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O Voo da Serpente Flores do Pântano

Uma Antologia Poépica Desaforismos & Epigalvanismos


Manoéu Galvam Manoel Galvão

*** ***

A solidão é a mãe da poesia. Ou a madrasta, talvez... A poesia é o indômito vômito do coração.

* *

As flores do pântano são tóxicas e seus brutos frutos Quando Deus quer se divertir cruelmente, hmm, ele
são venenosos... dá asa à cobra...

* *

Se as palavras são as moléculas do pensamento, sou “Coisa mais feia, meneno, você aqui vendendo
um engenheiro léxico-químico. veneno presse povo pequeno!”

* *

Acho que o autor aí do livro azul é um gigrande Direita e esquerda são os dois braços solidários de
reacionário de direita. um mesmo monstro trampolítico!

* *

Mentira! Fui eu, seu plagiota invejoso! Fui eu que inventei a palavra “gigrande”.

* *

Ai, a abençoada e maravilhosa inocência de não Eu acho que o cara aí do livro vermelho ao lado está
saber, a confortável ingenuidade que doura e me chamando de burro, só pode: vou já mandar
mascara esta pílula tragédia de ser... baixar torrada com porrada!

* *

No meu penúltimo sonho, veio-me a seguinte Cuidado com a revolução: a História não aceita
polução: a revolução é a solução! devolução.

* *

A partir do abandono do mundo, descobri que o O dinheiro é a mola e a esmola do mundo. E é


diabo não é o dono do imundo! também a coisa sólida mais gasosa que existe.
* *
O que é um nativo contando piadas na África? Filosofia de ator: “Tudo vale a cena, se a fala não é
Humor negro. pequena.”
* *
“Hmm, querido, esse criado-mudo só vale a pena se A ignorância é como o bandido Procusto: mutila a
a sala não é pequena.” alma que tenta passar por sua estreita porta ou deitar
na fama da sua cama.
*
*
“Tudo tu engoles em somente dois goles, apenas, se
tua fome não é das pequenas...” “Quero ver o meu filho-de-puta-do: já estou até
ensinando ele a lavar bem as mãos antes de comer e
* o dinheiro depois de cometer.”
Pra quem é louco, loucura é alguém lhe mostrar a *
cura que ele há muito tempo já não procura!
Qual o povo que mais repete a conversa alheia dos
* outros? O povo papaguaio.
Os grandinossauros foram vitimados pela *
catastrófica queda de um asteróide, mas alguns
microssauros espertos voaram para longe da O Pauno Coelho é um sujeito antológico, ou seja, do
extinção sob a forma de aves. tipo anta de zoológico.
* *

Às vezes a tremenda emenda sai muito pior que a Eu considero o livro “As Teimosias do Rei Mosias”
original encomenda... um texto bastante pré-fácil. Explico: o que vem
antes do fácil? O difícil, é claro. Por exemplo, é
* difícil construir um edifício. Destruir um palácio,
porém, é bem mais fácil. Mas, evidentemente, só
Felicidade demais engorda! podemos destruir facilmente aquilo que primeiro,
com maior ou menor dificuldade, foi construído.
*
*
É bom você vigiar o rumo aonde sozinho vai viajar,
porque incertos caminhos sem escolta dificilmente “Que explosão de tesão e emoção, hem, mocinha?
obtêm volta. Foi também tão bom pra você o que a gente acabou
de acontecer?”
*
*
“Aquela festa funesta realmente deu o que falar:
porque só deu muquifa lá!” “Você tem problemas? Pois eu tenho os resolvemas
pra tolos os seus dilemas.”
*
*
Esta é a minha jamais suplantada hiperpoépica
cantada: à bela moça, nossa, a quem eu interessar “Que a brisa da manhã acaricie teus pontos mais
possa, declaro e confesso sob assinatura, ó sensíveis com a maciez de seus dedos invisíveis!”
pequenina menina, paquero perder minha sina nos
mornos contornos da tua nua cintura fina, e será uma *
bênção com mais valor que diamante receber e beber
do favor de amor do teu mais doce calor de amante! Um burguês absolucralmente de vento em polpa, e
Aceite o azeite desta minha paixão galopante, pois isso só apenas vendendo roupa? Opa, que sopa!
ela é gigrande, sincera, única, inédita e do tipo mais *
intelegante! Oportunidade assim a gente não adia:
agarre-a agora com moça força e sadia ousadia! O preconceito é o peido de um cérebro podre!
* *

Naquela visita fiz uma pesquisa esquisita, mas “Fui lá oficialmente para estudar geografias, mas
infelizmente eu só trouxe dados novos sobre os seis acabei foi fazendo sexuais coreografias com
últimos ali trucidados povos. algumas colegas frias. E foi deliciosamente
surpreendente: pra quem eram frias, cada uma estava
* mais quente, e era cada garota mais marota e
perigostosa que a outra! Até agora minha boca está a
“Não, eu não sou séria e reconheço: você que ainda amparar riso: ali eu me senti como num paraíso!”
não me ofereceu o preço que eu mereço.”
*
*
A solidão causa uma lenta erosão até na mais doce
“Você quer ouvir o quê?! Um metal sentimental? ilusão do coração, e às vezes essa tragédia está além
Corta essa, garota: se toque que o rock não deve do poder de qualquer oração ou ação. Isso se o seu
desvirtuar o seu enforque!” coração não for só peça de decoração.
* *
“Quero te fazer um pedido, querido: não me chama Contra uma doença rude e terminal é preciso opor
nunca mais desse apelido fedido! Se não, ‘Jandira
uma atitude de saúde determinal!
Tocandira’ vai já lhe mostrar o quão dolorido pode
morder uma traíra!” *
*
“Nossa, como tá crescendo essa menina, daqui a
“Mamar-te, mimar-te com arte em minha ida a pouco já vai ser adúltera, a pequenina!”
Marte, como se a vida fosse o indócil lado de um *
bacamarte, vou: pou!”
* “Eu sou implacável, meu bom amigo, com o que
também é implacável comigo!”
Palavras: às vezes, uma dieta bastante indigesta.
*
*
Coitados dos ateus: eles só são ateus graças a Deus.
A fé remove montanhas, mas com dinamite é mais
rápido! *

* Os tentáculos cruéis da Fama, esse monstro voraz e


implacável, são os olhos do público repúblico.
Assim diz o mecânico quando vai se aposentar:
“Graxas, adeus!” *

* “Droga, para esta minha besteoria, quem diria, a


única maldição é a falta de medição!”
A qualidade está sendo cruelmente assassinada, *
suicidada, genocidada, trucidada pela quantidade. A
essência está sendo esmagada pela aparência. É a era “Lambimeleca!? Mas que nome, eca! Abrirsalão?!
do “ter ou parecer, o ser fora de questão!” Ah, essa não!”
* *
O tempo cedo castiga quem só medo mastiga. O tempo devora quem da paz perde a hora.
* *

“A Irrelevância do Mérito”, “A Obsolescência do “Ontem eu vi um cachorro lançando da boca pra fora


Talento” e “As Blindagens Vulneráveis” são ótimos o vômito e logo em seguida recomendo o indômito:
livros que eu li e recomendo. que nojo!”
*
*
“Quem dera eu ser de Peixes para nessa linda dama
“Os que sofrem aqui serão com solado de noturno
de Aquário eu mergulhar e logo do amor dela eu me
coturno molhado pisados, esmagados e espremidos
orgulhar, prazer borbulhas de ardor ao som do luar,
que nem uns esgalamidos cães oprimidos! E nem
passear em sua loucura no centro de mim...”
adianta se entupir de comprimidos, seus miseráveis
* macacos deprimidos!”
*
Quem aqui não é nobre gado deleite, ó azar, ó sorte,
é então pobre gado de corte. Amor em arte da vida faz parte, assim como também
a morte e até alguma ou outra felicidádiva forte de
*
porte.
“O Merencório Empório dos Corações Nômades” é
*
uma peça muito divertida: vale a pena rir de noivo!
* “Se aqui o tambuatá arde, então boa tarde! Deixe-me
ir, deixe: eu detesto cheiro de peixe!”
“Mas isso é macarrão de amarrar cão, seu Omar
*
Cascão! Eu pedi foi linguiça de amarrar preguiça.
Desse jeito mas é nunca que eu volto a comprar Em breve irei publicar meu novo livro “As
nesta espelunca!” Aventiras de Catolé Bicuia & Sernambi Cucuia”.
* Fiquem atentos.
*
Pauno Karduf tinha mesmo toda a candidaptidão
para a corrupção campanheleitoral. Com tamãe um As dúvidas são os tijolos que pavimentam a estrada
arreganho, ah, nem me admira ele ter ganho! da verdade.

* *

Casamento arranjado já é uma droga. Ai, mas o ruim “Matar de amor” é um dos oxímoros mais
mesmo é quando o pretendente já nem tem dente! gritantemente absurdos e contraditórios que existem!

* *

Cidade: um arquipélago de humanidades restringidas Meu amigo Edgar Galhada foi parar no hospital
e diminuídas cercadas de solidões por todos os ontem: o ponto culminante que lhe trouxe aquele
lados. Mas: boa noite pra quem é do açoite, bom dia ataque pronto fulminante foi descobrir que sua
praquela bela fugidia. Ah, e boa tarde pra quem não esposa o havia feito de boi tonto ruminante.
é covarde!
*
*
O amor é uma plantinha de flores roxas que só não
O homem é um ser racional, e, aliás, a estupidez é nasce no coração de decoração dos trouxas.
precisamente a sua ração preferida, desde sempre. Acontece que os trouxas são só legião nesta região!
* *

A esperança é o estopim da decepção e a espoleta da Deixei pra ela um bilhete assim: “Paquero poder de
infelicidade! tudo fazer para te satistrazer ao lazer todo o imenso
prazer intenso de que esse teu belo corpinho é
* propenso e que eu aqui no meu coração sinto que o
seu espírito está muito faminto.” Mas receio que ela
A tácita e muda cumplicidade passiva de milhões não esteja muito disposta a aceitar minha indecente
pavimenta a acidentada estrada dos genocídios. O proposta...
silêncio não é apenas reacionário: é assassino
também! *
* Um assassino, por mais brabo e valente que seja no
ato de suas violências, não é corajoso e sim um
“Passei no tranco, passeei em branco por tolas as covarde: seu maior e mais pânico pavor é o de
met-amor-fases da minha anjuventude. E agora, ai, conviver pacificamente. Por quê? Ora, porque a
como eu sinto minha vida vazar pelo pinto! Pego convivência pacífica exige muito esforço e trabalho,
todas, mas não seguro nenhuma. E eu nem faço é um desafio complicado, uma tarefa sempre incerta
esforço, mulher me vem de ruma. Prestar que é bom, e marcada por instigantes imprevisibilidades.
no entanto, já é outra história.”
*
*
Apaixonar-se é colher flores à beira de um abismo.
“Sepulcros caiados”: interface externa limpinha, Hmm, uma perguntinha antes de eu sair: quem tem
conteúdo profundo imundo. Como é tão sem poesia medo de ali cair?
a hipocrisia da burguesia, ó freguesia!
*
*
“Hmm, se a tal gata é de Peixes, espero que ela
Os ídolos pop são os infiéis depositários temporários escapar não deixes!”
da loucura de milhões, são deuses honorários,
criados com a licença de viver, por procuração, as *
fantasias e delírios das pessoas comuns. O segredo
não está neles e sim em quem os consome e mitifica. “Ai, Sílvia, a lascívia dos seus movimentos
A fama é um monstro de cem mil cabeças. E a cada comovem e deixam loucos tolos os meus
cabeça que as setas da veneração popular atingem pensamentos e até os mais jumentos sentimentos!
mil outras surgem no lugar: a fama é mesmo um
Mas isso será que já indício do início de mais uma
bicho bem invulgar. A fama é uma concubina
promíscua, volúvel, caprichosa e inconstante. sua histeria seria?”

* *

Eu simplesmente adorei a história da Histérica Érica O silêncio destes meus passos imbonitos me
e seu histórico maridículo nelórico. Porque pra evapora...
sujeito corno até o mais quente inferno ainda é
castigo morno! *

* Sensacional aquele filme “Dom Cornedro I e a


Marquesa de Tantos”! Cuidado, porém, com a
O silêncio desses espaços infinitos... me revigora! debilidade do duvidoso senso de realidade do
diretor. É o conselho de amigo que eu dou...
*
*
Fragmomentos de prosa cativa e experimentos de Isso é uma indireta pra mim, é, hem? Fala logo na
poesia sinaptiva de especial excelência assim, ah, só lata o que pensa, se é homem bastante pra isso,
você encontra aqui. Aprecie com ou sem moderação vamos, fala!
e não aceitolere ruimitações nem regurgitações!
*
*
Inteligente muitos podem ser. Difícil mesmo é ter e
Aqui quem procura mucura só encontra lontra, mais
que loucura pilantra! manter intelegância, ou seja, inteligência com
elegância.
*
*
Tá falando comigo? Tá querendo me provocar para
uma briga com tola essa intriga, é, é? Peraí! “Se a ida é louca e a vida é pouca, então o melhor é
beijar muito na boca! Dojindiante eu vou mais é ser
* feliz! E se você quiser comigo ser também, menina,
chega junto e me diz.”
Sandra Camaleandra sentiu um gigrande choque ao
ver seu ex-marido assim se sentindo tão *
eletroculpado pela primeira vez. Mal reconheceu o
Qual a cidade de povo mais enjoado? Manáuseas.
figura.
*
*
Estou lendo “As Aventiras Verbais de Dona As fêmeas humanas são os macaquinhos mais
Fuxixica”. Até agora estou gostando. Muito graciosos que existem em toda a ordem dos
engraçado, e instrutivo. Cada pérola da arte da Primatas. Só que, vixe!, como beija adoidado chega
fofoca! quase nem respira, essa pipira caipira! Mas eu gosto
é assim mesmo!
*
*
Ouvi dizer que vão fazer um novo remake daquela
O amor verdadeiro tem e mantém uma incerta magia
novela “A Calanga do Jalapão”. Mais um!? Pô, mas
do tipo sublime e que não se limita ou imita nem se
que falta de criatividade! Esse povo anda reciclando
plagia! Ou assim me contou uma jia...
toda a velharia antiga, em vez de inovar. Que
vergonha! *
* “Como ele ficou rico tão rápido? Simples: fraude
explica! Ele desviou verbas de um megaprojeto aí da
“Xi, não pega é nem vaca encalhada, o Zé Foice, por
medo de ela dar coice! Vai morrer solteirão, esse Açudene...”
um.”
*
*
Lá vai obra, calango atrás da cobra!
Qual a cidade onde mais tem TV? Antenas.
*
*
Lá vai relho, calango atrás do coelho!
Lá vai malho, calango atrás de atalho!
*
*
Lá vai Jango, calango atrás de outro calango!
Lá vai linha, calango foge da galinha! *
* Lá vai magia, calango atrás da jia!
Lá vai quiabo, calango atrasa diabo! *
* Lá vai manga, calango se encanga na calanga!
Lá vai canela, hoje tem calango na panela! *
* Lá vai cobre, calango é só lanche de pobre!
Lá vai peste, calango é banquete no nordeste! *
* Lá vai bico, calango não alimenta rico!
Lá vai nome, calango não mata a fome! *
* E lá vai rei, de calango eu já cansei!
E lá vem trem, eu já cansei também. *
* Eu acho que não demora nada-nada vai atolar lá a
vitória do tal aiatolá...
“Alô, alô, Dona Xulipa. A senhora quer ver a
minha... plantação de tulipa?” *
* “E desde quando mentira queima?”
“Isso não é toga, Rebeca, isso é beca! Deixa de ser “Hmm, só mesmo vendo o tira-teima...”
burra, urra!”
*
*
Minha namorada quer que eu a leve para assistir ao
A Revolução Francesa almoçou Rousseau e jantou filme “O Cínico Chico Lopes e os Cinco Ciclopes”.
Danton. Mas no Caribe, perto de Aruba, Fidel Não sei... Será que presta?
castrou Cuba.
*
*
A humanidade é um oceano de confusão total com
Sei lá! Nunca ouvi falar. um milímetro de profundidade moral.
* *

Isso em média, pois tem gente que é mais rasa ainda! “Onde já se viu um crioulo-de-lei com miolo de rei?
Pra resumir, Seu Palhares, essa era a própria
* definição do Zumbi dos Palmares.”

O pós-modernismo, em poucas e ocas palavras, *


dessignifica e indignifica a arte à la carte.
“Pelas belas balelas melenas da pequena Helena, a
* jóia suprema de Tróia, vou morrer pelos outros uma
pinóia! E tiau, seu Lindóia! A guerra é uma lesma
Cornélio Mansour!? Conselheiro conjugal? Eu, hem! lerda escalando uma ruma de...”
* *

Corno-detetive, em busca de evidência: “Vamos, “Ah, cavalo trilho de uma légua e filho de uma égua,
procura, procura, que a prova do chifre ainda está no vai com esse trote de garrote pra lá, porra, ou então
ar, Mário. Hmm, mas onde será que ele se esconde? de verdade corra!”
Vamos, alguém me responde!”
*
*
Camila Guenta Ferro dos Reis Aquino Rego dos
“Mas é de um evidente estridente que ela é uma Prazeres da Costa? Eita, nome comprido, hem!
péssima médium vidente! Se nem foi capaz de
adivinhar que eu não tenho grana pra pagar esta *
consulta com ela! Será que é preciso eu obsoletrar
ainda mais claramente a nua e tão óbvia irrelevância O lugar mais mal assombrado do mundo, dizem, é a
patente e evidente daquela charlatã vidente, hã?” ilha da Fantasmânia.

* *

“Extra, extra, noitícia canhestra: marota garota, “Desde que estou a dez comprimidos não sou mais
jovem loura suíça e doce, após recepção de mais um dos deprimidos! Obtive assim quimicamente pra
uma decepção derrapou na pressão da cruel fora da mente espremidos meus piores e mais
depressão, e assim mais aquela bela caloura jumentos sentimentos reprimidos.”
suicidou-se.”
*
*
Filosofia de empreendedor: “Se já está mesmo morta
Eca, vixe! Nunca mais como sanduíche! a cadela, hmm, vou já é fazer mortadela dela!”

* *

O planeta do tabagismo: Fumarte. Sinônimo de favela? Aspirador-de-pobre.

* *

A vida é uma tragédia, mas às vezes é até bem Somos apenas uns deuses pequenos acorrentados às
divertida esta nossa doida e doída ida pervertida. nossas dantescas e impróprias criações gigrandescas.

* *

“Penetro absurdamente gostoso no meio de tuas “A pé entra absurdamente no treino das tais larvas,
pernas. Lá estão muitos prazeres que esperam ser lá estão dois temas que exasperam de indiscretos.
sentidos. Chego mais perto e contemplo tuas coxas. Aconchega mais certo e com o tempo as tais larvas,
Cada uma tem mil universos secretos sob a pele cada uma em mil fáceis excretas sob alface murcha,
ardente e me pergunta, com gigrande interesse pela a ti besuntam sem estresse nelas, expostas, podres,
resposta, excitante ou morna, que eu lhe der: tens pois impreterível é que lideres, trouxa, este
contigo a chave?” (Marluscronde Aranda) achaque!” (Carlusmonde Andrara)

* *

“Adoro tudo dela: seus gostos, seus gestos, até esses Verdade dura e um tanto escura: neurose de pobre é
seus gastos indigestos!” só pura frescura! E pior é que isso difacilmente tem
cura.
*
*
Se os homens são de Marte e as mulheres são de Quando uma bela ela vem e diz que me considera
Vênus, será que as lésbicas e os gays são daqui da apenas como um irmão, logo penso ferozmente em
Terra, pelo menos? muco de incesto com suco de limão!
*
*
“Recebo um balaço de fria dama, e entrego o corpo
“E sonego o frouxo passo à fria lama...”
lasso ao fim da trama...”
*
*
“Recuso o laço do abraço da fria dama e entrego o
corpo másculo à sombria cama...” “Intercepto o passo da linda dama e lhe arranco o
cabaço na fria lama...”, escreve Marrom Badate,
* também conhecido como Véi Apholo Ozônio, em
certa parte de suas repulsivas Memórias de um
Loucos, completamente bêbados de medo, tolos
Violador.
cospem a felicidade longe, ou vomitam-na fora.
* *

“Quero ver é sãeeeeeeegue, eu! Mas só se não flor o A poesia vazia é como pomada na cicatriz delatriz
meu.” de uma antiga tragédia, fera domada e sonsa como
uma mansa crionça média.
*
*
A ternura é o sorriso da alma.
“E por que meu ambíguo amigo tá olhando assim
* meu umbigo?”

Por que muitas pessoas fumam, bebem ou usam “Quer mesmo que eu diga, minha perigostosa e
drogas? Para tentar mostrar que têm genes bons o delipreciosa amiga?”
bastante pra agüentar o veneno! Só que o tiro logo *
lhes sai pela culatra do vício auto-destrutivo.
Sim, a ternura pura é o sorriso da alma, mas essa é
*
uma distinção aqui já quase em extinção
Gostei muito daquela peça “Os Zeróis Canalhas”: *
uma sátira bastante crítica e provocativa.
Estou lendo um livro extremamente surpreendente
*
chamado “Do Milho ao Milhão – História da
Por que o milho foi um presente maldito dos deuses Decadência Humana”.
para os ameríndios pré-históricos? Porque ele *
obviamente foi repassado ao povo através dos
manhosos e marotos sacerdotes intermediários, essa “Ah, essaí? Mas é nunca que ela dispensa um bom
terrível peste pós-agrícola que nunca, nunca dá veículo só porque seu dono é um véi ridículo! Com
ponto sem nódoa. ela não tem nem filigrana se o cara é bem chei-da-
grana!”
*
*
Pra quem ama, até um bucho é um luxo!
Não confunda botas de Prada com Bodas de Prata.
*
Por que a lagartixa é tarada? *
* Porque todo dia a exagerada “sobe pelas paredes”,
zerada?
Ah, sem graça!
*
*
“Ela reclamou que o pior era que minhas palavras
Que porra é essa!? “Ele me faz sentir vertigem de sempre tinham a obscena voracidade da veracidade.
virgem...” O que é que diacho isso significa? E ela me achava profundo demais, eu a fazia, ela
dizia, sentir vertigem de virgem...”
*
*
É cada unha, que até parece duas!
Sei lá? Vai perguntar pra ela.
*
*
“Quando viu, enfim, a sua noiva em toda a cor
nupcial, convenceu-se de que pelo menos seria um E a culpa é minha, é?
corno especial: chifre de mulher linda dói menos!”
*
*
Enquanto isso, Paulo Prado via, com seu bofe Nenê
Quem é esse tal de Paulo Prado? Gatoff, e pela bichésima vez, o filme “O Senhor dos
Anais III – O Retorno do Gay.”
*
*
Certa noite sonhei com Nelson Rodrigues vestido de
noiva: ele usava batom e uma peruca ruiva... Eu nem sei, só sei que é aí um gay.

* *

A vida com moela é...? Fácil: um bicho galináceo! Nossa, mas que sonho mais esquisito, hem!

* *

Estamos caminhando, aceleradamente, rumo a um A arte é o último refúgio dos desesperados de


mundo pelo avesso onde as virtudes são coração.
profundamente desprezadas e os vícios são
cultivados e positivamente valorizados, um mundo *
onde os maus são premiados e os bons são
desprezados. Quando a paixão não é muito mútua, a intenção de
amor do coração se tumultua.
*
*
Existem duas prisões, duas escravidões hediondas:
numa tudo é proibido, na outra tudo é permitido e O stress da necessidade prática é o combustível do
reinam o prazer e a libido. motor do progresso técnico.
* *

Moda: um amontoado de dispensáveis frescuras Um desejo-aborto antes de nascer já está morto.


criadas a pretexto de vender roupa.
*
* O humor é uma tática acidental de sobrevivência
mental: ainda bem que ele existe, porque é sempre
Paz na "guerra boa"? Só mesmo aos homens de melhor sorrir na dor do que ficar triste!
vontade à toa.
*
*
Cidade grande é como um deus faminto expelindo
Olhe bem e veja: acertar é humano, embora o errar malícia por todos os orifícios: qualquer um pode ser
muito mais também o seja. devorado a qualquer jumento momento no
implacável altar de seus sacrifícios.
*
*
Muito cuidado com as manhas tamanhas das lábias
de quem lhe aparece com doces palavras de mel Como explicar a espantosa persistência das
aparentemente sábias! gigrandes tragédias e desigualdades da história em
poucas palavras? Simples assim: vantagens
* diferenciais cumulativas derivadas de sorte
geográfica e combinadas com atitudes de reação
Os golpes do destino nos ensinam a sublime Arte do imprudentes, eis a herança comum desde o nosso
Amor e transformam a pedra bruta do nosso coração berço na África.
em uma jóia preciosa e de gigrande valor. E ainda
que as decepções da vida muitas vezes coloquem *
trancas, travas e cadeados no florriso da nossa alma,
com a moça força do entusiasmo é sempre possível a Ixe, ó o cara, aí! Falou bonito agora, hem?
gente se relibertar para com a felicidade ir flertar!
*
*
A doce vingança da tosca mosca: “Não é nada bom
A vingança é um prato que se come frio. Mas é quando você mesma em sua própria teia se
preciso e recomendável você ter muita disposição e emaranha, hem, aranha? Muarrarrá, muarrarrarrarrá!
dentes bastante fortes, pra poder morder e mastigar A vingança é um pato que se come frito.”
com força a dura louça.
*
*
E então o requinte da verdade seguinte aqui dentro
Que lindo! Copiou isso de onde? crepita: a vida é uma valiosa e perigostosa pepita, e é
a verdade da ida, até mesmo a mais dolorida, que
* enriquece esta jazida e faz a paz que ela em si traz
ser bem mais colorida!
Tá bom, vou fingir que acredito.
*
*
Eu não copiei de lugar algum, é de minha própria
“E enquanto a flor ficava lá seu perfume editando,
sozim para casa fui meditando.” autoria. Não tenho a tua mania, não, tá ligado, ô
chegado?
*
*
Sabia que Herculano Fulano abraçou a Tradição
Comum? Hã?
* *

Morreu. Mas quem é Herculano Fulano? Não conheço.

* *

Então deixa pra lá. O flerte é a fecundação, a paquera é a gestação e o


primeiro beijo é o parto do amor.
*
*
Por que nunca estamos felizes?
É simples: estamos sempre insatisfeitos porque
* vivemos numa cultura mercantilista de vendas e
compras onde o espírito de troca prevalece em tudo;
É, faz sentido. Mas de onde vem isso? e aí, de tanto vender e comprar coisas nossa alma
acaba sendo contaminada por essa atitude
* consumista generalizada de sempre querer mais e
mais novidades, de quase nunca usufruir
Ah, bom. Entendi.
duradouramente o que já temos, nos sentidos
* material e também emocional.
*
“Li no mel dos olhos teus, ó rainha linda: como esta
vida é bela ainda!” Somos fabricados e nos deixamos fabricar assim
* pela sociedade em que vivemos, como assimiladores
vorazes de novidades; é esta a nossa imprópria
Assim diz o bom policial: “A minha função especial cultura: a insatisfação contínua, essa insaciabilidade
é deter gente: sou uma espécie de social detergente. constante que alimenta as vendas e promove o lucro
E antes que mais cuja gente suja fuja, fui já!”
comercial de que o capitalismo precisa para
* sobreviver.

“Mas quando lá cheguei, pronto, perfeito: a chatinha *


gatinha já tinha o seu cooper feito.”
Ei, rapaz, cuidado aí com essas tuas rimas, hein? Isto
* é uma obra de respeito. Aproveitando o ensejo,
porém, alguém amém avisa aí pra mãe do jumento
Ops, foi mal. que tamãe não é documento!
* *

Nada desta selva se leva se nela não se eleva. Tenho uma coisa pra confessar: eu sou viciado em
beleza feminina, pronto, disse: sou um caliginófilo
* assumido!
E como já dizia o filósofo Manelzus Galvareno, *
“amar os outros é amar a si mesmo.”
Manelzus Galvareno? Será que esse um era meu
*
parente?
Muito pouco provável: ele viveu há muito, muito
*
tempo atrás.
Atrás de quê?
* *

Atrás da verdade, é claro. E achou?

* *

Sarna pra se coçar, sim, isso ele achou de sobra. Foi o que eu pensei. É sempre assim, né?

* *

Também quero confessar algo: confesso não ser “Florriso” também é uma palavra inventada por
muito chegado a sorrisos pré-fabricados! Mas mim, certo?
felizmente algumas poucas mulheres ainda têm e
mantêm sublimes florrisos autênticos em seus *
meigos e sábios lábios.
Menos, menos! Não, não sou só eu que sei criar, mas
* essa palavra foi eu que criou, fazer o quê? Essa é a
Oh, claro que sim: é tudo invenção tua, só tu que verdade. E não se faça de vítima, e pare com essas
sabes criar, afinal, né? Eu não sei de nada, sou só um chantagens emocionais baratas, sim?
ignorante véi, uma mera sombra fotocopiadora sem *
alento cochilando ao sopé do teu talento.
Já dizia Maneonardo Galvinci: “Quando vivemos
* longe do ardor do amor usamos o humor para tentar
macaquiar a dor.”
Maneonardo Galvinci? Hmm, cem comentários!
Afinal, tem coisas que nem Freud explica... *

* “Por que o camim desse lindo jardim permanece


assim sempre fechado pra mim?”, reclama Alice.
Ao facilitar a vida humana com tantas tecnologias e
mercadorias facilmente acessíveis a todos (que *
tenham dinheiro pra comprar, é óbvio!) o
capitalismo solapa as bases da família. “Quem sou eu? Hmm, por ora digamos apenas, pra
simplificar, que eu sou um sujeito bastante
* entusiasmático com intensa alergia ao tédio.”

O amor é como a areia, minha linda sereia, eia: se *


você dá muito espaço aos medos, ele escapa entre os
Eu diria que “As Aventuras de Zé Pobreza Lesa &
seus dedos. Chico Miséria Séria” é só uma caricatura de cultura,
minha rara criatura da literatura! Espantoso as coisas
* que hoje a lixeira atura!
Ai, os espasmos poépicos de uma indomada psique *
apaixonada, aprisionada nessa hiperigostosona e
abandonada zona do nada! “A melhor e mais sublime beleza é esta interna
chama de quem ama, que em nós teima e queima
* com a intensa força moça de sua nua presença e com
o mágico encanto trágico de sua supina leveza
Micrurine Botrópis é uma verdadeira víbora, não!,
enquanto acesa, minha doce princesa.”
pior ainda, uma boa cobra serpente linda!
*
* Não é que a loura seja burra: ela apenas tem seus
pensamentos folheados a ouro, hurra!
“O pobrema da minha namorada, a Elaine, dona
dotora piscorga, é que eu acho que ela é meia *
borderline. Isso, de pessoalidade imítrofe, sabe?” “Lá vem o trapo, passe aqui, passe acolá, lavem o
prato para eu panquequizar.”
*
*
A esperança passiva é a muleta psíquica dos tolos.
O nome da personagem protagonista de “Flores do
*
Pântano” será Flávia Estela: “Adoro o meu nome.
Revolução é quando as mudanças sociais são Parece nome de princesa romana. Princesa Flávia
aceleradas. Mas existem obstáculos e limites a tal Estela... Sem falar que Estela rima com bela e está
ação de aceleração. Por exemplo, existe a inércia só a uma letra de ser uma estrela!”
institucional, existe a resistência cultural e existe *
também a oposição da classe dominante que está
ganhando muito, em termos de privilégios materiais, “Tentar colocar motor de fusca em carreta”. Taí uma
com a situação vigente, viu, gente? E é preciso excelente definição de revolução: gostei!
também elevar em conta o próprio modo específico
e peculiar de processamento do fluxo histórico- *
social. Não adianta colocar motor de fusca em
carreta e esperar o mesmo desempenho acelerativo! “Pie nor so keys ties no sell, vain annoys hotel ray
no, surge fate a twelve on thud as seem nature come
*
no sell, owl pawn nor so decoy dad dear noose die
Hã? Que é isso, cara? Que linguagem é essa? urge, pair do I us nurses off fences as seem come
noise pair do am moss owls key noose tan off and
* did do, known nose day shy choir aim taint a sown,
muss leave wry noose do mall, a main.”
Vixe, é mesmo! Legal, muito boa, muito boa! Bem
*
bolado.
Isso é um ianque tentando rezar o pai-nosso em
*
português, mas com forte sotaque...
Fidel I de Cuba e Pygmeu II da Coréia são alguns
*
dos mais ridículos reis sem-coroa da nossa tardia Era
dos Monarcas Burocrápulas. “Hmm, deixe-me ver: Bafafátima, Desfilene,
* Modelorenna, Manekimberly, Passarelly,
Fashioneide, Sônia Sillyconya... Essa Fashioneide é
“Agora eu quero que você reflita pra que isso nunca o máximo: quando ela sair da passarela, vou traçar
mais se repita! A vida é uma valiosa e perigostosa ela! Hoje ela é a bela da vez.”
pepita e não um eterno mau-cheiro interno que ao
*
nariz lhe arrebita. Cuidado com esse seu mergulho
no orgulho!” As almas humanas, em sua gigrande e auto-
* esmagadora maioria, passam suas existências
inteiras como míopes toupeiras escavando e fuçando
Ah, é? Agora tu admites isso? E quando acaba ainda em círculos dentro da toca de suas impróprias
não quer nem saber de revolução hem! rotinas cretinas.
*
* A preguiça é o principal combustível da História:
preguiça de agir cria a política; preguiça de pensar
Ser rico em meio à pobreza de tantos é algo cria religião; preguiça de conviver cria a guerra,
psicologicamente equivalente a ser um deus. Isso preguiça de ser feliz cria o casamento, a preguiça da
está entre os piores frutos podres de uma indigna imaginação cria e procria o sexo inter-
sociedade maligna. masturbatório, a preguiça de ter e manter vergonha
na cara cria o abuso de drogas e a agressão ao
* ambiente.
A preguiça é o principal combustível que elementa e *
alimenta esta gigrande fogueira de vaidades que é a
história humana. E o mais curioso é que, por causa Pedir que pessoas que agridem até o próprio corpo
dessa imensa e intensa tendência preguiçal tão (já que bebem, fumam ou usam droga) e a alma (já
abissal, a maioria dos seres humanos nunca que desprezam a verdade, ignoram o amor e
consomem dogmas) respeitem o meio-ambiente,
trabalhou tanto! Também, eles têm que sustentar
hmm, isso já é pedir demais, dá licença!
simultaneamente a si mesmos e aos seus
hipergastosos deuses de araque! *

* “Ah, se você que está lendo isto agora flor uma bela
mulher, aqui vão algumas palavras gentis com
Grande parte das pessoas não vive de verdade, certeiras e fartas intenções terceiras e quartas: você
apenas improvisa a imprópria existência quase não é apenas bonita, sua beleza é incom-
sempre tentando fugir da coexistência com os paravelmente infinita, você é qualitatitativamente
outros. tão única que é a mulher mais linda do universo, e ai
de quem disso disser o inverso! Sua beleza tem e
* mantém uma mansa leveza extrema, ela é não só
uma obra de arte suprema, é quase uma blasfêmia ou
Daquilo que o bom moço comborço Aquiles faz de
um crime existir uma assim fêmea sublime! Nada
conta, hmm, o sonso traído e manso marido de Alice
semelhante foi trazido aqui antes por nenhuma
paga a futura fatura pronta. E eu ach’é pouco: todo
metafórica cegonha: acredite, você faz as flores
castigo pra corno é troco!
murcharem de vergonha! E se um dia você quiser
* conhecer do amor o verdadeiro romance, você vai
me enxergar e me dar uma chance.”
“Eu só gasto com o meu eu o pouco troco que não
gasto com o pasto do meu gato Romeu”, reclama a *
pobre moça voluntariamente tiranizada pelo seu
“O seu gasto comeu o meu ranário, Romeu!”
parasítico felino malino.
* *

“Sabe a Elaine, a borderline? Pois bem, ela se faz de “Um gato comeu o meu canário Romeu, buááááá,
tontas pra não perceber que sua ida é uma existência buááááá!”
apenas de faz-de-contas e quase sem base.” *
*
A Matemática é só a arte de elucidar padrões
“O curioso é que só quando ela sobe a bordo da envolvendo quantidades e/ou formas abstratas. Mas
mesmo assim ela às vezes pode ser bem divertida!
Airline é que o povo percebe que ela é borderline.”
*
*
Vivemos na Era do Cidadão Irrelevante, onde tolos Seduzir uma mulher diferente a cada dia não é
podem pensar e até dizer o que bem quiserem, já que difícil; isso muitos, muitos homens conseguem
republicamente as opiniões pessoais não contam fazer. Difícil mesmo, ah, é você seduzir e conquistar
nem importam mais em nada na já há muito a MESMA mulher todos os dias durante muito
agendada trajetória da inglória história. tempo. Ou seja, “pegar” e “agarrar todas” não é o
problema, o verdadeiro desafio é conseguir segurar e
Os eleitores não mantêm memória, e agora são manter uma, isso é o que pouquíssimos homens
apenas coisas a serem manipuladas de modo a conseguem.
formar, bienalmente, pelotões-de-apertar-botões no
dia da escorregadia lisura das eleições. Os partidos e *
candidatos trampolíticos cleptocrápulas estão
sempre ocupados demais com as sutilezas e manhas “Você é a mulher mais linda do mundo e tem um
tamanhas de suas eternas eleitorais campanhas. De coração assim enorme gigrande: vamos, me chame,
tanto terem que colocar de novo e de novo outra vez não tem como não me caber aí dentro dele, me
em pé o ovo, ah, não sobra tempo algum a perder ame!”
com o povo! Mas como ainda é preciso vender a
imagem, há então que fornecer miragem pronta, *
mesmo que apenas de faz-de-conta.
A sua felicidade é do tamanho exato da sua alma e o
* seu amor tem mesma força e nível da sua vontade
sensível.
“Peraí, manhê, tô fazendo aqui um daulerdo na
internete! Vou descer já-já, peraí!” *

* O amor é a chama que aquece a emoção e promove


o degelo do coração.
O mal animal primal por si só se destroi oi oi oi oi!
*
*
“Extra, extra! Égua Papalégua lança sua bisca isca
“Ai, dos felizes deslizes da minha cobra, cuja obra para rapturar o Cavalo Faísca!”
se dobra e desdobra na nua rua do seu perigostoso
beco das quatro beiras, até suas maldades me deixam *
a morrer e correr de saudades!”
Olha! Eu já te avisei sobre essas rimas marotas.
* Depois não reclama, hem!

