Caminhos Possíveis à Inclusão II: Educação Especial: Novos Prismas
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Caminhos Possíveis à Inclusão II - Vantoir Roberto Brancher
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 do autor
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedicamos esta coleção a Bruna de Assunção Medeiros in memoriam.
Tua partida prematura deixou um vazio imenso. Saudades….
Prefácio
Receber o convite para prefaciar o livro Caminhos possíveis à inclusão II: Educação Especial: novos prismas foi algo que acolhi com enorme alegria e satisfação. Muitos dos autores e autoras que escrevem sobre suas pesquisas ou experiências aqui são colegas com os quais já tive a oportunidade de dialogar em diferentes espaços e sei do compromisso que cada um tem com aquilo que faz e produz. Cabe destacar, também, que somos de uma geração de profissionais da área da Educação Especial que teve uma formação voltada à educação escolarizada de uma categoria específica desses alunos e, ao longo das últimas duas décadas, temos acompanhado as mudanças provocadas pela política de inclusão, tanto no âmbito da formação dos profissionais como nos espaços de atendimento e na atuação profissional junto a esses alunos. O que une a todos nós, portanto, são questões relacionadas à escolarização dos alunos que estão previstos pela Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva de 2008, ou seja, alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Mais especificamente, questões relacionadas à inclusão desses alunos na escola comum, cujos tempos e espaços de aprendizagem não foram pensados para eles.
O movimento pela inclusão que temos não só acompanhado, mas também ajudado a construir, faz parte de uma racionalidade que busca atender não apenas demandas por direitos – que tiveram sua emergência nos anos de 1980, período de redemocratização do País em que se acentuaram a mobilização e lutas de movimentos sociais, entre os quais o movimento político das pessoas com deficiência –, mas também as demandas políticas e econômicas próprias do nosso tempo e na qual o Brasil se insere desde os anos de 1990, qual seja, demandas por sujeitos que estejam inseridos e ativos na economia e no consumo, que sejam participativos, pró-ativos e flexíveis, aptos a mudar sempre que necessário e dispostos a aprender ao longo da vida.
O Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD), promulgado pela ONU em 1981, e as inúmeras ações que foram desenvolvidas para a transformação de paradigmas sociais possibilitaram às pessoas com deficiência saírem do anonimato e, em conjunto, passaram a reivindicar igualdade de oportunidades e garantias de direitos
(BRASIL, 2010, p.34).
Nos anos de 1990, a inclusão escolar dos alunos com deficiência surge a partir do compromisso do Brasil assumido com a Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de uma educação para todos
, provocando mudanças radicais nas escolas para garantir condições de educação para todos e o direito à educação de todos os alunos, incluindo os alunos da Educação Especial, em classe regular da escola comum.
Assim, vemos que a inclusão escolar dessa parcela da população brasileira teve, como condições de emergência, as lutas pela garantia de direitos do movimento político, mas também interesses políticos e econômicos que tem como princípio a participação de todos os sujeitos na sociedade e no desenvolvimento do País. Nesse contexto, as políticas de inclusão escolar e social para a população com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação vem crescendo significativamente nas últimas décadas, constituindo-se em algo bom e necessário para todos.
Assim, de diferentes perspectivas, a inclusão é aqui pensada a partir dessa racionalidade e dos novos prismas que ela apresenta. Os autores e autoras, ao analisarem e problematizarem as políticas e práticas que vêm sendo constituídas e oferecidas na escola, buscam também apontar para caminhos possíveis para uma educação inclusiva que atenda os princípios do acesso, permanência, participação e aprendizagem de todos os alunos.
A publicação desta obra traz mais uma importante contribuição para seguirmos pensando sobre o tema da Educação Especial e da educação inclusiva, motivo pelo qual agradeço e parabenizo os organizadores e autores. Que seus textos possam circular e que sejam produtivos para práticas comprometidas com a qualidade dessa educação.
Profª. Drª. Adriana da Silva Thoma¹
Porto Alegre, maio de 2017.
Referência
BRASIL. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Secretaria dos Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Brasília: Presidência da República. 2010, p. 34.
Apresentação
A obra intitulada Caminhos possíveis à inclusão II: Educação Especial: novos prismas foi produzida no intuito de fomentar debates a respeito de novas interlocuções entre Educação Especial e Inclusão. Sob diferentes enfoques, os autores abordam problemáticas que envolvem os temas em questão, colocando luz sob aspectos bastante particulares, seja no que tange aos níveis de ensino, seja no que tange às condições dos sujeitos, seja no que tange às especificidades institucionais.
