Jan/fev 2005/01
A
Foto: Arquivo
vida, o pão, a paz e a liberdade são os quatro desafios
mais importantes que a humanidade enfrenta atualmente, MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
segundo João Paulo II. Iniciamos o ano de 2005 ainda Cartas
sensibilizados pela tragédia provocada pelo maremoto no OPINIÃO--------------------------------------------------05
sudeste da Ásia. Os apelos à solidariedade continuam e Evasão na Igreja Católica
as vítimas necessitam urgentemente da ajuda de todos. Ricardo Castro / Estêvão Raschietti
Este ano a Campanha da Fraternidade, como já havia ocorrido no PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
ano 2000, é ecumênica e traz como tema “Solidariedade e Paz” Você sim, e por que não?
(ver encarte nessa edição). Rosa Clara Franzoi
Entre os pressupostos para uma boa convivência, encontram- VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
se os atos de aprender transmitir e educar para a paz. Além de Notícias do Mundo
Chiesa / Fides / Zenit
raízes sociais, econômicas e políticas, a paz possui uma dimensão
cultural que se manifesta em expressões produzidas e criadas pela ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
humanidade. Portanto, somos sujeitos e co-criadores de cultura e Na Bahia: entre as raízes e a utopia
Salvador Medina
a paz é um direito e dever que nos cabe, porque somos individual
e coletivamente responsáveis, seres da sociedade, dos povos e CIDADANIA-----------------------------------------------12
nações da Terra. Neste sentido, a paz se constrói exatamente a Felizes os que promovem a paz
Alfredo J. Gonçalves
partir do poder entendido não como prerrogativa do Estado ou dos
grupos dominantes, mas como condição da própria humanidade. testemunho-------------------------------------------13
Nova ótica de evangelização
De fato, a possibilidade da paz funda-se na habilidade humana, Luciana Ceretti
não apenas para agir, mas para agir em concerto, constituindo-se
em uma das mais decisivas experiências humanas. testemunho-------------------------------------------14
Igreja em Taiwan, luz na escuridão
Um outro pressuposto para a paz é partir da não-violência. As Consolação Soares
soluções para o problema da violência terão alcance muito reduzido
enquanto baseadas em métodos violentos. Conforme afirmava ENCARTE--------------------------------------------------15
Cristãos unidos na Campanha da Fraternidade
Gandhi: “a humanidade somente acabará com a violência através Therezinha Motta Lima da Cruz
da não-violência”. A não-violência, por um lado, significa a recusa
do ódio e do que destrói o outro; por outro, implica a substituição HISTÓRIA DA MISSÃO----------------------------------19
A comunhão evangeliza
por uma outra força, a força da verdade e do amor. “A verdade Luiz Carlos Emer
vos libertará”, disse Jesus. Como método, a não-violência está
FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------20
baseada no respeito absoluto à integridade das partes implicadas, Um novo jeito de ser Igreja
e faz da coerência entre fins e meios a sua estratégia e condição Luiz Balsan e Lírio Girardi
para sua eficácia, pois renuncia implicitamente a violência como
ATUALIDADE----------------------------------------------22
meio. É preciso garantir que as partes envolvidas no conflito saiam V Fórum Social Mundial
ganhando para não criar ressentimentos que com o tempo venham Jaime Carlos Patias
a gerar mais violência. É por isso que a força das armas jamais INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
assegura uma paz duradoura. Paz para e com as crianças
Os conflitos não devem ser compreendidos como problemas Manuel Aparecido Monteiro (Néo)
que assustam. Eles são parte integrante dos processos humanos. O CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
grande problema é a forma como são enfrentados e resolvidos: de Juventude, solidariedade e paz
forma violenta ou não-violenta. Neste contexto, a paz se apresenta João Batista Amâncio
como um conceito dinâmico que nos leva a provocar, enfrentar e ENTREVISTA-----------------------------------------------26
resolver conflitos de uma forma não-violenta e cujo fim é conseguir Sucesso do Movimento "Nós Existimos"
Joaquim Gonçalves
a harmonia das pessoas consigo mesmas, com a natureza e com
os outros. É muito importante perceber a paz, primeiramente como AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
uma atitude interior que encontra a sua expressão mais concreta Ensino superior na Amazônia
Comissão de Estudos da IES Católica na Amazônia
nas relações sociais. Essa condição é louvada por Jesus quando
anuncia: “Felizes os que promovem a paz”. Volta ao Brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
Comina / CNBB / CPT
Sociedade responsável:
Missionários de Nossa Sra. Consoladora
(CNPJ 60.915.477/0001-29)
OPINIÃO
de Ricardo Castro
A
evasão de membros de Igrejas libertadora. Frente a este fenômeno, as Igrejas carregadas de uma linguagem inadequada
tradicionais ou históricas é parte históricas são desafiadas em dois grandes aos tempos. A Igreja deve se abrir para uma
de uma realidade que caracteriza o aspectos. Primeiramente, o fenômeno exige reflexão interdisciplinar mais atualizada. O
contexto histórico atual, chamado reformas estruturais por parte dessas Igrejas. seu futuro dependerá da maneira e do estilo
por alguns de “pós-modernidade”. A Em segundo lugar, a atualidade exige respostas de vivenciar, assumir e denunciar a temática
modernidade, com a exacerbação mais adequadas ao tempo, principalmente no contemporânea. Precisa-se de uma Igreja me-
do pensamento científico, fragmentou a realida- sentido da linguagem, do corpo e do simbólico. nos prescritiva de normas e mais motivadora,
de e secularizou o religioso. O momento atual Este enfrentamento do desafio atual deve ser criativa e estimuladora de uma vivência nova
se caracteriza principalmente pela perda de elaborado a partir de uma busca fundamental de da fé eclesial. As questões abertas e inéditas
confiança nas grandes utopias da era científica, autenticidade evangélica e vivência dos valores que a realidade histórica hoje nos apresenta
criando um espaço vazio para o retorno ou busca normativos da fé. Mais que afirmar verdades devem ser articuladas num clima de confian-
do espiritual. No contexto da pós-modernidade, doutrinais ou dogmáticas, a Igreja deve retornar ça e de pluralismo. Aqui se deveria aplicar o
a secularização não é sair da esfera religiosa, a experiência fundamental da fé – o encontro princípio “vacatio legis” – em casos em que as
mas é o declínio das religiões instituídas. Na com o Deus de Jesus Cristo nos excluídos e experimentações viriam antes das codificações,
atualidade, isto significa perda da importância empobrecidos de nossa sociedade. A Igreja, sabendo correr riscos, exigindo-se criatividade,
cultural do fator religioso. A religião ficou reduzida mais que se preocupar com comportamentos audácia e uma grande caridade. A Igreja deve
à esfera do culto e aos agrupamentos religiosos morais rígidos e afirmações incoerentes sobre resgatar a utopia, aquela que mantém viva a
específicos. Coexiste com outros valores e se procedimentos éticos, deveria investir energia esperança dos pobres.