Infelizmente, os cleptocrápulas ali de Frasília não *


percebem que a corrupção é uma miragem oca, mera
Mutuca que aqui me cutuca não vive pra ficar
ilusão de ética louca, e que de suas burocratices
caduca!
suínas logo-logo não restarão nem sequer as ruínas!
*
*
Adorei a peça “Quando a Freira Catrepeira Vai à
O amor, enquanto explosão, foi feito próprio para a Feira da Vila das Quatro Beiras”. Muito cômica, eu
erosão, mas, enquanto chama, ai-ai-ai de quem não
morri de rir, quase desloquei a mandíbula!
ama!
* *

“O gregócio aqui é bem precário pra quem num tem “Por que vocês acham que ele é conhecido como
denário: o povo deste cenário é muito mercenário!” Punhos de Aço, hem? É de tanto ordenhar ração pra
formiga...”
* *

“Um pedaço do seu eu você dentrometeu no meu O destino é uma taça que enchemos lentamente com
quando me acometeu e aquelas infinitas malícias e as lágrimas da nossa liberdade.
bonitas delícias comigo você cometeu.”
*
*
Rottweiler é uma raça canina muito mal-educada:
Muitos acreditam que promover o inferno na terra é morde primeiro e late depois. E de bocha cheia, pra
a melhor catapulta para lançar a própria alma rumo completar a deselegância!
ao “céu”. Estão tolos redondamente enquadrados
num triste equívoco, porém. *

* “Não suporto mais a grossa lerdeza de Vossa


Lordeza! Nem a troça indecência de Vossa
“Você tem um cão Rottweiler com pedigree? Ah, Insolência!”
grande coisa: eu tenho um cãochorro Lattvirer com
*
pé-de-grilo!”
Não confunda jamais um ménage-à-trois com uma
*
homenagem atroz.
“A minha namorada até parece que tem cintura de
mola!” *

“Sorte sua! Porque a minha parece até que tem é “Eu sou o bobo-não lobo-mel, lobo-mel, lobo-mel, e
cintura de bola.” quero fazer a Capuzinho conhecer o céu, e créu!”

* *

“Não basta ser polícia: tem que ser polícima! Não “É, saci, tua ação não pode continuar assim! Vais ter
basta ser policial: tem que ser policimau!” que dar teus pulos, sinto muito.”
* *
Ah, descobri porque tolos nós somos assim tão Enquanto isso, o crime cria raiz bem no coração do
tontos a ponto de hipervalorizar o dinheiro e país...
desprezar o amor: é porque vivemos constantemente
girando no espaço, em cima da Terra, à razão de uns *
1670 km/h! E o pior é que, além disso, ao mesmo “Seguindo indo lindo e também vindo pelas
tempo ainda giramos em torno do Sol a uns 30 km/s! avenidas da vida bem de cabeça erguida, ele
É por isso que ninguém faz a menor ideia de qual é o tropeçou num buraco e recebeu titica de pombo na
sentido da vida: fica tudo muito confuso nesse testa e no lombo logo em seguida.”
turbilhão (opa, alguém aí falou em "bilhão"?!)
*
giratório.
Atirei-o-pau-no-gato, versão de traficante: “Já fumei
* o tal do mato-tô, mas o mato-tô não lombrou meu
eu, a polícia já vislumbrou meu ser e no terror o
“Largada pejada, quem foi que te pegou? Foi o melhor que faço é me esconder, tchau!”
moço da ovelha que por aqui pastor?”
*
*
“Ei, porco, com asas assim encharcadas de lama vai “Largada pejada, quem foi o que te pegou?”
ser meio difícil você voar, hem!”
“Foi um repentino crentino que por aqui pastor.”
*
*
Parece-me que a gigrande virtude humana é se
adaptar para subviver. A grande maioria das pessoas, Eis aqui minha gigrande declaração de humor à
mais cedo ou mais tarde, cede ao medo covarde de vida: és uma perigostosa palhaçada sem sentido na
ousar criar e desiste de tentar voar, conformando-se qual já me viciei quase incuravelmente, querida!
com uma mera existência de toupeiras fuçando em
*
suas cretinas rotinas.
* É muito venenoso o atual mercado de cobras de
Marte, digo, de obras de arte.
Sabe a ignorância, essa benção feliz com a qual tolos
*
somos agraciados logo já ao nascer? Eu joguei quase
toda a minha no lixo, eis minha pior tragédia maior. A ciência faz os paralíticos voltarem a andar, os
* surdos voltarem a ouvir, cura os doentes, erradica
pestes, ressuscita quase-mortos às centenas todo dia,
E no sétimo dia, enquanto Deus cochilava, Satanás e sua base de funcionamento, que é a verdade, é
criou o raciocínio lógico... crucificada todos os dias várias vezes em todo o
mundo. Por isso, se é necessário optar entre Jesus e a
* ciência eu obviamente escolho a ciência, é claro.

Jesus disse: “eu sou o caminho, a verdade e a vida, *


ninguém vai ao pai se não for por mim.” E eu digo:
o caminho da verdade é a dúvida, ninguém ao bem Lênin e Stálin foram gasolina pura no incêndio
vai se não for assim. russo. Ou seja, com tais líderes o povo russo jogou
gasolina no incêndio czarista que já lhes queimava a
* pátria há vários séculos.

Muitos acham que os revolucionários são fogo. Já *


eu, diferentemente, digo que eles são gasolina.
Gasolina jogada no incêndio! É preciso criar uma Polícia Ambiental, inclusive
com poder de fiscalizar as vias públicas e multar
* quem nelas displicentemente jogue lixo.

“Joeli Aquém Gaputta? Ah, cuidado, viu? Porque *


daquela tubarã gatinha a primeira mordida sórdida
foi um naco insosso, porém fatal e grosso, no meu Um fragmento das Memórias de um Lobo Mel: “E aí
pobre e magro bolso.” ela ficou só me fazendo uma cafunesta festa sexta
nesta minha testa besta! Entediado, pedi: Capuzinho
* Roxo, você me empresta a sua cesta? Vó Lúpia me
aguarda ansiosa em sua bacana cabana.”
Estou lendo o mais recente lançamento do Manulé
Galzão: “Moela de Sovela & Osso de Pescoço”. Até *
agora estou gostando. Muito interessante, embora eu
pessoalmente ainda ache que aquele seu outro livro E assim calminha a desumanidade caminha: alguém
“As Aventiras de Crossbike & Frostbite” é avisa pra mãe, hã?, que os rebeldes de hoje serão os
incomparavelmente muito mais divertido. opressores de amanhã!

* *
É verdade, concordo! E olha que somente apenas “Extra, extra: noitícia canhestra! Demagocracia assa
elegantes gingantes elefantes gigantes passeando em Senado e obtém assim do controverso Congresso seu
jardim de jasmim fazem tamãe um estrago esmago bom perfil assassinado.”
maiormente gigrande assim!
*
*
O roqueiro Doidime Rêndriques era imbatível e
A velhice espiritual mais assassina também amém impagável em sua performance de massacre da
tem vacina: ser muito, muito feliz sempre que guitarra elétrica, embora sua rústica música demente
possível, com sensibilidade, dedicadeza e e patética em si fosse somente tétrica.
intelegância sublimes, além de muito amor e bom
*
humor!
Tentar satisprazer tolos os desejos de uma mulher é
* como querer esvaziar o mar só com uma colher.
Ser bela fatal, ou pelo menos fazer pose de tal, *
muitas mulheres até podem. Agora, ter e manter
consistência e firmeza em sua beleza de princesa, Budapeste é a capital da Hungria, e Bom-da-Peste é
sem que logo imploda o nédio e insólido edifício, ah, o capitão da sangria! Ele é um sujeito hipervertido,
isso já é bem mais difícil. mas às vezes também bem divertido.
* *

Décimo primeiro mandamento: “Não confundirás “Com a sanção do pai, ela me deu foi uma surra de
fatos com desideratos!” cansanção, ai! Uma surra sem tamãe eu levei aquele
dia da mamãe.”
*
*
“Cadê aquele boi? Catar cajarana com a Jainara ele
foi?” E assim é que o nédio tédio aqui matamos, quando
até ao pior nos aclimatamos.
*
*
De alguns se diz, quiabo!, que venderam a alma ao
Diabo; e de outros eu digo, adeus!, que a venderam a “Não, não é a água que está muito quente, você é
Deus. que está fresco demais, seu urbanóide folgado!”

* *

Já era o tempo da beleza rara, agora é o tempo da Os erros andam em bandos, são bichos gregários e
beleza cara. muito sociáveis, gostam de estar em companhia uns
dos outros compartilhando um mesmo nicho
* contexto.

A doutrina do “Design Inteligente” é apenas mais *


uma nova roupagem esfarrapada para tentar encobrir
a ridícula nudez dessa asneira anacrônica chamada Eles engolem suas alcoólicas beberagens e depois
criacionismo. saem por aí armados de seus veículos perpetrando
barbeiragens: é preciso acabar urgentemente com a
* temporada de caça desse pessoal que tem pressa
demais de não chegar!
“Pro impotente é que emulsões eu vendi!”
*
* “Stélio Natal, conselheiro econômico e gambiarrista
financeiro. Se você tem problemas com o seu
A questão é que, enquanto isso, incertos patrimônio, disque 171 agora mesmo!”
comerciantes continuam alegre e tranquilamente
vendendo seus venenos amenos que esse povo *
distransitóide e irresponsável tanto quer consumir.
Não há vitória: cem dificuldades…
*
Não há vitória sem dificuldades.
Saudades são as pegadas de uma paixão que “Não!” à vitória sem dificuldades!
pisoteou impiedosamente o nosso coração e depois
foi embora. *
* Com certeza!
Pra você ver só a importância da pontuação, né? *
* “Em sintonia a uma sinfonia de dor maior em si
menor e sequer sem nem ter um vulgar lugar ao sol
Não sou feio: meu corpo apenas tem, digamos, uma lá sustenido, ele soltou à ré um tremido gemido
aparência assim cheia de personalidade própria, a pungentemente dangeroso e extremamente não-
qual quebra e subverte, de maneiras abruptas e cheiroso...”
imprevisíveis, a tediosa monotonia estética da
insossa simetria. Eu, na verdade, sou lindamente feio *
e feiamente lindo: um feiômeno notável. E com uma
paisagem interna bem menos linda e muito mais Por que será que só quando a economia está a ponto
rebelde ainda! de dar um chilique é que eles abaixam a Selic?
* *

Se tudo que ela mais quer de mim é apenas “que “Machucornos a tolos nós sem a menor piedádiva,
esteja interno o encanto duro” comendo no centro do essa fada safada! É, eu também já se fufui às cucuias
seu mais íntimo dentro, quem sou eu para contrariá- e papaias com tolas essas suas cruas maracutaias
la? dela, aquela bela cadela traíra, que pior que a
tremenda encomenda então nos saíra!”
*
*
“Pobre Sonja! Quer namorar com o Bob Esponja...”
Assim falava Caralustra (deputada Peroba A.
* Caralustra): “Agora desço e agradeço o meu mui-
tobrigado deleite forte de porte, meu pobre gado de
Digo ao diabo o que digo ao deus também: minha leite e meu nobre gado de corte! Podem voltar pro
alma não está à venda, amém! grotão, meu pelotão de apertar botão. Até a próxima
* vez de voltar e votar pra quebrar! Quanto às
promessas, vocês sabem que eram apenas
Comer é mel, mas depois é o fel: ai, como a gordura controversas conversas fiadas enfiadas pra dois
dura! Verdade inquieta: a gula é a mãe da dieta! dormir no mágico sono dogmático da tenaz ilusão:
quero nem mais alusão, senão vai ter confusão!”
*
*
Cuidado, gente: o narciso não é flor que se chei...
zzzzzzzzzzzzzz! Consciência: um inaudito prêmio maldito?
* *

O desamor é um dos piores defeitos colaterais da Infelizmente ainda permanecemos cegos e


sobrevivência baseada em crimes e mentiras! amaldiçoados pelos hediondos crimes do passado e
* pelos teimosos erros do presente, trabalhando
loucamente para fazer o amor cada vez mais difícil
Concordo noventa e nove vírgula cem por cento com de florir aqui.
isso que você disse!
*
*
Quando ninguém incomoda o povo, ele se acomoda
Se ninguém incomoda, o povo se acomoda de novo no ovo à moda do novo!
à moda do ovo!
*
*
Fizeram um upgrade secreto no papa: agora ele é o
Ei, eu sei, pois testei e detestei: a vida cedo nos é Cururu Bubento 17.1...
logo jogada com dolo no colo: do útero ao solo ela
não presta como carreira solo! *

* Em matéria de informática eu só gosto mesmo é


daquele programa, o Andube Foca-Choca.
Este mundo é bom...ba, bomba tímida e bamba que
*
ainda brinca de hediondo-esconde nos silos, vacilos
e bacilos dessa sonsa crionça, a ignorância humana! Espaço publicitário: “Dr. Allan House, diagnose
diferencial por intermédio de internet.”
*
*
Cada diminuto minuto de amor que ousamos é mais
um pedaço de nós que acrescentamos à eternidade! Como é que uma bruxa inglesa dá partida na sua
vassoura? Broom, broom, broooom,
* broooooooooooom!
“Mas cadê o meu sossego? Foi pro murcho bucho do *
morcego?”
“Cadê o lucro nosso que tava aqui?”
*
“Foi pro CEO...”
“Ai, por que eu que tenho que aturar o inferno
aborrecente desse eterno adolescente!? Por que esse *
troço nosso nunca cresce e desaparece? Ninguém
merece!” Pilantropologia é a parte da antropologia que estuda
os costumes da tribo dos políticos.
*
*
“Sinta só os seus quatro sábios lábios rindo e eu lhe
vindo e indo lindo sem freio na úmida avenida de Mais um espaço publicitário especial de divulgação
sua nua flor-do-meio!” comercial: “Grana Piula Barbarósio, secretária do
Dr. Stélio Natal: Faz um sete um!”
*
*
Truelo, um duelo de três.
* “Se com o senhor vem um trator, esta estrada se
asfaltará.”
Dinheiro até que é um arraso, isso eu assumo, mas
ele só te dá asas de chumbo pra voar raso e sem *
rumo.
Marx falhou em entender o capitalismo a fundo
* porque focou demais no atacado e desprezou o
varejo; mas ele ainda assim voou mais alto que os
Loteria? Hmm, simples: o sistema oferece rasas asas pares de sua época, embora tenha se mantido
para alguns a fim de melhor manter os outros também prisioneiro das ilusões de então, filhote do
sonhando atolados na lama. seu tempo entusiasticamente cientificista e
determinista demais. E ainda tem mais: aí residiu o
* perigo maior do marxismo, seu intenso potencial
totalitário implícito: com uma teoria assim muito
Burrapa Rapacho Pachola Cholango Angola Golafo sofisticada e fundamentalmente errada, xi, a gente tá
Laforte Tezano Zanoia Noiachi Achiba Chibata ferrada!
Batalha Tagliaferro Ferrozo, princesa da Granúbia,
procura marido. Mas, com um nome desses, tá meio *
difícil, hein!
Reclamação no SAC da boca: “Xi, até agora nem
* sombra de lombra! Já tô cabronha e convencida:
você me vendeu foi maconha vencida! Quero já meu
“E enquanto eles curtiam seus inflagradáveis dinheiro de volta ou vou voltar aqui com gigrande e
momentos a dois, o maridículo da bela ela ganhava perigostosa escolta!”
mais dois ornamentos de bois...”
*
*
“Pare já com isso, menina! É de péssima categoria
Contra tudo que negue que esta vida é bela a minha essa sua alegoria de alegria: té parece que a esta
alma se rebela! você tem é alergia.”

* *

“Se eu agora faço parte de uma antiga linhagem “Se o hound é um cão pastor, manada apascentará.”
nobre, hmm, isso é graças à recente arte de uma
galinhagem de nobre, ai, o nobre do meu pai.” *

* Desabafo de um eleitor frasileiro típico: “Tudo fácil


faço praquele que me faz de palhaço!”
Os políticos são tolos que nem farinha: tudo um
asco, e logo-logo eles enchem o saco! *

* “Tudo fóssil naquele que me faz indócil!”

“Tudo meço o preço naquele que desde o começo *


me furta o berço, ó cúmulo, e depois ainda me
“Tudo troço doce naquele que me só tosse trouxe!”
encarece até o túmulo.”
*
*
Em briga de marido e colher não se intromete a
De grão em grão a galinha incha o papo e a farinha
mulher, que é melhor.
enche o saco!
*
* Dementes sementes do tipo frementes gementes: por
favor, flor-vapor nunca não experimentes!
Os homens criam seus deuses delinqüentes à sua
precária imagem e lamentável sim meliança, digo, *
semelhança e logo em seguida invertem a situação,
submetendo-se pateticamente como escravos quase “Querida, de você suas nuas qualidádivas amadas
absolutos dessas ridículas criações imaginárias de me vêm acontecer e advêm ao ser em múltiplas
suas impróprias mentes. E tem mais: os falsos camadas.”
deuses imaginários que as pessoas criam e tanto
*
veneram são a cola primeva e última, o cimento de
estabelecimento das instituições arbitrárias da Felizmente o inapto candidato subitamente se
sociedade. aburregou, escorregou de jeito na lisura do pleito: foi
* cassado seu registro eleitoral, sua imperfeita pepeta
pulou bem no peitoral! Ai-ai-ai, lá se vai!!
Ai, como eu testo e detesto essa irritante bastante
gritante e sem par mania porrexemplar! Por mau *
exemplo e não por acaso, os cavaleiros da Ordem
Às vezes a dificuldade dos textos expressa
dos Contemplários eram vários mercenários
eloqüentemente a vacuidade e fatuidade dos
exageradamente porrexemplários.
significados ali pretendidos pelos seus escritores;
* outras, porém, denuncia a preguiçosa incompetência
decifratória dos leitores detratores.
As reticências... hmm, são bolinhas de gude que
incertos escritores jogam no chão de suas frases para *
induzir os leitores à queda na escorregadia lisura dos
Teve até falsa valsa na balsa: na verdade, a rústica
significados marotos... Porrexemplo: “O inapto
música era salsa.
candidato subitamente se aburregou, escorregou de
jeito na lisura do pleito...” *
* Brasília certamente tem material de estudo mais que
de sobra para os cientistas pesquisadores do ramo da
Detetive de polícia servil, digo, civil, concluindo sua
pilantropologia aplicada.
preleção: “Eu riria e diria que este ferimento é avaria
condizente com o canivete conivente de um pivete *
exigente e muito insolente, e por ora agoramente
isso é só, gente!” Tem pessoas que parecem até ter no coração um
porco-espinho furioso no centro, lançando farpas e
* dardos pra todos os lados, inclusive o de dentro.
Surpresa nenhuma, então, você logo ver algumas
Dizem que eu me movo com uma gigrande, inédita e
dessas pessoas se machucarem a si mesmas com
mui notável desenvoltura entre as palavras,
seus impróprios espinhos.
circulando livremente pelo escorregadio e áspero
mundo dos textos. As idéias parecem estar sob meu *
inteiro controle, como se eu pudesse cavalgá-las
muito à vontade para fazê-las seguir o rumo que eu Nem de longe desperto ou dormindo de perto não
bem entender e determinar. estou certo, porém, de que isso seja propriamente
verdade. Nada pessoal, mas em minha avaliação,
* algum exagero se anuncia como visita implícita
nessas alegações precipitadas aí dele, as quais peço
As distantes estantes restantes agora estão gestantes
que ninguém leve nem eleve a sério demais, flor
de inlidos livros bastantes; daí serem os vôos de
vapor, digo, por favor.
incertas serpentes assim tão maçantes rasantes.
* *

É verdade, você tem estilo. Quanto a mim, podem Jogando a falsa modéstia no lixo a que ela
me acusar de muitas coisas, de ser ateu, à toa, cético, propriamente pertence, entretanto, reconheço que
incrédulo e até cínico; só não podem me acusar é de um incerto estilo lingüístico, do tipo estilinguístico e
falta de originalidade ou criatividade. Olha só:
só meu, pervaga entre as palavras que eu fervo e
“observar fenômenos é seguir, nos fatos, as pegadas
da verdade.” assim escrevo, permitindo que tolos os meus
desaforismos galvanescos mais típicos sejam
Hmm, as boas histórias ajudam muitas pessoas a facilmente identificáveis, com segura propriedade e
suportar melhor e mais distraidamente suas sérias categoria, como sendo de minha óbvia autoria,
misérias. Então, que eu jamais nem nunca crie textos
principalmente os irritantes erros mais gritantes: a
do tipo adoçucarados e conformantes, que eu jamais
forneça aos escravos voluntários novos e adorados propósito, “para amar os próximos há que amar
outros milhões de grilhões dourados. Que a minha também, amém, os mais distantes.”
escrita seja como uma erupção furiosa de flores
tóxicas, como os botes de uma sutil e pequenina *
víbora superçonhalmente ferina, como a semeadura
Cautela, porém, pois bons textos, quando fora dos
de inéditos espinhos e ervas daninhas nos pântanos
devidos contextos e por força dos mais perversos
da renúncia, uma denúncia rastejante e latejante
diversos e enxeridos pretextos autoinseridos, não
como um martelo percutindo teimoso e reimoso nas
tornam necessariamente a humanidade melhor.
rachaduras do dique, pondo-o abaixo a pique em
Costumam na verdade é ser recapturados de volta,
poucos momentos desfeito em mais de trocentos mil
em sua indolente e débil rebeldia, pela insolente
fragmentos!
cultura dominante como outras tantas fontes de
* influência, opressão e dominação, novas
engrenagens adicionais complementares a mais na
Máquina roedora e moedora de almas!? Nossa, você gigrande máquina roedora e moedora de almas.
está é me saindo um belo conservador reacionário
bem mais revolucionário do que eu nem imaginava *
que podia existir, sabia?
Revolucionário é o macete... que você usa quando na
* testa quer levar cacete!
Os brutos frutos do mal se recusam a amadurecer: de *
verdes eles passam reto direto a podres!
Se a fé remove montanhas, com TNT o processo é
*
mais violento e também bem menos lento.
Quanto a esse negócio de preferir o choro da derrota
à vergonha de não ter tentado, eu prefiro melhor *
ainda é a alegria da vitória linda depois de ter lutado
e trabalhado decentemente por algo bom! E quando Exagerônimo, o rei do exagero anônimo.
não tenho alternativas, eu crio uma certeira via *
terceira, e outra quarta, quinta, até sexta, porque sou
esperto e não besta! E, como diria Dona Olga, no Felizmente e meio, de permeio me veio, tipo de
sábado eu tiro folga. repente somente, a semente de mais uma pequenina
idéia menina à mente, ao centro mais de dentro aqui
*
do meu cerebelo: puxa, como o ser é belo! Isso
“Aff, ele saiu daqui num faz nem meiora, com uns como dizia a famosa escritora e filósofa
cagochentos e bronze diabos nos couros, existencialista, a célebre Sinônimo de Boi Voar.
perseguindo seguindo vacas e touros!”
* *
O que é mais tolo: vender a alma ao Diabo por um Peraí, vender a alma a Deus?! Isso já não é nem
lugar ao sol ou vendê-la a Deus por um lugar no opinião, é uma loucura que nem sob tortura eu não
Céu? Sério e etéreo mistério estéril... compartilho, nem sob a pressão de um espartilho!
* *
Ninguém aqui o está obrigando, pedindo nem Não, claro que não. Nunca disse que alguém estava!
impedindo, está?
*
*
Algumas pessoas parece que já nascem com a
Então-se pronto: você tem suas opiniões e eu, as tragédia embutida, programada nos genes e tatuada,
minhas. estampada no corpo. Certas mulheres lindas demais,
porrexemplo.
*
*
“Eu sei, eu sei! Já estou careca de saber que a
calvície é apenas algo que o tempo coloca na cabeça “Achei foi bem feito quando o Sargento Pelicano de
de algumas pessoas. Precisa ficar me lembrando isso tão nojento entrou pelo cano!”
a toda hora, precisa?”
*
*
“De dia Greg MacQuinn, de noite uma drag
“Fracademia das Agulhas Gregas Costurando Pregas queen...”
e Regras de Fuzileiro Fuleiro e Naval com Fuzil
Ligeiro no Oval”?! Nossa, quando a gente acaba de *
dizer o nome desse filme, pronto, ele já fez foi
“E eu vi uma linda onça bebendo saudade, marco
acabar: esse é de lascar!
essa dor ou me marca o seu úmido perfume...” Eu
* adoro essa música!

Grupo Rebeldicionário Ultra-Jegue, o GRUJE. *

* Enquanto isso, os muitos pastores da fé mercantil


conduzem o rebanho de dólares ao seguro aprisco de
A morte não me pode matar, pode no máximo me seus impróprios bolsos...
interromper, mas não pode me fazer des-ser daquilo
de bom que já vim a acontecer! *

* Os transparentes barbantes da fome coletiva de


servidão voluntária do impróprio povo manipulam
“A decepção da recepção daquela rejeição soube-me discretamente os ditadores e opressores que,
como um cristal aqui se partindo, quebrando, completamente iludidos, pensam tomar em suas
lançando pra tolos os lados cada pedaço e mãos teleguiadas as rédeas da sociedade súdita na
fragmento, inclusive para o ínfimo lado íntimo do iniciativa de dominação, quando na verdade o poder
meu centro de centro.” só faz e só pode fazer apenas aquilo que o povo o
deixa fazer.
*
*
O sentido da vida, negada, é a ida e não a chegada!
“Quero ler o meu cargueiro sacudindo essa nação e
* só acudindo os sem-noção!”
Por onde a esmagadora maioria dos rolos
compressores passa tudo sempre fica muito chato,
vixe-maria, chato pior que nem pizza fria! *

* Muitas pessoas perdidas se acham, hein!

Na mente, a razão rege dos pensamentos a complexa *


sinfonia e as emoções promovem da sua harmonia a
“Porque os intestinos humanos são relativamente
delicada sintonia.
pequenos? Porque parte deles subiu à cabeça desse
* desenxabido macacóide sabido...” Vixe, que lá vai
ripa: esse aí acha que nosso cérebro é tripa!
Hugo Lozzo foi para as profundeusas do inferno
interno, e nunca mais voltou. *

* Ei, cadê o Hugo Lozzo, afinal?

Endoidou, louqueceu seu eu, a razão ele perdeu ou *


em algum lugar esqueceu, ele simplesmente se fim
Hã?
deu!
*
*
Nossa, eu nem fiquei sabendo. Que coisa triste!
A propósito do grande inquisidor Tomás de
Rosquemada, quem será que domina o cano de um *
assim tão feroz algoz dominicano? A hipocrisia
perfazia tola a sua impoesia vazia, mas que azia! Assim ela recebeu a notícia fatal: “Menina, tu nem
Torrar os outros na fogueira das impróprias vaidades sabes: teu namorado, nheca!, ele quebra e requebra a
criminosas, coisa hedionda e das mais ominosas! munheca!”

* *

Aviso aos onerosos tubarões poderosos: essa grossa “Feliz anjo noivo”!? Isso é um oxímoro, e dos mais
bossa vossa ao mundo só destroça: sois, pois, eu paradoxais, aliás!
receio, apenas tolo miolo e recheio de fossa! Sois
pior que uma fedida e perdida aposta, e pra quem *
não gosta, evito aqui usar a palavra b... “Sabe o que o casamento normalmente é, na
* prática?”

“Sendo lindo, tesão, bonito e gostosão, eu nem “Hmm, vale a pena rir de noivo?”
preciso ser gente decente, não, meu pirão! Nem faço *
esforço e tolas elas por mim suspiram.”
“Esse sujeitim é muito pulmão-de-vaca, isso sim: e
* mão-fechada assim que nem o teu fucim!”
O que não me mata no jumento momento perfaz *
elemento alimento?
“Nós, hippies, valorizamos menos a aparência e
* mais a essência, meu.”
Esses jogadores de sinuca são tudo varinha do “Mas qual essência: a de gambá ou de ovo goro?”
mesmo taco, vou te contar!
*
*
O quê? O príncipe Sibá Tráquil de Sá Pinho, aqui? Não deixem de ler o meu tonto conto: “A Bacana
Isso é simplesmente i-na-cre-din-crí-vel! Cabana do Tio Banana”.
* *
“Ai, como é demoníaco esse terrível cheiro de Aquele que jura de tolo erro desconhecer a gemente
amoníaco!” semente, esse demente mente, mas ainda bem que
descaradamente somente: a verdade nem sempre
* visita os lábios dos que se dizem ser os mais sábios.
Vida de barman é soda! *
* Vida de estilista é moda!
Vida de jardineiro é poda! *
* Vida de borracheiro é roda!
E vida de meretriz é f... *
* Era uma vez uma fera e uma rês. A fera era lúbrica e
a rês era pública. A fera agora já era e a rês em
As moças de hojendia protegem com tão pouco e
resumo, sem prumo, vai rindo indo lindo no mesmo
parco zelo o seu mimoso e sacro selo: porque ser
rumo, eu presumo.
virgem agora dá vertigem. Encanto o viço, digo,
enquanto isso, rapaces rapazes ficam sol na banha e *
só na manha, aguiando incerto de longe ou de perto
as invictas gatinhas, doidos assim pra lhes Espaço de inutilidade lúbrica para mais um Decreto
ultrapassar enfim a barreira do “sim!” Federgeral da Rês Pública do Frasil: “Doravante está
ruminantemente proibido, em verdade, castigar sem
* mastigar os pioneiros prisioneiros da liberdade!”
Jeresmun Galvan Diovrieila, profeta de proveta. *
* Hmm, é seu parente esse um?
Que eu saiba, não. Eu, hem! Tem louco desse tipo na *
minha família, não!
Rocel Farney tirou de novo o primeiro vulgar no
* surrupeonato dos birocrápulas de Frasília: com
certeza ou talvez estamos fritos outra vez.
Pobremas e sofremas vão abundar até sobrar e
soçobrar pra quem não sabe votar pra quebrar, nem *
quer aprender! Depois nem adianta se arrepender.
Com gigrande ânsia o surpresidente Mula aos
* quatrocentos ventos sua ignorância ulula num ávido
mergulho no orgulho sob a raiz do nariz, enquanto o
Promessas de político? Ah, ferramentiras do ofício.
encanto de uma nova cor-opção da velha corrupção
* pulula em tolo o país: “puxa, que Paris!”

“A brasa tá queimando e o Brasa tá teimando, na *


fagueira fogueira da corrupção mais matreira o
“Agora você sabe o que é se sentir uma sardinha
Brasa ranzinza vai teimando e queimando até virar
enlutada, hein? E enlatada no maior aperto
cinza.”
também!”
* *
Como é triste a riste queda lá maior em si menor de A liberdade é a mais dura armadura de que o ser
um orgulho que, sem dó sustenido, voava apenas em humano dispõe, e também uma das que ele menos
ilusão sem perceber nem saber que ainda sequer nem usa ou abusa para se proteger do mal, ô pessoal
saíra do chão. animal!
* *
O que faz da humanidade este estranho arquipélago “Tava o maior silêncio daqueles. Aí, eis que de
de tão férteis loucuras que se coadunam serpente, ou menor, de repente o gato banal Tom
coerentemente em coletividades sociais coesas e mia em pleno palco de cena da aula de Anatomia.”
persistentes? A consciência ampliada dos
indivíduos, um subproduto inesperado da evolução. *

* Consciência? Hmm, parece que o ser humano ainda


não estava preparado para receber um prêmio tão
“Tudo bem, a decisão é sua: vá em frente, case e inesperado...
logo se prepare pra se chatear até que a morte ou a
sorte os separe.” *

* “Com as perigostosas pétalas do seu beijo ela tirou


da minha boca sublimes palavras de desejo.”
O corpo humano está destinado a ser banquete dos
vermes da terra, enquanto que a alma é uma pedra *
bruta que somente a sabedoria com o tempo lapida e
Jerusalém é a cidade onde a guerra é a namorada da
transforma em jóia preciosa! Investir só na beleza do
paz!
corpo é fazer com o tempo uma aposta tristemente
perdida por antecipação. *
* “Hmm, não quero ser nem parecer insosso, mas é
que conversas e promessas não colocam dinheiro no
“Enquanto Seu Raposa repousa, eu lhe passo e
bolso.”
repasso a esposa.”
*
*
Vixe, como é que um cara quer vender livro
Imagina só: “Mercaldo de Piabas Rebentadas e
prometendo já no começo piadas requentadas? Só
Piadas Requentadas”! Eu disse pra ele que isso não é
sendo muito idiota mesmo, hein!
título que se apresente pra livro decente! Ele insistiu,
agora que se vire, eu avisei: quem avisa amigo é! *
* Não, qual?
Mais doido é quem comprar essa coisa! Ah, e sabe *
que pseudônimo ele usou?
Eita, vai bater de frente logo com quem? Com
* ninguém menos que o Almanaquimista em pessoa!
Esse teu amigo tá ferrado, tá liquidado, pode ir
Pauno Joelho! Pode?!
encomendando a alma, coitado...
*
*
Falta de conselho não foi, isso ele não pode alegar.
A fonte da poesia é um coração que sangra...
* *
Coitado do povo que sua política cuja ele mesmo “Você faz idéia de que tipo de rubi a Ju teria? Quero
deixa ficar tão suja! lhe pedir um emprestado, mas não uso bijuteria.”
* *
“Ela conseguiu a tacanha façanha de tirar, no seu Eleitor? Hmm, isso não é aquele macaco escravo
teste de inteligência, um QI de 180 pontos! idiota que escolhe literalmente a dedo, em plena e
Negativos! É mole ou quer mais um gole?!” diurna farsa de urna, quem ele pagará como senhor e
carrasco pra lhe oprimir e roubar?
*
*
Isso, esse aí mesmo. Que figura, hem!
Os nossos erros às vezes são como traiçoeiros
* ladrões: roubam um tempo precioso da gente!
Goiabá é uma milha de ilha por tolos os dados e em *
todos os lados obcercada de gados.
Estou pensando em escrever mais um incendiário
* diário de recados dos meus mais hilários pecados. O
que você acha?
“O clima aqui de cima tem tanta raiva de ruiva
chega a saraiva uiva enquanto cai, ai!” *
* Mas se sou eu mesmo que estou pedindo, homem!
Você sabe que nos seus projetos literários eu não *
dou palpite.
Oquei, oquei, não vou insistir.
*
*
Melhor eu não me pronunciar, pra depois você não
vir me passar na cara que se deu mal por culpa Algumas pessoas são capazes de trocar um dia de
minha. Ação de Graças por mil dias de ação-desgraça.
* *
A fotografia coagula as eternidades descartáveis de Espaço publicitário: “Senhora Miçanga Issuga,
um rápido, lépido e tépido instante intrépido. prestamista usurária agiota.”
* *
Quem procura cura aqui acha, e logo baixa a acha O amor é a maior e melhor riqueza desta vida: é um
que racha sua oca à beça louca cabeça! tesouro sublime e bonitidamente inesgotável que
quanto mais você dele dá a outras pessoas, mais
* ainda você tem e mantém!!!
Tolos nós somos apenas uns macacóides bípedes *
com uma consciência seletivamente só um pouco
melhor, pois tem coisas nas quais e para as quais O quê, por exemplo?
somos até menos espertos que os outros macacos.
*
*
Tuchê! É verdade.
Macaco não fuma!
* *
“Eles tentam desesperadamente preencher o vazio de No rastro fresco e recém dos repasses sempre vêm
suas patéticas vidas com palavras ocas de qualquer os gulosos vorazes rapazes rapaces na trilha que os
sentido. Refugiam-se no belo castelo das frágeis extasia. Ê, Frasilha da fantasia vazia!
aparências, mas as ondas da realidade invadem,
inundam e arruínam tola a estrutura. Lutando contra *
o tempo, combatendo a verdade, ô batalha perdida, ô
Ajude a salvar nossos rios: diga não às dragas!
guerra inútil!”
*
*
Ter não é difícil. O problema é da riqueza você
Ajudem a salvar nossos brios: digam não às drogas!
manter de pé o edifício.
*
*
Na física fiscal, vige uma lei que o governo
Tempos difáceis virão ao pirão: muitos sentirão e até
solenemente ignora: todo aumento da carga
impositiva gera um aumento proporcional da carga suspirarão, mas não irão se juntar ao mutirão.
sonegativa.
*
*
A beleza sem virtudes é um anjo... de asas cortadas!
Muito cuidado, oi, para a sua despedida de solteiro
não acabar virando a sua primeira farra-do-boi. *

* Realmente, pra manter viva sua antiga linhagem, às


vezes um nobre precisa fazer galinhagem...
A poesia nos traz paz e infunde calma: é elemento
alimento e oxigênio da alma. *

* Policórnio, o incrível homem em que chifre cabia


demais porque ele sempre sabia de menos.
“Paquero sentir dos seus peitos suspeitos tolos os
medos pulsando aqui na ponta dos meus dedos. *
Tomara que sua raiva não me amasse antes que eu
consiga lhe dizer coisas mais amaciantes.” Viver é voar, e por algum tempo lá continuar livre
no ar. Mas, minhas mesquinhas condolências: todo
* voo tem suas turbulências.
“E que eu possa fazer troça do amor que tive e não *
mantive com aquela bela aprendiz de detetive, e até
dizer dele que não seja nem se veja imoral, posto O meu comportamento não tem que ser apenas a
que é drama de penetra na peça dessa trama, mas regurgitação de um indigesto passado infantil mal-
que do inferno fogo interno o encanto dure e digerido. Ele pode ser, ao em vez, a elaboração,
perdure.” Isso como diria e riria um poeta pateta, o assimilação e distribuição nutricional de tudo de
Indícios Imoraes. bom que possa ser extraído do que até agora
aconteceu ao meu eu. Senão, o adulto vira uma
* patética marionete refém sem esperança nas mãos de
sua frívola e volúvel versão criança.
A força própria de uma pessoa é o poder de sempre
guardar consigo uma cópia extra da chave-liberdade *
que abre a porta de suas prisões, e que de novas
ilusões promete doces visões. A leviandade é o aperitivo do preconceito.
* *

Então aqueles sonâmbulos funâmbulos juntaram “Sacos e cossacos de fracos tacos aqui não devem
seus ambos sacos de mulambos? soltar palpites nem dar pitacos!”
* *

A economia certamente não determina, mas co- “Não faça tempestade num corpo de alga belga,
condiciona muito o pensamento e o comportamento. Helga!”

