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DEBATE “JOVENS DESIGNERS EMPREENDEDORES”

No dia 13 de novembro de 2006, o Museu da Casa Brasileira e o British


Council realizaram um debate sobre Jovens Designers Empreendedores,
em que os jovens paulistanos Paula Dib, Marina Chaccur e Leonardo
Massarelli discorreram sobre o empreendedorismo em design, as
perspectivas dos jovens profissionais e a dimensão social do design.
O encontro foi motivado pelo fato de Paula Dip ter sido escolhida em
Londres, a vencedora do International Young Design Entrepreneurs 2006,
prêmio internacional para jovens designers empreendedores, instituído
pelo British Council em parceria com a 100% Design. O processo de
seleção de Paula foi longo. Na primeira fase, o British Council do Brasil
convidou seis especialistas brasileiros – Adélia Borges, Auresnede Pires
Stephan, Carlos Fernando Andrade, Hiluz Del Priore, Maria Helena
Estrada e Paula Acioli a indicarem cada um três nomes de jovens
designers empreendedores. Adélia Borges, diretora do Museu da Casa
Brasileira, foi a responsável pela indicação de Paula, sua ex-aluna no
curso de Design Industrial da Fundação Armando Álvares Penteado
( Faap). Numa longa sessão de júri, esses especialistas analisaram os 18
currículos e chegaram ao nome de três finalistas. Na segunda fase, um
novo painel seletivo, formado pelo designer Guto Índio da Costa e por
integrantes do British Council, escolheu Paula Dib como a representante
brasileira.
Em Londres, Paula concorreu com mais nove finalistas cada um
reprentando o seu país: China, Índia, Indonésia, Líbano, Lituânia, Omã,
Eslovênia, África do Sul e Tailândia. Em Londres, o júri da premiação foi
integrado por Emily Campbell, chefe do Departamento de Design e
Arquitetura do British Council Londres, Nicole Bellamy, diretora do
Projects Art Consultancy, Lanre Lawal CEO, do Design Jockey Sessions,
Nigéria e vencedor da premiação IYDEY de 2005, Jeremy Myerson,
Professor do Design Studies, Director do Innovation RCA e Co-director do
Helen Hamlyn Research Centre, do Royal College of Art e Ian Rudge,
Brand Director da feira 100% Design. Segundo os jurados ingleses, Paula
foi a escolhida por ter mostrado “extraordinária habilidade em
apresentar um argumento coerente e claro reunindo design, sociedade e
ecologia. Seu espirituoso slogan ‘Nós fazemos mais com menos’
sucintamente capturou sua combinação única entre realismo e
idealismo”. A designer brasileira terá espaço garantido para expor seus
trabalhos na edição 2007 da feira 100% Design, além de receber um
prêmio no valor de £ 7.500, que deverá ser investido em um projeto que
mantenha uma ligação com o Reino Unido.

Moisés Cuer, coordenador do Setor Educativo do MCB


“Hoje vamos discutir a questão do empreendedorismo em design. A
grande homenageada de hoje é Paula Dib, que acaba de ganhar um
prêmio na Grã-Bretanha, e além dela participarão do debate o Stephem
Rimmer, gerente do British Council em São Paulo; a jovem designer
Marina Chaccur, indicada pelo professor Auresnede Stephan; Leonardo
Massarelli Cardoso, indicado por Maria Helena Estrada, ambos
concorrentes de São Paulo. O Fernando Maculan, de Belo Horizonte, que
ficou em segundo lugar na seleção da representação brasileira e não
pôde estar aqui hoje, enviou um vídeo de 11 minutos em que ele se
apresenta. Convido os palestrantes a tomarem a mesa e antes de
iniciarmos o debate lerei uma mensagem de Adélia Borges, diretora do
Museu da Casa Brasileira, que não pôde estar aqui por estar se
recuperando de uma cirurgia.”

Adélia Borges, diretora do MCB


“Lamento profundamente não estar presente a mais este debate no
MCB. Indiquei o nome de Paula Dib por uma multiplicidade de fatores.
Em primeiro lugar, por sua integridade pessoal, qualidade que para mim
é indispensável, sem a qual todas as outras não têm valor. Pude verificar
esta integridade desde o tempo em que fui sua professora na FAAP e
depois em sua vida profissional, que acompanhei em vários momentos.
Em segundo lugar, pela competência e inteligência no que faz. Em
terceiro, porque Paula faz um trabalho que me parece muito oportuno
aqui e agora – aqui, países da periferia (mas não só os da periferia);
agora, início do século 21. É um trabalho no qual o design deixa de lado
velhos preconceitos e se aproxima do artesanato. Eu teria muito a falar
sobre isso hoje aí, mas infelizmente não poderei.

Creio que o que sai premiado em Londres é não só a pessoa da Paula


Dib, mas tudo o que ela representa, sobretudo essa aproximação entre
Design e artesanato que tantas pessoas estão fazendo hoje no Brasil, na
América Latina, na África, na Austrália, etc. Muito se fala do design e do
mercado, mas esse trabalho leva o design à sua dimensão social, tão
esquecida quanto importante hoje e sempre.

Quero dar as boas vindas também à Marina Chaccur e ao Leonardo


Massarelli, com os quais tenho relações muito fortes. Leonardo, indicado
nesse certame por Maria Helena Estrada, uma das maiores
conhecedoras do design entre nós, foi meu aluno e cheguei a orientar
seu Trabalho de Graduação, o TGI. Já ganhou prêmio no Museu da Casa
Brasileira, com seu grupo, Nó Design. Marina, indicada pelo Auresnede
Stephan - o professor Eddy, outro grande conhecedor do nosso design e
conhecedor dos jovens e indicada também por mim, trabalhou comigo já
em algumas oportunidades. Ambos – aliás, os 3 – têm essa postura
empreendedora, de não esperar que as coisas caiam do céu, mas sim
tomar iniciativas, aproveitar brechas, oferecer soluções e não
problemas. Creio que ainda vamos ouvir falar muito deles daqui para
frente e certamente teremos muitos debates para nos encontrar.
Obrigada.”

STEPHEN RIMMER

Boa noite a todos. Meu nome é Stephen Rimmer, eu sou gerente na


área cultural do British Council aqui no Brasil. Para aqueles que não
conhecem o British Council, somos um órgão meio governamental que
cuida das relações culturais e educacionais entre a Grã-Bretanha e
outros países no mundo, sendo que atualmente são 109 países.
Tentando criar vínculos a longo prazo, não na área de política ou
economia, mas em outras áreas também importantes. Eu achei que
seria interessante falar um pouco sobre o prêmio “International Young
Design Entrepreneur of the Year”.

Acredito que a história tenha começado quando Tony Blair e o partido


trabalhista entraram no governo inglês em 1995 e notaram o setor de
indústrias criativas, que é um setor meio invisível, mas cuja importância
para a economia britânica vem crescendo cada vez mais. Muitos anos
após a Revolução Industrial, no período após a 2ª Guerra Mundial, a Grã-
Bretanha realmente entrou em um processo de decadência na área de
industrial, sendo que a economia britânica foi ficando cada vez mais
focada na área de serviços e também nesse setor misterioso de
indústrias criativas, basicamente aquelas que dependem muito da
criatividade e da inovação. O governo de Tony Blair reconheceu esse
fator e começou a criar incentivos para essa indústria. Acho importante
falar que a importância desse setor já é mundialmente reconhecida. É
um setor bem abrangente, indo da parte editorial, arte e moda, até é
claro, no centro de tudo, à área de design em todas as formas.

O British Council queria compartilhar essa nova onda de crescimento


mundial dessa indústria e há uns três anos atrás criou um novo prêmio,
o International Young Entrepreneur of the Year, para os setores de
indústrias criativas. Em 2005, foi aberto esse prêmio chamado Design
Entrepreneur, que no mesmo ano foi entregue a um nigeriano. Apenas
dez países participam de cada edição do prêmio e em 2005 o British
Council Brasil foi convidado. Eu resisti por várias razões. A razão
principal foi que não teríamos tempo para promover um processo aberto
de seleção, que seria muito trabalhoso e precisaria ser muito bem
divulgado. Mas eles me pressionaram e eu cedi. Fiz um bom projeto,
porém não ideal. Gosto de processos abertos de seleção, mas esses são
complicados de se fazer.

Então, escolhemos seis pessoas, entre eles designers e pessoas do


mundo de design, no Rio de Janeiro e em São Paulo, para indicarem
candidatos para o prêmio, sendo que um deles acabaria sendo nosso
candidato brasileiro que iria para Londres. Depois de um processo
bastante interessante, com candidatos impressionantes do Brasil inteiro,
acabamos de selecionar nosso representante com a ajuda de Guto Índio
da Costa, um designer brasileiro premiado. Paula Dib terminou sendo
escolhida para representar o Brasil em setembro desse ano, na feira
100% Design em Londres, e concorrer com candidatos de outros nove
países.

No dia da seleção ficamos todos nervosos, mas imagino que não tão
nervosos quanto Paula. Imaginem nossa grande felicidade quando o
telefone tocou e era Paula dizendo que ela havia ganhado. Receber essa
notícia foi um grande prazer por várias razões. Primeiro que o Brasil,
nosso indicado, ganhou o prêmio na sua primeira tentativa, e segundo
que a Paula representa, como a Adélia Borges falou, tendências no
design, que são muito importantes e devem ser reconhecidas
mundialmente.

