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Rudolf Steiner

TEMPERAMENTOS E ALIMENTAÇÃO
Indicações médico-pedagógicas
Aspectos gerais

Duas conferências

Traducão:
Bruno Callegaro
(primeira conferência)
Jacira Cardoso

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(segunda conferência)
Indicações médico-pedagógicas

Tratemos hoje de questões higiênico-escolares, conforme já combinado com o dr.


Kolisko.1 Não poderei entrar já de início em detalhes sobre o tratamento de alunos, pois
para tanto é necessário fornecer alguns princípios básicos, o que servirá para um posterior
aprofundamento; este deverá decorrer de modo a que então se escolham alguns casos
típicos, resultantes das próprias perguntas que os Senhores formularão e desejarão ver
respondidas.
Em primeiro lugar, porém, eu gostaria de chamar-lhes a atenção para o fato de toda
a nossa pedagogia na escola Waldorf ser portadora de um caráter terapêutico. Todo o
próprio método de ensino e educação está orientado para atuar proporcionando saúde à
criança. Quando se orienta a arte pedagógica de modo a atuar corretamente em cada
época da evolução infantil na humanidade, isto significa que existe na educação, no
tratamento pedagógico das crianças, um elemento de saúde. Ou seja: se antes da troca
dos dentes a criança for corretamente transformada num ser que imita, vindo a
autoridade a intervir de maneira acertada, e se a formação de juízos for preparada
adequadamente, tudo isso atuará promovendo saúde no organismo infantil.
No entanto, o que é especialmente necessário na orientação de todo o nosso
comportamento na escola para uma certa higiene é, sobretudo, que ao próprio professor
se haja incorporado, como que em carne e sangue, a trimembração do organismo humano.
De certo modo, o professor deve ter instintivamente, junto a cada criança, uma
sensibilidade para pereceber se nela um destes três componentes do organismo humano —
o sistema neuro-sensorial, o sistema rítmico ou o sitema metabólico-motor — está
predominando em sua atividade, e se é indicado fazer algo para a compensação de um
predomínio danoso mediante o impulsionamento de um dos outros sistemas.
Contemplemos hoje, pois, de um ponto de vista especialmente importante para o
professor e educador, esse ser humano triplicemente constotuído.
Temos o sistema neuro-sensorial — e só o conceberemos corretamente quando
estivermos cônscios de que no sistema neuro-sensorial propriamente dito reinam leis que
não as físico-químicas da materialidade terrestre; e de que por meio dele o ser humano se
destaca, elevando-se do conjunto de leis dessa materialidade. Em sua configuração, o
sistema neuro-sensorial é inteiramente um resultado da vida pré-terrestre. O ser humano
o possui tendo-o recebido conforme essa vida pré-terrestre; assim sendo, pelo fato de
todas as leis materiais do sistema neuro-sensorial serem retiradas da materialidade
terrena, esse sistema neuro-sensorial também é adequado a desenvolver qualquer
atividade relacionada com o anímico-espiritual, e isto de uma maneira separada da
totalidade.
Com o sistema metabólico-motor acontece exatamente o oposto. Esse sistema é, de
todos os três sistemas do ser humano, o mais apropriado para continuar em si os processos
materiais externos; deste modo, quando por meio da física e da química se conhecem os
processos que se desenrolam na Terra, fica-se sabendo que certos processos se prolongam
para dentro do ser humano enquanto possuidor de um sistema metabólico-motor; nada,
porém, se chega a conhecer das leis situadas em seu sistema neuro-sensorial.
O sistema rítmico se encontra entre ambos e, de certo modo, já compensa os dois
extremos de acordo com a natureza de cada um.
Acontece, porém, que em cada ser humano, e principalmente nas crianças, os
sistemas são configurados individualmente. Sempre a atividade de um sistema predomina
sobre a outra, e deve-se fazer o necessário para que o equilíbrio se estabeleça. Para tal é
preciso ter a possibilidade de atentar ao modo como as crianças se exteriorizam — de
forma que a expressão, a exteriorização venha a ser, de certa maneira, a revelação do
que se deve fazer com a criança para tê-la sadia e de um modo completamente
1 O dr. Eugen Kolisko foi o primeiro médico escolar Waldorf. (N.E.)