* *

Gosto muito de algumas músicas da banda Peedle Espaço publicitário: “Farofino Homar Mitta, o rei
Deedle & Os Bananas de Bahamas! das quentolas portáteis. Tá com fome e vai viajar?
Pega o fone e disca já! Vai grátis um copo de suco
* de cajá.”

Apesar da canção do Roberto, acho que nunca *


encontrarei uma garota de papo firme com moela...
Hm, também acho que não. Melhor desistir.
*
*
O Frasil é um bom cadinho, mas complicado um
bom bocadinho. Muito erra e aberra quem maldosamente sugere que
a chuva é só o choro de tédio dos anjos do céu...
*
*
Muita gente acha mais fácil escolher colher onde
não plantou e usufruir as delícias de um belo castelo “Ao vivo agora, direto aqui do Rechifre, capital do
já construído, sem ter que colocar a mão na massa: Sernambico, passemos às extras noitícias canhestras:
mas vê se tem graça e já pode um assim esse bode! neste momento, está sendo inaugurado mais um
monumento ao jumento: o povo foi contra a estátua
* do jegue, mas o prefeito não quis nem saber de
argumento: mandou foi o povo ir ao diabo que o
“As TVs de cataplasma Semsunga™ são as
carregue.”
melhores do mercado; mas as LG (Língua
Gostosa™) também são muito boas. Ou assim *
garante o nosso anunciante.”
Ontem, vi uma estrela urbana, a Nikka, no mercado
* do pecado roubando banana nanica. Que decadência!
Aliás, dizem as más-ínguas que ela agora é militante
O pênis é o músculo másculo mais imodesto e do Movimembro Nacioniilista de Redestruição
metido que existe. Nocional Sucialista. Não sei se é boato, mas eu não
duvido, nem me surpreendo.
*
*
“Quanto a mim, enquanto isso, omito o mico e o
mito da urbananidade respublicana frasileira; e quem “Quando sinto assim esta cafunesta tristeza
quiser ruptura histérica que conte outra ostra e meditabunda, hmm, é porque a podridão solidão
espermaneça em sua atitude espérola. E eu aqui não maldita abunda em torno, como se eu estivera no
estou falando da realidádiva urbanana nua e crua que centro mais de dentro de um morno forno: socorno!
a gente tasca assim que vê sem casca na tevê.” Paquero um novo camim pra mim, Seu Jajacamim!”
* *
Tenho uma amiga que toda vez que vê um cara rico Uma gata gaiata comeu a paz do Romeu.
sua fome de grana entra em erupção e aí ela sofre
verdadeiros abalos interessísmicos de gigrande *
magnitude: uma mui lamentável atitude.
Esse olhar tem um excessivo jeito tão expressivo:
* parece um olhar difícil de saciar, onde o meu amor
adoraria poder passear. A inquieta ternura do seu
Mas ela também comeu a gaita e a ingrata paz do olhar faz a do meu quase molhar. Mas homem não
rapaz... chora: no máximo lava os olhos de dentro pra fora...
* *
Nas duas nuas pétalas do seu sorriso sinto e Como uma borboleta que, de passagem, rapidamente
pressinto um perfume de lírios: e esse perfume deixa rompe por um breve momento a lerda quietude de
o meu coração com ciúme e em delírios! um jardim, às vezes uma enigmática e súbita alegria
invade tola a minha tristeza, subverte meus
* pensamentos e coloca minhas emoções em ebulição!
Este é o meu cego guia, zarolho de um olho e caolho *
do outro, além de ser vesgo dos dois pés, mas ele
conhece esta região como a palma da mão direita Noivo neuroso, noiva nervóptica...
dele, apesar de ser maneta de um braço e amputado
do outro. *

* Mas pior seria se pior coice de foice cerceasse cerce


e rente que nem recente navaia na veia a aveia da
Coisas da Ópera: ampla tetéia busca uma, hã?, véia tetéia indecente, para regozijo de uma ampla
platéia atéia? Essa é uma ova, digo, essa é nova! platéia inocente.
* *
Nada de parar pra pensar, pra não correr o risco de Hmm, sabe que eu nunca parei pra pensar nisso
começar a pensar sem parar. antes!
* *
O caso das inglesinhas gêmeas de cores de pele “Amar, verbo transativo conjugado no hipertórrido
diferentes mostra claramente que a biologia ignora do fornicativo.”
por completo tolo o preconceito e que brancos e
negros podem, sim, conviver pacificamente, *
inclusive num mesmo útero!
Reclamação de um sargento nojento: “Se preciso
* for, eu até arreganho que este exército é um
deplorável rebanho. Este quartel tem que melhorar
Gente que se acha demais muito além da medida é seu plantel!”
gente que sempre acaba perdida.
*
*
Dois amigos meus estão formando uma dupla de
A amiga, explicando a ausência da outra em bom dois caipiras pra cantar pseudo-sertanês. Eles só
portugliche: “Ela foi só ali no wc just fazer suas estão em dúvida é sobre o nome artístico a usar:
neceshits: foi realizar and also to do um ligeiro “Uruca & Coroca” ou “Piroca & Peruca”?
logoff sólido, mas she said que volta já-já pra cá.”
* *
Que tal “Pulmão & Pamonha”? Sei não. Pra mim tanto faz, não entendo nada desse
* troço de choubis. Vou sugerir, pode ser que eles
gostem. Ou não.
Dizem que a gente só colhe o que planta. Eu digo,
porém: em verdade, em verdade, a gente só escolhe *
o que suplanta.
O que você quer dizer com isso?
*
*
Sei lá! Nada, eu acho. Apenas me pareceu soar bem.
Em Brasília há roubos e furptos, bem como arroubos
* de corruptos.
A única coisa que aqui ataca essa uva é... saúva! *
*
Hmm, ou agente acaba com essa uva ou essa uva
Marido bêbado e furioso, não querendo dormir fora: acaba com o agente.
“Vamos, abra, sua diaba cabra macabra! Ou de um
só tombo eu lhe quebro o lombo, em arroubo eu *
arrombo, e catapimpombo!”
Irmã cética, desfazendo da mana pro namorado:
* “Isso é febre de lebre! Ela lá tem nada: na
malvadeza da safadeza isso vive antenada! Pobre
E na crise-reprise a burguesia vai lá e pede mais lebre, não há quem lhe dobre a febre!”
dinheiro emprestado ao Fed!
*
*
“Mais uma imagem miragem aqui se esvaiu, saiu,
“Vê lá o que a madame ali tem.” evolou, se devorou, não demorou, caiu, esmaeceu,
“Tá bom. Ei, psiu, a senhora está bem?” sumiu, desapareceu, pereceu, eterno esquecimento
inferno ela mereceu a partir de quando de medo
“Não é nada, não: somente uma momentânea supino sem sagrado segredo lupino adolesceu.”
indispressurização. Já vai passar.”
*
“E então?”
Será que já me chegou a profunda idade de adquirir
“Madame disse que está apenas ligeiramente profundidade?
indispressuposta.”
*
*
Ah, se já passou, então tchau e adeus, pode ir!
Eu acho que já fez foi passar.
*
*
“Façamos deste beijo um monumento ao momento,
“Ai, que esses seus servos já estão dando nos nervos
minha mais preferida querida!”
até mesmo dos cervos! Vão ser burros assim lá no
meu castelo, que estou mesmo carecido de novos *
criados.”
“Santa cláusula subliminar, esqueci as minhas lentes
* de contrato de novo, mas que ovo!”
Transformar algo que late em algo que mia, ah, mas *
que curiosa e furiosa alquimia!
Quando você for passear em regiões tropicais, muito
* cuidado com incertos e desagradáveis encontros
botropicais.
Uma das piores torturas possíveis é você ficar horas
preso num elevador pifado junto com um cara do *
tipo peidófilo.
Espaço publicitário: “VENDE-SE UMA CAUSA –
* Tratar no Diretório Nacional do PrD, em Frasília.”
Os moais da ilha de Páscoa são hoje eloqüentes *
monumentos mudos de testemunho gritante da
estupidez humana. O estado de bem-estar social europeu foi uma
maneira de as classes dominantes, de então e de
*
antes, darem os anéis e os colares (mas só os de
Se assoar, não: exorcizar a meleca, eca! bijuteria, claro!) para não perder os dedos ou as
cabeças.
*
*
Está no ar, e vai continuar lá, o beijo manso do luar.
No Brasil de hoje existem algumas poucas ilhas de
* excelência intelectual perdidas num gigrande oceano
de idiotice pedalgógico-diseducacional.
O universo se apaixonou por você: aceite o sorriso
do sol a brilhar, o abraço da chuva a lhe molhar e as *
suaves carícias da brisa ligeira!
Fui assistir, ontem, ao filme “Sete Cachorros e um
* Osso Roído”. Não gostei muito, não: muito infantil
pro meu gosto.
A solidão é uma gaiola: o amor não pode dentro dela
sobreviver, pois aí não há espaço para ele voar livre *
no ar.
Felizmente Freud estava completamente errado
* quanto à sexualidade feminina: o centro
biologicamente legítimo do orgasmo feminino é o
O capitalismo oferece um exagerado excesso de clitóris e, portanto, ausência de orgasmo vaginal não
liberdádivas (duvidosas) aos consumidores, apenas é frigidez!
para melhor reescravizá-los sob a ignorância de sua
real condição de escravidão. *
* Pronto, já vai começar a falar mal do capitalismo:
Vou mesmo, ora essa! Quem manda o capitalismo tava demorando!
ser assim um esse gigrande crime, ou menor, um *
creme contra a humanidade, creme esse que nos é
oferecido como um bálsamo milagroso que, ao Araras raras são as mais caras das embiaras.
untarmos com ele nossa alma, garantir-nos-á
*
felicidade contínua e duradoura, pelo menos
enquanto comprarmos e consumirmos regularmente A ressaca da recessão vem logo depois da apoteose
suas infindáveis mercanquilharias acessórias. da euforia investimentista irresponsável!
* *

“Sim, senhor. Sobre um exército invasor incerta Gorbachev foi o gatilho da pistola reformista com a
notícia sim vazou. Agora o estrago já foi feito, não qual o regime soviético atirou no próprio pé, e
tem mais como consertar.” acertou o coração: mas que pontaria desgraçada de
ruim, hem!
*
*
Tão perigostosa esta “nossa” mirvada vida sem-
temporânea! Olha só como as coisas mudam com o tempo: Jesus
expulsou os mercadores do Templo, mas hoje lojas
* dentro de igrejas é coisa normal.
Advertência aos turistas em Lepéria: “O problema *
de deixar que um leperiano lhe dê uma mão é que
você logo depois não sabe o que fazer com ela: “Enquanto o bamba do samba saía e caía na calada
situação muito embaraçosa, devo lhe advertir.” da tão falada e propalada balada badalada, e sob o
acoite da noite punha sob açoite a cretina rotina
* dando na cara dela de botina, na alcova de sua ruiva
noiva Otávia o Ricarvão estava só de oitiva
Pra que “canudo”? Só pra depois você ir tomar suco preparando pra ela de um inédito hiperprazer a
de rotina cretina com ele!? comitiva oitava.”
* *
“Do meu mel te entrego o favo, Rita, porque você é “E depois de tudo, ela diz que ainda é virgem e que
de Senhora Birita a senhorita mais favorita!” tem é orgulho de selo...”
* *
Se agora usufruo escassos abraços, ah, é porque O bem anda junto do mal nos nossos crassos passos,
tolas elas preferem os ricaços. Mas minha alma em abraços e amassos, abrindo portas e nos
brinda ainda ao futuro momento da sua linda vinda à preparando laços e balaços.
ida da minha vida, ó futura querida!
*
*
Três meses sem tomar banho?! Nheca! E é porque
“Sabe aí o Omar Cascão? Não é que ele queira se
gambá, mas já faz três meses que ele não tomba ele não quer se gambá, hem! Imagina se quisesse...
manho, digo, não toma banho.” Hmm, pensando melhor, melhor nem pensar!

* *

“Azarado e pessimista ao extremo, quando a vidente Não basta colocar boas palavras no coração: é
começou a fazer todas aquelas previsões agradáveis, preciso colocar ação e coração nas boas palavras
ele logo perguntou se ela tinha sintonizado o canal também, amém!
certo com o além.”
*
*
“O quê? Uma gatinha dorremiando assim
As anfetaminas são o Viagra da estupidez manhosamente só pra mim? Hmm, eu não mereço
patricínica! desse preço nem mesmo um terço!”
* *
“Inteligentilmente indo lindo e rindo vindo “Espelho, espelho meu, diga que eu sou feio que eu
aondeonde nenhum homem fora e viera assim antes, te parto ao meio, entendeu?”
tudo só para lhe satisprazer o lazer e cócegas
sublimes de amor em sua alma fazer. Para cá e para *
lá como uma onda indecisa rumo a uma vaga meta
imprecisa...” Ela ficou tão exuberante naquele seu vestido azul-
berrante!
*
*
“Nem pela cor de sua pele dele, não troque de
amor!” A decepção é o salário da burrice!

* *

De que adianta a história com sangue você escrever, É verdade: quanto mais alto o voo do pombo, maior
e pior da queda é o tombo... da titica no seu lombo!
se depois ninguém mais restar vivo pra ler!?
*
*
“Ai, hoje escravo quando ainda ontem rei: eu sei que
A humanidade compõe um gigrandesco painel que errei fei e aí, ai, me ferrei, ei!”
vai do ridículo ao sublime, mas ultimamente vem
prevalecendo uma lamentável tendência à *
hiperficialidade comportamental combinada com
estupidez mental, uma idiotização cultural global em “Como os dentes de um sorriso tímido os tijolos
larga escala. amarelos da estrada da cretina rotina gargalhavam
absurdamente: adoro a ti, cara Dorothy.”
*
*
Hmm, muitos realmente tentam fugir deste mundo
trágico de nós rumo a um mundo mágico de Oz. Amar é também saber traduzir as boas e belas
palavras comoventes em realidade sólida e
* duradoura para ambos: amar é cultivar juntos um
gracioso jardim de ternuras, cuidando bem destas
“Mas como você é perversa, hem! Ao usá-las, todas
essas suas jóias ficam embaçadas de vergonha, para que elas florriam bonítidas pétalas de alegria
coitadas, e ofuscadas de inveja diante do fulgor de em graciosa harmonia.
seu brilho.”
*
*
O problema do Esconde Drácula é que ele é um
Amor não se conquista, se compartilha livremente, sanguessuga e nunca reflete nas coisas antes de agir,
como as duas asas que, batendo juntas em harmonia, nem depois.
permitem à ave voar livre no ar. Já a paixão, essa
sim, pode acontecer unilateralmente, independente *
da vontade da outra pessoa, e é por isso que paixão
A frase “não existe nenhuma frase com a qual todos
não é amor; a paixão é um pássaro que voa com uma
asa só: a qualquer momento pode cair. concordem, inclusive esta!” é uma frase logicamente
inegável.
*
Antes de a solidão me seduzir e reduzir a pozinho,
“Ah, essaí quando não está fofocando, sente íngua acordei e aprendi a voar sozinho!
na língua!”
*
* E quem de dizer é capaz que ainda está lento demais
o talento deste pobre rapaz?
“Nada pessoal, pessoal, sem íngua no úmero:
deletados por ficar no meu orkut indefinidamente só *
fazendo número!”
Meu coração é um cálice transbordando o vinho
* vintage do amor, vinho envelhecido pelo menos uns
25 anos.
O meu coração também é um cálice transbordando
amor; mas a verdadeira felicidade é a gente ter e *
manter muito amor fluindo lindo no bem de outro
alguém, deixando o outro ter de um sublime amor Eu gosto de criar frases que sejam como um jardim
sua voz ecoando livremente em nós e pulverizando a de significados com muitos detalhes, matizes e
solidão atroz! aspectos sutis; tudo bem, confesso que às vezes
acontece de eu plantar nelas incertas palavras
* exóticas.

Navegar num mar de rosas é algo muito perigostoso, *


porque quando a gente tenta mergulhar um pouco
mais fundo atinge logo o nível dos espinhos, os Mas, invernizmente, é a imprópria hiperficialidade
quais prevalecem nas gélidas águas das mágoas; de uns que alavanca o destaque daqueles que optam
aliás, talvez seja por isso que tanta gente hoje opta por cultivar a consistência e a solidez de suas
pela rasura da hiperficialidade sentimental e da qualidades de personalidade, em vez de ficar a fuçar
incompetência emocional. na lama rasa da vulgaridade ordinária!

* *

Nossa, até os céus hoje estão relampraguejando! Pois já aqui cai agora aquele sereno pós-enxurrada,
que para sair é incomodativo mas para o amor, hmm,
* é bem convidativo.

Servil Siamina adora à roda animais livres. *

* Hã?!

Nada, não: é só um palíndromo besta. *

* Aro dá a roda, Dora adora...

Invejoso! *

* Invejoso por quê? Você comprou os direitos de


exclusividade de criar palíndromos, por acaso?
Viver sem amor é como ser um canário mudo e sem
asas engaiolado na triste jaula do medo, e com a *
porta o tempo todo aberta! A vida sem o menor
clamor de um verdadeiro amor é como sopa sem sal Coca-cola morna e sem gás?! Eca, ninguém merece!
nem tempero, coca-cola morna e sem gás, café
requentado, piada sem-graça, festa sem música. *

* Ei, você viu o novo livro de ficção científica aí desse


tal de Noelman D’Ollivan Galveira?
Vi não. É bom?
*
* Nem sei dizer ao certo: ele é meio difícil de ler. Mas
tem, sim, algumas partes bem legais. Porrexemplo:
Hmm, parece interessante mesmo: pessoas que “Ninguém nunca entendeu o que deu em Ieivlinna
voam, uma bailarina volátil que dança voando no ar! Pupilinna para que ela abandonasse a carreira
Taí, vou ler pra conferir. Valeu a dica. daquele jeito para se casar com um ilustre
desconhecido monóptero e sumir para sempre do
* cenário do balé volátil: ela parecia simplesmente
amar bailar livre no ar! Suas apresentações eram
A paixão é uma coisa cega, irracional, é baseada nos sempre arrebatadoramente comoventes. Quando eu
impulsos geneticamente condicionados que se descobri que a mãe de S’linni era a célebre Ieivlinna
deixam levar pelas aparências, pelos sinais Pupilinna, ah, imaginem só a minha surpresa. Fui
superficiais de excelência corporal reprodutiva, direto falar com ela. Com muito tato e discrição, ela
evitou que eu revelasse seu segredo a S’linni, que
propaganda não raro enganosa, evidentemente;
não conhecia o passado artístico de sua mãe. Eu
apaixonar-se é na maior parte do tempo ser consegui me conter a tempo, Ieivlinna ficou muito
teleguiado por impulsos de desejo que desconhecem grata pelo meu silêncio e logo nos tornamos
as sutilezas e armadilhas da convivência social. excelentes amigos, até a lamentável ocasião da
misteriosa biólise dela.”
*
*
Experiência imprópria me ensinou que,
normalmente, quando uma mulher diz que gosta de Um de nossos piores deslizes é não ligar muito para
homem inteligente isso é só da boca pra fora que fazer florescer em nós o duradouro jardim das
nem cuspe, já que o que ela realmente quer dizer é delícias felizes!
que gosta de homem praticamente inteligente o
bastante para já ter acumulado, sozinho, dinheiro e *
sucesso bastantes para lhe proporcionar o usufruto
Infernizmente, vivemos numa cultura idiotizante, na
de muitos benefícios materiais, de modo a lhe
qual se despreza mortalmente o conhecimento, onde
permitir escolher ir colher onde ela não plantou, um
quem estuda muito é tido e dito como sendo “nerd”
homem inteligente o suficiente para já ter sido bem-
ou “cê-dê-éfe”, inseto social invisível da mais
sucedido sem a mínima participação dela, pois o que
repulsiva espécie.
ela quer mesmo é só chegar e aproveitar as delícias
de um castelo já previamente todo construído para *
sua exclusiva e elusiva felicidade egoísta abusiva.
“Ela é simplesmente um doice, mas às vezes suas
* palavras me ferem e preferem como um coice de
foice.”
“Seu tão paquerídolo maridículo a alguém atraiu,
com quem ato contínuo amém a traiu.” *
* Hmm, e se a ressaca viesse antes do porre? Que tal?
Ia ser preciso colocar a seguinte frase no rótulo da
Tomara que você aí que consome álcool, sempre que
garrafa: “Regurgite bastante antes de abusar”.
beber, tenha logo depois uma maravilhosa ressaca
aguda de umas 24 horas seguidas, acompanhada *
daquela encantadora enxaqueca bem latejante, pra
“Na mansidão de tuas nuas curvas sentis o passeio
aprender a não dar lucro a quem lhe envenena!
suave de minhas mãos gentis, o terno e rarinho
* sincero carinho de meus dedos exorcizando tolos os
teus medos, de um intenso prazer todas as tuas
Minha vocação é tentar concretizar metáforas. células já nem fazendo segredos.”
* *

Ver sem enxergar, ouvir sem escutar, gostar sem Há quem diga que a vida termina quando a morte
amar, existir sem viver: eis a diferença entre determina, mas a questão de quando a vida começa,
disposição e entusiasmo! ah, essa já é uma conversa bem mais controversa...
* *

Insistir numa afeição de mão única é pedir pra ser O outro não é o inferno nem o paraíso, mas ele pode
atropelado pela decepção. até ser ambas essas coisas ao mesmo tempo, e pode
ser também em verdade a chave da nossa liberdade:
* ignorar o outro traz impaz, solidão, prisão e
escravidão.
A Lurdinha é uma marota garota bastante com-
certesudinha: sempre que a convido ao sexo, ela diz: *
“Com certeza! Mas só se for agora!”
“Do que de bom eu lhe trouxe e dei obtive de volta
* apenas a ingratidão com que eu me trucidei...”
“Graziela, a bela gazela das mazelas, deixa as outras *
garotas muito roxas de pura inveja: trouxas demais,
elas.” “As suas veias ontem estavam tolas chocolatindo de
vontade por algo doce, aí eu fui e vim e trouxe.
* Sempre quando eu lhe presenteio bombons, todas as
moléculas do corpinho dela ficam chocolatejando de
“A gente já não se beija como antes, que íngua, ela hiperprazer, pedindo bis mais para eu lhe trazer! É
estalando nos meus dentes sua língua!” quase um vício sem nexo, talvez ela até goste mais
* disso do que de sexo...”
*
“Estranho! Minha mulher já não me ama mais... Será
que é pelo fato de eu não ser casado, nem nunca ter A solidão é um pássaro de uma asa só...
sido? É, acho que bela não me perdoa o fato de ela
simplesmente não existir na minha vida. As esposas *
são assim sensíveis, sabe?, principalmente as que
não existem. Vivem dizendo que a gente não A vida só termina quando a sua mente determina!
conversa com elas, e tal. Mas como eu poderia Ou quando à sua revelia alguma tragédia por aí
conversar com uma esposa que eu não tenho, gente?! germina...
Isso ela não quer compreender de jeito nenhum,
depois reclama que nós, homens, é que somos *
incompreensíveis. E se por acaso eu parasse para
conversar com ela, hem? Ah, provavelmente me Quanto maior o sonho... mais tarde você se acorda
acusaria de estar ficando louco, por entabular no dia seguinte! E provavelmente muito atrasado pro
diálogos com gente imaginária. Depois me mandaria trabalho...
consultar um psiquiatra, aposto. Vai tentar entender! *
Aí é que a gente endoida de vez mesmo, e sem volta
nem cura da irreversível loucura!” Um beijo só mente, se não flor de um sublime amor
a tão doce semente!
*
*
Agora ele vai comer o diabinho que um pau
amansou, lá na cadeia! O luxo é um pântano viscoso de areia movediça e
gulosa.
* *

Maio de 1968: o término que não andou. O verdadeiro amor é como o equilíbrio de uma
balança, que só é alcançado quando ambos pesam
*
igualmente LADO A LADO!
Tristeza e solidão também fazem parte da arte de
viver: quando cassamos nosso lado trágico, sem *
perceber nem saber estragamos também o nosso lado
Sem dúvida, a beleza abre muitas portas, mas dentro
mágico.
de muitas delas e por trás das primeiras cortinas,
A dor fornece o contraste que lapida e dá brilho ao incertas armadilhas aguardam seus felizes deslizes.
florriso dos nossos melhores sentimentos: se não
fosse ela, a felicidade seria pura balela! Que a *
alegria feliz do amor seja como os raios de sol que
rebrilham com vigor renovado após as tempestades Me desculpe se sou original: é que eu me recuso a
da dor! imitar sons guturais de papagaios hipoculturais!

* *

A beleza é o aperitivo do banquete do tempo; logo, A cor pêssego-suave-pele-de-moça é maravilhosa; o


quem aposta na aparência condena-se a ser devorado vermelho-faminto-de-lábios-macios idem; e até o
primeiro; se esse é seu caso, não fique triste, viva castanho-sublime-de-lisos-cabelos-belos: ou seja, há
seu erro e diga ao pai tempo “bom apetite!” um barco-íris de cores diversas navegando suas
belezas sem-fim na paisagem da existência, enfim! E
* se a felicidade é azul, tem até ela também suas sutis
matizes aqui sob as raízes dos nossos narizes.
Coçando o chifre, o marídiculo se pergunta: “pô,
mas onde boi que eu berrei, hem, meu São *
Chifrônio?!”
O ser humano é um animal imaginário e imaginante:
* essa é a sua gigrande bênção mágica e também
amém sua pior maldição trágica, pois enquanto
Chega de ficar dizendo que a culpa é só dos homens algumas de suas idéias lhe dão asas para voar livre
ou só das mulheres! É uma cumplicidade circular, no ar, outras o escravizam e se tornam pesos
tanto os homens como as mulheres têm suas parcelas irresistíveis que o aprisionam, escravizam e
de irresponsabilidade no “arrefecimento global” do arrastam-no para o abismo inferno do esquecimento
amor na atual cultura sem-temporânea! eterno.
* *
É assim, em tempo de crise global, que a gente Homem aboixonado não há quem decifre: ou ele
descobre onde está o dinheiro que faltava pra tanta está doido ou procura é chifre? Talvez ambas as
gente necessitada: guardadinho como reserva pra verdades mulambas?
ajudar gente safada e especulatroz, hem! Pra tapar os
buracos da safadeza financeira eles sempre arranjam *
dinheiro, e muito, e bem rapidinho, né?!
“Quando o macho ruminante chifrudo viu aquela
* vaca perigostosa na sua frente, ele gritou de repente:
muuuuuu, estou aboixonado, gente: sai da frente!
Elemento alimento em azedo regresso indômito?
Vômito. *
* *

Nada como um peixe (espada?!) atrás do outro... Xi! Nada como um Dias atrás do Otto.
* *
Um beijo só mente, dois é bom, três é otimamente Enquanto o cofre público brasileiro não for
excelente, mil é bom demais se depois tem mais! devidamente blindado com a fiscalização popular
efetiva contra gatunagem e roubalheira
* politiburocrápula, o país vai continuar se arrastando
em ritmo de jabuti paraplégico carregando um
O capitalismo é um sistema social insano que está
elefante no casco!
preparando seu impróprio fim ao agredir e destruir o
meio-ambiente com a poluição global de seu excesso *
de irracionalidade mercantil movida a lucro
desenfreado. O pior é que a degradação ambiental é O policimau, na hora de negociar cacetête-à-tête
suficientemente lenta para que os cínicos defensores com os manifestantes: “Tão vendo este porrete,
do capitalismo afirmem que as coisas afinal ainda cambada? Pois bem, isto aqui é analgésico de
não estão tão mal assim e que o lucro não pode ser abelhudo. Quem vai ser o primeiro? Vamos, façam
interrompido por “alarmismos injustificados”. fila, façam fila!”
* *
Como os elétrons da ligação molecular, no amor Umas piores coisas nesta vida é você ter muito amor
ninguém pode só dar ou só receber: tem que na alma e nunca aparecer alguém com sensibilidade
compartilhar: o amor não é nem pode ser um sublime o bastante para ser digna de compartilhá-lo.
comércio! O problema é que vivemos num mundo
de cultura onimercantil, ou seja, onde praticamente *
tudo já é mercadoria vendável e comprável.
“Inédito: gaúcho quer abrir negócio da china; mas tá
* sem grana e a china não aceita cartão de crédito:
ruinédito!”
O fantasma mais difícil de exorcizar é o de um amor
que morreu antes mesmo de nascer. *

* O nosso sistema político é, na melhor das hipóteses,


uma cópia com característica própria...
Tradição = preguiça cultural, uau!
*
*
“Siiiiiiiiiiiiilva! Só o Jesus Silva! Ninguém mais
A nossa situação material progride no rabo de um apareceu no navio, band’e vagabundos! Gente que
cometa, mas a cultura viaja no casco de uma só promete e depois não comete, tudo uns cocô-de-
tartaruga anêmica. grumete!”
* *
“Como o de uma ardente estrela cadente o seu brilho Xi, Freud explica... bem menos do que complica!
apareceu e logo depois pereceu, desapareceu
rapidamente aqui da mente sem fazer litígio nem *
deixar vestígio: você se rendeu, se vendeu ao
imundo mundo do prestígio!” A humanidade é como um boi preguiçoso que berra
e erra através desse seu pasto favorito que é a guerra.
* *

O governo do Bush pode não ter sido propriamente Então, como uma fera devastadora o silêncio chegou
brilhante ou criativo, mas mostrou pelo menos uma chegando e assustou noite afora os grandes e
coisa: a criação de falcões pode ser um negócio pequenos ruídos.
muito, muito lucrativo!
*
*
Será que somos tolos trilhos ou só talvez sucrilhos
O império da confusão seqüestra a voz do cidadão dos deuses?
irrelevante ao torná-la equivalente a qualquer outra
opinião corrente. *

* O “escritor” Pauno Joelho disse que não se importa


com as más apreciações, disse que devora crípticos
Como Abraão, Isaque e Jacó nos são apresentados de arte no seu café-da-manhã. E sem manteiga no
como senhores de escravos, só isso já deveria bastar besteirol, pois, segundo ele, precisa controlar melhor
para desclassificá-los como seguidores de Deus, ou o colesterol.
para qualificar o deus deles, Jeová, como mais um
falso deus de araque. *

* De bem e mal, eis a dura verdade pura, esta vida é


uma mistura: o crime faz amor com a compaixão no
É mesmo, eu também já percebi que a safadeza anda leito da virtude sublime e sob os lençóis do ódio.
abraçada com a decência, que o bem e o mal vivem
em simbiose, que o que torna a liberdade ainda mais *
difícil é a vida ser essa indigesta mistura. Não
existem santos puros nem demônios absolutos. Dona Fifi Boatriz Espalhafatos diz que não é
fofoqueira e sim polícia-da-notícia...
*
*
A besteira é o mar no qual a sabedoria navega:
verdade profunda, esta só não pode é parar, se não Anote aí, minha linda: às vezes aquilo que é de graça
afunda! pode lhe sair muito mais caro ainda!

* *

As correntes principais do oceano mulheril estão Com cada macaco no seu galho, hmm, esta pobre
convergindo seus fluxos rumo a um arquipélago árvore já teria era rachado e tombado há muito
cada vez mais restrito de homens (ricos, bonitos, tempo!
bem-sucedidos). Dessa maneira, enquanto muitos *
ficam solitários, outros usufruem superabundância
de companhia (em certos casos, não raros, Algumas pessoas não se importam em abreviar a
companhia de psicoqualidade bem duvidosa, é própria vida, desde que possam gozar de imenso
verdade). prazer no processo de acesso ao tão impérvio
império do excesso.
*
*
O capitalismo é um conjunto de insanidades
coletivas brincando de lucidez com a vida do Mulher que tira foto nua por dinheiro é uma artista
mundo. Mas tem gente que gosta de ser escravo e astuta ou apenas mais uma vulgar prostituta?
comer b...! Perguntar não ofende, ou será que isso depende?
* *

“E daí se você é linda ainda, o que é que tem, A vida é a perigostosa arte de desatar nós cegos; mas
popozuda? Com tola a sua beleza você não vai parar muitos de nós preferimos mesmo é continuar
o tempo, posuda!” agarrados com os egos cegos amarrados.
* *

O Conselho de Segurança da ONU é foda, e isso há Se tantas pessoas conseguem a tacanha façanha de
anos: nele, se você não é um país-membro, então subviver em função de coisas ridiculamente
você é um país-ânus. patéticas como dinheiro e aparências hiperficiais,
isso acontece por causa de um medo primal
* embutido em nossa parte mais animal.
A economia é, hoje, a malabarística e perigostosa *
arte de administrar a ruindomável loucura global.
Escreveu, não leu, mamãe não contava história,
* descia-me logo era a madeira-de-lei palmatória!
Imagina só que outro dia eu conheci um cara *
chamado Homar Tellada. A profissão dele?
Carpinteiro, é claro. “O que foi, bicha?”
* “Meu robofe cibernético deu pau, quer dizer, na
hora-agá ele não me deu pau!”
A genialidade é uma inteligência superespecializada.
“Mas eu falei pra você não comprar robofe no
* Paraguai, bicha! Viu só? Essas porcarias chinesas
não prestam, são tudo descartáveis!”
O cérebro é uma favela evolutiva.
“Eu sei, mona, mas só que robofe japonês também,
* pô, ninguém merece!”
Inteligência é filtrar, processar e contextualizar *
informações, gerando ações e reações convenientes
aos interesses e necessidades do momento. “Coisa de p’r’tuguês mesmo, hem, chamar de curare
um veneno que servia mesmo era pra matare, ô
* ’ralho!”
É o começo maneiro de janeiro. *
* Cadê o cabeleireiro de fevereiro?
Foi amarrar o nó do cadarço do sapato de março. *

* Detesto a mania tecnofabril de abril!

