RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Monografia apresentada e aprovada em 11 de maio de 2007 à Banca Examinadora, composta pelos professores
Isolde Favaretto, Inez Tavares e Paulo Heerdt, da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, como exigência parcial para obtenção de grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
2
trabalho é, em síntese, demonstrar quais as decisões do processo satisfativo são capazes (ou
não) de se revestir da autoridade da coisa julgada (material).
1 COISA JULGADA
Assim, no direito adjetivo, a coisa julgada vem elencada no Título VIII, Capítulo
VIII, Seção II, do Código de Processo Civil, que trata especificamente do tema e arrola, no
art. 467, a seguinte definição para o instituto: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia,
que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário”. E em seguida o art. 468 do CPC define os limites da coisa julgada, afirmando
que “a sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e
das questões decididas”. De outra banda, cuidou o legislador de incluir a coisa julgada nas
exceções processuais peremptórias (art. 301, VI), inferindo-se daí a função negativa da res
iudicata, posto que o autor que intentou a demanda se vê impedido de prosseguir por já existir
pronunciamento anterior – se verificada a coisa julgada deve o juiz extinguir o processo sem
julgamento de mérito (art. 267, V). Com esta sintática exposição, o Código pretendeu
esclarecer o que seria a coisa julgada no Direito Processual Civil, estabelecendo que a
sentença se torna imutável e indiscutível, esquecendo-se que no processo executivo (ou fase
executiva) o ato que o encerra (arts. 794 e 795 do CPC3) denomina-se sentença. A pergunta
2
Art. 5º. XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. [...] (grifo
nosso). BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988.
3
Art. 794. Extingue-se a execução quando: I – o devedor satisfaz a obrigação; II – o devedor obtém, por
transação ou por qualquer outro meio, a remissão total da dívida; III – o credor renunciar ao crédito. Art. 795.
A extinção só produz efeito quando declarada por sentença. BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
3
que surgirá decorrente da interpretação literal do Código será: se a sentença que tem por
objeto encerrar a execução civil fizer coisa julgada, com a declaração tornando-se indiscutível
e imutável, as partes no processo sofrerão os efeitos do instituto, com a necessidade de o
executado ajuizar rescisória para reaver o que pagou a maior?
Sendo a definição de coisa julgada como a lei do caso concreto, virtude própria de
algumas sentenças judiciais, que as torna imunes de futuras controvérsias, a coisa julgada
formal se apresenta como aquela que impede o manejo de qualquer recurso por restarem
esgotadas as possibilidades de impugnar a decisão. Trata-se de estabilidade relativa do
julgado, tendo em vista que não se poderá mais no mesmo processo modificar a decisão, não
se evitando, contudo, a possibilidade de impugnações e controvérsias subseqüentes, quando
postas como objeto de processos diferentes. 4
Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jan.
1973. p. 1.
4
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento. 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. v. 1. p. 456.
5
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento. 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. v. 1. p. 457.
4
6
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 444 a 475.
Atualização legislativa de Sérgio Bermudes. 3. ed. rev. aumentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997. t 5. p. 111.
7
TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 31.
8
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: [...]. BRASIL. Lei n. 5.869,
de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
9
TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 31.
10
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento. 7. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2005. v. 1. p. 470.
5
Entendia assim que a coisa julgada era qualidade que aos efeitos se anexava,
negando a opinião corrente de que era um dos efeitos da sentença de mérito.
Para Ovídio, “[...] quando desejamos investigar seus limites objetivos, referimo-
nos não a limites da sentença, e sim a limites da coisa julgada”, pois os limites da sentença se
estendem às partes e aos terceiros (a qualidade inerente ao efeito declaratório – coisa julgada
– dá-se entre as partes, somente), estudando os sujeitos às eficácias sentenciais. Em síntese, se
alguém perguntasse “o que faz coisa julgada?”, bastaria uma simples resposta para se
entender quais os limites objetivos da res iudicata. “[...] A investigação terá por fim
determinar sobre que pontos ou questões litigiosas operou-se a coisa julgada”12. (grifo nosso)
O art. 469 do CPC13 estabelece, como regra, o que não faz coisa julgada. Desta
maneira, a fundamentação e a motivação não são afetas pela coisa julgada.
