomendável recordarmos


alguns conceitos.
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O gênero Direitos e Garantias Fundamentais comporta três espécies:

I – Direitos Individuais;

II – Direitos Sociais;

III – Direitos Políticos.

As espécies direitos sociais e direitos políticos não são protegidos pelo inciso IV. Se
o constituinte quisesse que todos os direitos fossem intangíveis, não teria se referido aos
direitos e garantias individuais, que é a espécie, e sim aos direitos e garantias
fundamentais, que é o gênero. Há, entretanto, polêmica sobre o assunto.

Quanto aos direitos sociais, alguns doutrinadores entendem que podem ser
suprimidos em face da inteligência do princípio do inclusione unius fit exclusio alterius (a
inclusão de um é a exclusão de outro). Outros sustentam, porém, que não podem ser
suprimidos, pois se os direitos individuais são protegidos, com mais razão devem ser
protegidos os direitos coletivos.

Ressalte-se que os direitos e garantias individuais mencionados na cláusula pétrea


(artigo 60, § 4.º, inciso IV) não são somente aqueles que constam no rol do artigo 5.º da
Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal já entendeu que o direito do artigo 150,
inciso III, alínea “b”, da Constituição Federal, que não está incluso no rol dos direitos e
garantias fundamentais, é cláusula pétrea; concluindo, destarte, que estas não estão
limitadas ao elenco do artigo 5.º da Constituição Federal. Essa parte da doutrina entende
que os direitos sociais também podem ser considerados cláusulas pétreas, impossíveis de
alteração.

Outra questão polêmica diz respeito à possibilidade de ampliação das hipóteses de


pena de morte (artigo 5.º, inciso XLVII, alínea “a”), que atualmente só poderá ser imposta
em caso de guerra externa declarada (estado de beligerância). Existe uma série de crimes
previstos no Código Penal Militar apenados com morte. A execução se dá por fuzilamento,
de acordo com o disposto no Código de Processo Militar. Uma ampliação a esta exceção
por emenda constitucional seria tendente a abolir o direito à vida (direito individual).
Então, a doutrina dominante entende que não será possível a adoção da pena de morte.

Há, ainda, outra matéria que divide a doutrina. A questão que se coloca é: a
Constituição pode se alterada para reduzir a idade de imputabilidade penal de 18 anos para
16 anos? Há uma corrente doutrinária (minoritária) que entende que não, pois a regra
prevista no artigo 228 da Constituição Federal trata-se de direito individual, sendo que as
garantias e direitos individuais não se esgotam no rol do artigo 5.º da Lei Maior (há
precedente do Supremo Tribunal Federal neste sentido, conforme dito acima). A corrente
majoritária defende a tese de que se o constituinte quisesse que essa regra fosse imutável a
teria colocado no já mencionado artigo 5.º.

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As limitações materiais implícitas são, dentre outras:

• Titular do poder constituinte originário (artigo 1.º): o titular do poder originário


não pode ser modificado pelo poder de reforma.

• Só o Congresso Nacional pode exercer o poder de reforma: não poderá haver


delegação do poder de reforma. O Congresso Nacional não poderá delegar o
poder de reforma a outro órgão.

• Procedimento de Emenda Constitucional: não poderá ser modificado o


procedimento de Emenda Constitucional. Alguns autores entendem, entretanto,
que o procedimento poderá ser modificado para torná-lo mais rígido.

• Supressão da própria cláusula: impossibilidade de supressão da própria cláusula


do § 4.º do artigo 60.

• Forma e Sistema de Governo: alguns doutrinadores entendem que a forma


republicana e o sistema presidencialista não podem ser alterados, sob pena de
frustrar o plebiscito realizado em 21.04.1993. Entende-se que só o povo,
diretamente, por meio de referendo, poderá reformar a Constituição quanto a
estas matérias.

2.2. Revisão Constitucional


A Constituição trouxe, no artigo 3.º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, uma disposição de revisão constitucional após cinco anos da promulgação da
Constituição, por voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional e em
sessão unicameral.

O artigo 3.º não pode, entretanto, ser interpretado sozinho, mas sim conjuntamente
com o artigo 2.º, que previa o plebiscito para alterar a forma e o sistema de governo (o
artigo previa a realização do plebiscito no dia 07.09.1993, mas o plebiscito foi antecipado
para 21.04.1993). Desse modo, em início, a regra do artigo 3.º estaria condicionada ao
resultado do plebiscito e só haveria a revisão se fosse modificada a forma ou o sistema de
governo.

No dia 5.10.1993 foi instalada, porém, a Assembléia Revisional e o Supremo


Tribunal Federal entendeu que sua instalação não estava condicionada ao resultado do
plebiscito, sendo promulgadas, naquela ocasião, seis Emendas Constitucionais Revisionais.

A Emenda Constitucional Revisional, no entanto, estava submissa às cláusulas


pétreas do artigo 60, § 4.º, da Constituição Federal, não podendo, validamente, suprimir
direitos individuais, forma federativa de Estado, voto direto, secreto, universal e periódico
ou a separação dos Poderes.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Salário e Remuneração

Prof. Carlos Husek

1. SALÁRIO

A Consolidação das Leis do Trabalho não define salário, somente indica seus
componentes e fixa regras de seu pagamento e de sua proteção. A relatividade da noção de
salário dificulta a sua definição. Destacamos que, segundo Amauri Mascaro Nascimento,
podemos conceituar salário da seguinte forma: “Salário é o conjunto de percepções
econômicas devidas pelo empregador ao empregado não só como contraprestação do
trabalho, mas também pelos períodos em que estiver à disposição daquele aguardando
ordens, pelos descansos remunerados, pelas interrupções do contrato de trabalho ou por
força de lei.” 1

Salário é a soma de todas as atribuições econômicas pagas diretamente pelo


empregador ao empregado como contraprestação pelo trabalho realizado. É composto
normalmente de parcelas fixas, denominada salário-base e também de parcelas variáveis,
desde que pagas com habitualidade, denominada salário-composto, como, por exemplo:
horas extras, prêmio e adicional noturno.

1.1. Salário Complessivo


Vale ressaltar, contudo, que não se admite em nosso ordenamento jurídico o salário
complessivo.

Salário complessivo é aquele que engloba todos os valores recebidos sem


discriminar seus fatores.

• Exemplos:

1º) Empresa paga R$ 1.200,00 pelo salário, já considerando as eventuais horas


extras e adicionais.

2º) Comissionista recebe 2% a título de comissão sobre o produto que vender, já


incluído o Descanso Semanal Remunerado (DSR). Referida cláusula é nula por força
do Enunciado 91 do Tribunal Superior do Trabalho:

1
MASCARO NASCIMENTO, Amauri, Iniciação ao Direito do Trabalho, 28ª edição, Editora LTr, pág.339.
1
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“Enunciado 91: Salário Complessivo - Nula é a cláusula contratual que fixa


determinada importância ou percentagem para atender englobadamente vários direitos
legais ou contratuais do trabalhador.”

Há, ainda vários julgados nesse sentido, como o abaixo mencionado:

SALÁRIO COMPLESSIVO. INACEITAÇÃO. Para os empregados que percebem por


semana, necessário se faz especificar no recibo salarial a parcela correspondente ao
repouso semanal remunerado, uma vez que o Direito do Trabalho não admite o salário
complessivo. Recurso não provido. (TRT 13ª R- Acórdão num. 30454 - RO 2071/96 -
Relator: Juiz Paulo Montenegro Pires - DJPB 10.11.96.)

No Brasil, o salário complessivo foi utilizado sobremaneira na fixação de salário-


comissão: o percentual ajustado seria destinado a cumprir o pagamento do serviço prestado
e o da remuneração dos repousos compulsórios e os das horas extras. Por fim, a Justiça do
Trabalho negou validade à cláusula.

Devemos alertar que a proibição do salário complessivo não é uma regra absoluta,
pois comporta exceções. São admitidas algumas hipóteses de salário complessivo em nosso
ordenamento, quando, por exemplo, estipulado em convenção coletiva ou contrato.
Contudo, nesse sentido, quando um contrato estipulava uma comissão para os serviços
prestados pelo empregado e outra para o repouso remunerado e os adicionais por ventura
devidos, o Tribunal Superior do Trabalho concluiu pela sua legitimidade, desde que,
efetivamente cubra as parcelas devidas.2

É o que ocorreu no caso dos motoristas de caminhão. Pela peculiaridade do trabalho


foi fixado em convenção que se deve pagar 60 horas extras para o motorista de caminhão,
independentemente de quantas horas-extras efetivamente ele fizer.

1.2. Participação nos lucros


A Constituição Federal em seu artigo 7º, inciso XI, dispõe como direito do
trabalhador a: “participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei”.

A Convenção Coletiva da Categoria Bancária prevê o pagamento da participação no


lucro e resultados desde 1995. Em 1997 o assunto era regulado por meio de medida
provisória. Hoje a participação do lucro ou resultados é disciplinada pela Lei n.10.101, de
19 de dezembro de 2000.

Algumas mudanças ocorreram em relação ao tema. A medida provisória estipulava a


forma de participação apenas se oriunda de acordo coletivo. A Lei n.º 10.101/2000 prevê,
como válida também, a forma de participação por meio de negociação entre empresa e seus
empregados, mediante comissão, escolhida pelas partes, integrada por um representante

2
Ac. Do TST, 3ªT., no RR-3.864/73, rel. Min. C.A.Barata da Silva, DJ de 5.6.74. No mesmo sentido, AC. da
2º T., no RR-4.501/74, DJ de 2.5.75.
2
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indicado pelo sindicato da respectiva categoria ou por meio de convenção ou acordo


coletivo.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, não é mais a participação no lucro


e resultados considerada salário, sendo o Enunciado 251 do Tribunal Superior do Trabalho,
que dispunha em sentido contrário, cancelado.

“Enunciado 251- (Cancelado pela Res.33/94) - Participação nos lucros. Natureza


salarial. A parcela de participação nos lucros da empresa, habitualmente paga, tem natureza
salarial, para todos os efeitos legais.”

1.3. Ajuda de custo


É paga pelo empregador com a finalidade de cobrir as despesas do empregado, ou
seja, é o valor que serve para reembolso das despesas gastas com a execução do trabalho.
Consiste em uma indenização destinada a compensar as despesas de viagem, mudança e
instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter exercício em nova sede,
com mudança de domicílio em caráter permanente.

O empregado deve prestar contas e, caso tenha havido adiantamento no pagamento


da ajuda de custo e haja sobra de dinheiro, deverá o empregado devolver a quantia não
utilizada. Como dissemos, tem natureza indenizatória e, em princípio, não integra o salário,
mesmo que ela ultrapasse 50% do salário, diferentemente da diária, como veremos a
seguir.

1.4. Diária
É o valor fixo pago ao empregado.

O empregado não precisa prestar contas do valor recebido a título de diária ao


empregador, como ocorre com a ajuda de custo.

O legislador para evitar que a diária fosse utilizada como salário, estabeleceu um
critério objetivo, a saber: quando a diária for superior a 50% do salário fixo terá natureza
salarial (na sua integralidade). Porém, se a diária for inferior a 50% do salário fixo terá
natureza indenizatória. Nesse sentido o Tribunal Superior do Trabalho se pronunciou:

“Enunciado n. 101: Diárias de viagem. Salário. Integram o salário, pelo seu valor
total e para efeitos indenizatórios, as diárias de viagem que excedam a 50% (cinqüenta por
cento) do salário do empregado.”

“Enunciado n. 318: Diárias . Base de cálculo para sua integração ao salário.


Tratando-se de empregado mensalista, a integração das diárias ao salário deve ser feita
tomando-se por base o salário mensal por ele percebido, e não o salário-dia, somente sendo

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devida a referida integração quando o valor das diárias, no mês, for superior à metade do
salário mensal.”

Como sabemos, não integram o salário: as indenizações e a ajuda de custo. Também


é o que ocorre com as diárias e, ainda, com os benefícios e complementações
previdenciárias, os recolhimentos sociais e parafiscais, os pagamentos dos direitos
intelectuais e outros pagamentos que não são considerados salário, porque a lei assim
dispõe.

Indenizações diferem dos salários pela sua finalidade. A indenização visa à


reparação de danos ou ao ressarcimento de gastos do empregado.

2. SALÁRIO UTILIDADE (SALÁRIO IN NATURA)

Consoante artigo 458 da Consolidação das Leis do Trabalho, as utilidades


fornecidas pelo empregador ao empregado como contraprestação pelo trabalho realizado
são consideradas salário in natura. Exemplo: alimentação, cesta básica, transporte. Serão
computados no valor do salário, ou seja, integram o salário para todos os efeitos, inclusive
quanto às contribuições previdenciárias, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
etc.

Quando a utilidade, porém, for fornecida para a realização do trabalho, sendo,


portanto, instrumento de trabalho, não poderá ser considerada salário. Exemplo:
fornecimento de uniforme, de ferramenta. Assim temos:

PELO trabalho ═ salário utilidade (in natura)

UTILIDADE

PARA o trabalho ═ instrumento de trabalho

Pergunta-se: Moradia do zelador no prédio é salário ou instrumento de trabalho? A


posição da jurisprudência quanto à residência do zelador no prédio oscilou bastante. Antes,
existindo uso particular, era considerada salário. Hoje, a utilidade só é considerada salário
quando não possuir nenhuma ligação para execução do trabalho, assim, a residência do
zelador no prédio é considerada instrumento de trabalho.

Atenção: o vale-refeição é considerado salário (Enunciado n. 241 do Tribunal


Superior do Trabalho). Em contrapartida, o vale-transporte não é salário.

“Enunciado 241: Salário-Utilidade. Alimentação. O vale para refeição, fornecido


por força do contrato de trabalho, tem caráter salarial, integrando a remuneração do
empregado, para todos os efeitos legais.”
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2.1. Valor da Utilidade


As utilidades integram o salário quando fornecidas como contraprestação do salário.
Devem ser calculadas pelo valor real, de acordo com o Enunciado n. 258 do Tribunal
Superior do Trabalho:

“Salário-utilidade. Percentuais. Os percentuais fixados em lei relativos ao salário in


natura apenas pertinem às hipóteses em que o empregado percebe salário mínimo,
apurando-se, nas demais, o real valor da utilidade.”

O critério é calcular o valor da utilidade pelo valor que ela representa na


porcentagem da composição do salário mínimo e incidir esse valor no salário do
empregado. Essa é a posição da doutrina e da jurisprudência.

3. REMUNERAÇÃO

Nem todas as verbas que constam do holerite são salário. A remuneração tem caráter
mais amplo e inclui tudo o que o empregado recebe como conseqüência do trabalho que
desenvolve.

Entende-se por remuneração a quantia fixa estipulada (parcelas fixas e variáveis),


como também, abonos, gratificações, diárias para a viagem que exceda a 50% do salário,
comissões, percentagens e gorjetas. Ou seja, o significado do vocábulo remuneração inclui
o salário indireto (gorjetas) e o salário direto pago pelo empregador (em dinheiro ou
utilidades).

É importante distinguirmos salário de remuneração, pois alguns títulos contratuais


são pagos com base na remuneração, como o 13.º salário, as férias, o FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço).

O aviso prévio, a hora extra, o adicional noturno e o adicional por insalubridade são
pagos somente sobre o salário.

Significa dizer que, no cálculo do salário mínimo, pertinente a salário e não


remuneração, não podem ser computadas as gorjetas que o empregado perceber; estas
continuarão apenas sendo uma parcela da remuneração, independente do salário devido e
pago pelo empregador.

No tocante ao cálculo da indenização por despedida injusta, dos depósitos para


FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), dos proventos devidos durante as férias,
das contribuições para a Previdência Social etc, computa-se a remuneração percebida pelo
empregado, isto é, o salário pago pelo empregador e mais a média das gorjetas
habitualmente recebidas de terceiros pelos serviços prestados na execução do respectivo
contrato de trabalho.

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Nesse ínterim, o artigo 39 da Constituição Federal que sofreu significativas


modificações com a Emenda Constitucional n. 19/98 trata do regime de remuneração dos
servidores públicos.

Referida remuneração poderá ter seu pagamento a título de vencimento, salário e


proventos.

3.1. Vencimento
É o pagamento feito pela Administração Pública ao funcionário regido pelo regime
estatutário.

Pela Emenda Constitucional n. 19 passamos a encontrar dentro da Administração


Pública servidores remunerados com base no conceito de vencimentos e, ainda, os
servidores remunerados com base no conceito de subsídio.

• vencimentos: expressão que envolve o vencimento (salário base) acrescido das


vantagens às quais os servidores tiverem direito; poderão ser pagos em várias
parcelas;

• subsídio: artigo 39, § 4º → remuneração paga em parcela única;somente pago


aos servidores relacionados no mencionado parágrafo, a saber: membro de
poder, detentor de mandato eletivo, ministros de Estado e secretários estaduais e
municipais (Observação: devemos também incluir os servidores policiais
integrantes dos órgãos mencionados no artigo 144 da Constituição Federal - ver
§ 9º do mesmo artigo).

Independentemente do regime a que estiver submetido o servidor público, sempre


terá como limite máximo o subsídio do Ministro do Supremo Tribunal Federal, uma vez
que este é o teto salarial da Administração Pública, o que vale também para os cargos
cumulados.

3.2. Salário
Pagamento feito ao servidor contratado sob regime celetista.

3.3. Proventos
É o benefício pago pela Previdência ao inativo.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

DIREITO PENAL

Tipo Penal
Dolo e Culpa
Crimes Qualificados pelo Resultado
Erro de Tipo

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DIREITO PENAL

Tipo Penal

Dolo e Culpa

Crimes Qualificados pelo Resultado

Erro de Tipo

Professor Fernando Capez

1. TIPO PENAL

1.1. Conceito e Importância do Tipo


O tipo legal é um dos postulados básicos do princípio da reserva legal. A
Constituição Federal consagra expressamente que “não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal” (artigo 5.º, inciso XXXIX), deixando à lei
a tarefa de definir, descrever, os crimes.

Importante destacar a teoria do tipo, concebida no ano de 1907, por Ernest Beling,
segundo a qual o tipo legal realiza e garante o princípio da reserva legal. Consiste na
descrição abstrata da conduta humana feita, pormenorizadamente, pela lei penal e
correspondente a um fato criminoso – também chamado de tipo incriminador. O tipo é,
então, um molde criado pela lei, em que está descrito o crime com todos os seus elementos,
sendo que alguém cometerá um delito se realizar uma conduta idêntica à constante no
modelo legal.

O conceito de tipo é expresso pelo Professor Fernando Capez como “o modelo


descritivo das condutas humanas criminosas, criado pela lei penal, com a função de
garantia do direito de liberdade”.

1.2. Da Adequação Típica e suas Formas


Adequação típica é o enquadramento do fato ocorrido concretamente ao tipo legal.
Trata-se de conceito idêntico ao de tipicidade.

Alguns doutrinadores, porém, diferenciam um conceito do outro, considerando a


tipicidade mera correspondência formal entre o fato humano e o que está descrito no tipo,
enquanto a adequação típica implica um exame mais aprofundado do que a simples
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correspondência objetiva, investiga-se se houve vontade, para só então efetuar o


enquadramento.

• Adequação típica de subordinação imediata: é o ajuste integral, perfeito, entre o


fato e o tipo legal, sem que para a sua subsunção se exija o concurso de qualquer
outra norma.

• Adequação típica de subordinação mediata, ampliada ou por extensão: o fato


não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora; exige para isto o
concurso de outra disposição, por exemplo, tentativa (artigo 14, inciso II, do
Código Penal) e concurso de agentes (artigo 29) – há necessidade de se
combinar a norma contida na Parte Geral com o dispositivo da Parte Especial
para que ocorra a exata modelagem da conduta à norma.

As normas que ampliam o tipo penal funcionam como um elo, evitando que o fato
fique sem enquadramento típico. São chamadas normas de extensão ou ampliação da figura
típica.

No caso da tentativa, a extensão ocorre no tempo, pois o modelo descritivo alcança


o fato momentos antes de sua consumação – a conduta só deveria subsumir-se no tipo
penal com a consumação, mas a norma que trata da tentativa faz com que retroceda no
tempo e alcance o fato antes de sua realização completa. É norma de extensão ou
ampliação temporal da figura típica.

No caso da participação, também não ocorre correspondência entre o fato e o tipo,


pois o partícipe é aquele que não pratica o núcleo descrito na norma, decorrendo daí a
impossibilidade de adequação direta. O artigo 29 do Código Penal liga a conduta do
partícipe ao modelo legal. A extensão opera-se de uma pessoa (autor principal) para outra
(partícipe), denominando-se norma de extensão ou ampliação espacial da figura típica.

2. DOLO

2.1. Conceito
Existem três teorias que falam sobre o conceito de dolo:

• Teoria da vontade: dolo é a vontade de praticar a conduta e produzir o resultado.


O agente quer o resultado.

• Teoria do assentimento ou da aceitação: dolo é a vontade de praticar a conduta


com a aceitação dos riscos de produzir o resultado. O agente não quer, mas não
se importa com o resultado.

• Teoria da representação ou da previsão: dolo é a previsão do resultado. Para que


haja dolo, basta o agente prever o resultado.
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DIREITO PENAL

O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento. Ao conceituar crime


doloso, o legislador indiretamente conceituou dolo: “quando o agente quis o resultado ou
assumiu o risco de produzi-lo” (artigo 18, inciso I, do Código Penal). A teoria da
representação, que confunde culpa consciente com dolo, não foi adotada.

2.2. Espécies de Dolo

2.2.1. Dolo normativo


É o dolo segundo a teoria clássica, causal ou naturalista. É o dolo que integra a
culpabilidade e não a conduta, e tem como elementos a consciência (sei o que faço), a
vontade (quero fazer) e a consciência da ilicitude (sei que é errado). É o dolo que depende
de um juízo de valor.

2.2.2. Dolo natural


É o dolo segundo a doutrina finalista. Para os finalistas, o dolo passou a constituir
elemento do fato típico (conduta dolosa), deixando de ser requisito para a culpabilidade. A
consciência da ilicitude se destacou do dolo e passou a integrar a culpabilidade. Assim, o
dolo que passou para a conduta é aquele composto apenas por consciência e vontade (sem
a consciência da ilicitude, que passou a integrar a culpabilidade). É uma manifestação
psicológica, que prescinde de juízo de valor. É o dolo adotado pelo Código Penal.

2.2.3. Dolo genérico


É a vontade de realizar o verbo do tipo sem qualquer finalidade especial.