No primeiro capítulo, Flexibilização curricular e inclusão escolar no IF Farroupilha: problematizações iniciais
, as autoras Fernanda de Camargo Machado, Priscila Turchiello e Fabiani Lopes Bitencourt, lançam o questionamento: como vêm sendo produzidas práticas de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais especiais no âmbito do IF Farroupilha? com o intuito de compreender como vem se produzindo essa trama na atualidade, diante das amplas discussões em torno da aprovação da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, que culminaram em 2008. Problematizando as ressonâncias das políticas e discursos de inclusão no âmbito do Instituto Federal Farroupilha no que se refere à produção de práticas de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais especiais.
O segundo capítulo, Inclusão escolar de alunos com autismo: o brincar como ferramenta de intervenção pedagógica
, de autoria de Taís Guareschi, Marcia Doralina Alves e Maria Inês Naujorks, empreende uma análise das práticas escolares produzidas para alunos com autismo. Utilizando, para tal, excertos de pareceres pedagógicos e planos de atendimento educacional especializado, elaborados por professoras de Educação Especial para alunos com autismo, incluídos na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental em escolas municipais de Santa Maria-RS.
O terceiro capítulo, intitulado Consumindo o ‘outro’ - Programa Viver sem Limite
, das autoras Mônica Zavacki de Morais e Liane Camatti, analisa como o Programa Viver sem Limite do Ministério da Educação vem convocando as pessoas com deficiência a serem objetos de uma política, visando reabilitá-los no cenário contemporâneo, seja como cidadãos dignos, merecedores de direitos, seja como consumidores. Para essa proposta, as autoras se aproximam da perspectiva pós-estruturalista com inspiração na análise de discurso foucaultiana.
O quarto capítulo, Quando os sujeitos da pesquisa são crianças: reflexões sobre o fazer do pesquisador
, de Clariane do Nascimento de Freitas e Fabiane Adela Tonetto Costas, busca refletir sobre a importância da escolha de uma metodologia adequada aos sujeitos da pesquisa. Adotando como vertente teórica a perspectiva histórico-cultural, em especial os pensamentos de Vygotsky, as autoras relatam a experiência vivida durante a elaboração e aplicação da metodologia utilizada para realizar a coleta de dados de uma pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação de uma instituição no interior do Rio Grande do Sul, a qual investigou as decorrências das interações entre as crianças com e sem deficiência na constituição das crianças sem deficiência como sujeitos.
No quinto capítulo, Os desafios da inclusão de indivíduos com deficiência no Ensino Superior a Distância
, as autoras Andreia Ines Dillenburg e Andréa Forgiarini Cecchin, apresentam ações, desafios e legislações que têm permeado os processos de inclusão no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com a implementação da Resolução 011\2007. Procurando tratar dos desafios encontrados pela coordenação do curso para a inclusão dos estudantes com deficiência e das estratégias adotadas para dar conta desse processo, evitando considerá-los como um número ou um dado estatístico.
No sexto capítulo, intitulado Apoios e dificuldades encontradas por servidores de um instituto federal de educação e suas percepções sobre o movimento institucional em prol da inclusão de estudantes com deficiência
, dos autores Graciela Fagundes Rodrigues, Joíse de Brum Bertazzo e Vantoir Roberto Brancher, traz como proposta identificar e discutir os apoios e as dificuldades encontradas por servidores de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Região Sul em relação ao processo inclusivo, bem como suas percepções sobre o movimento institucional em prol da inclusão de estudantes com deficiência e com necessidades educacionais especiais, em um dos 11 Campi que integram a instituição.
O sétimo capítulo, Inclusão escolar e atendimento educacional especializado: contribuições para o debate sobre a atuação do professor de Educação Especial
, das autoras Ana Paula dos Santos Ferraz, Bruna de Assunção Medeiros e Fabiane Adela Tonetto Costas, traz reflexões acerca do significativo avanço nos discursos que revelam a intenção de garantir uma educação para todos, discutindo a importância e a amplitude que atualmente foi conferida ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) para efetivação da inclusão escolar, por meio das propostas que constam em documentos oficiais que tem como foco esse atendimento.