Ovídio esclarece que no sistema processual civil brasileiro os fatos discutidos não
são aptos a produzir a coisa julgada, de modo a torná-los indiscutíveis em demandas
posteriores. Igualmente ocorre com a questão prejudicial (inc. III do art. 469 do CPC)
decidida incidentalmente e que não foi objeto de ação declaratória incidental (art. 470 do
CPC). Porém, é coerente afirmar que se a coisa julgada for empregada como fundamento ou
como causa de pedir da demanda posterior não é viável a redução do objeto da decisão antes
prolatada.
Por sua vez, Barbosa Moreira afirma categoricamente que a questão subordinante
(premissa maior) constitui simples razão do decisum (ou seja, não se forma a res iudicata),
11
LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e autoridade da sentença: E outros escritos sobre a coisa julgada.
Tradução de Alfredo Buzaid e Benvindo Aires. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 19-20.
12
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento. 7. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2005. v. 1. p. 480.
13
Art. 469. Não fazem coisa julgada: I – os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte
dispositiva da sentença; II – a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença; III – a
apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo. BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de
janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
6
exceto se for requerida por uma das partes a decisão sobre tal ponto – ação declaratória
incidental, caso em que se formará a coisa julgada. 14
Liebman critica este ponto de vista alegando em síntese dois aspectos básicos do
instituto: a) a coisa julgada é uma qualidade inerente aos efeitos da sentença (e não um dos
efeitos da sentença) e; b) a coisa julgada só produzirá seus efeitos entre as partes. Quanto a
este segundo aspecto, o autor considera que a lei não prevê e automaticamente exclui a
possibilidade de extensão da coisa julgada a terceiros não participantes; ademais,
considerando que a res iudicata não é efeito da sentença, é inviável a pretensão de comparar o
fenômeno estabelecido por normas imperativas com fatos da natureza, pois o instituto não é
efeito “natural” da sentença, mas sim uma qualidade inerente aos efeitos da sentença. 17
14
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de Direito Processual. São Paulo: Edição Saraiva, 1977. p. 96.
15
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de Direito Processual. São Paulo: Edição Saraiva, 1977. p. 100-
106.
16
LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e autoridade da sentença: E outros escritos sobre a coisa julgada.
Tradução de Alfredo Buzaid e Benvindo Aires. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 80.
17
LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e autoridade da sentença: E outros escritos sobre a coisa julgada.
Tradução de Alfredo Buzaid e Benvindo Aires. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 79-112.
7
2 PROCESSO DE EXECUÇÃO
18
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 5.
19
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
65.
20
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
65.
8
está impedido de agir por si, tendo em vista a vedação à autotutela na sociedade
contemporânea. 21 No processo de execução aquele que tem um crédito insatisfeito procura o
Estado para compelir o devedor a prestar forçosamente. O Estado atua, na execução, como
“substituto” daquele que deve e não pagou; ademais, a expressão “execução forçada” utilizada
22
pelo CPC em seu art. 566 é oposta à idéia de adimplemento da prestação. Em outros
termos, é execução forçada prestada pelo Estado. O executado será, através da execução
forçada, privado de gozar seus bens constritos judicialmente, visando à satisfação do crédito
da parte adversa. 23
21
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
64.
22
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 49.
23
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
82.
24
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 4.
9
Não obstante esta elucidação preambular, vale rememorar que existem espécies de
ações que, por sua natureza, resolvem-se no mesmo processo, qual seja, o de conhecimento.