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harmônico.
Cumpre então ter bem claro que no tocante à higiene, por exemplo, pode-se atuar
favoravelmente sobre o sistema neuro-sensoríal quando se sabe justamente adicionar aos
alimentos a correta medida de sal que as crianças devem ingerir. Sendo assim, ao notar
que uma criança tende, de certa maneira, a ser levemente desatenta, a passar
fugazmente por sobre o desempenho do professor à sua frente — também se poderia dizer
que a criança é por demais sangüínea ou fleumática —, deve-se atuar de modo que ela
tenha suas forças plasmadoras estimuladas, capacitando-a a ser mais intensamente atenta
ao mundo exterior; e isto acontece pela administração de sal. Quando se têm na escola
crianças desatentas, que desenvolvem superficialidade fugaz, é possível constatar que seu
organismo não elabora corretamente o ele rnento salgado. Se o caso for especialmente
evidente, em geral não bastará aconselhar a adição de sal aos alimentos. Notar-se-á que,
por qualquer displicência ou ignorância, os pais os salgam muito pouco; então se poderá
ajudar com conselhos. Mas também pode ser que o organismo como tal se recuse a
absorver o sal. Em tal caso, ajuda-se a absorção salina utilizando combinações de chumbo
numa dosagem proporcionalmente bem diluída. Ora, o chumbo é o que estimula o
organismo a elaborar corretamente o sal, até um certo limite. Se este é ultrapassado,
naturalmente o organismo adoece. Cumpre levar as coisas até um limite correto; e eu
diria que é preciso notar se uma criança apresenta, de certa maneira, osprimeiros
vestígios de uma disposição cerebro-raquítica. Muitas crianças têm isso. Então se notará a
necessidade de conduzir todo o processo de cura na linha que acabo de indicar.
Há, de fato, uma grande falha em muitos sistemas educacionais em que não se
atenta a tais coisas — nem se presta atenção, por exemplo, à aparência externa das
crianças. Pode-se ficar diante de uma escola e notar que existem crianças de cabeça
grande e crianças de cabeça pequena. Via de regra, as crianças de cabeça grande são as
que devem ser tratadas como eu lhes expus. As crianças de cabeça pequena não serão
tratadas assim, mas do modo que lhes exporei depois. Na configuração especialmente
grande da cabeça se evidencia fisicamente, portanto, o que apontei como sendo
fraquezas, tanto por superficialidade como por fleuma intensas demais.
E então temos aquelas crianças com a disposição eu diria contrária, cujo sistema
metabólico-motor não intervém com suficiente energia na atividade do ser humano como
um todo. Eu diria que tais crianças executam organicamente seu metabolismo mas não o
estendem suficientemente a todo o seu ser, conforme deve atuar o metabolismo em
relação ao organismo humano inteiro. Tais crianças evidenciam à observação externa o
gosto por ‘incubar’, mas também o fato de serem muito irritáveis por impressões
externas, reagindo fortemente demais a elas. Essas crianças têm todo o seu sistema
orgânico melhorado quando se cuida para que este receba corretamente sua quantidade
de açúcar.
Estudem, por favor, ao menos uma vez o desenvolvimento das crianças conforme a
seguinte orientação:
Há pais que superalimentam seus filhos, enquanto pequenos, com toda sorte de
bombons, etc. Tais crianças, quando vêm à escola, sempre se tornam alunos que só
querem preocupar-se consigo mesmos — tanto anímica quanto espiritualmente e, como
decorrência, também corporalmente; elas começam a incubar quando não sentem
suficientemente o doce em seu organismo, tornando-se nervosas, irritadiças ao lhes chegar
pouco açúcar. E preciso prestar atenção, pois se tais crianças receberem continuamente
açúcar aquém do necessário, aos poucos seu organismo se deteriorará. Ele se tornará
quebradiço, os tecidos se tornarão rígidos e frágeis, até perderem progressivamente a
capacidade de elaborar o açúcar alimentar de modo correto. É preciso, pois, cuidar para
que os alimentos sejam acertadamente adicionados de açúcar. Porém, pode ocorrer que
todo o organismo se recuse, de certa maneira, a elaborar corretamente a substância açú-
car. Nesse caso deve-se ajudar novamente esse organismo ministrando-lhe prata em doses
sutis.

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Ora, vejam: para o professor e educador, toda a vida anímico-espiritual da criança
pode tornar-se um tipo de sintomatologia para a organização correta ou incorreta do
corpo. Se uma criança mostrar pouca disposição para a atividade diferenciadora na
representação mental, se na representação mental ela confundir tudo, é porque o sistema
neuro-sensorial não está em ordem. Portanto, no esforço que se faz para fazer a criança
chegar à diferenciação obtém-se simultaneamente um sintoma de que o sistema neuro-
sensorial não está em ordem, devendo-se então proceder como lhes descrevi.
Se a criança tem pouca capacidade sintetizadora na representação mental, sendo
inapta para a representação construtiva; se não consegue formar imagens das coisas; se na
arte é uma espécie de pequeno botocudo, como é muito freqüente nas crianças de hoje,
isso é um sintoma de que o sistema dos membros e do metabolismo não está em ordem, e
então é preciso ajudar em outra direção, pelo lado do açúcar. É muito importante
verificar também, quanto ao aspecto higiênico-terapêutico, se a criança carece de
representação mental diferenciadora ou sintetizante-artística.
A isso se acresce outra coisa. Imaginem terem uma criança que nitidamente careça
dessa representação mental diferenciadora: isso pode ser um sinal de que ela desvia
demais seu corpo astral e seu eu da organização neuro-sensorial; então se faz necessário
cuidar para que, de alguma maneira, a criança tenha sua cabeça resfriada — por exemplo,
recebendo pela manhã uma lavagem fria. Se for outro o caso — em que a criança não é
artística, faltando-lhe o elemento mental representativo sintético, construtivo, e por isso
ela não sente calorosamente o que se deseja ensinar-lhe —, é porque o corpo astral não
quer intervir corretamente no organismo dos membros e do metabolismo; deve-se então
ajudá-la cuidando para que tenha os órgãos abdominais devidamente aquecidos na hora
adequada.
Não se deve subestimar tais coisas — elas são extraordinariamente importantes. E
realmente não se deveria considerar, por exemplo, como um desvio em direção ao
materialismo se, por exemplo, quando uma criança não tem disposição alguma para a
pintura ou não demonstra qualquer disposição para o musical, aconselha-se aos pais
fazerem nela uma compressa abdomial quente duas a três vezes por semana na hora de
deitar, conservada por ela durante a noite.
Vejam os Senhores: existe hoje um intenso desprezo pelas medidas materiais,
superestimando-se as medidas abstratas intelectuais. Dever-se-ia, porém, corrigir essa
falsa visão de hoje pela conscientização de que os poderes espirituais utilizam seu espírito
em relação à Terra alcançando tudo, até a maneira material de agir. Os poderes divino-
espirituais aquecem no verão e esfriam no inverno; trata-se de atuações espirituais
alcançadas pelos poderes divino-espirituais através de meios materiais. Se os deuses
fossem alcançar pela educação humana ou por preceitos morais ou intelectuais o que
conseguem fazendo o homem transpirar no verão e sentir frio no inverno, isso seria falso.
Sendo assim, os Senhores não devem subestimar a intervenção por meios materiais nas
crianças. Estas são coisas que sempre se deve ter em vista.
Eu diria que um outro sintoma para a mesma falha orgânica é o fato de, na carência
de pensamento sintético, aparecer o empalidecimento nas crianças. Elas empalidecem a
olhos vistos na escola. O empalidecimento das crianças deve ser tratado de maneira
semelhante à da condição em que o corpo astral não quer penetrar corretamente no
sistema metabólico-motor. E é pelos mesmos meios que se alcançará a diminuição do
empalidecimento, pois pelo fato de a criança receber compressas quentes na barriga seu
sistema metabólico-motor inteiro é efetivamente impulsionado, desenvolvendo-se todo ele
de uma maneira estimulada por todos os sistemas do organismo.
Se ele se desenvolve intensamente demais por intermédio de todo o sistema,
bastando-nos pouca coisa numa criança ali sentada — é só dizermos um mínimo e ela já
fica com a cabeça vermelha, irritando-se terrivelmente —, isso deve ser tratado
exatamente do mesmo modo como quando o corpo astral e o eu não querem penetrar
ordenadamente no sistema neuro-sensorial; então, como eu já disse, é necessário lavar a