2.2.4. Dolo específico


É a vontade de realizar o verbo do tipo com uma finalidade especial. Sempre que no
tipo houver um elemento subjetivo, para que o fato seja típico, será necessário o dolo
específico.

2.2.5. Dolo de perigo


É a vontade de expor o bem a uma situação de perigo de dano. O perigo pode ser
concreto ou abstrato. Quando o perigo for concreto, é necessária a efetiva comprovação de
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que o bem jurídico ficou exposto a uma real situação de perigo (exemplo: crime do artigo
132 do Código Penal). O perigo abstrato, também conhecido como presumido, é aquele em
que basta a prática da conduta para que a lei presuma o perigo (exemplo: artigo 135 do
Código Penal). Os Professores Damásio de Jesus e Luiz Flávio Gomes sustentam que os
crimes de perigo abstrato não existem mais na ordem jurídica.

2.2.6. Dolo de dano


Existe quando a vontade é de produzir uma efetiva lesão ao bem jurídico. Quase
todos os crimes são de dano (exemplos: furto, homicídio etc.).

2.2.7. Dolo direto ou determinado


Existe quando o agente quer produzir resultado certo e determinado; é o dolo da
teoria da vontade.

2.2.8. Dolo indireto ou indeterminado


É aquele que existe quando o agente não quer produzir resultado certo e
determinado. Pode ser:

• Eventual: quando o agente não quer produzir o resultado, mas aceita o risco de
produzi-lo (exemplo: o motorista que, em desabalada corrida, para chegar em
seu destino, aceita o resultado de atropelar uma pessoa). Nélson Hungria lembra
a fórmula de Frank para explicar o dolo eventual: “Seja como for, dê no que der,
em qualquer caso não deixo de agir”.

• Alternativo: quando o agente quer produzir um ou outro resultado (exemplo: o


agente atira para ferir ou para matar; nesse caso, responde pelo resultado mais
grave, aplicando-se o princípio da consunção).

2.2.9. Dolo geral ou erro sucessivo


Conhecido também como erro sobre o nexo causal ou aberratio causae, ocorre
quando o agente, supondo já ter produzido o resultado, pratica nova agressão, que para ele
é mero exaurimento, mas é nesse momento que atinge a consumação (exemplo: “A” quer
matar “B” por envenenamento; após o envenenamento, supondo que “B” já está morto,
“A” joga o que imagina ser um cadáver no rio e “B” acaba morrendo por afogamento;
nesse caso, o erro é irrelevante, pois o que vale é a intenção do agente, que responderá por
homicídio doloso). O Professor Damásio de Jesus entende que o agente deve responder por
tentativa de homicídio, aplicando-se a teoria da imputação objetiva.
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3. CULPA

3.1. Introdução
Culpa é o elemento normativo da conduta (não confundir com elemento normativo
do tipo), pois sua existência decorre da comparação que se faz entre o comportamento do
agente no caso concreto e aquele previsto na norma, que seria o ideal. Essa norma
corresponde ao sentimento médio da sociedade sobre o que é certo e o que é errado.

3.2. Elementos do Fato Típico Culposo


São elementos do fato típico culposo:

• conduta voluntária;

• resultado naturalístico involuntário;

• nexo causal;

• tipicidade;

• previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer pessoa ter previsto o


resultado; o que se leva em conta é se o resultado era ou não previsível para uma
pessoa de prudência mediana, e não a capacidade do agente de prever o
resultado;

• ausência de previsão: não prever o previsível. Exceção: na culpa consciente há


previsão;

• quebra do dever objetivo de cuidado: é o dever de cuidado imposto a todos.


Existem três maneiras de violar o dever objetivo de cuidado. São as três
modalidades de culpa.

3.3. Modalidades de Culpa

3.3.1. Imprudência
É a culpa de quem age (exemplo: passar no farol fechado). É a prática de um fato
perigoso, ou seja, é uma ação descuidada. Decorre de uma conduta comissiva.

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3.3.2. Negligência
É a culpa de quem se omite. É a falta de cuidado antes de começar a agir. Ocorre
sempre antes da ação (exemplo: não verificar os freios do automóvel antes de colocá-lo em
movimento).

3.3.3. Imperícia
É a falta de habilidade no exercício de uma profissão ou atividade.

No caso de exercício de profissão, arte ou ofício, se não for observada uma regra
técnica o fato poderá enquadrar-se nos artigos 121, § 4.º, e 129, § 7.º, do Código Penal.
Observe-se que só haverá aumento de pena se o agente conhecer a regra técnica e não
aplicá-la. Não incide o aumento de pena se o agente desconhece a regra.

Se a imperícia advier de pessoa que não exerce a arte ou profissão, haverá


imprudência ou negligência (exemplo: motorista sem habilitação).

Difere-se a imperícia do erro profissional, que ocorre quando são empregados os


conhecimentos normais da arte ou ofício e o agente chega a uma conclusão equivocada.

O Código Penal de 1890, em seu artigo 297, previa a culpa in re ipsa ou culpa
presumida, resultante de inobservância de disposição regulamentar. Se, por exemplo, um
motorista sem habilitação atropelasse uma criança, responderia pelo resultado, mesmo se
não tivesse agido culposamente. Adotava-se, como se vê, a responsabilidade penal
objetiva, abolida no Código Penal de 1940.

3.4. Tipo Aberto


O tipo culposo é um tipo aberto, pois não há descrição da conduta. Assim, se o
legislador tentasse descrever todas as hipóteses em que ocorresse culpa, certamente jamais
esgotaria o rol. Compara-se a conduta do agente, no caso concreto, com a conduta de uma
pessoa de prudência mediana. Se a conduta do agente se afastar dessa prudência, haverá a
culpa. Será feita uma valoração para verificar a existência da culpa.

O tipo culposo, como vimos, é um tipo aberto. Excepcionalmente, o tipo culposo é


um tipo fechado. Exemplos: receptação culposa, tráfico culposo (ministrar dose
evidentemente maior) etc.

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3.5. Excepcionalidade da Culpa


Um crime só pode ser punido como culposo quando há previsão expressa na lei. Se
a lei é omissa o crime só é punido como doloso (artigo 18, parágrafo único, do Código
Penal).

3.6. Compensação de Culpas


No Direito Penal, não existe compensação de culpas. O fato de a vítima ter agido
também com culpa não impede que o agente responda pela sua conduta culposa. Somente
nos casos em que existir culpa exclusiva da vítima haverá exclusão da culpa do agente.

Não confundir com concorrência de culpas que ocorre quando dois ou mais agentes,
culposamente, contribuem para a produção do resultado (exemplo: choque de dois veículos
num cruzamento).

3.7. Graus de Culpa


Para efeito de cominação abstrata de pena, não há diferença. Na dosagem da pena
concreta, entretanto, é levado em conta o grau da culpa na primeira fase de sua fixação
(artigo 59 do Código Penal). São três níveis: grave, leve e levíssima.

3.8. Participação no Crime Culposo


Sobre a possibilidade de participação em crime culposo, há duas posições na
doutrina:

1.ª posição: não é possível a participação em crime culposo. Isto porque, o tipo
culposo é aberto, logo não há descrição da conduta. Assim, não há que se falar em conduta
acessória e em conduta principal.

2.ª posição: é possível a participação em crime culposo, sendo o autor aquele que
realiza o núcleo do tipo doloso e partícipe quem concorre para tal. Exemplo: motorista
dirige de forma imprudente e, instigado pelo acompanhante, acaba atropelando uma
pessoa. O motorista matou a vítima, pois foi ele quem a atropelou; o acompanhante teve
participação nesta morte.

A primeira posição prevalece na doutrina, pois a culpa é um tipo aberto, não


possuindo, por esse motivo, conduta principal distinta da secundária. É a nossa posição.

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3.9. Espécies de Culpa

3.9.1. Culpa inconsciente ou sem previsão


É a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era previsível.

3.9.2. Culpa consciente ou com previsão


É aquela em que o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que ele não
ocorrerá. Não se pode confundir a culpa consciente com o dolo eventual. Tanto na culpa
consciente quanto no dolo eventual o agente prevê o resultado, entretanto na culpa
consciente o agente não aceita o resultado, e no dolo eventual o agente aceita o resultado.

3.9.3. Culpa indireta ou mediata


É aquela em que o sujeito dá causa indiretamente a um resultado culposo (exemplo:
o assaltante aponta uma arma a um motorista que está parado no sinal; o motorista,
assustado, foge do carro e acaba sendo atropelado). A solução do problema depende da
previsibilidade ou imprevisibilidade do segundo resultado.

3.9.4. Culpa imprópria


Também é chamada culpa por extensão, por assimilação ou por equiparação. Nesse
caso, o resultado é previsto e querido pelo agente, que age em erro de tipo inescusável ou
vencível. Exemplo: “A” está em casa assistindo televisão quando seu primo entra na casa
pelas portas dos fundos; pensando tratar-se de um ladrão, “A” efetua disparos de arma de
fogo contra seu azarado parente. Nesse caso, “A” acredita estar agindo em legítima defesa.
Como “A” agiu em erro de tipo inescusável ou vencível (se fosse mais atento e diligente
perceberia que era seu primo), responde por homicídio culposo nos termos do artigo 20, §
1.º, do Código Penal. Observe-se que a culpa imprópria, na verdade, diz respeito a um
crime doloso que o legislador aplica pena de crime culposo.

Se “A”, no entanto, tivesse agido em erro de tipo escusável ou invencível, haveria


exclusão de dolo e culpa, hipótese em que “A” ficaria impune.

Qual a solução se o primo (do exemplo citado acima) não tivesse morrido?

Há duas posições na doutrina:

1.ª posição: “A” responderia por lesões corporais culposas.

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2.ª posição: “A” responderia por tentativa de homicídio culposo.

Preferimos a primeira posição, pois não admitimos a tentativa em crime culposo.

4. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO

4.1. Conceito
Crime qualificado pelo resultado é aquele em que o legislador, após definir um
crime completo e acabado, com todos os seus elementos (fato antecedente), acrescenta-lhe
um resultado (fato conseqüente). O resultado não é necessário para a consumação, que já
ocorreu no fato antecedente; o resultado tem a função de aumentar abstratamente a pena.

4.2. Espécies

4.2.1. Conduta dolosa e resultado agravador doloso

Antecedente Conseqüente

O agente pratica o crime com dolo e depois


DOLO DOLO acrescenta um resultado também doloso (exemplo:
latrocínio – há dolo na prática do roubo e
dolo na morte da vítima).

4.2.2. Conduta culposa e resultado agravador doloso

Antecedente Conseqüente

CULPA DOLO O agente pratica o crime com culpa e depois acrescenta um


resultado doloso (exemplo: o agente atropela a vítima
culposamente e, após, foge, omitindo-se de socorrê-la).

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4.2.3. Conduta dolosa e resultado agravador culposo

Antecedente Conseqüente

DOLO CULPA O agente pratica o crime com dolo e depois acrescenta um


resultado culposo (exemplo: o agente desfere um soco na
vítima, que cai, bate a cabeça e morre).

Trata-se do crime preterdoloso (ou preterintencional) que é uma espécie do gênero


crime qualificado pelo resultado. Não cabe tentativa no crime preterdoloso, tendo em vista
que o resultado é produzido por culpa e não pode haver tentativa daquilo que não se quer
produzir.

4.2.4. Conduta culposa e resultado agravador culposo

Antecedente Conseqüente
O agente pratica um delito culposamente e, em razão desse
crime, dá causa a um resultado agravador culposo
CULPA CULPA (exemplo: incêndio culposo que resulta uma morte também
culposa).

4.3. Observações
O crime preterdoloso ou preterintencional não admite tentativa, pois o resultado
agravador é obtido a título de culpa.

Lembre-se que o latrocínio nem sempre é preterdoloso, pois o resultado morte pode
ser querido pelo agente, hipótese em que o latrocínio admite a tentativa.

5. ERRO DE TIPO

5.1. Conceito
É o desconhecimento ou falsa ideação de uma situação de fato, um dado da
realidade ou uma relação jurídica, descritos no tipo legal, como seus elementos, suas
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circunstâncias ou como dados irrelevantes. Assim, o nome correto não seria erro de tipo,
mas erro sobre situação descrita no tipo.

O Código Penal conceitua erro de tipo no artigo 20, caput: “O erro sobre elemento
constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo,
se previsto em lei.”

Erro de tipo é aquele que incide sobre um dado da realidade, descrito em um tipo
penal, como:

• elementar de um tipo incriminador;

• circunstância de um tipo incriminador;

• elementar de um tipo permissivo;

• dado irrelevante para figura típica.

5.2. Formas
O erro de tipo pode ser:

• essencial: incide sobre elementares ou circunstâncias, impedindo o agente de


saber que está cometendo um crime ou de conhecer a circunstância de um crime;

• acidental: incide sobre um dado secundário, irrelevante, não impedindo o agente


de saber que pratica um crime.

5.2.1. Erro de tipo essencial


Segundo a teoria finalista da ação, o dolo integra a conduta. Assim, a vontade do
agente deve abranger todos os elementos constitutivos do tipo. Desejar, portanto, praticar
um crime, é ter consciência e vontade de realizar todos os elementos que compõem o tipo
legal. Por isso, o erro é essencial quando incide sobre situação de tal importância para o
tipo que, se o erro não existisse, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos,
naquelas circunstâncias.

a) Erro sobre elementar de tipo incriminador

Nesse caso, o erro de tipo sempre exclui o dolo. Se o erro for inevitável (invencível
ou escusável), também exclui a culpa, tornando o fato atípico. Caso o erro seja evitável
(vencível ou inescusável), o agente responderá pela modalidade culposa, se houver
previsão legal desta.

Exemplo de erro escusável (invencível): um sujeito pega uma caneta, idêntica à sua,
porém, era de outra pessoa. Há um equívoco sobre a realidade impedindo que o sujeito
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tenha consciência de que está praticando um crime (furto). Nesse caso exclui-se o dolo e a
culpa. Como sem dolo e sem culpa não há conduta (teoria finalista), e sem conduta não há
fato típico, o erro de tipo essencial inevitável, recaindo sobre uma elementar, leva à
atipicidade do fato.

Exemplo de erro inescusável (vencível): um caçador mata um homem pensando


tratar-se de um animal bravio. Como o erro recaiu sobre uma elementar, exclui o dolo. Se o
erro poderia ter sido evitado com um mínimo de cuidado, ou seja, com emprego de
prudência mediana, o agente responde por homicídio culposo (não se exclui a culpa).

Se o tipo não admite a modalidade culposa, é irrelevante indagar sobre a


evitabilidade do erro, pois todo erro de tipo essencial exclui o dolo e, não havendo forma
culposa no tipo, a conseqüência será a exclusão do crime.

b) Erro sobre circunstância de tipo incriminador

O sujeito equivoca-se com relação a uma circunstância. Nesse caso há exclusão da


circunstância desconhecida. Se, por exemplo, o agente furta um relógio pensando ser de
ouro, descobrindo depois se tratar de imitação de valor insignificante, não poderá se valer
do privilégio do § 2.º do artigo 155 do Código Penal.

c) Erro sobre elementar de tipo permissivo

Trata-se das descriminantes putativas. Descriminante é a causa que descrimina, que


exclui a ilicitude do fato típico. É putativa, pois é imaginária. Ocorre quando o agente,
levado a erro pelas circunstâncias do caso concreto, pensa que está agindo em face de uma
causa excludente da ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento
de dever legal ou exercício regular de direito).

Exemplo: “A” percebe que “B”, seu inimigo, está mexendo no bolso e pensa que ele
vai sacar uma arma; “A” mata “B”, que somente procurava um lenço (erro de apreciação
dos fatos da realidade). As conseqüências estão expostas no artigo 20, § 1.º, do Código
Penal. Se o erro for inevitável exclui o dolo e a culpa; se evitável o agente responde pelo
crime culposo, se previsto em lei.

A redação do parágrafo é bastante confusa e dá margem a interpretações diversas.


Em vez de dizer que em caso de erro inevitável não há crime, o legislador optou pela
infeliz fórmula “o agente fica isento de pena”. Ora, ficar isento de pena significa cometer
crime, mas por ele não responder. Então, se no erro inevitável ocorre isenção de pena, ele
não exclui o crime, mas tão somente a responsabilidade por sua prática. A partir dessa
dúvida, alguns doutrinadores do jaez de Luiz Flávio Gomes sustentam que o erro de tipo
permissivo não pode ser erro de tipo porque não exclui o crime, mas a culpabilidade.

5.2.2. Erro de tipo acidental


É aquele que incide sobre dados irrelevantes da figura típica, portanto não traz
nenhuma conseqüência para o fato típico. São modalidades de erro de tipo acidental:
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a) Erro sobre o objeto (error in objecto)

O sujeito supõe que sua conduta recai sobre determinada coisa, mas, na realidade,
recai sobre outra. Exemplo: o agente quer furtar um saco de feijão e, por engano, furta um
saco de arroz. O crime continua sendo de furto; desconsidera-se o engano sobre a res
furtiva.

b) Erro sobre a pessoa (error in persona)

Tome-se como exemplo, o sujeito que deseja matar “A” e, por uma confusão
mental, acaba matando “B” (olhou “B” e pensou que fosse “A”). O crime continua sendo
de homicídio. O sujeito responderá como se a vítima efetiva “B” fosse a vítima virtual “A”,
ou seja, responderá pelo crime como se tivesse matado “A”.

O artigo 20, § 3.º, segunda parte, dispõe o seguinte: “não se consideram, neste caso,
as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria
praticar o crime”. Se, por exemplo, um sujeito quer matar um inimigo e, pressentido a
aproximação de um vulto, atira e vem a matar o próprio pai, não incidirá a agravante
genérica prevista no artigo 61, inciso II, alínea “e”, primeira figura. Se, entretanto, o sujeito
quer matar o próprio pai e acaba matando um terceiro desconhecido, incidirá a agravante
mencionada.

c) Erro na execução do crime (aberratio ictus)

Neste caso, o agente, em virtude de um erro na execução do delito, atinge pessoa


diversa da pretendida. Não há erro na representação mental do agente e sim na execução do
crime (exemplo: o agente quer matar “A”, mira nele, entretanto erra o tiro, acertando “B”).
Existem duas formas de aberratio ictus:

• Aberratio ictus com resultado único ou com unidade simples: somente o terceiro
é atingido (terceiro inocente ou vítima efetiva). O agente responderá pelo crime
como se tivesse matado a vítima virtual (artigo 73 do Código Penal).

• Aberratio ictus com resultado duplo ou com unidade complexa: o agente atinge o
alvo querido, mas também o não querido, ou seja, são atingidos a vítima
pretendida e o terceiro inocente. Aplica-se a regra do concurso formal perfeito. O
agente responderá, quanto à vítima pretendida, por homicídio doloso e, quanto
ao terceiro, por homicídio culposo.

d) Erro na execução com resultado diverso do pretendido (aberratio delicti)

O sujeito quer atingir um bem jurídico e atinge outro. Há duas espécies de aberratio
delicti:

• Aberratio delicti com unidade simples (resultado único): só é produzido o crime


diverso do pretendido. O agente responde por este a título de culpa, se previsto
como crime culposo (artigo 74 do Código Penal).

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DIREITO PENAL

• Aberratio delicti com unidade complexa (resultado duplo): são atingidos o bem
pretendido e o bem diverso. O agente responde por concurso formal (dolo no
pretendido e culpa no diverso).

Se o resultado previsto como culposo for menos grave, ou se ele mesmo não tiver
modalidade culposa, não se aplica a regra da aberratio criminis, prevista no artigo 74.
Exemplo: o agente atira na vítima e não a acerta (tentativa branca), vindo, por erro, a
atingir uma vidraça; aplicada a regra, a tentativa branca de homicídio ficaria absorvida pelo
dano culposo, e, como este não é previsto no Código Penal, a conduta seria considerada
atípica. O dano culposo não teria forças para absorver uma tentativa de homicídio, mesmo
porque nem sequer constitui crime.

e) Dolo geral ou erro sucessivo ou erro sobre o nexo causal (aberratio causae)

Ocorre quando o agente, na suposição de já ter consumado o crime, pratica o que


imagina ser mero exaurimento e nesse instante atinge a consumação (vide item 2.2.9).

5.3. Delito Putativo por Erro de Tipo


No delito putativo por erro de tipo, o agente quer praticar um crime, mas em face do
erro, desconhece que está cometendo um irrelevante penal.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Processo e Pressupostos Processuais
Atos e Prazos Processuais
Ministério Público no Processo Civil
Das partes e seus Procuradores
Litisconsórcio

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Processo e Pressupostos Processuais

Atos e Prazos Processuais

MP no Processo Civil

Das Partes e seus Procuradores

Litisconsórcio

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. PROCESSO

De longa data, entende-se o processo, quarto instituto fundamental do Direito


Processual, como o instrumento necessário à composição da lide, pelo Estado-juiz, de
forma a atingir seus escopos políticos (realização da justiça), jurídicos (resolução do
conflito de interesses) e sociais (pacificação social). Com efeito, o processo não tem
um fim em si mesmo, pois ninguém movimenta a máquina judiciária, senão quando
movido pela necessidade de pronunciamento do poder judiciário acerca da titularidade
de um bem da vida, ou ainda de proteção ou satisfação deste, por meio de decisão
judicial.

Assim, conforme realizado no estudo das ações, faz-se a divisão dos processos,
instrumento destas, de acordo com a natureza do provimento que, mediante tais
instrumentos, se deseja obter do Poder Judiciário.

Registre-se que, etimologicamente, processo pode ser conceituado como


“marcha pra frente” ou “seguir adiante”, sendo esta a razão apontada por alguns
doutrinadores para a confusão que normalmente se faz entre processo e procedimento.
Com efeito, procedimento não se confunde com processo, pois processo é conceito
finalístico, teleológico, de acordo com a doutrina de Luiz Rodrigues Wambier,
enquanto procedimento é a forma como o processo se desenvolve perante o Judiciário,
no exercício de suas funções típicas, sendo doravante considerado um de seus
elementos, ao lado da relação jurídica angular de direito processual. Tal relevância não
é meramente terminológica, mas prática, uma vez que, de acordo com a ordem
constitucional inaugurada em 1988, à União compete legislar sobre processo de forma
privativa, e aos Estados, concorrentemente, sobre procedimento.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Há ainda quem diferencie, com relativo acerto, o conceito de procedimento do


conceito de “rito”, uma vez que este último pode ser mais célere e simples, a depender
das características particulares da lide que se desenvolve perante o Judiciário, a
exemplo dos ritos ordinário e sumário, subespécies do procedimento comum, do
processo de conhecimento.