O oitavo capítulo, A inclusão dos alunos com indicadores de altas habilidades/superdotação na educação infantil: proposta de um instrumento para identificação desses alunos
, de autoria de Nara Joyce Wellausen Vieira e Soraia Napoleão Freitas, discute a questão da educação inclusiva, problematizando suas práticas e perspectivas com enfoque nas altas habilidades/superdotação (AH/SD). Apresentando-nos um instrumento que tem como finalidade auxiliar no processo de identificação da criança da educação infantil, contribuindo, dessa forma, para reconhecer quem são esses alunos, atendê-los em suas necessidades e favorecer sua inclusão no sistema de ensino, iniciando pelas bases teóricas que alicerçam o instrumento, seguido pela exposição de como foi realizada sua validação e finalizando com as orientações para sua aplicação.
O nono capítulo, O professor de educação especial e a escola inclusiva: práticas multifuncionais e solitárias
, das autoras Mariana Luzia Corrêa Thesing e Fabiane Adela Tonetto Costas, provoca-nos a pensar sobre alguns elementos relacionados à formação de professores e aos contextos de trabalho em que estão inseridos, discutindo sua atuação de forma solitária entre os diferentes agentes envolvidos na proposição de uma escola inclusiva e sua super-responsabilização para efetivação dos processos inclusivos.
O décimo capítulo, intitulado Inteligências múltiplas e altas habilidades: clarificando conceitos e (re)construindo perspectivas para a Educação contemporânea
, do autor Arlei Peripolli, tem o intuito de clarificar concepções relativas aos estudantes com características de altas habilidades/superdotação, no sentido de refletir alguns conceitos e desfazer ideias imagéticas e/ou errôneas que se encontram enraigadas no pensamento de professores e demais profissionais que atuam com tais indivíduos.
O décimo primeiro capítulo, A Disciplina de Libras no ensino superior: um olhar para a comunicação e inclusão
, das autoras Maiandra Pavanello da Rosa, Maureline Petersen e Vanise Mello Lorensi, busca contextualizar a importância do ensino de Libras em algumas instituições de ensino superior (IES) da região central do estado do Rio Grande do Sul, tendo como objetivo conhecer a compreensão e as expectativas dos alunos que frequentam as aulas de Libras frente à disciplina, as estratégias que utilizam para facilitar a aprendizagem, bem como a importância da disciplina para a sua formação.
O décimo segundo capítulo, Reflexões sobre os conceitos de colaboração e mediação aplicados ao processo de aprendizagem de sujeitos com deficiência em uma perspectiva inclusiva
, de autoria de Marcela Francis Costa Lima, Patrícia Cardoso Macedo do Amaral Araujo e Márcia Denise Pletsch, tem por finalidade abordar e refletir sobre aspectos conceituais e práticos de ações de ensino colaborativas, como o coensino (bidocência) e a mediação pedagógica para alunos com deficiências e/ou outras necessidades educacionais especiais, procurando discutir essas práticas a partir do ideário de uma educação inclusiva.
O décimo terceiro capítulo, Formação de professores e o desafio da inclusão escolar brasileira: um olhar sob a perspectiva internacional
, das autoras Thaís Virgínea Borges Marchi, Cínthia Cardona de Ávila e Helenise Sangoi Antunes, assenta-se na busca de um entendimento sobre as perspectivas epistemológicas das políticas de Educação Especial, na perspectiva de educação inclusiva, apropriando-se da análise de publicações internacionais. O texto torna-se um reflexivo para a área de formação de professores no momento em que analisa a proposta de Educação Especial na perspectiva inclusionista com base nas experiências internacionais.
O décimo quarto capítulo, Inclusão e a (in)visibilidade dos alunos inseridos em classe regular: desafios e possibilidades
, das autoras Adriana Cristina Gomes e Silvia Regina Basseto Tolfo, propõe desvendar os motivos que levam a essa (in)visibilidade nas classes regulares que se tornou uma questão fundamental no que tange à convivência e à aprendizagem dos alunos com deficiência. Lançando novos olhares para que de fato esses alunos possam ser vistos, aceitos, respeitados e verdadeiramente incluídos.