Uma área especificamente interessante para mim, em que o Brasil


ganhou um espaço no mundo, é a de, em inglês, “social design”, talvez
design sustentável. Acho que a Paula representa bem essa área no
Brasil. Agora vou passar o microfone para nossos convidados que irão
falar um pouco mais sobre seus trabalhos e o design no Brasil
atualmente. Obrigado.

MARINA CHACCUR

Boa noite, meu nome é Marina Chaccur, sou designer formada pela
FAAP, pós-graduada no London College of Communication e designer
freelancer. Achei bem difícil falar sobre mim mesma. Olhar para sua
própria trajetória, olhar para trás, para sua carreira, tudo aquilo que
você fez, é realmente bem complicado. Mesmo para mim, que não tenho
tantos anos de experiência assim. Porém esse foi um dos indicadores
que fez com que o Professor Eddy me escolhesse. Apesar de tão pouco
tempo na área de design, até que já fiz bastante coisa, não em termos
de projetos comerciais, mas para a comunidade de estudantes de design
e para designers.

A FAAP para mim foi mais que uma escola. As pessoas que eu conheci,
os professores com os quais tive contato e o que eu realizei por lá, tudo
isso foi um grande impulso para a minha carreira. Não contente em ser
apenas uma aluna que freqüentava a sala de aula, desde o primeiro ano
da faculdade, eu já comecei a freqüentar eventos para estudantes como
o NDesign, e também a participar ativamente do diretório acadêmico.
No segundo ano, comecei a me envolver com a organização de eventos
dentro da faculdade, e no terceiro ano eu já tomei a responsabilidade de
organizar a própria Semana do Design na FAAP. Fiz a proposta para os
professores e em conjunto a gente começou a realizar uma semana mais
abrangente. Além de palestras e uma exposição maior, também
começamos a ter workshops. No ano seguinte tinha que fazer meu
projeto de graduação e de tão envolvida que eu estava com a faculdade,
não só organizei a semana, e ela cresceu mais ainda, como eu também
fiz o material gráfico do evento. Já não tinha tempo para fazer o trabalho
de graduação e acabei fazendo da semana o meu projeto. Foi bem
gratificante poder ver o projeto produzido.

Como representante de sala, representante do curso, representante do


diretório, durante esses quatro anos de faculdade, eu sempre servi como
uma referência, um destaque para os professores. Sempre que
precisavam de alguém para falar em nome dos estudantes da FAAP, ou
para dar entrevistas para meios de comunicação, eles me chamavam.
Depois isso já passou para outras instâncias. Também durante a
faculdade, me envolvi com outras organizações de estudantes como o
Conselho Nacional dos Estudantes de Design, o CONE Design, e a ADG
Brasil, a Associação dos Designers Gráficos, também representando os
estudantes, freqüentando a comissão de ensino. Nós criamos uma
comissão de estudantes na época, além de uma nova categoria de
inscrição para jovens designers, entre outras coisas. Dentro da ADG,
também virei um ícone de representação estudantil, sempre pesquisava
assuntos como a regulamentação da profissão. Então, quando tinha
debate na Bienal com o pessoal da Icograda, com outros designers e
advogados, eles me chamavam.

Quando você olha para trás e você vê esse reconhecimento, você vê as


matérias, parece uma coisa bem glamurosa, bem gratificante, mas por
trás disso tem muito trabalho, muita dor de cabeça e sempre que você é
colocado ou se coloca numa posição de destaque, junto com os elogios
vêm também as críticas. A verdade é que se fôssemos dar atenção a
críticas, acho que nenhum de nós estaria aqui hoje. Acho que uma das
coisas que eu mais fiz foi tentar passar por cima dessas críticas de
eventos, de tudo que dava errado, todas as programações, e depois
tentar tirar as idéias do papel. Nós temos milhões de idéias, milhões de
projetos, mas não adianta elas ficarem guardadas numa gaveta.

Uma dessas idéias que tivemos enquanto estudantes de design no


conselho foi uma camiseta. Como não tínhamos verba para realizar
workshops, eventos, exposições, e muitas vezes, para fazer a exposição
dos estudantes, nós tirávamos dinheiro dos nossos próprios bolsos,
decidimos que uma das coisas que incomodava a classe no geral – assim
como nós mesmos - era que todo mundo perguntava se fazíamos
designer, se éramos design. Então buscamos patrocinadores e fizemos
essa camiseta. Ela diz “A minha mãe fez designer” na frente, e atrás “Eu
faço design”. Ela foi vendida por 12 reais cada e todo mundo comprava.
Até hoje eu vejo pessoas com a camiseta andando por aí em eventos.
Foi uma idéia super simples que trouxe benefícios em vários sentidos.
Não só para esclarecer algumas pessoas sobre essa questão, como
também para conseguir dinheiro para organizarmos as coisas que
precisávamos.

Em função dessa participação em eventos e representação, durante


muito tempo freqüentei eventos de discussão de ensino e pesquisa de
desenvolvimento com o P&D e o ENESD. Junto com Henrique Nardi, que
também participou desse movimento estudantil durante esse tempo,
montei um projeto chamado Estudando Design no Brasil, que pretende
avaliar o ensino de design no Brasil por vários pontos de vista, pelo
ponto de vista da instituição acadêmica, pelo MEC e pelo ponto de vista
dos estudantes e professores. Mas esse não é um projeto tão simples
assim como a camiseta, então, por enquanto ele está parado. Mas um
dia, quem sabe, vocês irão ver esse livro publicado.

Por causa desse projeto, nós conseguimos desenvolver palestras sobre


o ensino de design no Brasil no 14º Ndesign de Santa Maria, e também
me chamaram para mediar uma mesa sobre formação de lideranças.
Não sei se eu procuro essas oportunidades ou se elas me perseguem.
Uma coisa que você faz acaba puxando a outra e essas indicações vêm
sempre nesse sentido. Principalmente nos últimos anos, estou
começando a colher os frutos de coisas que eu plantei desde o começo
da faculdade.

Em maio desse ano, a ANER, Associação Nacional de Editores de


Revista, entrou em contato com os professores da FAAP para realizar
uma exposição sobre as 20 melhores capas de revistas dos últimos 20
anos no Brasil e com outros núcleos. Então, por eu ter organizado a
Semana do Design na FAAP, eles me indicaram para fazer também essa
exposição.

Uma outra parte do meu trabalho está ligada à tipografia. Todo mundo
sempre me perguntou quando é que começou essa minha paixão pela
tipografia. Acho que desde que eu era criança e brincava com a máquina
de escrever do meu avô e coisas do tipo. Mas uma influência muito forte
foi o Tipografia Brasilis, que era organizado pela professora Cecília
Consolo na FAAP e mostrava tipos produzidos por designers brasileiros.
Era uma produção bem tímida na época. Você podia contar nos dedos
das mãos quem eram as pessoas que produziam e quantos tipos havia
disponíveis. A partir disso eu fui me interessando, freqüentando outros
eventos de tipografia e workshops, entre eles o DNA Tipográfico, que é
organizado pelo Tony de Marco e o Cláudio Rocha. Os dois são editores
da revista Tupigrafia, uma revista sobre tipografia e caligrafia no Brasil,
que mostra a produção brasileira para o exterior e o que é feito no
exterior para mostrar aqui no Brasil. Depois de um tempo eu comecei a
trabalhar com o Tony e o Cláudio na revista como editora assistente.
Hoje ainda sou colaboradora.

Esse caminho da tipografia foi me levando para os eventos


internacionais e não só isso, mas também para um mestrado sobre
tipografia no London College of Communication, que era o London
College of Printing. Graças a esse tempo fora, acabou ficando até mais
fácil freqüentar esses eventos, entre eles a AtypI. Esse ano teve AtypI
em Lisboa e em função de todos os eventos, como Typecon, AtypI
(Praga, Helsinki, Lisboa) e outros eventos tipográficos internacionais,
consegui muitos contatos. A mesma coisa que eu desenvolvi aqui
durante a graduação eu também desenvolvi na Europa durante a pós-
graduação. Então esse ano, na AtypI Lisboa, além de participar da
organização eu também fiz uma palestra e fui mediadora de um debate
sobre tipografia no Brasil. Fiquei muito feliz em poder apresentar um
número muito grande de trabalhos de tipógrafos muito competentes do
Brasil. Coisas que não poderíamos imaginar quando o Tipografia Brasilis
1 aconteceu na FAAP.

Durante a pós-graduação, também aproveitei para desenvolver outros


projetos. O grupo do mestrado era muito unido e eu acabei encontrando
pessoas com inquietações parecidas com as minhas. Nós montamos um
grupo chamado 50 Design Students e, no final do ano, realizamos um
catálogo com os projetos, uma exposição dos trabalhos finais e de
alguns trabalhos desenvolvidos durante o ano, e uma festa. Foi a maior
manifestação de final de ano que os professores já haviam visto na
história toda do mestrado. Eles parabenizaram o grupo pela proeza. No
fim, encontrei pessoas que também tinham a disposição de lidar com os
mesmos problemas com que eu lidava por aqui.

