DIVERSAS
Manuel Bandeira foi um
dos escritores mais
Poesia e Prosa importantes de nossa
história. Nasceu no Recife,
Pode-se escrever em prosa ou em verso. no estado de Pernambuco,
Quando se escreve em prosa, a gente enche a em 1886.
linha do caderno até o fim, antes de passar para a Ele viveu bastante, morreu
outra linha. E assim por diante até o fim da página. com 82 anos, em 1968.
Em poesia não: a gente muda de linha antes do Quando era adolescente,
fim, deixando um espaço em branco antes de ir queria ser arquiteto para
para a linha seguinte. trabalhar com o pai, que
Essas linhas incompletas se chamam versos. era engenheiro, mas teve
Acho que o espaço em branco é para o leitor uma doença grave que o
poder ficar pensando. impediu de realizar o seu
Pensando bem no que o poeta acabou de dizer. sonho.
Algumas vezes, lendo um verso, a gente tem de E, assim, o Brasil ganhou
voltar aos versos de trás para entender melhor o um maravilhoso poeta.
que ele quer dizer. Dizem os estudiosos da
Principalmente quando há uma rima, isto é, uma poesia de Manuel Bandeira
palavra com o mesmo som de outra lida há pouco. que ele foi o maior
Elias José exemplo de poeta que
conseguiu colocar a vida
pessoal em suas obras
Trem de Ferro Pardalzinho O pardalzinho
nasceu Livre. Quebraram-
Café com pão
Café com pão lhe a asa. Sacha lhe deu
Café com pão uma casa, Água, comida e
Virgem Maria, carinhos. Foram cuidados
Que foi isto,
Maquinista?
em vão: A casa era uma
Agora sim prisão, O pardalzinho
Café com Pão morreu. O corpo Sacha
Agora sim
Voa, fumaça
enterrou No jardim; a alma,
Corre, cerca essa voou Para o céu dos
Ai seu foguista passarinhos!
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
ÔÔ...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste O Menino Doente O menino
Passa pasto dorme.
Passa boi
Passa boiada Para que o menino Durma
Passa galho sossegado, Sentada ao seu
Da inganzeira lado A mãezinha canta:
Debruçada no riacho
Que vontade
— "Dodói, vai-te embora!
De cantar! "Deixa o meu filhinho,
ÔÔ... "Dorme . . . dorme . . . meu .
Quando me prendero
. ." Morta de fadiga, Ela
No canaviá
Cada pé de cana adormeceu. Então, no
Era um oficiá ombro dela, Um vulto de
ÔÔ... santa, Na mesma cantiga,
Menina bonita
Do vestido verde Na mesma voz dela, Se
Me dá tua boca debruça e canta: — "Dorme,
Pra matar minha sede meu amor. "Dorme, meu
OÔ
Vou mimbora, benzinho . . . " E o menino
Vou mimbora dorme.
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
OÔ
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Porquinho-da-Índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que
dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo
do fogão! Levava ele prá sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não
gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas
ternurinhas . . . — O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
O Bicho Vi ontem
O Anel de Vidro Aquele pequenino anel que um bicho Na
tu me deste, – Ai de mim – era vidro e logo imundície do pátio
se quebrou… Assim também o eterno amor Catando comida
que prometeste, - Eterno! era bem pouco e entre os detritos.
cedo se acabou. Frágil penhor que foi do Quando achava
amor que me tiveste, Símbolo da afeição alguma coisa, Não
que o tempo aniquilou, – Aquele pequenino examinava nem
anel que tu me deste, – Ai de mim – era cheirava: Engolia
vidro e logo se quebrou… com voracidade. O
Não me turbou, porém, o despeito que bicho não era um
investe Gritando maldições contra aquilo cão, Não era um
que amou. De ti conservo no peito a gato, Não era um
saudade celeste… Como também guardei o rato. O bicho, meu
pó que me ficou Daquele pequenino anel Deus, era um
que tu me deste… homem.
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Poema tirado de uma
notícia de jornal
Andorinha Andorinha lá fora
João Gostoso era está dizendo: — "Passei o dia à
carregador de feira livre e toa, à toa!" Andorinha,
morava no morro da andorinha, minha cantiga é
Babilônia num barracão mais triste! Passei a vida à toa,
sem número Uma noite à toa . . .
ele chegou no bar Vinte
de Novembro Bebeu
Cantou Dançou Depois
se atirou na lagoa
Rodrigo de Freitas e
morreu afogado
Verdinho Bonitão
Para compromisso sério
Papagaio impaciente Centopéia de boa família
Contador de piada de salão Deseja um grilo namorado
Precisa achar uma Dono de sapataria
Arara urgente E bem apessoado.
