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SUSCEPTIBILIDADE À MASTITE: FATORES QUE A INFLUENCIAM - UMA

REVISÃO

FACTORS AFFECTING MASTITIS SUSCEPTIBILITY: A REVISION

Danívia Santos Prestes 1; Andreane Filappi1; Marcelo Cecim2

RESUMO

A mastite, clínica e subclínica, são consideradas como um problema potencial em


criações com finalidade de produção leiteira. O presente artigo de revisão é apresentado com
intuito de abordar os fatores determinantes associados à ocorrência de mastite. O
desencadeamento desta enfermidade está vinculado à complexa tríade: animal (hospedeiro),
agente etiológico e/ou meio ambiente. A prevenção e controle da mastite dependem do
conhecimento dos padrões de ocorrência da doença, que só se torna possível, através de um
estudo epidemiológico da situação. Em conclusão, os fatores determinantes que influenciam
na susceptibilidade à mastite incluem: resistência natural da glândula mamária; estágio da
lactação; hereditariedade; idade do animal; espécie, infectividade e patogenicidade do agente
etiológico; ordenha; manejo; clima e nutrição.
Palavras-chave: susceptibilidade, mastite.

ABSTRACT

The objective of the present paper is to review the present body of knowledge about
the factors affecting susceptibility to mastitis. Herd incidence of mastitis depends of a
complex relation between host, agent and environment. The risk factors associated with
mastitis incidence include: natural resistance of the mammary gland, stage of lactation, age,
species and pathogenicity of the etiological agent, management, climate and nutrition. Such
factors should be analyzed as a whole, and are the major target points to which diagnostic,
control and preventative measures must aim.
Key words: susceptibility, mastitis.

1
. Méd. Vet. Mestranda em Clínica Médica, UFSM. E-mail: dprestesvet@bol.com.br.
2
. Méd. Vet. PhD. Prof. Adjunto, Departamento de Clínica de Grandes Animais, UFSM.

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musculares, podem estar presentes


INTRODUÇÃO
conforme menciona HILLERTON (1996).
A glândula mamária é um órgão O desencadeamento da mastite está
singular, sob o ponto de vista de sua vinculado à complexa tríade: animal
complexidade fisiológica, biofísica e (hospedeiro), ao agente etiológico e/ou ao
anatômica (CUNNINGHAN, 1999). As meio ambiente, fazendo desta uma
infecções intramamárias (IIMs) ocorrem enfermidade multifatorial (HURLEY &
quando um agente (infeccioso, químico, MORIN, 2001). Como tal, a sua prevenção
mecânico ou térmico) agride a glândula e controle dependem do conhecimento dos
mamária, produzindo uma reação padrões de ocorrência da doença, que só se
inflamatória e danos ao epitélio glandular, torna possível, através de um estudo
caracterizando o quadro de mastite epidemiológico da situação. Neste contexto,
(CULLOR et al., 1993). Para BARKEMA o presente artigo de revisão é apresentado
et al. (1999a), essa enfermidade é com intuito de abordar os fatores
considerada como um problema potencial determinantes associados à ocorrência de
envolvido com perdas econômicas em mastite.
criações com finalidade de produção
leiteira. FATORES LIGADOS AO

Nas IIMs, a extensão da resposta HOSPEDEIRO

inflamatória varia de acordo com a natureza


Resistência natural
do estímulo e a capacidade de reação do
Uma glândula mamária normal é
animal. Reações brandas, sem alterações
protegida por uma variedade de
macroscópicas detectáveis, porém, com
mecanismos de defesa naturais frente às
alterações químicas e microbiológicas do
infecções. Esses mecanismos podem ser
leite evidenciam a mastite subclínica.
não imunológicos (inespecíficos) ou
Respostas inflamatórias mais severas,
imunológicos (GIRAUDO, 1996). O
mastite clínica, resultam em mudanças no
primeiro deles, está constituído por uma
aspecto da secreção láctea, incluindo as
barreira física que inclui canal e esfíncter da
alterações verificadas na forma subclínica,
teta, os quais possuem propriedades
contudo, há visíveis mudanças no tecido
defensivas como um mecanismo de oclusão
mamário e, alguns efeitos sistêmicos, como
relativamente eficiente, a roseta de
hipertermia, prostação e tremores
“Furtenberg’s” e ainda, proteínas
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bactericidas (NICKERSON, 1985; A segunda linha de defesa