Uma das felicidades que eu tive no mestrado foi a indicação para


participar de um projeto sobre a Circle Line, a Linha Amarela do Metrô de
Londres. Eles escolheram alunos dentro da faculdade para fazer um
trabalho em colaboração com os professores e com escritores de um
grupo chamado 26, assim como pessoas do metrô. Então, eram 27
grupos interdisciplinares que representavam as 27 estações da Circle
Line e a minha estação era Westminster. Cada grupo produziu uma
imagem para um pôster em um cartão postal que ficou exposto na
própria estação, e uma peça tridimensional para uma exposição. Uma
pessoa do meu grupo fez um vídeo, eu fiz um par de banners bordados à
mão e foi bem trabalhoso. O banner que fiz representa a união entre o
interior e o exterior da estação. Isso deu um retorno na mídia enquanto
profissional e não mais como representante dos estudantes de design,
mas como Marina Chaccur designer, realmente. Tivemos também a
felicidade da nossa imagem ser uma das escolhidas para divulgar o
projeto que saiu em uma matéria na Creative Review e no guia do
London Design Festival. Um dos meus projetos recentes é chamado
'Make a Wish', que foi publicado na primeira edição da revista Boca.

Acredito que a mensagem que tudo isso me traz é que, apesar de todo
esse caminho tortuoso, de eu deixar um pouco por conta do acaso, de
uma coisa ir se linkando com a outra, eu vejo que minha trajetória tem
certa coerência em termos representação e de organização. Mesmo
quando eu faço um trabalho dentro da área que eu gosto como a
tipografia, ele também acaba passando por esse caminho. Muito
obrigada.

LEONARDO MASSARELLI

Boa noite. Gostaria de agradecer a indicação da Maria Helena Estrada


para esse prêmio, que é muito importante para nós. É um
reconhecimento do nosso trabalho, e gostaria de esclarecer que não é
minha indicação apenas, mas sim do escritório ‘Nó Design’, formado por
três sócios, eu, o Barão e o Hulk. Nós decidimos falar um pouco aqui
sobre o tema de ser empreendedor e ajudar a empreender, que é um
pouco da nossa trajetória e o que nós nos propomos a fazer dentro de
um escritório de design, para diversas empresas que nos procuram.
Segundo o significado do dicionário Houaiss, empreender significa
decidir realizar tarefa difícil e trabalhosa, tentar pôr em execução,
realizar, decidir realizar. Vou começar falando qual foi a minha decisão, a
decisão do escritório.

Decidimos fazer alguma coisa, decidimos realizar, ou seja, nos


tornarmos empreendedores há seis anos atrás, quando nos formamos e
decidimos abrir um escritório. Foi uma decisão extremamente difícil
porque inicialmente todos nós tínhamos empregos e sabíamos que a
situação ia ser difícil, mas estávamos preparados e decididos a fazer
isso. Vou falar um pouco sobre o Nó escritório como empreendedor e um
pouco também sobre experimentação e erro, sendo que uma coisa está
ligada à outra. A grande característica de um empreendedor de sucesso
é se permitir experimentar, elaborar um plano, colocá-lo em execução e
no fim ter sucesso ou falhas com isso. Então as críticas e os erros que
você acaba cometendo estão presentes no dia-a-dia, assim como a
experimentação, principalmente no trabalho que nós desenvolvemos
dentro do escritório, as nossas próprias peças.

Quando nós falamos em experimentação significa que costumamos


pensar um projeto realmente no seu uso. A característica do nosso
trabalho é a diversidade e a flexibilidade. Isso é muito legal porque a
cada novo mercado que nós entramos, que nós atuamos, é um
aprendizado e uma dificuldade muito grande, porém, acreditamos que
isso nos enriquece. Assim, nós consideramos que nosso trabalho é o que
é justamente por essa pluralidade. O escritório atua tanto em segmentos
como cosméticos, desenvolvendo frascos de perfume; como
eletroeletrônicos e mobiliário. A partir do momento em que entramos
numa nova área, num novo segmento de mercado, é uma luta para
tentarmos descobri-la e entendê-la. E isso é uma ação empreendedora.

A idéia principal da luminária água-viva, por exemplo, é que você


possa ter flexibilidade, possa colocá-la em diversas posições separadas.
Um outro projeto chama-se ‘Buraco Negro’. Ele vem fechado e você o
abre como um rebatedor fotográfico, e ele fica na forma de um disco
fino. Você pendura esse disco na parede e coloca suas coisas -
brinquedos de criança, roupa suja. Falamos que é uma bagunça
organizada. Você vai socando coisas ali dentro e ele te avisa quando
está cheio. Outro projeto ainda é de uma cadeira destinada à produção
em grande escala e que tem a preocupação de ter o menor desperdício
possível de madeira. Nesse caso, fizemos um grande estudo de
aproveitamento de material e acreditamos que conseguimos sair um
pouco do convencional. Geralmente, quando as pessoas pensam em
aproveitamento, tendem a pensar em formas retas, quadradas, e aqui
fizemos um exercício para sair disso, para mexer com curvas e o
aproveitamento. Então, você tem três cortes essenciais do projeto feitos
com a fresa. Já a cadeira ‘Mariposa’, uma cadeira que vira mala, é um
projeto-conceito. Faço questão de mostrá-la porque isso é experimentar,
isso é você poder testar novas possibilidades e pensar novos usos.

Outro projeto é o boneco Homem-elástico. Você vê que em todos esses


projetos nós realmente pensamos no uso, então, como acondicionar um
produto na parede? Respondemos isso com um boneco que tem um
corpo elástico e fica tencionado, prendendo as coisas na parede. O legal
desse projeto é que ele envolve a questão do material, no caso o látex-
natural, material desenvolvido pelos pesquisadores da Universidade de
Brasília. O seringueiro, dentro da floresta, consegue vulcanizar essa
borracha naturalmente, e assim ele não vende a matéria-prima bruta
como antes vendia, com margens baixíssimas de ganho, o que também
levava a uma evasão muito grande de seringueiros da floresta. O novo
material permite que ele venda as mantas já beneficiadas, conseguindo
agregar maior valor ao produto. È importante também que ele
permaneça na floresta, já que seringueiro dentro da floresta significa
ajuda no combate ao desmatamento. Por isso, é um projeto super
bacana e que nós fomos convidados a desenvolver um produto com isso
para dar vazão. Além do ‘Homem-elástico’, fizemos também um outro
produto que tem um apelo mais conceitual. Temos também outro projeto
de uma luminária, novamente um projeto-conceito. É um projeto que
envolve uma pesquisa em cima de luz direta e luz indireta. Ela tem uma
movimentação radial muito interessante.

A Nó Design também auxilia as ações empreendedoras de pequenas e


médias empresas. Auxiliamos porque fornecemos uma estrutura para
desenvolvimento de projeto. Assim, podemos fazer tanto a parte de
desenvolvimento de produto, engenharia, a cadeia de fornecedores,
tudo que um escritório de design pode oferecer. Acabamos de
desenvolver também um aparelho de celular para uma média empresa.
É para idosos e para crianças, e sua idéia básica era ser o mais simples
possível. Outro projeto interessante que nós fizemos há dois anos atrás
foi o Kick Bola Urbana, o primeiro parque temático ligado a futebol.
Fizemos toda a parte conceitual, instalação, gerenciamento de toda a
produção. Foi um projeto bem bacana e bem inovador. Recentemente
também realizamos uma linha com a Decameron, uma indústria de
móveis de médio porte. A linha de móveis tinha a assinatura Nó Design,
sendo que também cuidamos de toda a parte de comunicação. Temos a
poltrona Renda-se, em que nos baseamos em um estudo de rendas
brasileiras para o desenvolvimento do pé, cortado a laser.

Com o banco rolo, fica bem claro o conceito do Nó, o conceito de


movimentação, de versatilidade. A idéia, nesse projeto, é você poder
brincar com o móvel dentro de casa e oferecer alternativas para quando
você enjoar de sua cor e texturas. Desenvolvemos outra poltrona
também bem legal. Queríamos fazer uma poltrona que torcesse.
Conseguimos resolver e ficou um resultado muito bonito com um
acabamento bem vitoriano. É um resultado muito bacana, uma
experiência única, a pessoa senta numa poltrona cuja estética era rígida
e de repente ela oferece uma torção. Fizemos também uma mesa de
centro, que tem diversos módulos e cada módulo tem uma função
específica. Você pode usar todas as funções ou então pode desvirar
todas e ela fica lisa.

Também realizamos ações empreendedoras em grandes empresas, que


é um trabalho que, desde o início, foi bem conceitual, bem autoral e que
está avançando. Já trabalhamos com segmentos de grandes empresas,
principalmente na área de cosméticos, desenvolvendo frascos.
Projetamos um frasco em parceria com uma agência chamada M Design,
que fez toda a parte gráfica. Esse produto trabalha na área industrial,
mas conseguimos levar para uma área de grandes volumes, que é o
mercado que a Avon atua. É, na verdade, uma brincadeira. Como tornar
um produto de criança um brinquedo. Tecnicamente conseguimos
resolver essa questão colocando dois olhos no frasquinho, então você
gira a cabeça do bichinho e ele muda a expressão. Temos um frasco em
forma de barco também, que não tem base, ele fica pendendo para os
lados e tem um barquinho dentro. Também arquitetamos uma linha de
acessórios para a Natura quando ela abriu a loja na França. O projeto
envolveu uma série de questões sociais ao trabalharmos com uma
comunidade que produz buchas. Fizemos uma linha bem grande de
acessórios. Um dos itens é uma saboneteira que envolve couro vegetal e
buchas. Outro é uma luva de banho que chamamos de luva dois dedões.
Temos também a saboneteira-gota, que é feita com resíduos de EVA, ou
seja, o próprio resíduo que a Natura gerava pra fabricar as bolsas foi
destinado para fazer essa saboneteira.