Cuidado com o desmaio de maio! *

* Pior é o golpe do punho de junho.

E insuportável o gorgulho orgulho de julho! *

* Sem falar no desgosto de agosto.


Eu já nem lembro do calor de setembro. *

* E eu já vislumbro é o futuro aurirrubro de outubro.

Sempre me derreto e desmembro nas perplexi- *


dádivas de novembro.
E eu ao cabo acabo que relembro tudo só no sinal do
* afinal de dezembro.

De vez em quando um ou outro tirano descobre o *


inferno que é bom pra troço ao cutucar o sono do
A corrupção é o manancial do nosso mal nacional
dragão da revolução com vara curta. mais substancial!
* *
Como tantas mulheres estão cansadas de saber, as Dissecando a Feira das Vaidades, do órgão da
excreções apenas confirmam as malditas regras que compaixão não vi nem vestígio: completamente
insistem em voltar regularmente todo mês! substituído pela glândula do prestígio.
* *
“Infelizmente, más noitícias chuteboiolísticas: O O fanatismo com que tolos eles adoram esse deus-
centro-avante xavante não conseguiu acompanhar as de-papel é de tirar o chapéu!
tortuorrorosas manobras daquele zigue-zagueiro
ligeiro, e o goleiro fuleiro ficou só no poleiro *
chocando a redonda que entrou veloz e hedionda.
Enquanto isso, o atacante feiômeno na banheira, de Existem pessoas que só acordam às onze e meia da
boa, só na manha da banha à toa: desse frango ele madrugada e para quem, bingo!, todo dia é
quis provar antes o caldo, mandando o mundo ir dormingo.
descascar alho porque gordo era o c...!”
*
*
Na selva matrimonial, um homem sem chifres é uma
Quando o corpo tá aqui e o eu tá na Ásia, talvez já presa indefesa...
seja hora de aplicar eutanásia.
*
*
Ao resto indigesto, vou logo ser franco: se você tem
Os homens mentem tanto porque tolas as mulheres coragem de ensaboar carvão até ficar branco, saiba
acreditam com ávido encanto; se elas não que eu desafio até o deus na moça força dos
acreditassem tanto assim em fogo-de-palha, neste desaforismos meus. Pois é, quem de polêmica não
mundo não haveria tanto canalha. gosta, melhor ir cometer outra aposta: pois o louva-
a-deus é primo do rola-bosta! Incertos insetos à
* parte, cavalguemos galguemos agora o tortuoso e
curioso vulcão furioso da arte.
“Se você não quiser correr o arisco risco de ver sua
cretina rotina na cara receber pontapé de botina nem *
ser questionada em nada, então vá lamber bombom
pimentão, e não se plugue no meu blogue, para não De tão acostumados com o uso consumo de
cair exangue no chão do ringue e daqui sair mei simulacros, a incertos seres humanos agora repugna
grogue! Algumas frases deste macaco zig-zog-zog com infinitamente fealdade até mesmo o mero
mordem pior que cãochorro pitbuldogue.” cheiro da verdadeira realidade.
* *

Quando se trata de ausência de amor, ah, nem As pessoas têm se empanzinado tão gulosamente
mesmo o mais sábio escritor palavrador compreende com uma dieta de palavrice hiperficial e vazia, que
tola a insignificância da palavra dor. Nem queira agora o sabor da coisa real só lhes dá é azia. A ilusão
sentir sua alma ser dissipada nessa terrível versão de é um narcótico imaterial, uma perigostosa droga
morte antecipada: isso não é vida, não, solidão é espiritual.
podridão!
*
*
Tola Carol falsa é uma coral-verdadeira? Ó dúvida
“Quem irá redigir a intensa ata desta reunião cruel!
insensata?”
*
*
“Não é você que disfarça o nome, não é você que
As quatro operações fundamentais da Aritmética são tem um filho xarope!” Ai, como eu detesto essas
três: adição e subtração. músicas tipo chiclete, que grudam assim na mente da
gente!
*
*
“Acusei uma alcoviteira de vir me trazer má-fé...”
Descobri que o Pauno Joelho curte muito a filosofia
* de vida de Hallman Nack, que por sua vez é hábil
em se passar por sábio: às vezes os semeliantes se
Por causa do Império de Cima, olha só o estado dos atraem, e os charlatães se entendem lá entre eles.
desunidos da América!
*
*
Naruto tem nariz de charuto. E Carlito retém nariz
Nas três últimas décadas, o Partido Comunista não de palito!
implantou o capitalismo na China: apenas retirou um
pouco da maquiagem que antes nele havia colocado. *
* “Certo certíssimo, seu Zérico Brevíssimo. O título
da peça vai ser ‘O Tempo e o Vento Levantou...’
“Condo acordo e vou ao banheiro, o espelho logo como o senhor quer, não tem problema. Embora eu
me pergunta: Por que você está rindo? Acha que ser pessoalmente ainda que ‘O Jerico de Jericó contra a
feio é lindo? Porque eu sou tão feio e tal, ah, que Redoma de Sodoma’ soaria bem melhor e mais
queimo até filme de câmera digital, uau.” cômico. Mas, como você que é o autor, nem está
* mais aqui e até já se calou quem falou.”
*
A ignorância é um cadeado, um cadeado de prisão
para a mente: a verdade é a chave, a chave da Essa mania de espera é que degenera a república
liberdade. esfera.
* *
Até mesmo o poeta mais pateta também de cheio na Não amar é um crime: só o amor nos traz paz
tosca mosca inseta acerta, ainda quando erra a sublime!
incerta sua seta, pelo menos quando não é de todo
vazia a sua nua poesia. *
* “Quando escutais o canto do corvo orais: o medo é
um monstro de cor voraz!”
“Senhores acionistas, caros diretores, comunico a
todos que neste exercício obtivemos uma merda *
passiva, ops, uma perda massiva.”
Nos diálogos de muitas novelas a situação da
* gramática é dramática!

Esportes típicos lá do insublime submundo do crime: *


halterocinismo, levantamento de presos, assalto com
vara, vaginástica rítmica. “Sinto saudades de outras horas e também das
saúdes de outrora.”
*
*
O corpo feminino é um extravagante outdoor
ambulante de propaganda da suposta excelência de “Senhores acionistas, o problema é que nossas
seus genes. mercadorias não são mais novidade, por isso ag’ra
descemos na preferência do consumidor. Daí o preju
* ser tão grande.”

Há claros sinais de avanço e até de aceleração no *


ocaso da educação brasileira.
“Atenção: um, dois, três, testando! Há tensão: um de
* vocês tostando!”

Os aminoácidos são os bloquinhos de Lego da *


construção biocorporal; o DNA é o manual de uso
para a sua construção e montagem. O ódio é um amor pervertido sendo pelo seu lado
avesso vestido!
*
*
A melhor maneira de parar de beber ou fumar é
nunca começar, é jamais nem provar! Nesta civilização baseada no crime e na corrupção o
amor, se e quando acontece, é apenas um acidente
* passageiro, como uma flor que por engano brota no
pântano e logo é contaminada e sufocada até
Ah, agora estou entendendo o seu título: bela murchar e desaparecer. E se ninguém está nem aí pra
metáfora! isso é porque tolo mundo já se adaptou a subviver
nesse pantanoso ambiente de espinhos e flores
* tóxicas.

“Esta é, gente, a minha princesa da sublime beleza *


acesa, cuja pele é folheada a pêssegos e cujos
pensamentos são banhados a fios de ouro.” O melhor controle de natalidade é o
desenvolvimento do país.
*
*
Felizmente Deus não mente: distorce um pouco a
verdade, somente... Eu acho que afirmar que o homem evoluiu do
macaco é uma tremenda afronta à dignidade... do
* macaco!

As mágoas domar é fácil como você navegar numa *


tempestade das águas do mar.
* Quem proclamou a rês pública esqueceu-se que os
burocrápulas políticos são uns mamíferos
Dinheiro sujo nem sempre retém de sua origem o insaciáveis!
mau-cheiro cujo.
*
*
Um amigo meu queria fazer algo para nunca levar
Cada um por si é a lei do caos total! chifre da esposa, aí eu o aconselhei, ele seguiu e
conseguiu: mês passado assisti a uma ótima missa
* celebrada por ele: um padre de primeira!

Lamentavelmente, o amor ainda não é o gesto que *


melhor repercute sublime e profundo no mercenário
A verdadeira amizade é força e não uma camisa-de-
cenário do mundo.
força!
*
*
Onde os outros só vêem a morte, hmm, eu também
Desejo um belo dia provar da vida o banquete
vejo amor e arte!
suprêmio no laço desse abraço de dois sábios pares
* de lábios que é um doce beijo, ah, como isto eu
desejo!
Os seres humanos fazem de tudo para não enfrentar
*
a vida, pois encarar a vida com coragem e
responsabilidade exige admitir a morte como parte Quanto a quem não tem ousa enfrentar a vida de
da arte!
cabeça erguida, a intenção é clara: não quer levar
* titica de pássaro na cara!

Muitas pessoas consideram que estão aqui nesta vida *


meramente como turistas, ou seja, só de passagem, e
é por isso que o mundo está tão poluído e atulhado Criatividade preguiçosa? Ah, isso não é comigo,
de atitudes-lixo e pensamentos-bobagem! É preciso amigo!
encarar esta vida como o que ela realmente é ou
*
pode vir a ser de melhor: nossa casa e nosso lar, do
qual devemos com carinho cuidar e não assim Um dos maiores problemas atuais do Brasil são os
desleixadamente só sujar e sujar!
elementos da cadeia improdutiva, ou seja, os
* presidiários.

Se o casamento de um amigo meu anda chocho *


talvez seja apenas porque ele já não é mais mocho:
mas, só por motivo de relaciornamento morno Eu acho a Crísis Pauverde uma atriz muito gatinha,
deverá ele tirar certidão de corno ou aceitar atestado mas até agora não supunha que uma mulher até no
de abestado? olhar também podia ter unha...

* *

“Muito cuidado com esse cara, hem, menina: “Não irrite ou frite os meus frios brios, ou cabeças
existem segundas e até terceiras intenções em suas vão rolar lá nos rios e riachos, com mil diachos!”
certeiras atenções.”
*
* Essas controversas conversas diversas são muito
perversas quando não toleram reversas verdades
Mais vale uma besteira certeira que uma sabedoria inversas!
de má categoria!
*
*
A dúvida é a nossa melhor dádiva. Ou será que não?
Eu acho, mas sei que a gente às vezes se engana e
erra, que ainda existe vida intelegante aqui no *
planeta Guerra.
Problema no elevador: “Sobe, Seu Altair?”
*
“Não, hoje vai de ladinho, Dr. Jair, porque o nosso
“Poxa, esse meu boi é mesmo um verdadeiro ex- prédio acaba de cair!”
touro!”
*
*
“Minha profissão é umas das mais fáceis, meu
“Dona... Hmm, Pernabrildes A. Reganhótima? serviço é ultra-rápido: sou cabeleireiro de calvos,
Tenho aqui uma notificação judiciária a respeito do especializado em portadores de alopecia total.”
seu estabelecimento noturno de serviços sensuais.
Poderia assinar aqui, por favor?” *

* “Fui atacado, ontem, por uma gangue de galinhas


armadas até os dentes! Escapei espertamente
“Ô cizânia, não chores por ruim, quando for abalar disfarçado de pedicure-de-cobras.”
Obama vou trocando Brandon Lee!”
“Mas isso não existe!”
*
“Eu sei, e foi exatamente por isso que ninguém nem
“Vamos, ânimo, tenha mais fé, menina, na sua percebeu quando o esperto aqui eu se escafedeu!”
intuição feminina!” *
*
“Um livro proibido para menores, porém pró-libido
Dom Queixote, pregador pegador e pastor ficainho: para as melhores: porque diversão verdadeira não é
“Sim, sou um passarinho rarinho do tipo ficainho: só pra quem quer brincadeira.”
comovido e movido a carinho!” *
*
Dona Misbrasíola, fabricante de cabides ambulantes.
Mudaram a paisagem, a vegetação, as presas e até os *
predadores, mas ainda é uma selva impiedosa o
ambiente que envolve o estranho macaco bípede... “De prazer eu tenho a dose certa para a sua dor
* secreta.”
*
“A Tabela e a Esfera”, o primeiro conto de fadas
geométrico. O garoupo quer tirar a roupa da garoupa. Será que a
* peixa deixa? Antes que ela deixe, hmm, seria melhor
ela verificar bem a intenção desse peixe.
O homem é um ser raciocínico único e a mulher, um *
ser acreditântalo e tanto.
* “Saindo uma sopa de cogumelo para Chicago
Melo!”
“Goleiros futeboiolísticos são mais suscetíveis à
gripe do frango do que levantadoras de vôlei o são *
ao mal da vaca loura? Ó dúvida cruel!”
“Espelho freio, espelho meio triste, do que eu
* alguém mais feio existe?”

É verdade que as mulheres realmente querem *


relacionamento sério, só que também é verdade que
elas para isso escolhem preferencialmente os Quem na sua privada canta meus pobres ouvidos
homens menos sérios do mercado do pecado, e está espanca!
dado o malfadado recado.
*
*
“E assim Inês Joaquina beijou a quina...”
“Vem cá, Ju, provar do meu caju!”
*
*
“Eu quero que você vá até a casa do baralho fazer a
Uma pequenina parte da humanidade já descobriu fila da afronta pela causa do carvalho no trilho de
que o amor é a luz da vida; agora só falta tolos esses uma légua. Anotou? Ótimo. Agora, vá já lá! Ah, e
descobrirem como acender essa luz. aproveita pra ver se eu estou ali na esquina, tá?”

* *

O professor explicando História para as crianças: Quero muito que alguém me descubra o que há de
“Aí a audácia de Alsácia cativou a morena Lorena; tão interessante nas “Aventuras de Suruba &
daí veio a tão fatal ciumeira chamada a raimundial Curuba”!
aquela guerra primeira.”
*
*
“Nessa delonga entrada da saída, estou correndo e
Ah, é tonta chatura que esse polvo jovem atura sob a não posso sair do lugar!”
duvidosa rubrica de aventura que ainda nem está
*
escrito ou descrito sequer a metade na literatura!
* A lei do comércio é que quando a cabeça não pensa
o bolso padece, ó.
O indivíduo (descartável) de hoje é socialmente
fabricado com prazo de validade (curto) e com sua *
obsolescência já pré-programada ainda na fôrma.
O curso da vida pode ser assim resumido: ação e
* conseqüência.

Somos tolos teleguiados por genes cegoístas cuja *


inexorável tendência é se replicarem através de
nossos corpos e à revelia de nossos interesses A paixão e o amor são invenções femininas que os
humanos. homens apropriaram para melhor enganar as
próprias mulheres.
*
*
A vossa sofisticação hiperficial é uma máscara da
vulgaridade intrínseca que vos corroi, oi, oi, oi! O que é que eu vendo? Hmm, essências essenciais!
* *

Enquanto isso, a fome segue mordiscando milhões Uma tigreja é uma empresa sem fins lucrativos ou
de vidas pobres... com objetivos lucrativos sem fim?
* *

“Á, é, i, ó, u! Eu quero que você vá é ir, ó, tombar Estou só por causa de uma verdade terrível, esta:
nu, cru!” mulher gosta mesmo é de homem que não presta!

* *

“Perdão, mas é que não tem como dizer só a metade “Você não soube me amar, você cansou de mamar, e
da verdade!” eu sei que você dançou em Mianmá!”

* *

No mundo de hoje, a incredulidade é uma estratégia “Eu queria tanto navegar nas delícias do teu olhar!”
necessária de sobrevivência! *
*
Bocas famintas costumam ser mais sucintas.
“Você é mesmo uma pessoa de alma credulamente *
faminta, se não acredita que fã minta!”
* “Nem mal acaba de o Viagra descer, já um corpo
que sobe faz o véi agradecer!”
Os seres humanos parecem que já não conhecem *
mais a plena sublimidade do bem-sentir, e eu desafio
tolos vocês a em atos me desmentir! Uma rosa é uma rosa só até um pé esmagar essa
* coisa: mas que prosa horrorosa!
*
O crime é aqui, a justiça mora longe e, além do
mais, ela está viajando e ninguém sabe quando vai Dr. Johnson dizia que a pátria era o último refúgio
voltar das suas sérias férias para refiscalizar as do canalha, mas hoje ao invés o canalha é que é o
misérias, e o resto indigesto são lérias. primeiro refúgio da pátria.
* *
Os genes jogam conosco um jogo de cartas Para crianças, azul-bebê; para velhinhos, azul-vivi.
marcadas onde a trapaça é a sua lei suprema!
*
*
“Do barro vieste, ao pó voltarás.”
“Um músico foi traído pela esposa. Que instrumento
ele toca?” “De carro vieste, a pé voltarás.”
“Sei lá. Qual?” *
“Corneta.”
Falar é mel, fazer é fel: viver é flutuar entre inferno
* e céu.
*
“O que o ovo disse pra galinha quando esta se “O evangélico é um católico desnatado e
sentou sobre ele?” pasteurizado. Mas leite pasteurizado também
azed...” Epa, algo não está certo aqui! Ah, já sei, é
“Frangamente, estou chocado com a sua atitude, isto: você roubou o meu espaço da esquerda, seu
madame!” invejoso de uma figa! Isso não pode, assim não vale!
Volte já para o seu lugar aqui na direita, seu burguês
*
reacionário!
Hã? Como é que é!? Eu que roubei o seu espaço? *
Ora, você que roubou o meu, isso sim! Pensa que eu
quero ser de esquerda, é? Tá quadradamente Mentiroso! Você está tentando usurpar o meu
enredado e redondamente enganado! Não sei o que espaço, sim! Sempre tentou, sempre foi assim, você
aconteceu, só sei que eu não vim pra cá por vontade sempre quis embaçar o meu talento! Você é pérfido,
própria, não, tá, seu revolucionário de araque? hipócrita, você não presta!

* *

Pérfido e hipócrita é você! Eu não fiz nada, não Então volte para o seu lugar e devolva o meu espaço,
preciso me rebaixar a atacar ninguém, não. Porque agora! Vamos, vamos, cuida! O que está esperando?
eu tenho plena consciência das minhas capacidades.
*
*
Ah, é, é?! Peraí, bichim, que eu vou já aí te expulsar
E desde quando você manda em mim, hem? Se eu na marra!
quiser, eu fico é aqui mesmo, ó! E não é você que
vai me obrigar a sair, não!

Pronto, estou de volta. Agora, você vai sair já daqui


do meu espaço da esquerda, cuida, xô!

Pois agora eu não vou sair, não, ó, só de mal!

Sai logo, vamos! Não vai sair, não?

Vou não, ó! O que você vai fazer? Vai chamar a


polícia? Chama, tô nem aí!

Eu vou contar até três pra você sair. Um...

*
Lá, lá, lá, lá, lá...

Dois...

Larilá-lá-lá, rá, rá, rá, rá!

Dois e meio...

Dois e dois terços, dois e quatro quintos...

Por que você não volta logo pro seu lugar, hem,
hem? Por que tem que ficar infernizando a minha
vida? O que foi que eu te fiz?, vamos, me diz!

Você não me fez nada, e nem muito menos eu a


você. Ora, vamos, deixa de ser criança! Até parece
aqueles meninos buchudos brigando por uma cadeira
na sala de aula, um querendo o lugar do outro: que
coisa mais ridícula e patética! Por que a posição
onde fica é importante? Afinal, o espaço da direita é
igual, nem maior nem menor, que este aqui. Não
vejo diferença alguma!

Então por que você simplesmente não volta pra lá e


me deixa em paz, hem? Maldita a hora em que fui
aceitar dividir espaço com você neste arquivo. Não
sei onde eu tava com a cabeça quando concordei
com essa idéia absurda de editar dois livros juntos
assim, não sei mesmo!

Deixa de drama, cara! Você tem essa irritante mania


de sempre exagerar tudo, de fazer uma tempestade
num copo d’água!
*
Tetrameron - Enfim, Nós!
Eu não estou exagerando nad... Ei, olha lá: alguém
se apossou do seu espaço da direita!! Nigérea Smego

* ***

Ah, olá, distinta e bela senhorita Nigérea. Meu nome Olá, rapazes! Tudo bem? Eu sou a Nigérea. Vi o
é Manoel Galvão e este é o meu colega, o Manoéu espaço aqui vago, então pensei que eu poderia, quem
Galvam. É um imenso prazer conhecê-la. Seja bem- sabe?, ocupá-lo. Posso?
vinda! Ah, e quanto ao espaço, oh, claro que você
*
pode ocupá-lo, princesa! Acho que o meu amigo
aqui não tem nenhuma objeção, ou tem? Hmm, obrigadinha, garotos! Vocês é que são dois
gentis cavalheiros, uns amores de pessoas, já estou
*
vendo. Acho que vamos nos dar muito bem juntos,
Alô, linda dama! Bem-vinda ao nosso humilde amiguinhos. Ah, fico gratíssima pela generosa
espaço literário. Como meu amigo disse, sou o acolhida: está bem difícil achar um bom espaço
Manoéu Galvam, e será um prazer enorme literário hoje em dia, né? Mas, tem uma coisa que já
compartilhar nosso arquivo com sua delicada e me intriga aqui a curiosidade: por que vocês dois
gentil pessoa. Fique à vontade! têm o mesmo nome, hem?

* *

Não temos o mesmo nome, bela menina. Nossos Pois pra mim parece o mesmo nome. Hmm, como
nomes são apenas bastante parecidos, mas nem devo chamá-los, então? Posso chamar um de Galvão
sequer somos parentes. e o outro de Manoéu? Ou vice-versa talvez, posso?
Como vocês preferem ser chamados?
*
*
É, temos pseudônimos bem parecidos, mas não
exatamente iguais: Manoéu Galvam e Manoel Ok, então. O meu amigo azul será o Galvão e o
Galvão. É apenas uma feliz coincidência... vermelho será o Manoéu, tá bom? Ah, o meu nome?
Hmm, é uma longa história... Outra oportunidade eu
* conto, tá? Agora, digam-me uma coisa: é sobre o
Pode me chamar como seu coração desejar, Nigérea. que mesmo os livros aí de vocês dois?

* *

Quanto a mim, sim, pode me chamar de Manoéu. Hmm, parece bem interessante. Depois eu vou ler. E
Mas e o seu nome, por que não é Nigéria com i na com todo carinho, é claro. Mas eu esperava que
última sílaba? fosse algum romance ou, quem sabe?, um conto
fantástico, ou algo de ficção científica. Por favor,
* não me entenda mal, não estou desmerecendo o
gênero que você escolheu, até porque eu mesma
Bom, o meu livro não é especificamente sobre uma
gosto bastante de livros assim. É que prefiro
certa coisa apenas, não. É sobre tudo, é um conjunto
histórias narrativas com um enredo, com começo,
de frases, pensamentos e provocações verbais.
meio e fim. E o seu, Manoéu?
* *

O meu livro também é assim, um punhado de frases Nossa, vocês dois têm muito em comum! E parecem
sobre várias coisas, inclusive algumas besteiras ser bastante unidos. Aposto como são excelentes
premeditadas com intenção puramente humorística. amigos, não são?

* *

Excelentes amigos unidos, nós dois? Hmm, eu não Oh, estavam brigando!? Mas por quê? Vocês
diria isso... parecem bons amigos, por que brigar? Discutir não
eleva ninguém a nada de bom! Olha, a partir de
* agora nós três vamos ser amigos, tá? E eu não quero
Pra ser franco e bem sincero, logo antes de você mais saber de briga aqui, certo? Vocês podem fazer
chegar a gente estava tendo mais uma briga feia. isso, por mim?

* *

Falando apenas por mim, sim, eu posso tentar. Que problema?

* *

Eu também. Mas... Bem, tem um pequeno problema, Ora, bobagem, crianças! Se o problema é só esse, ah,
sabe? isso a gente resolve rapidinho e numa boa, não é
preciso discutir nem brigar. Vamos fazer assim: a
* partir de agora cada página deste arquivo vai ser
dividida em três colunas, eu fico com a do meio e
É que a gente estava discutindo exatamente por
vocês ficam cada um do meu ladinho, que tal? Que
causa do espaço aqui que, você percebe, é meio
nem num sanduíche: um hambúrguer literário! E pra
escasso...
não ficar apertado, é só mudar o tipo de página para
* um formato maior e pronto, fica tudo resolvido e
bem para ambas as três partes, né? O que vocês
Isso mesmo, começamos a ter sensação de que aqui acham? Concordam?
já estava ficando meio apertado para os dois. E
agora, com a sua chegada... *

* Juntos, nós três vamos arrasar, vocês vão ver! E eles


vão ler só para crer: vai ser pra valer!
Eu concordo, sim, claro!
*
*
Muito obrigadíssima, meus queridos recém-amigos!
Também concordo, menina esperta! Agora, preparem-se para a conquista: eles não vão
nem conseguir anotar a placa, não vão nem saber o
*
que os atingiu até muito depois do atropelamento!
Você apareceu bem na hora, foi a nossa salvação!
*
*
E aqui vamos voz: enfim, nós!
Foi mesmo, com certeza!
* * *