HILLERTON, 1996). HURLEY & MORIN glandular, segundo GIRAUDO (1996),
(2001) mencionaram que após a ordenha o SURIYASATHAPORN et al. (2000) e
canal da teta torna-se dilatado e permanece HURLEY & MORIN (2001), está
assim por aproximadamente duas a quatro constituída pelo sistema imunológico, o
horas e, neste caso, o diâmetro e qual envolve imunidade celular e humoral.
comprimento do canal da teta influenciam A primeira é conferida pelos leucócitos que
na susceptibilidade à mastite, pois um canal são células efetoras do sistema imune. Os
curto facilita a saída de fluídos, porém tipos leucocitários incluem:
diminui a resistência às IIMs. Granulócitos (neutrófilos
Um mecanismo adicional de defesa polimorfonucleares - PMN, basófilos e
da teta citado por NICKERSON (1985) e eosinófilos): fagócitos que ingerem e
HILLERTON (1996), é o seu revestimento destroem materiais estranhos; contém
por uma camada de queratina (composta enzimas hidrolíticas e outras
por células epiteliais descamadas, ácidos antibacterianas.
graxos e proteínas catiônicas). Os autores Linfócitos (células T e células B): as
comentaram que há evidências de que a células T possuem em sua superfície uma
queratina tenha função de adsorver as estrutura de reconhecimento capaz de
bactérias, prendendo-as e removendo-as distinguir determinantes antigênicos.
juntamente com parte da camada de Existem dois tipos de linfócitos T, os
queratina durante o processo de ordenha. indutores e os citotóxicos. Os linfócitos T
Os ácidos graxos queratinizados (láurico, indutores participam na resposta
mirístico e palminoleico) estão associados à inflamatória por produzir citocinas, em
resistência as IIMs, agem como bactericidas resposta ao estímulo antigênico e induzem a
e bacteriostáticos, todavia, os ácidos diferenciação dos linfócitos B. As células B
esteárico, oléico e linolêico favorecem a atuam na síntese local de imunoglobulinas
susceptibilidade à mastite. Aos ácidos (GIRAUDO, 1996);
graxos queratinizados estão ligadas Monócitos (mononucleados):
proteínas que causam lise em algumas também denominados de macrófagos. São
células bacterianas Gram positivas. Fatores importantes na iniciação de respostas
que afetam a integridade da camada de imunes celulares e humorais, além de
queratina podem, portanto, afetar a atuarem na fagocitose de células estranhas
susceptibilidade às IIMs.

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(GIRAUDO, 1996; HURLEY & MORIN, A resposta imune humoral envolve


2001). um antígeno, constituído por um material
A fagocitose é um processo estranho que estimula uma resposta imune
complexo, através do qual os PMN específica e um anticorpo, constituído por
produzem, quando estimulados, interleucina uma proteína especial sintetizada pelos
(IL-1) e mediadores lipídicos, sendo linfócitos B e células plasmáticas, capaz de
estrategicamente posicionados nos locais de se combinar ao antígeno específico
defesa primários, como os ductos (HURLEY & MORIN, 2001). Os
alveolares. Os agentes estimulatórios anticorpos são divididos em classes de
envolvem microrganismos, toxinas proteínas denominadas de imunoglobulinas
microbianas, agentes inflamatórios, (IgG, IgM, IgA, IgD e IgE), cuja função é
complexos antígeno-anticorpo, entre outros. formar complexos antígeno-anticorpo, com
O circuito de defesa dos PMN é promovido intensificação da fagocitose, neutralização
por eventos que envolvem liberação de do antígeno e ativação do sistema de
substâncias quimiotáticas (HURLEY & complemento. Esse último é composto por
MORIN, 2001). SURIYASATHAPORN et uma série de proteínas sangüíneas, com
al. (2000) citaram que a presença desses interação de uma cascata enzimática que
fagócitos no leite, como células somáticas funciona integrando as respostas
(constituídas por leucócitos e células inflamatórias em casos agudos (GIRAUDO,
epiteliais), aumenta prontamente seguindo- 1996). SANTOS (2001a) mencionou que,
se a invasão bacteriana, quando agem atualmente, são conhecidos dois tipos de
reconhecendo, ingerindo e destruindo o vacinas contra mastite que
material estranho. Contudo, segundo comprovadamente apresentam efeito
VEIGA (1998), fisiologicamente as células positivo (J5 contra mastite causada por
somáticas também podem estar elevadas coliformes e uma vacina baseada em
durante a involução glandular e ainda em antígeno capsular de Staphylococcus
condições de estresse (pós-parto), aureus), ambas têm sido eficazes na
colostrogênese ou início da lactação. diminuição da severidade dos casos clínicos
NICKERSON (1985) mencionou que em e aumento da taxa de cura espontânea.
casos de mastite, o crescimento bacteriano
Estágio de lactação
ainda é inibido pela produção local de
Segundo HOGAN & SMITH
fatores solúveis (lactoperoxidase, lisozima e
(2001a), as IIMs podem suceder-se em
lactoferrina).
diferentes etapas da vida do animal. Parto,
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lactogênese e período seco constituem mencionaram que enterobactérias,