O décimo quinto capítulo, Formação de professores: ressignificando a prática pedagógica na busca de um olhar inclusivo
, de Ligia Inez Requia Soares, Sandra Elisa Requia Souza e Marijane Rechia, busca analisar por meio de viés filosófico, sociológico e psicológico o período escolar em que as práticas pedagógicas pertinentes e assertivas fazem a diferença no descobrimento de potencialidades e auxílio das dificuldades que se apresentam no cotidiano escolar. Argumentando em favor da relevância da percepção dos professores ao instigar as habilidades dos alunos por meios pedagógicos e lúdicos que despertam a curiosidade e a ousadia de ir além do proposto em sala de aula, auxiliando no seu aprendizado.
O décimo sexto capítulo, Políticas de inclusão: desafios para a construção de um ensino inclusivo
, das autoras Mariane Rodrigues de Souza, Eliana Escobar, Letícia Leffa, Raquel Conceição e Taís Pereira da Silva, aborda uma questão reflexiva sobre a política de inclusão dentro do âmbito escolar, com ênfase na adaptação curricular, pontuando algumas propostas de adaptações no currículo escolar e alguns aspectos importantes para aprimorar o desempenho da educação básica no cenário de vulnerabilidade da pessoa com deficiência.
O décimo sétimo capítulo, Inclusão escolar e o profissional de apoio/monitor: o contexto de uma rede privada de ensino
, de autoria de Manoela da Fonseca e Fabiane Romano de Souza Bridi, problematiza a atuação do profissional de apoio/monitor no contexto da rede privada de ensino do município de Santa Maria/RS, tendo como propósito apresentar os dados preliminares de uma pesquisa que tem como temática a atuação do profissional de apoio/monitor no contexto da inclusão escolar.
O décimo oitavo capítulo, O educador especial nos processos escolares de inclusão: desafios, expectativas e atuação profissional
, de Daiane Pinheiro, Janete Inês Müller, Ana Beatriz Aguiar da Silva, Lino Arlem Azevedo Baia e Simone da Silva Carvalho, discute problemáticas docentes relacionadas ao funcionamento da Educação Especial na perspectiva inclusiva, principalmente as considerações de professores que atuam no Atendimento Educacional Especializado (AEE) do município de Santarém, no Pará (PA). Os dados foram produzidos a partir de um contexto de formação continuada: I Seminário de Práticas de Ensino para Surdos e II Mostra de Cultura Surda na UFOPA: pelo direito à diferença política e educacional, promovido pelo Grupo de Pesquisa em Educação Especial e Processos Inclusivos da Universidade Federal do Oeste do Pará (GPEEPI), em parceria com a Secretaria de Educação do município de Santarém-PA (Semed, setor da Educação Especial).
Esperamos que, com esta publicação, novas provocações acerca dos entrelaçamentos entre Educação Especial e Inclusão sejam experimentadas. Que não esgotemos o debate nesses campos tão necessitários de aprofundamento e discussão.
Boa leitura!
Vantoir, Bruna e Fernanda
Sumário
FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR E INCLUSÃO ESCOLAR NO IF FARROUPILHA: PROBLEMATIZAÇÕES INICIAIS
Fernanda de Camargo Machado, Priscila Turchiello, Fabiani Lopes Bitencourt
INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM AUTISMO: O BRINCAR COMO FERRAMENTA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
Taís Guareschi, Marcia Doralina Alves, Maria Inês Naujorks
CONSUMINDO O OUTRO
- PROGRAMA VIVER SEM LIMITE
Mônica Zavacki de Morais, Liane Camatti
QUANDO OS SUJEITOS DA PESQUISA SÃO CRIANÇAS: REFLEXÕES SOBRE O FAZER DO PESQUISADOR
Clariane do Nascimento de Freitas, Fabiane Adela Tonetto Costas
OS DESAFIOS DA INCLUSÃO DE INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA
Andreia Ines Dillenburg, Andréa Forgiarini Cecchin
APOIOS E DIFICULDADES ENCONTRADAS POR SERVIDORES DE UM INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO E SUAS PERCEPÇÕES SOBRE O MOVIMENTO INSTITUCIONAL EM PROL DA INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA
Graciela Fagundes Rodrigues, Joíse de Brum Bertazzo, Vantoir Roberto Brancher
INCLUSÃO ESCOLAR E ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE SOBRE A ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Ana Paula dos Santos Ferraz, Bruna de Assunção Medeiros,
Fabiane Adela Tonetto Costas
A INCLUSÃO DOS ALUNOS COM INDICADORES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Proposta de um Instrumento para Identificação desses Alunos
Nara Joyce Wellausen Vieira, Soraia Napoleão Freitas