Ufa, que alívio! Que bom retornar ao meu espaço Viram só, meninos, como pra tudo tem um jeito! É só É mesmo, Nigérea. Sua sugestão foi ótima, resolveu
original aqui da esquerda! colocar a cabeça pra funcionar direito, né? Não tem tudo na paz. Agora podemos voltar ao que interessa.
por que brigar.
* *
*
“Pré-visão do templo para noje: precipitações esparsas “Eu vou atravessar esta pavimentada rua movimentada
de lágrimas escassas e mancadas de alegristeza no Olá, meus queridos leitores e minhas estimadas agora, custe o que custar!”, disse a lesma pra si
percorrer do deríodo, com nuvens ocasionais como nos leitoras. Eu sou a Flávia Estela e vou contar aqui mesma. Três horas e cinco milímetros depois, plef!!!
ocasos sazonais dos climas mais emocionais.” Brincadeirinha: a viscosa bicha esperta seguiu ilesa, e
algumas histórias legais pra vocês. Ah, eu mesma vou
lesa, pelos sulcos intersticiais de rejunte dos
* estar incluída em algumas delas, embora isto não seja paralelepípedos.
propriamente a minha biografia. É que aconteceram
A Verdade é uma deusa cruel e impiedosa, eu sei, mas certas coisas bem inéditas e estranhas envolvendo a *
estou condenado a servi-la até o fim, custe o que custar
minha pessoa e alguns outros personagens notáveis.
e assuste o que assustar! Uma alma solitária é como uma aldeia fantasma numa
Espero que vocês gostem e se divirtam muito ao ler indolente guerra de ruídos: tem só o vago sino do bem-
* tanto quanto (ou muito mais ainda) eu certamente tiver bem-bem-bem latindo preguiçosamente contra o
me divertido ao escrever. bonítido cachorro do mal-al-al-al-al-al-al-al-al-al-al...
Pé-inchado pobre, que nem o Etanoildo, anda de
bicicleta movida a álcool. O cenário do primeiro ato destas aventuras que venho *
* aqui lhes trazer é um prédio inacabado e abandonado
“Declarei-me rápido somente apto ao rapto do
de um escandaloso megaprojeto governamental que,
mentecapto dormente, e porque não me fiz de labrego,
E dos barões tubarões os fugazes gases assim inalados por insondáveis motivos, desses que somente fraude fiquei com o emprego.”
mostram a tosca força quadrumana da bajulação explica, foi bruscamente interrompido por uma
humana, que invade tola a parte com engenho e arte: determinação judicial. Um prédio situado no campo, *
um verdadeiro asco o vós serdes do tipo puxa-saco e
na zona rural de uma província cujo nome não quero
se assim vos distraís a raiz do nariz! Recentemente, houve mais uma renovação, digo, uma
revelar agora, até porque isso não é essencialmente reenvelhação dos líderes no alto escalão do PC chinês.
* relevante para o andamento do enredo. Ah, esses geriarcanalhas não largam mais o osso!
“Em minhas caçadas oceânicas, atirei num kiwi e Ufa, chegamos bem na hora de flagrar a entrada dela *
acertei ornitorrinco ali.” (quer dizer, euzinha: Flávia Estela em pessoa e em
cores) nesse quase-prédio embargado. Aff, que a “Faz-de-conta... Faz-de-tonta que somos realmente
* amigos, mesmo sem sermos. Faz-de-conta que ela de
garota ali vem com uma cara de poucos — ou talvez
fato se importa comigo como amigo, mesmo sem ela
“Muito além dos ledos medos brincam cinco até de nenhuns! — amigos: eu, hem, sai do mei! E se importar. Faz-de-conta que eu não ligo para o fato
aventureiros dedos em volta da bruta gruta dos seus muito apressada também, pelo visto: ah, que ódio!, que de ela não ligar pra mim, embora eu ligue. Faz-de-
gentis segredos.” raiva quando eu escorreguei e caí naquela maldita conta que nada disso é relevante, apesar de ser. Faz-
* escada! Além de sujar o meu jeans todim, a camiseta de-conta que eu não tenho coração nem sentimentos
dela enganchou no prego de um sarrafo de madeira que possam ser magoados, embora eu tenha e não seja
A humanidade progride materialmente, mas os que tinha ali pelo chão: ao tentar me desembaraçar, a uma penha. Faz-de-conta que ela merece os bons
gigrandes mistérios da vida continuam tão irresolvidos sentimentos que eu tentei sentir por ela, apesar de ela
porcaria do prego fez um rasgo enorme no tecido, bem
como sempre. obviamente nunca os ter merecido. Faz-de-conta que
na altura do seu seio direito. Sem falar no arranhão vivo, embora morto. Faz-de-conta que sim, apesar de
* feio que lhe riscou a delicada e jovem pele branca, não. Faz-de-conta que ela vem, apesar de ‘tem cem!’”.
fazendo brotar algumas gotículas de sangue.
Você gostaria de conhecer intimamente o meu gato- *
de-nove-rabos? Com o peito ardendo e a cabeça fervendo, ela se
recompôs o máximo que pôde e retomou a subida, des- Feiúra, não: dismorfia congênita apenas!
*
“Se isso (acreditar cegamente em um Deus assassino) ta vez com maior cautela. *
não é loucura, então o que é? Uma lucidez que andou
bebendo demais, porventura?” Tudo culpa daquele palhaço! Ai, que ódio, que ódio! O medo é um pântano! No qual grande parte dos seres
Que raiva de mim mesma! Como é que eu pude ser tão humanos subvive afogada há muito, muito tempo.
*
idiota!? Era o que a moça, transtornada, não conseguia *
“Por que eles acreditam em diabo e inferno? Porque, compreender, por mais que tentasse. Subiu a escada
no fundo, eles sabem que seu deus de papel não existe, sem adicionais desastres. Procurava não pensar na Outro dia conheci um casal de surdos-mudos. Eles
e aí usam tal ameaça como dique para evitar que a brasa que lhe queimava a carne e pulsava, latejava: tinham acabado de se casar, mas o casamento deles já
incredulidade inunde a alma, afogando assim seus tinha coisas piores e bem maiores martelando na sua estava em crise: eles já nem se falavam mais.
doces planos de vida eterna.” mente! Na atual situação, aquilo era o de menos. *
*
Após subir até o terceiro andar (o quase-prédio inteiro Não confunda Santomás com Satanás, embora ambos
Para um bebê todo dia é dormingau. possuía onze ao todo), escalou o espaço do que seria sejam mui parecidos demais!
uma futura janela, entrou, tomou o rumo das
* *
escadarias, respirei fundo e fui indo, os olhos
Seu Zé Afif garante que não há, em tolo o Recife, marejados de lágrimas. Engole esse choro, sua boba! “Uma alma incalma, trancada, trincada, truncada vez
quem decifre o cheiro de enxofre do seu chifre! Ele não merece, ele não merece! Vou lá chorar por mais bloqueada pela intensa onipresença da sua
aquela coisa, até parece! ausência nesta riste e alegretriste existência. Só que
* esguio desvio não é desistência!”
Ela nem sentiu o esforço da subida, sua alma estava
“Ah, marota garota, esse aí pra lhe evitar ele é rapaz arrasada demais para notar. E aqui eu não preciso fazer *
capaz de até levitar!”
nenhum esforço de onisciência literária de autor Se você não gosta de quem trocadilha, é muito
* porque, afinal, a protagonista em questão sou eu simples: troca de ilha pra evitar na testa esta armadilha
mesma, eu presenciei aquilo, sofri tudo na pele, ó, ó: besta!
Já provei no laço do meu abraço a imprópria presença ainda tenho até a cicatriz aqui pra provar, alguém quer
ausente de alguém que nem não me amava *
ver? Ah, querem aproveitar pra tirar uma casquinha,
verdadeiramente: soube-me a sopa de palha assada
sem sal nem tempero somente o troço indigesto e hein? Mostro não, seus garotos marotos! Se você é do tipo sem-graça, muito cuidado com quem
dormente. Repetir isso vou, talvez? Nem nunca mais se engraça. O destino tem limite e muitas trapaças
Fui até o terraço, joguei a bolsa no chão e me emite: que ele não lhe queira vomitar, porque não há
outra vez!
esparramei de encontro a uma caixa d’água que tinha quem possa uma tão fatal porqueira imitar.
* por ali. Como o sol estava muito quente e a caixa
estava totalmente exposta ao calor, Flávia soltou um *
“Será que a tua beleza tem firmeza pra permanecer
uivo de dor e pulou para longe ao sentir aquela súbita Allukard Ednok, também conhecido como Sepet Dalv,
acesa, hem, princesa?”
quentura nas costas. Logo em seguida, buscou o lado o homem invisível que refletia nos espelhos: um anti-
* ensombreado para se abrigar. vampiro que precisava doar sangue com freqüência.
É melhor eu ser feio mesmo, porque assim pelo menos Aff, que o meu nariz idiota insistia em entupir, *
quem quiser gostar de mim tem que gostar é do que eu deixando-me exasperadamente sem ar e as lágrimas
sou, não da minha aparência física. Se ninguém quiser “Dar améns vá você, peça rara fedida, a suas tontas
estúpidas queriam sair. Eu fazia força e esfregava os
amar minha alma como ela é, em vez do meu corpo, necedades eu não vou dar guarida!”
olhos com raiva pra não chorar, pra não me entregar ao
paciência: a culpa não é minha. Mas não estou falando
de “beleza interior”, até porque não estou apaixonado desespero do ódio. Eu tinha que manter a frieza de *
por nenhuma médica legista, e não estou expondo meu espírito necessária para completar a tarefa a que me
A esmagadora maioria dos elegantes elefantes é
coração a nenhuma autópsia emocional, tampouco. determinara.
extremamente prejudicial à saúde das amigas formigas
* Ela dobrou as pernas, abraçou-as com firmeza e do caminho.
colocou a cabeça entre elas, soluçando com fúria. *
Passei, e já faz é tempo, da fase das paixões nômades.
* O filme do passado começou a rodar na tela da minha O medo e o desejo disputam o controle da alma
memória. Lembranças diversas, dolorosas de tão humana. Não sei ao certo quem está agora no comando
Não confunda a varinha de condão da fada com a nítidas, vinham em flashes. Eu tentava espantá-las, da minha...
vareta de condom na safada...
expulsá-las da minha mente, mas elas teimavam e *
* persistiam em voltar. Eu lutava em vão para não
visualizar o maldito rosto dele nos meus pensamentos. “A evolução cria no organismo uma tendência à ênfase
“Mas é tão braba essa diaba cabra! Como é que pode, Ai, como aquele sorrisinho esnobe e irônico me no corpo, veículo de reprodução dos genes. O
hem, seu bode? Pelos pêlos do meu bigode!” importante é o trânsito da informação, mas o meio
deixava irada!
desse trânsito é o corpo, máquina de sobrevivência dos
* genes, devendo esse corpo, portanto, ser destacado
Não sei quanto tempo fiquei ali encolhida naquele
para efeitos de auto-proteção: sem corpo os genes não
“Quando foi ou será pintado o meu boi sarapintado?” canto, lutando contra o choro e contra as recordações.
se reproduzem.” Hmm, interessante: nunca antes eu
Horas, talvez. Uma abelha se enroscou nos meus me limpei o sul com algo tão inteligente assim!
*
cabelos e ficou zumbindo perto do meu ouvido. Isso
Nem mesmo a pior guerra consegue desatar tolos os me despertou daquele transe mórbido. Levantei a *
nós cegos. cabeça, tentei tirar o inseto irritante e, tendo pego a
“Foram só seis que tisnadas assei”, jurou de joelhos
abelha entre dois dedos, esmaguei-a e já ia jogá-la fora Torquemada, diante de Sumpedro, pra tentar entrar no
*
quando, de repente, vi um homem parado à beira do céu: em vão, pois estava tudo devidamente registrado e
A pequenina menina cansou foi de fugir das fugas de terraço, no lado oposto onde eu estava. arquivado. E assim o podre padreco foi reto direto para
Bach, pois ela nunca as conseguia acabar: soma de as profundas do contra-teto.
todos os medos, tortura pura para seus delicados Levantei-me e gritei: “Ei!” Foi um grande erro, pois o
dedos! Suava feito uma danada e pobre condenada pra homem se assustou, virou-se para ver quem o chamava *
passar de ano naquele maldito curso de piano, coisa e, ao fazer isso, perdeu o equilíbrio e caiu!
“Só sei que, de cabo a rabo, dancei. Só não sei foi
bem pior que tentar resolver seu conflito edipiano! Desesperada, um jato de culpa e heroísmo me jogou porque cansei. Só sei que de, rabo a nada, há seis. Só
* aceleradamente para frente: corri logo no rumo de lá sei que de rabanada assei.”
para tentar salvá-lo. Nem calculei a probabilidade de
Muitas composições de Bach são delírios barrocos de chegar a tempo de agarrar o sujeito, apenas fui, minhas *
alegria extrema! pernas tomaram o controle e correram por mim, antes Ladrão que julga ladrão concede cem anos de perdão!
* de eu ter tempo de pensar.
*
Namoro sem amor é só nó, ó, seu bocó! Perto da beira, lancei-me como um raio ao chão e... Ai,
graças a Deus!! Ele estava vivo, tinha conseguido se Um relaciornamento sem verdade nem sinceridade é
* um deserto estéril onde o amor verdadeiro não pode
agarrar na beira da tábua de um estreito andaime que
nem sequer germinar, quanto menos florescer e dar
tinha ali. Ele gritou “Socorro, me ajude!” ao me ver. bons frutos.
O amor é uma arte que precisa ser aprendida, ninguém
nasce já sabendo como amar. O animal humano só traz Só que esse andaime onde ele estava pendurado ficava
a mais ou menos um metro do terraço e, por isso, meu *
inatos em si o desejo, a agressividade e um impulso
egoísta de sobrevivência, embutidos na sua pré- braço não alcançava até lá. Eu teria que pular ao
Quem bebe, fuma ou usa drogas ilícitas não tem
programação genética da mente. andaime pra poder ajudá-lo. Por um momento a respeito nem pelo próprio corpo: como poderia amar
coragem me falhou e hesitei. Por fim, a vergonha de de verdade outro alguém, hem!?
*
tê-lo colocado naquela situação de vida ou morte me
empurrou: pulei. *
Amar de verdade é traduzir o amor em atitudes
coerentes e sustentáveis. Amar é fazer bem ao bem de Será que deste mundo o amor foi completamente
alguém. E eu não posso amar o que não posso O andaime tinha duas tábuas, só, de largura, e aquelas
banido como um miserável bandido comum?
compreender, porque amor só é mesmo amor quando é tábuas, depois de tanto tempo, não pareciam ser
amor em verdade. Logo, não há amor cego, morcego! propriamente muito resistentes mais, não. Apavorada *
pelo medo de aquilo rachar e cairmos os dois, e tentan-
* O amor é o óbvio tempero mais secreto do sexo!
“Que é que eu posso fazer, se ela me flagrou do não ligar para a altura, abaixei-me e praticamente *
ordenhando geléia-do-prazer pra satisfazer de sua filha me deitei no andaime, para diminuir a pressão, e
o lazer? Deu azar no bazar: agora vou ter que casar!” agarrei um dos braços do homem com a maior firmeza “Não lanceis o vosso inserto cetro senão ao inseto
certo!”
* que o pânico me permitiu. Ele então usou o apoio para
se balançar para o lado e jogar uma perna sobre a *
Um dos mais engraçados e estranhos paradoxos da tábua.
vida moderna: vivemos a mais formidável proliferação Sucesso sem amor é algo incompleto, é como sopa
de meios de comunicação e, ao mesmo tempo, Era terrível ouvir a respiração dele naquele momento, sem sal nem tempero, é como sorvete sem gelo, é
comunicamo-nos cada vez menos e cada vez mais ofegantemente faminta de vida! Quando ele conseguiu como chuva sem água, é como estrela sem brilho, é
precariamente! Mesmo com tantos meios de se como um trem sem trilho, como um banquete sem
fixar uma de suas pernas sobre o andaime, joguei a
comunicar, as pessoas se entendem cada vez menos comida, como namoro sem amor, como amizade sem
minha perna sobre a dele para agarrá-lo e tentei puxar. proximidade ou ardor, como sexo sem prazer nem
umas às outras.
Agarrei uma estaca do andaime com uma mão e puxei fervor, um deserto sem oásis, é afogar-se num insosso
* o homem com a minha perna e com o outro braço. Ele poço de quases, é espelho sem reflexo, é como dormir
fez um esforço final e jogou a outra perna em cima da sem ter sono, é chafurdar no abandono, é o grito atroz
Parece que o ser humano tem alergia a facilidades: ele de um silêncio sem voz, é um fogo morno que arde
tábua, e aí eu fiquei de lado pra ele poder subir.
consegue recomplicar ao máximo tudo aquilo que frio e covarde em nosso entorno!
poderia simplificar sua vida. E existem até mesmo Ficamos abraçados, apertados em cima do andaime, eu
pessoas especalizadas em complicação, em criar e *
de encontro à parede e ele praticamente em cima de
multiplicar problemas a partir do nada, semeadores de
tempestades em copos d’água: são os burocrápulas! mim. Respirávamos rapidamente, retomando fôlego. A morte é uma certeza. Já a vida, não. E é por isso que
Onde um ser humano normal vê apenas uma ninharia Com o nosso peso, as tábuas do andaime se curvavam é a vida o que realmente interessa, porque ela nunca
de fácil manipulação, o burocrápula vê um fértil e já gritavam ameaçadoramente uns gemidos está garantida, porque ela é incerta, porque ela
viveiro de transtornos e até de gigrandes catástrofes. crepitantes e arrepiantes. Prevendo que o andaime depende de nós, ao contrário da morte. A morte não
poderia quebrar a qualquer momento, ele começou a se nos pertence. A vida, sim, nos pertence, quando nela
* há amor de verdade.
arrastar pra frente, a fim de tentar chegar ao apoio
“Ela não está nem aí se eu vivo com bom motivo ou se reforçado de estacas onde aquelas duas tábuas *
rebento sozinho ao relento. Ela não se importa comigo terminavam e começavam outras duas. Eu me
como com um bom amigo. Pra ela, tanto faz como espremia o quanto podia contra a parede pra dar “Homem de poucas fezes, tu precisas urgente é de
tanto fez se eu estou bem ou mal, ela não liga, ela não tomar um bom purgante.”
espaço a ele.
tem por mim nenhum interesse real. Se tivesse, seu
amor me seria leal e o meu lhe seria legal. Mas não *
Isso durou poucos minutos, mas na ocasião
tem, não tem porque não quer: pra ela, sou só mais um naturalmente tudo me pareceu uma eternidade. “Você sabe mesmo como fazer um café volúvel, hem:
cara qualquer! Ela prefere desde cedo ser só mais uma
Enquanto ele avançava lentamente, tive a idéia de me só sai da xícara quando quer, esse seu café.”
escrava do medo: pra ela, eu não cheiro nem fedo...”
arrastar para trás, rumo ao outro reforço, pois aquelas
*
* tábuas onde eu estava podiam rachar mesmo só com o
meu peso. É estranho e engraçado dizer isso, A séria fé de hoje é a ridícula superstição de amanhã.
O que eu quero ser quando crescer? Ah, essa é fácil:
considerando a decisão que eu então tinha tomado e
melhorizador de interiores femininos! *
que me levara a estar naquele lugar, mas eu tive um
* medo enorme de morrer. Talvez tenha sido o pavor da “Refinada, que nada: bela é é uma patricinha mocinha
incerteza sobre a vida daquele homem a quem, sem mimada que a amar nunca jamais foi ensinada!”
A decepção é o luto da alma ferida pela morte de uma querer, eu quase matara. Era insuportável a ideia de
ilusão querida. *
morrer sem saber se ele escaparia, se ele viveria, se ele
* sairia dessa ileso. Como eu poderia partir assim com a Estou lendo o livro “As Aventuras de Bianca Mão
culpa da morte de um inocente? Leve e os Sete Ladrões Anões”: hiperengraçada essa
As transparências esganam alguém onde as aparências história, vale a pena ler e reler de novo!
já não enganam ninguém. Arrastei-me até atingir o ponto seguro. Aliviada, olhei
* para a frente. Lá no lado dele tinha uma pequena *
escada, na qual ele estava acabando de subir ao
“Batendo na porta do paraíso até fender, sem ninguém terraço. Ele desapareceu por alguns instantes. Senti A verdadeira tragédia derradeira é você morrer sem ter
lindo vindo me atender. Isso é preu aprender a só de vivido de intensa maneira: viver sem amor é uma
mim mesmo depender!” uma fugaz fantasia imbecil: furioso por eu quase tê-lo imensa asneira!
liquidado, ele sumiria e me deixaria aqui pra me virar
* sozinha e... “Ei, levante-se pra que eu possa pegar *
você!” Tremendo, levantei-me e estendi os braços. Ele
Um cãochorro muito pitbuldogmático, esse obreiro Não deixe que o calor do seu sentimento seja
crentino. Com ele o pastor Castor está bem fervido, me agarrou e me puxou ao terraço. Fechei os olhos, de congelado pelo frígido sopro do ressentimento!
digo, bem servido. pavor e me joguei ao chão. Ouvi ele tombar também
de exaustão no chão ao meu lado. Eu me sentia *
* acabada, destruída de cansaço. E ele devia estar ainda
A grande tarefa da poesia é traduzir o silêncio dos que
“Na longa e cinzenta noite da indiferença lilás, tolos os meio em estado de choque. Afinal, ele sofreu a pior preferem calar quando mais deveriam falar.
galos são pardais, aliás.” parte do acidente e viu a morte bem de perto agorinha
mesmo! *
*
O pavor e o cansaço foram sumindo, deixando-me O Mal não conhece nem reconhece dúvidas, pois a
O medo e a esperança jogam pingue-pongue com a entregue à vergonha aguda. Como é que eu fui fazer verdade não lhe interessa jamais.
nossa alma.
uma coisa tão estúpida daquelas?! Como é que eu vou *
* olhar na cara do homem que, na minha imprudência
idiota, quase matei? Imagine, gritar inesperadamente Que é a verdade? Consistência persistente do ser
Assim propalava Master Bates: “Agora é que a para alguém que está na beira do terraço de um prédio perante uma alma examinante? Verdadeiro é aquilo
munheca vai sambar. E pelo que suponho, inteira...” que não se pulveriza sob o impacto do martelo da
de onze andares! Existe coisa mais burra!?
dúvida? Verdade é o que não degela ou se dissolve em
* face da luz? Verdade é um conjunto de várias
Mas eu tinha que enfrentar a coisa de frente! Abri os
perspectivas olhantes sobre um fenômeno? Verdade é
“Como um incerto intruso, a existência dela penetrou olhos. O homem estava ainda deitado de costas no
uma quebra-cabeças de não se sabe quantas peças? E
na ostra do meu coração. Perturbado, irritado, o núcleo chão, as mãos no rosto. O que ele estará pensando se as peças desse quebra-cabeças mudarem
da minha sensibilidade começou a secretar o nácar da agora? Será que ele me odeia por quase tê-lo morto? continuamente de forma e tamanho, como então
compaixão e, envolvendo lentamente a bela imagem Foi sem querer, eu sei, mas... remontar a verdade total?
dela, foi-se formando a pérola indesejada de mais um
amor oculto. A minha história sensível já virou um Decidi que, por maior que fosse a minha vergonha, eu *
longo colar desses amores cadáveres.” precisava ir até lá e ver se ele estava bem, desculpar-
A preguiça é a mãe do comércio.
* me, ajudá-lo a se recompor do susto. Engatinhei até
onde ele estava e falei: “Moço, você está bem?” *
“É pecado desejar a mulher do próximo!”
Ele retirou as mãos do rosto e... Meu Deus! Não podia Por que as pessoas gostam tanto de histórias
“Concordo bastante: é bem mais seguro você desejar a ser! Não podia ser ele! Aquele homem era idêntico a fantásticas? Porque com elas a vida parece menos
mulher do distante.” tediosa? Ou o contraste desfavorece ainda mais a
uma pessoa que eu conheci no passado. Mas não era
possível que fosse ele! rotina? É uma maneira de tentar fugir, ainda que por
*
uns diminutos minutos, da insatisfatória vida real?
Verdade demais, eis a questão, nos dá indigestão! Ele disse que estava bem, ele achava. E ficou me
*
olhando de um jeito estranho, encarando-me,
*
estudando meu rosto: “Ei, eu acho que lhe conheço... O prazer é o suborno que o corpo paga para a alma
O amor tem cores e dores que a cinzenta solidão nunca Você me parece muito familiar. Como é o seu nome, aceitar ser escrava do desejo!
irá conhecer nem reconhecer. moça?”
*
* Ai, que destino cruel! Era ele, sim! Tinha que ser! Fa-
Somos tolos prisioneiros da nossa imprópria liberdade.
“Diacho dos caramujos nos seus escabelos, um lei, com a voz trêmula de perplexidade: “Eu s-sou a *
molusco me dá vontade de vomitar já num instante...” Flávia...”
“Quê?! Mas que calúnia! Nós aqui torturamos todo
* “A Flávia Estela!?” mundo de maneira bastante humana. Até mesmo
aqueles que nós gentilmente espancamos até a morte
“Carol Caracol vivia sonhando com seu escargot “Eu m-mesma...” Eu estava toda arrepiada, a emoção nunca reclamaram, depois, do tratamento recebido.
encantado. Um dia, subiu pelas amarras de um navio, Inclusive, os porretes de borracha que usamos para
me fazia gaguejar, meu rosto estava em fogo, eu não
grudou-se no casco e zarpou reto direto pra França. descer a lenha sem piedade nos elementos mais
Desembarcou no porto de Marselha e começou sua sabia o que dizer, o que pensar, o que sentir! Era tudo
incooperativos são lavados e esterilizados a cada novo
undécima caracolíada, deslizando lenta e viscosamente que eu menos esperaria, ele não era nem mesmo a
cliente que aqui recebemos para usufruir da doce
rumo a Paris, onde esperava finalmente encontrar o última pessoa que eu quereria encontrar ali, muito hospedagem de nossa graciosa masmorra suplicial. E
molusco querido dos seus sonhos juvenis.” menos numa situação daquelas! se por acaso algum deles borra as calças durante o
vigoroso processo de investigação, nós logo
* Ele também parecia completamente transtornado de fornecemos todo o material necessário para ele, ou ela,
espanto. Disse: “Nossa, nem sei o que dizer! Qual a limpar-se e lavar o recinto. Isso é um ponto de honra
“Cuidado, que essa desgraça passa treponema até por
telefonema! Se não quiser ir visitar hospital, evitá-la é chance disso acontecer!? De eu vir reencontrar você, pra nós: quem aqui dentro c..., aqui dentro mesmo
vital. Não é à toa que ela essa séria miséria é chamada logo você e, de todos os lugares, aqui, e assim?!” paga!”
de Menina Venérea. Experiência própria: o meu *
gigrande busílis foi um porre de bílis natalícia, onde “Pois é, né? Sou eu... Mundo pequeno, hein!”
enfiei todas e angariei sífilis vitalícia...” “Eis as porqueiras faladas, essas famosas mimosas
“Muito pequeno mesmo! Quem diria, quem diria! Não
sei o que é mais assustador: se é o fato de eu quase ter toupeiras aladas: sobrevoam o tédio sem nem precisar
*
sair do prédio.”
morrido inda agorinha ou a sua presença aqui na
“Inválido de treponema, elaborei o aqui cálido este minha frente, Flávia!” *
mórbido poema: arimbu cond’é panema, o diacho de
baixo sinja lá o de cema.” “Eu quase lhe matei, não foi? Burrice minha, gritar Urubu que não é bocó voa até com uma asa só.
* atrás de você daquele jeito... Você me perdoa, André?
*
Foi sem querer, eu não pensei... Fui uma burra, uma
“Eu sou uma murcha bruxa, mas se você me der idiota! Me perdoa?” Eu desejava que a terra se abrisse Só ficam entediadas em suas casas as toupeiras que
língua, vai se morrer seca à míngua! Porque é tradição e me engolisse, eu queria sumir, tão grande era a ainda não sabem que têm duas asas inteiras!
bruxa rogar maldição. Bangalô feldspato três reses! Só minha vergonha! De todas as pessoas, logo ele, logo
preciso repetir isso seis vezes. Por qualquer besteira *
ele, aqui, agora?! Depois de tanto tempo? Oh, Deus,
viro besta-fera ao acoite da meia-noite de sexta-feira!”
por quê!? Eu hoje sou apenas o ligeiro esboço da vaga caricatura
* de uma mera sombra do que de bom eu poderia ser, se
As lágrimas que eu antes tanto tentara prender agora contasse com o amor de você.
“Sou feio mermo, e daí, hem-hem? Pelo menos eu não saíram, caíram em abundância. Derreti-me, chovi rios
faço bomba atômica, não declaro nem apóio guerras, e oceanos, todas as minhas comportas emocionais se *
não fabrico nem vendo revólver, não exploro o escancararam em dilúvio. Dissolvi todas as minhas
trabalho alheio, não massacro judeus, não queimo A perdição é o salário da decepção, ou da falta de uma
gente em fogueira, não mato seres humanos, não mágoas em infinitos soluços histéricos. Senti o André melhor opção?
estupro viúvas ou órfãs de guerra, não bato em mulher, me abraçar em silêncio. “Oh, me perdoa, me perdoa,
não magôo o coração de ninguém, não trafico nem uso por favor, foi sem querer, me perdoa, me perdoa!” *
drogas, não prometo sem intenção de cumprir, não
Nesse momento eu já não mais pedia perdão pelo “É muita louca iniciativa pra tão pouca acabativa:
tento comprar favor de amor e não adoro um Deus
acidente, mas sim por tudo que tinha feito, aliás, que minha interna confusão afetiva tem alergia à conclusão
matador de criancinhas indefesas. Quantos homens
efetiva.”
bonitos por aí podem dizer o mesmo de si assim, hã?” não tinha feito no passado. Eu não saberia dizer,
provavelmente não reconheceria, não admitiria, se me *
*
dissessem, se me perguntassem. Mas era! Eu pedia
“Esse aí fez foi universidade de hiperversidade!” perdão por tudo aquilo de bom que eu poderia ter feito Às vezes, não percebo o quanto exacerbo o meu verbo.
* e que não fiz por ele. *

Filhos da bruta vida, ultrapassando o sinal sem multa Sim, isso mesmo. Eu, Flávia Estela, há vários anos Uma garota inamizível, bela fera ela era: com e sem
havida... conhecera aquele homem, André Campos. Tivéramos trava-língua, matava o troço desejo nosso era à
um passado juntos, uma certa relação. Aliás, pra ser míngua.
*
mais exata, uma incerta relação. E é exatamente por *
Unidos pelos sagrados laços do matrimônio e logo isso que a presença dele ali me atingiu tão
desunidos pelos sangrados balanços do patrimônio. profundamente. Eu não o esperava, não ele, não ali, Onde acontece o rali mais importante do Frasil? No
não naquele momento, logo naquele momento! abestado estado do Verjipe.
*
*
Qual a cidade mais fúnebre e triste que existe? Vou confessar logo: eu tinha ido àquele prédio para
Mortaleza. tentar me suicidar. Sim, isso mesmo, eu ia me matar. Qual o estado frasileiro com o maior índice de
Por quê? Ah, tenho até vergonha de dizer o porquê: meretrizes por cada habitante quadrado? É o estado de
* não sei como é que eu um dia fui capaz de pensar em Meninas Gerais.
Qual o estado frasileiro mais circular? Redondônia. me matar por um motivo tão patético e idiota e besta,
*
não sei mesmo! Mas essa é a verdade: eu fui ali pra
* acabar com a minha própria vida. “Amor é uma chama covarde que arde sem ninguém
acender?! Ora, vá alguém tentar entender!”
Uma namiga é, ao mesmo tempo, namorada e amiga. “O que você está fazendo aqui, Flávia?”, o André me
perguntou, depois de vários minutos, ainda me *
*
abraçando e ao sentir que eu já estava mais calma.
“E então eu fiquei de sobra que nem cobra em obra
“Em verdade, em verdade te digo, amigo, que o galo salobra: pingue-pongue quicando de ali pracolá entre o
do decapitalismo não cantará ‘chucro lucro cru!’ três O que mais eu podia dizer a ele? “Tenho vergonha de
aqui-não e o lá-também-nem. Coisa chata, hem!”
vezes, já tu terás sonegado e renegado muito mais dizer... É muito constrangedor, muito embaraçoso...”
vezes a cruz e a luz de Jesus no bazar do material azar. *
Quer apostar?” Compreensivo como sempre: “Tudo bem, se lhe é
doloroso falar sobre, não precisa dizer. Esqueçamos “Paco, rupaco, louro no feijão dá indigestão! Mesmo
* tudo isso. Apenas procure descansar a sua alma, sem torresmo, aqui no louro dá mesmo!”
O amor é um fogo covarde que só arde tarde demais vamos.”
*
nos animais mais primacacais, ou nunca cá no cais
Mas eu tinha que dizer. Afinal, eu também estava
nem nos mais nus cacauais. Plantinha de flores rouxas, “Que a sua vida seja sempre mais infinitamente
ele não nasce ou cresce nem desafloresce no coração ardendo de curiosidade por saber o que ele estava mágica do que a minha tem sido trágica!”
de decoração dos trouxas, parece. fazendo ali, exatamente ali naquele prédio de tão má
fama. Será que ele tinha ido até lá com a mesma *
* finalidade que eu fora? Será que ele também queria se
“E então eu vi, apenas por um triz, que a sorte é uma
“E eis que, de raspante serpente e não mais que suicidar? Não, homens como ele não se matam! Ou meretriz.”
derrapante repente, papoca à beça um triste chiste em será que sim? Eu tinha que saber, tinha que tentar
papo-cabeça na minha cuca oca à beça. E em vestindo descobrir. Mas, pra isso, eu teria que fornecer algo em *
e investindo um avesso destino cretino e perverso, troca. E como ele perguntara primeiro...
embrulhei-me o intestino e enfiei-o enviei-o de volta “Duvide se as estrelas são de fogo, duvide se o sol é
ao azedo regresso de um indômito vômito. Mas isso “Eu vim aqui pra me matar! E você?” semovente, duvide até se a própria verdade mente, mas
foi só-mente da boca pra fora, catazusp!, que nem cada não duvide somente que o amor em mim faz um jogo
cuspe, e então eu fiquei como ela: sim, com a moela cá “Pra se matar?! Rá, rá, rá, rá, rá!” indormente! E ainda que isto possa ser ou parecer
na goela, dona Garrafaela!” loucura, há método e cura em sua procura.”
“Por que você está rindo?!”
* *
“Porque eu também vim aqui pra me matar, rá, rá, rá!”
A luta continua nua! O beijo é o banquete supremo do desejo!
* “E qual é a graça disso, André!?” *

Diante da tua intensa e tão bela presença as próprias “A gente vem aqui pra se suicidar. Aí, você quase me Só amor e arte podem enganar a morte!
flores sofrem uma vergonha imensa! mata é a mim, de susto. Depois salva a minha vida
*
* arriscando a sua desse jeito! E pra completar, em vez
de aproveitarmos o ensejo do feliz acidente para O amor é o combustível que mantém aceso o
O orgulho é um fantoche do medo. consumarmos nossos planos de morte, ao contrário nós entusiasmo de uma alma.
fazemos é de tudo pra não morrer! Hmm, pra quem
* *
ainda pouco queria se matar, acho que ainda estamos
“Desde que alguém me amputara o coração, eu vinha muito apegados demais aos nossos couros, não Só me dói viver se não flor por amor!
tentando preencher o lugar com algumas próteses estamos? Rá, rá, rá, rá, rá!”
ordinárias. E aí descobri que você poderia me fornecer *
um coração novo. Posso contar com esse renovo?” Fiquei confusa, sem saber o que dizer. Acho que até
esbocei um sorriso meio forçado. Tentei ver a graça Antes um limão azedo que um chuchu aguado de
* medo!
que ele via naquela situação dramática e quase trágica.
“Nós, pobres, mendigamos amor; eles, os miseráveis, A confusão fez o meu choro estancar. Assoei o nariz *
tentam comprá-lo com dinheiro.” congestionado no ombro, na manga da camiseta, que
antes era branca e agora estava toda imunda de sujeira. O coração é um arqueiro míope, e com a pior das
* pontarias que se possa conceber: a grande maioria de
Tomei coragem e perguntei: “O que você sentiu, suas flechas erra o alvo de uma maneira aflitivamente
“Os meus amores incômodos, indesejados e ofensivos André, no momento em que estava lá pendurado no patética. O cenário emocional humano é, assim, um
se acumulam aqui no eito do peito, e esse acúmulo andaime? Você pensou que ia morrer e viu passar todo labirinto de incontáveis projéteis desencontrados, no
aqui me perfaz um faminto acúmulo voraz. Por que eu o filme da sua vida na sua frente?” qual somente por acidente, talvez ocasionalmente duas
só invento de amar quem não me pode retribuir amor flechas alcancem o destino reciprocamente correto. E
também, hein!? Ai, como me embrulha o intestino “Hã, o filme da minha vida? Ah, não, não, ainda bem esse milagre sublime é o que podemos chamar de
repetir sempre e sempre o mesmo destino! Volto e que não! Pois eu detesto filme repetido! O que eu vi amor, fato de raríssima ocorrência no contexto da atual
revolto de novo ao ovo da mesma inicial conclusão: foi muito, muito melhor: eu vi foi esse seu lindo humana existência.
patética emocional confusão! Da felicidade perdi a peitinho assim nu! Se fosse a última coisa que visse,
graça e as mercês, e isso já desde os meus dezesseis. E *
hmm, morrer até teria certamente valido a pena!”
não surge nem ruge nunca na cena quem de mim tenha
a mais pequena pena.” É tudo tão pateticamente fácil de interpretar: os nossos
Meu peito?! Oh, só então eu me dei conta de que, por genes não estão nem aí para o conteúdo mental de
* conta do rasgão que aquele prego causou na minha ninguém, o que lhes interessa mesmo é a aparente
camiseta, meu seio direito estava completamente saúde corporal, e pronto, e ponto. Sorte pra lá de
“Eu desprezo profundamente o dinheiro, esse inimigo exposto! Rubra de pudor, instintivamente levei logo as danosa a de quem não nasceu com as belas artes de
mortal do amor total. O amor só pode ser dedicado mãos ao peito, tentando escondê-lo do olhar indiscreto uma boa propaganda enganosa nos couros! A vida não
gratuitamente, ele não sobrevive na atmosfera tem piedade dos feios, a não ser quando o dinheiro
do André. De repente, porém, veio-me à mente uma
pestilenta dos pântanos do comércio! O ‘amor’ que se intervém na controversa conversa. Mas aí, de qualquer
compra e se vende é só uma miserável e louca palavra incontrolável vontade de rir. Perturbada e confusa, fiz maneira, é “ter ou não ser”, e está encerrada e
oca! Amor-de-troca é um monstro devoraz à espreita força pra engolir o riso, mas não deu: explodi numa enterrada a questão!
na toca: quem é besta que caia nessa patética tocaia!” gargalhada escandalosa. Espasmos de humor sacudiam
todo o meu corpo como um terremoto. Minha barriga *
*
doía de tanto rir. Eu batia no chão com os punhos, já Amor: palavra tão gasta que há muito o seu valor já se
Ela achava que ao vestir a grinalda sua vida sofreria nem me preocupava mais em esconder meu seio nu. perdeu, mas que por causa da inércia isso quase
uma guinada: e sofreu, só que de trezentos e sessenta Tudo que eu queria rir e só rir, nada mais importava ninguém ainda nem percebeu.
graus. Guinada de lesma, daquelas que depois você naquele momento.
ainda continua é na mesma. *
Eu chorava novamente, só que dessa vez eu já não
* Com o amor em carne viva, latejando felicidade ativa!
sabia ao certo o motivo, se era de raiva, de dor, de ale-
“Feliz como nunca se viu na nua hiperfície civil, mas gria, de tristeza, angústia ou o quê. Chorava e ria *
sofrendo jumento tormento a todo o momento no seu convulsivamente ao mesmo tempo. Às vezes,
centro profundo de dentro. Com o coração num beco precisava parar pra tomar fôlego, porque o meu nariz Coitado, o amor é um só, e seus inimigos são tantos! O
medo, a vergonha, o orgulho, a indiferença, a
sem-saída, sinto-me prisioneiro numa masmorra fria, ficava completamente entupido de muco. André, ingratidão, o comércio, o interesse, a ilusão, o erro, o
sufocante e sombria. Exilado, isolado, solitário, contagiado, também, gargalhava junto comigo. ódio, o preconceito, a inveja, a perfídia, a ignorância
invisível e carente inseto transparente em meio à Subitamente, senti ele me sacudir fortemente pelos — tudo isso e mais alguns outros rivais fazem guerra
multidão indiferente. Viver é mesmo uma piada ombros e falar o seguinte: “Flávia, escuta! Vamos, me contínua contra o amor neste mundo.
marota e afiada como a presa venenosa de uma cobra escuta. Eu quero te pedir uma coisa. Cuida, me escuta,
*
criada! O tempo brinca com a gente ao passar, assim pára de rir e me ouve. Quero te pedir uma coisa.”
como um gato sem muita fome às vezes brinca com o As vaidades são âncoras que lançamos ao nosso redor
rato que acabou de caçar.” Exausta de tanto rir e praticamente já com cãibras na para tentar deter a inexorável marcha do tempo que
barriga, assoei o nariz pela trocentésima vez com as nos arrasta tolos para o abismo comum do fim.
* costas de uma mão. Disse: “Sim, André, o que é que Poderíamos muito bem ficar quietos, que daria no
você quer?” mesmo, e com menor gasto de energia, embora talvez
Amor de mãe não tem tamãe: depois, a gente dela com menos graça também.
sente saudades até das maldades! “Olha pra mim, vamos, olha. Eu preciso que você faça
algo muito importante pra mim, agora, Vitinha. Você *
*
me deve isso, viu? Você faz?” “Quando ela despiu os olhos sacando seus óculos
Tem um pessoal aí que exagera muito quando se trata escuros, duas gemas azuladas sorriram-me um
de política, convenhamos: afinal, os cheiros morais lá Ainda meio rindo, respondi: “Diz o que é que aí eu
magnífico brilho de boas-vindas. Meu coração
da esfera pública só são equivalentes aos da privada. vejo se posso fazer. Se eu puder, eu faço, sim.” acelerou na certeza de estar vendo a bela aquela que eu
menos esperava encontrar diante de mim.”
* Sério, ele falou: “Lembre-se que você quase me
matou, hem! Não se nega nada a um homem que acaba *
Os sentidos são a antena da razão, as emoções são sua
de ver a morte de perto, ainda mais quando você é
sintonia primária e os sentimentos, seu mecanismo de No melhor da sua primavera, não reprima a fera que
sintonia fina. Sem emoções e sentimentos bem- exatamente a responsável direta por essa quase-morte
habita em seu interior!
ajustados, a mente vira uma bagunça, a razão torna-se dele. Você faz isso pra mim, faz?”
precária, tosca e ineficiente em contexto de estímulos *
dispersivos. A razão fria só se sai razoavelmente bem O tom sério dele me assustou um pouco: “Mas o que é
em tarefas bem simples e de significativa abstração que você quer de mim? Eu nem sei o que é, vamos, A vida é um abraço em cujo laço se encontram a
concentratória. diz!” magia e a tragédia, eis nossa bela cosmédia!