Que não saiba dizer não
Almir Correia
Almir Correia
Plantei um abacateiro A noite foi embora
Para comer abacate Lá no fundo do quintal
Mas não sei o que plantar Esqueceu a lua cheia
Para comer chocolate Pendurada no varal
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em
pranto
Saudades do seu torrão...
De uma lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
Escravo Tocando Berimbau- DEBRET
E à meia voz responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez p’ra não o escutar!
“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem,
As Duas Flores
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!” São duas flores unidas.
“O sol faz lá tudo em fogo, São duas rodas nascidas
Faz em brasa toda areia; Talvez no mesmo arrebol,
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!”
Vivendo no mesmo galho,
“Aquelas terras tão grandes, Da mesma gora de orvalho
Tão compridas como o mar, Do mesmo raio de sol.
Com suas poucas palmeiras Unidas, bem como as penas
Dão vontade de pensar...” Das duas asas pequenas
“Lá todos vivem felizes, De um passarinho do céu...
Todos dançam no terreiro,
A gente lá não se vende
Como um casal de rolinhas
Como aqui, só por dinheiro.” Como a tribo de andorinhas
O escravo calou a fala, De tarde no frouxo véu.
O fogo estava a apagar; Unidas, bem como os prantos
E a escrava acabou seu canto, Que em parelha descem tantos
P’ra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
Das profundezas do olhar...
O escravo então foi deitar-se, Como o suspiro e o desgosto,
Pois tinha de levantar-se, Como as covinhas do rosto,
E se tardasse, coitado, Como as estrelas do mar.
Teria de ser surrado. Unidas... ai quem pudera
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Viver, qual vive esta flor,
Deita seu filho, calada, Na rama verde e florida,
E põe-se triste a beijá-lo Na verde rama do amor!
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio ao sono, Castro Alves
De seus braços arrancá-lo!
Castro Alves
A Avó Infância
A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha!... Sou pequeno
Teve tantos desenganos! E penso em coisas grandes:
Ficou branquinha, branquinha, Pomares e mais pomares,
Com os desgostos humanos. Jardins de flores e flores
E pelas montanhas e vales "htt
Hoje, na sua cadeira,
Grama verdinha e bosques URE
Repousa, pálida e fria, T
Com milhões de árvores PIC
Depois de tanta canseira DE
E cochila todo o dia, E asas de passarinhos. LU
E cochila a noite inteira. INC
Rios e mares de peixes
Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala... --- Aquários largos e livres
Entram rindo e papagueando: --- Ar dos campos e praias
Este briga, aquele fala, A manhã trazendo o dia,
Aquele dança, pulando... Com o sol da esperança
E a noite de sonhos lindos,
A velha acorda sorrindo,
E a alegria a transfigura; Nuvens calmas, lua e astros,
Seu rosto fica mais lindo, Minhas mãos pegando estrelas
Vendo tanta travessura, Neste céu de doce infância.
E tanto barulho ouvindo.
E pelas estradas claras
Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente, Meu cavalinho veloz
Passa os dedos engelhados, No seu galopar mais feliz:
Lentamente, lentamente, --- Eu e ele sorrindo,
Por seus cabelos, doirados. levando nosso cristal
para os meninos do mundo.
Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita: Cleonice Rainho
“Ô vovó! Conte uma história!
Conte uma história bem bonita!”
Cleonice Rainho
Aula de Português
Na lição de substantivos,
Cansada de concretos,
Começo a pensar
abstrato
E me faz bem.
Estilos
Alegria de brincar, A Lua Cheia adora
Nesta branca manhã, vestido de bolinha Diz
Com anjinhos nus, que realça as suas
Na pureza do céu. formas. A Lua Crescente
fica indecisa pra se vestir
Olhar de piedade, e acaba sempre pedindo
Gestos de amor emprestado o blue jeans
Vão colar as asas do Dragão Ariosto A Lua
Do passarinho caído. Minguante acha as lojas
do céu muito caras e
Vida e graça Deus dá, confecciona suas próprias
Mas gratidão é um dom. roupas na máquina de
O bem muita gente faz costura da Aranha
E é tão fácil de fazer. Tatanha A Lua Nova
adora os lenços e os
Doença e dor não, não laços, mas o que gosta
Nem quero saber. mesmo é de um abraço.
O COMETA O Cometa
não é estrela Nem
planeta, O Cometa é
viajante Estelar, Grande
rei andarilho, De bela
coroa E cauda a brilhar... Calhambeque O meu
avô Mambepe Tem um
calhambeque Muito
engraçado : Tem pneu
novinho, Tem banco
limpinho, É todo
enfeitado. Mas o que eu
acho Neste calhambeque
De mais engraçado É
seu requebrado Lento e
gozado.
O cacho Tenho um
brinquedo Que causa
arrepios Que corre, que
late, E que dá rodopios :
- É meu cachorrinho de
estimação. - Seu nome é
Cacho, meu vira-lata
fofão.