Nossas ações empreendedoras envolvem palestras, que são muito


importantes ao ajudarem a disseminar conceitos de design. Também
desenvolvemos produtos próprios e os comercializamos. É uma aposta
em um setor que ainda está crescendo, e que, portanto, ainda possui
muitas carências. Participamos de associações de design a fim de
discutirmos assuntos e necessidades em comum com outros designers,
assim como para conseguirmos dar vazão a todas essas questões que
ainda existem no mundo do design. Enfim, queremos transformar
cultura. Todas essas ações, na verdade, são caminhos para se
transformar a cultura do design, que ainda tem muitos problemas.

PAULA DIB

Boa noite. Muito obrigada pela oportunidade e por todas as palavras.


Eu me sinto muito lisonjeada e sinto uma responsabilidade muito grande
também ao ver que tantas pessoas têm tantas expectativas. Gostaria
muito de agradecer a Adélia. Ela é uma pessoa muito importante na
minha vida porque sempre me incentivou a apostar nas coisas que eu
acreditava. Desde o início a postura dela foi de falar com calma “você
vai”, “você acredita”, “você consegue”. Ela passa uma confiança que
você se sente capaz de conquistar o mundo. Gostaria de agradecer
muito também o British Council, que me ofereceu essa oportunidade
maravilhosa de troca e de aprendizado. Quero agradecer o Museu da
Casa Brasileira pelo trabalho, sempre muito bom.

Eu me considero uma designer multidisciplinar, mas com um forte viés


social. Durante essa apresentação eu vou tentar mostrar para vocês
como foi o processo que me levou nessa direção. Por vários anos estive
envolvida com diversos aspectos do design. Entre 1999 e 2002,
trabalhei com design de produto com a ceramista Kimi Nii. Também
trabalhei com design gráfico e até hoje lido bastante com esse
segmento. Esse ano, também tive algumas oportunidades com o design
expositivo. Ajudei na organização de uma exposição para o FSC, o Forest
Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal), com curadoria
minha e do Nagib Orro, com ilustrações de Maurício Cordel. Essa
multidisciplinaridade na minha vida abriu muitos caminhos e acabou
enriquecendo meu foco, que é trabalhar com design social.

Essa pesquisa começou logo que eu terminei a faculdade, em 2000,


quando tive a oportunidade de viajar para o norte do país e conhecer o
design popular, o design que nasce das necessidades do dia-a-dia e das
mãos de pessoas que nunca estiveram em nenhuma faculdade. Elas
simplesmente transformam o material que têm nas mãos para conseguir
cumprir o que elas precisam, para ter a lamparina, para ter o banquinho,
e tantas outras coisas que a gente vê por aí. Isso para mim foi muito
impressionante, eu achei muito fascinante ver como as pessoas
conseguiam transformar o lixo ou as coisas que estavam jogadas em
objetos com um valor estético interessante. Então assim, eu estava
nessa pesquisa, buscando caminhos, quando surgiu a oportunidade de
fazer uma viagem. Passei por diversos lugares e no caminho tive a
oportunidade de trabalhar na Espanha com Javier Mariscal, e na
Holanda, através da Design Academy, conheci o trabalho da designer
Hella Jongerius. Ao entrar em contato com o trabalho dela, comecei a
fazer uma conexão, um paralelo, entre a minha pesquisa com design
social e o que ela vinha desenvolvendo. Nesse momento me veio como
um insight. Ela me mostrou o valor de tudo aquilo. Então, quando vi isso,
percebi a possibilidade de conectar design, sociedade e ecologia. Nesse
ponto parecia que as respostas para as perguntas que eu tinha quando
eu terminei a faculdade simplesmente apareceram.

Por isso, em julho de 2003, quando voltei para o Brasil e comecei a


direcionar a pesquisa conversando com antropólogos, com designers
que já atuavam nessa área, também com artesãos, pesquisando
técnicas, procurando saber mais sobre a história e o mercado para esse
tipo de produto e materiais. Dentro dessa pesquisa, comecei a ver como
tinha gente atuando nessa área e se interessando por pesquisar o Brasil
mais profundamente. Até empresas, supermercados, redes, estavam
valorizando o Brasil. A TAM tinha aquela frase “orgulho de ser brasileiro”,
que ela mantém até hoje. Eu percebi esse movimento de valorização da
nossa cultura, valorização do que a gente é, do que a gente tem. Em
julho desse mesmo ano, no meio dessa pesquisa que eu estava fazendo
muito em cima do Museu a Casa, da Renata Melão, surgiu uma
oportunidade de desenvolver uma exposição itinerante sobre a arte
popular brasileira junto com o designer Emile Badran. A intenção da
mostra era levar o artesanato, em forma de exposição, para dentro das
comunidades onde o artesanato era na verdade produzido. O intuito era
valorizar o artesão e seu trabalho dentro de sua própria comunidade.
Então, depois de concluir este trabalho com o Museu a Casa, me envolvi
diretamente com comunidades na periferia de São Paulo, em agosto de
2003.
Como todos sabem, essas áreas são muito carentes mesmo. Como não
tínhamos muitos materiais, trabalhávamos com jornais, resíduos da
cidade e da indústria, que eram simplesmente despejados lá. Nós
dávamos um jeito de direcionar tudo aquilo. Por isso, sempre tínhamos a
brincadeira de que a gente faz mais com menos, fazendo um paralelo
com a frase de Mies Van Der Rhoe em relação a Bauhaus, “menos é
mais”.

Já em fevereiro de 2004 surgiram vários produtos. Com essa


comunidade que trabalhava com o jornal, por exemplo, no início,
queríamos disfarçar um pouco o jornal, então pintávamos, criávamos
elementos para disfarçar. Porém depois descobrimos que o bom de tudo
aquilo era que nós estávamos usando o jornal para gerar um novo
produto que tinha um valor no mercado. Um desses produtos é uma
fruteira. Ela é recheada com metal dentro dos tubinhos de jornal, e
assim você pode moldar a fruteira, adequando-a a fruta que você tem. O
desenvolvimento de outro tipo de fruteira, feito com revistas usadas,
também foi interessante. Precisamos de moldes para fazê-las, já que
teriam o formato de bowls. Fomos a uma loja de 1,99 que tinha na
região e eu queria comprar uma bola de isopor, mas elas custavam
muito caro, uns 20 reais mais ou menos. No fim, pegamos uma bola de
plástico, dessas do Bob Esponja, e a usamos como molde para os bowls
maiores; e para os bowls menores, usamos bolas menores e assim por
diante. Fizemos a coleção inteira com as bolas. Então, envolve isso
também, pegar coisas que são acessíveis para a comunidade. Se eu
fosse lá e comprasse a bola de isopor de 20 reais e ela quebrasse um
dia, ia ser muito mais difícil da comunidade substituí-la. É um
pensamento mínimo, mas que no dia-a-dia de uma comunidade, faz
toda a diferença. Em abril do mesmo ano também desenvolvemos
bolsas feitas de câmera de pneu, um outro resíduo da cidade.

Em dezembro de 2005, trabalhamos com uma comunidade que fica na


Zona Sul de São Paulo chamada Favela Monte Azul. Tenho uma relação
bem especial com essa favela porque eu estudei na escola Waldorf,
cujos móveis eram feitos pela Monte Azul, e por isso elas mantinham
uma relação bem próxima. Esse foi um projeto feito para o NIDA (Núcleo
de Inovação e Design em Artesanato do Estado de São Paulo), junto
também com o Designer Badran. Quando a gente chegou na marcenaria
deles, ao invés de propormos coisas novas, apenas olhamos em volta
para o que estava nos cantinhos. O que estava jogado e o que nós
poderíamos aproveitar. Nisso a gente descobriu, embaixo de uma mesa,
um monte de pecinhas de madeira e perguntamos o que eles faziam
com aquilo. Era um resíduo que eles recebiam da Giroflex e que não era
utilizado. Então pensamos na possibilidade de desenvolver peças
pequenas. Eles poderiam desovar aquela madeira e usar os resíduos
para fazer esses produtos. Pensamos em coisas pequenas, porta velas e
cinzeiro. No cinzeiro, a parte de metal é feita de fundo da latinha.

O caso da comunidade de Batatais, em julho de 2005, foi interessante.