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E A ESCOLA INCLUSIVA: PRÁTICAS MULTIFUNCIONAIS E SOLITÁRIAS
Mariana Luzia Corrêa Thesing, Fabiane Adela Tonetto Costas
INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E ALTAS HABILIDADES: CLARIFICANDO CONCEITOS E (RE)CONSTRUINDO PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Arlei Peripolli
A DISCIPLINA DE LIBRAS NO ENSINO SUPERIOR: UM OLHAR PARA A COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO
Maiandra Pavanello da Rosa, Maureline Petersen, Vanise Mello Lorensi
REFLEXÕES SOBRE OS CONCEITOS DE COLABORAÇÃO E MEDIAÇÃO APLICADOS AO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE SUJEITOS COM DEFICIÊNCIA EM UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA
Márcia Denise Pletsch; Marcela Francis Costa Lima;
Patrícia Cardoso Macedo do Amaral Araújo
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O DESAFIO DA INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA: UM OLHAR SOB A PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Thaís Virgínea Borges Marchi, Cínthia Cardona de Ávila, Helenise Sangoi Antunes
INCLUSÃO E A (IN)VISIBILIDADE DOS ALUNOS INSERIDOS EM CLASSE REGULAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
Adriana Cristina Gomes, Silvia Regina Basseto Tolfo
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: RESSIGNIFICANDO A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA BUSCA DE UM OLHAR INCLUSIVO
Ligia Inez Requia Soares, Sandra Elisa Requia Souza ,Marijane Rechia
POLÍTICAS DE INCLUSÃO: DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM ENSINO INCLUSIVO
Mariane Rodrigues de Souza, Eliana Escobar, Letícia Leffa,
Raquel Conceição, Taís Pereira da Silva
INCLUSÃO ESCOLAR E O PROFISSIONAL DE APOIO/MONITOR: O CONTEXTO DE UMA REDE PRIVADA DE ENSINO
Manoela da Fonseca, Fabiane Romano de Souza Bridi
O EDUCADOR ESPECIAL NOS PROCESSOS ESCOLARES DE INCLUSÃO: DESAFIOS, EXPECTATIVAS E ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Daiane Pinheiro, Janete Inês Müller, Ana Beatriz Aguiar da Silva,
Lino Arlem Azevedo Baia, Simone da Silva Carvalho
SOBRE os Autores
Apêndice A
FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR E INCLUSÃO ESCOLAR NO IF FARROUPILHA: PROBLEMATIZAÇÕES INICIAIS
Fernanda de Camargo Machado, Priscila Turchiello, Fabiani Lopes Bitencourt
Situando o estudo
Vivemos um cenário em que estão em debate tanto a ampliação das redes de apoio quanto as possibilidades de complementação ou suplementação de estudos para os estudantes público-alvo da Educação Especial (estudantes que apresentam deficiências, estudantes com transtornos globais do desenvolvimento, hoje nomeado transtorno do espectro do autismo, e/ou estudantes com indicadores de altas habilidades/superdotação). Portanto, trata-se de um terreno fértil para a investigação de como esse cenário supostamente novo tem conduzido as práticas pedagógicas curriculares consideradas flexíveis para esses estudantes.
Assim, o projeto de pesquisa, intitulado Políticas e discursos de inclusão: problematizações sobre práticas de flexibilização curricular, justifica-se por entender que se vive um momento ímpar para proeminência dessas discussões. Nesse sentido, convém incentivar um debate a respeito do que vem sendo produzido como práticas de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais especiais, de forma a qualificar as discussões nesse campo.
É com o intuito de compreender como vem se produzindo essa trama na atualidade – diante das amplas discussões em torno da aprovação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que culminaram em 2008 – que essa pesquisa empreende a seguinte questão: como vêm sendo produzidas práticas de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais especiais no âmbito do IF Farroupilha?
O projeto tem como objetivo geral problematizar as ressonâncias das políticas e discursos de inclusão no âmbito do IF Farroupilha, no que se refere à produção de práticas de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais especiais. Como objetivos específicos, pretende: 1) Discutir como a racionalidade inclusiva vem mobilizando práticas de flexibilização curricular no âmbito do IF Farroupilha; 2) Mapear os registros institucionais a respeito das práticas de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais específicas nessa Instituição; 3) Descrever e analisar as práticas de flexibilização curricular e seus efeitos de sentido sobre as relações de ensino e aprendizagem, que envolvem os sujeitos com necessidades educacionais especiais.