Processo: Procedimento: Meio de


Instrumento de composição = desenvolvimento do+ processo.
de litígios.
Relação Jurídica de Direito
Processual.

1.1. A Relação Jurídica Processual


A relação jurídica processual, tal como é vista nos dias atuais, tem origem na
Alemanha do século XIX, quando Oskar Von Bülow, em 1868, escreveu interessante obra
sobre os pressupostos processuais, dando caráter autônomo à ciência processual. A relação
jurídica processual se desenvolve, ab initio, entre autor, juiz e réu. Para a maioria da
doutrina, trata-se de relação angular, uma vez que as partes não se relacionam diretamente,
havendo necessidade de pronunciamento do juiz do feito, este, considerado sujeito
imparcial da relação jurídica de direito processual. Senão vejamos:

Juiz

Autor X Réu

1.2. Espécies de Processo


De acordo com o provimento que constitui o pedido, a doutrina classifica o processo
correspondente, e nesse passo cumpre registrar que há um paralelo entre processo e ação,
uma vez que aquele é o instrumento de exercício desta, perante o Poder Judiciário. Com
efeito, dentro destes processos, a natureza jurisdicional do provimento, por sua vez, é que
possui o condão de condicionar a nomenclatura das sentenças neles proferidas. Assim,
temos os processos de conhecimento, de execução e cautelar.

1.2.1. Processo de conhecimento

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O processo de conhecimento tem por finalidade a declaração do órgão jurisdicional,


a respeito de qual das partes tem direito à pretensão deduzida. A essa decisão, que promove
o ajuste do direito ao caso concreto, dá-se o nome de acertamento. As partes, portanto,
formulam pedidos aos órgãos da jurisdição, obtendo ou não procedência. Em caso de
procedência, será acolhida a pretensão do autor, em caso contrário (improcedência dos
pedidos formulados), desacolhida.

As sentenças proferidas em sede de processo de conhecimento, são denominadas de


acordo com a natureza do provimento em:

• meramente declaratórias;

• constitutivas; condenatórias.

As sentenças meramente declaratórias, como o próprio nome diz, declaram a


existência ou não de uma relação jurídica em uma determinada situação de fato (artigo 4.º
do Código de Processo Civil).

Por sua vez, as sentenças constitutivas são aquelas que criam, modificam ou
extinguem uma relação jurídica, sendo, portanto, consideradas positivas ou negativas.

As sentenças condenatórias são aquelas que apresentam uma sanção. A partir desta
decisão, a parte passa a obter um título executivo judicial. A sentença condenatória na
esfera penal também origina o título executivo judicial que possibilita a reparação do dano
causado, todavia, somente após o seu trânsito em julgado, por necessidade de observância
do princípio da presunção de inocência, constitucionalmente garantido.

Sentenças injuntivas ou mandamentais, para aqueles que a admitem, não se


confundem com ações cujos provimentos são condenatórios, porque nas sentenças
mandamentais o provimento gera um comando imperativo ao réu, capaz de obter
resultados concretos, sob pena de sanção, não dependendo de uma outra relação jurídico-
processual de caráter executivo. Para aqueles que a rechaçam do sistema, a justificativa é a
de que uma sentença não tem o condão de modificar sua natureza apenas em razão das
qualidades particulares de uma das partes, notadamente o destinatário da ordem.

1.2.2. Processo de execução


O processo de execução é um instrumento do denominado processo de
conhecimento, pois faz gerar eficácia deste último no mundo fático. É a hipótese de uma
pessoa ser condenada a cumprir uma determinada obrigação, resistindo, porém, ao
provimento jurisdicional. Exemplo: o réu é condenado a pagar uma determinada quantia
em dinheiro. Diante de sua recusa em satisfazer voluntariamente a decisão jurisdicional,
criou-se o processo de execução, que veicula a ação de execução, com a finalidade de
compelir a parte a efetuar esse pagamento. São atos de força que garantem o cumprimento
da obrigação, e têm como pressupostos o título executivo e o inadimplemento.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O resultado é o provimento satisfativo do direito do credor. Enquanto nos processos


de conhecimento são aplicadas ao caso concreto as regras jurídicas correspondentes, indo
dos fatos ao direito, o processo de execução faz com que a pretensão pelo direito garantida
se torne concreta, indo, portanto, do direito ao fato.

Seu objeto, conforme dito, é gerar eficácia das decisões proferidas em sede de juízo
de conhecimento. Aqui o juiz não vai dizer o direito, mas sim satisfazer a parte detentora
do título, que já representa o direito.

1.2.3. Processo cautelar


É um instrumento para garantir futura eficácia dos provimentos de conhecimento e
execução. Isso porque o processo de conhecimento e o processo de execução são, muitas
vezes, morosos, em razão inclusive da necessidade de resguardo da ampla defesa e do
contraditório.

Assim, toda vez que houver risco de ser ineficaz a decisão proferida nas ações de
conhecimento e execução poderá a parte, portanto, desde que demonstre a existência dos
requisitos do periculum in mora (perigo na demora da decisão) e fumus boni iuris
(plausibilidade), requerer uma medida de natureza cautelar, a fim de evitar a frustração dos
efeitos concretos das ações em andamento.

2. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

2.1. Noções Gerais


O processo, instrumento estatal de composição de litígios, da mesma forma que a
ação deve preencher determinadas condições para que exista, possui requisitos para que
possa ser considerado existente. Mais que isso, além de sua existência, deve preencher
requisitos que permitam o seu desenvolvimento válido e regular, uma vez que é o
instrumento pelo qual o direito de ação é exercido. Esses requisitos de existência e de
validade são chamados de pressupostos processuais, e se subdividem conforme abaixo:

• Pressupostos processuais de existência: a doutrina elenca dentre os pressupostos


processuais de existência: a petição inicial; juiz regularmente investido na
jurisdição; citação; e, por fim, a capacidade postulatória.

• Pressupostos processuais de validade: a doutrina, em relação aos pressupostos


processuais de desenvolvimento válido do processo, não se restringe a apontá-
los, fazendo também competente divisão destes, em objetivos e subjetivos. Em
relação aos pressupostos de validade objetivos, estes se subdividem em positivos
e negativos. São pressupostos objetivos a competência absoluta; petição inicial
apta; ausência de coisa julgada; ausência de litispendência; ausência de
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

perempção. Em contrapartida, são pressupostos subjetivos: juiz imparcial;


intimação obrigatória do Ministério Público, quando deva atuar no feito;
ausência de colusão entre as partes etc.

Cumpre observar a questão prática que envolve a subdivisão dos pressupostos


processuais. Com efeito, estes se subdividem em pressupostos de existência e validade em
razão de haver, ante a ausência destes, conseqüências diversas, a depender justamente de
sua natureza jurídica, conforme adiante se verá. Assim, a título de exemplo, a ausência de
pressupostos de existência leva, por óbvio, à inexistência do processo, ocorrendo apenas
um simulacro deste, e tal vício é corrigido pela ação denominada querella nulitatis
insanable.

2.2. Pressupostos Processuais de Existência

2.2.1. Petição inicial


Em razão do princípio da inércia da jurisdição, que determina o início do processo,
em regra, somente por iniciativa das partes, faz-se necessária a petição inicial, documento
pelo qual o autor invoca a prestação jurisdicional.A partir da inicial o processo será regido
pelo princípio do impulso oficial. Note-se que a aptidão da inicial, diferente de sua simples
existência, configura pressuposto objetivo positivo de validade. Por fim, em determinados
casos, excepcionalmente previstos em lei, é dado ao juiz, de ofício, a possibilidade de
iniciar relações jurídicas processuais sem que haja ofensa à inércia da jurisdição, a
exemplo da abertura de inventário, declaração de falência (se não presentes os pressupostos
da concordata preventiva), a execução penal e a concessão de habeas corpus.

2.2.2. Juiz regularmente investido na Jurisdição


Com efeito, para que o processo exista, é necessário que seja proposto perante juiz
regularmente investido na jurisdição, pois de nada adiantaria submeter a lide a um juiz já
aposentado, por exemplo, ou a alguém que não ocupe o cargo de juiz, preenchidas as regras
de investidura.

2.2.3. Citação
A citação torna efetivo o processo existente, como relação angular entre as partes e
mediação do juiz, exercendo a jurisdição, conforme dito. Todavia, a citação deve ser
válida, ou seja, exige que estejam presentes os seus requisitos intrínsecos (conteúdo
mínimo), bem como seus requisitos extrínsecos (formalidades essenciais), para que
efetivamente forme o processo.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2.2.4. Capacidade processual e capacidade postulatória


Por capacidade processual entende-se a capacidade de exercício do direito de
invocar o Judiciário para a resolução da lide. É também conhecida como capacidade de
fato, capacidade de exercício, ou legitimatio ad processum. Como pressuposto da
capacidade de exercício, temos a capacidade de direito, também conhecida como
capacidade de aquisição, capacidade de vir a juízo, ou legitimatio ad causam, deferida
a todos aqueles que possuem personalidade civil, ao menos via de regra. Com efeito,
dizemos, via de regra, porque o Código, de forma a atender princípios tais como o da
segurança nas relações jurídicas, isonomia e inevitabilidade da jurisdição, por vezes,
confere legitimidade ad causam e processual, ativa e passiva, a entes
despersonalizados, tais como as universalidades de bens (massa falida e espólio) e as
sociedades de fato (artigo 12 do Código de Processo Civil).

Abaixo, segue organograma diferenciador das expressões utilizadas pela


doutrina majoritária:

Capacidade de direito Capacidade de fato

Capacidade de estar em juízo Capacidade processual

Capacidade de aquisição de direitos Capacidade de exercício

Legitimatio ad causam Legitimatio ad processum

Em relação à capacidade postulatória, também inserida pela doutrina majoritária


como pressuposto de existência do processo, em que pese às suas peculiaridades, esta
justifica-se em razão de a lei exigir, em regra, a interposição de peças processuais por
quem possua conhecimentos técnico-jurídicos, de modo a prestigiar a importante
função de advogado, declarada pelo texto constitucional como função essencial à
justiça, e de forma a possibilitar, em razão de utilização de conhecimentos técnicos,
otimização do instrumento estatal de composição de litígios. Fins de registro, salienta-
se que em determinados casos a lei autoriza o início de processos por atuação
exclusivamente das partes, a exemplo do que ocorre com os juizados especiais, nas
causas de até 20 salários mínimos.

2.2.5. Conseqüências da ausência de pressuposto de existência


Os pressupostos de existência, quando ausentes, por óbvio, causam a
inexistência do processo, havendo apenas um simulacro deste. Esse controle é feito
pelo juiz, incidentalmente, no decorrer do feito, e por ser matéria de ordem pública
todos são reconhecíveis de ofício. Todavia, em razão de ser o representante do Estado-
juiz um ser humano, podem ocorrer, e de fato ocorrem, erros no trâmite, e, por vezes,
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

um processo que sequer deveria existir chega a seu final, com sentença. Assim, às
partes é conferido um instrumento, uma ação para a correção de tal vício, denominada
querella nulitatis insanable. Essa ação possui natureza declaratória da inexistência do
feito, processa-se perante o juiz de primeiro grau pelo rito ordinário, admitindo, por
conseguinte, ampla dilação probatória, e não se submete a prazo prescricional. Essa
última afirmação talvez seja a mais importante a respeito do instituto. Com efeito,
entendimento jurisprudencial sumulado pelo Pretório Excelso determina que atos
constitucionais, inexistentes, não se convalidam no tempo.

2.3. Pressupostos Processuais de Validade


Conforme dito, os pressupostos de desenvolvimento válido e regular do
processo são exigidos, pois não basta que o processo exista, uma vez que é o
instrumento pelo qual o direito de ação se desenvolve. Logo, faz-se necessário que
durante toda a marcha, disposições legais e assecuratórias de prerrogativas que o
Estado de Direito confere ao cidadão sejam observadas. Os pressupostos de validade se
subdividem em objetivos e subjetivos. Por sua vez, os pressupostos de validade
objetivos são classificados em positivos e negativos.

2.3.1. Pressupostos processuais de validade objetivos

a) Positivos (intrínsecos)

São aqueles pressupostos que devem necessariamente ser observados, no bojo do


feito, sob pena de nulidade do processo. São eles:

• Petição inicial apta: conforme dito, a petição inicial é simultaneamente requisito


de existência (bastando que exista), e também pressuposto de validade, pois deve,
em uma segunda análise, assim subdividida somente para fins didáticos, ser apta
a instaurar o feito e prosseguir a marcha, com determinação da citação do réu.

• Competência absoluta: com efeito, só se considera válido um processo quando


corra perante juiz absolutamente competente para o julgamento da lide atribuída
àquele feito, em razão da necessidade de observância do princípio da eficiência,
que atinge todo o Estado. Assim, ao contrário da incompetência relativa, que se
considera sanada quando não argüida, a incompetência absoluta do juízo
contamina o feito de nulidade inafastável, a exemplo de um juiz da vara da
fazenda pública que julga determinada ação de investigação de paternidade, de
competência das varas de família, em regra.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

b) Negativos (extrínsecos)

Diz-se pressuposto negativo, pois é a sua inexistência que determinará a validade do


processo. Diz-se extrínseco, pois é observado fora da relação jurídica processual que se
objetiva validade, ou seja, fora destes autos. Por esses motivos, a doutrina os denomina
pressupostos processuais de validade objetivos negativos. São eles:

• Ausência de coisa julgada: para que o processo se desenvolva validamente, a lide


proposta não deve ter sido definitivamente julgada em seu mérito anteriormente,
por isso é que se exige como pressuposto negativo a ausência de coisa julgada.
Define-se coisa julgada a qualidade dos efeitos de uma sentença tornarem-se
imutáveis, sem possibilidade de mais recurso.

• Ausência de litispendência: verifica-se a litispendência quando duas demandas


idênticas tramitam simultaneamente, mas sem julgamento definitivo, devendo a
demanda proposta em último lugar ser extinta. Assim, para que se considere
válido o processo, deve haver ausência de litispendência, ou seja, ou inexiste, ou,
caso tenha existido, esteja definitivamente liquidada.

• Ausência de perempção: por perempção entende-se a perda do direito de ação


conferido ao autor contumaz, assim considerado aquele que reiteradamente
incorre em erro. Quando o autor deixar que, por erro seu, o processo seja extinto
por três vezes sem julgamento do mérito, a quarta tentativa de ver sua lide
julgada não será admitida pelo Estado-juiz, todavia, tais prerrogativas poderão
continuar sendo alegadas em defesa. Para que seja o processo considerado
válido, portanto, não deve ter ocorrido o instituto da perempção.

2.3.2. Pressupostos processuais de validade subjetivos


• Juiz imparcial: para que o processo seja válido deve haver imparcialidade do juiz,
pois é da natureza da Jurisdição Estatal a sua higidez, de forma a atender ao
princípio da igualdade. Existem dois graus, ou formas de imparcialidade:
suspeição e impedimento. Quando verificado um destes vícios pelas partes, caso
não sejam reconhecidos de ofício pelo magistrado do feito, há a possibilidade de
controle incidental deles, por meio de exceções. Após o fim do processo, o
controle será o mesmo de todos os pressupostos processuais de validade,
conforme adiante se verá.

• Intimação obrigatória do Ministério Público, quando deva atuar no feito: O


Ministério Público deve atuar em determinados casos, conforme expressa
disposição legal, em razão do interesse em litígio ou em razão da qualidade
especial de determinadas partes, a exemplo dos incapazes. Quando não intervir
como parte nestes feitos, deverá atuar como custos legis, expressão latina que
define “fiscal da Lei”, devendo para tanto, ser intimado de todos os atos do
processo. Desse modo, prevê o texto do diploma processual que, quando a lei
determinar a participação obrigatória do Ministério Público, a ausência de usa
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

intimação contamina o feito de nulidade insanável (artigo 84 do Código de


Processo Civil).

• Ausência de colusão entre as partes: em razão de princípios informadores do


processo, como a probidade e a boa-fé, para que um processo se revista de
validade, é estritamente necessário que ajam as partes com boa-fé, sem o conluio
fraudulento para fraudar a lei ou terceiros, pena de rescisão do julgado.

2.4. Conseqüências da Ausência de Pressupostos de Validade


Os pressupostos processuais de validade, se não verificados, levam o feito à
nulidade absoluta. O controle pode ser realizado pelo juiz mesmo de ofício, uma vez que
este é o senhor do feito. Caso não seja verificada a irregularidade dos pressupostos antes do
trânsito em julgado da sentença, sendo argüida somente após seu trânsito em julgado, a
solução de tal incongruência será diversa daquela apontada aos pressupostos de existência.

O meio de declaração de nulidade do feito por ausência dos pressupostos


processuais de validade que o código prevê é a ação rescisória. Por meio desta as partes ou
o Ministério Público podem requerer ao tribunal que declare nulo o feito em que foi
verificado o pretenso vício. Seu prazo de interposição é de dois anos contados do trânsito
em julgado da sentença do processo irregular. Após o decurso deste lapso, in albis, a
decisão não poderá mais ser modificada, ao menos de acordo com a maioria da doutrina e
da jurisprudência. Nesse caso, ocorrerá o que a doutrina denomina coisa julgada soberana,
uma vez que não será passível de desconstituição por qualquer meio processual.

3. ATOS PROCESSUAIS
Sob a ótica estrutural que a doutrina atual emprega ao processo, este, como o
próprio nome diz, é uma estrutura dinâmica, considerado um conjunto seqüencial de atos,
que visam à solução da lide por meio da tutela jurisdicional. Os atos, portanto, são
ordenados, havendo uma seqüência lógica e cronológica.

Isso faz com que o processo seja conceito mais complexo que procedimento, uma
vez que resulta da combinação do procedimento com a relação jurídica processual. Com
efeito, a própria relação processual, por ser progressiva, goza de complexidade, já que os
eventos nela ocorridos geram modificação, constituição e, por fim, sua extinção.

Portanto, os fatos processuais são quaisquer acontecimentos que repercutam no


processo. Alguns fatos jurídicos processuais têm por origem a vontade, tornando-se atos
processuais. Toda manifestação de vontade de quaisquer sujeitos do processo, que
repercuta na relação jurídico-processual, é um ato processual. Todos os demais são meros
fatos processuais.

Dessa forma, a doutrina conceitua ato processual como “todo aquele praticado pelos
sujeitos processuais visando à criação, modificação ou extinção da relação jurídica
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

processual”. Dentre os atos processuais temos, como já dissemos, manifestação de


quaisquer sujeitos processuais e não apenas das partes. Temos como exemplo a sentença
proferida pelo juiz que, por ser um ato de vontade, é um ato processual de extinção.

3.1. Classificação dos Atos Processuais


Podemos dividir os atos processuais de acordo com os sujeitos que os praticam,
conforme abaixo se ilustra:

• Atos das partes, bem como de terceiros intervenientes (artigos 158 a 161);

Do juiz (artigos 162 a 165)

• Atos dos agentes da

jurisdição

Do escrivão (auxiliares do juiz) (artigo166

a 171)

Além da classificação dos atos processuais em relação aos sujeitos que os


praticam, outra classificação sugerida é aquela que leva em conta a finalidade do ato:
atos de criação (petição inicial, citação); atos de modificação da relação jurídica
processual (decisões interlocutórias e demais atos no decorrer do feito); atos de
extinção (sentenças, acórdãos).

3.2. Princípios Informadores dos Atos Processuais


Como ciência autônoma que é, o processo civil possui também seus próprios
princípios informadores, alguns setoriais, por se aplicarem a apenas a determinadas searas
de determinado ramo do direito.

3.2.1. Princípio da instrumentalidade das formas


Forma é o conjunto de solenidades necessárias e indispensáveis para a validade e
eficácia dos atos processuais; é tudo aquilo que deve estar contido no ato para que este
surta os efeitos desejados. Portanto, o ato processual, bem como o processo, não têm uma
finalidade em si mesmos, pois visam à produção de efeitos pré-determinados. É um
absurdo pensarmos em culto ilógico, parnasiano, à forma do ato.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Assim, o princípio da instrumentalidade das formas estabelece uma situação


intermediária entre o rigor do formalismo e a finalidade perseguida pelo ato, para que a
efetiva tutela jurisdicional seja outorgada. Assim, de acordo com previsões legais, o
sistema busca muito mais o conteúdo do que a forma em si mesma considerada. Caso o
objetivo do ato seja alcançado, sem prejuízo para as partes ou ao processo, a forma, passa a
ser mitigada.

Cumpre registrar que o sistema jurídico não transige com determinados


formalismos, uma vez que são exigíveis em razão de previsão de regras de ordem pública,
destinadas à proteção de toda a coletividade, e cuja inobservância acarreta a nulidade do
ato, por haver presunção de prejuízo. Podemos destacar, como exemplo destes formalismos
legalmente exigidos, a previsão de necessidade de escritura pública para a existência e
prova de determinados atos jurídicos. Na atuação do juiz, e das partes, a lei também exige
determinados formalismos, tais como o uso do vernáculo (artigo 156 do Código de
Processo Civil).

3.2.2. Princípio da publicidade


A publicidade dos atos processuais garante a sua transparência, lisura e a
moralidade, até porque o sistema constitucional não admite julgamentos sigilosos, exigindo
a motivação de todas as decisões, como forma de garantia efetiva do princípio do
contraditório, traduzido pela melhor doutrina como “a necessidade de informação e
possibilidade de reação, contradição, ao alegado em face do réu”. Encontra-se exceção nos
julgamentos do Tribunal do Júri, cuja motivação é constitucionalmente vedada, em razão
dos princípio da íntima convicção e sigilo das votações.O princípio da publicidade goza de
equilíbrio, de forma que os atos processuais também não devem ser divulgados sem
qualquer cuidado. Isso faz com que alguns atos gozem da máxima publicidade, como as
hastas públicas, em que se expedem editais, e outros gozam de pouquíssima publicidade,
como os atos que correm em “segredo de justiça”. São hipóteses em que a intimidade das
partes deve ser resguardada, por se tratar de questões personalíssimas que pouco importam
a terceiros. O rol do artigo 155 do Código de Processo Civil é taxativo, todavia, uma de
suas hipóteses admite interpretação extensiva, pois determina o segredo de justiça a todas
as causas “em que o exigir o interesse público”.

3.3. Atos Processuais do Juiz


Tais atos têm especial relevância, pois o juiz é o condutor do processo, sendo aquele
que, investido como órgão da jurisdição, outorga a tutela jurisdicional. O juiz preside a
coleta de provas, determina a marcha e a ordenação procedimental.