reduz à opção pessoal e ao âmbito da consci- na criação de estruturas de acolhimento, mise-
ência. Ocorre a perda da influência da religião ricórdia e compaixão. Ricardo Castro é sacerdote missionário e professor doutor em
na política e no social. É uma religiosidade que Na Igreja Católica se vive entre a paralisia Teologia Dogmática.
propõe a seus seguidores fins espirituais. É e o mal-estar. Alguns apresentam
uma tendência oposta às questões da década pautas para um novo Concílio. Sen-
anterior, de compromisso político e prática te-se a insuficiência das respostas,
de Estêvão Raschietti
A
Igreja Católica no Brasil está Apesar das conquistas e dos
particularmente alarmada diante avanços do Concílio Vaticano II para
da situação fragmentária da filia- colocar a Igreja em sintonia com os
ção religiosa, da perda de sua tempos, dos caminhos proféticos e
influência em grande parte da dos programas pontuais traçados pe-
Jaime C. Patias
Osmar Santi
Campo Grande - MS
Centro de formação de catequistas.
C
erta feita, havia um rei que gostava de fazer coisas um deste mundo, sempre houve e sempre haverá
tanto estranhas, sempre com o intuito de ensinar os
funcionários do palácio a serem espertos e trabalhado- pessoas que, movidas por um misterioso
res. Uma noite, enquanto todos dormiam, pegou uma
pedra e colocou-a bem no meio da estrada que dava impulso interior, são capazes de fazer coisas
superiores às próprias forças.
para o palácio. No dia seguinte ficou espreitando para
ver o que iria acontecer. Logo cedo, veio um dos empregados
trazendo a ração para os animais. Percebendo aquela pedra,
reclamou, esbravejou e teve que fazer muitas manobras para de Rosa Clara Franzoi
poder passar. E a pedra ficou lá... Depois dele veio um dos
O
guardas do palácio. Assobiando distraidamente, quase esbarrou
na pedra. Também ele xingou, ficou nervoso, mas seguiu adiante que levou aquela jovem a fazer o que as demais
e a pedra lá ficou... E assim, ao longo do dia passaram várias pessoas não tiveram coragem de fazer? Ela escutou
pessoas. Ao ver a pedra, todas se irritavam, praguejavam con- o coração e agiu. Motivada por aquele impulso e por
tra quem fizera aquela brincadeira de mau gosto, mas a pedra uma sensibilidade de amor ao próximo, ela esqueceu
não saía do lugar. Por fim, uma jovem voltava do seu trabalho. todo o cansaço e agiu com decisão. Muitas vezes, o
Estava muito cansada. Diante da pedra, parou e pensou: “Está comodismo, a preguiça e o egoísmo nos paralisam
escurecendo e se esta pedra ficar onde está, alguém poderá se diante dos desafios.
machucar”. Esquecendo todo o cansaço, esforçou-se para rolar Jovem! A vocação, normalmente, parte de um sentimento
a pedra à beira da estrada. E, ao fazê-lo percebeu que algo altruísta que leva a pessoa a esquecer-se de si mesma e a dar
estava embaixo dela. Fez mais um esforço e conseguiu ver uma uma resposta corajosa e decidida em favor de alguém. Pes
caixinha. Tomou-a nas mãos. Era pesada. Curiosa, mais do que soalmente, acredito que toda vocação nasce de uma provocação.
depressa, abriu-a. Não acredita no que via. A caixinha estava O rei provocou os passantes. Todos viram a pedra... apenas
cheia de ouro... E o rei, imediatamente chamou aquela jovem um percebeu o sinal; os demais perderam a grande chance
para trabalhar no seu palácio... de melhorar a própria vida. Penso que hoje a nossa juventude
precisa ser provocada para acordar do sono pesado que a so-
Jaime C. Patias
02636-030 - São Paulo - SP
Data: 02 e 03 de abril 2005 Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda
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N
testemunho de comunhão fraterna que a fé cristã deseja oferecer
a estes povos. Sem este conhecimento de coração e mente, a estes últimos anos tive o privilégio e a graça de
tarefa da evangelização corre o risco de tornar-se uma espécie acompanhar a preparação e a partida de muitos
de “conjunto de valores” a mais no grande mosaico das culturas missionários e missionárias, para regiões distantes
e religiões, diluindo-se e perdendo-se na avalanche de tudo o dentro do Brasil, para países de língua espanhola e
que é oferecido hoje às pessoas, seja pela tradição oral, escrita, para a África. Foram algumas centenas de homens
ou mesmo através dos modernos meios de comunicação. A fé e mulheres, sacerdotes, consagrados e leigos. É
cristã, antes de tudo, é a adesão pessoal à Pessoa de Jesus, bonito ver a disposição dessa gente em se desfazer de tantas
Sua obra e Seu Projeto. coisas pura e simplesmente para responder a um chamado mis-
sionário. O êxodo (saída) que fazem é geográfico, pois partem
para terras estranhas; é um êxodo existencial, pois saem de si
mesmos; é um êxodo humano-afetivo, pois rompem com laços
históricos e relacionamentos profundos; é um êxodo cultural, pois
deixam suas raízes e seu berço. Por fim, não deixa também de
ser um êxodo religioso, pois acabam por deparar-se com outros
universos religiosos, muitas vezes distantes daqueles com os
quais estavam acostumados a estabelecer relações de diálogo
e partilha fraterna.
Após estes anos, cheguei a uma conclusão central: o que
move essa gente para a missão nada mais é do que o amor a
Jesus Cristo e seu conseqüente amor aos homens. Não há outra
motivação com toda esta força, capaz de pôr em risco a própria
vida, deixando tanta coisa e tanta gente para trás. Já repatria-
mos missionários alegres e realizados pela missão cumprida; já
repatriamos missionários esquálidos e debilitados; já repatriamos
os corpos de missionários mortos na missão e pela missão. A
eficácia apostólica e missionária está associada e estes fatores,
que fazem dela uma pérola preciosa de toda a Igreja.