Como afirma Barbosa Moreira:
São as denominadas ações executivas lato sensu26, previstas nos arts. 461 e 461-A
(no capítulo que trata da sentença e da coisa julgada), dentre outros artigos do Código de
Processo Civil brasileiro, além das leis federais que dispõe assim sobre estas demandas (v.
Lei. 8.245/91 – Lei das Locações). Assim, este tipo de demanda enseja “[...] além da
certificação do direito [...], a prática dos atos executivos tendentes a efetivar o direito
certificado [...]”27.
Por esta visão se percebe que a divisão dos processos (conhecimento, execução e
cautelar), conforme orienta o Código, é insatisfatória, visto que se observa cognição na
execução e realização de atos executivos no processo de conhecimento. Explica-se este
fenômeno pela razão de que as demandas exigem conhecimento prévio acerca da “lide” por
parte do órgão julgador, necessitando por vezes a emissão de comando emergencial (função
29
cautelar) ou definitivo (função executiva). No entender de Zavascki, a antecipação dos
25
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo processo civil brasileiro: Exposição sistemática do
procedimento. 22. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 3.
26
Para Araken de Assis, tais demandas são assim chamadas impropriamente, sendo correto designá-las
“executivas” de acordo com a lição de Pontes de Miranda. v. ASSIS, Araken de. Cumprimento da sentença.
Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 7.
27
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de Execução: Parte Geral. 3. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. p. 33.
28
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de Execução: Parte Geral. 3. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. p. 44.
29
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
67.
10
efeitos da tutela (art. 273) é um dos institutos que demonstra “[...] o relativismo da autonomia
[...]” dos processos de execução e conhecimento. 30
30
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de Execução: Parte geral. 3. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. p. 61.
31
Art. 598. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições que regem o processo de conhecimento.
BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
32
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.); ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
Avançado de Processo Civil: Execução. 8. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 2.
p. 42-43.
33
COSTA, Alfredo Araújo Lopes da. Direito Processual Civil Brasileiro. 2. ed. [s.l.: s.n.], 1959. p. 43 apud
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 52.
34
Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo,
ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza
cautelar ou antecipatória de tutela. (grifo nosso) BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o
Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
11
Qualquer execução tem por espeque título executivo, seja judicial ou extrajudicial
(arts. 475-I, caput35 e 58036 do CPC), sendo um dos requisitos de sua admissibilidade. 37
A
recente reforma processual não teve o condão de alterar o princípio – estampado no art. 618, I,
do Código – da nulla executio sine titolo, posto que, v.g., a ausência de prévia liquidação de
sentença evidentemente acarretará sua nulidade.
Sobre a liquidez da decisão judicial, assinala Fabiano Carvalho que a “[...] falta de
memória de cálculo caracteriza falta de requisito de procedibilidade do requerimento de
cumprimento da sentença [...]”38. Ou seja, tanto na execução por quantia certa oriunda de
título judicial quanto no processo de execução, a liquidação é requisito essencial desta fase ou
processo.
35
Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de
obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo. BRASIL. Lei n.
5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
36
Art. 580. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível,
consubstanciada em título executivo. BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de
Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
37
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 35 e 203.
38
CARVALHO, Fabiano. Liquidação de sentença: determinação do valor por cálculo aritmético, de acordo com
a Lei n. 11.232/2005. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 16, não paginado, fev. 2007.
Disponível em: < http://www.revistadoutrina.trf4.gov.br/artigos/edicao016/Fabiano_Carvalho.htm > Acesso
em 27 fev. 2007.
39
Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e
futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei. BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o
Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
40
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.); ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
Avançado de Processo Civil: Execução. 8. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 2.
p. 111.
12
de terceiro, quando ocorrer uma das hipóteses de fraude à execução e pela impossibilidade de
se penhorarem determinados bens do devedor (impenhoráveis, absoluta ou relativamente).
41
ASSSIS, Araken de. Manual da Execução. 9 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
94
42
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 38-39.