De acordo com o artigo 162 do Código de Processo Civil, temos os seguintes atos
previstos para a atuação do juiz:

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• Sentença (Acórdão): é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou
não o mérito da causa. Contrariando o conceito legal acima apontado, a doutrina
define sentença como o ato do juiz que põe fim ao procedimento de primeiro
grau, pois, acertadamente, muitas vezes o feito prossegue em sede recursal, e será
concluído apenas com um acórdão, assim entendido o provimento de órgão
colegiado. É na sentença que ocorre a efetivação da tutela jurisdicional. As
sentenças são: processuais ou terminativas, isto é, aquelas que não enfrentam o
mérito (artigo 267 do Código de Processo Civil); definitivas, ou de mérito, isto é,
aquelas que julgam o mérito (artigo 269 do Código de Processo Civil).

• Decisão interlocutória: ato pelo qual o juiz resolve questões incidentes. Questões
incidentes são dúvidas que surgem no desenvolvimento do processo e que são
dirimidas pelo juiz, mas que têm como causa hipóteses não previstas nos artigos
267 e 269 do Código de Processo Civil. Por possuir conteúdo decisório, é cabível
o recurso de agravo de instrumento ou agravo retido de decisão interlocutória. As
questões incidentes que dão azo à manifestação jurisdicional por meio de
decisões interlocutórias podem ocorrer em qualquer fase do procedimento, quer
na fase instrutória ou mesmo na fase recursal.

• Despachos: despachos são todos os demais atos praticados pelo juiz. Tais atos
não envolvem o direito que se discute nos autos, nem o interesse colocado em
litígio pelas partes. Visam somente ao regular andamento do processo. A
diferença entre despacho e decisão interlocutória está na carga decisória ausente
nos despachos. Caso esta exista, tratar-se-á de uma decisão interlocutória.

• Atos ordinatórios: são todos os atos praticados pelos servidores, passíveis de


revisão judicial, e que são transferidos ao auxiliares da justiça por delegação,
visto que a responsabilidade é sempre do juiz. Como exemplo, cite-se a entrega
de autos às partes ou a peritos, a citação pelo oficial de justiça etc. Esses atos
praticados pelos serventuários da justiça são chamados também de atos de
documentação. São as hipóteses de abertura de conclusão ou vista às partes, ou
certidão de incidentes.

O rol de atos conferidos ao juiz, em que pese à sua previsão legal, não é exaustivo,
pois o juiz ainda realiza audiências, inspeções judiciais, presta informações em agravos de
instrumentos ou mandados de segurança e, ressalte-se, o juiz ainda pratica atos materiais,
que são aqueles que não têm qualquer caráter de resolução ou determinação.

3.4. Atos do Escrivão


Pode-se entender da exegese feita aos dispositivos legais pertinentes aos atos do
escrivão ou chefe de secretaria, que o Código de Processo Civil toma a expressão
“escrivão” para designar, além deste, todos os serventuários que estão sob sua fiscalização

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

(a exemplo dos escreventes). São atos burocráticos dispostos nos artigos 166 e seguintes do
código, e que o escrivão deve seguir para o bom desenvolvimento procedimental.

Além desses atos temos:

• Atos de documentação: como falamos acima, os serventuários e o escrivão


praticam uma série de atos materiais necessários ao bom desenvolvimento do
processo. Exemplos: digitação de declarações verbais das partes em alegações
finais, autuação e formação de incidentes em apenso etc.

• Atos de comunicação: são todas as ordens do juiz que precisam ser comunicadas
às partes, seus representantes ou outros serventuários da justiça. Temos como
exemplo a expedição de um mandado citatório, de uma carta precatória, o
encaminhamento de publicações à imprensa oficial etc.

• Atos de logística: são atos que assessoram o juiz, como o depósito de valores e
materiais, além de outras certidões em que o escrivão apõe sua assinatura
devidamente dotada de fé pública.

3.5. Atos das Partes


Conforme dispõe o artigo 158 do diploma processual, a expressão “partes” não
engloba apenas o autor e o réu, abarcando, ainda, todos os terceiros intervenientes, nos
termos dos artigos 56 a 80 do código, além do Ministério Público, com exceção da hipótese
em que o parquet atua como fiscal da lei. A doutrina subdivide os atos das partes das
seguinte forma:

• Postulatórios: são aqueles atos em que a parte pleiteia um provimento


jurisdicional, trazendo suas teses ao Judiciário. Como exemplo citamos as
petições iniciais e os recursos.

• Dispositivos: são aqueles em que a parte abdica, em prejuízo próprio, de


prerrogativa jurídica ou mesmo da própria tutela jurisdicional ou do direito em
litígio, a exemplo da desistência da ação e de recursos, da transação, do
reconhecimento jurídico do pedido e da renúncia ao direito em que se funda a
ação.

• Instrutórios e probatórios: são atos que dão suporte à alegação da parte e que
buscam o convencimento do juiz, a exemplo da juntada de documentos, da
indicação de assistentes técnicos e oferecimento de quesitos.

• Reais: são as condutas materiais das partes no processo. Como exemplo, cita-se o
depoimento prestado pela parte.

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3.6. O Tempo e o Lugar dos Atos Processuais


A lei processual define que os atos processuais serão praticados nos dias úteis,
das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. Entende-se por dias úteis todos aqueles que não sejam
domingos e feriados. Com efeito, sábado, costumeiramente, é definido como feriado
forense pelas leis de organização judiciária dos Estados integrantes da Federação.

Atendendo ao princípio da instrumentalidade das formas, ao juiz é permitido


autorizar a continuidade de atos iniciados nos horários legalmente previstos, de forma
a que sejam concluídos mesmo após o término do prazo, se o interesse público o exigir,
a exemplo de prejuízo à diligência ou prevenção de grave dano. Também as penhoras e
citações poderão ser realizadas nos dias úteis fora do horário normal, e mesmo em
feriados e domingos, se houver autorização judicial, e desde que se respeitem as regras
atinentes à inviolabilidade de domicílio (artigo172, § 2.º do Código de Processo Civil).

Durante as férias forenses não são praticados atos processuais, à exceção daqueles
em que se possa vislumbrar a ocorrência de dano pela sua não efetivação, previstos, ab
initio, de modo exemplificativo no artigo 173 do Código de Processo Civil.

Em relação ao lugar em que são praticados os atos processuais, verifica-se que


devem ser praticados, por via de regra, na sede do juízo, no espaço reservado ao
Fórum. Todavia, atendendo a critérios de deferência (a exemplo da oitiva de
autoridade), ou de ordem pública, como o interesse da justiça, podem ser praticados,
por determinação do juiz, em local diverso da sede do juízo.

4. PRAZOS PROCESSUAIS

Conforme dito, o processo, por ser dinâmico, lógico e contínuo, tramita pela prática
de atos processuais que estão ligados entre si e são sucessivos, com o objetivo de chegar ao
seu final com a prolação da sentença de mérito. É cediço na doutrina, na lei e na
jurisprudência que o processo só tem início com provocação pelas partes, todavia se
desenvolve por meio do impulso oficial, que tem o condão de transferir aos sujeitos do
contraditório ônus processuais, assim definidas as incumbências de prática de
determinados atos que, se não realizados, importam prejuízo em desfavor exclusivamente
da parte omissa.

Por certo, em razão de não ser o processo um fim em si mesmo, e estar fadado à
extinção, a prática dos atos processuais está presa a limites temporais, para que o processo
não perdure indefinidamente.

Dessa maneira, todos os atos processuais têm prazo limite, dentro do qual devem
obrigatoriamente ocorrer, sob pena de sujeição às conseqüências processuais advindas de
sua ausência. Por isso, os prazos estão sujeitos à contagem a partir de um termo inicial
(dies a quo) até o seu termo derradeiro (dies ad quem).
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4.1. Prazos Legais e Judiciais


Dispõe a lei que os prazos, via de regra, nela devem estar fixados. Caso não estejam
previstos no ordenamento, devem ser fixados a critério judicial. Por fim, em havendo
omissão pelo juiz, o Código prevê um prazo legal subsidiário, de 5 dias, para a prática dos
atos processuais (artigo 185 do Código de Processo Civil).Assim, quanto ao modo de
previsão,os prazos classificam-se em:

• prazos legais: são os definidos em lei, não tendo disponibilidade sobre estes, em
princípio, nem o juiz nem as partes;

• prazos judiciais: são os fixados a critério do juiz, que deve utilizar como critério
definidor a complexidade da causa.

4.2. Prazos Dilatórios e Prazos Peremptórios


A depender da disponibilidade ou não, pelas partes, quanto ao prazo, estes se
classificam em dilatórios e peremptórios, senão vejamos:

• Prazos dilatórios: são aqueles que podem ser alterados (reduzidos ou ampliados)
pela vontade das partes ou pelo juiz. Nesse passo, ressalte-se que ao juiz só é
facultada a ampliação dos prazos dilatórios. Temos como exemplo a hipótese em
que a lei autoriza o incremento do prazo para apresentação das alegações finais
verbais.

• Prazos peremptórios: são aqueles inalteráveis pela vontade das partes ou por
determinação judicial, e que, descumpridos, geram situação de desvalia para a
parte omissa. Como exemplo podemos citar o prazo para apresentar resposta
(contestação, reconvenção e exceções) ou recurso.

A lei não distingue a natureza dos prazos, se dilatórios ou peremptórios; para tanto,
deve-se observar as conseqüências jurídicas advindas de seu decurso in albis.Acarretando
situação de desvalia para o omisso, será peremptório; do contrário, dilatório.

4.3. Prazos Próprios e Impróprios


• Prazos próprios: são os que dizem respeito às praticas de atos processuais pelas
partes. A sua desobediência acarreta o que a doutrina denomina, a exemplo de
Carlos Eduardo Ferraz de Matos Barroso, “situação de desvalia processual”, uma
vez que não houve o desencargo de ônus pela parte. Exemplo: sem contestação,
podem ocorrer os efeitos da revelia.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• Prazos impróprios: são os prazos do juiz, do escrivão e dos seus serventuários. O


descumprimento não gera qualquer desvalia em matéria processual, nem mesmo
a preclusão, todavia, sujeita os desidiosos, salvo justo motivo, às sanções
administrativas aplicáveis à espécie.

4.4. Contagem dos Prazos


Normalmente os prazos são contados em dias, porém podem ser contados em meses,
anos ou até em horas. Portanto, não há uma única unidade de tempo prevista para
contagem dos prazos. Nos debates orais, a título de exemplo, são contados em minutos
(artigo 454 do Código de Processo Civil), para fins de prescrição, contam-se em meses e
anos.

O artigo 184 do Código apresenta regra geral de contagem dos prazos, segundo a
qual exclui-se o dia do início (dies a quo) e inclui-se o dia do vencimento do prazo (dies
ad quem). Com efeito, consoante as disposições do artigo 184, § 2.º, a contagem só começa
correr no primeiro dia útil após a intimação.

O ato processual que determina o início da contagem do prazo é a intimação, exceto


para fins de formação da relação jurídica, em que o prazo começa a partir da juntada aos
autos do mandado de citação devidamente cumprido, para que se exerça o direito de
defesa. Muitas das intimações ocorrem na pessoa do advogado, que possui poderes da
cláusula ad judicia, dentre os quais, ser intimado. Há casos, porém, em que a intimação
ocorre pessoalmente à parte.

4.5. A Suspensão e Interrupção dos Prazos Processuais


Via de regra, os prazos não se interrompem, apenas são suspensos quando
houver disposição legal a respeito.

Entende-se por suspensão do prazo a quebra de continuidade em relação à sua


contagem, por determinado período de tempo ou enquanto pendente a causa que objetivou
a suspensão. Assim, cessado o fato que originou sua suspensão, o prazo voltará a correr,
todavia, somente pelo período faltante. Exemplo: prazo de 10 dias suspenso no sexto dia
em virtude de acordo entre as partes. Ao final do prazo de suspensão, voltará a correr do
sexto dia, faltando apenas 4 dias para que o prazo se expire.

De modo diverso, entende-se por interrupção do prazo a quebra de continuidade de


sua contagem que, via de regra, não fica suspensa por determinado lapso, voltando a correr
imediatamente. Todavia, devolve-se o prazo por inteiro, ou seja, volta a correr todo o prazo
legal ou judicialmente previsto desde seu início. É a regra dos embargos de declaração que,
tempestivamente interpostos, interrompem o prazo para a apresentação dos demais
recursos. Tal regra é também comumente utilizada na contagem de prazos prescricionais.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4.6. Preclusão
Preclusão é o fenômeno endoprocessual que determina a perda, pela parte, da
faculdade processual de praticar determinado ato. Com efeito, nosso sistema processual,
com o objetivo de trazer segurança às relações jurídicas que se sucedem nos feitos, é todo
baseado em preclusões. Assim, a possibilidade de prática de atos processuais se submetem
a etapas ordenadas, seqüenciais, que exigem efetivo respeito aos prazos preestabelecidos.
Em síntese, não realizado o ato, ou realizado de modo diverso, tais prerrogativas perdem-se
e não poderão ser repostas.

Temos, portanto, perda de um direito subjetivo processual, pelo seu não uso, ou uso
optativo dentre as possíveis formas de realização, no prazo e no tempo devidos. Isso ocorre
pela inação da parte litigante, que deixou de praticar certo ato dentro do prazo legal e
judicial, impedindo que o processo prossiga.

4.6.1. Espécies de preclusão


Temos 3 espécies de preclusão:

• Preclusão temporal: é a preclusão impeditiva decorrente da perda de uma


faculdade processual em virtude do seu não exercício no prazo fixado por lei.
Como exemplo, cita-se a não-interposição de recurso. Aqui temos o transcurso in
albis de determinado prazo legal, que gera situação de desvalia para a parte.

• Preclusão lógica: é a incompatibilidade de um ato processual anteriormente


praticado, com outro que se pretende realizar. Aqui não temos o problema do
fator tempo, mas sim uma questão de lógica no ordenamento dos atos processuais
e na vontade da parte em litígio. Como exemplo, citamos a entrega das chaves de
determinado imóvel ao locador, pelo locatário, anteriormente ao oferecimento de
recurso da sentença que julgou procedente ação de despejo por denúncia vazia
promovida pelo locador. Com efeito, teria o locatário interesse em recorrer, se
cumpriu espontaneamente a decisão? Carlos Eduardo Ferraz de Matos Barroso,
de quem se colhe o exemplo supra, acompanhado por boa doutrina, entende, com
acerto, que não se vislumbra interesse em recorrer de tal decisão.

• Preclusão consumativa: é aquela em que a faculdade processual já foi exercida


validamente, com a escolha de uma das hipóteses legalmente oferecidas para a
prática do ato, tendo caráter de fato extintivo. Pelo fato do ato já ter sido
praticado, não poderá ser praticado novamente, de modo diverso. Assim, como
exemplo, a parte que já apelou não poderá oferecer embargos de declaração se
não o fez antes de oferecida a apelação.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

As preclusões temporal, lógica ou consumativa, instituem ônus processuais para as


partes. Para o juiz também é possível a ocorrência de preclusão, quando já praticou ato que
não pode mais rever, a exemplo da preclusão decorrente do fato de ter proferido sentença,
esgotando sua atividade jurisdicional in concreto. É denominada preclusão pro judicato.
Ressalte-se que, para o juiz não existe preclusão temporal, já que não gera, para este,
situações de desvalia no processo o decurso de prazos, pois seus prazos são impróprios.

5. O MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO CIVIL

5.1 Introdução
O artigo 127 da Constituição Federal apresenta o Ministério Público como função
essencial ao exercício da atividade jurisdicional, confere-lhe autonomia e define os seus
objetivos, funções institucionais, ressaltando que lhe incumbe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses individuais e indisponíveis.

Com efeito, o § 1.º do artigo 127 da Constituição estabelece os seguintes princípios


atinentes ao Ministério Público:

• princípio da unidade;

• princípio da indivisibilidade;

• princípio da independência funcional.

Em síntese, como órgão dotado de autonomia, considerado função essencial à


Justiça, ligado ao Poder Executivo somente em razão do repasse de verbas orçamentárias, o
Ministério Público não está subordinado ao Poder Judiciário, sem dependência ou controle
de qualquer sorte com aquele.

O Ministério Público possui uma gama muito grande de competências na esfera


civil, previstas não só na Constituição Federal (ações diretas de inconstitucionalidade
interventivas, defesa de interesses indígenas etc), mas também no Código Civil (extinção
de fundações ilícitas, ações rescisórias decorrentes de colusão etc), no Código de Processo
Civil (defesa de interesses de incapazes, pedido de interdição etc) e mesmo em leis
especiais, tais como a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92), Lei de Ação
Civil Pública (Lei n. 7.347/85), dentre outras. Com efeito, conforme se interpreta do texto
do artigo 127 da Constituição, ao Ministério Público cabe resguardar os valores
fundamentais do Estado, quer seja na persecução penal, visando à repressão delitiva, quer
na esfera civil, na defesa de valores fundamentais, interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos, tais como o meio ambiente, valores históricos e paisagísticos, ou
ainda na defesa de consumidores (interesse igualmente transindividual), trabalhadores
acidentados, registros públicos, fundações, propositura de reparações e execuções de danos
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

decorrentes de ilícitos aos necessitados (actio civilis ex delicto), ou o próprio direito de


família.

Como dissemos acima, o Ministério Público é uma instituição autônoma e não


integra o Poder Judiciário, embora desenvolva suas funções essenciais basicamente no
processo e perante órgãos da jurisdição.

5.2. Princípios Constitucionais Atinentes ao Ministério Público

5.2.1. Princípios da unidade e indivisibilidade


De acordo com o princípio da unidade, todos os membros do Ministério Público
fazem parte de uma só corporação e são dirigidos por um único superior (Procuradores
Gerais de Justiça, nos Estados; e Procurador Geral da República, no caso do Ministério
Público da União). Assim, o parquet deve ser visto como órgão, e não sob o enfoque dos
seus agentes. Destarte, como corolário do princípio da unidade apresenta-se o princípio da
Indivisibilidade do Ministério Público, cabendo substituição entre os promotores, de
acordo com a forma e limitações definidas em lei, pois, com efeito, pouco importa qual o
membro que venha a oficiar em um determinado feito, observadas as regras atinentes ao
controvertido princípio do “promotor natural”.

5.2.2. Princípio da independência funcional


Nos termos do referido princípio, os promotores regularmente investidos nas
funções do Ministério Público devem atender somente à lei e à sua consciência, na direção
dos seus atos funcionais, sem qualquer ingerência do Poder Executivo, nem ingerência dos
seus próprios órgãos superiores. Pode-se, assim, vislumbrar a mitigação do poder
hierárquico relativamente ao Ministério Público, em razão da independência de atuação
conferida aos seus membros, observadas as demais regras de hierarquia que não
determinem a atuação ministerial.

5.3. O Ministério Público como Parte


O artigo 81 do diploma processual apresenta as hipóteses em que o Ministério
Público atua como parte no processo, estabelecendo que este assim agirá nas hipóteses em
que houver expressa determinação legal, e que estão distribuídas por todo o Código, a
exemplo da possibilidade de intentar ação rescisória, cobrar execução de encargo
decorrente de doação, quando já falecido o doador, promover a destituição de fundações
com fins ilícitos, requerer a interdição de pessoas etc.

Dessa forma, as possibilidades de atuação do Ministério Público como parte é


pautada de acordo com o princípio da legalidade e, de acordo com a doutrina majoritária,

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

quando assim atuar estará agindo como substituto processual, por haver legitimação
extraordinária (defesa, em nome próprio de direito alheio).

Atuando como parte, o Ministério Público, nos termos do artigo 188 do diploma
processual, possui prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, em razão
da gama de funções a este órgão atribuídas. Dessa forma, tal regra se mostra condizente
com o princípio da eficiência dos serviços públicos.

5.4. O Ministério Público como Fiscal da Lei


O Ministério Público, mesmo quando não atua como parte, em determinadas causas
é legalmente obrigado a atuar, quando menos, como fiscal da regular aplicação da lei, o
que em latim se denomina custos legis. As hipóteses em que o Ministério Público se obriga
a atuar como fiscal da lei estão previstas no artigo 82 do Código de Processo Civil, senão
vejamos:

• nas causas em que há interesses de incapazes;

• em todas as causas que digam respeito ao estado da pessoa;

• nas causas em que existem litígios coletivos, pela posse de terra rural, e em todas
as causas de interesse público.

Ao intervir como fiscal o Ministério Público recebe vantagens como a intimação


pessoal de todos os atos, o direito de vista dos autos após as partes, a possibilidade de
requerimento de diligências, apresentação de documentos e demais provas, além de ser
causa de nulidade de todo o feito a ausência de intimação do parquet quando obrigatória a
sua intervenção. Ressalte-se que, se regularmente intimado, a ausência de manifestação do
Ministério Público não causará a nulidade do processo.

Há na doutrina quem defenda a possibilidade de utilização, pelo Ministério Público,


da prerrogativa constante do artigo 188 do Código de Processo Civil (prazos diferenciados
de contestação e recursos), mesmo quando atuar como fiscal da lei, todavia, tal
entendimento é deveras controverso, e exige interpretação teleológica.

Por fim, quer como parte, quer como fiscal da lei, a responsabilidade pessoal dos
membros do parquet, no âmbito civil, será restrita às hipóteses em que se verificar que este
procedeu com dolo ou fraude, como forma de garantir, de modo fático, maior
independência e tranqüilidade no exercício de suas relevantes funções.

6. DAS PARTES E SEUS PROCURADORES

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De acordo com a doutrina, entende-se pelo vocábulo “parte” todo aquele que
participa da lide, exercendo direitos e submetendo-se a ônus e deveres. Com efeito, juiz é
sujeito processual, todavia não é parte. A depender do estágio e da natureza do processo, as
partes recebem diferentes designações, a exemplo das seguintes: exeqüente/executado,
autor/réu, credor/devedor, caucionante/caucionado etc. Para que um processo se
desenvolva regularmente, dentre seus pressupostos de existência encontra-se a exigência de
capacidade processual, bem como de seus consectários lógicos. Em relação às pessoas
físicas, com efeito, o Código dispõe que os incapazes devem ser, em juízo, representados
ou assistidos, a depender de ser a incapacidade absoluta ou relativa.

Se o incapaz é menor órfão, para tais fins considerado aquele cujos pais já
faleceram, ou foram destituídos do pátrio poder, será representado por um tutor, bem como
quando os interesses dos pais colidirem com os interesses do menor. Tal representação, por
meio de tutor, será obrigatória até que o menor atinja a maioridade, ou seja, quando estiver
judicialmente emancipado.