Sempre que eu chego num lugar, tenho uma conversa com o grupo e
convido todo mundo para um passeio na cidade, para me apresentarem
o que tem de bom, o que não tem, etc. Quando eu cheguei em Batataes
para fazer uma oficina pelo Sebrae, um dos primeiros lugares que elas
me levaram foi uma igreja que ficava bem na frente do lugar onde
trabalhavam. Quando entramos na igreja, fui surpreendida por uma das
maiores coleções de Portinari num lugar só. Elas tinham ali um material
riquíssimo para trabalho. E mais, quando eu comparei a textura das
obras do Portinari com o trabalho delas, percebi uma similaridade muito
grande. A técnica delas era muito parecida com a técnica do Portinari, a
sobreposição de camadas. Analisando o trabalho delas, vimos que o que
faltava ali era uma orientação na questão das cores. Fomos para a Casa
do Artesão, pegamos todo o material, levamos para a igreja e ficamos
combinando as cores baseando-nos nas obras. Então, sempre que elas
recebessem uma sacola de resíduos de tecidos, elas poderiam ir à igreja
e ali sentar, olhar e combinar as cores. Além disso, elas estariam se
aproximando da cultura do lugar onde vivem. Então, é também uma
forma de fazer com que as pessoas se voltem para a cultura local e
reforcem o que elas têm.

No direcionamento dos produtos. Além da questão do mercado, o que


o mercado precisa, o que o mercado quer, existe a questão do que elas
querem realmente produzir. Quando sentei com essas mulheres e
começamos a conversar sobre a possibilidade da linha de produtos, o
que seria adequado, o que não seria; elas falavam o tempo todo que
gostavam de cozinhar, de comer, de conversar na cozinha. Então decidi
promover este gosto para que elas sentissem prazer e interesse no que
estavam fazendo. Também tinha uma parte do grupo que era mais
jovem e queria bolsas e acessórios. E fomos, assim, desenvolvendo em
cima disso.

Quando o Parque das Neblinas, em Taiaçupeba, no interior de São


Paulo, nos convidou para fazer o brinde para inauguração deles, em
2004, nos falaram que queriam que ele tivesse um aspecto social, foi
por isso que eles haviam me chamado. Pensei que se é um parque, tem
que ter um brinde especial. O projeto, também desenvolvido com o
Designer Badran, é um brinde efêmero. São bolinhas com jornal, papel
velho, cola de farinha e dentro delas iam sementes, terra, etc. A pessoas
que recebia, podia pegar o brinde inteiro e enfiar na terra. O brinde
decompunha e ali nascia uma planta. Outro exemplo de como um
trabalho comunitário pode ser produtivo foi o do Vivo Open Air, em
janeiro de 2005. Convidaram-me para fazer as almofadas do evento e
era uma missão praticamente impossível porque se tratava de 4500
almofadas para serem produzidas em apenas um mês. Pegamos isso e
levamos para algumas comunidades de aprendizes e no fim,
conseguimos resolver essa missão. Não vou dizer que foi fácil, mas foi
um sucesso.

Com essas experiências todas, vejo que a realidade brasileira de um


ponto de vista mercadológico e social se estruturou através de um
modelo de desenvolvimento excludente. De um lado temos o Brasil
emergente dos grandes centros urbanos, que visam desenvolvimentos
em moldes estrangeiros, e do outro o Brasil regional, muitas vezes
subdesenvolvido ou sub-valorizado, mas com ricas expressões culturais
e sociais. A minha proposta é unir, através do design, esses dois pólos
sociais brasileiros, desenvolvendo produtos que gerem renda e auto-
estima às comunidades artesanais, que valorizem a cultura, as
identidades regionais originais brasileiras.

Em 2005, eu precisava profissionalizar todo essa questão, direcioná-la,


criar uma metodologia, então abri minha empresa que se chama
Trans.forma. Ela ganhou esse nome pela força da palavra transformação:
ato ou efeito de transformar ou de se transformar, unida com a palavra
forma, objetivo do design. Então, transformar através da forma. Nesse
mesmo ano, conheci Andrée Vieira, presidente do Instituto Supereco,
uma ONG cuja missão é a conservação do meio-ambiente aliada ao
desenvolvimento humano. A André conheceu o trabalho que eu vinha
desenvolvendo e me convidou para escrever com ela um projeto de
geração de renda através do uso múltiplo das florestas de eucaliptos
para as comunidades que viviam em torno da Suzano Celulose, no sul da
Bahia, uma das maiores indústrias do Brasil. Foi um momento muito
importante porque hoje as corporações vêm sendo cada vez mais
pressionadas por selos e normas de qualidade como o FSC, SA 8000
(norma internacional ‘Social Accountality’, Responsabilidade Social) e
assim, elas precisam lidar com os resíduos de uma maneira mais
responsável, assim como com as comunidades que vivem em torno das
fábricas.

Nós começamos a pesquisar, no mesmo ano, visitando 16 áreas do


extremo sul na busca por balizas para execução e desenho de um
projeto. Nesse diagnóstico avaliávamos o potencial de impacto sócio-
ambiental e de geração de renda a partir do artesanato. No início do
trabalho, a equipe era formada por mim e por uma gestora social
chamada Dulce Mangini. Hoje a equipe já é maior, contamos com duas
psicólogas gestoras, Mariana Costa e Cristina Fillizola, e a também com
a designer Estefânia Machado. Estamos sempre juntas trabalhando na
comunidade. A partir do diagnóstico das regiões, escolhemos a cidade
de São José de Alcobaça como base para o projeto-piloto. Lá, passei os
primeiros três meses como observadora da vida local, da região e das
pessoas, para poder assim, levantar elementos para o trabalho. Eu
agrupei os recursos e pesquisei a matéria-prima disponível para o
trabalho que eram basicamente: folhas, cascas e galhos de eucalipto.
Desses materiais, a casca foi a que mais abriu possibilidades. Com a
ajuda das escolas locais, formamos um grupo de 30 interessados. Esse
primeiro contato com o grupo é um momento extremamente delicado.
Quando nos introduzimos para o grupo, quando dizemos o que, afinal de
contas, estávamos fazendo ali, sempre buscamos reforçar a palavra
troca, sendo que a comunidade é responsável por 70% da construção e
nós levamos os outros 30 dessa estrada.

Um exemplo legal dessa troca foi quando nós chegamos no material


que usamos até hoje. Com a sabedoria popular deles, descobrimos que
com a cinza dos fornos à lenha, comuns na região, conseguíamos
cozinhar a casca, dissolvendo-a como estivéssemos usando soda
cáustica. Depois aprendemos que a cinza tem uma propriedade alcalina,
sendo responsável pela dissolução. Assim, dentro do processo, também
existe um processo de resgate, de valorização das pessoas que estão ali
envolvidas. Quando estávamos propondo exercícios para desenvolver as
habilidades manuais, percebemos que boa parte do grupo tinha
dificuldades de lidar com coisas delicadas, pois muitos tinham um
histórico de trabalho no campo. Mão de enxada é sempre muito pesada
e por isso, para trabalhar, decidimos usar um molde e a polpa contra o
molde. Essa polpa era feita com a casca do eucalipto, que dissolvemos e
preparamos, e papel, que primeiramente vinha da escola e hoje vem
também da indústria. Com a ajuda da sabedoria popular local também
desenvolvemos pigmentos naturais. O vermelho vem do urucum, o
amarelo do açafrão e o verde das folhas do eucalipto. Hoje temos uma
linha com mais de 30 produtos. Desde presentes corporativos até
fruteiras e objetos decorativos.

Sempre falo que nós fazemos os produtos juntos porque no final de


tudo, o que realmente fica é o que eles assimilaram como deles. Se eu
chegasse lá, ou a equipe chegasse lá, propondo alguma coisa pronta,
seria apenas uma coisa levada, eles não se apropriam daquilo. Existe
um exemplo de como eles tomaram a coisa como deles, reafirmando a
possibilidade de sustentabilidade dessa história. O governo local
convidou o grupo para desenvolver um troféu. Eles, sozinhos, sem eu
saber de nada, fizeram molde, montaram um protótipo, enviaram para o
governo local, receberam a aprovação e produziram mais de 200 peças.
Esse é um exemplo, pra mim, que tem uma enorme valia, porque
podemos perceber que eles assimilaram o que foi ensinado e que, a
partir daquele momento, eles já poderiam seguir sozinhos. Nós
chegamos na comunidade, desenvolvemos todo um processo,
capacitamos esse grupo e agora eles podem seguir. Hoje o grupo tem
carteirinha de artesão, podem dar nota, podem fazer todo o processo, e
estão também se formando em associação. Nosso apoio agora é de
conexão da comunidade com os grandes centros. No início do projeto,
em algumas famílias, a renda familiar era de 80 reais. Em dezembro de
2005, isso teve um pico de 750, por causa das vendas de fim de ano.

Atualmente temos uma pessoa no grupo que cuida do direcionamento


dos produtos para as vendas. Essa pessoa não é um representante, ela é
apenas uma ponte, um link do mercado com a comunidade e da
comunidade com o mercado.
Este grupo já caminhou bastante, tiveram seus trabalhos publicados em
algumas revistas, conseguimos participar do Fuori Salone junto com o
grupo “Design Possível”. Eles também participaram da exposição da FSC
em São Paulo e da primeira Bienal de Design, como parte da história do
artesanato no Brasil.