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cabeça da criança com água fria pela manhã.
Para o professor e educador, é altamente importante ver como que de antemão o
estado de saúde da criança e poder atuar de modo profilático. Naturalmente, isto é menos
gratificante do que a cura quando o processo patológico é manifesto, porém é o mais
importante para a idade infantil.
Obviamente, sob certas circunstâncias é necessário fazer um processo retrair-se
depois de haver ajudado curando o organismo infantil nesta ou naquela direção. Eu diria
que se durante algum tempo os Senhores tratarem uma criança com chumbo da maneira
indicada, precisa-mão novamente cicatrizar o processo desencadeado em todo o
organismo. Sendo assim, caso hajam tratado por certo período uma criança com chumbo,
tendo obtido o resultado desejado, será bom tratarem-na por curto tempo com alguma
liga qualquer de cobre, a fim de não sobrar resto algum do processo evocado pelo
chumbo.
Se acaso tiverem a necessidade de tratar a criança por algum tempo com prata,
tratá-la-ão em seguida com ferro, para que o processo cicatrize interiormente.
Eu ainda gostaria de dizer o seguinte: quando se nota que de certo modo uma criança
se perde em seu organismo, não possuindo, portanto, a pertinente solidez interna —
digamos que, por exemplo, ela sofra muito de diarréia ou seja inábil na atividade motora,
estabanada com seus braços e pernas, deixando logo as coisas cair ao segurá-las —, tais
coisas são o primeiro germe de processos que irritarão intensamente a saúde mais tarde,
na vida da pessoa. Nunca se deveria irrelevar o fato de uma criança ter diarréias
freqüentes ou urinar demais, ou ser tão inábil ao pegar objetos que logo os deixe cair, ou
ainda demonstrar inabilidades ao segurá-los. Nunca se deveria simplesmente ignorar tais
coisas. O professor, por exemplo, sempre deveria ter um olhar aguçado — atuando assim,
eu diria, como médico higiênico — para observar como a criança é habilidosa ou
desastrada para segurar a alça de sua mala escolar ou o giz ao escrever na lousa. Menciono
estas coisas porque não se consegue muito apenas advertindo de vez em quando. Nesse
âmbito só pode atuar quem está em contínua atividade em sua classe. Em contrapartida,
os Senhores podem conseguir muito através de meios terapêuticos externos. Se mi-
nistrarem a essa criança fósforo em dose diluída, verão que se lhes tornará relativamente
fácil acertar-se com ela por meio de advertências relativas a inabilidades, às fraquezas
organicas que lhes descrevi. Fósforo ou então, quando a coisa se situa mais interiormente
— por exemplo, quando a criança desenvolve facilmente gases intestinais —, digamos,
enxofre. Se o problema for mais visível externamente, será a vez do elemento fosfórico.
Em tal caso, aconselhem aos pais acrescentar aos alimentos da criança algo contido em
vegetais de floração colorida. Falando radicalmente, tomem, por exemplo, uma criança
com forte enurese noturna: certamente os Senhores alcançarão muita coisa com um
tratamento à base de fósforo — mas também do lado dietético, justamente aconselhando
acrescentar-se um pouco de pimentão ou pimenta aos alimentos, enquanto necessário.
Isto deve ser ponderado pela maneira como a criança então evolui.
Nessas coisas, no entanto, é necessário que o corpo docente atue com acerto em
conjunto. Nós nos encontramos na feliz circunstância de possuir, na pessoa do dr. Kolisko,
um médico participante do corpo docente; e não se devem fazer indicações individuais
sem consultá-lo, pois é necessário um certo conhecimento químico-fisiológico para se
chegar ao juízo correto. Cada professor, porém, precisa desenvolver um olho clínico para
essas coisas.
Mas numa oportunidade como esta, meus queridos amigos, sempre se deve mencionar
novamente que já é sobretudo através do próprio ensino que se deve cuidar para que o
sistema neuro-sensorial, de um lado, e o sistema metabólico-motor, de outro, se inter-
relacionem corretamente. Toda irregularidade do sistema rítmico mostra que aqueles não
se comportam corretamente. Notando-se na criança uma sutil irregularidade na
respiração, cumpre atentar imediatamente para isso, pois eu diria que tal sistema é o
barômetro orgânico para a interação incorreta entre o organismo da cabeça e o