43
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de Execução: Parte Geral. 3. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. p. 98.
13
2.5.2 Liquidez
44
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 99.
45
ASSIS, Araken de. Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 202-203; THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 191-195;
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.); ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
Avançado de Processo Civil: Execução. 8. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 2.
p. 51-71; WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia.
Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 39-41
e 53-58.
46
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de Execução: Parte geral. 3. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. p. 258 e 262.
47
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.); ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
Avançado de Processo Civil: Execução. 8. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 2.
p. 55.
14
2.5.3 Certeza
Este requisito, segundo melhor doutrina49, mesmo anterior à reforma pela Lei
11.382/06, se refere à existência do crédito frente ao documento (título), não surgindo, por
óbvias razões, após o nascimento do título.
2.5.4 Exigibilidade
48
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
142.
49
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
141.
50
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves
Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 55-56.
51
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 192.
52
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves
Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 58.
15
Muito embora não se possa tratar o processo executivo da mesma maneira como o
processo de conhecimento (por óbvias razões), existem ações incidentais ou na própria
relação processual executiva que são idênticas (ou seja, capazes de produzir coisa julgada
material), tais como as defesas do executado. Explique-se: o direito à defesa é caractere ínsito
ao próprio processo, devendo ser resguardado – mesmo que limitadamente – também, nessa
via.
53
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 301.
54
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução Forçada. São Paulo:
Malheiros Editores, 2004. v. 4. p. 790-792.
16
Desta forma, a sentença da execução, prevista no art. 795 do CPC, deverá ser
submetida a essa análise, para bem compreender se é possível a formação de coisa julgada
material neste ato.
55
Art. 162. [...] § 1º - Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269
desta Lei. BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jan. 1973. p. 1.
56
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 20-21.
57
ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 20.
17
A noção de execução, ligada à satisfação (ou não) do credor, parece não admitir a
possibilidade de contraditório. Todavia, observando-se os princípios fundamentais do
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, é visível que a oposição do devedor
nos próprios autos não afeta a natureza do processo satisfativo. Ademais, é o contraditório o
fundamento do princípio do menor esforço do devedor, não sendo razoável imaginar a
aplicabilidade deste princípio sem possibilitar ao executado a alegação de sacrifício
exacerbado. Cumpre apenas ressalvar que a oposição não será ao crédito contido no título,
uma vez que ou a discussão sobre a matéria já está superada (sentença judicial transitada em
julgado) ou poderá ser discutida, na execução de título extrajudicial, apenas em sede de
embargos à execução. A possibilidade de contradição dirá respeito tão-somente a matérias
cognoscíveis de ofício pelo magistrado, tais como as nulidades absolutas – citação por
correio, por exemplo – os pressupostos processuais e as condições da ação executiva. 58
58
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.); ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
Avançado de Processo Civil: Execução. 8. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 2.
p. 130-131.
59
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 97-98.
18
Surge, então, um problema que pode ser formulado com a seguinte indagação: não
se destinando a execução, no sistema do Código, a uma sentença de mérito, e
podendo encerrar-se o processo executivo, mesmo quando baseado apenas em título
negocial, sem decisão valorativa sobre o crédito do exeqüente e sua satisfação
judicial coativa, haveria em tais circunstâncias o fenômeno da coisa julgada ou
algum fato processual análogo incidindo sobre o resultado ou os efeitos da execução
forçada? Ou continuaria permitindo às partes discutir o mérito da legitimidade do
pagamento forçado, em futuras ações de cognição? 60
É por esse motivo que na execução civil não existe pronunciamento de mérito,
como ocorre no processo de conhecimento, há apenas a prática de atos materiais que retiram
bens do patrimônio daquele que deve.
60
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 537.
61
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 537-
544.
19
62
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 544.
63
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 546.