Fotos: Arquivo
A presença do missionário, embora seja
acolhida como “presente” divino, não
é suficiente. Ela deve gerar, facilitar e
alimentar o encontro entre o Evangelho
e a cultura, entre a pessoa de Jesus, sua
vida e mensagem e as pessoas que o
escutam e acolhem.
cultuado pelos reis de Ketu, no Benin; de Santo Antônio, nas-
cido em Lisboa e Ogum, o guerreiro que abre caminho; de São
Jerônimo, o grande tradutor da Escritura Sagrada e Xangô,
associado à cidade nigeriana de Oyó; de São Lázaro, aquele
ressuscitado por Jesus e Omolu, invocado para a cura dos males
epidêmicos; de Santa Bárbara, patrona contra a morte repentina
e os raios e Iansã, a deusa das tempestades, dos raios e do
fogo; de São Pedro, comemorado no dia 29 de junho e Xangô,
Senhor da Justiça; de São Bartolomeu, um dos doze Apóstolos
e Oxumaré, Serpente Arco-íris, símbolo do ciclo contínuo da
vida; de Nossa Senhora das Candeias, também cultuada como
de Salvador Medina Nossa Senhora da Luz e Oxum, a protetora das mulheres
grávidas e bebês; de Santana, mãe de Nossa Senhora e Nana
Buruku, relacionada com o ciclo da vida e da morte; de Santo
O
Expedito, intercessor das causas justas e urgentes e Logumedé,
ano de 2004 terminou para nós, membros participantes Orixá menino, chamado de príncipe das águas; de São Cosme
da Igreja, com assembléias de avaliações e novas e Damião, patronos dos médicos e enfermeiros e Ibeji, perso-
programações. O novo desabrochou rapidamente e, nificado como crianças gêmeas; de São Roque, protetor contra
logo no primeiro dia, já pedia uma pedagogia para o flagelo da peste e Obaluaiê, cultuado nas segundas-feiras;
aprender, ensinar e viver a paz, uma forma nova de São Lourenço, diácono da Igreja de Roma e Tempo, entidade
apresentar o menino-Messias nas grandes cidades. cultuada nos terreiros de matriz angolana; de Nossa Senhora
Em resumo, uma nova espiritualidade, capaz de alimentar a da Conceição, a mulher privilegiada por ser a mãe do Filho de
esperança em tempos de fome, terror, catástrofes e terrorismo. Deus e Yemanjá, associada por aqui às águas salgadas; cidade,
Proponho-me neste artigo a partilhar algumas reflexões sobre a enfim, de todos os Santos, como expõe artisticamente o querido
espiritualidade que inspira e sustenta nossa missão nesta periferia Padre José Pinto em “Imagens Duplas”.
de Salvador, Bahia, semelhante a muitos outros subúrbios de Esta “cidade da alegria e da magia” tem o seu “axé”, sua
tantas cidades espalhadas pelo mundo. linguagem e simbologia, suas festas e ritos, seus lugares sa-
grados, personagens lendárias e antepassados imortais, ritmos,
Terra e raízes músicas, danças e instrumentos musicais, seu carnaval, suas
Encontro-me convivendo com uma população majoritariamente tradições, mitos e utopias.
afro-descendente com sua memória de escravidão e resistência; Como missionário enviado aqui em nome desse Jesus de
suas organizações sociais e familiares, seu jeito próprio de educar, Nazaré encarnado em humanidade feminina e inculturado na
promover ou punir, sua maneira de vivenciar, fazer a política e Palestina, sinto, com a Igreja, a necessidade de “inculturar
exercer o poder; seus modos de trabalhar na terra e no mar, de o Evangelho à luz dos três grandes mistérios da salvação: o
cozinhar, comer e consumir, de produzir e colocar os produtos Natal que mostra o caminho da encarnação (...); a Páscoa, que
do trabalho, nem que seja no mercado informal da cidade. conduz, pelas vias do sofrimento, à purificação dos pecados,
Salvador é uma cidade colonial e turística. Cidade do Senhor para que sejamos redimidos; e o Pentecostes, que pela força
Jesus do Bonfim, o próprio Jesus crucificado e de Oxalá, o pai do Espírito possibilita a todos compreender, na própria língua,
dos Orixás; de São Jorge, grande mártir do Oriente e Oxossi, as maravilhas de Deus” (SD 230).
promovem a paz
de Alfredo J. Gonçalves Não haverá verdadeira paz sem o respeito
aos direitos humanos, sem uma distribuição
O
lema da Campanha da Fraternidade de 2005 – Felizes eqüitativa dos bens produzidos coletivamente
os que promovem a paz – pressupõe um cenário de
violência generalizada. De fato, hoje a violência está e sem um conceito universal de cidadania.
na ordem do dia, em seus mais diversos matizes e
graus. De forma telegráfica, vejamos algumas de
Joaquim Gonçalves
suas faces mais cruéis.
Faces da violência
Primeiramente, temos a violência visível. Ela invade nossas
casas através da televisão e da mídia em geral. Guerras, seqües-
tros, assaltos, tiroteios, crime organizado e narcotráfico são sua
marca registrada. É a violência das manchetes sensacionalistas,
dos espetáculos trágicos, da nudez, do sangue, das balas per-
didas, dos corpos mutilados e estendidos pelo chão, enfim, a
violência da vida banalizada e aviltada ao extremo.
Mas temos também a violência invisível. Esta se esconde
nos porões da sociedade, no interior dos presídios, no segredo
inviolável dos lares. Violência da tortura, do silêncio e do medo,
dos efeitos do álcool e da droga. Quantas mulheres, por exemplo,
ocultam até dos familiares mais íntimos os hematomas e luxa-
ções causados pelos maridos embriagados! E quantas crianças
indefesas e paralisadas dentro de casa pelo mesmo motivo! estava em pauta o tema da dignidade humana. Aliás, paz e dig-
Temos ainda a violência estrutural. A injustiça e as desi- nidade humana são duas faces da mesma moeda. Não haverá
gualdades sociais constituem o pano de fundo de inumeráveis verdadeira paz sem o respeito aos direitos humanos, sem uma
conflitos. A expulsão da terra, o analfabetismo, o trabalho escravo, distribuição eqüitativa dos bens produzidos coletivamente e sem
o tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual são, um conceito universal de cidadania.
entre outras, suas expressões mais conhecidas. O resultado A paz tem diversas dimensões. Entre elas, destacamos a
é a exclusão social crescente, a miséria, a fome e a falta de dimensão ecológica, que requer o uso correto e justo dos re-
condições mínimas de vida. No fim da linha, desfila pelas ruas cursos naturais e a preservação do meio ambiente; a dimensão
a grande multidão dos “sem”: sem-terra, sem-emprego, sem- socioeconômica, a qual passa necessariamente pelo desenvol-
teto, sem-saúde... vimento integral, e não apenas pelo crescimento da produção;
E temos, por fim, a violência repressiva. Quantas vezes, a dimensão político-cultural, em que as diferenças constituem
em nossa trajetória histórica, o punho de ferro da Polícia ou do não um motivo de divisão, mas de recíproco enriquecimento e
Exército se abate brutalmente contra todo e qualquer tipo de a dimensão pessoal e familiar, no sentido de fortalecer os laços
organização, movimento ou luta social. Testemunhas disso são primários do encontro e reencontro.