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metabólico-motor. Ao se notar algo assim, dever-se-ia imediatamente perguntar primeiro
o que é que não está em ordem na atuação conjunta de ambos os sistemas; mas em segun-
do lugar se deveria (hoje não quero entrar em detalhes sobre a higiene na sala de aula,
assunto que abordaremos da próxima vez; quero apenas mencionar certos princípios), da
mesma maneira, ter igualmente claro que no ensino se deve alternar adequadamente
entre um elemento que conduza a criança à sua periferia, à sua periferia corpórea, e um
que a leve a penetrar em si mesma.
Um professor de classe capaz de ensinar durante duas horas sem fazer as crianças rir
de algum modo é um mau professor, pois nunca possibilita que elas se dirijam à superfície
de seu corpo. Um professor que não consegue ao menos comover sutilmente as crianças,
de modo que elas se interiorizem, também é um mau professor; pois falando-se em
extremos, deve haver uma alternância entre o ambiente pleno de humor, quando as
crianças riem — não é necessário chegar ao riso: elas devem divertir-se internamente —, e
o ambiente trágico, comovente, choroso — elas não precisam chorar, mas têm de
interiorizar-se. Eis o que é necessário: criar ambiente anímico no ensino.
Se os Senhores carregam seu próprio peso — o que talvez seja até justificado em sua
vida particular — para dentro do ensino, realmente seria melhor que não fossem
educadores. É totalmente necessário também levar as crianças à periferia corpórea da
vivência experimentada. Caso não se consiga isso, pelo menos tente-se contar alguma
anedota no final da aula. Se durante toda a aula houvermos cansado as crianças da
maneira mais séria, tendo elas assumido formalmente uma espécie de rigidez na pele de
seu rosto pelo esforço cerebral, então conte-se ao menos no final qualquer coisa
engraçada; isto é algo totalmente necessário.
Bem, existe a possibilidade de pecar contra essas coisas em todas as direções. Por
exemplo, pode-se pecar contra toda a constituição sadia da criança ocupando-a durante
uma hora com o que habitualmente se chama de gramática. Basta as crianças se ocuparem
com a diferenciação entre tudo o que se denomina sujeito, objeto, atributo, indicativo,
subjuntivo, etc., com todas as coisas que só medianamente as interessam, e estaremos
colocando-as na situação em que, à medida que elas têm de distinguir se qualquer coisa é
indicativo ou subjuntivo, todo o seu desjejum, não influenciado pela alma, fica
cozinhando em seu organismo; e então se cultiva, para uma época talvez situada quinze a
vinte anos mais tarde, uma verdadeira indisposição gástrica na criança, como doenças
intestinais e assim por diante. As doenças intestinais provêm freqüentemente do ensino da
gramática. Já isto é extraordinariamente importante. E, realmente, toda a disposição
anímica que o professor traz para dentro da escola é transmitida às crianças através de
inúmeras tramas sutis.
Bem, a esse respeito já se falou muito nesta ou naquela ocasião, durante as
discussões anteriormente promovidas aqui. E é justamente nessa direção que a vivificação
interna de nosso ensino na escola Waldorf também precisa ainda de algumas melhoras. E
se nesse âmbito eu fosse dizer algo positivamente, mesmo assim sempre teria de enfatizar
novamente o fato de ser altamente desejável — eu sei que ideais não se cumprem de
imediato — que o professor Waldorf ensine desprovido de quaisquer anotações, estando
tão preparado que possa ministrar a aula sem dispor de qualquer coisa anotada para a qual
escape durante o ensino. Pois é no momento em que ele tem necessidade de consultar
suas anotações que se interrompe o necessário contato interior com os alunos. Tal
condição é um ideal. Não digo isto como censura, mas a fim de chamar-lhes a atenção
para algo de fundamental importância. Todas essas coisas também são importantes no
sentido higiênico — pois a disposição anímica do professor continua a viver completamente
na das crianças, e deve-se trazer para dentro da classe uma imagem clara do que se quer
proporcionar. Então se recebem crianças que realmente passam com mais facilidade por
certos distúrbios metabólicos do que as que se sentam numa classe onde o professor
ensina tudo a partir do livro.
Era assim que em épocas mais antigas da evolução da humanidade o ensino era

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considerado como uma cura. Encarava-se o organismo humano como sempre tendente a
sucumbir à doença, sendo que pelo fato de ensiná-lo e educá-lo continuamente nós o
curamos. Será extraordinariamente bom quando as pessoas puderem imbuir-se da
consciência de que cada professor é efetivamente, em certo sentido, o médico de seus
alunos.
Basta o professor compreender a arte de superar a si próprio para ter crianças sadias
na escola. Seria bom realmente procurar não transportar-se, levar a própria personalidade
particular para dentro da classe, e sim ter uma imagem daquilo que nos tornamos por
meio da matéria tratada em qualquer aula. Por meio da aula nós nos tornamos algo.
Aquilo que nós mesmo nos tornamos por meio da aula atua de modo extraordinariamente
vivificante sobre toda a classe, O professor deveria sentir que, se ele mesmo está
indisposto, ao menos supera em certo grau a indisposição por meio do ensino; então
atuará da maneira mais favorável possível sobre as crianças. Ele deveria ensinar a partir
da seguinte disposição anímica: “Para mim mesmo, o ensino é algo sanativo. Ao ensinar,
eu me transformo de um ser humano enfadonho num outro, disposto e alegre.”
É útil poder fazer a seguinte conexão:
Imaginem-se entrando numa classe onde se senta determinada criança. Da escola ela
vai para casa; ao chegar em casa precisa (claro que por motivo bem diferente; não quero
dizer que seja pelo ensino, pois isto não acontece com professores Waldorf) receber de
seus pais um remédio para vomitar. É óbvio que não por causa do ensino! Isto só acontece
em outras escolas. Mas os Senhores não podem saber se, ao entrar numa classe com a
disposição anímica “O ensino faz de mim mesmo, de uma pessoa enfadonha, uma pessoa
interiormente alegre”, mesmo com isso não poupam aquela criança que terá de receber
um medicamento para vomitar. Ela pode, sim, digerir suas coisas quando os Senhores se
encontram bem dentro da classe. A estrutura moral do professor tem um grande
significado higiênico.
São estes os pontos sobre os quais eu queria falar-lhes hoje. Posteriormente eles
serão mais elaborados.