20
No que diz respeito com a ausência de título (desde que insanável o vício), pois
firmado o título por procurador sem poderes para tanto, por exemplo, essa decisão terá
abrangido o conteúdo do título, isto é, terá dito implicitamente que não há dívida, operando-se
no ponto a coisa julgada, ou o magistrado apenas terá verificado que não existe título apto a
64
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Leud, 2005. p. 551.
65
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 99- 102.
21
ensejar execução? A resposta à pergunta permitirá saber se pode o credor intentar ação
autônoma (condenatória ou monitória) para a discussão do crédito ou deverá rescindir a
sentença. Como se sabe, todas as decisões devem ser fundamentadas, isto é, explícitas. Nesse
ponto, a discussão terá girado apenas em torno dos atributos do título executivo, não tendo se
pronunciado o juízo acerca do crédito (do direito contido no documento), que poderá, sim, ser
discutido em demanda de conhecimento pelo credor. Todavia, não se admitirá o ingresso de
nova execução com espeque no mesmo documento, pois o magistrado já terá pronunciado a
inexistência de título, restando acobertada essa decisão pela coisa julgada. 66
E Tesheiner:
Se o juiz nega tenha o crédito força executiva, poderá o autor propor ação
condenatória (ação diversa, por ter outro pedido imediato), mas não poderá renovar
a ação de execução. Haverá coisa julgada, no que respeita ao poder de executar. 67
66
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 103-107.
67
TESHEINER, José Maria Rosa. Eficácia da sentença e coisa julgada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
p. 228.
68
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 631262 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
Brasília, DF, 02 de agosto de 2005. Diário da Justiça, Brasília, DF, 26 de set. 2005. p. 439.
22
Nesse caso, uma vez acolhida a alegação e extinto o processo através de sentença,
caberá a rescisória para se desconstituir a decisão, tendo em vista que o magistrado terá se
pronunciado a respeito da inexistência do crédito. 71
Caso a execução seja extinta por alcançar seu fim normal, isto é, o credor obteve a
tutela pretendida, com a declaração de extinção através de sentença, essa decisão não estará
revestida da autoridade da coisa julgada. Isso porque a sentença apenas “[...] tem por
finalidade [...] declarar extinta a relação jurídico-processual [...]”, sem analisar o mérito,
conforme visto alhures72. Válida é a opinião73 de que a sentença que declara extinta a relação
processual “[...] não exibe carga declaratória suficiente para redundar na indiscutibilidade do
69
MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Notas sobre a Exceção de Pré-Executividade. [s.l.: s.n.], 2003. Não
paginado. Disponível em: < http://www.mundojuridico.adv.br >. Acesso em: 06 abr. 2007.
70
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 110-114.
71
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 114.
72
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 114-115.
73
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
382 e 383.
23
art. 467”74, explicando-se a teoria pelo fato de que o órgão judiciário não profere julgamento
em nenhuma das hipóteses do art. 794 do CPC.
Já para a doutrina76 que entende ser a rescisória o remédio cabível para atacar a
extinção da execução, o principal argumento utilizado é o de que a sentença contém
pronunciamento de mérito, ou em outras palavras, há um verdadeiro julgamento no seu
interior. Parece que o autor entende estar a sentença caracterizada como de mérito em virtude
de a apelação ser o recurso cabível contra tais atos (CPC, art. 513). Se a interpretação estiver
correta, por mais que se tente por esta via enquadrar um mérito (que não aquele de
admissibilidade e controle dos atos executivos) na execução, a verdade é apenas uma: a
apelação também é o recurso cabível contra a sentença que extingue o processo sem
julgamento de mérito – e contra esse ato não caberá, por óbvio, rescisória.
78
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O Dogma da Coisa julgada: Hipóteses de
relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 116-117.
25
Aspecto polêmico diz respeito com a possibilidade de, expirado o prazo para
embargos, ajuizar o devedor ação tendente a declarar inexistente ou desconstituir a obrigação
contida no título. Dinamarco83 manifesta posição favorável, tendo em vista que o
impedimento representaria flagrante inconstitucionalidade por ofender o princípio do direito
79
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução Forçada. São Paulo:
Malheiros Editores, 2004. v. 4. p. 706-707.