O sucesso desse projeto levou à criação de projetos similares em


outras duas comunidades em 2006: Helvécia, também no sul da Bahia, e
Biritiba Mirim, no interior de São Paulo. A comunidade de Helvécia é um
remanescente quilombola e por isso procuramos valorizar a cultura afro
dos ancestrais. Lá, desenvolvemos colares e outros produtos com
pequenos fragmentos de eucalipto e sementes locais. Além do
desenvolvimento dos produtos em si, fizemos um trabalho de formação
de cooperativa. Essas comunidades da Bahia e de São Paulo não
existiam; passaram a existir depois da nossa chegada. A função da Mari
e da Cris é transformar esse grupo num grupo harmonioso, trabalhar a
reação entre elas e no fim, transformá-lo em uma cooperativa.

O grupo de Biritiba Mirim tinha um outro histórico. Sempre que nós


chegamos numa comunidade, avaliamos quais são suas potencialidades,
com que tipo de pessoas estamos lidando, quais são os materiais etc.
Nesse caso, estávamos numa região com histórico muito violento. As
mulheres sempre tinham muitas dificuldades, havia muita briga, pois
elas sempre viveram em um clima bem pesado. Com elas, a decisão foi
trabalhar com brinquedos educacionais buscando o resgate de
sentimentos mais serenos, mais puros. Os materiais utilizados são
resíduos de tecido, que recheávamos com o fruto do eucalipto e
coloríamos com pigmentos naturais. Alguns brinquedos que elas
produzem: jogo da velha, jogo da memória e as 5 marias.

Através dessas experiências, percebo a importância da troca de


conhecimentos com as comunidades. Quando um novo olhar chega a
uma região adormecida e desperta as pessoas para o potencial que elas
literalmente têm nas mãos, imediatamente um processo de
transformação inicia-se. Primeiro da forma de olhar, e depois dos atos e
das atitudes.
Dentro desse contexto de trabalho, em maio de 2006, surgiu a
indicação da Adélia para participar do prêmio Jovem Designer
Empreendedor do Ano ou Young Designer Entrepreneur of the Year,
promovido pelo British Council. Nem preciso dizer como essa indicação
foi importante para mim e como eu fiquei muito lisonjeada. Primeiro por
vir da Adélia, que eu admiro tanto. E depois, por eu ser indicada no
Brasil. Dentro desses 16 indicados foram selecionados apenas três. Eu, o
Fernando Maculan e o Yomar Augusto, que tem um trabalho maravilhoso
de tipografia. Dos três, acabei sendo selecionada e fiquei incrivelmente
surpresa porque vendo o trabalho de todos que estiveram envolvidos no
processo de seleção, pensei em como deve ter sido difícil avaliar e
escolher alguém para representar o Brasil. A segunda etapa da
premiação seria em Londres, o que para mim já era um prêmio.

Quando cheguei e tive mais uma grande surpresa. Para mim, o contato
com os outros nove participantes foi algo absolutamente rico e precioso.
Acho que o British Council não sabe o quanto essa reunião, por duas
semanas, de dez pessoas de culturas totalmente diferentes é
maravilhoso. Dentro do grupo havia pessoas da Lituânia, Eslovênia,
Líbano, Omã, Índia, China, Tailândia, África do Sul, Indonésia e eu do
Brasil. Quando olhei para os participantes, percebemos tanto dez
culturas quanto dez focos de trabalho muito diferentes, e percebi que a
conexão entre todos era uma palavra que a meu ver chamava atitude. E
o que é essa atitude?

Queria falar um pouco sobre o trabalho de cada um, porque são muito
especiais. O Makorn Chaovanich, da Tailândia, desenvolve um produto
altamente tecnológico com fundamentos no budismo e nas relações
humanas, procurando criar uma relação diferente entre produto e o
homem. O Heath Nash, da África do Sul, enxergou no plástico usado
possibilidades e através de técnicas de dobradura cria produtos
incrivelmente belos. O Gorazd Malačič, da Eslovênia, procura dar
destaque a seu país, que é novo e pequeno, criando produtos
gigantescos que chamam a atenção sobre o país, conseguindo, assim,
introduzir produtos menores de produção própria.

O Anwar Al-Asmi, de Omã, é aficcionado por ressaltar a cultura local,


por isso, ele ensina jovens a admirar o país e, através do design,
propagar isso. Com ele aconteceu uma coisa engraçada. Quando me
apresentaram para ele eu disse meu nome e me aproximei para
cumprimentá-lo com um aperto de mão. Nesse momento ele se
desculpou e disse que sua religião não permitia que ele me
cumprimentasse. No último dia, depois que já havíamos conversado
muito, trocado várias idéias, discutido muitas coisas, ele perguntou se
podia pedir algo. Eu perguntei o que ele queria. Foi então que ele me
pediu um abraço. Achei aquilo um ganho enorme, algo que representa
muito o que aconteceu durante as duas semanas em conjunto, as
diferente culturas puderam aprender, trocar e dividir.

A Maya Karanouh é do Líbano, a única mulher comigo. Ela trabalha


com branding e está ampliando sua área de atuação para diversos
países do Oriente Médio e agora está chegando até a Europa. O Darius
Cekanauskas, da Lituânia, tem uma empresa de design de produto e
trabalha com peças pequenas até as de grande escala, como estandes,
design de interiores, etc. O Ridwan Kamil é da Indonésia e é arquiteto e
professor. Ele tem um trabalho super diferenciado e encabeça a
campanha “Good Designs, Good Business”, que procura abrir
oportunidades para designers dentro da Indonésia. Da Índia tem o
Ramesh Manickam, que desenvolve desde canetas até tratores,
conforme as necessidades da região dele. O Xie Yong, ou Simon, como
gosta de ser chamado, fundou um dos primeiros escritórios de design da
China e tem o sonho de ver crescer o numero de produtos não só feitos,
mas também desenhados na China.

Ao anunciarem o resultado da premiação em Londres, o júri afirmou


que meu trabalho surpreendia por misturar realismo e idealismo numa
coisa só. Uma vez, eu li uma frase do Gaudi que diz que “originalidade é
voltar às origens”. Quando um prêmio como esse, que tem uma
importância mundial, elege o Brasil e um trabalho artesanal comunitário
dentro de tantas possibilidades, como ganhador, reforçamos a idéia de
que não devemos buscar o norte fora, e sim dentro da gente, dentro das
coisas que nós achamos certas, que acreditamos, independente das
dificuldades que encontramos pela frente. Isso para mim representou
um estímulo muito grande. Um estímulo a pensar no significado, nas
diretrizes, e nas possibilidades desse design com enfoque social. Através
disso, acredito que temos que procurar abrir oportunidades, gerar muita
discussão em cima desse tema, promover crescimento, promover
amadurecimento, para que tenhamos certeza de que as pessoas que
estão atuando nessa área não estejam atuando de forma inconseqüente.
Para fortalecer essa atividade e promover transformações efetivas, que
é o que nós buscamos desde o primeiro passo, quando entramos em
uma comunidade.

Esse tema é muito cheio de aspectos, pode ser olhado de diversos


lados. E foi engraçado que há alguns dias atrás eu recebi um e-mail bem
espinhudo falando que eu era uma poliana e tal, uma série de coisas. E
eu, na verdade, achei interessante porque até então eu só tinha
recebido elogios e mais elogios. Acho que a única forma de nós
evoluirmos, crescermos, promovermos o desenvolvimento de alguma
coisa é realmente vendo todos os lados. Vendo como as pessoas
enxergam o que fazemos, também tentando entender o que elas
propõem, só criticar não adianta. Muito obrigada.

QUESTÕES DO PÚBLICO PARA OS PALESTRANTES

Moisés Cuer: O debate está aberto para questões. Quem quiser fazer
alguma pergunta para um dos designers pode levantar a mão e nós
passaremos o microfone.

Pergunta 1 - Bom, em primeiro lugar eu gostei muito do trabalho de


todos vocês. Eu fiquei curiosa a respeito daquele Homem-elástico, do
primeiro palestrante. Que tipo de corante é usado?

Leonardo Massarelli: O corante, exatamente, eu não sei qual é, no


caso, utilizado. O que eu sei sobre esse material é que todo o processo,
da vulcanização ao tingimento, é inteiramente baseado em produtos
naturais que eles mesmos têm dentro da floresta. Agora, exatamente
qual o corante, eu não sei lhe falar.

Senhora no público: Mas quer dizer que o corante também deve ser
natural, ali da região mesmo.

Leonardo Massarelli: Sim, segundo a informação que nós temos,


tudo é natural.

Moisés Cuer: Eu só quero pedir para que as pessoas façam perguntas


sucintas para que as respostas sejam específicas. Isso porque nós temos
um horário máximo, até as 10 horas. Acho que podemos até passar um
pouco desse horário, mas devemos sempre tê-lo em mente.

Pergunta 2 - Eu queria parabenizar vocês. Sou italiana de origem e eu


sinto que o Brasil está evoluindo no design tremendamente. Uma outra
coisa que eu queria colocar é sobre esse desenho que aparece aqui
nesse prospecto. Como ele foi feito, Paula?

Paula Dib: Quando a gente chegou nessa comunidade, como sempre


nós questionamos as mulheres sobre o que elas sabiam fazer, para
descobrirmos quais eram as habilidades que tínhamos ali no grupo.
Muitas sabiam trabalhar com crochê, então, aproveitamos a técnica que
elas tinham e os materiais que a tínhamos ali na mão e aplicamos uma
das técnicas de crochê, só que usando o arame com as madeiras e as
sementes.
Pergunta 3 - Oi, eu queria perguntar para a Paula, como foi o começo
desse processo para você? Você teve algum incentivo através do
governo? De projetos ou de ONGs? Ou foi uma coisa assim, cara e a
coragem, se envolver com a comunidade mesmo e pronto?