Haveria, a esse respeito, uma ou outra pergunta que gostassem de fazer?

Um ouvinte: Já estivemos cogitando como é que os três sistemas se relacionam com os


temperamentos.
R. Steiner: O temperamento fleumático e o sangüíneo se relacionam com o sistema
neuro-sensorial; o colérico e o melancólico, com o sistema metabólico-motor.

Um ouvinte: Falou-se de crianças supeficiais, fugazes — as de cabeça grande seriam assim.


Mas eu tenho em minha classe uma criança bem fugaz que tem a cabeça
pequena.
R. Steiner: Uma cabeça pequena se relaciona com o ‘incubar’, ficar pensando, enquanto
cabeças grandes são mais fugazes. Caso não seja assim, o Senhor não está
julgando corretamente. Um cabeça-pequena muito superficial certamente
não foi julgado conforme abordagens corretas. Essas coisas fornecem a
orientação. É justamente conforme as abordagens corretas que se deve
encarar a natureza. Mostre-me a criança, pois o Senhor pode tomar uma
criança que ‘incuba’ por superficial. Pode ser que o ‘incubar’ se esconda sob
a superficialidade. Na criança, isto é facilmente possível.

Um ouvinte: Essas indicações têm um determinado limite de idade?


R. Steiner: Valem até aproximadamente os dezessete, dezoito anos de vida.

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Um ouvinte: (Pergunta sobre uma aluna das classes supe riores, que sempre busca beber
água com vinagre.)
R. Steiner: Pode-se ver isto como se a criança não tivesse disposição alguma para
qualquer concentração. E, no entanto, de vez ern quando ela se dispõe a
concentrar-se urn pouco, não a partir de fora, mas de seu próprio organismo,
conseguindo isso ao querer água com vinagre. Ela não consegue se
concentrar. As vezes o corpo pede isso. Então ela quer consegui-lo bebendo
água com vinagre. Não se deve ir ao seu encontro, condescendendo.

Um ouvinte: O que se faz com crianças que não conseguem absolutamente concentrar-se?
R. Steiner: Não será ruim tentar dar-lhes uma dieta moderadamente doce, e não uma
dieta de sal.

Sobre temperamentos e alimentação

A época atual está sob o signo da reforma. Por toda parte há movimentos e
pretensões reformistas, insatisfação com o existente, o tradicional; e, decepcionados com
as experiências efetuadas, os homens procuram criar, estruturar algo novo, tentando sua
cura em qualquer coisa diferente. E assim deve ser, pois tudo no Universo, o grande Todo,
todas as culturas, o homem individual, tudo, tudo está em vias de desenvolvimento, em
evolução; não existe pausa alguma.
Como são grandes e poderosas, em geral, as idéias dos reformadores individuais! Mas
como se tornam desfiguradas e extremadas pela grande massa! Tomemos nosso mais
eminente movimento reformista. Existe hoje um movimento, não constatado em qualquer
outra época, atuando de modo muito estranho sobre muita gente: é o ‘movimento
feminista’. O impulso para a participação nas grandes tarefas da cultura e da vida social
estimula a mulher a lutar pela valorização e igualdade de direitos com o homem. Também
as condições da época a obrigam a isto. Ela não quer mais atuar e reinar num pequeno
círculo, agrilhoada a condições insatisfatórias, ou simplesmente estar no mundo sem
trabalho estimulante, sem uma tarefa vital. Não, ela quer colaborar na vida cultural,
erguida sobre os próprios pés, com os mesmos direitos que o homem. O maravilhoso ideal
de uma dona-de-casa, que Schiller nos mostra tão lindamente em Glocke: “...e lá dentro
reina a habilidosa dona-de-casa”, não é mais ideal algum para a grande maioria do nosso
mundo feminino. Mas como este impulso para a autonomia e a liberdade é mal
compreendido e levado ao extremo! Ora, a mulher ainda não compreendeu que não
apenas o fato de ser independente na vida profissional a faz livre e autônoma, ou que agir
por arbítrio próprio incide na esfera da liberdade, mas que, antes de tudo, devemos tor-
nar-nos independentes e livres em nosso íntimo: em primeiro lugar, é o aprimoramento de
toda a nossa vida anímica, o enobrecimento e a sublimação do nosso caráter que tornam a
mulher um ser autonomamente livre. O fato de as condições exteriores serem como elas
querem não tem qualquer grande influência. A aquisição da independência interior dá à
mulher o direito à liberdade e à independência exteriores, e só então ela pode tornar-se
uma colaboradora do homem, mas não uma rival. Para se atingir essa verdadeira
independência interior, somente a Ciência Espiritual pode mostrar o caminho; nenhum
outro anseio de liberdade conduz a uma meta elevada.