os negros de Palmares, os camponeses de Canudos, os ope- Da mesma forma que na raiz da violência está o individua
rários do ABC paulista, os sem-terra de Eldorado dos Carajás lismo e o egoísmo exacerbados, na raiz da paz encontra-se
ou os índios de todo Brasil! a solidariedade. Sem a mão estendida e o coração aberto ao
pobre, ao excluído e ao indefeso, a paz não passará de ilusão ou
Compromisso com a paz retórica. A paz se constrói com gestos, leis, diálogo, encontros e
Esses clamores de violência exigem de todos um compromisso instituições em que todos e todas tenham iguais oportunidades.
concreto com a paz. Não a paz armada ou a paz dos cemitérios, Façamos um ponto final com as palavras do profeta Isaías: a
mas a paz que tem a justiça como fundamento. Nesse grande paz é fruto da justiça!
mutirão pela paz, nenhuma pessoa, entidade, organização,
movimento ou força social pode ser dispensado. Por isso é que Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade,
a CF/2005 é novamente ecumênica, como foi em 2000, quando Justiça e Paz – CNBB.
Testemunho
de evangelização
Luciana Ceretti, 47, italiana, pertence à
Congregação das Servas da Caridade e
trabalha no Brasil há 15 anos.
de Luciana Ceretti
N
o meu caminhar vocacional, Deus foi me preparando
aos poucos, passo a passo. Nasci e cresci num am-
biente religioso. Segui fielmente as diversas etapas
de inserção na vida cristã e pastoral. Conheci as
Irmãs Servas da Caridade no Oratório dominical,
inteiramente dedicadas às crianças, adolescentes e
jovens. Seu zelo apostólico chamava minha atenção.
Certo dia participei da festa do envio das primeiras Irmãs ao Bra-
sil: foi o primeiro chamariz missionário. Aos 17 anos comecei a
participar de encontros vocacionais. Mas, depois de certo tempo
grande luta se travou dentro de mim: abraçar o matrimônio ou
consagrar-me a Deus na vida religiosa? Finalmente as palavras
do Evangelho: “Vai, vende tudo... vem e segue-me” (Mc 10, 22)
desarmaram-me. O mesmo Jesus do jovem rico se dirigia a mim.
Encontrei-me frente a uma escolha da qual não podia fugir: dizer
não e ir-me embora triste como o jovem, ou dizer sim, assumindo
Arquivo Pessoal
O seguimento
Em 1968 comecei a minha caminhada de formação na Congre-
gação das Servas da Caridade e no dia 10 de março de 1972 Percebi que a primeira tarefa é evangelizar a si mesmo antes
pronunciei os primeiros votos na Itália. Completei minha formação de querer evangelizar os outros. Tornar evangélico o próprio
profissional e teológica e contemporaneamente trabalhei em ser: mente, vontade e coração para que tudo revele o Deus Uno
pré-escolas, dedicando o tempo que restava ao serviço pasto- e Trino a partir das ações corriqueiras do dia-a-dia. Em meus
ral paroquial no meio dos jovens. Porém, na medida em que a 15 anos de Brasil, continuo sonhando com a evangelização do
satisfação pelo que realizava crescia, sentia-me questionada mundo inteiro, porém, com um novo olhar. Aconteceu em mim
e, um pensamento martelava a minha mente: “como você pode uma revolução no que eu entendia por missão. Sonhava com
sentir-se bem, satisfeita no seu trabalho para Deus, na vida aventuras de viajar de barco rio abaixo, fazer longas caminhadas
confortável em que vive, diante de outras realidades carentes na floresta e tudo mais, em busca de pessoas a serem evangeli-
de tudo? É este o Cristo pobre que você segue?” zadas e promovidas em sua condição social. Hoje acredito que,
Deus em sua bondade, comunicou a cada pessoa uma parcela
A Missão evangeliza do seu infinito ser sem diferença de raça, cor, língua ou credo.
Meu pedido de deixar a Itália e partir para um lugar mais carente Descobrir esta realidade é graça. Tomar consciência é dom. Per-
de presença religiosa foi aceito. Aos 27 de janeiro de 1989 pisava ceber lá no fundo o grande tesouro que cada um carrega muda
em terra brasileira. Os desafios foram muitos: a língua, a cultura, o sentido da vida e a direção da busca da felicidade muda o ser.
o clima e a própria missão. Deus me pedia um trabalho interno na Hoje sinto e vivo a minha missão acreditando profundamente
Congregação e não de inserção no meio do povo empobrecido, nesta verdade que pertence a cada ser humano.
como eu sonhava. O contexto me levou a amadurecer uma nova
visão de missão que não consiste no muito fazer, mas, no ser. Luciana Ceretti é irmã missionária das Servas da Caridade em São Paulo, SP.
TAIWAN:
Superfície...............36.000 Km²
População..............22.000.000 hab.
Católicos.................7,4 %
Capital....................Taipé
luz na escuridão
“Este é nosso propósito:
Jaime C. Patias
de Consolação Soares
China e separada do continente pelo estreito de Formosa, Taiwan
tem clima marítimo subtropical. A partir do século XVII, foi muito
N
visitada pelos navegantes holandeses, espanhóis e portugueses.
asci em Soure, Pará, mais precisamente na foz do Esses últimos deram à ilha o nome de Formosa, Hermosa.
Rio Amazonas, ao norte do Brasil. Soure está na Ilha
de Marajó, a maior ilha marítima-fluvial do mundo, Ser Igreja em Taiwan
com cerca de 50.000 quilômetros quadrados. Ela é A Igreja de Taiwan é uma comunidade minoritária, numa so-
composta por doze municípios, sendo o maior deles, ciedade completamente pluralista, como uma colcha de retalhos,
Soure, com aproximadamente 20.000 habitantes. marcada por diversas religiões. É uma pequena luz na escuridão.
Meus primeiros anos de estudo foram realizados no Instituto Esta Igreja, apesar de pequena em número de católicos, não
Stella Maris, dirigido pelas Irmãs Agostinianas Missionárias. tem complexo de inferioridade e nem pretende ser grande. O
Neste cantinho religioso aprendi a conhecer mais a Deus e a ter que importa é acolher o Reino de Deus e cumprir a missão com
gosto pela vida de oração. Com o passar dos anos, senti uma sensibilidade em relação à realidade, com um coração grande,
grande necessidade de conhecer mais de perto a espiritualidade tendo cada vez mais uma visão ampla para perceber todas as
de Santo Agostinho e a missão das irmãs. raças como uma só família.