Paula Dib: Não. Quando voltei de viagem, consegui, através do


SEBRAE, uma entrada para desenvolver projetos com as comunidades.
Depois, também surgiram possibilidades através das prefeituras locais e
de ONGs também. A ONG que desenvolve o projeto com a Suzano é a
Supereco, que eu citei antes. Então, na verdade, temos que conseguir
parceiros mesmo. Uma outra possibilidade são as próprias empresas,
como o Parque das Neblinas, que estão se conscientizando e abrindo
espaço para esse tipo de ação.

Pergunta 4 - Eu queria fazer uma pergunta para o representante do


British Council, se fosse possível. Qual foi o critério para a escolha dos
dez países que participaram da competição? O que havia em comum
entre eles? Por que eles foram escolhidos?

Stephen Rimmer: Boa pergunta. O departamento em Londres fala


que a escolha dos países está relacionada à visibilidade que designers
têm em sua sociedade. Então, um dos objetivos desse prêmio é dar mais
visibilidade à trabalhos legais no mundo inteiro, especialmente a países
cujo design realmente não tem visibilidade. Ele pretende trazer esses
trabalhos para uma feira como a 100% Design, que tem uma visibilidade
enorme, e para Londres, que nesse momento é uma referência na área
de design. Então a idéia é dar destaque ao design de países com pouca
visibilidade e, como a Paula falou, mostrar coisas bacanas e
interessantes que estão acontecendo no mundo inteiro. Claro que nosso
hemisfério foi apenas representado efetivamente pelo Brasil. Mas isso
acabou sendo mais ou menos acidental, nada mais do que isso. O ano
que vêm participarão mais dez países e o Brasil infelizmente não poderá
entrar na competição. Seria injusto ganharmos duas vezes, um ano
depois do outro. A Paula irá fazer parte do parte do júri no 100% Design
em setembro, escolhendo o próximo ganhador. Mas em 2008 a gente
espera entrar de novo com o Brasil. Para ganhar, claro. E esta vez
faremos o processo de seleção o mais aberto possível, para os 26
estados do Brasil. Como eu falei no início, tínhamos só dois meses para
fazer todo o processo. Não conseguimos, mas acho que acabamos
chegando num resultado fantástico. Porém, realmente, um dos nossos
objetivos é abrir não só para o mundo, mas também para dentro do
Brasil, mostrar o quê está acontecendo de Tocantins até o Rio Grande do
Sul.

Pergunta 5 - Oi, é uma pergunta pra Paula. Eu queria saber o


seguinte. Eu acredito que a união dos dois Brasis, como você coloca, se
faz quando as comunidades conseguem mostrar o seu trabalho,
comercializá-lo, gerar renda, promovendo uma permuta entre um Brasil
e outro. Por isso, eu queria saber como é feita essa parte comercial. Se é
algo desenvolvido por você, se é desenvolvido pela parte social da ONG,
se existe um planejamento anterior de como esses produtos vão chegar
a determinados lugares. Como se abrem esses canais? Isso é feito
previamente, e depois são feitas as oficinas, ou primeiro se gera as
oficinas e aí vai se construindo determinados caminhos para que as
comunidades consigam, no fim, trabalharem por si mesmas? Enfim, essa
parte mais comercial, a parte do dinheiro. Como é que funciona?

Paula Dib: No projeto-piloto que foi feito em São José de Alcobaça,


primeiro capacitamos o grupo. O grupo também está investindo. Sempre
que chegamos ao grupo, falamos que estamos levando investimento e
que eles estão dando investimento para construirmos alguma coisa. Só
no final que entraria a parte da comercialização. Como era um projeto-
piloto, serviu também de aprendizado. Nesses outros dois grupos com
que estamos trabalhando agora, estamos inserindo a parte de vendas
antes, junto com a parte de desenvolvimento. Mesmo assim, por
questões burocráticas, de contratação, isso demorou um pouco, já que
tudo isso deve acontecer através da ONG, que é a parceira da empresa.
Mas o ideal é que isso aconteça a partir do momento que nós
conseguimos uma certa qualidade para que já se possa criar produtos
direcionados. Realmente, essa pessoa que está fazendo o link, que eu
falo que não é representante, mas uma pessoa que conecta com o
mercado, que mostra para o mercado o quê nós temos, ela está sendo
fundamental no processo. Então, conforme isso vai acontecendo, vamos
ganhando espaço e conscientizando comerciantes e lojistas para a
existência desse mercado que pode ser aproveitado. Mas a
comercialização é realmente a parte mais difícil, isso nós não negamos.
É o que fecha o ciclo.

Pergunta 6 - Eu queria saber da importância da faculdade para vocês.


Ela teve um grande papel na vida de vocês profissionalmente ou teve
que ter muita iniciativa vinda de vocês?

Marina Chaccur: Para mim, sem dúvida alguma, a faculdade teve um


papel fundamental, mas simplesmente a faculdade não faz nada por
você. Você tem que ter a vontade de transformar alguma coisa. A
faculdade o aluno é quem faz, então, se você simplesmente for assistir à
aula, voltar para casa e fizer um trabalho medíocre para passar, isso não
vai te levar a lugar nenhum. O quanto mais você buscar um
aprimoramento, conhecimento, troca de experiência, atividades
extracurriculares e coisas do tipo, melhor para você, para sua formação,
para sua carreira. Antes de tudo eu acho que a escolha da faculdade é
algo muito importante. Se você escolher uma faculdade que tenha
professores de qualidade e uma grade curricular boa, você já irá estar
facilitando todo esse processo.

Leonardo Massarelli: Para mim foi extremamente importante, não só


na parte do ensino, claro, o que na verdade não te ensina tudo, já que
isso seria impossível. Porém, acho que o mais importante foi a base de
relacionamentos que você cria dentro da faculdade. Acredito que você
começa sua vida profissional na faculdade. Infelizmente tem muitas
pessoas que tardam a entender isso. Isso é uma verdade. Então, o mais
importante foi isso. O próprio escritório surgiu de um relacionamento na
faculdade. Hoje todos nós aqui nos conhecemos da faculdade e isso é
extremamente importante.

Paula Dib: Para mim também, na verdade. Os relacionamentos que


você cria na faculdade, as pessoas que você conhece te constroem.
Você está se construindo, é um processo de construção. Eu considero
tudo o que me ensinaram importante, desde a escola, família, faculdade.
Você vai se construindo e a escolha de uma faculdade é muito legal, é
muito importante, o resto vai se construindo. Mas desde que você se
coloque também como uma ferramenta dentro de tudo isso.

Pergunta 7 - Eu tenho mais uma pergunta para fazer. Eu sou formada


já a um ano e ainda faço parte do CONE. Nós estamos organizando um
evento aqui no ano que vêm, o R São Paulo. Eu gostaria de saber, para
vocês, o que um evento como esse pode trazer para a cidade, para a
Grande São Paulo?

Marina Chaccur: Na verdade a minha relação com o conselho já é um


pouco diferente. Continuei no conselho apesar de formada. Acho que o
encontro regional em São Paulo tem um propósito especial, a união dos
estudantes das várias faculdades de São Paulo, que é um número que
vêm crescendo absurdamente, cada ano tem mais uma faculdade
pipocando por aí. Mas existe uma teoria de que as faculdades são rivais,
os alunos são rivais e coisas do tipo. Na prática não é tanto assim. Um
evento regional do conselho terá um papel fundamental para a união
dessas pessoas. Porque os estudantes de São Paulo só se encontram no
N, que é o encontro nacional em julho. Se conseguirem realizar um na
capital, com a união das faculdades e apoio delas, já seria um grande
passo.

Pergunta 8 - Paula, primeiro foi muito legal estar lá vendo a


premiação, acho que ela é um pouco mais do que simplesmente
produtos brasileiros lá fora. Aqueles produtos são uma forma de
expressão, é uma voz que sai de um ponto e vai pra um outro muito
longe. E a minha provocação para você é se você acha que essas
comunidades têm esse pensamento dentro delas, de que a voz delas
está indo cada vez mais longe ou cada vez mais pra fora. E ainda outra
provocação. Como que você reproduz esse prêmio dentro da
comunidade em termos de valor, não do valor como a gente vê
premiação de design, mas com o valor dessa expansão da voz deles
para outros limites, que eles antes talvez nem pudessem imaginar que
conseguissem sair. Como que você enxerga isso?

Paula Dib: Bom, quando nós chegamos na comunidade nós nos


esforçamos para que o resgate de auto-estima mobilize aquelas
pessoas. Então, a todo o momento, nós os lembramos da capacidade
deles de se desenvolver, de se estruturar. É um processo de auto-
superação constante. Cada peça que eles constroem, melhor que a
anterior, eles já ganharam muito e assim vai, num processo crescente.
Eles sabem da qualidade que eles estão ganhando, eles sabem dos
lugares em que eles estão chegando. Infelizmente, eles não conseguem
ter a noção real disso, porque são universos muito distantes. Por mais
que nós levemos imagens, fotos, mostremos as revistas nas quais eles
estão saindo, não sei se eles têm a dimensão disso. Mas mesmo assim
eles ficam muito contentes. São realmente universos muito distantes. Eu
acho que eles terão a dimensão disso quando um retorno financeiro
chegar até eles, porque isso mudaria realmente a vida deles ali. É a
diferença entre o comer e o não-comer. Não entre estar em Londres,
estar em Milão ou estar em qualquer outro lugar. Acho que é isso.