Passemos a um outro âmbito — o do método para a cura natural. As pessoas


descobriram que muitas moléstias da época moderna devem ser atribuídas ao atual estilo
de vida. A luta pela existência não permite às pessoas sequer um pouco de paz, e muito
menos chegar a convalescer. Acredita-se, justamente por nossos antepassados terem

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vivido tão completamente na natureza, ao ar livre, desafogados das vestes, com uma
alimentação simples, que isso tenha sido decisivo para sua saúde. E, pelo fato de em
muitos casos a ciência médica não encontrar mais o caminho correto, acredita-se que uma
volta à natureza seria o mais saudável. As pessoas tomam terra, água, ar e calor e os
aplicam em todos os casos imagináveis. Mas com isso não se cogita que o homem é um ser
individual, não tendo mais parentesco com todos os elementos. Para muitos, os banhos de
sol não são em absoluto recomendáveis; para outros, os tratamentos hidroterápicos podem
causar os maiores danos.
Do ponto de vista científico-espiritual, para se promover a saúde nas pessoas deve-se
proceder individualmente. Então cada qual alcançará, a título de cura, o que é salutar
para sua natureza mais íntima, para seu temperamento, para todo o seu caráter, para sua
edificação espiritual.
O homem está, pois, na mais estreita relação com leis eternas, e só por meio delas
pode ser produzida uma completa cura, uma completa harmonia do ser humano com seu
organismo físico e psíquico. Não há, para o homem, qualquer volta à natureza no sentido
imaginado por ele ao crer ver na natureza o superior; há, sim, uma volta ao espírito por
meio da natureza.
Quem anda habitualmente de mãos dadas com a cura natural é o vegetarianismo.
Seus adeptos estão convencidos de que na alimentação animal está contido algo não
salutar, mas ainda assim atuante; acredita-se que seria mais propício aos homens adotar
um regime puramente vegetariano, e exagera-se ao ponto de nem mesmo o leite e os
queijos derivados e similares serem tidos como apropriados à alimentação. Por toda parte
se ingerem os produtos vegetais para conseguir uma radical mudança e uma total
substituição da alimentação carnívora. Este tipo de vida faz muito bem, mas se alguém é
capaz de segui-lo por muito tempo é uma outra questão — pois a vida vegetariana sem um
anseio espiritual leva à doença. Diz-se que o vegetarianismo se tornou conhecido na
Grécia séculos antes de Cristo, e que o grande sábio da Antigüidade, Pitágoras, foi seu
iniciador. Ora, deve-se perguntar o seguinte: quem foi, afinal, Pitágoras, e por que viveu
de forma vegetariana? E com isto chegamos ao âmbito das escolas ocultas, dos mistérios.
Em todas as épocas, e dispersas por todas as partes do mundo, houve desde sempre
escolas ocultas, cujos membros se dedicavam, por meio de rigorosa autodisciplina, por
meio de estudo aplicado e de meditações, a alcançar o misterioso Ser do Cosmo, a olhar
por trás do véu do passado. Na Grécia, era especialmente Pitágoras, um dos grandes
iniciados, que atuava neste sentido. Ele havia acumulado à sua volta discípulos que
introduzia nos mistérios mediante rigorosas provas preliminares. Também eram decretadas
severas prescrições dietéticas. Bebidas embriagadoras eram totalmente proibidas. Da
mesma forma, era rigorosa e especialmente vedada a alimentação constituída de carne e
leguminosas. Também em épocas posteriores foram dadas, em todas as escolas ocultas,
prescrições para o modus vivendi dos discípulos. Ora, o discípulo deve aprender a escolher
a alimentação de acordo com os princípios básicos do conhecimento espiritual. Ele deve
saber que naquilo que ele assimila como alimento existe a energia de certas entidades. E
se o homem quer tornar-se senhor de seu organismo, deve escolher conscientemente sua
alimentação. Quando se compreende quais entidades se anunciam através deste ou
daquele alimento, conhece-se também que significado tem a alimentação.
Nos tempos mais antigos, também se conhecia nas grandes comunidades religiosas —
como, por exemplo, nas religiões judaica e católica — o efeito dos alimentos. Uma
transgressão das prescrições era castigada com a expulsão da comunidade.
Também no bramanismo, a época que abrangia desde a Páscoa era consagrada,
dedicada a Vishna. Aqueles que se denominavam seus servidores festejavam essa época
mediante abstenção, por exemplo, de todas as vagens, óleo, sal, carne e bebidas
embriagantes. Tinha-se ainda, naquele tempo, o vivo sentimento da conexão entre o
microcosmo e o macrocosmo, e exigia-se de cada membro adulto da comunidade que, em
épocas bem determinadas, estivesse apto a receber certas forças espirituais com as quais

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festejasse com toda a natureza um renascimento e uma ressurreição. Eram as épocas do
Natal e da Páscoa.
Ora, observemos o que é propriamente a alimentação. Quase a nenhum campo se
dedica tão grande interesse quanto ao da alimentação, pois as exigências que a época
atual faz à eficiência do indivíduo compelem-no a alimentar-se bem e substancialmente.
Vemos que necessitamos da alimentação para manter nosso corpo. Por meio da substância
alimentar ministramos ao corpo forças formativas e mantenedoras. Do ponto de vista
científico, a alimentação é uma fonte de energia. A Ciência Espiritual, porém, diz o
seguinte: em toda a natureza se manifesta a trindade. Cada coisa se constitui de forma,
vida e consciência. Tudo na natureza é permeado pelo espírito. Ora, nós tomamos nossa
alimentação dos reinos animal e vegetal. O animal tem seus corpos físico, etérico e astral
no mundo físico; o ‘eu grupal’ dos animais está no plano astral. Quando o animal morre,
não é ainda anulado o efeito da natureza animal, pois o princípio atua ainda muito
prolongadamente após sua morte. O mesmo sucede com as plantas. As plantas têm seus
corpos físico e etérico no mundo físico, e seu corpo astral no mundo astral; o eu das
plantas está no Devachan. O princípio que atua nas plantas ainda é atuante após o preparo
do vegetal, pois seu efeito se estende não só aos corpos físico e vital, mas também aos
outros membros da natureza humana.