eventos reprodutivos que influenciam na causadoras de infecções durante o período
susceptibilidade à mastite (ELBERS et al., seco, têm habilidade em se manterem
1998). Durante o período seco a glândula quiescentes na glândula mamária até o
mamária passa por uma involução ativa, parto, subseqüentemente, causando mastite
principalmente nas duas semanas seguintes clínica durante fase inicial da lactação.
à secagem da vaca (WALDNER, 2001). De Na lactação e no processo de
acordo com ANDERSON & CÔTÉ (2001), ordenha em si há maior susceptibilidade de
estudos demonstraram que 35 % de todas as difusão de mastite contagiosa, já no período
novas infecções ocorrem durante esse seco e intervalos entre ordenhas a
período. HURLEY & MORIN (2001) susceptibilidade recai sobre mastites
mencionaram que nessa fase a glândula ambientais.
continua a secretar leite com o máximo
Hereditariedade e idade
acúmulo ocorrendo dois a três dias depois
A seleção genética visando
de suspensa a remoção do leite; a pressão
incremento na produção de leite foi
originada na glândula promove dilatação do
acompanhada por aumento a
canal da teta, predispondo à entrada de
susceptibilidade às IIMs. A conformação da
microrganismos para o interior do órgão.
glândula mamária e tetas constituem uma
As bactérias não são mais removidas pela
característica moderada a altamente
ordenha, o processo de fagocitose não é
herdável; tetas planas e cilíndricas são mais
eficiente em remover os materiais estranhos
susceptíveis a infecção do que as tetas de
e a desinfecção da teta já não é realizada;
formato cônico (mais resistentes)
fatores que favorecem a instalação de IIMs.
(HURLEY & MORIN, 2001).
Conforme ANDERSON & CÔTÉ (2001),
WANNER et al. (1998) concluíram
nesse período há outra fase crítica, as duas
em um estudo que a hereditariedade de
últimas semanas que antecedem ao parto,
IIMs no primeiro parto parece ser
quando ocorre a colostrogênese, processo
moderada, variando substancialmente a
que acomete alguns mecanismos de defesa;
incidência de IIMs entre famílias; nesse
no início da lactação também há
mesmo estudo ainda concluiu que vacas
susceptibilidade devido ao estresse sofrido
Holstein portadoras de deficiência de
no parto (glicocorticóides contribuem para
adesão leucocitária, uma condição
menor resposta das células de defesa).
autossomal recessiva, não diferem de vacas
BRADLEY & GREEN (2000)
não portadoras frente à susceptibilidade as
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IIMs. NICKERSON (2001a) em os fatores de risco diferem conforme essas