Pergunta 9 – Paula. Primeiro parabéns. Eu queria saber se essa sua


preocupação com o meio-ambiente e o social foi compartilhada pelos
outros nove designers estrangeiros e o quê você achou de estar lá, com
tantas cabeças pensantes, numa outra sociedade e tudo mais. O que
você acha do caminho que você tomou?

Paula Dib: Foi engraçado porque cada um teve uma reação muito
diferente. A maioria deles considerou esse trabalho uma coisa muito
inspiradora porque, por exemplo, na Indonésia ou na Índia, eles têm um
artesanato muito forte, só que nunca pensaram em desenvolver alguma
coisa em conjunto, sempre foram coisas muito paralelas. Então eles
acharam inspirador, essa era a palavra que eles mais usavam. Já o
chinês não conseguiu entender. Ele perguntava quantas peças eu já
havia vendido e eu respondia que cerca de 20, 30, 40. Aí ele mostrava
uma peça dele e falava que havia vendido um milhão delas. Eu estou me
comunicando com esse grupo, tentando tirar algum proveito dessa
história. Quando estávamos lá em Londres eu falava que já que nos
ofereceram essa oportunidade de reunir tantas cabeças pensantes,
assim, de lugares tão diferentes, deveríamos construir alguma coisa. E a
idéia do grupo foi criar um site que pudesse fortalecer as pequenas
produções de cada país. Então, eu acho que se nós continuarmos em
contato por e-mail, se conseguirmos realmente formalizar isso, fazer
acontecer, será certamente um ganho enorme.

Pergunta 10 - Boa noite, Paula. Eu gostaria de fazer uma pergunta


pra você em relação ao início da tua atuação já como profissional e um
pouquinho da sua formação. O que você acha de estar trabalhando fora
dos moldes tradicionais de design, desenho, projeto? E o que você acha
da perspectiva desse tipo de trabalho para nós designers no futuro?

Paula Dib: Bom, trabalhar fora dos moldes é sempre difícil. As


pessoas falam que eu tenho sorte por estar sempre viajando, só que
essa não-rotina vira uma rotina e é bastante cansativo. Acho que sou
muito mais feliz assim do que se eu estivesse sentada num escritório na
frente de um computador. Meu trabalho envolve a comunidade, eu estou
sempre buscando tirar o melhor de mim, colocar para fora o tempo todo,
na relação humana, na troca, na forma de olhar as coisas. Então, eu
considero esse meu trabalho muito enriquecedor. Todos os dias eu
ganho um pouco. E o que eu vejo dessa forma de atuar no design.
Primeiro eu acho que é uma coisa que requer muita responsabilidade,
pois uma vez que você atua junto com as comunidades você está
instigando aquelas pessoas. Você tem que ser muito responsável pelas
suas atitudes, pelos seus atos, pelas suas palavras. Eu acho que essa é
uma boa discussão. Eu converso muito com a Adélia e nós nos
perguntamos se um dia poderemos falar que essa é a cara do design
brasileiro. Será que o design brasileiro é isso? É linkar com o artesanato,
é não ter a ambição de ser uma Bauhaus, de ser uma coisa tão dura,
mas sim uma coisa mais humana? Acho que é um tema para gerar
muita discussão ainda. É um caminho que na verdade surgiu há uns 20
anos, timidamente, como diz a Adélia, com o Renato Imbroisi, e com a
Heloísa Croco, que tem um trabalho super embasado e sério. Acredito
que a atuação deles por tantos anos é que está fazendo isso chegar hoje
em dia com essa força. Agora acho que a direção que isso vai tomar
depende dos jovens que estão atuando também.

Pergunta 11 – A minha pergunta é para a Paula. Mas, primeiro eu


queria parabenizar todos vocês pelo trabalho, achei muito legal, muito
bom. Paula, você falou que a comunidade só percebe o benefício desse
trabalho quando ela vê o resultado monetário. Dá para notar que você
faz isso ideologicamente engajada, e é legal ver isso. Dá para ver que
você faz isso por paixão. A minha pergunta é relacionada ao valor
agregado de design. Normalmente, o designer agrega valor a um
produto e é uma ferramenta para aumentar o preço de um produto, para
dar lucro à empresa. Eu queria saber como é essa questão junto às
comunidades em relação ao preço do trabalho deles. Eles são uma mão-
de-obra barata, eles têm participação no valor agregado dos produtos?
Queria que você falasse um pouco sobre isso.
Paula Dib: Então, esse trabalho é remunerado através dos parceiros.
Nós não ganhamos nada com o trabalho que a comunidade produz. Os
salários são pagos pelos parceiros, ou seja, a Suzano, quem decidiu
investir nesse projeto. Também poderia ser o Sebrae, ou a prefeitura
local. A comunidade nunca que vai bancar o trabalho, pelo menos no
caso do nosso projeto. O benefício do trabalho é levar esse novo olhar
para a comunidade. Nós os fazemos olhar para as coisas que eles têm lá
no dia-a-dia, mas que eles nunca conseguiram transformar. Levamos
uma possibilidade de transformação mesmo. O que é proposto é uma
parceria. A Eliane sabia tecer e fazer crochê belamente só que ela fazia
isso só com a linha, nunca ela pensaria em usar a madeira que ela tem
na mão, as sementes que ela tem na região, para desenvolver isso.
Então, eu acho que o designer está lá para estabelecer um processo
produtivo, organizar a produção, desenvolver a qualidade de um
produto, elevar aquele produto a um status de mercado, que o mercado
possa absorver. E conecta também. A nossa idéia é os inserir no
mercado e até assim, parte do processo de capacitação desses grupos é
fazer uma tabela de preços com eles, onde é contado o material que nós
usamos, o tempo, etc. Nunca coloquei o valor do meu trabalho lá.

Pergunta 12 - Eu queria perguntar para o Leonardo. Eu vi uma


palestra do Barão em Belém, há um tempo atrás, sobre as buchas. Eu
acho que utilizava as buchas em luminárias, não tenho certeza. Eu
queria saber se nesse caso houve contato com alguma comunidade local
e se vocês utilizaram essa mesma comunidade ou empresa no projeto
da Natura.

Leonardo Massarelli: Nós temos uma pesquisa muito grande com


materiais alternativos. A bucha era uma delas. Inicialmente fizemos uma
luminária utilizando bucha natural. Nesse processo, descobrimos uma
série de informações sobre bucha, sobre temperatura, que ela serve até
mesmo como isolante em relação ao calor da lâmpada, sendo que nós
imaginamos que ia pegar fogo. Uma série de descobertas, o que foi
muito legal. Quando a Natura nos convidou para desenvolver essa série
de acessórios, o fez justamente para desenvolver acessórios que
tivessem o envolvimento de comunidades e materiais naturais. Temos
uma série de produtos, não só com buchas, por exemplo, com couro
vegetal. Alguns produtos derivados das buchas foram especificamente
desenvolvidos com uma comunidade do Pontal do Paranapanema. Existe
um projeto junto com o Ipê, o Instituto de Pesquisas Ecológicas,
chamado Ecobuchas, que é muito forte na área. Foi feito com uma
comunidade de assentados lá, que tem plantação de bucha. Assim, tem
uma série de famílias envolvidas diretamente na produção exclusiva da
Natura. Enfim, foi um projeto muito bacana de ser feito porque, como a
Paula estava falando, você acaba desenvolvendo um produto que já tem
o apoio de uma empresa, que vai comprar essa produção e vai criar giro,
vai criar ritmo para essas famílias.

Pergunta 13 - Minha pergunta é pra Paula. Uma curiosidade. Como é


que ocorreu a escolha dessas comunidades onde você está trabalhando?

Paula Dib: Nós fizemos um diagnóstico bem detalhado de 16


comunidades onde pretendíamos atuar, que eram as comunidades
vizinhas da fábrica. Assim, tínhamos diversas questões que o Núcleo
Ematuri, o núcleo de diagnóstico, nos ajudou a levantar. Escolhemos São
José de Alcobaça, por exemplo, porque tinha altos índices de doenças,
de pobreza e eles também tinham uma pastoral já pré-organizada que a
gente poderia entrar em contato, assim como escolas e professores
engajados. Tentamos dar prioridade a lugares onde conseguiríamos ter o
mínimo de estrutura e onde realmente necessitassem da nossa ajuda.
Helvécia é uma comunidade remanescente de Quilombo, então a nossa
idéia foi entrar lá para ajudar a fortalecer isso, trazer à tona essa
questão para comunidade para que não se perca esse dado cultural tão
importante.

Moisés Cuer: Gostaria de agradecer a presença de vocês, lembrando


que em dezembro continuaremos nossa apresentação sobre design.
Esse evento só foi possível pela co-realização junto com o British
Council, a quem quero agradecer, e também a presença de vocês.

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