O estudo tem como metas: produzir um repositório institucional de práticas de inclusão, especificamente de ações de flexibilização curricular para estudantes com necessidades educacionais especiais; socializar práticas institucionais nesse âmbito; fomentar ações de formação docente, de acordo com as demandas indicadas pelos dados e qualificar as discussões sobre os processos de ensino e aprendizagem dos estudantes com necessidades educacionais especiais.
Essa pesquisa é uma das ações do Grupo de Estudos em Políticas Públicas e Educação Especial (GEPPEE/CNPq). O GEPPEE filia-se às diferentes perspectivas teórico-metodológicas, transitando por questões que envolvem o campo da Educação Especial e suas ressonâncias com e nas políticas públicas educacionais. O Grupo é vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha e mantém articulações com outros Grupos de Pesquisa que têm aproximação com suas temáticas, congrega estudantes e pesquisadores do IF Farroupilha, Universidade Federal do Oeste do Pará, Universidade Federal de Santa Maria e Centro Universitário Franciscano.
Para esse espaço de escrita, há alguns elementos que são resultados da peneira
inicial da primeira etapa, que compreende uma análise da conjuntura das pesquisas acadêmicas e políticas públicas educacionais que tratam do tema da flexibilização curricular no âmbito da educação escolar, conforme será descrito mais adiante.
As lentes teórico-metodológicas
A pesquisa inscreve-se no campo dos Estudos Foucaultianos em Educação, em sua perspectiva de análise pós-estruturalista, tendo como ferramenta analítica principal a noção de discurso, segundo o pensamento de Michel Foucault. Esse autor entende os discursos como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. [...] É esse mais que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever
(FOUCAULT, 1986, p.56).
Para esse autor, o sujeito se produz (e produz-se) em complexas relações de poder e saber, articuladas aos conjuntos de enunciados culturalmente produzidos (discursos). Nessa dinâmica, o que fazemos a nós mesmos, seja nas relações com os outros, seja na relação estabelecida consigo, está inexoravelmente articulada à verdade e seu status (FOUCAULT, 1995; 1996; 1999; 2000; 2006a; 2006b).
Considerando a produtividade da noção foucaultiana de discurso para essa pesquisa, compreendemos que os sujeitos posicionados como estudantes com necessidades educacionais especiais vêm sendo narrados como tal a partir de jogos de saber/poder, nos quais os discursos em circulação nas produções acadêmicas e políticas públicas acabam por produzir modos específicos de organizar as práticas curriculares que atendam aos princípios inclusivos contemporâneos.
Nossa intenção a partir da filiação com os estudos foucaultianos não é a de ajuizar a validade ou não das práticas de flexibilização curricular que passam a ser indicadas como necessárias à inclusão escolar de estudantes com necessidades especiais, nem mesmo qualificar ou desqualificar essas práticas em relação às de adaptação curricular. O que nos move nesse investimento de pesquisa é o fato de considerarmos que o que é preciso pôr em questão são os regimes de verdade estabelecidos, os raciocínios amplamente aceitos, os modos de falar corriqueiros, tornando a linguagem um alvo de problematização
(BUJES, 2005, p.187).
Propomos assim, um exercício de problematização que toma as verdades como produzidas no exercício das relações de poder. Trata-se de um poder que não se impõe como algo negativo, repressivo, destrutivo, que se encontra sob a propriedade de alguém. A partir da análise foucaultiana, o poder é pensado como algo que se exerce, que funciona, que é produtivo e positivo para nossa sociedade (MACHADO, 2008).
O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir. (FOUCAULT, 2008a, p.8).
Entendemos que o poder opera na produção de uma rede discursiva que acaba posicionando como interessante para a manutenção da inclusão escolar, que atentemos às práticas de flexibilização curricular de maneira que não apenas os estudantes com necessidades educacionais especiais sejam investidos por determinados saberes, mas, também, todos aqueles que de alguma forma estão envolvidos com os processos de escolarização. Foucault (2008b), ao tratar das relações de poder-saber, esclarece que,
[...] temos antes que admitir que o poder produz saber (e não simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. (FOUCAULT, 2008b, p.27).
Na Contemporaneidade há um investimento de poder aperfeiçoado,