80
ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.
1131.
81
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução Forçada. São Paulo:
Malheiros Editores, 2004, v. 4. p. 670-671 e 708.
82
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução Forçada. São Paulo:
Malheiros Editores, 2004. v. 4. p. 707.
83
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução Forçada. São Paulo:
Malheiros Editores, 2004. v. 4. p. 718-721.
26
de ação. Ademais, como o órgão jurisdicional não se pronunciou sobre esse crédito, não se há
que falar em coisa julgada. Aplica-se o mesmo raciocínio quando a execução já estiver
encerrada por sentença. Caso a ação autônoma seja julgada improcedente nenhum efeito sobre
a execução se produz; todavia, em se admitindo a tese do autor, será extinta a execução ou, se
já finda, poderá o executado pleitear a repetição do indébito.
CONCLUSÃO
84
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 135355 do Tribunal de Justiça de São Paulo,
Brasília, DF, 04 de abril de 2000. Diário da Justiça, Brasília, DF, 19 jun. 2000. p. 140.
27
Caso, por exemplo, a execução se funde em sentença civil condenatória, não será
permitido ao devedor discutir o direito ao crédito no incidente da impugnação (ou talvez na
exceção de pré-executividade). Isso é claro. A coisa julgada, aqui, impede a discussão da
questão já decidida. O mesmo impedimento haverá quando o devedor se opuser à execução
através dos embargos, da impugnação ou da exceção (ou objeção) de pré-executividade.
Nesses casos, o obstáculo à nova discussão se dará quando o juízo proferir julgamento de
mérito, acolhendo ou rejeitando os embargos que digam respeito, por exemplo, ao excesso de
execução, reduzindo o valor constante do título. Aqui, também, serão os limites objetivos da
coisa julgada que impedirão a renovação da discussão.
Todavia, não se mostra tão simples a questão quando se trata de sentença que
extingue a execução por satisfação da obrigação ou qualquer outra das causas “normais” de
extinção do processo, sem que o devedor tenha ajuizado os embargos ou outro incidente capaz
de ilidir o direito contido no título. É questionável a afirmativa de que a referida sentença,
quando julga extinta a execução, se torna indiscutível ou imune a futuras controvérsias, tanto
por parte do credor quanto do devedor. E apenas o princípio da inafastabilidade do judiciário
rebateria a alegação com relação ao devedor que, mesmo sem discutir o crédito em incidente
próprio, vê-se impedido de reaver o que pagou a maior por ação de repetição de indébito. É
nítido que a doutrina favorável à formação do instituto na execução tende a entender a coisa
julgada como uma qualidade que se agrega aos “efeitos da sentença”.
Por outro lado, em relação ao credor, outro argumento para refutar a tese da
doutrina diz respeito com a falta de pronunciamento de mérito na execução. O simples ato de
28
declarar extinta a execução, por satisfação, não demonstra um julgamento à luz do art. 269 do
CPC. Isso porque o acolhimento do pedido do autor, na execução, em nada se compara com o
mesmo ato no processo de conhecimento. Ajuizada a execução, deve o magistrado deferir o
pedido (de execução), caso presentes os requisitos para tanto. Com a satisfação da obrigação,
o magistrado não estará acolhendo o pedido autoral, mas sim encerrando atividade que lhe
competia, sem se pronunciar a respeito de fato algum, ou seja, sem formular norma jurídica
concreta para o caso. Ademais, adimplido parcialmente o crédito e extinta a execução por
sentença, a vedação ao prosseguimento na execução é evidente contra-senso (posto que é
direito do credor receber aquele valor), atentando, inclusive, contra o princípio do resultado,
em que a execução deve atender, principalmente, aos interesses do credor.
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