investigações sobre mastite em novilhas características. Os microrganismos que
verificou uma maior prevalência das IIMs comumente causam mastite podem ser
em animais da raça Jersey (67,7%), quando divididos em dois grupos, baseados na sua
comparado à raça Holstein (35%). origem: patógenos contagiosos e patógenos
Quanto à idade dos animais, ambientais (PEELER et al., 2000).
LADEIRA (1998) cita que fêmeas mais BODMAN & RICE (2001)
velhas (sete a nove anos) são mais mencionaram que o grupo dos
susceptíveis às IIMs, devido a lesões microrganismos contagiosos assume
internas e desgaste sofrido pelo esfíncter da importância, compreendendo
teta e pela glândula em si. Contudo, Staphylococcus aureus, Streptococcus
OLIVER et al. (2001) mencionaram que a agalactiae, Streptococcus dysgalactiae e
ocorrência das IIMs em novilhas com a uma série de patógenos “menores”
idade de acasalamento ou gestantes pode envolvidos geralmente em infecções
assumir grau significativo e persistir por subclínicas de menor severidade. Os
longos períodos de tempo, estando Staphylococcus freqüentemente causam
associada à elevada contagem de células mastite e são encontrados colonizando a
somáticas (CCS) e redução substancial da pele da glândula mamária, tetas e lesões
produção pós-parto. JONES & BAILEY Jr nessas áreas, porém, quartos mamários
(2001) comentaram que a transmissão entre infectados são o principal reservatório
animais pode ocorrer ainda na puberdade, desses microrganismos, sendo transmitido
por meio de amamentação cruzada. por qualquer forma de contato. Esse
WAAGE et al. (2001) mencionaram que patógeno foi considerado por PARDO et al.
em novilhas, a presença, antes do parto, de (1998), como o agente isolado com maior
edema de úbere, edema de teta, sangue no freqüência na etiologia de IIMs em vacas
leite ou vazamento de leite pelas tetas, está primíparas no período pós-parto (64% das
associada com aumento do risco de amostras positivas no exame
ocorrência de mastite clínica pós-parto. bacteriológico). Segundo HILLERTON
(1996), os Streptococcus agalactiae são os
Fatores ligados ao agente
microrganismos melhor adaptados à
A epidemiologia da mastite varia
glândula mamária, raramente são
consideravelmente dependendo da espécie,
encontrados fora dela; geralmente estão
quantidade, patogenicidade e infectividade
envolvidos em doenças clínicas agudas e
do agente envolvido e há evidências de que
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infecções subclínicas persistentes. Os microrganismos reflete a exposição à alta


Streptococcus dysgalactiae estão contaminação ambiental, pois
envolvidos com lesão nas tetas, sendo Streptococcus uberis tem sido isolado da
comumente associado à mastite no período cama, solo, fezes e urina. A fonte de água
seco. também pode contribuir para disseminação
O ambiente é definido por HOGAN de mastite, principalmente causada por
& SMITH (2001a) como a associação de coliformes, pela contaminação por matéria
condições físicas externas que afetam e fecal.
influenciam no crescimento, As IIMs causadas por patógenos
desenvolvimento e sobrevivência de um ambientais, segundo BRADLEY &
organismo ou grupo de organismos e, é no GREEN (2000), são mais freqüentes no
ambiente que se origina o segundo grupo de período seco em relação ao período
patógenos envolvidos nas IIMs, incluindo lactacional, podendo alguns animais
Escherichia coli, Klebsiella sp., desenvolver mastite crônica, agindo como
Streptococcus uberis, Enterobacter sp. e reservatório de patógenos. PEELER et al.
outros patógenos predominantemente (2000) citaram que agentes da espécie
oportunistas (Pseudomonas sp., Prototheca Arcanobacter (Actinomyces) pyogenes
sp., Nocardia sp., etc), que adentram a podem estar ligados a infecções agudas
glândula mamária quando os mecanismos nesse período e sua importância reside em
de defesa estão comprometidos. Esses levar a danos e perda de tecido secretório.
microrganismos requerem materiais Para BODMAN & RICE (2001), as IIMs
orgânicos como alimento, nestas condições por microrganismos contagiosos resultam
alguns materiais utilizados como cama para em elevação da contagem de células
os animais promove um ambiente propício somáticas (CCS), por vezes de longa
para propagação. A população bacteriana duração; em contraste, a resposta em
tende a estacionar seu crescimento em torno infecções causadas por microorganismos
de sete a dez dias, quando há um declínio ambientais é variável, devido as diferentes
por exaustão dos nutrientes na cama. respostas do sistema imune, conforme a
Conforme HOGAN & SMITH (2001b), característica patogênica de agentes
esses tipos de patógenos não sobrevivem específicos.
por longos períodos de tempo na pele das
tetas. Os mesmos autores ainda citaram que
colonização por um grande número de

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FATORES LIGADOS AO MEIO o vácuo excessivo pode levar ao