* “Eu preciso que você diga que faz mesmo sem saber o *
que é, que você diga que faz qualquer coisa, qualquer
Você pode até tentar se trancar para o mundo, mas este Pode um macaco com a mão sua daqui tocar o chão da
coisa mesmo. Você faz, hem?” Lua?
sempre de novo no ovo lhe arromba e invade, sem nem
precisar de explodir alguma bomba covarde. Agora eu fiquei com medo mesmo, mas a culpa e a *
* vergonha decidiram por mim: “Tá bom, eu faço.
Qualquer coisa, pode pedir!” Quase me arrependi “Acho que o Apocalipse vai se atrasar em vir botar pra
“Dez pra um milhar como ela logo-logo vai te instantaneamente ao dizer isso. arrasar: a besta fera ficou de chegar sexta-feira. E,
humilhar e você vai é gostar! Quer apostar? bingo!, hoje já é domingo! E pra não humilhar aposto
Ainda segurando meus ombros com firmeza, André dez pra um milhar como os Quatro Cavaleiros estão
* agora é a bombar jogando bilhar num bar.”
disse: “Então, tá. Olha que você disse que faz mesmo,
A vida é absurda e só o amor verdadeiro pode-lhe qualquer coisa, hein? O que eu quero é só que você *
conferir algum sentido, como uma música pura que é sorria. Vamos, sorria lindamente e gostoso, desse jeito
sublime encanto só enquanto dura. meigo como só você sabe sorrir. Isso, assim mesmo. Um pântano moral crivado de flores tóxicas, eis o que
é o mundo sem amor.
* Desconcertada e confusamente divertida, perguntei: *
“Só isso? Apenas sorrir? Pensei que você ia aproveitar
“Não tem mistério: meu coração é um cemitério pra...” Espaço publicitário: “Funerária Abutre Voraz, onde o
crivado de amores natimortos.” cliente nunca tem razão, porque por demais absorto em
“Peraí, eu ainda não terminei o meu desejo. Agora, seu papel de estar morto.”
*
sorrindo, sempre sorrindo, abrace o meu sorriso com o *
“Não sei se ele tem gastrite, o que sei é que ele sempre seu!”
solta um gás triste!” Antes só sozinho do que sozinho bem acompanhado:
Não entendi logo o pedido dele: “Hã?! Abraçar o seu porque, ora pois, a pior tortura é a solidão a dois!
* sorriso com o meu? Mas como é que eu p... Ah,
*
Paletó é embrulho de burocrápula. entendi! Você quer que eu lhe beije, certo?”
Lula foi devorado, sem brócolis no acompanhamento,
* “Eu preciso que você abrace o meu sorriso com o seu,
pelo dragão do deslumbramento.
agora. Vamos, você disse que faria qualquer coisa,
“Eu daria todo o meu reino por alguém que me visse você me prometeu!” *
como um rei nu!, suspira na alcova o soberano de
Idiócia, ao despir pela mirionésima vez sua invisível e A maneira como ele me olhava fixamente me “Magali Javali, bicho ruim pra mais de penca: com
inexistível túnica única.” encarando, o jeito estranho de ele se referir a um beijo, aquilo ninguém não se brenca!”
* “abraçar o sorriso dele com o meu”, tudo isso era *
inesperado e inédito pra mim. Minha alma já estava
Esta vida é refúgio ou refugo? Ai, que esta dúvida é confusa, ficou mais ainda. Eu não sabia o que pensar, “Depois de apanhar muito do maridículo ridículo,
fogo! o que sentir. Pra me firmar em algo, decidi então que a Dona Magali Javali resolveu sair do choco. E o mundo
situação era engraçada, divertida. Voltei a sorrir e... foi quem ficou logo chocado: ela esquartejou o
* querido marido, moeu e deu como ração prumas
Meu Deus, eu não acredito no que está acontecendo galinhas canibais que ela mantinha no seu berreiro, ou
“Vem e entra absurdamente no reino das tais larvas, as menor, no seu terreiro. Depois de assim engordar suas
palavras. Lá a gestão dos hematomas exaspera os agora! Não sei o que estou fazendo aqui neste lugar,
aves suaves, Dona Magali Javali nem suou jamais a
poemas, de maneira indiscreta e indescrita. Seja mais sozinha com este homem, sorrindo, os meus olhos
franja cuja ao tomar a imprópria canja suja. E assim
desperto e esperto com o templo destas larvas: em fechados, sentada no chão, a roupa toda imunda de rugiu, surgiu e veio umas das principais líderes do
cada uma reténs mil faces reféns, e no que interpretas poeira, vários arranhões espalhados pelo corpo. Não Orgulho Feio.”
perpetras uma sopa-de-apedeuta, que apresuntas, e se posso acreditar que estou prestes a beijar o André!
interpelares esta aposta cachorrível que lideras e *
Sinto os braços dele me envolvendo, meu coração
apresentas, de trouxa és taxado, hem!” (Darlusmande
Ancrora). dispara em batidas furiosas, o calor desta situação me O Supervéi só é vulnerável à radiação do minério
deixa com vertigem. O fogo do contato dos lábios dele decreptonita.
* nos meus me assusta neste preciso instante. Ninguém
me pergunte se este beijo está sendo bom e gostoso: eu *
Derek Decrepton, o gigrande líder do Orgulho Véi,
também conhecido como Movimento Com-dor. não saberia dizer, não consigo pensar, meus Impressionantes as fartas rugas de Jamanta Tartarugas,
sentimentos fervem, minhas emoções estão a mil em mais um dos líderes do Orgulho Véi.
* erupção! Cócegas elétricas percorrem todo o meu ser
como os raios de uma tempestade. Os músculos da *
“Esse mente, quando não admite que do Bem o prático
amor não-apático é a somente semente. Ai, quantos minha boca, Deus!, já não os controlo! Minha língua A humanidade contraiu essa gritante e bastante
exércitos de larvas lavram essa senhora seara das ganhou vida própria, meus dentes, ai, que vontade de irritante mania de crer sem saber onde a verdade pode
palavras! No controverso começo o verbo era, mas morder esta carne de homem que me lambe a caber!
hoje eis que o verbo já por demais se exagera, intimidade perplexa! Ui, que delícia de beijo! Aperto o
trazendo-nos tolo tipo e sorte de morte megera!” *
meu corpo contra o dele: quero me fundir a você,
* André, quero fazer parte do seu ser! Me aperta forte, “Tu és a derradeira malícia e a mais verdadeira
vamos, assim, isso, isso! delícia!”
“Pra que tentar ser bonito!? Não estou nesta vida a Ai, estou quase sem fôlego, mas não posso, não quero, *
desfile! Não nasci tampouco, também, pra agradar aos não vou me soltar deste abraço. Quero que dure pra
genes de ninguém! O corpo é o aperitivo do tempo: sempre, que o tempo se congele agora, que este abraço “Os inescrupulocrápulas estão chegando, estão
chegando para roubar, se você faz parte desse bando,
pra não ser devorado pelo esquecimento inferno, de sorrisos seja eterno! Não quero, não consigo pensar, saiba que nós um dia inda vamos votar pra quebrar!”
prefiro esculpir algum bem em meu ser interno. E os só posso é sentir, sentir, sentir-me toda em ti! Nossos
tolos que apostem suas michas fichas na imeritória lábios, nossas línguas, nossos dentes, carne com carne, *
beleza transitória: irão tolos necessariamente perder a músculos ligados, unidos, uma só coisa ativa, uma
“Ai, cê nem avalia o que eu não dalia pla me livlá
aposta e ainda virar cinzas da História. Ê, povo louco, explosão de prazer e saliva! Ai, como isto é tão bom! dessa sua ilitante bastante tatibitante ecolalia, ixe
esse que se contenta em só ser hiperficialmente oco!” Não acaba, não, por favor, dura pra sempre, dura pra malia: detesto concolência!”
sempre! Quero mais, preciso de mais, estou faminta de
* você, despejo-me todinha em si, este beijo exaspera o *

Hmm, será que já suspeitam aí na freguesia que de meu desejo! Quero devorar a tua carne máscula, quero Se tu me achas feio, vá plantar centeio! Se me julgas
todo amor está vazia esta minha galvã poesia? te sentir pra sempre assim grudado em mim! Não, bonito, cigano engano redondo e infinito! Mas se teu
ainda não! fica mais, está muito gostoso, ufa! Te coração não é mera peça de decoração, olhar-me-ás
* aperto assim contra mim, não te largo mais nunca! primeiro como alguém bom e digno de ser feliz com!
Quero morrer nos teus braços, beijando-te, comendo-te E se o resto é inumilde gesto indigesto que sirva de
“Fé de mais, hmm, fede demais como um pum! A fé
todo com a minha oca e louca boca! Você mesmo que elemento alimento ao pobre gorgulho de algum
cega é uma paca desmiolada, digo, uma jaca estiolada,
irrazoável orgulho: o pai tempo mormente cedo castiga
aliás, uma vaca deteriorada, não, uma barca recém- pediu, agora aguenta!
quem somente medo mastiga. E se você não achou
furada, ou menor, uma faca amolada em dois gumes.”
E assim ficamos colados num longo beijo durante não esta poesia suficientemente marota, garota, que pena:
* pegue a pena e vá plantar outra cena, pequena!
me perguntem quantos minutos, séculos ou eras. Até
Perigostosa esta vida é demais? Ah, pois o meu que o cansaço por fim nos venceu e deslizamos ao *
coração devora tudo, lambe os dedos e os medos e chão, separados, exaustos. Mas mentalmente aquele
beijo inédito se prolongou latejante em meus lábios. Movo-me na viscosa inquietude piscosa dos dias vãos
ainda pede mais!
como um dos mais primais entre os macacos galvãos.
Embalados pela música gentil de nossas respirações
*
ofegantes, adormecemos ligeiramente abraçados ali no *
Amar-se é querer bem à verdade de alguém. Não chão daquele terraço, absolutamente indiferentes ao
calor abrasante do sol em nossas peles suadas. Nós nos atolamos em palavras e mais palavras para
existe amor-próprio sem amor ao próximo. Verdade
tentar disfarçar a falta de consistência e coerência de
ainda mais gritante: não existe amor ao próximo sem
* nossas ações. Aquilo que dizemos quase nunca
amor ao distante!
fazemos, e a verdade do que fazemos quase nunca
* Engraçado como são as coisas, hem? Eu fui àquele admitimos. Camadas e mais camadas de verbo vazio
lugar atrás da morte e acabei foi descobrindo a minha nos cegam o entendimento. Dizemos seguir um Deus
Felicidade não é a chegada ao fim da jornada: é o verdadeira vida ali! Mas é claro que eu não percebi de Amor quando na prática ainda nem sequer sabemos
processo de ida da própria caminhada na vida! o que é amar de verdade. Como se amar fosse apenas
nem muito menos admiti isso já naquele momento.
dizer “eu amo”! Barramos aos pequenos insetos a
* Quando acordei, vi que o André tinha me carregado entrada em nosso jardim, mas escancaramos a porta e
o camim para a entrada dos mais desajeitados e
Será que é mesmo necessário a gente padecer assim no até a sombra da caixa d’água, onde me colocara inelegantes elefantes que vêm esmagando tudo assim.
paraíso, e só porque este nosso inquieto grilo interno protegida do sol. Ele estava sentado ao meu lado e
nos faz transformar o paraíso num inferno? comia algo. Ao notar que eu acordara, disse: “Tá com *
fome?”
* Nisto meus pensamentos em dúvida profunda estão:
“Estou, sim. Mas onde foi que você arranjou ter ou não ser, eis a rotunda questão!?
Uma das coisas mais irritantes do capitalismo é que,
comida!?” *
para obter mais lucro, ele promove o progresso só mui
lerdamente a conta-gotas. “Eu trouxe duas mochilas lotadas de comida.” O medo é o pior inimigo do amor.
* “Ué, que espécie de suicida é você, hem, que traz *
comida quando vai se matar? Aderiu a alguma seita
“É a indiscretina e pequenina menina estricnina!” religiosa neo-egípcia? Essa comida era para oferecer Logo depois de 1917, o materiabismo dialéxico, aliás,
aos deuses ou algo semelhante?” o mentirialismo diabético, digo, o mancomunismo
* diabólico, não!, o materialismo dialético foi parar no
Apesar de “os incomodados que se mudem”, os em “Não, é comida pra eu mesmo comer. Só isso. Sabe lá IML (Instituto Marx-Lênin) de Moscou.
comodato é que se iludem, e os com mandato se quanto tempo eu não iria ficar aqui, indeciso, sem me
resolver a dar logo cabo da minha vida! Eu certamente *
enchem de fuligem: “porque se sujar faz bem”, como
diz aí o Omo. não iria querer morrer com fome, de jeito nenhum: A voz do povo é a voz de Deus?! Pois eu nunca
nem morto!” imaginei que Deus gostasse de falar palavrão e armar
* tanto barraco, não!
Rindo da própria piada, ele me deu uma banana. Comi.
“Como de praxe, eu não errara a esmo: aquela espécie Disse que, de fato, não devia ser nada agradável se *
de arara era rara mesmo! Ficaria ótima bastante aqui matar com o estômago vazio.
empalhada na minha estante, seria a minha preferida. “Qual o maior sonho do Fidel?”
O que você acha, querida?” “Sem falar que eu não tinha como saber quanto teria
que caminhar até chegar ao inferno: melhor estar bem “Hmm, depois que Fidel castrou Cuba, seu maior
* alimentado. O prevenido morreu de vermes...” sonho sempre foi transferir a capital de Havana para
Matanzas...”
Uma luz no fim do fundo túnel? Hem, sarta de banda, Falei pra ele virar aquela boca pra lá com esse negócio
meu bem, que o que lá vem assim em cem, do Piauí ao de inferno. *
Chuí, é um trem!
“Mas é isso mesmo, Flávia: quem se mata não tem Um gigrande escândalo é você morrer de solidão
* como ir pro céu. Logo, só tem o inferno como opção, mesmo mergulhado em meio à multidão.
né?”
Lamento de uma namorada traída e decepcionada: “Xi, *
meu namorado é peteca: ele quebra e requebra a Pedi pra mudarmos de assunto: aquilo tirava o meu
munheca, eca! E que ele a munheca tombe, oh, mas “Quer ver só como se desinfeta esta festa, hmm?
apetite.
que hecatombe!” Pum!”
Ele perguntou, subitamente: “E então?”
* *
“Então o quê?”
Muçulmano zombando dos cristólatras: “Eita, povim O bicho pegando feio e fervendo geral na Pensão das
besta, sô: adoram um fantasma que não conseguiu nem “Nós.” Quatro Beiras: “Ei, não estraga a linha, galinha! Fica
sequer passar da fase crucificatória!” aí só pensando nos teus macho, diacho! Presta mais
“O que é que tem nós?” atenção, Conceição! Cose bem essa vinheta, Julieta!
* “É o que eu estou perguntando!” Aqui é lugar de família, Emília! Joga já longe o
chiclete, Gigilete! Ô gente indecente, ateliê de costura
“E naquela bandeja, que inveja, já vejo filé de badejo.” “Ah, você fala sobre o nosso ‘abraço de sorrisos’, é?” não é câmara de tortura recente! Hã? Até parece o que,
“Mas e se eu quiser robalo?” hem? Repete, se tu tem o topete! Quer ir pra rua,
Ele fez uma careta de impaciência: “Isso quer dizer cafua? Ou se cala ou a escolha é tua!”
“Te meto é a mão nas fuça e te chuto pra fora, na hora! que não tem nem vai ter nada, certo? Que você quer
Tá pensando o que, chaminé caipora! Aqui pau que simplesmente fingir que nada aconteceu?” *
nasce torto tem logo é que ficar direito: isto é um bar “O que você acha que poderia acontecer entre nós? Foi Mistério resolvido, mas com resultado desagradável na
de respeito! Tá pensando o quê, hem, puraquê?” só um beijo. E, além disso, nós vamos nos matar, investigação: “Sim, dona moça, ele fez sexo com
* lembra? De que adiantaria, então, fazer planos?” alguém e esse alguém era um gay. Como é que eu sei?
Ora, porque o ninho de amor fui eu que aluguei!”
“Como é que é o gregócio, hem, beócio? Um profeta “Você salvou a minha vida há poucos instantes e agora *
pró-festa, do tipo manso e que não protesta?! Ô não está nem aí se eu vou me matar ou não?”
mentira lascada da molesta!” Nos sórdidos primórdios do Movimento Fez-Menino:
“Olha, André, eu salvei a sua vida porque foi eu “O quê!? Outro Von Bismarx? Ô sangrada e infame
* mesma que a coloquei em perigo. Daí, o que você vai família! Isso é a séria miséria da filhosofia... Convém,
querer fazer dela, bem, isso já não é mais da minha porém, não desafiá-las: nem pelotões de cheques não
“Seu olhar dela gotejava promessas que ficaram só na conta. O que eu não queria era morrer com a culpa da podem saciá-las!”
vontade, já que de si eu não obtive nem a ponta de sua morte acidental na minha consciência, pra que esse
uma bondade.” peso não me impedisse de subir ao céu.” *

* “Hmm, pensei que, depois disso tudo, você talvez “Eu era a tua garota, mas só até tu resolveres ir amar
gostasse um pouco de mim. Naquele beijo eu senti outra marota. Aquilo foi, meu boi, a última gota! E
Edgar Ganta Voraes, o melhor amigo do Hugo Lozzo. antes que tu mesmo decifres, confesso já te coloquei
uma entrega total e...”
* foi bem mais de dez chifres!”
Fiquei constrangida e corei.
Inês Pires D. Leite, secretária substituta, e nas horas *
vagas também prostituta, da Pensão das Quatro Beiras. “Você vai negar que gostou? Vai dizer que estava só
fingindo, vai?” Reclamação atípica em um típico Servício de
* Futilidade Lúbrica: “Alô? É da Associação Protetora
“Não, eu não estava só fingindo, André. Claro que eu dos Animais? Eu quero fazer uma reclamação. Sou o
Os óculos do desejo e da ilusão cegam mais que a mais evidentemente gostei muito daquele beijo. Como eu primo do dromedário, o próprio em pelo de camelo.
ofuscante das luzes ou a mais negra das trevas, cruzes! poderia negar!? Mas uma coisa não tem nada a ver Bom, negócio é o seguinte: quem foi o engraçadim
com a outra.” que resolveu espalhar por aí que é ‘mais fácil passar
*
uma agulha pelo fundo de um camelo do que ficar rico
“Você gostou só por gostar, foi?” ser pro seu bico”, hem, hem? Essa história tem me
O que não me cabia, coisa que eu não sabia logo no
começo, era o fato de algo não ter preço por melhor “Foi, pra ser sincera, foi. Eu na verdade até pensei em dado muita dor-de-cabeça, aliás, a dor na verdade é
que fosse a doce oferta: verdade muito certa, mas que outra pessoa...” bem mais aqui atrás, ai-ai-ai-ais, como me dói demais!
só desperta dentro de gente esperta: não há nenhum Só quero é de volta a minha paz! Vocês precisam
valor material que compre um autêntico ardor de amor “Outra pessoa?! Quem? O Paulo, aquele gay? Você tomar uma providência com urgência, que foice! Já
etereal! ainda namora aquele sujeito?” estou cansado de dar coice!”

* O meu embaraço aumentou ainda mais e meu rosto *


ficou em brasa viva.
“Ela era do bairro de Moema e eu gostava de lhe “Nem nas mil e uma noites de Sherazade encontrarei
recitar poema. Aí, quando sua intensa presença foi “Eu sempre lhe disse, Flávia, que aquele cara não iria tão tocante amizade como a que, qual semente
pousar em outra freguesia, ai, ficou tão vazia a minha fazer você feliz. Será que você nunca vai enxergar pequenina, vi germinar no eito do peito dessa
triste poesia! Será que há de voltar bela um dia pra me isso?” menina!”
curar desta alergia a alegria?” “Eu já enxerguei que o Paulo é gay: ele mesmo me *
* disse, e acabou tudo comigo semana passada. E é por
isso, aliás, que eu estou aqui hoje...” “Na pança da dança, a mansa criança cansa de se
“Coidado, hem, meu coitado: são perigrudemais, elas, entregar à esperança-balela e nunca obter dela a sua
essas marotas garotas das mazelas safadas, que por aí André me segurou pelos ombros e me sacudiu: “Como devida herança bela!”
andam de gazelas disfarçadas.” é que é?! Você vai se suicidar por que o Paulo Prado
confessou que era homossexual e rompeu o noivado *
*
com você?” “Preciso já lavar e elevar daqui esta sensação sem
Viajei o tempo todo na maionese, digo, na maior neve. sazão nem razão: alguém aí tem sabão?”
Comecei a chorar novamente: “Ele me abandonou...”
* Ele me abraçou. Deixei-me ser abraçada, entreguei-me *
por um momento à proteção daqueles braços. Meu
“Oba, tá escrito lá no mural: hoje tem mucura ao curau corpo tremia em soluços. “Ele me deixou pra ir se Hora do carão no bordel: “Vem cá, loura, por acaso tu
com churrasco de bacurau! Vai ser a maior felicidade casar... com um homem! Ele não me trocou por outra, aqui és caloura? Vê se fica logo ciente que, pra
rural, uau!” trocou foi por outro, por outro, André! Você estava informação de gente da tua laia indecente, ‘eu te amo’
certo o tempo todo quando dizia que ele era bicha. O não é coisa que se diga a cliente!”
*
maldito palhaço é um gay, sempre foi! Você bem que *
“Silêncio, silêncio! Está ligado o meu liquidificador de me avisou, mas eu não lhe dei ouvidos.”
ideias! Silêncio no recinto, aí vem algo, eu pressinto!” Lição de economia financeira: “Para o cauteloso
“Você estava cega de paixão pelo Paulo. Nada do que investidor das ruas, ‘aplicar na bolsa’ é, na prática,
* eu dissesse poderia fazer você ver a verdade óbvia que aplicar os seus dedos leves na bolsa das mulheres
estava plantada na sua frente, nua e crua.” indefesas e distraídas.”
Tem gente que vive o tempo todo perigozando a vida
adoidado, bande folgados: como se fossem só do Desvencilhei-me do abraço dele. Choraminguei: “É, *
prazer tolos os valentes soldados! eu fui uma boba, uma grandissíssima idiota! E agora
estou sofrendo as consequências da minha burrice. Sou eu quem mando aqui. Sim, só eu queimando aqui!
*
Vamos, André, pode dizer que foi bem feito, que eu
*
Uma pessoa não se pode permitir que a beleza, o mereci, que eu estou colhendo o que plantei. De todas
dinheiro ou a fama lhe inflem e exorbitem o balão do as pessoas, você sem dúvida tem todo o direito de rir Pra me cativar a mulher tem que se cultivar. Tipo:
ego até alturas irrespiráveis: a ditadura estética da minha desgraça. Pode rir, pode comemorar: foi bem “Lançou-me um olhar e assim laçou-me: olá!”
costuma promover cada queda inédita e feito mesmo, pra eu deixar de ser burra!”
estrondosamente patética! *
“Eu não vou rir da sua desgraça, Vitinha. Eu jamais
* faria isso, jamais!” A gelatina é uma substância tremelíquida.

“Luto contra a sociedade burocrática e sua cultura “Pois devia, porque eu mereço esse preço! Você me *
cínico-hipocrítica de pseudo-egoísmos dividualistas, ofereceu seu amor, você pediu que lhe amasse, você
A sociedade da informação criou uma nova e sutil
misoutrrópicos e alofóbicos.” Ah, nem me perguntem precisou dos meus carinhos, e o que foi que eu fiz,
armadilha: a enxurrada caótica de dados brutos, cujo
o que quer dizer: isso foi o que mandaram eu ler. hem, hem? Eu lhe abandonei, eu soneguei o meu
núcleo imperial chama-se internet global. A maioria
amor, eu desprezei os seus sentimentos, eu me ofendi
* das pessoas alfabetizadas fica perdida no meio dessa
com a sua intenção de amor, eu tive nojo da sua
selva de tontas informações mixadas com pseudo-
vontade de bondade! Troquei você por ninguém, por
Jumentos fragmentos de inaudita besteira erudita: informações, meias-verdades e mentiras completas
ninguém porque naquela época eu não tinha
“Lancei diversas flechas dispersas aos medos e aos sem-conta, que são facilitadas ao consumo repúblico.
namorado. E me guardei pra alguém melhor. E olha só
persas, nem contei segredos ou cantei controversas A situação resultante, e retro-alimentante!, é um estado
quem eu fui escolher, olha só! Um gay, um miserável
conversas com aquelas colegas trezentas bichebas de guerra não declarada, cá exposta eis a resposta a
gay enrustido que ficou me enrolando, me enrolando
guerreiras de Tebas!” essa charada, ó bicharada.
até criar coragem e decidir assumir, sair do armário.
* Eu fui apenas uma coisa útil que ele usou pra passar a *
imagem de homem para a sociedade. Nunca gostou de
“Na ponta dos seus dedos, a língua parece um rato mim, nunca me amou, nunca teve a menor intenção de Apóstolos são aqueles que ceguem após tolos.
meio morto nas garras de um gato sem fome: como se casar comigo! Vai ver que tinha era nojo de mim
você brinca com os sentidos!” *
quando eu o beijava! Tudo castigo de Deus, porque
* várias vezes eu desprezei você e disse pra mim mesma Aos mancomunistas do mundo: “Protelários rapaces
que eu era infinitamente melhor que você! Eu fui de tolas as pazes, ungi-vos!”
Fidel já perorou bastante e vai perorar muito mais! muito orgulhosa e preconceituosa.”
*
* Ele aproveitou que eu parei pra retomar fôlego e “Eu não te daria um buquê de flores do tipo jasmim,
tentou dizer alguma coisa. Cortei-o bruscamente: daria era logo o inteiro canteiro jardim!”
Eita, nordeste paidégua da peste: tem até monumento a “Não, André, deixa eu falar, deixa eu falar! Eu preciso
jumento! desabafar, eu preciso dizer tudo isto agora, se não eu *

* vou explodir!” Uma montanha parir um rato, de fato, isso é fácil,


“Está bem, fale, diga tudo. Se vai lhe fazer bem, embora seja coisa bem estranha. Difícil é um rato parir
Antiga “amiga”, torcendo pelo sucesso do Zé Formiga: uma montanha, ui! Difícil que nem procurar fagulha
“Ainda tá lento demais o talento do jovem rapaz, mas vamos, desabafe.”
num palheiro e não sair meio ofuscado ou chamuscado
ele já é bem capaz. Oh, coitadim, tomara que ele “Primeiro eu tenho que lhe confessar algo, umas das um bom bocado.
consiga, enfim, tomara que sim, assim sua triste figura coisas mais vergonhosas que já fiz com alguém em
não sobra pra mim...” toda a minha vida. Faz muito tempo. Eu era então bem *

* novinha, uma menina ainda. Só que nem um pouco “Sem rodeios nem vacalhada, xi, assim vou faturar
ingênua como muitos pensavam. Eu... Eu brinquei nem vaca encalhada!”, lamenta-se o peão-jiboiadeiro.
“Mas ela é uma frouxa, poxa!” com os sentimentos de alguém, pronto! Pronto, tá dito,
tá feito! Tá feito e agora já tá sem jeito. Eu me diverti *
“E você é um trouxa da ponta roxa por ligar tanto pra
manipulando aquele garoto. Me diverti muito. Fui
isso, seu boi roliço! E tome daqui já o seu chá-de- A prostituta é uma mercadoria que se vende a muitos
mesquinha, fui baixa, fui vil, fui cruel, fui má! Sim, eu
sumiço, seu estrupício!” em insuaves prestações. A esposa, porém, vende-se a
fui. Não adianta você tentar me defender, André. Não
um só, à vista, e, como diria o filósofo Fornério
* pensei nas conseqüências, só pensei no meu impróprio
Gallotti, às vezes ela leva cada sério calote!
prazer. Fui egoísta, muito egoísta. Não procurei
“Resolvir, hmm, eu resolvim foi mesmo sozim, mas aí imaginar o quanto ele iria se machucar por causa de *
eles resolvieram vir comigo também...” mim. Pra mim, aliás, era como se ele nem sequer
tivesse sentimentos!” Garota difícil, emitindo mais um fora: “Odeio rodeios,
* seu peão jiboiadeiro! E esse é o meu parecer
Continuei: “André, será que Deus vai me perdoar? derradeiro. Em suma, suma! Vamos, ruma!”
A criatividade é a verdadeira fonte da juventude, e da
Será, hem? Eu fiz algo muito errado, mas... Não, não
imortalidade também, amém! *
tem desculpa nem justificativa para o que eu fiz! Eu
* era muito jovem, muito novinha, inexperiente e... Não
“Ah, se eu soubesse ler todo o prazer que se esconde e
tão inexperiente assim, peraí, peraí! Se eu fosse tão
Leônibus Carlos Aguiar: “só a tora de motora!”, se insinua sob essa tua biblioteca púbica nua! Do
ingênua, ah, não teria conseguido imaginar aquelas
suspiravam as marias-carretas de plantão. ponto de vista do meu cerebelo, todo o ser da doce
coisas manhosas e malignas, não teria sido capaz de
você é belo!”
* brincar com os sentimentos de alguém daquele jeito.
Muitas outras garotas já passaram pela mesma fase, *
Wagner Wosinski, neurologista. pela mesma idade e não fizeram nada parecido com o
que eu fiz. Hmm, pensando bem algumas já fizeram Cartinha da Rainha Dadinha Tainha: “Querido Rei
* Torno, me aguarde o retorno. Isso se você não quiser
talvez até pior, é verdade, mas o erro delas não
justifica o meu.” ser corno e depois viver morno...”
Virgulindo Teixeira da Selva, o Lampiolho: “mas que
aguaceiro, hein, cangaceiro?” *
E assim fui contando tudo. Disse que foi indigno, foi
* sujo. E foi uma violação das sagradas regras da “Diante do que escrevo de bom e melhor digo, elas no
hospitalidade. Aquele garoto estava hospedado na máximo me aceitam como um amigo, mas já pensando
“Se essa pimenta é malagueta, vou já colocar um bom minha casa, digo, na casa da minha mãe. Eu não tinha lá consigo: ‘por que o homem que eu quero não é
punhado no acarajé do meu cunhado, que é pra ver se o direito! assim comigo?’ Tem jeito, não: a solidão é a minha
o mala aguenta o calor do ardor na raiz da venta!”
A mãe dele era amiga da minha, se conheciam desde eterna maldição interna!”
* mil novecentos e cinqüenta e antes, lá da cidade de *
Xapuri. Estudaram juntas no Divina Providência, um
“Aqui, quando alguém com ferro fere, a gente vai lá e antigo colégio de lá. Viu como eu tenho boa memória, Esse Lula, nem com sabão o lavando: vai à África e
interfere.” André? Acho que só ouvi uma vez, ou duas, a minha volta ao cruel ditador do Gabão babando e gabando!