Falemos agora sobre alimentação em relação aos nossos anseios espirituais. Talvez os
exercícios de meditação e concentração venham a ser o mais importante; porém não é tão
secundária a forma como o pretendente se alimenta quando inicia o aperfeiçoamento do
corpo astral. É sobretudo importante evitar o álcool sob qualquer forma: até mesmo
bombons recheados com álcool são de efeito muito prejudicial. Alcool e exercícios espiri-
tuais conduzem ao pior atalho. Se, do ponto de vista da Ciência Espiritual, já é provada a
péssima influência do álcool na função cerebral, alguém que dirige todo o seu anseio ao
espiritual deveria abdicar mais ainda de um prazer que impede completamente o
conhecimento das coisas do espírito!
A ingestão de carne e peixe não é aconselhável. Na carne o homem ingere toda a
animalidade, e no peixe todo o carma universal (cobiças universais). Cogumelos são
extremamente nocivos; eles contêm forças lunares inibidoras, e tudo o que existe na Lua
significa entorpecimento. Tampouco são aconselháveis vagens, por conterem muito
nitrogênio. Nitrogênio macula o corpo etérico.
Escolhamos algumas das mais grosseiras características inferiores para relacioná-las
com as substâncias alimentares. Quando uma pessoa possui grande autonomia e tende
muito ao egoísmo, deve comer pouco açúcar concentrado, pois açúcar estimula a
independência. Se, do contrário, alguém está sem consistência interna e externa e
acredita sempre necessitar recorrer à imitação e ao apoio, deve comer sobejamente
açúcar, para tornar-se independente. Se alguém é muito dominado pela ira, não deveria
ingerir muitos condimentos na comida, evitando especialmente sal e pimenta. Se alguém é
muito predisposto ao comodismo e à preguiça, que evite especialrnente alimentação
nitrogenada: escolha principalmente legumes e frutas como alimento.
Se alguém quer arriscar-se ao difícil problema da predominância da sexualidade —
que, exercida de forma inferior, degrada o homem até um nível abaixo do animal e,
transformada, leva-o o mais próximo possível de sua divindade —, deveria ingerir o menos
possível alimentação rica em claras de ovos (albumina). Na ingestão de alimento muito
rico em albumina é provocado um excesso de substância reprodutora, e com isto se agrava
o predomínio da sexualidade.
Se alguém tende demasiadamente à inveja e à perfídia, não lhe são aconselháveis
pepinos e abóboras, bem como nenhuma das plantas trepadeiras. Também com relação à
ingestão de frutas, é preciso ter alguma cautela. Pessoas que tendem muito à paixão
sentimental não deveriam comer melões. O aroma docemente embriagador dessa fruta
embaça qualquer consciência intelectual nítida. Tampouco lhes é aconselhável uma

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alimentação muito rica em maçãs. Em certas pessoas, esta fortalece a prepotência e leva
freqüentemente à rudeza e à brutalidade. Cerejas e morangos, por causa de seu alto teor
de ferro, não fazem bem a essas pessoas. Aconselháveis são bananas, tâmaras e figos.
Pode-se também optar pelas nozes. Se alguém quer submeter-se a uma disciplina in-
telectual, necessita principalmente de um órgão cerebral bem estruturado e sadio.
Raramente os pais, na época atual, fornecem a seus filhos um cérebro bem
estruturado, necessitando estes de meios auxiliares adicionais para fortalecer seu instru-
mento cerebral. E, nesse caso, é sobretudo a avelã que fornece substância para a
estruturação do cérebro. Todas as demais espécies de nozes são de pouco valor. Prin-
cipalmente amendoins devem ser evitados.
Quanto às gorduras, devemos dar preferência à manteiga derivada do leite; também
seria aconselhável a manteiga de avelãs.
Abordemos agora os estimulantes — café e chá. A ingestão de café estimula o pensar
lógico; mas não é somente pela ingestão de café que nos tornamos pensantes, pois para
tal é necessário muito mais. E nas pessoas em quem não predornina o princípio
pensamental, como ocorre amiúde entre as mulheres, o consumo excessivo de café conduz
à histeria. A ingestão de chá produz boas idéias; mas podem-se conseguir boas idéias
também mediante exercícios especiais.
Durante a época da aspiração espiritual, é de especial importância que a pessoa viva
moderadamente. ‘Moderação refina os sentimentos, desperta a capacidade, anima a
afetividade e fortalece a memória. Por meio dela a alma quase que se desfaz de sua carga
terrena, gozando com isto de uma liberdade superior” — assim diz um velho sábio. Se o
homem comesse freqüentemente e em demasia, não poderia produzir qualquer
pensamento frutífero, pois a digestão exige muita energia, não restando então energia
alguma para a capacidade pensante. Justamente as pessoas que preencheram o mundo
com os produtos de seu espírito viveram em escassez alimentar. Schiller, Shakespeare e
muitos outros poetas, aos quais devemos obras admiráveis, aprimoraram-se mediante
difíceis privações. Nunca a mente é tão clara quanto após um longo jejum. Também na
história das ordens religiosas e nas biografias dos santos encontram-se incontáveis
exemplos dos efeitos de uma vida sóbria. Os maiores santos viviam somente de frutas, pão
e água, e não se conheceu qualquer santo milagroso que tenha posto em ação forças
divinas vivendo na opulência. Também os maiores sábios da Antigüidade eram célebres por
sua sobriedade.
Quando o homem prossegue em sua aspiração espiritual, fluindo cada vez mais para o
eu as leis do Verdadeiro e do Bom, e quando os raios do grande Sol Espiritual inundam
cada vez mais o eu e nele transluzem, começa então o aprimoramento consciente do
corpo vital ou etérico. A entidade primordialmente eterna do homem, que passa de uma a
outra encarnação, vive tão plenamente a cada encarnação nova que isso provoca uma
certa inter-relação dos quatro membros (os corpos físico, etérico, astral e o eu) da
natureza humana, surgindo, da atuação conjunta dos membros, o temperamento do ho-
mem. É de acordo com a predominância de um ou outro membro que o homem se nos
apresenta com este ou aquele temperamento.
Podemos distinguir quatro temperamentos principais: o colérico, o sangüíneo, o
fleumático e o melancólico. Estes são misturados das mais diversas maneiras nos
indivíduos, podendo-se falar apenas da predomihância deste ou daquele em cada pessoa.
Ora, quando o homem trabalha em si está proporcionando harmonia, ordem, equilibrio a
esse temperamento. Se é fato que os exercícios espirituais constituem o ponto principal na
lapidação dos temperamentos, não menos essencial é a forma como o homem se alimenta.
Se numa pessoa predomina o princípio físico, isto será freqüentemente um obstáculo à
evolução. O homem deve, porém, ser senhor de seu corpo físico, se é que quer usá-lo.
Caso não seja capaz de usar plenamente seu instrumento, os outros princípios
experimentarão um entrave, surgindo então desarmonia entre o corpo físico e os outros
membros. Quando, pois, o melancólico trabalha em si, deve ingerir alimentos que cresçam