AMBIENTE deslizamento dos copos coletores,
ocasionando traumas nas tetas e/ou
Ordenha
ordenha incompleta, favorecendo a
De acordo com RASMUSSEN & penetração e colonização da glândula
MADSEN (2000), o equipamento de por patógenos. A sobreordenha
ordenha e o ato em si, seja mecânico ou influencia no risco de infecção, pois
manual, pode influenciar direta ou pode agravar o “mecanismo de
indiretamente na saúde da glândula impacto” (KRUZE, 1998);
mamária. Os aspectos negativos envolvidos 3. Propensão à exposição do orifício e
nesse processo e que podem influenciar na canal da teta aos patógenos, uma vez
susceptibilidade à mastite compreendem: que pode modificar as condições da teta
1. Facilidade de transmissão de patógenos (eversão do orifício, microlesões e
entre vacas e no mesmo animal pela vesículas hemorrágicas), favorecendo a
inadequada preparação da glândula para instalação das IIMs (SHEARER, 2001);
a ordenha (lavagem e secagem) e da 4. Modificação na teta e ambiente
ordenhadeira (copos coletores com intramamário, pois pode haver perda da
superfície interna contaminada agem integridade da membrana de
difundindo os patógenos entre os revestimento do canal da teta,
animais); proporcionando um meio favorável à
2. Pelas possíveis flutuações no sistema de colonização e multiplicação microbiana.
vácuo da ordenhadeira que A dor associada a esses casos conduz a
proporcionam o movimento de leite respostas neurohormonais, com
entre os copos coletores (teteiras), supressão da função imune e aumento
facilitando a difusão de microrganismos na probabilidade de instalação de
entre os quartos mamários; moléstias. A eficiência nos mecanismos
incrementam a penetração de de defesa locais e sistêmicos pode ser
microrganismos no canal da teta devido enfraquecida logo após a ordenha com
ao “mecanismo de impacto”, no qual há altos níveis de vácuo (RASMUSSEN &
movimento reverso do leite, gerado MADSEN, 2000).
pelas flutuações no sistema de vácuo, A questão de interação entre a teta e
impulsionando os microrganismos para os produtos germicidas utilizados em pré-
o interior da teta (SAINSBURY, 1998); imersão e pós-imersão deve ser considerada

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de acordo com NICKERSON (2001a), pois Manejo e clima


alguns germicidas podem ter efeitos As práticas de manejo estão
irritantes sobre a pele das tetas, resultando associadas com a susceptibilidade à mastite.
nesses casos em elevação na colonização A CCS pode auxiliar na descoberta dos
por patógenos. Essa irritação é provocada fatores determinantes da enfermidade. A
pela alta concentração do princípio ativo; alta CCS no pós-parto pode indicar que o
pela interação de diferentes substâncias animal foi exposto à má condição ambiental
químicas incorporadas em germicidas de (umidade, sujidades, insetos, etc) antes do
pré-imersão e pós-imersão; por produtos parto, ou ao inefetivo tratamento de
que alterem a permeabilidade do extrato infecções no período seco. A alta CCS no
córneo da teta, amplificando a ação irritante decorrer da lactação pode advir de
e pela formação de um filme protetor que imprópria prática e/ou equipamento de
pode favorecer o crescimento de ordenha (JONES & BAILEY Jr., 2001). Em
microrganismos. Segundo SANTOS um estudo realizado por BARKEMA et al.
(2001b), nesse caso, a eficácia depende da (1999b), naqueles estabelecimentos em que
duração de ação e capacidade de aderência o trabalho era executado por mão-de-obra
do produto. Em um estudo realizado em
familiar, a CCS no leite foi mais baixa (≤
rebanhos com baixa carga de células
150.000 células/ml) em relação àqueles
somáticas no leite, BARKEMA et al.
estabelecimentos onde a mão-de-obra era
(1999a) demonstraram que a desinfecção da
terceirizada, nos quais a CCS foi maior
teta pós-ordenha pode, por vezes, estar
(250.000 a 400.000 células/ml). Essa
associada com a taxa de incidência de
diferença foi atribuída às melhores
mastite clínica. Fato semelhante também foi
condições de higiene e atenção individual
verificado por ELBERS et al. (1998).
dispensadas aos animais no primeiro
NICKERSON (2001b) mencionou que os
estabelecimento.
microrganismos têm lugar na teta e sua
Para HOGAN & SMITH (2001c), as
habilidade de colonização e progressão à
instalações utilizadas assumem
mastite pode ser promovida ou reprimida
importância. Animais mantidos em baias
através de diferentes formulações
facilitam as práticas de manejo da fazenda,
germicidas, conforme as condições em que
porém podem contribuir para a
esses são utilizados.
susceptibilidade à mastite, uma vez que os
animais são mantidos sobre cama muitas
vezes constituída por material orgânico,
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excelente suprimento para os agir como difusoras de patógenos e