* mãe contar sobre os tempos dela no “colégio das *


irmãs”, mas nunca esqueci. Bem, pelo menos o
A impressão que o governo Lula nos passa, quase de geralzão da história, porque os detalhes, xi, nem me “Para vê-la e no laço do meu abraço tê-la e retê-la eu
graça na praça, é que qualquer um poderia fazer na pergunte! Ah, sabia que o pessoal dali hoje diz que iria até à Itália, ó preferida querida Natália!”
raça o país crescer e se desenvolver assim, apenas aquele colégio agora é mal-assombrado? Esse povo do
tomando as nacionais medidas “racionais” óbvias. *
interior, eu, hem! Que superstição besta!
Qualquer um mesmo poderia, até ele, até nós, o povo! “Será que a revolução ainda é a solução? Eles já não
Povo, essa hidra de milhões de dedos que, por tonta Aquela amiga da minha mãe de vez em quando
lêem Marx, esses ateus, graças a Deus!”
conta dos medos, relega-se à revolução dessa visitava a gente. Ela morava na zona rural, acho que
imprópria submissão de ir apertar botão a cada 2 anos. numa “colônia”. Sim, é assim que eles dizem. Uma *
chácara, uma pequena fazenda ou algo do tipo. Então,
* certa vez a tal senhora veio pra cidade adoentada pra Vou já lhe contar um público segredo, e não dos
se tratar, e trouxe o filho junto. Quer dizer, um dos pequenos: não existe homem feio, você que tem
Ser simplesmente podre de rico, hmm, a podridão dinheiro de menos...
filhos dela, eu acho. Devia ter outros, não sei.
dessa solidão não é pro meu bico, essa carniça não me
nutre, pois eu não sou abutre! Vão lá e bom proveito, O que eu sei é que aquele garoto era muito, muito feio. *
urruuuuuuu!, cambada de faminto urubu! Gente idiota Tá bom, mais feio foi o que eu fiz com ele, mas isso
Quem tem boca vaia Roma.
é assim mesmo: quanto mais rica, pior fica! não muda o fato de que ele era extremamente feio. Era
magro demais, tinha os dentes da frente meio podres. *
*
Imagina só: em porteira arrombada, entrou um boi,
entra uma boiada... Se você quer passar bem no vestibular, eis o conselho
Para suas duas perplexas retinas nuas aqui vão
que eu dou: vá ler pra valer!
algumas das minhas mais desconexas frases cruas!
Ok, essa foi de muito mau-gosto. Mas ele tinha mesmo
esses dentes aqui de cima, esses dois bem da frente, ó, *
*
parcialmente corroídos de cárie. Eu sei que é um Pele de rosto não se diz cútis?!
Até quando precisaremos fazer esta mesma pergunta detalhe nojento, mas eu menciono isso porque na
íntima: “quem será a próxima vítima?”? época foi uma das (muitas) coisas que mais me *
impressionaram, negativamente, naquele rapaz. Eu
* “Com esse ditirambo ele está é gozando de ti,
ligava pra essas coisas, e muito!, naquele tempo.
Rambo!”
“Escravos dos impróprios fantasmas, levantai, cativos Ainda ligo, mas não da mesma maneira preconceituosa
da terra e nativos da guerra, tendes um mundo a e debochada de quando eu era menina. *
ganhar e um destino a arreganhar! Por que se
Se não me mente a mente, a primeira coisa que eu Recado do governo às vít..., ops, aos contribuintes:
envergonhar?”
pensei quando aquela criatura apareceu pela primeira “Imposto não se discute!”
* vez na minha frente e sorriu aquele seu sorrisinho
rápido, tímido e esburacado foi: “vixe, taí um menino *
Um sacerdote involuntariamente honesto, ao começar com quem eu nunca namoraria, nem morta!” Foi
a cerimônia com um relapso lapso: “Neste bom dia, “Sei por que tolos ficam irritados assim comigo:
antipatia à primeira vista. Agora eu sei, foi preconceito
irmãos, que aqui estamos e em que a presença do deus porque não sou só mais um robozinho teleguiado nem
à primeira vista. E foi bem irrazoável da minha parte:
se faz tão presentes entre nós, quero deste altar agora movido a controle-remorso como eu era antes.”
o coitadim não tinha culpa. Mas quem disse que o
descer e um a um ir lhes agradecer.” preconceito é racional? Que nada, ele é é irracional. *
* Quando eles vinham de visita, eu ficava logo A razão é uma afiadíssima espada: todo olhar teórico
emburrada. Minha mãe não entendia o que é que dava tende a recortar e retalhar tudo que vê, para fins de
Educação, para muitos é apenas repetição e imitação. em mim. Uma vez ela até me chamou a atenção bem compreensão analítica. É preciso fazer um enorme
Mas “e-ducare”, conduzir para fora, não é conduzir sério. Quase-quase me bate! Foi por pouco. Mas ainda esforço de fechar provisoriamente os olhos da razão,
para fora apenas o que lá dentro das mentes fora bem que não foi na frente daqueles estranhos: teria essa foice colheitadeira de fatos, mesmo mantendo-os
arbitrariamente introduzido para ser digerido e sido o fim da picada! bem abertos, para se poder enxergar as coisas
posteriormente regurgivomitado. Educação é incentivo globalmente, juntando os feixes recortados e colhidos,
à produção, à criação de conteúdo próprio e sua A minha antipatia por aquele sujeitim começou a se recosidas num tecido sintético mais claro e revelador.
exteriorização para fora a partir da imaginação pessoal tornar raiva aguda e, logo em seguida, ódio puro. Ah, Aqueles que só analisam, só conhecem do real meros
dos educandos. André, se você me perguntar por que eu o odiava, já fiapos puídos, fragmentos, pedaços de palha soltos do
sabe, né? Eu não vou saber explicar. Nem mesmo na tecido total. Toda verdade analítica, portanto, é parcial,
* época eu não saberia dizer. Eu normalmente era uma limitada e transitória: eis o fato continuamente
É a hora da ida. moça compreensiva e simpática com as pessoas, muita constituinte, instituinte, destituinte e restituinte da
gente até me elogiava: “olha que mocinha meiga e ciência humana como história.
Levas contigo a minha vida! educada!” Mas com aquele garoto eu não conseguia.
Se bem que eu nem tentava, pra falar a verdade. Era *
Deixas aqui uma bela ferida,
como se ele tivesse sido escolhido como o meu saco-
de-pancadas particular. Já que eu vivia tendo que fazer “Aquela garota adolescente adquiriu um sabor recente
Uma fera caída,
o papel da menina bem-comportada e boazinha pra que eu passei a achar muito aborrecente. Ela sempre
No peito atingida, todo mundo, uma hora eu tinha que encontrar alguém vinha cá a cear: sem recear, mandei-a ir passear.”
em quem descontar a agressividade aprisionada. *
Sem apelo ou saída.
Não vou esconder nada de você, eu confesso: eu era, “O hábito é que faz o monge, e o seu hálito é que faz
Como dói uma partida
sim, uma filha única mimada criada por uma mãe eu longe.”
Quando não tem sequer despedida! supercoruja. Ela tinha perdido o marido, coitadinha.
Ela só tinha eu. Nada mais natural, então, que ela se *
* dedicar a me dar “tudo do bom e do melhor”, como ela
Favor não confundir mamadeira-de-leite com a mãe
“Passei, avistei, ajuntei esta dor lá do chão, contraí um dizia. Eu era a princesinha dela e isso, portanto, fazia
obter na madeira-de-lei deleite.
amor de plantão, inda pior que o maior horror de dela a minha rainha! Ela vivia dizendo que tudo que
Platão: pois tem coisa que reluz e é latão. Aff, fiquei ela mais queria era que eu estudasse “pra ser alguém”, *
foi com outro pedaço de ouro de tolo na mão!” pra não depender de marido. “Porque marido é bicho
traiçoeiro, minha filha, quando você mais precisa, ó, Espaço publicitário: “Dirceu Nucco, urologista
* ele vai embora, ou morre. E aí?” E ela tava era especialista em vasectomia.”
certíssima. Nem sei como é que eu fui tão besta a
“Tá tão frio o meu gelo, mas não vejo apelo. Inútil *
ponto de querer me casar, e logo com aquele sujeito...
minha pele e o pelo, porque tá tão frio ainda este gelo!
“Vamos processar a Aplica Sons, pois fomos lesados
Nem vejo a hora do degelo deste tão cruel enregelo, Então-se. Minha mãe e a tal amiga dela ficavam
por suas toscas aplicações!”
pra começar então outro zelo, longe distante bastante conversando durante horas. Conversa de adulto, sabe
deste atroz e cruel desmazelo.” como é, né? Entediante bastante pra quem é jovem. Eu *
ficava sentada numa poltrona, fingindo ler alguma
* Criei a palavra “intelegante” ao acordar no dia dezoito
bobagem qualquer, só pra passar o tempo: a gente não
tinha TV. De vez em quando mamãe me lançava uma de julho de 1999.
O problema de muitos economistas é sempre insistir
demais na mesma temática: o cálculo racionalista olhadela daquelas de atravessar até paredes. Eu *
linear redutor. procurava me controlar, juro que procurava! Fazia um
Quem nasce na Tasmânia é... tasmaníaco?!
* esforço imenso, mas não tinha jeito: mais cedo ou *
mais tarde, quase sempre mais cedo que tarde, vinha o
Arquipélago é um conjunto de ilhas. Uma cidade é um fatídico e tão temido Bocejo! Ação e consequência!, Filosofia de papagaio: “Ignoro; logo, repito.”
conjunto de ilhas. Logo, uma cidade é um arquipélago. porque aí mamãe decretava: “Vai brincar com o
As ilhas de que a cidade é composta são as pessoas *
Fulano lá no quintal, minha filha, vai.”
solitárias que nela habitam. Voluntariamente solitárias. Neste mundo, como amar o inimigo se até amar o
A solidão faz parte do pacto tácito que forma e Era tudo que eu não queria, droga!, que minha mãe amigo já nos dá um trabalhão terrível do tipo quase
deforma a imprópria cidade. pedisse pra eu ir “brincar com o Fulano lá no quintal”. praticamente impossível?
Mas parece que exatamente por eu não querer era o
A cidade é um deus. Um deus faminto, e assaz voraz, que sempre acontecia. O destino sempre tinha mais *
aliás. Um deus criado e continuamente realimentado uma maneira de me chatear escondida lá na manga
pelas solidões voluntárias de nobres, medíocres e A falta de vergonha nacara e mascara uma cara sonsa
dele. O que é que eu tinha feito pra merecer aquilo,
párias. E também, amém, pelos sacrifícios e nefastos pintada de cínico egoísmo! E aí é a cara-de-palco, mas
Jesus? E eu nem podia demonstrar o que eu sentia:
holocaustos rituais da liturgia urbana de cada dia, e muita cara-de-palco mesmo, como ali em Frasília!
pois eu tinha uma imagem de menina boazinha a zelar.
mais ainda sob o acoite da noite, musa sublime da Sim, cara-de-palco é comum em Frasília, é acessório
E certamente não seria aquela lamentável criatura que
lesma do crime. Ninguém sabe ao certo quem será a trampolítico essencial, parte integrante e bastante
iria me fazer estragar a reputação que eu tinha levado
próxima vítima, pode ser um estranho ou alguém de importante das muitas ferramentiras do poder.
catorze longos anos para alcançar. Era bem capaz
nossa convivência íntima. Oh, Deus meu, a vítima mesmo, hem! *
pode até ser eu! O certo é que alguém sempre tem que
morrer ou sofrer, alguém sempre some para aplacar Você viu só, André? Fulano! Até hoje eu só consigo Às vezes, eu fazia frenéticas anotações, numa galvã e
desse deus a insaciável fome. chamá-lo de Fulano. Nunca soube o nome dele. Nunca desesperada tentativa de não deixar nenhum de meus
me interessei. Aliás, pelo contrário. Você sabe: eu fiz pensamentos selvagens vazar e escapar para o absolu-
A cidade é um enxame de toupeiras. A toca de cada questão de não saber o nome dele jamais. E a sorte me tamente nem-nada irresgatável do esquecimento. Era
toupeira é a sua imprópria solidão pseudo-egoística. sorriu, porque parece que ele não era lá o preferido da como se cada uma de minhas ideias fosse vitalmente
Digo pseudo porque o verdadeiro egoísmo é se mãe dele, não, pois ela nunca o chamou pelo nome valiosa para a garantia de sobrevivência e permanência
importar com o bem de alguém e não subviver como próprio. Ela sempre o tratava assim: “meu filho”. do meu universo próprio.
se os outros não existissem. Quando alguém é Invariavelmente. “Tá na hora, meu filho, vamos.” Era
devorado pelo deus-cidade ou machucado pelas sempre assim. Melhor pra mim, era perfeito, porque aí *
tragédias gratuitas do precário contexto urbano, é cada eu não descobria o nome daquilo (é, eu costumava
um e tolos que são atingidos, mesmo os mais fingidos, Espaço publicitário de inutilidade pública: “E atenção,
chamá-lo, de mim pra mim mesma, assim: “aquilo”).
pois todos são membros uns dos outros, tolos estão, atenção: chegaram os novos absorventes íntimos
estamos!, num mesmo navio, todos somos parte de um E aquilo ficava sentado num canto do quintal, calado. Drackula. Porque só eles sugam com gigrande charme
mesmo arquipélago, todos somos células do corpo Sempre calado. Digo “sempre” porque teve um tempo e total elegância!”
desse deus monstruoso. Se o deus adoece, é todo o em que aquela pobre senhora estava doente com muita
*
corpo urbano que sofre, e cada uma das células se freqüência e vinha à cidade, ficando hospedada na
contamina nessa dor. Cada órgão, cada tecido dessa nossa casa. Mamãe gostava muito dela. Elas eram Quando alguém por conta própria mata, estupra,
fera está ligado a todos os outros, é tudo um conjunto. super-amigas. Eu também gostava dela, ela me parecia seqüestra, isso é universalmente declarado como uma
Um enorme e indecente tumor crescente feito de ser muito gente boa. E sempre me trazia alguma coisa horrível e abjeta aberração criminosa que só merece é
abandonos, impiedades, desprezos, ambições, legal lá da tal “colônia” dela. Eu só não gostava era a mais severa punição, pois resulta de alguma mórbida
orgulhos... daquele filho feioso dela. Algumas vezes até fiquei paixão irrefreável e irreparável. Agora, quando a
pensando se ela não tinha algum filho mais bonito, paixão irracional e agressiva explode num linchamento
Por mais que todos e cada um representem a absurda e algum rapaz gatinho digno de umas boas paqueradas, ou numa curra, ah, aí não é mais crime: é “justiça”!
muda ficção de "não estar nem aí", a verdade é que hmm, quem sabe até uns pegas legais, e tal. Mas só Estranhíssima, sem dúvida, essa tal justiça que se
estão aqui, sim, pelo menos enquanto a cidade, para se aquele coiso mesmo é que vinha com ela, droga! estupra a si mesma, hem?
exaltar, não lhes exige como oferenda horrenda em seu
altar. E é precisamente por isso, pelo fato de tanta E ele ficava lá sentado e calado. Eu achava até que ele *
gente tonta fingir que não faz parte do arquipélago das tinha era medo de mim. Quando me olhava, o que
solidões voluntárias, mesmo fazendo, que o deus é tão felizmente era raro, ele me olhava de um jeito! De um “Ela preferiu confundir minha solidariedade com uma
voraz e tão faminto e tão onipotente assim para engolir jeito que nem sei dizer bem como. Chega me dava tentativa de suborno morno. Não demorou nada,
vidas e mais idas todo dia, tola noite. arrepios! É, eu o achava muito estranho. Talvez eu é deixei-a, pois descobri nela uma desagradável vocação
que tinha medo dele... Logo-logo eu decidi que ele para atriz: é que ela já andava fazendo cena demais
Nesse arquipélago de solidões que é uma cidade, estar simplesmente não girava bem, que lhe faltava algum comigo!”
sozinho é a tradição comum, é a vocação íntima mais parafuso. Ah, como eu adorava colocar defeitos
legítima dos cidadãos. Tanto que se pode estar sozinho *
mentalmente nele. Como se o coitado já não tivesse
até mesmo quando acompanhado. E, aliás, estar defeitos mais que suficientes sem a minha generosa “Como é que uma notícia vaza?”
sozinho acompanhado, sobretudo quando BEM contribuição!
acompanhado, é o pior e mais triste tipo de solidão que “Hmm, pelo furo jornalístico, talvez?”
existe. É tormento cruel, é pura tortura! Deus vos livre, Mas era até bom que ele ficasse lá na dele mesmo,
*
pois, da solidão a dois! sentado num canto, calado. Assim a gente não tinha
que “brincar”. Aff, que a mamãe às vezes tinha umas Eu sou o galvândalo das idéias: adoro melhorizar
Ah, mas o deus não vos livra disso, não. Não neste que pareciam duas, poxa! É claro, óbvio e evidente algumas frases marotas e não hesito em piorizar
arquipélago de humanidades drasticamente diminuídas que não brincávamos juntos, dá licença. Eu fingia que outras. Mas, por que vós assim exacerbais minhas
e plasticamente restringidas. Aqui, o deus mesmo é não o via, fazia de conta que ele não estava ali. galvilanias verbais?
quem vos captura e aprisiona na gaiola dourada Começava a cantarolar ou então ronronava alguma
(dourada só às vezes, e adorada nem sempre). Lógico, música. De vez em quando, eu olhava com o rabo do *
já que sois o seu elemento alimento preferido. A vossa olho, pra ver se ele estava prestando atenção em mim.
liberdade só começa onde e quando o poder desse deus A liberdade humana é uma ilha de perplexidade
E algumas vezes eu suspeitei até que ele também
social termina. cercada de possibilidades alternativas por todos os
fingia que eu não estava ali. Será que isso conta como
lados, inclusive o de dentro.
O poder destruidor desse deus insaciável vem brincadeira? Se contar, então deve ser a brincadeira
exatamente dessa renúncia coletiva voluntária a aceitar mais triste e sem-graça que existe! *
a convivência com os outros, aceitar os outros como o Ah, esqueci de dizer uma coisa: por algum insólito, A informática mundial tem mais possibilidades de
destino inexorável e inescapável de todos e cada um. obscuro e insondável motivo, quando aquele pessoal cópia do que ainda nem sonha na fronha a
Dividir para conquistar, é claro. Dividir e conquistar o estava de visita na nossa casa, ou hospedados com a vampirataria...
apoio de alguns, seduzir uma elite para formar a partir gente, eu punha as minhas melhores roupas e me
dela o sistema digestório do deus guloso. É por isso arrumava da melhor maneira que eu sabia, o que já *
que algumas das pessoilhas do arquipélago estão naquela época não era pouca coisa. Naturalmente, eu
absolutamente convencidas de que ganham, e muito!, Coletivo de pilha: pilhéria. Coletivo de vale: Valéria.
ficava deslumbrantemente linda! Mas linda pra quê? Coletivo de missa: miséria...
com a miséria da existência humana tal como ela é. Linda pra quem? Sei lá! Acho que só simplesmente
Ora, de que outra maneira o deus sobreviveria se não linda, ora essa! Eu gostava de estar linda pra... É, linda *
convocasse sacerdotes para promover o seu culto? pra mim mesma. Afinal, já confessei mesmo que eu
“E aí, você já se deformou na sua degraduação
E os conflitos que os sacerdotes cleptocrápulas do era muito egoísta. Quando a gente ainda não tem pra
superior?”
deus-cidade criam e recriam fornecem a este uma quem se vestir bem, a gente se veste pra si mesma, né?
vantagem adicional: emulam a formação de grupos “Mas claro, se já estou é até amestrado!”
Pra encurtar essa missa, digo apenas que uma vez foi
transitórios de combate para se enfrentarem na guerra ele mesmo, aquele menino feio, que ficou doente. A *
social crônica. Vantagem porque na camaradagem mãe dele até veio, mas teve que voltar, parece que
passageira os militantes de cada grupo se sentem, tinha muito trabalho lá na roça. Mamãe já era Corno Omo: todo dia ele descobre um indício novo de
durante alguns momentos, ilusoriamente menos praticamente como uma madrinha do garoto e logo se que a esposa o trai, mas sempre de novo lhe “dá o
solitários, menos abandonados, menos sozinhos. E o prontificou a cuidar dele. branco total radiante”...
estar em conflito, atacar alguém, humilhar outro ser Eu não gostei nada-nada disso, claro. Principalmente *
humano, pisar, explorar, oprimir, enganar, passar a porque a mamãe instalou o coiso logo no meu quarto,
pernas nos outros, tudo isso excita o cidadão que era o melhor da casa, o mais fresquinho, que fazia Corno radar: usa os chifres para tentar detectar a
irrelevante com um incerto senso de alívio, como se ao menos calor! E eu tive que me mudar para o quarto de posição exata do seu Ricardo Pedipano, esse comborço
infligir dor e sofrimento a outrem as próprias misérias hóspedes, o pior, o mais quente: que ódio, que raiva! E bom moço sergipano.
sérias fossem canceladas, anuladas, vingadas, pensar que ele ia dormir na minha cama, no meu *
compensadas. Ou seja, o deus-cidade é um engenheiro colchão, se cobrir com os meus lençois, sentir o meu
que fez bem o dever de casa e sabe, portanto, o valor cheiro! Pior ainda: ele ia deixar o cheiro dele nas Mesmo atrás dos jogos de palavras mais inocentes
das válvulas de escape da pressão: não queremos que a minhas coisas, que ódio!! podem se esconder perigostosas serpentes repentes
caldeira social exploda antes de o banquete estar ardentes.
inteiramente cozido, bem fervido e já servido! Ainda pensei em pedir à mamãe pra, pelo menos,
trocar o meu colchão, trazer as minhas coisas pro outro *
* quarto, até porque a doença do coiso podia ser
A realidade apresenta a desagradável propriedade de
contagiosa, sabe lá! Mas eu não podia fazer isso, por
Lipo em vocês, já aos dezesseis!? Mas não tem com frequência contrariar a nossa vontade.
causa da minha reputação de boazinha, de menina
precessisão nem a menor necedade de cirurgia estética santinha. Então tive que improvisar: antes de o coiso *
nessa idade, isso é só vaidade! chegar do hospital, onde ficaria internado uns dois ou
três dias, arranjei com a mamãe pra eu mesma arrumar Eu não acredito no Diabo porque ele é o pai da
*
os dois quartos. Assim eu podia trocar o colchão e os mentira. Por que acreditar num mentiroso?
A necessidade é a mãe de muitas necedades que são lençois sem que ela percebesse. Eu faria isso enquanto
*
cometidas nessas cidades. ela ia buscar o bicho no hospital. O que eu não queria
era que aquele coiso velho se envolvesse nas minhas Espaço publiciotário: “João Riustão e João Vaine
*
propriedades mais íntimas e deixasse nelas a coisidade apresentam: No Templo das Negligências!”
Ninguém nem percebia, mas enquanto a gente inagia, nojenta lá dele, isso não, nunca! Já bastava que ele ia
usar o meu banheiro e depois eu ia ter que lavar bem e *
uma traiçoeira magia subterroneamente agia e o
mundo burocrescia em complexidade opressora e desinfetar tudo! Sobreviver é viver sobre o quê?
vazia.
Pois é, pra você ver o quanto eu era preconceituosa! *
*
Deu tudo certo como eu planejei. Mas não pude ficar “A verdade é a minha profissão de fé.”
Oração do burocrápula: “Cargo osso nosso de cada nem um pouco feliz, porque de qualquer maneira
dia, venha a nós o teu treino, prevaleça a vontade aquele menino chato, insuportável e desagradável “Grandes coisa! Pois saiba a fé é que é a minha
imacia da burocracia, assim na merda como no fel, ainda ia ficar na nossa casa um tempão, uma profissão de verdade.”
atenuai nossas dúvidas e dívidas assim como nós eternidade! Lá pela segunda semana do meu tormento,
*
oprimimos aqueles de quem nós temos dependido, não mamãe fez uma sopa e, por algum pretexto, teve que
nos deixeis cair na tentação de resolver tolo o mal, sair às pressas. Pediu pra eu levar a sopa pro coiso lá Cristo é incrível! E é por isso que eu não acredito
pois dele nos advém todo o poder, o lucro, a glória e o na cama dele, quer dizer, na minha cama! Era só o que naquelas velhas estórias de pescadores de pecadores.
salário para sempre, amém! E que o absurdo seja e se faltava mesmo: eu, Flávia Estela, ter que servir um
manteja com tolos vocês também!” estranho no meu próprio quarto, na minha própria *
cama, levando comidinha pra ele!
* A mídia jornalística televisiva dojendia é muito
Foi nesse dia, André, que a minha ideia de vingança invasiva e mistifica a realidade dos fatos para logo em
A burocracia não resolve problemas: multiplica-os e começou. Transtornada de ódio por aquele menino, eu seguida ir chafurdar e afundar nos fatos da realidade.
administra-os! É um manhoso tipo de “manejo jurei que ia me vingar dele, de algum jeito. Enquanto
sustentável” de problemas sintéticos. *
levava a comida pra ele, pensava em mil modos de me
* vingar. Pensei até em colocar veneno naquela sopa, “Vejo agora um casal de máquinas conversando
mas logo afastei da mente essa loucura, porque seria animada e apaixonadamente num café, aliás, nas
Ah, quer saber de uma coisa? Cansei dessas frases perverso demais e também porque provavelmente empoeiradas ruínas do que há milênios fora uma
avulsas! Quero agora contar uma história também. espécie de café aéreo. Dialogam banalidades apenas,
sobraria pra mim. Iam descobrir e aí... Melhor nem
Hmm, já sei: vou fazer aqui uma nova versão de Alice como o fariam um homem e uma mulher quaisquer:
pensar! E, na verdade, eu não queria que o coiso foram programados para isso, afinal. E a intervalos
e o Espelho, uma paródia ou sátira do livro do Lewis morresse, não, eu queria era que ele sofresse muito, e rigorosamente pré-estabelecidos, apagam de suas
Carrol. Que tal “Alice Fora do Espelho” como título? se ele morresse, como iria sofrer, né? memórias mecatrônicas todo o conteúdo das suas
Tá bom? Ok, então vamos lá: conversações recentes, de maneira a poupar espaço de
Assim cogitando essas maldades, bati na porta e entrei armazenamento para novas informações. Assim, na
Uma menina está na frente de um espelho, olhando-se, no quarto, meu quarto!, depois de demorar bastante falta de seres humanos com quem interagir, de acordo
apreciando sua bela figura, quando: pra que a sopa esfriasse, é claro. Subitamente, uma com seus projetos e finalidades originais, conversam
ideia bem maligna brilhou aqui dentro. O coiso estava entre si. Cada robô naturalmente, ou melhor,
Ei, você!
dormindo. Acordei ele. Falei que a mamãe tinha artificialmente “acha” que está dialogando com um ser
Eu?! humano, utilizando para tal uma personalidade
pedido pra eu trazer uma sopa pra ele, que só estava
randomizada a partir de um vasto repertório embutido
era meio fria porque eu tinha vindo antes e como ele pelos seus fabricantes. E esses dois mecanismos
Sim, você mesma que está aí olhando dentro desse
estava dormindo, não quis incomodar e voltei. continuarão a tagarelar e flertar até suas baterias se
espelho. Qual o seu nome?
esgotarem ou até algum cataclismo destruir um deles
Enquanto eu ia falando, ele, sentado na minha cama, ou ambos. Seria muito interessante acompanhar alguns
Alice.
comentou que a sopa estava boa. Quando eu falei que desses diálogos surreais. Qualquer oportunidade
O que você está fazendo? eu mesma tinha feito, ele disse: destas, faremos isso.”

Olhando dentro deste espelho, como acabaste de dizer, “Hmm, tá uma delícia! Você cozinha muito bem, *
dã! Vitinha. Muito obrigado. E desculpa pelo incômodo.”
Olha só como é agora a conversa de um comuna
Um truque emotivo ou uma mentira sem motivo? Na enrustido: “As injustiças crescendo, na embriaguez do
Como é que você sabe que está olhando dentro e não
sucesso balançando, dançando e de goleada vencendo.
fora do espelho? hora, nem soube direito porque inventei de dizer que
A raça ruim das toupeiras bípedes, cada vez mais
eu mesma preparara aquela sopa. Mas o contraste na degenerada, ardendo na fagueira fogueira da dignidade
Ora, porque eu estou fora dele, ué! Ou não? voz dele, no entusiasmo com que ele elogiou como incinerada. O mundo dia a dia mais imundo, poluído,
“deliciosa” o que poucos segundos antes era apenas sujo e destruído. O ser humano em avançado processo
E se você estiver dentro desse espelho olhando para
“boa”, isso me fez sorrir de mim só para mim mesma. de decomposição por excesso de acesso ao papelão do
fora dele?
Eu acabava de descobrir a maneira sórdida como eu cego sucesso! Falando nisso, até seus deuses de papel
Hmm, eu nunca tinha pensado antes... me vingaria do “coiso”. abandonam-nos tolos à míngua, e isso em bem mais de
uma língua: que íngua! Dominando, prevalecendo, seu
É exatamente isso que causa muitos problemas neste Retruquei: “Não é incômodo nenhum! É bom ajudar poder crescendo como ninguém pressentira: eis o
mundo. quem precisa.” mistério do império da verdaderradeira mentira. Os
comércios mesquinhos vendendo almas baratas ao
Ei, eu estava hesitando! Eu queria dizer que nunca “É incômodo, sim: porque você não gosta de mim...” servício e benefício de ninguém. As prostituições se
tornando virtude medonha, e a honestidade ao mesmo
tinha pensado nisso assim antes.
Fiz cara de espanto, espantada mesmo era com o meu tempo virando vergonha... Por êxito pessoal, negocial
Eu sei: estava só lhe provocando. Mas, e se você cinismo: “Quem disse que eu não gosto de você?!” e social, fazer-se oco, vazio e hiperficial é o supremo
mandamento do decapitalismo comercial, uau!”
estiver dentro do espelho e não fora?
“Você quase nunca fala comigo, mal olha na minha
*
Aí o meu verdadeiro nome seria Ecila!? cara e quando olha é de um jeito esquisito, torto...”
Um tolo e sua grana divorciam-se em menos de meia
Oh, mas que idéia incrível! É, bem que pode ser, pode Aproveitei artisticamente a oportunidade: “Por causa semana. É a mais crucial aposta nupcial!
ser mesmo. Afinal, num espelho as palavras ficam ao da mamãe... Você sabe como ela é, né? Eu ainda não
contrário, né? posso nem paquerar, muito menos namorar...” *
Então eu deveria ser canhota, certo? Peraí, vou já Existe uma incerta arte bem feminina de manipular Durlimpaq: todo um imenso planeta bem aqui na ponta
pegar uma caneta e tentar escrever algo com a mão sentimentos alheios. E tem uma idade em que certas da minha caneta. Vultos alados cortando os seus céus
esquerda. Só um minutinho. Pronto. Vixe, olha só que moças são mestras absolutas nessa arte. Eu era uma em rápidos e possantes rasantes passantes. A fumaça
de mil prédios em chamas. O terror no olhar dos que
feio! Eu definitivamente não sou canhota, viu? Logo, delas: “Eu gosto muito de você, mas nunca tinha era a
vão morrer nas mãos de seus impróprios escravos. A
não estou dentro do espelho: quê-é-dê. Hmm, isso se oportunidade de dizer... E eu também sou muito felicidádiva dos jovens noivos bailando nos céus dessa
esta for a minha mão esquerda... Já nem sei direito... tímida...” juventude que se sente alegre e displicente. O martelo
pesado do ódio esmagando os opressores alados, após
Que é de o quê? Perplexo e já totalmente confuso, ele gaguejou: “Você milênios de uma resignada submissão dos calados.
g-gosta de mim? Sério?” “Voa, gordinho! Voa, gordão! Queremos ver você tirar
Hã?
esse corpo obeso do chão!” A vingança é um vinho
Uma vez que eu tinha decidido, era preciso ir até as amargo e dos mais viciantes, como acho que
Não, nada, deixa pra lá. últimas consequências: me aproximei devagar e beijei outralguém até isso vos já disse antes...
E tem outra coisa: se eu estivesse dentro do espelho, suavemente no rosto dele, sussurrando: “Gosto muito,
muito!” *
quando eu quisesse sair do meu quarto pela porta eu
teria que caminhar para o lado oposto, certo? De amarelo que estava, por causa da doença, ele corou Vindo rindo, elas sempre continuam indo e vindo:
teteias ideias invadem-me a mente, mas todo o tempo,
Hmm, eu acho que sim... Não sei... Teria? e ficou bem vermelho num instante.
somente. E saídas nem sei de onde em sucessivas e
“Você é o mais bonito da sua família, sabia?” vagas ondas hediondas. Não as quero ou paquero, não
Sim, eu teria. É assim que funciona: tudo invertido. as aceito, repudio-as e a ninguém as receito, expulso-
“Você conhece os meus irmãos?” as pra longe do peito, mas elas sempre voltam,
Invertido, não: é tudo especulação. disfarçadas, as fadas safadas. Elas ainda serão o meu
Uma mentira a mais, outra a menos... Disse: “Sim, eu fim mais ruim, aposto que sim! Estou condenado como
Então não importa, né?
conheço todos eles, mas você é o mais bonito. Quando um cão danado. Não posso fugir: estão aqui dentro a
Hã? Não importa o lado da porta? rugir novas ameaças de, inesperadamente, novamente
a gente crescer mais e a mamãe deixar eu namorar...”
tornar a surgir. São ideias minhas, essas devorazes
Não completei a frase insinuante, só pra deixar a formigas daninhas? Eu que as tenho ou são elas que
Nada, nada. Esquece.
imaginação dele funcionar a mil. Até também pra me têm, hem? Crio-as ou sou por elas criado e
Olha, você está dentro de algo, verdade? depois ele não poder me acusar de ter prometido nada. procriado como um assim pequenino macaco menino
malcriado? Pelas amargas chagas do Cristo, o que será
Mas também estou fora de algo! Eu acho... E pra que ele pudesse já-já refletir bem em tudo poderá significar tudo isto? Pensamentos absurdos e
aquilo, falei: “Agora eu tenho que ir: mamãe já tá pra mudos me assaltam a calma da alma. Palavras
Você está na frente de um espelho e... chegar, e você sabe como ela é. Depois eu pego o esquisitas, neologismos insólitos, muitas malditas
prato, tá?” E saí, deixando o coração do coiso em imagineidades inauditas! A fantasia de uma masmorra
Hmm, será que estou na frente mesmo? Mas, se eu sombria e vazia, ungida no óleo duvidoso da poesia...
erupção. Esse estava no papo: se não estava
estiver dentro do espelho, então este lado aqui não é Homens a voar felizes e livres no ar? Não, isso não
apaixonado ainda, agora ia ficar, com certeza! Aí, ia
pra ser o lado de trás dele, não? Quer-me crer que sim, pode continuar! Dessa pura loucura eu preciso sarar,
ver só com quantos paus se faz uma canoa, pra isso tem que parar! Esses flashes desconexos me
hem.
aprender a nunca mais roubar o espaço de ninguém! torturam, sinto-me rasgado em muitos tremendos
Hmm, pode ser. Tudo bem: você está perto de um pedaços remendos que se descosturam na teimosia
Daí em diante, dá pra imaginar, né? Enquanto aquele dessas imagens que ebulem aqui no centro de dentro
espelho, tá bom, assim?
garoto esteve na nossa casa, eu fiz o diabo e o quiabo numa verve que descontroladamente me ferve. Não
Tá ótimo! Dessa vez você foi bem espertinho mesmo. pra deixar ele cada vez mais louco por mim, só pra teria mentido quem a isso negasse sentido. E por que
depois dar um fora bem aplicado nele quando ele eu? No mundo será que não existe outro recipiente
Você está perto do espelho e parece olhar dentro dele. viesse se declarar pra mim. Mas na maior parte do mais eficiente para esse destino tão triste?
Na sua fr... Ops, diante de você há uma outra você. tempo eu continuei a ignorá-lo, ou fingir que o Tento não pensar mais nisso, procuro ser só um mortal
Claro, a minha imagem! Sou tão lindinha, não sou, ignorava, fazendo parecer que era discrição pra mamãe normal: tudo em vão, crasso fracasso total! Tais idéias
hem? Mas é lógico que eu sou! não perceber nada. De vez em quando, porém, eu continuam me visitando, ainda que indesejadas, convi-
colocava as minhas ferinas unhas felinas de fora. Por
Maravilhosa, pra ser mais exato. Só que, se você exemplo, oferecia-me pra ir levar a comida dele, ou dadas nunca a vir visitar esta espelunca oca à beça, que
estiver dentro do espelho, você é que é a imagem e não então, quando mamãe tinha saído, eu ia ao quarto dele é a minha louca cabeça. E que visitas mais esquisitas!
ela. E aí, pra ser mais preciso ainda, ela é que é um sem pretexto, conversava um pouquinho com ele, É meio quase como se eu estivesse infectado por uns
país de maravilhas, não você... pegava rapidamente na mão dele ou lhe dava um beijo estranhíssimos alienígenas. Chego bem perto de senti-
no rosto. los corroendo roendo as entranhas do meu espírito
Tá querendo insinuar que eu não sou real, é? Que eu impávido, tornando-me grávido de um sério mistério
sou só imaginária? A paixão fez o menino se animar e se recuperar mais ávido e estéril. Quando menos espero, nos momentos
rápido da doença. Pouco mais de um mês depois de ter de maior desaviso, dou-me conta de estar registrando
Não, não é isso. A imagem no espelho é real, mas... chegado, pronto, ele já estava totalmente curado. por escrito cada delírio do tipo mais indescrito. Não
Epa, tá errado! O meu professor de física me disse que Chegou, portanto, o dia de ele ir embora. Procurei não sei, não vejo no que vai dar, mas pressinto que bem
a imagem no espelho não é real e sim virtual. demonstrar, mas eu fiquei extremamente feliz: ia me isso não há de acabar...
livrar da repulsiva presença daquele coiso, finalmente!
Não é disso que estamos falando. *
Fiquei matutando lá com os meus botões: eu devia dar
Não!? Então do que é, hem? uma oportunidade pra ele se declarar antes de partir? Uma das maiores e melhores sabedorias deste nosso
Não, decidi que era melhor não. Queria que a paixão universo consiste em nos manter bem longe de outros
Eu queria dizer que... locais de ocorrência de vida inteligente: já causamos
dele durasse bastante tempo, que ele fosse lá pra
muitos problemas e destruição em nosso próprio
Queria, era? Então por que não disse? Você não é livre colônia pensando em mim, que passasse o tempo todo
planeta. O universo está a salvo de nossa fúria
pra fazer o que quiser, não? sonhando comigo, alimentando a ilusão de que um dia daninha! Por enquanto... Até agora, podemos no
me teria em seus braços magrelos e fininhos lá dele. máximo apenas contemplar os céus e, como Rodes,
O que eu quero dizer, e digo, é que você pode estar sonhar com a anexação das estrelas, embora eu prefira
dentro do espelho, ser imagem e ser real ao mesmo Pra encurtar mais ainda a história, vou dizer que uns simplesmente apreciar a sublime beleza dos astros que
tempo. seis meses se passaram. Nesse intervalo, ele veio umas brilham lá em cima, inacessíveis e protegidos de nossa
vezes com a mãe dele em visita à nossa casa. Eu, destrutividade gratuita. Se e enquanto nós não
Falar em tempo, que horas são no seu relógio? porém, sempre arranjava um pretexto pra não me aprendermos a conviver com nós mesmos em nosso
encontrar frente-a-frente com ele, pra não dar chance a próprio planeta, jamais seremos capazes de ir, com
Vinte e uma horas em ponto. engenho e arte, muito mais além, digamos, do planeta
ele de vir falar comigo. Era infalível quando eu dizia
Marte. Ainda bem, hem!
Então aqui seriam zero hora e doze minutos, se eu pra mamãe que tinha muita tarefa do colégio pra fazer.
estivesse dentro do espelho. Deixa eu ver no meu *
Mas tudo tem que acabar um dia, não tem? E além do
celular. Aaaaaaaaaaaaaaai! São mesmo!!
mais, eu já estava ficando quase louca de curiosidade Em tolas as guerras e massacres, a terra é alimentada
Arrá! Viu só? Eu não disse? Você está dentro do pra ver a cara que o coiso ia fazer quando eu dissesse com uma indigesta dieta de frutos verdes... Incontáveis
espelho, e não fora! que não, infelizmente não poderia namorar com ele, vidas inocentes já foram ceifadas antes de amadurecer,
não. Assim, resolvi terminar logo com aquilo, liquidar sementes de males crescentes plantadas no solo fértil
E agora!? Como é que eu vou sair? da loucura inumana! Gritos incessantes preenchem
o assunto, por um ponto final naquela tortura. Eu já me
meu espírito, gritos vindos do passado, clamando por
Hmm, do mesmo jeito que entrou, talvez? sentia quase saciada de vingança, por saber que ele justiça, implorando punição para aqueles que os
estava apaixonado por mim, que seus pensamentos colheram de maneira tão brutalmente precoce,
Mas e se eu não souber como entrei? eram todos dirigidos à minha pessoa, que ele pensava cassando-lhes violentamente o direito de viver, errar e
que realmente tinha uma chance amorosa comigo, aprender, de ser feliz, amar, criar e nos surpreender. O
Você não sabe? planeta está cansado de tanto ser forçado a devorar
quando na verdade não era nada disso, pois eu nunca
inocentes mutilados na flor da idade: o mundo geme
Não! E quer parar de responder as minhas perguntas tive nem teria jamais a menor intenção de ter qualquer
sob o peso de tão enormes e hediondas injustiças e
com outras perguntas, quer? relação afetiva com ele. E eu queria que ele soubesse, desatinos. Oh, tantos brotos tenros arrancados de seus
sem a menor sombra de dúvida, que eu estive esse galhos, espoliados da seiva que os faria crescer e
Mas por quê? tempo todo apenas brincando com os sentimentos dele. florescer! Tantos frutos bons suprimidos antes mesmo
Eu queria era humilhar ele bem. Para isso, preparei al- de amadurecer! A guerra é um elefante correndo louca
Ai, pára! Que coisa chata!
Oquei, oquei, fique calma! go, uma frase bem cruel, malvada e fatal pra dizer mente em meio a uma frágil lavoura que acabou de
quando ele se declarasse. brotar...
Como é que eu posso ficar calma depois de descobrir
que estou dentro de um espelho? Agora, quando eu Hmm, mas será que ele ia ter coragem de se declarar? *
quiser subir uma escada eu vou ter é que descê-la, Era preciso que ele mesmo tomasse a iniciativa, é
senão não vai funcionar. E se estiver apressada, pior óbvio. Vivemos num mundo construído sobre guerras,
saques, massacres, traições, explorações, escravidões,
ainda: vou ter que levar uma queda lá de cima! Não é a perversidade, inclemência, demência... Agora, ora, a
mesma coisa que cair num buraco de coelho, mas não Minha mãe era crente evangélica da Congregação
guerra habita nossas almas e corrói nossa consistência
é mesmo, hem! E na hora de ler, então: vou ter de Cristã, e daquelas bem fanáticas: por isso que a gente
interna mais humana. Somos como, hmm... O que
colocar tudo de cabeça pra baixo. Ai, que chato! Você não tinha nem TV em casa, aliás. A gente ia aos cultos somos, na verdade? Alguém é capaz de dizer? Não
tinha que me dizer a verdade, tinha? Por que não ficou numa igreja pequena perto da nossa casa. Meu pai somos como animais, obviamente, pois animais não
com a boca fechada? Eu estava muito bem sem saber tinha sido pastor naquela igreja. Depois que ele fazem com seus ambientes o que fazemos com este
morreu, um irmão dele, o Tio Palmiro, assumiu o lugar planeta que subjugamos e tanto sujamos. Não somos
que vivia dentro de um espelho, muitíssimo obrigada!
como pastor. Éramos muito amigas da família do titio. meras coisas. Somos, talvez, algo de diverso e pior que
Hmm, tive uma ideia! Tem outro espelho por aí? Quando terminava os cultos, mamãe costumava ficar animais, coisas ou mesmo monstros. Somos algo de
incógnito e indefinível. E o somos por nossas próprias
conversando um tempão com a Tia Darlene. E eu ia
Tem sim, dentro do meu armário, ali, ó. Não, é do e impróprias ações. E por nossas omissões também. O
brincar com a Zilminha; já com a Simônica eu não que dizemos nos compromete, o nosso silêncio nos
outro lado! Vixe, já estou confundindo tudo! Aqui o gostava de brincar, não: ela já era grandona, bem alta e condena, e a nossa presença nos executa e eletroculpa
lado direito é o lado esquerdo e versa-vice. Será que eu eu tinha era medo dela, por causa daquela cicatriz de com fúria intensa. Em nome da razão e da liberdade e
vou me acostumar com isso? Antes era tão simples: a queimadura enorme e horrível que ela tinha na metade do bom-senso e da modernidade e do amor e da paz,
ignorância é uma bênção mesmo, gente. do rosto. Eu ficava arrepiada só de pensar que eu aliás, construímos o decapitalismo, mercantilizando e
também podia sofrer uma queimadura daquelas: ui, mercenarizando tudo aquilo que encontrávamos pelo
Pega uma cadeira, coloca em frente do espelho... caminho. Tornamo-nos instrumentos passivos da
que medo, Deus me livrasse!
circulação de valores abstratos, ferramentas da espiral
Em frente ou atrás? Decida-se! crescente e indefinita de lucros em favor de ninguém.
Pois bem, um dia, um domingo nublado e sem-graça,
Quem realmente ganha com tolo este nem-nada que
Coloca perto do espelho, uns dois metros de distância; teve o culto como sempre, depois mamãe foi ajudar a hoje somos? Qual a real diferença entre as misérias
depois, pega o outro espelho, apoia na cadeira, de Tia Darlene a costurar umas roupas. Zilminha estava aqui da base da sociedade e as misérias lá do topo da
maneira que um fique alinhado com o outro. meio doente e foi logo dormir. Fiquei sozinha sem ter saciedade?
o que fazer. O coiso e a mãe dele tinham vindo à
E daí? O que você tem em mente? *
cidade e participaram do culto. A mãe dele estava lá
Pensamentos, sentimentos, emoções e... junto com a minha e mais a Tia Darlene, conversando Saciedade é uma sociedade composta só de sacis.
e costurando. E ele, o coiso, ficou dentro da igreja
Pára! Eu estou falando séria! vazia, lendo a bíblia dele. Pensei que aquela era a *
ocasião ideal.
Se diz “falando sério”, e não séria. Tentar ser bom, hoje, é como cultivar flores no
Entrei na igreja e disse olá ao coiso, depois subi por pântano: os miasmas infectos sufocam-nas e as
Ué, o gênero também muda aqui no mundo-espelho? contaminam, até que elas murchem e morram sem
uma escada até um palco elevado que tinha por trás do
Isso quer dizer que eu agora sou um menino, e não frutificar. Mas, persistir nessa inglória jardinagem
púlpito onde o Tio Palmiro pregava. Lá tinha uma rede pode levar, talvez, ao saneamento do pântano, por
mais uma menina?! Hmm, fecha os olhos que eu
pendurada numa parede, que às vezes alguém usava mais lento que o processo possa ser, e no lugar da
preciso verificar aqui uma coisa. Não olha, hem! Ufa,
para descansar. Armei a rede, sentei-me e comecei a podridão inóspita um terreno fértil pode surgir. Mas
ainda bem que eu ainda sou uma menina! O que
me embalar, ora devagar, ora bem forte. Dali dava pra não é tão fácil assim converter um pântano em jardim.
significa que você está errado de novo, e eu falo é
eu ver o coiso lá sentado num comprido banco de
séria, e não sério, tá? *
madeira. Percebi que ele não virava a página da bíblia
Oquei, como você quiser, isso não é uma aula de que supostamente estava lendo: ele agora estava só Se a cabeleira é o telhado das ideias, então quem tem
gramática mesmo. Vamos, faz o que eu disse. fingindo ler. Devia estar tentando criar coragem para cabelo louro tem o pensamento folheado a ouro?
Mas o que você tem em mente? E fale sério, viu? vir falar comigo. *