No caso de loucos e surdos-mudos, estes, a depender do grau de sua incapacidade,


nos termos do Decreto n. 24.559/64, serão representados ou assistidos por um curador, bem
como os pródigos que, em relação, exclusivamente, aos atos de disposição de patrimônio,
porque possuidor de incapacidade relativa sui generis, serão assistidos também por um
curador.

Além da representação, como pressuposto de existência do processo, as partes


devem estar em juízo por meio da atuação de advogados, técnicos especializados, que
atuam de forma a melhor atender ao interesse das partes que patrocinam, e a princípios
como o da eficiência. A procuração pode ser outorgada mediante instrumento particular,
exigindo-se o público quando outorgar poderes não embutidos na cláusula ad judicia. De
outra parte, o Código Civil dispõe que a procuração outorgada por menor relativamente
incapaz, assistido por seu representante legal, deve ser feita mediante instrumento público.

Assim, surge aparente incongruência entre as disposições do Código de Processo


Civil e o Diploma Civil, todavia, tais conflitos são de fato aparentes, uma vez que o Código
de Processo Civil cuida das procurações ad judicia e o Código Civil trata dos contratos de
mandato, mais amplos, estudados de maneira geral. Em síntese: o menor relativamente
incapaz, assistido por seu representante legal, que outorgar procuração, sendo ad judicia,
poderá fazê-lo por instrumento particular. Para maiores esclarecimentos, orienta-se a
consulta ao item 2.2.4, mencionado neste módulo.

6.1. A Figura do Curador


Entende-se por curador a pessoa responsável pela proteção dos interesses de
incapazes, em regra, incapacidade esta decorrente de enfermidade mental. Não obstante ao
conceito doutrinário acima exposto, dispõe a lei processual, ampliando o conceito de
curador, que será nomeado um “curador especial” para atuar em feitos determinados
quando:

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• o incapaz não possui representante legal;

• o incapaz possui representante, todavia, os interesses do representante colidem


com os interesses do menor (exemplo: o pai intenciona vender determinado bem
para um dos seus filhos, mas possui um filho menor; em razão da necessidade de
anuência de todos os descendentes, e pelo fato de não poder representá-lo, tendo
em vista ter interesse conflitante, deve-se nomear curador especial);

• sempre que o réu estiver preso (em regime fechado ou semi-aberto), para que ele
possa exercer plenamente seu direito de defesa. Entretanto, só será nomeado
curador especial se o réu for citado e não possuir defensor;

• se o réu revel for citado por edital ou com hora certa e não comparecer em juízo,
visto que tem direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa.

Essas hipóteses estão previstas no Código de Processo Civil e, nesse passo, cumpre
salientar que a Lei n. 8.842/94 (Estatuto do Idoso) previu mais uma hipótese, ou seja, a do
idoso que tenha 60 anos completos, e que, em razão da idade, não possuir condições de
discernir e acompanhar o processo. Estando o idoso já bem representado, não haverá
necessidade de nomeação de curador especial.

O curador especial deverá apresentar contestação, trazendo elementos ou


apresentando esta por negativa geral. Além dos curadores especiais, somente os defensores
dativos, os procuradores dos entes federativos e autárquicos e o Ministério Público
possuem a prerrogativa de contestar por negativa geral. Poderá o curador especial argüir
suspeição, impedimento e incompetência. Por não poder ajuizar ações, uma vez que foi
nomeado para defesa, no feito, dos interesses do curatelado, conclui-se que não poderá
reconvir nem ajuizar ações declaratórias incidentais. Encontra-se exceção somente no
processo de execução, tendo em vista que o meio processual de defesa são os embargos de
devedor, que é uma verdadeira ação, e poderá ser proposta pelo curador especial.

Embora não haja determinação legal de que o curador deverá ser advogado, o juiz,
normalmente, nomeará um advogado, visto que, se for curador leigo, deverá contratar um
advogado para auxiliá-lo. A pessoa nomeada como curador poderá declinar de sua
nomeação, não havendo obrigatoriedade de aceitar o encargo.

6.2. Pessoas Casadas


As pessoas casadas, em regra, possuem plena capacidade, porém sofrem limitações
em juízo no caso de ações reais imobiliárias, ou mais amplamente, em qualquer ação que
tenha por objeto um bem imóvel, visto que as pessoas casadas, para proporem qualquer
uma dessas ações, devem obter a outorga uxória ou marital (autorização do outro cônjuge).
Essa limitação trata-se de regra destinada à proteção do denominado “patrimônio familiar”
e deve ser obedecida em todos os regimes de bens do casamento, exceto quando adotado
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

pelos cônjuges o regime da separação de bens (art. 1.687, do Código Civil). Reflexamente,
protegem-se os interesses da prole atual ou mesmo futura. A lei diferencia as exigências
para que os cônjuges sejam validamente inseridos em determinada relação jurídica
processual, a depender do pólo em que se encontrem, ou seja:

• Pólo ativo: no casamento com regime de separação de bens, quem figura no pólo
ativo é o cônjuge proprietário, trazendo a respectiva outorga uxória. No
casamento com regime de comunhão de bens forma-se um condomínio entre os
cônjuges e os dois podem figurar no pólo ativo, conjunta ou separadamente; caso
optem por ingressar com ação separadamente, devem trazer a outorga uxória.

• Pólo passivo: sempre que figurar no pólo passivo de uma ação real imobiliária
uma pessoa casada, deverão ser citados, obrigatoriamente, ambos os cônjuges, ou
seja, forma-se um litisconsórcio necessário, ainda que o outro cônjuge não tenha
nenhum envolvimento com o fato que gerou a ação, e que o regime de bens seja o
da separação absoluta. Nas ações possessórias, não se aplicam as regras das ações
reais imobiliárias, tendo em vista a sua natureza pessoal, ou seja, nas ações
possessórias não há necessidade de outorga uxória no pólo ativo, nem
litisconsórcio necessário no pólo passivo, exceto se decorrente de ato por ambos
praticado.

6.3. Pessoas Jurídicas


As pessoas jurídicas, tanto de Direito Público quanto de Direito Privado, podem ser
parte no processo, sendo representadas por seus respectivos representantes. O Código
determina que:

• A União é representada pela Advocacia-Geral da União.

• Os Estados-membros são representados pelos Procuradores do Estado.

• Os Municípios são representados pelos Procuradores do Município ou, na falta


destes, pelo Prefeito (com o auxílio de advogado, neste último caso).

• As pessoas jurídicas de Direito Privado serão representadas pelas pessoas que os


seus estatutos designarem. Não havendo disposição no estatuto, serão
representadas por seus diretores.

• A massa falida será sempre representada pelo síndico.

• A herança jacente e herança vacante serão representadas por um curador


nomeado pelo juiz:

– Herança vacante: transforma-se em herança vacante aquela herança jacente


quando, após um ano da publicação do 1.º edital, não houver comparecimento
de nenhum herdeiro. Neste caso, a herança vai para o Município, deixando a
vacância, após 5 anos da abertura da sucessão.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

– Herança jacente: quando o sujeito morre sem deixar testamento e sem deixar
nenhum herdeiro, até que se converta em herança vacante, é considerada
herança jacente. Sua existência implica a publicação de editais para
chamamento de eventuais herdeiros.

• O espólio é representado pelo inventariante. Antes da abertura do inventário,


quem representa o espólio é o administrador provisório. Se não houver alguém
que aceite a função de inventariante, o juiz nomeará um inventariante dativo. No
caso de inventariante dativo, há restrição quanto à possibilidade de este vir a
juízo, pois somente poderá integrar validamente relação jurídica processual, caso
haja anuência de todos os herdeiros:

– Espólio: é a massa indivisa dos bens deixados por alguém que já morreu.
Surge com a abertura da sucessão e dura até o trânsito em julgado da sentença
que decreta a partilha dos bens.

– Administrador provisório: é quem está na administração dos bens desde a


morte do autor da herança, enquanto não aberto o inventário, que implica a
transferência da administração ao inventariante.

• Os condomínios são representados pelos síndicos.

• A sociedade de fato é representada pela pessoa que estiver na administração dos


bens.

Em relação às sociedades de fato e demais entes despersonalizados, cabe


ressaltar que, embora seja exigida a personalidade como pressuposto da capacidade de
direito e de exercício, excepcionalmente, como no caso em tela, o Código, de forma a
atender princípios, tais como o da segurança nas relações jurídicas, isonomia e
inevitabilidade da jurisdição, confere legitimidade ad causam e ad processum, ativa e
passiva, a entes despersonalizados, tais como as universalidades de bens (massa falida
e espólio) e as sociedades de fato (artigo 12 do Código de Processo Civil).

6.4. Dos Deveres daqueles que participam do Processo


É sabido de todos que as partes devem se portar com lealdade e boa-fé em
relação aos outros litigantes, nos atos que pratica durante o andamento da lide.

Nesse passo, as recentes reformas operadas em nosso sistema processual civil


visam a ampliar a seara de aplicação desses princípios, de forma a prestigiar cada vez
mais a retidão com que se conduzem não só as partes, mas todos aqueles que, de
qualquer forma, atuam no feito, conforme se colhe do texto legal, abaixo transcrito:

“Art. 14:

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do
processo:

V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços


à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos


estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato
atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções
criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em
montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a
vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido,
contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita
sempre como dívida ativa da União ou do Estado.(NR)

• Alteração processada pela Lei n. 10.358/01”.

O rol em que se aplicam as disposições da regra legal descrita é amplo, estendendo-


se, além das partes, a todos aqueles que de qualquer forma participam do processo, e não
somente aos procuradores, previstos na antiga redação. Dessa forma, a título de exemplo,
os escrivães judiciais, os peritos, contadores, testemunhas, os funcionários de repartições
públicas que estejam obrigados a fornecer dados ou ainda certidões, também se obrigam
aos deveres previstos no artigo14, ou seja, de boa-fé, de lealdade etc.

A lei opera inclusões, notadamente em relação à inclusão do inciso V no artigo 14,


que constitui como dever de todos os que participam no processo:

• cumprir com exatidão os provimentos mandamentais, assim considerados


aqueles em que a autoridade impõem a prática de determinado ato ou
observância de determinada conduta de natureza objetiva, sob pena de
desobediência, podendo ser citados, como exemplos, a busca e apreensão de
determinado bem móvel, a imissão na posse e a desocupação de imóvel.

• não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, não somente os que


encerram o processo (finais) e sim, mesmo aqueles que de forma antecipatória
(interlocutórios), permitem a sua execução provisória, a exemplo das tutelas
antecipadas, em qualquer espécie de processo aplicável.

Em relação à natureza jurídica dessas transgressões, definidas no parágrafo único,


este determina serem as violações às regras do inciso V, quais sejam, o descumprimento de
ordens mandamentais e a resistência à execução, atos atentatórios ao exercício da
jurisdição, e prevê como sanção a possibilidade de o juiz do feito aplicar multa de até 20%
(vinte por cento) do valor atribuído à causa. Cumpre salientar que tal sanção será aplicada

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

sem prejuízo das demais sanções cabíveis, a exemplo do crime de desobediência, da


indenização por dano decorrente etc.

De acordo com a doutrina de Tereza Arruda Alvim Wambier e Luiz Rodrigues


Wambier, o critério a ser utilizado na fixação da multa deverá ser o da gravidade da
conduta do infrator, e esta será fixada nos próprios autos da ação em que a violação ocorrer
. Outrossim, o juiz deve fixar prazo para o pagamento da multa aplicada, prazo esse que
terá como termo inicial a data do trânsito em julgado da decisão final da causa, e, caso o
infrator não efetue o pagamento no prazo assinalado, a multa será inscrita como dívida
ativa da União (nas causas de competência da justiça federal), ou do Estado (nas causas de
competência das justiças dos Estados). O beneficiário da referida multa é a pessoa política
prestadora da jurisdição, federal ou estadual, e não a parte contrária, como se dá nos casos
de má-fé, de acordo com a arguta observação constante da doutrina dos autores supra.

6.5. Sucessão e Substituição Processual


É cediço na lei e na doutrina que, como regra, somente pode-se ingressar em juízo
em nome próprio, na defesa de direito próprio. Excepcionalmente a lei autoriza a defesa,
em nome próprio, de direito alheio, a que se dá o nome de substituição processual, ou
legitimação extraordinária. Hipótese diversa da descrita encontra-se no artigo 41 do
Código, que contém imprecisão terminológica, uma vez que, ao invés de utilizar-se da
palavra “substituição”, deveria ter utilizado “sucessão”. Isso porque esta significa que
alguém passa a ocupar, sucessivamente no tempo, o lugar de outrem. A substituição, por
sua vez, implica em alguém estar ocupando o lugar que poderia ser de outrem,
concomitantemente no tempo, segundo o mencionado.

O artigo 42 engloba, na verdade, tanto a substituição quanto a sucessão. O instituto


da substituição existe em decorrência da perpectuatio legitimationis (artigo 42, caput do
Código de Processo Civil). As mudanças no direito material não se refletem
automaticamente no processo. Por conseguinte, o adquirente de objeto em litígio, a que a
lei dá o nome de coisa litigiosa, não ingressa em juízo substituindo o alienante, salvo se a
outra parte anuir. Na melhor das hipóteses, poderá assistir o alienante que, por sua vez, será
o substituto processual, na defesa dos direitos do adquirente.

O artigo 42, caput, do Código de Processo Civil demonstra claramente o


distanciamento que pode haver entre a lagitimatio ad causam e a legitimatio ad processum,
pois a parte que remanesce no processo tem só legitimatio ad processum e o adquirente é
que tem legitimatio ad causam, pela ficção trazida por meio da perpectuatio legitimationis.

Para que haja sucessão inter vivos na relação processual, é necessário:

• admissibilidade por disposição legal (artigo 41 do Código de Processo Civil);

• manifestação concordante da parte contrária (artigo 42, § 1.º, do Código de


Processo Civil).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Observa-se que, no caso de sucessão causa mortis, a manifestação de vontade da


parte contrária é irrelevante, uma vez que, excetuando-se os casos de legitimação
personalíssima, é possível a continuação da relação jurídica pelos sucessores, estes
entendidos de forma ampla (artigo 43 do Código de Processo Civil).

6.6. Procuradores
Os procuradores, nos termos do diploma processual, são indispensáveis, via de
regra, ao exercício do direito de ação, e suas regras estão dispostas nos artigos 36 a 45 do
Código. A capacidade postulatória, pressuposto de existência do processo, vem
disciplinada junto ao tema, e já se encontra explicitada neste trabalho.

Excepcionalmente poderá a parte fazer-se representar sem advogado, quando na


localidade este não existir ou, existindo, esteja impedido para tanto. Resguarda o texto
legal a possibilidade de advogar em causa própria, quando devidamente habilitado.

A parte pode revogar o mandato outorgado ao seu advogado, mas precisa constituir
outro patrono, pena de extinção do feito por falta de pressuposto de existência. Da mesma
forma, o advogado que renuncia deve evitar a ocorrência de prejuízo à parte dantes
patrocinada, e, para tanto, dispõe a lei processual que deve continuar representando-a por,
pelo menos, mais dez dias, até que seja constituído outro procurador.

7. LITISCONSÓRCIO

Define-se litisconsórcio como a pluralidade de partes em litígio, em qualquer dos pólos


da relação jurídica processual. Com efeito, é um dos fenômenos processuais de maior
ocorrência, por atender a princípios, tais como a instrumentalidade das formas, economia e
celeridade processual, além de evitar decisões conflitantes no exercício da jurisdição, isto
sem contar a hipótese de instituição obrigatória do litisconsórcio, como requisito de
validade de toda a relação processual. Costuma-se, ab initio, denominar o litisconsórcio de
acordo com o pólo da ação em que se verifica: havendo pluralidade de réus, o
litisconsórcio é passivo; de autores, o litisconsórcio é ativo; se há pluralidade de réus e
autores, o litisconsórcio é denominado misto.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

7.1. Classificação
Há várias classificações a que se submete o instituto do litisconsórcio, conforme os
critérios abaixo explicitados.

7.1.1. Quanto à formação


• Litisconsórcio necessário: existem algumas situações em que o litisconsórcio
deve ser formado obrigatoriamente. Não há nenhuma opção das partes em formar
ou não o litisconsórcio. Com efeito, determina o parágrafo único do artigo 47 que
ao autor é obrigatória a promoção de citação de todos os interessados, sob pena
de extinção do feito sem julgamento do mérito.

• Litisconsórcio facultativo: é aquele formado por opção do autor, que podia


ingressar com ação autônoma em relação aos seus litisconsortes, ou ainda podia
mover ação em face de um réu, mas move em face de todos, a exemplo dos
devedores solidários.

7.1.2. Quanto à decisão


• Litisconsórcio unitário: verifica-se o litisconsórcio quando o juiz deve,
obrigatoriamente, proferir sentença igual para todos os litisconsortes. O juiz não
tem opção de decidir de forma igual ou diferenciada a todos os litisconsortes de
um mesmo pólo.

• Litisconsórcio simples: é a modalidade de litisconsórcio quanto à decisão, em que


o juiz pode optar por dar decisões diferentes às partes integrantes de um mesmo
pólo da relação jurídica. O juiz pode optar por proferir sentença igual ou diversa
para cada um dos litisconsortes.

7.2. Litisconsórcio Multitudinário


É a denominação conferida ao litisconsórcio excessivo, em que figuram número
expressivo de partes em quaisquer dos pólos da relação jurídica processual. O Código de
Processo Civil, atendendo à celeridade processual, de forma a garantir que o litisconsórcio
seja um instrumento e não um antiinstrumento à rápida solução de litígios, passou a
permitir ao juiz, no caso de litisconsórcio multitudinário facultativo (ressalte-se:
facultativo), a redução do número de litigantes em duas situações, a saber:

• quando, pelo excesso do número de partes, houver prejuízo à rápida solução do


litígio;

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• quando, pelo excesso do número de partes, houver prejuízo ao direito de defesa,


evitando que a lide seja julgada pela questão jurídica em tese levantada, sem
aplicação aos inúmeros casos em concreto.

Presentes quaisquer dessas hipóteses, o juiz tem o poder de reduzir o número de


litisconsortes facultativos. O entendimento absolutamente dominante é no sentido de que o
juiz tem poderes para determinar de ofício o desmembramento do processo, com a
conseqüente redistribuição de feitos e redução do número de litigantes. Aqui, cabe salientar
que, ressalvada a análise do caso em concreto, a jurisprudência entende satisfatória a
divisão dos litisconsortes em grupos de dez pessoas.

Há um entendimento minoritário, sustentado pelo Prof. Nelson Nery Júnior,


segundo o qual, se houver prejuízo à rápida solução do litígio, o juiz poderá determinar de
ofício a redução do número de litisconsortes, visto ser de interesse público; entretanto,
havendo prejuízo do direito de defesa, o juiz não pode reduzir o número de litisconsortes
de ofício, tendo em vista a análise da existência ou não de deficiência no exercício da
defesa configurar interesse privado das partes em litígio.

Verificado o número excessivo, o juiz deverá determinar o desmembramento do


processo, não havendo extinção do processo para nenhuma das partes. Este
desmembramento será feito, conforme dito, observando-se o caso concreto. Quem arcará
com as custas do desmembramento será a parte que criou o litisconsórcio multitudinário
(sempre o autor).

Caso o juiz não determine o desmembramento do processo, cabe ao réu formular o


pedido de desmembramento. Este deve formular requerimento no prazo da contestação.
Em havendo vários réus, basta que um deles requeira o desmembramento.

O requerimento de desmembramento interrompe o prazo para o oferecimento da


contestação, ou seja, o réu receberá de volta o prazo para a contestação em sua
integralidade. O prazo ficará interrompido até o momento em que o réu for intimado da
decisão do juiz, desmembrando ou não o processo. Esse requerimento, ainda que seja feito
por apenas um dos réus, interrompe o prazo para todos osdemais.

Caso o requerimento de desmembramento seja abusivo, percebendo o juiz que o réu


agiu de má-fé, interrompe-se o prazo, mas são aplicadas as penas da litigância de má-fé.

7.3. Litisconsórcio Facultativo


Para que haja um litisconsórcio facultativo, deve haver entre os litisconsortes um
mínimo de relação de semelhança no que tange aos interesses defendidos por meio da
relação jurídica processual. O artigo 46 do Código de Processo Civil traz as hipóteses em
que se permite a formação de um litisconsórcio facultativo:

• Quando houver comunhão de direitos e obrigações: é uma forma de cuidar das


hipóteses de solidariedade, ou seja, haverá litisconsórcio facultativo quando
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

houver solidariedade entre nas obrigações de titularidade dos possíveis litigantes


(exemplo: A é credor; e B, C e D são devedores solidários; A pode ingressar com
cobrança tanto contra cada um, separadamente, ou contra os três, solidariamente).

• Quando houver identidade de fundamentos de fato ou de direito: é causa de pedir,


ou seja, quando duas pessoas desejarem mover uma ação com os mesmos fatos
ou fundamentos jurídicos de seus pedidos, poderão optar por ingressar com a
ação conjunta ou separadamente.

• Quando houver conexão: a conexão inclui a identidade de pedido e a identidade


de causa de pedir. Em razão desse fato, a doutrina aponta a desnecessidade de
previsão dessa hipótese, por haver a previsão anterior de identidade apenas de
pedido ou causa de pedir, tornando-a inócua.

• Quando houver afinidade por um ponto de fato ou direito: situações afins são
aquelas que possuem alguma semelhança. A palavra “afinidade” utilizada pelo
legislador não é uma palavra exata. O vocábulo vago foi utilizado
propositalmente para que se permita ao juiz uma certa margem de
“discricionariedade”, por óbvio, dentro dos limites legais, para verificar se há ou
não similitude que permita a formação do litisconsórcio.

7.4. Litisconsórcio Necessário


Existem certas situações em que o litisconsórcio é necessário por força de lei, ou
seja, existe um dispositivo em lei que determina que se forme o litisconsórcio (exemplo:
pólo passivo em ação de usucapião etc).

Existem outras situações em que o litisconsórcio é necessário, ainda que não exista
lei determinando sua formação. Há certas situações em que existe uma única relação
jurídica que pertence a mais de uma pessoa, a exemplo do casamento, relação jurídica
pertencente a, no mínimo, duas pessoas. Quando há uma relação jurídica que pertença a
duas ou mais pessoas, qualquer ação que envolva essa relação jurídica deverá,
obrigatoriamente, haver a formação de um litisconsórcio necessário, ainda que não
disposto em lei. Assim, a título de exemplo, se o Ministério Público propor entrar uma
anulação de casamento, obrigatoriamente, haverá um litisconsórcio necessário no pólo
passivo, composto pelos cônjuges.