Hoje como ontem, a Vida Religiosa tem a missão profética de
Realização do sonho ser testemunha num mundo marcado por tanta ganância, divisão,
Aos 17 anos, em 1982, realizei o meu grande sonho de guerra e injustiça em todos os níveis. Nossa tarefa apostólica é
ser Agostiniana Missionária. Os primeiros anos de formação de cultivar uma sólida espiritualidade de ação, descobrindo Deus
foram em Soure, e o Noviciado, em Belém do Pará, no Guamá, na vida e em tudo o que fazemos, de uma maneira concreta,
bairro periférico da cidade. Nesta realidade, marcada por várias nesta realidade asiática, cheia de encantos e mistérios.
facetas, experimentei de perto o que é o sentido da pobreza e É’ nesta realidade que o Senhor me chama. Não resta dú-
a grande dinâmica de acolhida às famílias. O Juniorato foi feito vida que a vida diária é um desafio constante e também uma
em São Paulo, onde professei os votos perpétuos, no dia 18 riqueza de aprendizagem. Minha fé em Jesus e a missão na
de abril de 1993. China a que fui convocada a viver, me oferecem uma oportuni-
Faz quatro anos que estou na missão de Taipé, Taiwan. dade de renovação e sinto-me cada vez mais enraizada nesta
Somos uma comunidade internacional e estamos aprendendo cultura. Falta muito para aprender e o caminho da inculturação
a língua chinesa. A ilha de Taiwan Formosa é pequena, de re- é indispensável.
duzidas proporções, com uma extensão de 36.000 quilômetros
quadrados, sendo Taipé a capital. Situada na costa oriental da Consolação Soares é irmã Agostiniana, missionária em Taiwan.
Carmpanha a F
d
a C
n
Abordando a solidariedade como
amor gratuito construtor de segurança
e indispensável para o bem de
todos, a Campanha da Fraternidade
2005 é ecumênica, e alerta para a
necessidade de paz na sociedade.
D
contexto em que somos chamados a viver a fé: muitas
atividades permanentes se originaram de Campanhas da
Fraternidade, como aconteceu, por exemplo, na Pastoral
e novo nos preparamos para uma Campanha da Fraternidade. do Menor;
Já fazemos isso há quatro décadas e existe o risco de nos e) é um processo de educação popular para questões canden-
acostumarmos tanto com esse projeto que podemos até não tes da realidade: o tema de cada Campanha é trabalhado
perceber o quanto é surpreendente o seu potencial. por especialistas e depois traduzido em linguagem mais
Há considerações que valem para qualquer Campanha da simples. Os dados mais importantes, as estatísticas, as
Fraternidade: causas e conseqüências de cada problema ficam ao alcance
a) é um modo bem concreto de viver o clima de conversão da da comunidade. Assim, ao longo desses quarenta anos, a
Quaresma: sem um tema específico, o chamado à conversão Campanha da Fraternidade foi se tornando uma oportuni-
poderia ficar genérico, vago, com menos força mobilizadora; dade muito especial para o povo crescer, não só na fé, mas
b) é uma interação bem eficiente entre a fé e a vida cotidiana: também na prática consciente da cidadania.
todo o material de uma Campanha da Fraternidade ilustra
esse princípio catequético básico, confrontando os problemas Etapas da Campanha
da realidade com as orientações da Bíblia e da Igreja. Não Por todos esses motivos, é fundamental aproveitar bem todas
apenas se pede a interação, mas os roteiros de atividades as possibilidades de uma Campanha da Fraternidade. Não se
mostram pedagogicamente como isso se aplica na prática trata apenas de um tema a ser apresentado numa palestra, de
da evangelização; cartazes a serem expostos na igreja, de uma coleta a ser feita
c) é uma importante oportunidade de comunicar à sociedade no Domingo de Ramos. A Campanha pode realizar grandes
civil a posição da Igreja sobre aspectos relevantes da pro- transformações, tem múltiplas conseqüências. Pode ser um
moção da justiça: a Campanha não fica restrita ao espaço processo missionário de inesperada amplitude se fizermos um
interno da Igreja. Aparece nos jornais e na TV, é levada a planejamento que nos capacite a perceber todo o seu potencial.
instituições da sociedade para esclarecimento e debate, Por isso, apesar de ser desenvolvida, como tempo forte, na
permite e mesmo solicita parcerias com grupos que não Quaresma, é bom considerar que a Campanha tem três etapas:
fazem parte do nosso quadro de agentes pastorais; preparação (o planejamento, o estudo do material, a capacitação
d) É ocasião para gerar atitudes concretas de socorro aos dos agentes); realização (comunicação do tema, de variadas
necessitados a partir de uma sensibilidade maior para o maneiras, ao mais amplo público possível, interferência na
onde a paz seja vivida com o devido respeito à essencial dignidade humana.
dos os frutos que esse
importante processo é
capaz de produzir.
Tudo isso vale
para qualquer Cam-
panha da Fraternidade. Neste ano de 2005, porém, temos que
considerar dois aspectos específicos: o tema do ano e o caráter
ecumênico que o trabalho assumiu. Esses dois aspectos estão
relacionados. O tema foi escolhido pensando numa continuidade está com as Igrejas do CONIC.
Já pelo próprio processo de criação da Campanha, houve
uma experiência de solidariedade e paz. Foi bonito ver as equi-
Organizadores da Campanha
Não se trata de uma Campanha gerenciada pela Igreja
Católica, coordenada, como de costume, pela CNBB, na qual
outras Igrejas seriam convidadas a participar. A intenção de
garantir uma participação das Igrejas em nível de parceria
igualitária fez com que o comando da Campanha passasse para
um organismo ecumênico. Assim, como já havia ocorrido no
ano 2000, a Campanha ficou por conta do Conselho Nacional
de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), do qual fazem parte sete
Igrejas como membros plenos: Igreja Católica Romana; Igreja
Metodista; Igreja Presbiteriana Unida; Igreja Ortodoxa Siriana;
Igreja Episcopal Anglicana; Igreja Evangélica de Confissão
Luterana; Igreja Cristã Reformada. Outras Igrejas que queiram
participar serão acolhidas com alegria, mas a responsabilidade Grito dos Excluídos 2004
de criação de materiais, decisões e coordenação do processo Ipiranga, São Paulo
um apêndice ou atitude opcional, mas como algo que deve perpassar a identidade católica. dado e recebido
entre as pessoas,
que faz a vida valer
a pena. Precisar uns
dos outros não é um prejuízo, é uma oportunidade fantástica
de partilha, de construção de amizade, de complementação
alegre e produtiva. Por isso, uma das idéias fortes do texto-
base se inspira na noção de que a segurança depende mais
da confiança mútua do que da capacidade de defesa. O texto
diz: “a porta mais segura é a que não precisa ser trancada”.