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bem perto do sol, que medrem bem longe da terra, que amadureçam sob plenas forças
solares — ou seja, frutas. Assim, tal como mediante exercícios espirituais o Sol Espiritual
abrasa uma pessoa e nela transluz, no plano físico o elemento enrijecedor e entorpecente
do melancólico deveria ser permeado e entretecido pelas forças solares contidas nas
frutas.
No fleumático predomina o corpo etérico, que mantém em equilíbrio as funções
isoladas, sendo que a vida interior produz a satisfação íntima. Nesse estado o homem vive
preferencialmente de modo a sentir-se muito bem, caso em seu organismo tudo esteja em
ordem e nada se incline a dirigir seu interesse interior para fora ou a desenvolver um forte
querer; tal pessoa deveria ingerir alimentação que não cresça sob a terra — muito espe-
cialmente aquela cujo crescimento exige, em geral, até dois anos para atingir a superfície
do solo, como por exemplo a escorcioneira (salsífi-negro). Esta não deve ser ingerida por
um fleumático. A semente desta planta exige muito tempo para abrir-se às suas forças
exteriores, e também no fleumático é preciso ser elaborada muita coisa para que ele tome
parte ativa no mundo externo. O princípio desta planta só iria aumentar ainda mais seu
bem-estar interior.
No sangüíneo há um predomínio do elemento astral. Ele se interessa por um assunto,
abandonando-o porém logo após; nele se evidenciam a volubilidade e a rápida
transferência para outro objetivo. Neste caso, legumes radiculares deveriam ser
escolhidos como alimentação. Poder-se-ia quase dizer que um sangüíneo precisa até
mesmo, pela alimentação, ser atado ao elemento físico, do contrário sua fácil mobilidade
poderia levar muito longe. Neste caso, portanto, os legumes que crescem sob a terra são
muito aconselháveis.
Quando o eu é o elemento predominante, quando atua especialmente com suas
forças, dominando os outros membros da natureza humana, surge então o temperamento
colérico. O colérico precisa antes de tudo ter cautela quanto a alimentos calóricos e
excitantes; tudo o que é estimulante, fortemente temperado, causa-lhe os maiores danos.
Seria bom considerar que no desenvolvimento superior de alguém o temperamento
não desempenha mais papel algum, e que nem a alimentação tem mais qualquer
influência. No grau de mestre2 isto ocorre de fato, pois o mestre não necessita de
alimento pesado, assim como o temperamento não o influencia ou domina mais. Mas ele
se utilizará do temperamento para a atividade no mundo físico: o temperamento colérico,
ele o assume para atuar no âmbito supra-sensível, e deixa os acontecimentos e
ocorrências do mundo físico transcorrer tal como age um sangüíneo; mantém-se no gozo
da vida como um fleumático, e medita sobre seus conhecimentos espirituais como um
melancólico.
Até atingirmos tal ponto, demorará um pouco. Deveríamos tentar harmonizar toda a
nossa vida, empregando para isso todos os nossos esforços: não apenas viver sobriamente
nossos ideais numa pequena parte do dia, mas dividir nossas ocupações, escolher nossos
prazeres e mesmo regular nossa alimentação no sentido de tornar-nos homens
harmonicamente auto-sustentados, para então podermos atuar na vida de acordo com
melhores forças. A vida nada nos presenteia; tudo precisa ser conquistado!
A isto se referem as belas palavras de Göethe:

Só uma vontade séria, um esforço persistente


podem conduzir-te à meta. Pois a sorte, essa jamais
constitui um mero acaso; e a vida, à tua frente,
só devolve o que lhe deste — além disso, nada mais.

2 Mestre espiritual. (N.T.)

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