STEPHEN RIMMER
No dia da seleção ficamos todos nervosos, mas imagino que não tão
nervosos quanto Paula. Imaginem nossa grande felicidade quando o
telefone tocou e era Paula dizendo que ela havia ganhado. Receber essa
notícia foi um grande prazer por várias razões. Primeiro que o Brasil,
nosso indicado, ganhou o prêmio na sua primeira tentativa, e segundo
que a Paula representa, como a Adélia Borges falou, tendências no
design, que são muito importantes e devem ser reconhecidas
mundialmente.
MARINA CHACCUR
Boa noite, meu nome é Marina Chaccur, sou designer formada pela
FAAP, pós-graduada no London College of Communication e designer
freelancer. Achei bem difícil falar sobre mim mesma. Olhar para sua
própria trajetória, olhar para trás, para sua carreira, tudo aquilo que
você fez, é realmente bem complicado. Mesmo para mim, que não tenho
tantos anos de experiência assim. Porém esse foi um dos indicadores
que fez com que o Professor Eddy me escolhesse. Apesar de tão pouco
tempo na área de design, até que já fiz bastante coisa, não em termos
de projetos comerciais, mas para a comunidade de estudantes de design
e para designers.
A FAAP para mim foi mais que uma escola. As pessoas que eu conheci,
os professores com os quais tive contato e o que eu realizei por lá, tudo
isso foi um grande impulso para a minha carreira. Não contente em ser
apenas uma aluna que freqüentava a sala de aula, desde o primeiro ano
da faculdade, eu já comecei a freqüentar eventos para estudantes como
o NDesign, e também a participar ativamente do diretório acadêmico.
No segundo ano, comecei a me envolver com a organização de eventos
dentro da faculdade, e no terceiro ano eu já tomei a responsabilidade de
organizar a própria Semana do Design na FAAP. Fiz a proposta para os
professores e em conjunto a gente começou a realizar uma semana mais
abrangente. Além de palestras e uma exposição maior, também
começamos a ter workshops. No ano seguinte tinha que fazer meu
projeto de graduação e de tão envolvida que eu estava com a faculdade,
não só organizei a semana, e ela cresceu mais ainda, como eu também
fiz o material gráfico do evento. Já não tinha tempo para fazer o trabalho
de graduação e acabei fazendo da semana o meu projeto. Foi bem
gratificante poder ver o projeto produzido.
Uma outra parte do meu trabalho está ligada à tipografia. Todo mundo
sempre me perguntou quando é que começou essa minha paixão pela
tipografia. Acho que desde que eu era criança e brincava com a máquina
de escrever do meu avô e coisas do tipo. Mas uma influência muito forte
foi o Tipografia Brasilis, que era organizado pela professora Cecília
Consolo na FAAP e mostrava tipos produzidos por designers brasileiros.
Era uma produção bem tímida na época. Você podia contar nos dedos
das mãos quem eram as pessoas que produziam e quantos tipos havia
disponíveis. A partir disso eu fui me interessando, freqüentando outros
eventos de tipografia e workshops, entre eles o DNA Tipográfico, que é
organizado pelo Tony de Marco e o Cláudio Rocha. Os dois são editores
da revista Tupigrafia, uma revista sobre tipografia e caligrafia no Brasil,
que mostra a produção brasileira para o exterior e o que é feito no
exterior para mostrar aqui no Brasil. Depois de um tempo eu comecei a
trabalhar com o Tony e o Cláudio na revista como editora assistente.
Hoje ainda sou colaboradora.
Acredito que a mensagem que tudo isso me traz é que, apesar de todo
esse caminho tortuoso, de eu deixar um pouco por conta do acaso, de
uma coisa ir se linkando com a outra, eu vejo que minha trajetória tem
certa coerência em termos representação e de organização. Mesmo
quando eu faço um trabalho dentro da área que eu gosto como a
tipografia, ele também acaba passando por esse caminho. Muito
obrigada.
LEONARDO MASSARELLI
PAULA DIB
Quando cheguei e tive mais uma grande surpresa. Para mim, o contato
com os outros nove participantes foi algo absolutamente rico e precioso.
Acho que o British Council não sabe o quanto essa reunião, por duas
semanas, de dez pessoas de culturas totalmente diferentes é
maravilhoso. Dentro do grupo havia pessoas da Lituânia, Eslovênia,
Líbano, Omã, Índia, China, Tailândia, África do Sul, Indonésia e eu do
Brasil. Quando olhei para os participantes, percebemos tanto dez
culturas quanto dez focos de trabalho muito diferentes, e percebi que a
conexão entre todos era uma palavra que a meu ver chamava atitude. E
o que é essa atitude?
Queria falar um pouco sobre o trabalho de cada um, porque são muito
especiais. O Makorn Chaovanich, da Tailândia, desenvolve um produto
altamente tecnológico com fundamentos no budismo e nas relações
humanas, procurando criar uma relação diferente entre produto e o
homem. O Heath Nash, da África do Sul, enxergou no plástico usado
possibilidades e através de técnicas de dobradura cria produtos
incrivelmente belos. O Gorazd Malačič, da Eslovênia, procura dar
destaque a seu país, que é novo e pequeno, criando produtos
gigantescos que chamam a atenção sobre o país, conseguindo, assim,
introduzir produtos menores de produção própria.
Moisés Cuer: O debate está aberto para questões. Quem quiser fazer
alguma pergunta para um dos designers pode levantar a mão e nós
passaremos o microfone.
Senhora no público: Mas quer dizer que o corante também deve ser
natural, ali da região mesmo.
Paula Dib: Foi engraçado porque cada um teve uma reação muito
diferente. A maioria deles considerou esse trabalho uma coisa muito
inspiradora porque, por exemplo, na Indonésia ou na Índia, eles têm um
artesanato muito forte, só que nunca pensaram em desenvolver alguma
coisa em conjunto, sempre foram coisas muito paralelas. Então eles
acharam inspirador, essa era a palavra que eles mais usavam. Já o
chinês não conseguiu entender. Ele perguntava quantas peças eu já
havia vendido e eu respondia que cerca de 20, 30, 40. Aí ele mostrava
uma peça dele e falava que havia vendido um milhão delas. Eu estou me
comunicando com esse grupo, tentando tirar algum proveito dessa
história. Quando estávamos lá em Londres eu falava que já que nos
ofereceram essa oportunidade de reunir tantas cabeças pensantes,
assim, de lugares tão diferentes, deveríamos construir alguma coisa. E a
idéia do grupo foi criar um site que pudesse fortalecer as pequenas
produções de cada país. Então, eu acho que se nós continuarmos em
contato por e-mail, se conseguirmos realmente formalizar isso, fazer
acontecer, será certamente um ganho enorme.