São assim as portas da Jerusalém celeste, descritas no livro
do Apocalipse: portas que nunca precisam ser fechadas porque
não há inimigos a temer. Isso valeria também para as portas do
coração humano, numa proposta de busca da reconciliação em
vez do cultivo de ressentimentos.
Nesse espírito, o texto valoriza muito tudo o que já é feito,
no Brasil e no cenário internacional, na direção da construção
da paz. É um texto que quer ser mais anúncio do que denúncia.
A denúncia existe, é claro, mas apenas para situar o problema.
Pensou-se que seria mais animador destacar como a consciência
do homem e da mulher de hoje já progrediu e criou processos
de mobilização para um mundo melhor e mais fraterno. Seria
interessante que, dentro desse espírito, cada comunidade pro-
curasse fazer um levantamento de tudo que há de bom como
esforço solidário na realidade local, dentro e fora das Igrejas.
Pensamos que isso funciona melhor do que ficar só no “muro
das lamentações”. Ações concretas que já existem são um forte
apelo à cooperação. E elas são muitas, em todas as Igrejas e
no mundo secular.
D
epois de um longo discernimento da Congregação,
no início de 1988, quatro missionários iniciaram comunhão e discernimento em sua realização.
presença e atividades no continente asiático, mais
precisamente na Coréia do Sul. Dentre os missionários
que partiram estavam um italiano, um espanhol, um Depois de um detalhado discernimento comunitário, no iní-
colombiano e eu, um brasileiro. Levávamos conosco cio de 1992 iniciávamos a nossa primeira atividade missionária
o entusiasmo de estar iniciando algo novo e significativo para o propriamente dita, ou seja, inserção numa favela da periferia da
Instituto mas, ao mesmo tempo, levávamnos a responsabilidade cidade de Incheon. Foi uma experiência que teve seus momentos
pela missão de abrir as portas do mais populoso e menos cris- difíceis, mas que foi muito positiva e enriqueceu nosso pequeno
tão dos continentes. As primeiras impressões foram marcadas grupo. Enquanto isso, alguns novos missionários iam chegando
pelo diferente, pela novidade. A língua foi certamente o maior e timidamente um ou outro jovem coreano se apresentava para
desafio. Em quase nada se pareceu com anteriores experiên- discernir a vocação e iniciar um caminho de formação junto à
cias de aprendizagem de um novo idioma. Foi literalmente um nossa comunidade.
retornar a ser criança...e não por alguns meses somente, mas Enquanto a comunidade de inserção procurava estabelecer
por alguns anos. Porém, o entusiasmo foi sempre mais forte uma identidade e abrir caminho, na casa central iniciavam-se as
que as dificuldades e com um forte espírito comunitário nos primeiras atividades de animação e formação missionária para
preparávamos para melhor responder aos desafios que aquela leigos e também de formação para algum jovem candidato à
cultura e aquela Igreja nos apresentavam. vida religiosa missionária.
Um nov
de Luiz Balsan e Lírio Girardi de ser
C
om a nova teologia que se desenvolve de modo
particular a partir do Concílio Vaticano II, passa-se a
Igreja
dele, não como quem se confunde
com ele, mas como testemunha que
apela e se compromete a transformá-
lo em um lugar mais humano.
Jaime C. Patias
há uma diversidade de carismas, frutos
de um único Espírito, em vista do bem
de toda a comunidade humana. Como
fruto destes dons, há uma diversidade
de serviços e ministérios que supõem
tarefas e responsabilidades distintas.
Tanto a atitude de negar esta diversi-
dade, quanto a de negar a importância
da contribuição de cada membro, são
atitudes que empobrecem a Igreja e
obscurecem a multiforme manifestação
do Espírito. É por isso que a Igreja fala
de comunhão eclesial como comunhão
orgânica. Esta expressão quer indicar
que não se trata de uma comunhão
de iguais, mas, pelo contrário, rica de
diversidade. É com esta riqueza, na
valorização do que é próprio de cada
um, como um único corpo, que a Igreja
vive a sua missão. Como membro deste
Comunidade São Caetano, Três de Maio, RS. único corpo, congregado pelo mesmo
de um Pai que quer que a sua obra salvadora se estenda aos Espírito, todo cristão é convocado a participar na única missão,
demais povos do mundo. É esta compreensão que leva o profeta a partir do seu lugar e com respeito pelos serviços, ministérios
Isaías a sonhar: “dias virão em que o monte da casa de Deus será e responsabilidades dos demais.
estabelecido no mais alto das montanhas... A ele acorrerão todas
as nações” (Is 2,2). A imagem de Povo de Deus nos faz pensar Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidade e doutor em Teologia.
também em um povo a caminho – o Povo de Deus permaneceu, Lírio Girardi é missionário e pároco da Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR.
por quarenta anos, como errante no deserto. De forma análoga,
na história humana, nada se apresenta como pronto e acabado.
A própria vida se apresenta como um dom a ser construído dia
após dia. Assim é também a missão da Igreja: nos encontramos Para Refletir
sempre a caminho na construção do Reino aqui entre nós, na 1. Quais são as principais novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II
história dos homens, aberta para a sua plenitude na eternidade. na compreensão da Igreja?
Esta Igreja que é Povo de Deus é, portanto, enviada ao mundo
para colocar-se a serviço dele, não como quem se confunde 2. O que se entende por comunhão orgânica?
com ele, mas como testemunha que apela e se compromete por 3. Qual a diferença entre Igreja sociedade perfeita e Igreja mistério?
transformá-lo em um lugar mais humano.
um processo histórico
A V edição do FSM volta a ocorrer em dos mercados em cada país e nas relações internacionais. A
Porto Alegre, capital do Rio Grande do idéia de realizar o Fórum no Brasil teve um efeito simbólico: Porto
Alegre, hemisfério Sul, capital de um Estado que se tornava cada
Sul, entre os dias 26 a 31 de janeiro de vez mais conhecido em todo o mundo por suas experiências
democráticas e de luta contra o neoliberalismo.