Em síntese, o litisconsórcio será necessário por duas razões:

• por força de lei;

• pela natureza da relação jurídica (relação jurídica única que envolve mais de um
interessado).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Em regra, quando o litisconsórcio for necessário em razão da natureza da relação


jurídica, além de necessário, ele será também unitário, por exigir uma única sentença de
igual dispositivo para todos os litisconsortes de determinado pólo. Como exemplo de
exceção à hipótese descrita, aponta-se a decisão de nulidade de casamento, considerado
putativo e surtindo efeitos a um dos cônjuges, por estar de boa-fé. De modo diverso, via de
regra, o litisconsórcio necessário será simples, quando considerado necessário por força de
lei.

Havendo uma única relação jurídica que envolva mais de um interessado, cumpre
observar que, caso haja lei autorizando que apenas uma das partes defenda o interesse
conjunto dos litisconsortes na relação jurídica processual (legitimação extraordinária ou
substituição processual), estar-se-á criando um litisconsórcio facultativo, mas ainda
unitário, visto que a relação jurídica é única.

Desta feita, conclui-se que, no campo da normalidade, quando há uma relação


jurídica que pertença a várias pessoas, formar-se-á um litisconsórcio necessário.
Entretanto, excepcionalmente, quando houver autorização expressa em lei de ocorrência de
legitimação extraordinária ou substituição processual, poderá se formar um litisconsórcio
facultativo. Nos dois casos haverá, sempre, um litisconsórcio unitário, uma vez que a
sentença deve ser a mesma para todos os litisconsortes.

Quando há legitimação extraordinária, os litisconsortes que não intentaram a ação


poderão ingressar no processo, posteriormente, como assistentes litisconsorciais. A essa
possibilidade, o eminente doutrinador José Carlos Barbosa Moreira dá o nome de
litisconsórcio facultativo unitário ulterior, em razão de sua pretensa formação tardia.

Quando houver um litisconsórcio necessário no pólo passivo e o autor não incluir


um dos litisconsortes, o juiz deverá determinar prazo para que o autor emende a inicial,
prazo este de dez dias. Caso não haja a inclusão do requerido faltante no pólo passivo da
ação, o juiz deverá indeferir a petição inicial, extinguindo o processo sem julgamento do
mérito ante a falta de pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo.

Entretanto, se houver um litisconsórcio necessário no pólo ativo e um dos autores se


recusar a ajuizar a ação, haverá uma grande discussão doutrinária sobre a possibilidade de
forçá-lo a litigar em conjunto como os demais autores, ou não. A doutrina tradicionalista
entende que não há como obrigar alguém a propor uma ação, então a ação estaria
inviabilizada. Outros doutrinadores, no entanto, entendem que seria injusto inviabilizar a
ação somente pelo fato de um dos litisconsortes necessários não aceitar ingressar com a
ação, visto que estaria impossibilitando que os outros tivessem acesso à justiça,
determinando, por conseguinte, como forma de resolução do problema prático de como
compelir o outro litisconsorte a ingressar em juízo, a citação do litisconsorte ativo que se
manteve omisso, abrindo-lhe três hipóteses:

• quedar-se inerte;

• assumir sua posição de litisconsorte ativo;

• contestar a ação, tornando-se verdadeiro assistente do réu.


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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

7.5. Regime do Litisconsórcio


Não é relevante, para o regime do litisconsórcio, a classificação do
litisconsórcio em necessário ou facultativo. Para que seja definido o regime do
litisconsórcio, deve-se saber, em primeiro lugar, se o litisconsórcio é simples ou
unitário.

Se o litisconsórcio é simples, a priori, o regime é de independência, ou seja, os atos


praticados por um dos litisconsortes não afetarão os interesses do outro, nos termos do
artigo 48 do diploma adjetivo. Entretanto, mesmo nos casos de litisconsórcio simples, se a
contestação de um dos litisconsortes for comum ao litisconsorte revel, em relação às
alegações, a contestação daquele irá aproveitar a este, permitindo assim que os atos
praticados por um dos litisconsortes interfiram nos interesses do outro.

Se o litisconsórcio for unitário, não pode haver entre eles o regime da


independência, visto que a sentença, ao final, deverá ser a mesma para todos; então, os atos
praticados por um dos litisconsortes afetam os outros obrigatoriamente.

Embora a regra relativa ao litisconsórcio unitário seja a da interferência na esfera


dos direitos dos demais litisconsortes por atos de um deles, é prevista a seguinte exceção:
no caso de uma confissão em litisconsórcio unitário, ela não atingirá os demais
litisconsortes. Isto porque os atos benéficos (contestação, apelação etc.) afetam os demais
litisconsortes, mas quando o ato for prejudicial (a exemplo da confissão) não poderá afetar
os demais litisconsortes, visto que ninguém pode ser prejudicado por ato que não praticou.
Em síntese: no caso de litisconsórcio unitário, se houver confissão de somente um dos
litisconsortes, a confissão será ineficaz, dado que não poderá atingir os demais e a sentença
deverá ser igual para todos. O ato prejudicial, que não for praticado por todos os
litisconsortes, será sempre ineficaz, visto não poder atingir aqueles que não o praticaram.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Inquérito Policial

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inquérito Policial

Prof. Fernando Capez

1. PROVIDÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL

O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência


imutável de atos. O artigo 6.º do Código de Processo Penal indica algumas providências
que, de regra, devem ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e da
sua autoria.

1.1. Dirigir-se ao Local do Crime


A autoridade policial, se possível e conveniente, deve se dirigir ao local do crime e
preservar o estado das coisas até a chegada da perícia. Qualquer alteração no estado de
coisas pode comprometer as provas a serem produzidas (artigo 169 do Código de Processo
Penal).

Exceção: acidente automobilístico, em que os veículos devem ser deslocados com a


finalidade de desobstruir a via pública (artigo 1.º da Lei n. 5.970/73).

1.2. Apreender os Objetos Relacionados com o Fato


Deve também apreender os objetos e instrumentos do crime após liberação pela
perícia (artigo 11 do Código de Processo Penal – instrumentos e objetos do crime
apreendidos serão anexados ao inquérito policial).

Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão,


que pode ser efetuada no local do crime, em domicílio ou na própria pessoa. A busca
domiciliar pode ser realizada em qualquer dia, porém devem ser respeitadas as garantias de
inviolabilidade domiciliar (artigo 5.º, inciso XI, da Constituição Federal).

À noite, é lícito entrar no domicílio alheio em quatro situações:

• a convite do morador;

• em caso de flagrante delito;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

• para prestar socorro;

• em caso de desastre.

Durante o dia:

• nas quatro situações acima citadas;

• mediante prévia autorização judicial, corporificada em instrumento denominado


mandado de busca e apreensão.

Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo


com esta, não podia entrar à noite. Aplicava-se o artigo 172 do Código de Processo Civil
por analogia, contudo, em dezembro de 1.994, esse artigo teve sua redação alterada, não
sendo mais possível sua aplicação.

Domicílio, nos termos do artigo 150, § 4.º, do Código Penal, é qualquer


compartimento habitado; aposento ocupado por habitação coletiva; compartimento não
aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. Exemplos: o escritório de
advogado, na parte aberta ao público, não é domicílio, mas a sala do advogado sim
(observação: a busca em escritório de advocacia deverá ser acompanhada por um
representante da Ordem dos Advogados do Brasil); o mesmo entendimento se tem quanto a
bar, pois considera-se domicílio a área interna do balcão, onde é exercida a atividade pelo
proprietário ou seu funcionário, sendo que a parte externa, a freqüentada pelo público, não;
quarto de hotel etc. Automóvel não é domicílio.

A busca pessoal é aquela feita na própria pessoa. Independe de mandado, desde que
haja fundada suspeita. Pode ser realizada a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a
pessoa estiver em seu domicílio.

1.3. Ouvir o Ofendido e as Testemunhas


Podem ser conduzidos coercitivamente se desatenderem, sem justificativa, a
intimação da autoridade policial (princípio da autoritariedade – artigo 201, parágrafo único,
do Código de Processo Penal). O ofendido e a testemunha faltosa podem responder por
crime de desobediência (artigo 219 do Código de Processo Penal e artigo 330 do Código
Penal).

Se o ofendido ou a testemunha for membro do Ministério Público ou da


Magistratura deverá ser observada a prerrogativa de serem ouvidos, em qualquer processo
ou inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com a autoridade competente.

A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de
falso testemunho (artigo 342 do Código Penal). O ofendido que mentir não comete crime
de falso testemunho.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.4. Ouvir o Indiciado


Deverá a autoridade policial ouvir o indiciado, observando-se os mesmos preceitos
norteadores do interrogatório judicial (artigo 6.º, inciso V, do Código de Processo Penal).

1.4.1. Indiciamento
Consiste na suspeita oficial acerca de alguém, ou seja, é a imputação a alguém, no
inquérito policial, da prática de ilícito penal, sempre que houver razoáveis indícios de sua
autoria. É um ato abstrato, um juízo de valor da autoridade policial que vai reconhecer
alguém como principal suspeito.

1.4.2. Interrogatório extrajudicial


O termo de interrogatório extrajudicial será assinado pelo delegado de polícia, pelo
escrivão, pelo interrogado e por duas testemunhas presentes à leitura do termo (trata-se de
testemunhas instrumentárias, que não depõem sobre fatos, mas sobre a regularidade de um
procedimento). Observe-se que as duas testemunhas não precisam estar presentes ao
interrogatório, mas à leitura do termo.

O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo; só valerá se confirmado


por outros elementos de prova.

A Constituição Federal consagrou o direito de silêncio ao indiciado. A autoridade


policial, portanto, deve informá-lo desse direito (artigo 5.º, inciso LXIII, da Constituição
Federal), não podendo mais adverti-lo de que seu silêncio poderá prejudicar sua própria
defesa, pois o artigo 186 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela
Constituição Federal.

Embora tenha o direito de permanecer calado, o indiciado deverá atender à


intimação do Delegado de Polícia e comparecer ao ato, sob pena de condução coercitiva
(artigo 260 do Código de Processo Penal).

A autoridade policial não precisa intimar o defensor do indiciado para acompanhar o


ato, muito menos nomear-lhe um.

1.4.3. Membro do Ministério Público


Se o suspeito for membro do Ministério Público, a autoridade policial não pode
indiciá-lo, devendo encaminhar os autos do inquérito ao Procurador-Geral de Justiça.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.4.4. Indiciado menor


Antes da entrada em vigor do novo Código Civil, no interrogatório do indiciado
maior de 18 e menor de 21 anos, a autoridade devia nomear-lhe um curador. Não
observada essa regra, a ação penal não era afetada, pois o inquérito policial é mera peça
informativa e seus vícios não contaminam aquela. No entanto, havia perda do valor
probatório do ato e no caso de prisão em flagrante, esta era relaxada por vício formal
(retira-lhe a força coercitiva).

Entendemos que o artigo 15 do Código de Processo Penal foi ab-rogado pelo artigo
5.º do novo Código Civil, uma vez que não existe mais indiciado menor.

No interrogatório judicial, a ausência de curador gerava sua nulidade (artigo 564,


inciso III, alínea “c”, do Código de Processo Penal). Qualquer pessoa podia ser nomeada
curador. A jurisprudência fazia, no entanto, uma restrição em relação aos policiais, pois
estes têm interesse na investigação.

A alínea c foi derrogada, pois a hipótese não subsiste em face do artigo 5.º do novo
Código Civil. Fica, assim, superada a questão de ser absoluta ou relativa a nulidade
proveniente da ausência de nomeação de curador ao menor de 21 anos de idade.

1.4.5. Identificação criminal


A autoridade policial deve proceder à identificação do indiciado pelo processo
datiloscópico, salvo se ele já tiver sido civilmente identificado (artigo 5.º, inciso LVIII, da
Constituição Federal).

Embora a Constituição Federal assegure que o civilmente identificado não será


submetido à identificação criminal, ressalva a possibilidade de o legislador
infraconstitucional estabelecer algumas hipóteses em que até mesmo o portador da cédula
de identidade civil esteja obrigado a submeter-se à identificação criminal. O legislador já
estabeleceu algumas hipóteses.

As hipóteses previstas na Lei n. 10.054/00, em seu artigo 3.º, são as seguintes:

• indiciamento ou acusação por homicídio doloso, crime contra o patrimônio


mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes
contra a liberdade sexual e falsificação de documento público;

• fundada suspeita de falsificação ou adulteração de documento de identidade;

• mal estado de conservação ou distância temporal da carteira de identidade,


quando impossibilitar a leitura dos dados essenciais;

• quando constar outros nomes ou apelidos dos registros policiais;

• quando houver registro de extravio da carteira de identidade;


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__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
DIREITO PROCESSUAL PENAL

• quando o acusado não comprovar em 48 horas a sua identificação civil.

Observações: na primeira hipótese, a regra nos parece inconstitucional por ofensa ao


princípio do estado de inocência, pois a simples razão de o agente estar sendo
acusado pela prática deste ou daquele crime não pode, por si só, justificar o
constrangimento, exceto no caso de envolvimento em quadrilhas organizadas,
capazes de forjar documentos falsos.

Por fim, há outra hipótese em que o portador da cédula de identidade civil está
obrigado a submeter-se à identificação criminal: trata-se da identificação criminal de
pessoa envolvida com ação praticada por organização criminosa (artigo 5.º da Lei n.
9.034/95).

A identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões digitais) e a


fotográfica.

1.4.6. Incidente de insanidade mental


Somente o juiz pode determinar a instauração. A autoridade policial não pode.

1.5. Reconhecimento de Pessoas e Coisas e Acareações


Poderão ser realizadas acareações (artigos 229 e 230 do Código de Processo Penal)
e reconhecimento de pessoas e coisas (artigos 226 a 228 do Código de Processo Penal).

Quanto ao reconhecimento, caso haja receio de intimidação, a autoridade policial


providenciará para que o reconhecido não veja quem o está reconhecendo, mas, em juízo, o
reconhecimento terá de ser feito frente a frente com o acusado.

A acareação é o confrontamento de depoimentos divergentes prestados.

1.6. Exame de Corpo de Delito


Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a
infração tiver deixado vestígios, ou de quaisquer outras perícias que se mostrarem
necessárias à elucidação do ocorrido (artigos 158 a 184 do Código de Processo Penal).

Observação: os peritos deverão sempre atuar em número mínimo de dois.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.7. Reprodução Simulada dos Fatos


O artigo 7.º do Código de Processo Penal dispõe sobre a reprodução simulada dos
fatos (reconstituição do crime), que não pode contrariar a moralidade e a ordem pública.

O indiciado não pode ser obrigado a participar da reconstituição, o que violaria seu
direito ao silêncio e seu corolário, o de que ninguém está obrigado a produzir prova contra
si, mas pode ser obrigado a comparecer (artigo 260 do Código de Processo Penal).

1.8. Relatório
Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do
que tiver apurado no inquérito policial, sem, contudo, expender opiniões, julgamentos ou
qualquer juízo de valor, devendo, ainda, indicar as testemunhas que não foram ouvidas,
bem como as diligências não realizadas.

O relatório é a narração objetiva das diligências feitas pela autoridade. A autoridade


somente pode fornecer a classificação jurídica do fato, sem emitir qualquer juízo de mérito,
e a classificação não vincula o Ministério Público.

Encerrado o inquérito, os autos serão remetidos ao juiz competente.

2. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Deve ser encerrado no prazo de 30 dias, contados a partir da instauração


(recebimento da notitia criminis), se o indiciado estiver solto. Se o fato for de difícil
elucidação, a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para
ulteriores diligências a serem realizadas no prazo fixado pelo juiz. Não obstante a omissão
do Código, entende-se que o juiz antes de conceder novo prazo deve ouvir o titular da ação
penal.

Se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito será de 10 dias,


contados da data da efetivação da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação.

No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao


prazo de encerramento do inquérito (Lei n. 7.960/90).

A contagem do prazo atende a regra do artigo 798, § 1.º, do Código de Processo


Penal. Despreza-se o dia inicial, incluindo-se o dia final. O decurso não acarretará a perda
do direito de punir, apenas o relaxamento da prisão.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

2.1. Prazos Especiais

2.1.1. Justiça Federal


Se o inquérito estiver tramitando perante a Justiça Federal, o prazo será de 15 dias,
prorrogável por mais 15, se o indiciado estiver preso. Se o indiciado estiver solto, o prazo
será de 30 dias, com a possibilidade de prorrogação por mais 30 dias (artigo 66 da Lei n.
5.010/66).

No caso de tráfico internacional, aplica-se o prazo da Lei de Tóxicos (vide item


seguinte), adotando-se o princípio da especialidade.

2.1.2. Tóxicos
• Lei n. 6.368/76: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder
Judiciário é de 5 dias (no caso de tráfico é de 10 dias for força do artigo 35,
parágrafo único). Na hipótese de liberdade, o prazo é de 30 dias (artigo 21, §
1.°).

• Lei n. 10.409/02: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder


Judiciário é de 15 dias. Na hipótese de liberdade, o prazo é de 30 dias, podendo
ser prorrogado se autorizado pelo juiz (parágrafo único do artigo 29).

Remetemos o aluno ao estudo do módulo IV de Legislação Penal Especial, no que


diz respeito à aplicabilidade da lei nova.

2.1.3. Crimes contra a economia popular


No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, estando o
indiciado preso ou solto (Lei n. 1.521/51, artigo 10, § 1.º).

3. ARQUIVAMENTO

Só pode ser determinado pelo juiz se houver requerimento do Ministério Público. Se


o Juiz discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no artigo 28 do Código de
Processo Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá:

• oferecer a denúncia;

• designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia: o


promotor ou procurador designado está obrigado a oferecer a denúncia, sem que
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

haja ofensa ao princípio da independência funcional, pois age em nome da


autoridade que o designou (por delegação) e não em nome próprio;

• insistir no arquivamento: neste caso, o Poder Judiciário não poderá discordar do


arquivamento.

O juiz, ao remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, exerce função anormal,


qual seja, a de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal.

O delegado não pode arquivar o inquérito policial (artigo 17 do Código de Processo


Penal).

Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada subsidiária,
pois esta só é possível no caso de inércia do Ministério Público.

O inquérito policial, arquivado por falta de provas, só poderá ser reaberto se


surgirem novas provas (súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal).

O despacho que arquivar o inquérito é irrecorrível. Cabe recurso nas seguintes


hipóteses:

• em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício (artigo


7.º da Lei n. 1.521/51);

• no caso das contravenções previstas nos artigos 58 e 60 do Decreto-lei n.


6.259/44, quando caberá recurso em sentido estrito;

• do arquivamento determinado de ofício pelo juiz cabe correição parcial.

Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetido ao


Procurador-Geral.

Se o promotor de justiça requerer a devolução dos autos à polícia para diligências


complementares, o juiz poderá, caso discorde, aplicar por analogia o artigo 28 do Código
de Processo Penal. Se assim fizer, caberá correição parcial.

O pedido de arquivamento feito pelo titular da ação penal privada significa renúncia
tácita (causa a extinção da punibilidade).

Por fim, salientamos a possibilidade de trancar o inquérito por meio de habeas


corpus quando houver indiciamento abusivo ou quando o fato for atípico.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

DIREITO TRIBUTÁRIO
Empréstimos Compulsórios e
Contribuições Parafiscais

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DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO

Empréstimos Compulsórios

e Contribuições Parafiscais

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS

Modalidade tributária prevista no artigo 148 da Constituição Federal, os


empréstimos compulsórios são tributos restituíveis.

Ser restituível é faceta que não ocasiona a perda de sua natureza tributária, pois, não
obstante o produto arrecadado voltar ao contribuinte, o artigo 4.º, inciso. II, do Código
Tributário Nacional, estabelece que a natureza jurídica do tributo é determinada pelo fato
gerador em abstrato e não pela destinação do produto da sua arrecadação .

Sua menção pela Constituição Federal (artigo 148) e o fato de satisfazerem


plenamente as cláusulas que compõem a redação do artigo 3.º do Código Tributário
Nacional, deixam nítida a configuração tributária do instituto, tornando-se difícil sustentar
posições dissonantes.

Ademais, a Constituição Federal trata do empréstimo compulsório no capítulo


referente ao Sistema Tributário Nacional, incidindo sobre ele, portanto, o regime jurídico
tributário.

De acordo com a hipótese de incidência, os empréstimos compulsórios poderão


assumir quaisquer formas que correspondam às espécies de tributo (imposto, taxa ou
contribuição de melhoria).

Normalmente os empréstimos compulsórios acabam revestindo-se da natureza de


imposto.

Segundo Aliomar Baleeiro, “no empréstimo forçado, não há acordo de vontades


nem contrato de qualquer natureza. Unilateralmente, o Estado compele alguém, sob sua
jurisdição, a entregar-lhe dinheiro, prometendo o reembolso sob certas condições ou dentro
de certo prazo”.1

A Súmula n. 418 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe que o empréstimo


compulsório não é tributo, está superada.

1
Direito Tributário. Atualiz. Misabel Abreu Machado Derzi. 11.ª ed. Rio de Janeiro: Forense.p.182.
1
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DIREITO TRIBUTÁRIO

Somente a União, por meio de lei complementar, pode instituir empréstimos


compulsórios, e quando o fizer deverá permanecer dentro de seu campo de competência
tributária. Não poderia, por exemplo, criar empréstimo compulsório sobre venda de
mercadorias, uma vez que essa atribuição é de competência dos Estados-membros.

Também medida provisória não pode criar nem alterar empréstimos compulsórios,
pois a conversão da medida provisória em lei depende de maioria simples, enquanto a lei
complementar depende do quórum de maioria absoluta, conforme previsto no artigo 69 da
Constituição Federal.

A aplicação dos recursos provenientes desse tributo deve ser vinculada à despesa
que o fundamentou (artigo 148, parágrafo único, da Constituição Federal). Esse dispositivo
representa uma garantia ao contribuinte.

Nesse sentido, cabe aqui analisar o artigo 148, assim expresso na Constituição
Federal:

“Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos


compulsórios:

I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de


guerra externa ou sua iminência;

II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse


nacional, observado o disposto no art. 150, III, b.

Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório


será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.”

1.1. Hipóteses do Inciso I


“I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de
guerra externa ou sua iminência;”

Nesses casos, não se aplica o princípio da anterioridade, pois as situações expostas


nesse inciso são urgentes e de graves proporções, ou seja, são incompatíveis com a
cobrança no exercício financeiro seguinte.