microorganismos ambientais, como já requerem um manejo diferenciado.
comentado. Sistemas como “free-stall” O clima, segundo RADOSTITS et
quando mal projetados, deficientes em al. (1994), assume importância em função
ventilação e drenagem, têm conseqüências das mudanças de temperatura e umidade
danosas à saúde da glândula mamária; que podem influenciar indiretamente na
nessas instalações a higiene assume tríade de fatores determinantes (hospedeiro,
importância primordial. Para NICKERSON agente e/ou meio ambiente) que afetam a
(2001a), atenção deve ser dispensada ao susceptibilidade à mastite.
combate aos insetos, uma vez que podem
Nutrição
atuar traumatizando as tetas, bem como
HOGAN & SMITH (2001c)
agindo como vetores para agentes
mencionaram que a dieta de uma vaca de
contaminantes, difundindo as infecções.
leite influencia na ocorrência de IIMs. De
Vacas mantidas a pasto, geralmente, têm
acordo com NICKERSON (2001a), certos
risco reduzido de contraírem mastite
nutrientes afetam diferentes mecanismos de
quando comparadas a animais confinados,
resistência, incluindo função leucocitária,
entretanto, algumas condições na pastagem,
transporte de anticorpos e integridade do
por exemplo, áreas baixas e alagadiças e/ou
tecido mamário. HOGAN & SMITH
sombreadas, forragem grosseira e áreas de
(2001c) comentam que componentes
aglomeração de animais, favorecem o
específicos da dieta têm demonstrado valor
desenvolvimento de microrganismos
como as vitaminas E e A, β-caroteno e
ambientais e, conseqüentemente, a
microminerais (selênio, cobre e zinco).
probabilidade de contaminações. Atenção
Evidências de importância recai
deve ser dispensada aos episódios de
sobre a vitamina E e o selênio, os quais
retroamamentação e amamentação cruzada
influenciam na função das células
em fêmeas jovens, hábitos que contribuem
fagocitárias (funcionam como
para o futuro estabelecimento da mastite.
antioxidantes). Logo, os animais com
PEELER et al. (2000) ainda
deficiência desses elementos têm risco de
comentaram sobre a aquisição de animais
contraírem mastite, com maior duração e
que, eventualmente, podem ser portadores
sinais clínicos mais severos. A função
de infecções. Essas fêmeas constituem um
primária do cobre, segundo MANITOBA
fator de risco frente ao rebanho, pois podem
(2001), refere-se à imunidade, é um
componente da enzima superóxido
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dismutase; porém, o excesso desse incluem: resistência natural da glândula


elemento deve ser evitado, pois aumenta o mamária; estágio da lactação;
estresse oxidativo. O zinco igualmente hereditariedade; idade do animal; espécie,
compõe essa enzima e está envolvido na infectividade e patogenicidade do agente
manutenção da pele e camada de queratina. etiológico; ordenha; manejo; clima e
O efeito da vitamina A na resistência as nutrição. Fatores como ordenha e manejo
IIMs está relacionada à manutenção do merecem atenção especial em função do
epitélio funcional, aumentando a resposta poder de difusão da enfermidade que têm
imune. O β-caroteno é o precursor da perante o rebanho. Todavia, todos os fatores
vitamina A e também age como supramencionados devem ser analisados no
antioxidante. conjunto e são pontos fundamentais a
Desordens metabólicas, segundo considerar para se direcionar e implantar
RADOSTITS et al. (1994) e SAINSBURY medidas preventivas e de controle ou
(1998), também são consideradas como um identificar falhas em programas de controle
fator determinante para a ocorrência de já instalados nas criações leiteiras.
IIMs. Casos de mastite têm sido reportados
REFERÊNCIAS
depois de episódios de hipocalcemia e
cetose. A desproporção na relação ANDERSON, N.G., CÔTÉ, J.F. Dry cow

concentrado:fibra promove igualmente therapy. [On line]. Disponível:

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balanço metabólico energético negativo. O acesso: 19 de julho de 2001].

tipo de fibra utilizado pode influenciar, haja


vista o exemplo das leguminosas ricas em BARKEMA, H.W., SCHUKKEN, Y.H.,

substâncias estrogênicas, que quando LAM, T.J.G.M., BEIBOER, M.L.,

ofertadas a novilhas podem predispor ao BENEDICTUS, G., BRAND, A.

desenvolvimento precoce da glândula Management practices associated with the

mamária, incrementando o risco de mastite incidence rate of clinical mastitis. Journal

ambiental. Dairy Science, v. 82, n. 8, p. 1643-1654,


1999a.
CONCLUSÕES

Os fatores determinantes que BARKEMA, H.W., VAN DER PLOEG,


influenciam na susceptibilidade à mastite J.D., SCHUKKEN, Y.H., LAM, T.J.G.M.,

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