2005. Cerca de 150 mil participantes O início do processo
são esperados. A realização da I edição do FSM, com a participação de
20.000 pessoas provenientes de 117 diferentes países, evi-
denciou a capacidade de mobilização que a sociedade civil
tem, frente a uma metodologia caracterizada pela garantia da
diversidade e co-responsabilidade no processo de construção
do evento. Embora a mídia tradicional não tenha dado atenção
ao Fórum, 1.870 jornalistas foram credenciados. Em busca da
continuidade, o então Comitê Organizador do FSM (atualmente,
parte da Secretaria) propôs o estabelecimento de uma Carta
de Princípios, de maneira a garantir o FSM como um espaço e
processo permanente em busca da construção de alternativas
em âmbito mundial. Para isso constituiu-se em 2001 o Conselho
Internacional (CI) do FSM, integrado por redes temáticas, movi-
mentos e organizações que acumulam conhecimento e experiência
na busca por alternativas à globalização neoliberal. A ação do
CI favoreceu uma maior interlocução entre as organizações e
apoiou a estruturação de comitês de mobilização nacionais, de
fóruns temáticos e regionais, assim como dos eventos globais
Antônio Milena
O
Fórum Social Mundial (FSM) foi realizado pela pri- A internacionalização do FSM
meira vez na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Em 2004, em sua IV edição, pela primeira vez, o FSM foi
Sul, entre 25 e 30 de janeiro de 2001, com o objetivo realizado fora do Brasil. A decisão foi tomada pelo Conselho
de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Internacional com o objetivo de iniciar o processo de internacio-
Davos. Esse Fórum Econômico tem cumprido, desde nalização do FSM. O local escolhido foi Mumbai, na Índia e a
1971, papel estratégico na formulação do pensa- data: de 16 a 21 de janeiro de 2004. Contou com a presença de
mento dos que promovem e defendem as políticas neoliberais 74.126 participantes, representados por 1653 organizações de 117
em todo mundo. O FSM, nasceu como um espaço internacional países. Do total, 60.224 eram indianos. Cerca de 3.200 jornalistas
para a reflexão e organização de todos os que se contrapõem à representados por 644 órgãos de imprensa, vindos de 45 países
globalização e estão construindo alternativas para favorecer o fizeram a cobertura do evento. Uma novidade na metodologia
desenvolvimento humano e buscar a superação da dominação do processo FSM foi a inclusão, no programa, de grandes ativi-
Jaime C. Patias
Painel durante o III FSM.
dades autogeridas pelas organizações inscritas, como painéis, palestrantes para as suas atividades. Diferentemente dos outros
conferências e mesas redondas, totalizando 1.203 eventos. As anos, o Comitê Organizador não convidou nenhum palestrante.
atividades foram organizadas em torno dos seguintes eixos amplos: A lista preliminar dos confirmados para o FSM 2005 inclui o
Militarismo, guerra e paz; Informação, conhecimento e cultura; diretor geral da Organização Internacional do Trabalho, Juan
Meio ambiente e economia e Exclusão, direitos e igualdades. A Somavía, o físico austríaco e ecologista, Fritjof Capra, o escritor
mudança mais importante foi com relação ao rumo que o FSM português José Saramago, o teólogo e escritor Leonardo Boff, o
deveria tomar ao propor menos discursos e mais ações, colocando prêmio Nobel da Paz, o argentino Adolfo Perez Esquivel, além
em cheque o conceito do Fórum como “um espaço de debate” e de Boaventura de Souza Santos, Eduardo Galeano, Emir Sader
não um evento de onde derivam propostas de ação global. Essa e Eric Toussant, entre outros.
nova postura ganhou força com a formulação de estratégias de A dinâmica do FSM vai ao encontro dos novos desafios que
ações mais políticas que passariam a ser implementadas pelo o próprio processo gera: de ser instância de análise e debate,
conjunto de movimentos e organizações participantes, como foi que leve às ações globais. Em sua expressão cultural, social
o caso da Coalizão Global de Luta contra a Guerra. e política da sociedade global civil, continua tendo importância
como símbolo de esperança coletiva. A internacionalização do
De volta a Porto Alegre evento favoreceu uma dinâmica de mudanças, um processo de
A V edição do FSM volta a ocorrer em Porto Alegre, entre os amadurecimento e democratização. A realização dos diversos
dias 26 a 31 de janeiro de 2005. Cerca de 150 mil participantes fóruns regionais e temáticos em todo o mundo mostra que o
são esperados para o evento. Representantes dos cinco conti- evento está ganhando caráter de processo descentralizado.
nentes embalarão a caminhada e o show que marcarão o início
das atividades no dia 26 de janeiro. É pela cultura, no show Desafios
de abertura, que se dará a transição de Mumbai, sede da IV Um primeiro desafio é a diversidade diante da globalidade do
edição, para Porto Alegre. Neste ano, o FSM segue uma nova processo e a utopia como horizonte. A sociedade civil mundial,
metodologia. O programa foi montado apenas pelas entidades em sua imensa diversidade, está consciente da importância
participantes, que inclusive são responsáveis por convidar os da união para enfrentar os grandes desafios globais: a paz e a
justiça social. Isso implica em ver a diversidade como riqueza e
transformá-la na principal força.
Imprensa Um outro desafio é a mudança de um Fórum evento para
Até o fechamento desta edição (20/01), 3.458 profissionais um Fórum processo, e passar da capacidade de aglutinar para
de imprensa oriundos de 60 países dos cinco continentes uma capacidade de liderar ações. Especialmente desde Mumbai
estavam cadastrados e 128 veículos de comunicação muitos participantes se perguntam: e agora? É preciso identificar
estavam inscritos. um caminho, estratégias locais ou globais em direção à uma trans-
formação para não permanecer estancado num lema “um outro
Informações no site oficial. mundo é possível”, sem nunca chegar no como, quando e com
www.forumsocialmundial.org.br quem... O FSM deve demonstrar uma capacidade estratégica de
construir a sociedade, a política e a economia, para construir este
outro mundo possível. Sem assumir esses desafio, perderemos
A Revista Missões estará presente no FSM não somente a credibilidade, mas a histórica oportunidade que
2005 e dará informações diárias através do nos oferece o FSM.
site www.revistamissoes.org.br
Jaime Carlos Patias é missionário, diretor da revista Missões.
N
o coração do ser humano, talvez não haja palavra
mais querida do que paz. O mundo conturbado da esperança brilhar, eu
a que chamamos de moderno “se apresenta ao
mesmo tempo poderoso e débil, capaz de realizar vou cantar...”
o ótimo e o péssimo, o caminho da liberdade e da
escravidão, do progresso e do atraso, da fraterni- (Zé Vicente)
dade e do ódio” (GS. 9). No entanto, reconhecemos que há
incontáveis iniciativas provenientes de organizações sociais,
cívicas e religiosas, empenhadas em promover a vida, a justiça Vítima fatal (fábula)
e a paz no mundo. Já no Antigo Testamento o profeta Jeremias Certa vez, um velho lobo e um cordeirinho se encontraram
falava ao povo em nome de Javé: “conheço os desígnios que na margem de um riacho para matar a sede. Assim que o lobo
formei a vosso respeito – oráculo do Senhor – desígnios de paz avistou o frágil cordeirinho disse em tom agressivo: “Por que você
e não de desgraça, para vos dar um futuro e uma esperança” está sujando a água?” Respondeu o cordeirinho: “Não sou eu
(Jr 29,11). É a paz verdadeira que proporciona condições de senhor, pois estou mais abaixo”. Não se dando por vencido, disse
vida digna para todos. o lobo: “Ah! Foi você que falou mal de mim no ano passado!”