Com efeito, guerra externa ou sua eminência, são justificativas para a criação de
duas modalidades tributárias: empréstimo compulsório (artigo 148, inciso I) e/ou imposto
extraordinário (artigo 154, inciso II).

2
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DIREITO TRIBUTÁRIO

1.2. Hipóteses do Inciso II


“II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse
nacional, observado o disposto no art. 150, III, b;”.

Nesses casos, a aplicação do princípio da anterioridade (artigo 150, inciso III, alínea
b) é obrigatória por expressa previsão constitucional.

Alguns doutrinadores, entretanto, criticam a aplicação desse princípio, como Celso


Ribeiro Bastos, segundo o qual: “Poder-se-á objetar que o princípio da anterioridade torna
desnecessário o caráter de urgência a que se refere o inc. II, visto que não há como
considerar de urgência empréstimo que, uma vez aprovado, só poderá ser exigido no
exercício seguinte”.

Assim, com amparo nessa crítica, poderiam alguns afirmar que o conteúdo desta
espécie tributária estaria esvaziado pois o investimento público, que fora classificado como
de caráter urgente, só seria custeado pelo empréstimo no exercício seguinte. Portanto, não
haveria urgência, uma vez que as verbas não seriam arrecadadas em breve espaço
temporal.

1.3. Observações
Fenômenos como calamidade pública, guerra externa, iminência de guerra externa e
investimento público são apenas alguns dos pressupostos necessários e suficientes para que
o empréstimo compulsório seja criado.

Tais fenômenos não são hipóteses de incidência do tributo, uma vez que à lei
complementar cabe determinar hipóteses de incidência de tributos.

É de se entender que os empréstimos compulsórios têm caráter dúplice. Assim, em


um dado momento, a relação jurídica é tributária e, posteriormente, demonstra-se relação
jurídica administrativa. Alfredo Augusto Becker foi o primeiro estudioso a observar que
nos empréstimos compulsórios residem duas relações jurídicas:

• Relação jurídica tributária: na qual figura como sujeito ativo a União e como
sujeito passivo o contribuinte. Assim, saldada a obrigação, restará extinta esta
primeira relação jurídica (a relação jurídica tributária).

• Relação jurídica administrativa: com o desaparecimento da relação jurídica


tributária, tem surgimento uma relação jurídica administrativa. Esta, por sua vez,
tem por sujeito ativo o contribuinte e por sujeito passivo a União, tendo em vista
que a obrigação de pagar, nessa relação, é da União.

Com efeito, trata-se de duas relações jurídicas, pois há inversão dos pólos da
obrigação.

3
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DIREITO TRIBUTÁRIO

1.4. Restituição
Representando a relação jurídica administrativa, a restituição reputa-se obrigatória.
Portanto, decorrido o prazo e preenchidas as condições, deverá o sujeito ativo (outrora
devedor do tributo) ser restituído do valor pago, devidamente corrigido.

Os prazos e condições de resgate deverão ser fixados na própria lei que institui o
tributo, criando assim, ao contribuinte, o direito subjetivo de receber o valor “emprestado”
compulsoriamente à União.

Faz-se oportuno frisar que a restituição deve ser integral e com valores devidamente
atualizados, efetuada em moeda, cumprindo assim princípio constitucional que veda o
confisco.

2. CONTRIBUIÇÕES PARAFISCAIS (OU SOCIAIS)

2.1. Introdução
Modalidade tributária prevista nos artigos 149 e 195 da Constituição Federal, as
contribuições parafiscais são instituídas pela União.

A parafiscalidade traduz-se pela delegação da capacidade tributária ativa, com a


conseqüente utilização do montante arrecadado pela entidade autorizada (entidade
beneficiada pela delegação). Tal benesse é concedida por meio de lei, só podendo se voltar
em favor de pessoas jurídicas de direito público (como autarquias) e de pessoas jurídicas
de direito privado perseguidoras de finalidade pública (SESI, SESC, SENAI, SENAC).

Assim, contribuições parafiscais ou sociais são tributos arrecadados por pessoas


diversas daquelas que procederam na sua instituição.

A hipótese de incidência da contribuição parafiscal determinará sua natureza, que


poderá ser de imposto ou de taxa.

2.2. Classificação das Contribuições (Artigo 149 da Constituição


Federal)
As contribuições sociais (parafiscais) possuem finalidades específicas e, de acordo
com essas, classificam-se em:

• Contribuição social de intervenção no domínio econômico: possuem função


meramente extrafiscal. Assim, não se destinam à arrecadação de recursos
financeiros e sim, exclusivamente, a intervir no domínio econômico.

4
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DIREITO TRIBUTÁRIO

• Contribuição social de interesse de categorias econômicas ou profissionais: na


lição de Hugo de Brito Machado, temos que esta se trata de contribuição
“destinada a propiciar a organização dessas categorias, fornecendo recursos
financeiros para a manutenção de entidade associativa”.

Não devemos confundir essa contribuição com a mencionada no artigo 8. o, inciso


IV, da Constituição Federal que tem como finalidade o “custeio do sistema confederativo
da representação sindical respectiva, independentemente de contribuição prevista em lei”.
Para o mestre anteriormente citado, esta última é contribuição de natureza não-tributária,
semelhante à contribuição cobrada por qualquer associação civil.

• Contribuição social de custeio da Seguridade Social: contribuição que possui


bases mais sólidas em nossa Carta Magna, havendo menção a ela nos artigos
195, incisos I, II e III, e § 6º, e artigo 194, inciso VII, os quais demonstram-se os
pilares de sustentação desta espécie de contribuição social.

A Constituição Federal determina que na instituição de contribuições sociais devem


ser observados os princípios da legalidade e da anterioridade.

As contribuições sociais de intervenção no domínio econômico possuem caráter


extrafiscal; já as de interesse de categorias econômicas ou profissionais e de seguridade
social possuem caráter parafiscal.

As contribuições sociais são tributos qualificados pela finalidade. Dentro do seu


campo de competência, a União pode criar por meio de lei ordinária taxas ou impostos
relacionados a quaisquer desses fins. Assim, tais contribuições não caracterizam nova
espécie de tributo, mas sim taxas ou impostos de finalidade específica.

O § 1.º do artigo 149 (parágrafo único, renumerado pela Emenda Constitucional n.


33/01) traz uma exceção ao caput, pois autoriza os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios a instituírem contribuições sociais para custeio da Seguridade Social estadual,
distrital e municipal, desde que mantenham sistemas próprios de Previdência e Assistência
Social para seus funcionários.

2.3. Contribuições para a Seguridade Social (Artigo 195 da


Constituição Federal)
Trata-se de importante espécie de contribuição social, disciplinada pelo artigo 195,
incisos I, II e III, § 6.º, e ainda pelos artigos 165, § 5.º, e 194, inciso VII, todos da
Constituição Federal.

São tributos destinados ao custeio da Seguridade Social, financiada por toda a


sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Nos incisos I a
III, encontram-se arroladas as contribuições sociais existentes, como se passa a verificar.

5
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DIREITO TRIBUTÁRIO

O inciso I trata das contribuições patronais (cujo sujeito passivo é o empregador, a


empresa e a entidade a ela equiparada nos termos da lei) que revestem-se da natureza dos
impostos, vez que sua hipótese de incidência é fato desvinculado de uma atuação estatal, e
incidem sobre:

• a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a


qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;

• a receita ou o faturamento;

• o lucro.

O inciso II trata das contribuições dos empregados (do trabalhador e dos demais
segurados da Previdência Social). Essas contribuições revestem-se da natureza jurídica das
taxas, uma vez que são cobradas em decorrência de o serviço de Previdência Social ter sido
colocado à disposição do empregado. É de se salientar que, consoante o inciso II, não é
possível incidir referida contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime
geral da Previdência Social.

O inciso III trata das contribuições incidentes sobre a receita dos concursos de
prognósticos. Tal expressão refere-se aos jogos pelo Poder Público fomentados. A título de
exemplo, temos a loto, a sena, dentre outros.

No § 6.º encontramos uma regra específica sobre o princípio da anterioridade para


essa espécie tributária. É a denominada anterioridade mitigada ou nonagesimal.

Segundo tal parágrafo, as contribuições previstas no artigo 195 podem ser exigidas
90 dias após a publicação da lei que as instituiu ou aumentou.

Abaixo, segue organograma a respeito das contribuições acima explicitadas, a fim


de facilitar a fixação da matéria.

2.4. Quadro Sinótico das Contribuições Sociais


-de intervenção no domínio econômico (União);

Contribuições -de interesse de categorias profissionais/econômicas (União);

Sociais - patronais;

-de seguridade social (U, E, M e DF) - empregados;

- sobre a receita de
concursos de prognósticos

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MÓDULO IV

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Drogas
Leis n. 6.368/76 e n. 10.409/2002

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Drogas

Leis n. 6.368/76 e n. 10.409/2002

Luiz Fernando Vaggione

1. ARTIGO 17 - VIOLAÇÃO DE SEGREDO

“Violar de qualquer forma o sigilo de que trata o art. 26 desta Lei:

Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) meses, ou pagamento de 20 (vinte) a 50


(cinqüenta) dias-multa, sem prejuízo das sanções administrativas a que estiver sujeito o
infrator”.

O crime ora estudado é próprio, porquanto só pode ser praticado por funcionário
público, desde que tenha tomado conhecimento do objeto do sigilo em razão da função.
Essa qualificação doutrinária sustenta-se na parte final do preceito secundário da norma, na
qual está ressalvada a aplicação das sanções administrativas ao infrator. É uma norma
especial em relação ao artigo 325 do Código Penal (violação de sigilo funcional). O artigo
17 tipifica penalmente o sigilo estabelecido no artigo 26 da Lei n. 6.368/76:

“Artigo 26 – Os registros, documentos ou peças de informação, bem como os autos


de prisão em flagrante e os de inquérito policial para apuração dos crimes definidos nesta
Lei serão mantidos sob sigilo, ressalvadas, para efeito exclusivo de atuação profissional, as
prerrogativas do juiz, do Ministério Público, da autoridade policial e do advogado na forma
da legislação específica”.

O crime definido no artigo 17 consuma-se com a divulgação do fato protegido pelo


sigilo, não se exigindo a ocorrência de dano.

Embora a pena privativa não supere um ano, a existência de procedimento especial


afasta a competência do Juizado Especial Criminal (artigo 61 da Lei n. 9.099/95). Registra-
se a corrente doutrinária que sustenta a aplicação da Lei 10.259/2001 – Lei dos Juizados
Especiais Criminais Federais – no âmbito da Justiça Estadual Comum. Nessa hipótese, o
artigo 17 também passaria a ser considerado infração de pequeno potencial ofensivo, posto
que a nova Lei dos Juizados Criminais aumentou o limite da pena máxima para dois anos e
não faz ressalva à existência de procedimento especial para a apuração e julgamento do
delito. Como já foi por nós mencionado, quando do estudo do artigo 16, o Procurador-
Geral de Justiça do Estado de São Paulo recomendou aos integrantes da Instituição, por
meio do Aviso n. 74/02, de 06/02/2002, a não incidência da Lei dos Juizados Federais
Criminais no âmbito estadual.
1
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

É viável a suspensão condicional do processo, isto é, o sursis processual.

2. ARTIGO 18 - CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Nas hipóteses taxativamente previstas no artigo 18, incidirá um aumento de 1/3 a


2/3. Referido incremento de pena refere-se exclusivamente aos crimes previstos nos artigos
12, 13 e 14 da Lei n. 6.368/76.

As hipóteses previstas no incisos I do artigo 18 só são aplicáveis na Justiça Federal,


porque inseridas na competência dessa Justiça: tráfico internacional e extraterritorialidade
da lei penal.

No caso do inciso II, o legislador levou em consideração a função ou a atividade


desempenhada pelo agente. Trata-se de duas situações:

• agente que se prevalece de função pública relacionada com a repressão à


criminalidade para a prática do tráfico de drogas;

• agente que, mesmo não desempenhando função pública, tenha a missão de


guarda ou vigilância de drogas que possam causar dependência.

O inciso III, por sua vez, contém duas causas de aumento. São elas:

• crime decorrente de associação. Essa causa de aumento não incide sobre o artigo
14, para evitar bis in idem em matéria penal. Recai, no entanto, nos casos de
mero concurso de pessoas;

• cometimento de crime visando a menor de 21 anos ou a quem tenha, por


qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou a de
autodeterminação.

No caso do inciso IV, o local da prática do crime é fundamento para a maior


severidade na punição. Lembramos, por exemplo, a prática do tráfico de entorpecentes nas
proximidades ou no interior de estabelecimentos de ensino, penitenciários, ou de recintos
onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza.

3. ARTIGO 19 – INIMPUTABILIDADE OU SEMI-IMPUTABILIDADE

2
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Aplica-se o disposto no artigo 19 qualquer que seja a infração penal cometida, isto
é, prevista ou não na Lei n. 6.368/76. Se, ao tempo da ação ou omissão, em razão de
dependência químico-toxicológica ou em função de efeito de substância entorpecente
proveniente de caso fortuito ou força maior, não tinha o agente a capacidade de entender o
caráter criminoso do fato, tampouco de determinar-se de acordo com esse entendimento,
será absolvido. Sendo a causa da inimputabilidade a dependência, será imposto ao réu um
tratamento (artigo 29 da Lei n. 6.368/76).

Cuidando-se de semi-imputabilidade, o réu será condenado. Sua pena poderá ser


reduzida de 1/3 a 2/3, nos termos do parágrafo único do artigo em estudo. A pena privativa
de liberdade não poderá ser convertida em tratamento, tal como ocorre no Código Penal.
Caso o condenado necessite de tratamento, esse lhe será dado no estabelecimento
penitenciário, aplicando-se o artigo 11 da Lei supracitada.

O juiz é obrigado a indagar ao réu, no momento do interrogatório, acerca da


dependência, depois de esclarecê-lo sobre as conseqüências da resposta.

4. CRIMES PREVISTOS NA LEI N. 6.368/76

4.1. Procedimento
Há, atualmente, controvérsia sobre qual o procedimento aplicável aos crimes
definidos na Lei n. 6.368/76. A divergência decorre da entrada em vigor da Lei n.
10.409/2002. Nela, nos artigos 27 e seguintes, está disciplinado um novo rito, muito mais
amplo e, conseqüentemente, mais benéfico ao acusado. Daí porque sustentamos que ele
deve ser aplicado para evitar eventual nulidade do processo ab initio, caso a jurisprudência
venha a consagrá-lo.

A doutrina sustenta, majoritariamente, que o procedimento a ser adotado em relação


aos crimes da supracitada Lei Antitóxicos deva ser o definido na Lei n. 10.409/2002.
Alguns dispositivos da Lei n. 6.368/76 continuarão a ser aplicados para suprir omissões,
lacunas existentes na nova Lei. É o que ocorre, por exemplo, com o tema da
responsabilidade do agente face à eventual dependência química ou em razão de efeito de
droga que causa dependência física ou psíquica, desde que decorrente de caso fortuito ou
força maior. É também omissa a Lei n. 10.409/2002 sobre o questionamento ao réu sobre a
aludida dependência no ato do interrogatório, momento propício para a determinação de
instauração do respectivo incidente.

Há, no entanto, orientação diversa quanto ao procedimento a ser seguido. Sustenta-


se que a redação do artigo 27 da Lei n. 10.409/2002 impede a aplicação do novo
procedimento. O artigo 27 dispõe: “O procedimento relativo aos processos por crimes
definidos nesta Lei rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente,
as disposições do Código Penal, do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal”
(o negrito é nosso). O argumento é simples: Como não há crimes previstos na Lei n.
3
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

10.409/2002, porquanto foram todos vetados pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da


República, não há como se aplicar o novo procedimento a eles relativo. O argumento, com
a devida vênia, é frágil. O veto de grande parte dos dispositivos da nova Lei Antitóxicos,
com a preservação daqueles referentes ao procedimento, está a demonstrar a nítida
intenção de vê-los aplicados.

Recente pesquisa realizada com os juízes criminais do Fórum Central da Capital de


São Paulo, por nós coordenada, indicou que, dos 57 magistrados entrevistados no período
de abril e maio de 2002:

• 33 juízes não estão aplicando o novo procedimento. Logo, adotam o rito


disciplinado na Lei n. 6.368/76. O fundamento do posicionamento reside na
redação do artigo 27 da Lei n. 10.409/2002.

• 14 magistrados observam o procedimento da lei nova.

• Os demais, num total de 10 juízes, ou estão: estudando a questão (cinco), ou


recusaram-se a responder a pesquisa (quatro), ou estão aplicando só parte do
novo procedimento (Capítulo V). Registro que apenas um magistrado está
aplicando exclusivamente o Capítulo V da Lei n. 10.409/2002 (artigos 37 a 45).

O resultado da pesquisa serviu, em primeiro lugar, para demonstrar a diversidade de


opções adotadas pelos juízes, o que gera, inevitavelmente, insegurança para as partes. Por
outro lado, a pesquisa afastou a impressão inicial de que o novo procedimento não estaria
sendo adotado pelos magistrados e promotores de justiça.

Diante dessa situação instável, decidimos manter a abordagem do procedimento


previsto na Lei n. 6.368/76. Por essa mesma razão abordaremos as principais novidades
trazidas pela Lei n. 10.409/2002. Ressaltamos, mais uma vez, que a adoção do
procedimento da lei nova é mais amplo, portanto oferece maior possibilidade de defesa.
Basta salientarmos a defesa preliminar introduzida antes da decisão de recebimento ou
rejeição da denúncia (artigo 38, caput).

O procedimento previsto na Lei n. 6.368/76 é célere e concentrado, tendo sido


disciplinado em seus artigos 20 e seguintes. O procedimento é o mesmo para os crimes
punidos com reclusão ou detenção, aplicando-se subsidiariamente o Código Penal e o
Código de Processo Penal. Havendo conexão entre crime previsto na citada Lei Antitóxicos
com outra infração penal, aplica-se o procedimento mais amplo, ou seja, aquele que ensejar
maior amplitude de defesa. Nem sempre corresponderá àquele previsto para a infração
mais grave. Nos casos de competência da Justiça Federal, não havendo na comarca sede de
vara federal, aplica-se o artigo 27. Conseqüentemente, o processo tramitará na Justiça
Comum Estadual até a sentença.

4
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4.1.1. Resumo do procedimento:


• Inquérito policial: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder
Judiciário é de cinco dias. Na hipótese de liberdade, o prazo é de trinta dias,
podendo ser prorrogado (§ 1.° do artigo 21).

• Denúncia: oferecimento no prazo de três dias, independentemente de o acusado


estar preso ou solto. O artigo 22, § 1.º permite que a denúncia seja embasada
com o laudo de constatação de substância entorpecente. Porém, para o debate
entre as partes e, evidentemente, para a sentença é necessário o laudo de exame
químico-toxicológico. Cinco é o número máximo de testemunhas.

• Recebimento ou rejeição da denúncia: 24h. O juiz não pode desclassificar o


crime no momento do recebimento da denúncia. Tal situação equivale à rejeição
da peça acusatória, ensejando a interposição de recurso em sentido estrito.

• Citação em 24h: no caso de citação ficta, o prazo do edital é de cinco dias.


Aplica-se o artigo 366 do Código de Processo Penal – suspensão do processo e
da prescrição – nas hipóteses legais.

• Interrogatório: cinco dias após o recebimento da denúncia. Além das perguntas


previstas no artigo 188 do Código de Processo Penal, deverá o juiz indagar sobre
eventual dependência, explicando ao réu as conseqüências de sua resposta. A
afirmação do réu não obriga o juiz a instaurar o incidente, caso não estejam
presentes os elementos indicadores da dependência. A infração penal imputada é
irrelevante: a indagação sobre a dependência será sempre necessária, mesmo que
se trate de traficante.

• Defesa prévia: três dias após o interrogatório, oportunidade em que o defensor


poderá arrolar até 5 testemunhas.

• Despacho saneador: 48h da defesa prévia. O despacho saneador tem tríplice


finalidade: a) sanar vícios de forma; b) designar audiência de instrução e
julgamento; c) determinar o que for necessário para a realização da audiência de
instrução e julgamento, tal como, a intimação das partes, a juntada do laudo
químico-toxicológico, notificação para as testemunhas etc.

• Audiência de instrução e julgamento. A Lei n. 6.368/76 determina a designação


da audiência no prazo de oito dias do despacho saneador, ou em 30 dias, se tiver
sido instaurado o incidente de dependência. Instalada a audiência, são ouvidas as
testemunhas de acusação e de defesa. Em seguida, são realizados os debates
orais pelo prazo de 20 minutos, prorrogável por mais 10 minutos, caso seja
necessário. Na seqüência, o juiz prolata a sentença. Caso não se sinta habilitado
para decidir a lide de imediato, poderá fazê-lo no prazo de 5 dias (artigo 23, §
3.°).

5
__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

• Recursos: aplica-se o Código de Processo Penal subsidiariamente.

• Prazos procedimentais: o artigo 35, parágrafo único, da Lei n. 6.368/76,


determina que os prazos procedimentais e, segundo a doutrina, os processuais
também, devam ser contados em dobro quando se tratar dos crimes dos artigos
12, 13 e 14 da referida Lei. Essa norma não alterou os prazos recursais. Refere-
se, portanto, exclusivamente ao inquérito policial e à instrução processual. A
jurisprudência fixou em trinta e oito dias o prazo para encerramento da instrução.
Aplicando-se o parágrafo único do artigo 35, teremos o prazo de 76 dias para
encerrá-la. De qualquer forma, lembre-se que tal prazo admite dilação
justificada, na hipótese de complexidade do processo.

• Competência: como regra, a competência para processamento e julgamento dos


crimes previstos na Lei é da Justiça Comum Estadual. Na hipótese de tráfico
internacional a competência é da Justiça Comum Federal. Lembre-se do artigo
27 da Lei Antitóxicos, aplicado quando na comarca não houver sede de vara
federal. Nessa hipótese, o processo tramitará perante a Justiça Estadual até a
publicação da sentença. Eventual recurso de apelação será endereçado ao
Tribunal Regional Federal.