Eu tenho uma teoria: se você colocar um espelho Cantarolei um hino que eu gostava muito, chamado Escrever poesia não enche ou preenche barriga vazia?
diante do outro, formar-se-ão várias imagens e... “Deus de Visões”. E o coiso não vinha: que troço mais Hmm, isso “ça-depã” da freguesia...
tímido! Decidi ser drástica e apelar: assobiei pra ele e
Formar o quê? fiz um gesto com a mão pra ele vir até onde eu estava. *

Se-ão. Ele colocou a bíblia no banco, levantou-se e veio. Escravos do medo, enfiai-vos o dedo! Garganta
Quando ele se aproximou, falei: “Vamos conversar, abaixo, enfiai-vos, diacho! Deixai esse medo indômito
Nossa, nunca vi ninguém falando assim: cheira até a irmãozinho? Não tenho nada pra fazer. E aí, gostou do sair junto com o vômito!
naftalina e mofo essa sua expressão! culto?”
*
Vão se formar várias imagens. Aí, se você ficar de pé Em pé perto de mim, porque ali não tinha onde sentar
Ana Buana quer ranjar um véi chei da grana, e diz que
entre os dois espelhos, talvez possa caminhar de dentro além daquela rede onde eu me embalava, ele disse, : vem moça pra cá pra bem de com força atacar tolo o
do espelho pra fora. “Sim, o culto hoje foi muito bom. E você estava ótima imoço tipo no seu miolo do bolso rico...
quando cantou aquele hino.”
Será que vai funcionar? Hmm, mas de dentro de qual *
dos dois espelhos eu devo sair? E se eu sair de um e “Estava mesmo, era? Eu ensaiei muito mais a minha
entrar no outro? Vai dar no mesmo, né? Que confusão! prima Zilminha! Ela está meio doente, foi dormir. Eu Ai daquele, ó sem medida a triste aposta perdida, cuja
sensibilidade de seu coração já se trancou para as
atrapalhei a sua leitura? O que você estava lendo,
Não custa nada experimentar. sublimes excelências desta vida! Pois esta vida é a
irmão?” nossa única chance, não há nem jamais haverá outra:
Tá bom, vou confiar: afinal, você que é o adulto de nós desprezá-la é jogar-se a si impróprio no prolixo lixo da
“Nada, só uns salmos. Também estou sem nada pra
duas. existência e angariar-se o eterno inverno do desprezo
fazer enquanto espero a minha mãe. Será que ela vai inferno.
De nós dois: eu sou homem. demorar?”
*
De nós duas pessoas, espertinho! Pronto, já est... Aff! “Não sei, ó. Hmm, você parece meio estranho, meio
nervoso...” A sabedoria é uma montanha íngreme e de enorme
O que foi!? altitude: subi-la exige coragem e atitude, por isso nem
“Eu sou assim mesmo, sou meio tímido...” tolos a conseguem escalar até o gume do cume, uma
O que foram! Tem um monte de eus aqui na minha gigrande verdade aqui assim se resume. Muitos, aliás,
frente, e atrás de mim tem muitas mins também! Já “Mas não precisa ser tímido comigo, pode falar o que nem tentam sequer e morrem errando ao sopé...
nem sei mais qual delas eu sou: virei infinitas! Como quiser, pelo menos quando a mamãe não estiver por
*
se ser uma só já não me desse trabalho bastante! perto, porque você sabe como ela é.”
Tolos os sábios, conforme nos dizem dos sagrados
Hmm, você nunca tinha colocado um espelho assim “Eu queria mesmo dizer algo...”
segredos ambos os lábios, mais cedo ou mais tarde
perto de outro, não? costumam se cortar no gume do cume da imprópria
“Pois diga!”
sabedoria.
Já, mas... Eu não lembrava mais como era. Dá até
“Eu... Não sei se você já percebeu, mas eu... Eu estou
tontura na minha cabeça! Ainda mais que com uma *
gostando muito de você e... Você namoraria comigo,
infinidade de imagens minhas assim, fica difícil até de
Vitinha?” Dizer que existe vida após a morte é um erro terrível:
eu saber qual delas sou a verdadeira eu. E não ria, faz com que esta vida, a única certa, seja desprezada e
hem, que agora é sério! Ai, finalmente!! Fiquei em silêncio durante vários maltratada. O além-túmulo é uma aposta no escuro,
minutos, só pra deixar ele na ânsia da expectativa. Por necessariamente perdida antes mesmo de os dados
É sério ou é séria? Decida-se! Rá, rá, rá, rá, rá! serem lançados. E os sacerdotes são precisamente
fim, falei:
esses burocrápulas especializados em não viver nem
Eu falei pra você não rir! Não tem nem graça, tá?
“Olha, irmão, você sabe que a mamãe ainda não deixa deixar os outros usufruírem esta vida na sua plenitude
Tá bom, desculpa. eu namorar. Por isso, eu não posso namorar com você, mais sublime, quase como se ser feliz fosse um crime!
Que é que eu faço? e além disso, eu gosto de outra pessoa. Você me *
entende, né?”
Faz assim: fecha os olhos e caminha rumo ao espelho, Adquirir sabedoria é como escalar sozinho uma
pra tentar sair. Hmm, que droga! Não era isso que eu esperava, essa montanha alta e perigosa sem instrumentos, só com as
cara chocha: parece até que ele já esperava que eu mãos e a coragem. Você se machuca, corre riscos
Tá. Cruza aí os dedos por mim. Lá vou eu. Pronto! E enormes, às vezes cai de volta ao sopé e tem que subir
dissesse o que acabara de dizer!
aí, o que aconteceu? Ainda estou no mesmo lugar que tudo de novo. E à medida que você vai ascendendo, o
estava antes! Ele balbuciou baixinho: “Eu entendo... Desculpe lhe frio da solidão vai aumentando. Solidão porque
pouquíssimos são os que ousam empreender uma tal
incomodar.”
Hã? Você não viu? escalada.
Após mais um longo de instante de silêncio, com *
Eu fechei os olhos. malignidade e frieza na voz, completei: “Está
Fechou os olhos?! Mas como é que você fecha ao dispensado, irmão.” Tolas as religiões têm se esforçado no sentido de
despir a alma humana de sua túnica única, que é esta
caminhar rumo ao desconhecido, hem, menina? “Hã!? O que foi que você disse pra ele!?”, perguntou o vida. Fazem-nos perseguir ilusões, quimeras e
Ah, se eu não sabia mesmo aonde estava indo, então André nesse exato ponto da narrativa, quase gritando. panacéias absurdas, tornando nossas vidas um vulcão
Confirmei que eu dissera ao garoto que ele estava de sérias misérias em constante erupção. E nossas
tanto fazia estar de olhos abertos ou fechados! Preferi
dispensado, quer dizer, que ele já podia ir, pois eu almas, assim, ficam nuas, expostas ao frio do
fechar pra não ter que... Hmm, nem sei por que fechei aniquilamento inferno, vulneráveis ao império do mal.
os olhos! Mas vamos, me diz o que aconteceu, o que queria ficar sozinha. André parecia transtornado!
O mundo é, então, transformado num inferno de
você viu? Ou fechou os olhos também? Fiquei assustada, tentando deduzir o motivo dessa gigrandes proporções, palco de desesmeros e
súbita transformação dele, porque até então ele desesperos, violências, destruição, corrupção e
Não, eu não fechei. O que aconteceu, conforme eu vi simplesmente ouvira a minha história calado, com um confusão.
daqui, foi simplesmente que você caminhou para rosto inexpressivo no qual não dava pra eu ler
dentro do espelho que estava na sua frente e logo em *
praticamente nada, nem interesse nem indiferença.
seguida saiu pelo outro, atrás de onde você estava. A alma humana, quando despida da força de sua
Estranho, foi meio como se os dois espelhos fossem o “Preciso lhe dizer uma coisa muito importante. Mas
mágica túnica única, a vida, torna-se frágil e covarde,
mesmo. Eu vi você entrando em um e, ao mesmo primeiro quero que você me responda uma pergunta, medrosa, disposta a aceitar e implorar por coisas
tempo, saindo atrás de si mesma no mesmo lugar! Flávia.” mesquinhas e efêmeras, contentando-se com ilusões
voláteis, desviando-se da tarefa de realizar o próprio
Nossa, deve ter sido muito estranho mesmo: queria era “Que pergunta? Diga!” trabalho de escalar a montanha da sabedoria para
ter visto isso! alcançar, lá em cima no gume do cume, a fonte das
“Você acredita em destino?” águas vivas, o manancial da juventude e da felicidade,
Hmm, acho que ainda está em tempo de você ver: essa bênção arrebatadora que é a verdade libertadora.
“Destino? Hmm, sabe que eu nem sei? Você quer
talvez se caminhar de costas rumo a um espelho, agora dizer tipo que a vida da gente já está predeterminada *
com os olhos abertos, aí você vai se ver saindo do antes mesmo de nascermos, que tudo que vai acontecer
outro espelho ao entrar num deles. Não custa nada com a gente já foi predestinado?” Um coração sem sensibilidade para as coisas boas
tentar, né? desta vida é como... Como o quê mesmo? É difícil até
“Isso mesmo. Você acredita nisso?” imaginar. Deixe-me ver: é como comida sem tempero,
É, talvez não custe, não. Acho que vou fazer isso... chuva sem água, praia sem areia, sorvete sem gelo,
“Pra ser sincera, não sei mesmo. Às vezes eu penso festa sem alegria, namoro sem amor, luva sem mão,
Faz, vamos, seja corajosa! O que pode dar errado? que sim, outras vezes penso que não. Por exemplo, eu amizade sem mútua dedicação, unha sem dedo, música
pensava que eu e o Paulo estávamos predestinados a sem ouvidos para a ouvir... Um coração incapaz de
Não sei, não... Do jeito que estou azarada estes últimos amar é uma aberração de enormes proporções
dias, muita coisa pode dar errado, inclusive o espelho ficar juntos. Eu o amava loucamente, completamente,
minúsculas, uma monstruosidade hedionda e
quebrar! Já pensou? Hmm, melhor nem pensar... sem medidas, sem pensar em mais nada, sem ligar para mesquinha indefinida entre o tosco e o patético. Uma
as consequências, sem medo de um dia ter que me alma que não sabe encontrar seu caminho rumo ao
Então não pensemos nisso. separar dele. Mas aí ele decidiu assumir que não gosta jardim da felicidádiva de conviver é algo nem digno de
pena, uma pobre coisa infeliz.
É melhor mesmo. Pois... Hã, que barulho foi esse? de mulher e sim de homem, e me largou. Foi uma *
Deixa eu ver. Veio dali, tenho certeza. Eu acho que é escolha livre dele, ele podia muito bem ter resolvido
um... Um rato, um rato, um rato!!! Aaaaaaaaiiiiiiiiiii! ficar comigo, mas não quis, eu era toda dele por Enquanto a Sherazade faz o Ali babar, Frasília de
inteiro, entreguei-me sem reservas, era só ele me Dirceu acoita na moita seus quarenta aliviadrões...
TLINC! PLINC! aproveitar. Portanto, acho agora que ele não estava *
Oh, oh! Você trincou os dois espelhos com o seu grito predestinado pra mim, não... Mas, por que você me
gasguito, Alice! perguntou isso, André?” A oração é o papel-higiênico da alma.

Xi, foi mesmo! E agora?! “E se eu lhe disser que eu conheço esse garoto que *
você contou que desprezou por vingança?”
E agora faz na mão e joga fora... “E aquele teu namorado demorado, como vai?”
“Hã?! Você conhece ele!? Onde ele está? Eu gostaria
“Ah, vai de mala a pior...”
Eu tô falando séria! muito de poder falar com ele, pra me desculpar, aliás,
pra pedir perdão pela maldade que fiz com ele. *
Desculpa, desculpa. Eu às vezes não consigo controlar
Vamos, me diz: você sabe onde ele está agora?”
essa minha gaiatice inconveniente... Cuidado, hem, pessoal: tubarão que nada em águas
“A resposta está aqui nesta minha mochila. Só um norte-americanas logo vira charque.
Você precisa é ir se consultar com um doutor
momento, deixa eu procurar. Ah, taqui! Olha, examine *
psicanador, pra ele ver os problemas aí da sua mente.
bem.”
Psicanador? Um encanador de vazamentes dementes? Fábrica de horror, moinho da loucura, banquete de
André tirou um vidro de remédios e me entregou. Tanatos, a guerra é o penúltimo deus da Terra, um
Hã?! Estranhei muito esse gesto inesperado e indaguei: “O deus que se recusa obstinadamente a morrer e ser, para
que é isso? Não estou entendendo...” o nosso alívio, corroído pelo inexorável ácido do
Não, nada, nada. oblívio. E o pior maior, aliás, é que a morte não
“Examine com atenção que você vai entender.” vomita jamais: o que ela come, ah, para sempre some
Sim, e agora, o que a gente vai fazer? Qualquer coisa, no inferno do esquecimento sem-nome!
um movimento em falso e esses espelhos quebram. “Hmm... Peraí, acho que estou lembrando... Sim, sim!
Esse era o remédio que o meu pai tomava! Ele era *
Sem falar que, olha só, estou toda trincada também,
está tudo rachando neste mundo-espelho. E se eu me cardíaco. Onde você conseguiu isso!? O que significa Sucção bucal recíproca, intercâmbio bilateral de
quebrar todinha em pedaços, como é que vou me isto, André?!” saliva, convenção dos 64, mordaça dupla mútua, duelo
juntar de novo depois pra montar? Nunca fui boa em de lábios grudados, invasão mútua consentida, drinque
“Eu achei esse vidro de pílulas há muitos anos atrás de cuspes misturados, interconexão imediata de
quebra-cabeças, sabe? Já posso até imaginar: vou
dentro de uma caixa cor-de-rosa que estava guardada primeiro grau, interrupção da comunicação verbal, etc.
colocar um dedo do pé na minha mão, um pedaço do
num guarda-roupa, bem escondida debaixo de umas Mas em vez de “beijo”, ainda prefiro dizer “abraço de
braço na coxa, o nariz no umbigo, um olhos nas costas,
roupas de menina...” dois florrisos”.
vixe: vai ficar tudo torto, vou ficar que nem a Princesa
Feiona! E tudo por causa daquele rato desgraçado: “Ei, eu tinha uma caixinha cor-de-rosa assim no meu *
como eu detesto ratos! guarda-roupa quando eu era menina... Epa, peraí! Não
“Atenção: frágeis estalactites arriba. Favor evitar
acredito! Não posso acreditar, não pode ser! Aquele levitar: vossas próprias cabeças agradecem. Vede
Eu também não sou muito fã de ratos, não. Mas
garoto, aquele coiso era... Era você!??” ainda que, daqueles analfabetos que não leram este
também não precisava gritar daquele jeito, precisava?
cartaz, lágrimas de sangue agora descem assaz...”
*
Mas ele usou o elemento-surpresa, e eu ainda não
*
tinha chegado até esse elemento químico na Tabela Transtornada, os olhos bem arregalados, Flávia Estela
Periódica, não! A professora tá atrasada com a gente. olhava pra mim, depois para o vidrinho que segurava Caramarrada Fidel então nos massacrou durante horas
com força numa mão, depois olhava pra mim e horas com um verdadeiro inderradeiro pelotão de
O elemento-surpresa, na Tabela Periódica?! frasilamento de longo curso chamado seu discurso!
novamente. Ela não conseguia dizer mais nada.
Ih, falei besteira, num foi? Quando tentei me aproximar dela, ela me olhou com *
um súbito pavor e correu pra longe de mim. Parou a
Foi. alguns metros de distância, deixou-se cair lentamente Na música de meu ser predominam as notas desta
tristeza profunda de não poder amar ainda o amor de
Vamos fingir que ninguém viu, ninguém escutou, tá? de joelhos no chão, apertando o vidro entre as duas alguém linda.
Disfarça, disfarça! mãos. Ela tinha o olhar visivelmente perturbado,
alucinado, como se estivesse prestes a enlouquecer. *
Tá bom, eu não conto pra ninguém, será o nosso Lágrimas abundantes começaram a escorrer de seus
Os burocrápulas estão chegando: agora, todos os
segredo. olhos. Eu não imaginava que aquilo iria causar vossos problemas serão ressofridos!
tamanho impacto nela, e não entendia direito porque
Obrigada. E vocês todas, bico fechado também, hem! *
ela ficara tão perturbada daquele jeito.
A partir de agora temos que agir com muito cuidado, É cada coisa que o papel aguenta sob rubrica de
Uma vaga suspeita começou a aparecer no fundo da
porque se esses dois espelhos se quebrarem, as literatura que, francamente, às vezes nem a lixeira
minha mente. Fui me aproximando devagarinho do
consequências podem ser imprevisíveis! atura: “A verdadeira herdeira derradeira da ligeira
lugar onde a moça estava arriada no chão, soluçando
poeira fuleira está passeando de coleira e fazendo
É, eu posso ficar pra sempre presa aqui fora, quer amargamente. Notei, então, que ela agora fitava zoeira que nem pulga que se pluga atrás da olheira.”
dizer, aqui dentro, ah, sei lá! Só sei é que, fora ou obsessivamente algo ali perto: sua bolsa. Como um
dentro, eu não quero ficar presa! Gosto muito da relâmpago, veio-me a gélida certeza do que ela iria *
minha liberdade, se não se importam. E se eu mesma fazer em seguida: nem sequer pensei, corri logo no
A ciência não destrói a beleza das coisas cuja verdade
tiver que montar os meus pedaços, ah, a confusão linda rumo daquela bolsa, ao mesmo tempo em que ela se desvela. Pelo contrário, a verdade ilumina belezas que
vai ser bem maior ainda! levantava e corria na mesma direção. Ela estava mais de outro modo talvez nunca enxergaríamos. Por
perto, mas consegui chegar lá junto com ela. exemplo, se a existência me parece cada vez mais
A primeira coisa a fazer é consertar essas rachaduras. Agarramos a sua bolsa simultaneamente. Puxei-a sublime é justamente porque nela eu vejo cada vez
violentamente. Consegui arrancar a bolsa das mãos menos vestígios de algum criador ou designer original
Mas como? do tipo “Deus”. As coisas e os seres vivos evoluem por
dela, mas a mesma se abriu e seu conteúdo se espalhou
si mesmos, por seus próprios esforços e méritos. E aí é
Não sei. no chão, incluindo o alvo de sua desesperada cobiça:
que está a beleza maior e melhor do que há.
uma pequena pistola automática.
Será que com cola serve? *
Ela se atirou velozmente ao chão pra tentar agarrar a
Depende do tipo de cola. pistola. Saltei atrás dela. Dessa vez fui mais rápido: Ah, a Margana é praticamente um anagrama de “amar
peguei a arma antes. Ela se lançou sobre mim e se pôs grana”!
Eu tenho uma cola plástica que eu uso muito nas aulas
de Artes... a me arranhar com as unhas, gritando como uma *
possessa pra eu lhe dar a arma. Num esforço
Hmm, acho que essa não serve, não. concentrado, joguei-a no chão com um empurrão e, ao Num incerto porre de tristeza, fiquei bêbado de
me ver momentaneamente solto, aproveitei para lançar solidão, empanzinado até a goela com o abandono, a
Fita adesiva, então! fragrância amarga e cinzenta da bela ausência dela
bem longe a pistola. Flávia se levantou, soltou um
assombrando os aqui pigmeus estes pensamentos meus
Também não. Tem cola-rápida por aí? grito terrível e correu para tentar pegar a arma. Vendo
em meros fragmentos de pigmentos seus...
que ela estava desvairada a ponto de pular do prédio
Tipo “super-bonde”? atrás daquela famigerada pistola, corri atrás dela, *
agarrei-a, derrubei-a no chão e a imobilizei com o peso
Sim. Tem? Como criar, a partir do destino da minha vida, esta
do meu corpo sobre o dela.
taça meio cheia ou vazia, uma verdadeira poesia?
Tem, sim. Só que tá lá embaixo, na geladeira.
“Deixa eu morrer, deixa eu morrer! Eu quero morrer, *
Vai buscar, então. eu quero morrer! Me deixa, me solta, eu preciso
morrer! Eu matei o meu pai! Deixa eu morrer, deixa Foi ouvir a Besteologia da Hibernação, saiu ferrado
Mas é que... eu me matar! Vamos, me solta, me soltaaaaaaaa!!” pela tosca mosca da doença-do-sono dogmático.
É que o quê? Hã?! Como é que é!? Matou o pai?! Por que ela estaria *
dizendo isso? Eu pensava que ela estava apenas muito
Eu preferia evitar a fadiga de ter que subir aquela envergonhada pelo que tinha feito comigo. Mas não! Para que servem as asas de uma galinha, se ela não
escada pra poder descê-la. Este mundo-espelho é uma voa? Se você fosse uma galinha e experimentasse
Era outra coisa totalmente diferente. Que história seria correr de asas abertas e esticadas, provavelmente
bela canseira, sabia? Se ao menos eu pudesse enviar essa de “matei meu pai”? descobriria, rapidamente, que...? Sim, abrir as asas
uma dessas eus aí no meu lugar. Mas elas são tão
(quando se tem asas, é claro!) facilita um pouco a
medrosas e tímidas: quanto eu tento me aproximar elas A comoção foi tanta que ela, por fim, desmaiou em corrida, pois a passagem do ar pelas asas cria um
fogem de mim! Sem falar que vivem imitando o que meus braços. Parecia algo tão frágil e sem vida agora. efeito aerodinâmico que diminui o peso total da
eu faço, que saco! Olha, olha, eu não estou dizendo, aí Como era possível que um ser tão vulnerável pudesse galinha, ainda que o efeito seja débil demais para
estão elas que não me deixam mentir. Será que elas causar tanta dor em outro alguém? Era estranho permitir um voo alto e contínuo. Além disso, qual o
não tem coisa melhor pra fazer, não? Xô, suas Alices segurar o corpo mole dela assim. E logo eu, que tantas criador ou criadora de galinhas que nunca teve de
de araque! Só eu que sou de verdade, e não aceito vezes desejara tê-la em meus braços! Mas não assim, cortar as asas de alguma delas para que não pulasse a
droga da cerca do vizinho chato?! Logo, das asas não
imitações, viram? não assim! E que circunstâncias, hem! Tive uma
servem as penas só para voar apenas.
vontade violenta de gritar aos sete céus: “E então,
Elas são só imagens. vocês estão se divertindo muito aí em cima com a *
Isso não é desculpa, não! Elas precisam honrar a desgraça da gente, estão?! Estão satisfeitos agora,
Se a ignorância fosse uma mina, os sacerdotes seriam
minha reputação, essas bobas! Aposto até que foi hem, hem!? As apostas estão altas, estão? A
os mineiros. E olha só, seu Zé: acontece que é!
porque tolas elas gritaram junto comigo que os brincadeira está gostosa, está?!”
espelhos trincaram assim, aposto! Eu nunca rachei *
Peguei a Flávia Estela nos braços e levei-a até a
nada com meus gritos antes, nada. Não sou nenhuma sombra das caixas-d’água. Sentei-me num canto com A atitude dos seres humanos com relação à verdade
soprano de ópera, né? ela no colo, totalmente alheio ao tempo. Uma vaga tem evoluído, desde a ignorância quase total dos
Agora não adianta chorar mingau derramado. Temos ardência passeava em meu rosto, e no resto, vinda dos tempos pré-históricos e antigos até o desprezo
arranhões que ela me fez em seu delírio suicida. generalizado de hoje, passando pelo amor grego de
que consertar o estrago, antes que ele se torne maior
alguns, pelo ódio medieval perseguitivo e, é óbvio,
ainda. Fui buscar uma de minhas mochilas e coloquei-a sob a pela violação implacável no século XX. Little Boy e
cabeça da moça como travesseiro. Sentei ao lado dela Big Fat estupraram a verdade humana de maneira
Tá bom, tá bom, eu vou subir lá embaixo. Tudo eu,
e fiquei especulando sobre aquele sério mistério. Por indelével e irreversível. E depois do estupro
tudo eu! naturalmente vem o desdém, o desprezo cínico...
que ela pensou que tinha morto o próprio pai ao ver
* aquele vidrinho de remédios? Hmm, será que ela *
realmente o matou mesmo? Mas como, se ela era
CONTINUA... O negócio daquele sujeito sem-jeito, o Mané Buchim,
apenas uma menina quando ele morreu? Devia ser só
como ele mesmo dizia em sua obscena ingrisia, era
mais alguma maluquice histérica e sem pé nem cabeça
“rastar nos tocos o nu aos poucos a grãos de milhos até
lá da mente dela, só podia! inteirar mil quilos”.
A não ser que... Hmm, lembro-me que certa vez ela *
começou a me contar algo que lhe teria acontecido
quando tinha apenas nove anos. Só que ela Nosso pior e maior pecado é nos deixar dominar pelo
mercado, cada um toupeira em sua toca, ligados quase
interrompeu a história logo no começo e não me
apenas pelos laços da troca. E depois que vendemos
contou mais nada. Disse que era tudo ruim demais só até a alma, nem adianta ir tentar revolução: o
de lembrar, que não gostava nem de pensar naquilo. decapitalismo não aceita devolução!
Fiquei sem saber o que era que lhe tinha acontecido. E
se...? Mas será que...?! Possível, ah, possível é, claro *
que é. Nunca conheci o pai dela, mas eu sei que tem “Não consegui anotar o número da placa tectônica que
pais que fazem isso, sim, até com as filhas... me atropelou!”, reclamava a pobre tartaruga avariada.
A Flávia Estela tinha, sim, seus defeitos, mas nunca *
pensei que ela pudesse ser vingativa... Mas, sabendo
agora o que ela fez com aquele garoto, quer dizer, Fragmento das “Aventiras de Ali Cacimbad, o
Aliviadrão do Deserto”: “Numa de minhas muitas
comigo, hmm, dá quase pra pensar que ela seria, sim, aventiras árabes, para escapar de um grande perigo no
capaz de... Ah, não! É muita paranóia, André! A deserto, sobre o qual lhes contarei depois, precisei
Flávia não matou ninguém, isso é coisa da fantasia ficar horas enterrado dentro da areia chupando o ar
dela, alguma obscura imaginação edipiana. através de um canudo. Só que aí, de repentemente,
vem e me estaciona uma caravana de mercadores e um
* maldito camelo começa a urinar bem em cima do meu
dispositivo respiratório, vê se pode um assim esse
CONTINUA... bode-expiatório! Chega fiquei rijo de tanto beber m...”
*

Antes cedo do que se deixar devorar pelo medo!


*

Antes tarde do que nunca deixar de ser covarde!


*

Mas começar pelo fim já é coisa bem pra lá de ruim!


*

Antes nunca do que voltar a esta funesta espelunca!


*

“Você por acaso viu ou sentiu o Didi e a Réa passando


por aqui?”
“Para felicidade geral do nariz e bem geral da minha
nasal sensação, ainda bem que não!”
*

Conjugação verbal, versão pastoral-evangélica: “Eu


engano, tu acreditas, ele concorda, nós fingimos, vós
contribuís, eles empobrecem, eu peço e enricresço, tu
te iludes e tu concedes, ela te incentiva, nós
dissimulamos, vós ofertais, eles se dizimam, eu
aproveito, tu congregas, ela te acompanha, nós
representamos, vós vos sacrificais, eles também e eu
digo amém: agora cedo vem, dinheiro neném, mas vê
se só vem em nota de cem, viu, meu bem!”
*

Por favor, não confunda “comer o indigerível” com o


meu dirigível!
*
Espaço publicitário: “Pet Shop Bom Pra Cachorro,
onde o cliente sempre tem ração!”
*
Outro espaço publicitário: “Não percam o lançamento
do Moscar, o Oscar do cinema trash!”
*
“Nada se compara à pré-histérica falta de vaidade da
pedra lascada! Ou assim me garantiu um incerto
Neandhertal, e tal...”
*
“Por que a esperança é a última que morre?”
“Porque da peia feia e meia ela é a ligeira covarde
primeira que corre do porre.”
*
Este é o tempo da fugacidade generalizada. Quer dizer,
ainda é, né? Ou será que essa moda também já passou?
*
Favor alguém avisa aí para Sapo & Obra que em papo
de cobra ainda tem espaço de sobra.
*
“Sim, mas o que foi mesmo isso aí na tua pele?”
“Contactos imediactos com cactos de espinheiro grau,
au, au, aaaaaaaaaaaau! Tô mal, tô mal...”
*
“Eu só tenho piolhos pra você, meu bem: vem!”, diz a
irromântica trincheira de guerra ao folgado soldado
estupidamente moldado.
*
Quando soam as moedas prometendo denário, ah,
sempre surge e ruge tumultidão de mercenário na gigrã
devastidão do cenário.
*
Sobre o céu sobe o sol, iluminando por inteiro o rol da
sabedoria e do besteirol.
*
Quando a nossa razão sai de férias, a verdade que
muita gente testa e detesta é esta: a paixão tonta toma
conta da testa e ali apronta uma festa de cínico cariz e
cênico matiz aqui sob a raiz do nariz!
*
“Ah, como eu detesto quando esse vizinho suspeito
incha os peitos e começa a torturar desse jeito sua
tétrica gritarra elétrica!!”
*
É dos já carecas animais que belas elas gostam mais,
daqueles cujas almas se encontram já carecas de tolos
os seus escrúpulos morais primais! E é por isso que
neste mundo imundo os canalhas abundam demais.
*
Tolo mundo normalmente tem um preço, mas quem é
da triste estirpe dos mercenários tem vários.
*
Minha angústia maior não é sobre se estamos ou não
sozinhos no universo, já que bem sei que não estamos,
que a probabilidade de estarmos é extremamente
ínfima, além de muito pequena também. A gigrande
questão é: será que as outras espécies inteligentes são
também tão estúpidas com relação à vida como a nossa
e tão irresponsavelmente displicentes com seus
planetas-lares como nós pateticamente somos?! E eu
nem quero pensar na catastrófica possibilidade de
seres inteligentes mais imbecis ainda que os humanos
deste mundo: seria o fim, o cúmulo do absurdo! Será
que o verdadeiro motivo de não estarmos sendo
visitados por aliens é o triste fato de que tais seres se
autodestroem muito antes de conseguirem desenvolver
tecnologia suficiente para chegar a realizar viagens
intergalácticas?
*

Estou lendo um magnífico ensaio sobre política,


chamado “Os Monstros da Lacuna Voluntária”.
*

Na matemática da internet, muitas vezes o produto


dos emails é igual ao encontro dos estranhos.
*
Dando um fora memorável num trocentésimo chato de
plantão: “Invernos de inferno à parte, até mesmo nem
nunca ainda será cedo demais pra eu começar a gostar
de você, sabia? Era melhor não ter lindo vindo tentar
entrar onde não cabia!”
*
Civilização, teu nome é vício, e teu sobrenome é
desperdício!
*
“Por que a loura nunca toma sopa-de-letrinhas?”
“Hmm, porque ela não sabe soletrar?”
*
“É, naquele ocaso, sim, o produto dos emails foi igual
ao encontro dos estranhos. E aí eles viveram felizes
para sempre. Ou pelo menos até ela ficar grávida de
quadrigêmeos e ele, no mesmo dia do parto, perder o
emprego por injusta causa, como sói acontecer mesmo
nas piores famílias.”
*
O problema do velho titã Prometeu foi que o fatal erro
de entrar na política dos deuses ele cometeu. Pra quem
entra em tal jogo, ah, a conseqüência é fogo!
*
“E então a personagem disse para o seu autor,
enquanto este escrevia a estória daquela no paipel:
para, para com isso: tá me fazendo cócegas a ponta
dessa caneta, seu Zé Maneta!”
*
Recomendação de um tirano sensível, praticamente um
déspota esclarecido: “Por favor, reprimam com todo o
rigor da violência, mas não matem ninguém, hem, a
não ser que sejam absolutamente desnecessários.”
*
Tem coisas bem sagradas que, quando ridicularizadas,
fornecem situações engraçadas...
*
“Os deuses e tola a sua correspondente parafernália
disligiosa servem fundamentalmente para reproduzir a
sociedade estabelecida bem mal e tal como ela é,
engendrando para a mesma um miolo, um núcleo de
instituições rígidas, inflexíveis, inquestionáveis,
divinas, sagradas, imutáveis. E a sociedade, mais que
talvez, por sua imprópria vez, serve para reproduzir os
seres humanos, estes eternos escravos da replicação
dos ‘genes egoístas’. As culturas são, em grande e
fedida medida, apenas a totalidade instituída das
racionalizações e propinas mentais e comportamentais
que os seres humanos se criam e recriam para melhor
suportar a hipertediosa tarefa de copiar e recopiar
indefinidamente os mesmos incertos pedaços de DNA.
Verdade (quase) recém-saída do forno: o sexo não
passa de um morno suborno! Mas só o amor pode pôr
fogo nesse absurdo jogo de palha assada, e o resto é
um gesto indigesto de atroz palhaçada!
Os seres humanos, em geral, detestam mortalmente a
verdade, vendo nela a pior ameaça maior aos seus
interesses como meros escravos da replicação genética
de alguns pequenos pacotes informacionais do tipo
desoxirribonucléicos. Para tentar bloquear a verdade
em suas vidas, lançam em torno de suas teimosas
almas, há muito voluntariamente cegas, várias
camadas de persistente fumaça dogmágica, a fim de
não se verem forçados a reconhecer e aceitar a
realidade dos fatos como eles são, sem ou com eleição.
O medo maior de um ser humano típico é ser obrigado
a encarar de cara limpa esta vida supimpa. Quando os
estupefacientes endoquímicos começam a falhar,
apelam para sucedâneos exoquímicos, naturais e/ou
sintéticos. Dão tudo, até mesmo um reino ou dois, um
braço, uma perna, um gesto e o resto para não ter que
abrir os olhos e ver e enxergar e compreender a
profunda verdade de sua condição. Ser humano é errar,
perverter a missão, no erro emperrar e depois não
querer aprender a lição. Para a quase totalidade dos
símios-bípedes-de-corpo-pelado não há e nem-nunca
poderá haver objetivo mais nobre e supremo que
xerocopiar fragmentos de si mesmos sob a forma de
filhos, para que estes algum tempo depois façam a
mesmíssima coisa. O sentido da ida humana é cada um
ser e permanecer sendo, sempre, uma mera fáquina
motocopiadora de DNA. E a cultura é apenas o
razoavelmente indispensável subproduto das energias
dissipadas e não sexualmente reaproveitadas.”
*
A vida é um forno desligado e morno, sendo o sexo o
seu cujo isqueiro suborno.
*
Depoimento no departamento de queixas: “Mim
tártaro, uga, não anotar número placa tectônica que
atropelar eu em alta velocidade, uga. Placa chispar
logo em fuga depois que atropelar mim tártaro, uga!”
*
“Mim índio, do estresse em fuga no internet também
se pluga, uga!”
*
“E na lanrause da lagoa, nosso debate-papo de sapo
quase acabava era em sopapo e tapa quando de
serpente, ops!, foi mal, gente, quanderrepente chegou e
me flagrou a sogra Dona Sapa: ‘e esse batráquio
vagabundo, eca, fica aí o dia todo só cantando virtual
perereca, mas que meleca!’”
*
“Se você flor generosa com amigo, eu também serei
gentil consigo. Se não, minto muito, mas não
consigo.”
*
Fragmento de sabedoria inútil: “A ferro e fogo, a
siderurgia segue em frente e não tem, dentre os muitos
escolhos que surgem, quem a enfrente, exceto a
ferrugem.”
*

O melhor desta vida vem quando a parte que nos toca


e inflama é a louca boca de quem nos ama!
*

Se o beijo é o banquete supremo do desejo, então o


abraço é o aperitivo ou a sobremesa!?
*

Falar é fácil, ora belas: no prazer do fazer é que estão


as amarelas!
*

“O quê!? O Eric, cleptomaníaco?”


“Sim, pois ele rouba da guitarra até os sons que nem
ela sabia que era capaz de produzir!”
*

Antes um novo novato do que um velho velhaco.


*

Adoro tolas as safadeusas dos prazeres pequenos,


todas menos Vênus!
*

Será que, sob o acoite da noite ou em plena e vadia luz


do dia, alguma vez já usufruí de um crime o deleite?
Pois parece que da polpa da culpa até hoje mastigo o
castigo com creme-de-leite.
***

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