4.2. Procedimento – Lei n. 10.409/2002


Visando dar maior clareza e objetividade na abordagem do novo procedimento,
alinhamos na seqüência as principais novidades introduzidas pela nova Lei. Assim,
podemos salientar que o legislador:

1.º) Visou ampliar o leque de meios operacionais de investigação, sem afastar


aqueles criados e disciplinados na Lei do Crime Organizado (Lei n. 9.034/95), na Lei de
Interceptações Telefônicas (Lei n. 9.296/96), ou no Código de Processo Penal. Veja o
quadro:

Lei n. 10.409/2002

Infiltração de policiais Artigo 33, inciso I

Não-atuação policial Artigo 33, inciso II

Acesso a dados, documentos e Artigo 34, inciso I


informações

Vigilância de contas bancárias Artigo 34, inciso II

Acesso a sistemas informatizados Artigo 34, inciso III

Interceptação telefônica e ambiental Artigo 34, inciso IV


6
__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

2.º) Fixou prazos mais dilatados e improrrogáveis para a conclusão do inquérito


policial, quer se trate de indiciado preso ou solto. Admitiu a duplicação desses prazos,
mediante autorização judicial. Veja o quadro:

Indiciado Preso

Lei n. 6.368/76 Lei n. 10.409/2002

Remessa do inquérito 5 dias 15 dias

Automática, no caso de Só para a conclusão e remessa do


Duplicação do prazo tráfico (artigo 35, inquérito, desde que deferida pelo
parágrafo único). juiz (artigo 29, parágrafo único).

3.º) Introduziu o instituto da revelação eficaz, permitindo ao Ministério Público


deixar de propor a ação penal ou a requerer a diminuição da pena, ao agente que revelar a
existência de organização criminosa, ensejando a prisão de um ou mais de seus membros;
viabilizar a apreensão da droga ou que, de qualquer maneira, contribuir para os interesses
da Justiça (§ 2.º do artigo 32):

Revelação Eficaz – Lei n. 10.409/2002

Previsão legal Artigo 32, §§ 2.º e 3.º

Iniciativa exclusiva Ministério Público.

Acordo Com o indiciado.

Fundamentação É necessária. O Ministério Público, atento aos


requisitos legais, apresentará a fundamentação ao juiz
natural do processo que, se for o caso, homologará o
acordo.

Homologação Exige-se pelo juiz, que verificará a fundamentação do


acordo estabelecido entre o Ministério Público e o
indiciado, à luz dos requisitos legais (artigo 32, § 2.º).
Trata-se da aplicação do princípio da oportunidade
regulada.

Requisitos 1.º Revelação espontânea ao Ministério Público;


7
__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

2.º Eficácia da revelação, o que consiste na obtenção


de um dos seguintes resultados: a) conhecimento da
organização criminosa, permitindo a prisão de um ou
mais de seus membros; b) apreensão da droga; c)
contribuição para os interesses da Justiça;
Revelação eficaz tardia Prevista no § 3.º do artigo 32, refere-se à revelação
ofertada pelo indiciado após o oferecimento da
denúncia, podendo o juiz deixar de aplicar a pena
(perdão judicial) ou reduzi-la de 1/6 a 2/3,
fundamentando sua decisão.

Conseqüências Arquivamento do inquérito policial, o que a lei


erroneamente denominou de “sobrestamento do
processo”, ou a redução da pena (artigo 32, § 2.º)

4.º) Permitiu a redução da pena, mesmo que a revelação eficaz seja posterior ao
oferecimento da denúncia (§ 3.º do artigo 32);

5.º) Manteve as demais opções oferecidas ao Ministério Público, tal como a de


requerer o arquivamento e a de requerer diligências, além, evidentemente, a de oferecer
denúncia. Veja o quadro:

Recebimento do inquérito policial e as opções do Ministério Público

Requerimento do arquivamento Artigo 37, inciso I

Requisitar diligências Artigo 37, inciso II. O inciso ora indicado


utilizou a palavra “requisitar”. Na
sistemática do Código de Processo Penal
as diligências devem ser requeridas ao
juiz.

Oferecer denúncia Artigo 37, inciso III

Deixar de propor a ação penal: Artigo 37, inciso IV


arquivamento dos autos

6.º) Fixou o prazo de 10 dias para o exame do inquérito policial, inclusive para o
oferecimento de denúncia. Não há possibilidade de alteração desse prazo, quer porque a
nova Lei não a prevê, quer porque o parágrafo único do artigo 35 da Lei n. 6.368/76 – que
previa a duplicação de prazos procedimentais e processuais nos casos de tráfico de
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__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

entorpecentes (artigos 12, 13 e 14) – foi tacitamente revogado pela Lei n. 10.409/2002.
Veja o quadro:

Indiciado Preso

Lei n. 6.368/76 Lei n. 10.409/2002

Oferecimento da denúncia 3 dias 10 dias

Automática, no caso de Esse prazo não admite


Duplicação do prazo tráfico (artigo 35, prorrogação ou duplicação.
parágrafo único).

7.º) Introduziu a defesa preliminar do denunciado, antes da decisão do recebimento


ou rejeição da denúncia. Trata-se de ato de defesa imprescindível, devendo o magistrado
suprir a eventual inércia do denunciado e de seu defensor. Diversamente do que
normalmente verificamos no procedimento ordinário (artigos 394/405 e 498/502 do
Código de Processo Penal), essa defesa prévia deve abordar inclusive questões
preliminares ao exame do mérito da acusação, tais como as exceções previstas no artigo 95
do Código de Processo Penal que, como sabemos, tem aplicação subsidiária. Por outras
palavras, a defesa prévia ora comentada deve esgotar todos os argumentos defensivos, de
modo que possa ser alcançada a rejeição da denúncia. Nessa defesa poderão ser juntados
documentos ou justificações e será o momento oportuno para a apresentação do rol e o
requerimento de oitiva de testemunhas, sob pena de preclusão.

8.º) Instituiu o interrogatório antes do recebimento da denúncia, como forma de


proporcionar ao denunciado um contato pessoal com o magistrado, dando maior eficiência
à sua autodefesa (artigo 38). Registramos, no entanto, que há divergência sobre a existência
desse interrogatório. Alguns sustentam, simplesmente sua inexistência, escorando-se na
redação ambígua do § 1º do artigo 28. Outros admitem sua existência, mas sustentam ser
impossível, no caso de denunciado preso, requisitá-lo no exíguo prazo de cinco dias. Essa
segunda objeção desconsidera um fato: a Lei n. 6.368/76 já determinava o interrogatório no
prazo de cinco dias (§ 3º do artigo 22).

9.º) Abriu ao Ministério Público a possibilidade de contrariar, se for o caso, os


argumentos apresentados na defesa prévia, no prazo de cinco dias. Observa-se, assim, a
instauração de um verdadeiro contraditório antes da decisão de recebimento ou rejeição da
denúncia.

10.º) Permitiu ao juiz determinar diligências, que serão concretizadas no prazo de 10


dias, antes da decisão de recebimento ou rejeição da denúncia, que deverá ser prolatada em
5 dias.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO IV
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

11.º) Manteve a audiência de instrução e julgamento, nela introduzindo o


interrogatório do réu, ao qual se seguirá a coleta da prova acusatória e defensiva. Encerrada
a instrução, haverá debates orais pelo prazo de 20 minutos – para cada uma das partes –
prorrogável por mais 10 minutos, a critério do juiz. Continua sendo possível a juntada de
memorial na audiência, procedimento adotado especialmente pelos advogados. Não há
previsão legal para a concessão de juntada de memoriais no prazo de três ou cinco dias da
audiência de instrução, praxe observada no dia-a-dia forense, sem o amparo da Lei. O
legislador quer que a decisão seja prolatada, de preferência, imediatamente após os
debates. Se o juiz não se julgar habilitado a fazê-lo imediatamente, poderá prolatar a
sentença em 10 dias.

12.º) O laudo de exame químico-toxicológico deverá ser juntado aos autos até o dia
anterior ao designado para a audiência de instrução e julgamento (parágrafo único do artigo
31).

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MÓDULO II

PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL


Ação de Nulidade de Casamento

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PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL

PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL

Ação de Nulidade de Casamento

O representante do MP ingressou com uma ação de nulidade de casamento alegando


que chegou ao seu conhecimento, por meio de atendimento ao público, que os cônjuges A e
B, na qualidade de irmãos, teriam se casado. Afirma o representante do parquet que o
varão A foi adotado pelo casal Y e Z e se casou em fevereiro de 1963 com a mulher B, filha
natural do casal Y e Z. Narra em sua inicial que a filha B do casal Y e Z contava com três
anos de idade quando adotaram o menino A, que contava com seis anos de idade. Afirma
representante do MP que o casamento realizado em 1963 é nulo por infringir o
impedimento absoluto do inc. V do art. 183 do CC. Requer a procedência da ação, a
declaração de nulidade do casamento com a aplicação de retroatividade de todos os efeitos,
não aplicando o regime de comunhão universal, mas sim a dissolução dos bens como uma
sociedade civil, nos moldes do art. 1.363 do CC, ante a impossibilidade de aplicação de
qualquer preceito de família para o casal. Requer, ainda, o cancelamento do registro civil e
do registro de imóveis para os bens imóveis comuns do casal. Ante a inexistência de filhos,
deixa de requerer disposição sobre guarda e visita.

O casal A e B contestou, alegando, em preliminar, ilegitimatio ad causam ativa do


MP para intentar ação de nulidade de casamento. Ainda em preliminar, requer a
impossibilidade jurídica do pedido ante a não incidência do inc. V do art. 183 do CC, já
que o adotado se casou com filho antecedente e não superveniente dos pais. Requer, ainda
em preliminar, falta de interesse de agir, alegando que o pedido é inadequado diante da não
incidência de qualquer norma legal sobre a hipótese em questão. Já em matéria de mérito,
requer a prescrição diante do fato do casamento ter sido realizada há mais de vinte anos,
com aplicação do art. 177, caput, do CC. Ainda no mérito, requerem as partes a aplicação
da putatividade, com pedido alternativo, sob a alegação de que estavam de boa-fé e que
ocorreu um erro de direito (error in iuris) no presente caso, pois desconheciam
completamente a norma do art. 183, inc. V, do CC, sendo o fato de total responsabilidade
da Serventia extrajudicial. Requerem, portanto, em caso da não manutenção do casamento,
a aplicação da putatividade em todos os seus efeitos, ficando ao arbítrio do julgado o
alcance da disposição.

As partes, tanto o autor quanto os réus, requereram o julgamento antecipado da lide


ante o fato da matéria ser exclusivamente de direito e ser desnecessária a dilação
probatória.

Sentencie.

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PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL

PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL

Nome

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MÓDULO II

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PRÁTICA DE PROCESSO PENAL

PRÁTICA DE PROCESSO PENAL

O PRIMO BASÍLIO, de EÇA QUEIROZ1

Prof. Luiz Fernando Vaggione


O exercício que ora se propõe, consiste na análise jurídico-penal do comportamento
da personagem Juliana, criada por Eça de Queiroz, que, além de notável escritor, foi
advogado em Lisboa (1867) e cônsul de Portugal em Havana (1872) e em Paris (1889).
Luísa, outra personagem, embora casada com Jorge, vive, às escondidas, intenso romance
com Basílio. Em razão desse relacionamento, trocam cartas. Essas correspondências são
subtraídas por Juliana, empregada da família.

Elabore, pois, a denúncia e a respectiva cota de oferecimento. Para tais tarefas,


considere os seguintes dados:

Data janeiro de 2003.

Local Rua Inglês de Souza, 85, São Paulo.

Autora Juliana, empregada doméstica.

Vítima Luísa

Observações. São três as cartas mencionadas no texto, tomadas de Juliana por


Sebastião, amigo de Luísa, antes que pudessem ser entregues ao
marido Jorge. Luísa, assim que as teve de volta, queimou-as. Não
obstante a grave ameaça, a vítima ela não se submeteu. Juliana jamais
recebeu os seiscentos mil-réis. Juliana morre, no romance. Para nós,
Atenção para entretanto, continua viva e respondendo a inquérito policial, em
o estudo da liberdade. Juliana não registra antecedentes criminais.
forma tentada
no crime a ser
imputado.

Vejamos agora, o que aconteceu ...

“... Eram quase nove horas quando a campainha retiniu com pressa. Julgou que seria
Joana de volta; foi abrir com um castiçal, - e recuou vendo Juliana, amarela, muito
alterada.

1
O primo Basílio. José Maria Eça de Queiroz. São Paulo : Ática 21ª ed. 1998.
1
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PRÁTICA DE PROCESSO PENAL

- A senhora faz favor de me dar uma palavra?

Entrou no quarto atrás de Luísa, e imediatamente rompeu, gritando, furiosa:

Então a senhora imagina que isto há de ficar assim? A senhora imagina que por seu
amante se safar, isto há de ficar assim?

- Que é mulher? – fez Luísa, petrificada.

- Se a senhora pensa, que por o seu amante se safar, isto há de ficar em nada? –
berrou.

- Oh mulher, pelo amor de Deus!...

A sua voz tinha tanta angústia que Juliana calou-se.

Mas depois de um momento, mais baixo:

- A senhora bem sabe que eu guardei as cartas, para alguma cousa era! Queria pedir
ao primo da senhora que me ajudasse! Estou cansada de trabalhar, e quero o meu descanso.
Não ia fazer escândalo; o que desejava é que ele me ajudasse... Mandei ao hotel esta
tarde... O primo da senhora tinha desarvorado! Tinha ido para o lado dos Olivais, para o
inferno! E o criado ia à noite com as malas. Mas a senhora pensa que me logram? – E
retomada pela sua cólera, batendo com o punho furiosamente na mesa:

- Raios me partam, se não houver uma desgraça nesta casa, que há de ser falada em
Portugal!

- Quanto quer você pelas cartas, sua ladra? – disse Luísa, erguendo-se direita, diante
dela.

Juliana ficou um momento interdita.

- A senhora ou me dá seiscentos mil-réis, ou eu não largo os papéis - respondeu,


empertigando-se.

- Seiscentos mil-réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil-réis?

- Ao inferno! – gritou Juliana. – Ou me dá seiscentos mil-réis, ou tão certo como eu


estar aqui, o seu marido há de ler as cartas!

Luísa deixou-se cair numa cadeira, aniquilada.

- Que fiz eu para isto, meu Deus? Que fiz para isto?

Juliana plantou-se-lhe diante, muito insolente.

- A senhora diz bem, sou uma ladra, é verdade; apanhei a carta no cisco, tirei as
outras do gavetão. É verdade! E foi para isto, para mas pagarem! – E traçando, destraçando
o xale, numa excitação frenética: - Não que a minha vez havia de chegar! Tenho sofrido
2
__________________________________________________________________________ MÓDULO II
PRÁTICA DE PROCESSO PENAL

muito, estou farta! Vá buscar o dinheiro onde quiser. Nem cinco réis de menos! Tenho
passado anos e anos a ralar-me! Para ganhar meia moeda por mês, estafo-me a trabalhar, de
madrugada até à noite, enquanto a senhora está de pânria1!

(...)

- A senhora chora! Também eu tenho chorado muita lágrima! Ai! Eu não lhe quero
mal, minha senhora, certamente que não! Que se divirta, que goze, que goze! O que eu
quero é o meu dinheiro. O que eu quero é o meu dinheiro aqui escarrado, ou o papel há de
ser falado! Ainda este teto me rache, se eu não for mostrar a carta ao seu homem, aos seus
amigos, à vizinhança toda, que há de andar arrastada pelas ruas da amargura!...”.

Bom trabalho!

1
Preguiça, indolência, ociosidade.
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PRÁTICA DE PROCESSO PENAL


Nome

Carreira

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO IV

EXERCÍCIOS
CURSO ANUAL

OPÇÃO 3

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ADMINISTRATIVO

1.Quanto ao critério da estrutura, como são classificadas as autarquias?

2.Diferencie descentralização de desconcentração?

3.Por meio de que atuam as pessoas jurídicas de Direito Público interno?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4.Quais as características das fundações públicas?

5.Como a autarquia é controlada pela Administração?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CIVIL

1. Em que momento a pessoa jurídica adquire capacidade? Não tendo o Novo Código
Civil repetido o artigo 17 do Código Civil de 1916, como são representadas as pessoas
jurídicas?

2. Diferencie associação, fundação e sociedade.

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

3. Discorra sobre a responsabilidade do Estado e suas fases.

4. Como estão classificados os bens reciprocamente considerados, apresentando cada um


dos elementos componente da classificação e a sua importância?

5. É possível contrato consigo mesmo?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO COMERCIAL

1. Como se classificam as corporações?

2. Quais são as características peculiares das sociedades civis?

3. Quais são as causas de dissolução parcial da sociedade comercial?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Quais os requisitos de validade do contrato social?

5. Fale sobre a teoria da desconsideração da pessoa jurídica.

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Como se classificam as Constituições quanto a sua origem?

2. O preâmbulo tem alguma importância para o texto da CF/88?

3. Há limites ao exercício do Poder Reformador na Constituição Federal? Justifique.

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. O que vem a ser o fenômeno da recepção? E da repristinação?

5. Discorra sobre a teoria da desconstitucionalização.

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. Quais os aspectos do poder de direção na relação de subordinação entre empregado e


empregador?

2. Qual a distinção entre empregado e outros trabalhadores?

3. Quais os elementos que caracterizam o empregado?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Quais as características do contrato de trabalho?

5. Discorra sobre os tipos de contrato de trabalho.

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ECONÖMICO E FINANCEIRO

1. Conceitue despesa pública.

2. Quais as classificações em face das despesas públicas?

3. Qual a finalidade do princípio da legalidade?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Quais as etapas para se realizar uma despesa pública?

5. Discorra sobre a disciplina constitucional e legal dos precatórios.

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ELEITORAL

1. Quando entrará em vigor a lei que alterar o processo eleitoral?

2. O indígena pode alistar-se?

3. Quais são as penalidades aplicadas a quem deixar de se alistar e votar?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Quando o TSE poderá determinar de ofício a revisão do eleitorado?

5. Quais são as causas de cancelamento da inscrição eleitoral?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO INTERNACIONAL

1. Qual o significado do Direito Internacional?

2. Que se entende por monismo com primazia no Direito Interno?

3. Discorra sobre o monismo com primazia no Direito Internacional.

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. O dualismo acredita na existência de duas ordens, quais são elas?

5. O que é preciso para que um Tratado tenha validade no nosso ordenamento jurídico vigente?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PENAL

1. Que vem a ser crime segundo as teorias finalista e clássica?

2. Pode haver crime sem culpabilidade?

3. Todo fato típico constitui crime?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Que se entende por norma penal em branco?

5. Qual a diferença entre o erro de tipo e o erro de proibição?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

1. Qual significado de dependentes de 1.ª classe e quem são eles?

2. Os pais adotivos são dependentes também? Qual a fundamentação legal e Constitucional?

3. Em que momento ocorre a perda da condição de dependente para cada grupo?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. O que vem a ser “período de carência dos Benefícios”?

5. Quando o filiado perde a condição de segurado e após um período volta a ser filiado é obrigado
a passar novamente pelo período de carência?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. Como deve ser interpretada a publicidade dos atos processuais?

2. Que se entende por prazos dilatórios e prazos peremptórios? É possível a dilação dos prazos
peremptórios?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

3. Quais as características dos atos processuais?

4. Discorra sobre as características da relação processual.

5. Quando é possível a instalação do litisconsórcio ulterior?


2
___________________________________________________________________________MODULO IV

3
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. O que se entende por inquérito policial?

2. Que ocorre se o Juiz discordar do pedido de arquivamento do inquérito policial feito pelo
Promotor de Justiça?

3. Uma causa excludente de antijuridicidade impede a instauração do inquérito policial?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Existe alguma hipótese taxativa de indispensabilidade do inquérito policial na ação penal


pública incondicionada?

5. Nos crimes de ação penal privada, qual o prazo para o ofendido ou seu representante legal
requererem a instauração do inquérito policial ?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. Que se entende por Empréstimo Compulsório e quando podem ser instituídos?

2. Que se entende por Contribuição Parafiscal? Qual natureza jurídica a reveste?

3. Quando o Empréstimo Compulsório pode ser entendido como um confisco?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Quanto a devolução do Empréstimo Compulsório, quando ocorre o desaparecimento da relação


jurídica tributária e o surgimento da relação jurídica de índole administrativa? Explique.

5. Conceitue taxa e contribuição de melhoria.

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITOS HUMANOS

1. O que significou o Tribunal de Nuremberg?

2. Discorra sobre os documentos internacionais que compõem o sistema global de proteção.

3. Quais os documentos que compõem o sistema regional interamericano?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Qual a finalidade da proteção dos direitos humanos?

5. Quais os principais objetivos da ONU e quais os órgãos que a compõe?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. Por que se diz que o art. 13 da Lei n. 6.368/76 é considerado como crime de conteúdo múltiplo
ou variável?

2. Qual o crime cometido pelo agente que foi surpreendido após ter consumido substância
entorpecente, nada sendo apreendido em seu poder?

3. Como se calcula a pena de multa na Lei Antitóxicos?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Quem é o sujeito ativo no crime de violação de segredo previsto no art. 17 da Lei n. 6.368/76?

5. Qual o prazo para remessa do Inquérito Policial ao Poder Judiciário e para o oferecimento da
denúncia nos casos de crimes previstos na Lei n. 6.368/76?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

MEDICINA LEGAL

1. Que é instrumento contundente?

2. Que é instrumento cortante?

3. Quais as principais características das feridas incisas?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. Que se entende por esgorjamento, degolamento e decaptação?

5. Que é equimose?

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1. O que se entende por Princípio da Proteção Integral?

2. Quais os direitos fundamentais previstos no ECA?

3. Quais são as restrições quanto a produtos e serviços no tocante à criança e ao adolescente?

1
___________________________________________________________________________MODULO IV

4. O artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente menciona o ensino fundamental. Que


relação tem isso com os Estados? E pais?

5. Quais são os princípios fundamentais do Estatuto da Criança e do Adolescente?

ATENÇÃO

As questões deverão ser respondidas de forma manuscrita, à tinta


azul ou preta, na própria folha de exercício, respeitando o número
de linhas disponíveis. Não esqueça de colocar seu nome em cada
uma das folhas. Sugerimos que seja adotado o período de 4 horas
para respondê-las, consultando apenas a legislação.

2
___________________________________________________________________________MODULO IV

GABARITO
Exercícios Objetivos - Módulo III
CURSO ANUAL – OPÇÃO 3

1 2 3 4 5
D. Administrativo C C C C C
D. Civil B A C A A
D. Comercial D C D A C
D. Constitucional C C A D D
D. do Trabalho A B C B A
D. Econ. e Financeiro A A B D C
D. Eleitoral B B A B A
D. Internacional B A C C D
D. Penal B C C B D
D. Previdenciário D D B C A
D. Proc. Civil A B C D D
D. Proc. Penal C C D C C
D. Tributário D A C A B
D. Humanos B B D A A
Leg. Penal Esp. B B/D C B C
Medicina Legal C D A D C
Tutela E D C C D

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