“Impossível, senhor, pois só tenho dois meses de idade”. “Bem,
Desordem mundial se não foi você, foi seu pai e você vai pagar por isso”.
No mundo, há riqueza suficiente para que todas as pessoas Esta fábula de Monteiro Lobato pode nos ajudar a entender
possam viver uma vida digna, mas acontece que ela não é quão frágeis e desprotegidas são as crianças diante do sistema
distribuída de forma justa e igualitária. De um lado, poucos têm de morte no qual o mundo está mergulhado. Para o lobo não
muito e do outro, a grande maioria, sobrevive. Veja a que ponto há nada que o possa satisfazer enquanto não realizar seus
se chegou: o mundo atual produz anualmente 25 trilhões de interesses, mesmo quando encontra ao seu alcance uma frágil
dólares de riqueza, dos quais 18 trilhões estão nas mãos dos 7 vítima. Quem seria esse lobo cruel no nosso mundo? Por que
países mais ricos. Bastaria 1% dessa riqueza para acabar com atacar vítimas inocentes? O que pode fazer o cordeirinho para
a pobreza no mundo. Estima-se que o mercado de capitais mo- se livrar do lobo? (sugestão: organizar uma dinâmica de grupo
vimente diariamente 20 trilhões. Bastariam 2 desses 20 trilhões para encontrar uma saída para o cordeirinho).
que se aplicam diariamente para resolver os maiores problemas
da miséria no mundo. Gasta-se hoje ao ano 900 bilhões de dó- Ano novo, vida nova!
lares em armamentos, dos quais 50% só nos Estados Unidos. “Barriga cheia, coração contente”, reza um dito popular. Mas
Vive-se num escândalo permanente. o coração é feliz de verdade quando está em paz. O mundo
nos apresenta 5 milhões de crianças morrendo de fome a cada
Arquivo
conecxão jovem
Jaime C. Patias
solidariedade
e paz
Os jovens têm o dever de lutar para
que a paz seja vivenciada, construindo
uma cidadania planetária baseada na
responsabilidade universal.
E
lutar para que ninguém seja submetido a condições degradantes,
ste ano, a Igreja Católica, juntamente com o Conselho não podemos permitir que pessoas sejam torturadas, violenta-
Nacional de Igrejas Cristãs, deseja aprofundar o tema das, massacradas e discriminadas, quer pela lógica cotidiana
da solidariedade e paz na Campanha da Fraternidade da violência, da repressão, da exclusão, quer pelo preconceito
Ecumênica. Acreditamos que um dos maiores desafios com relação à expressão religiosa. Em nossos encontros, reu-
com que nos defrontamos atualmente seja o favoreci- niões e celebrações, é necessário que lutemos contra a cultura
mento e o fortalecimento da paz. E nós, jovens, não racista existente na sociedade, contra o sexismo, a intolerância
podemos ficar de fora desta discussão porque promover a paz religiosa e a homofobia. Agindo assim estaremos contribuindo
requer não apenas a proclamação de idéias pacíficas, mas, en- para a ampliação da democracia e da justiça social e ajudando
tender que a paz verdadeira traz consigo solidariedade, justiça a criar a cultura da paz.
e igualdade social.
Atualmente, a despesa global com armamentos é 2.400 O exemplo de Jesus
vezes mais elevada que a despesa a favor da paz. Meio milhão Não podemos deixar de mencionar quem mais lutou e tentou
de cientistas em todo o mundo estão fazendo pesquisas e desen- instaurar uma cultura de paz: Jesus Cristo. O desejo dele era
volvendo tecnologia na área militar, ou seja, estão trabalhando a comunhão entre todos os homens e mulheres. Com Jesus o
dia e noite para criar armas, com o objetivo de obter lucro. Dados poder é colocado a serviço, ao invés de ser usado para oprimir.
estatísticos revelam que hoje são gastos com a indústria bélica, Significa o exercício da antiviolência por excelência, porque
cerca de 850 bilhões de dólares anuais. serve à justiça e à paz. O lugar do poder é o lugar de quem
serve, o primeiro deve fazer-se escravo, o último de todos e
Uma cultura da paz é possível aquele que está a serviço deve fazer-se como criança diante
Sendo a paz um valor inclusivo e a cultura, o modo coletivo de Deus (Mt 18,1;20, 26-27).
de sentir, pensar e agir, a cultura de paz requer novas formas
de convivência e mecanismos mais justos de distribuição de João Batista Amâncio é seminarista, atualmente fazendo noviciado em Buenos Aires, Argentina.
oportunidades, riquezas e saberes. Ela estimula conexões, de-
safia nossa capacidade criadora de soluções práticas, sustenta
os processos de mudança de consciência que, por sua vez, Participe escrevendo: Rua N.S. Consolata, 12
exigem o empenho de cada jovem para a construção de uma Sta Felicidade - CEP: 82030-190 - Curitiba-PR
cidadania planetária baseada na responsabilidade universal. E-mail: conexaojovem@revistamissoes.org.br
Precisamos recriar uma cultura de paz, tendo em vista que
Membros do Movimento
“Nós Existimos” na sede
da revista Missões, após
regresso da Itália.
de Joaquim Gonçalves
No Fórum Social Mundial de 2003, em
A
homologação da área indígena Raposa Serra do Sol Porto Alegre, foi lançada a Campanha
ganhou destaque na mídia também em função da
Campanha “Nós Existimos”. De fato, havia uma ação “Nós Existimos” a nível nacional e
popular de 1998 que contestava uma portaria do Ministro
da Justiça da época, determinando a demarcação da internacional. Idealizada e organizada em Boa
área indígena de forma contínua. Posteriormente, o juiz
federal Helder Girão, da Primeira Vara de Roraima, suspendeu Vista, capital de Roraima, agrupava várias
a inclusão dos três pequenos municípios, criados às pressas
dentro da área indígena, para impedir a homologação contí- entidades sociais em defesa das terras dos
povos indígenas, dos pequenos lavradores e
nua. O Ministério Público Federal, a União e a Funai entraram
com recurso, mas a juíza Selene de Almeida negou o pedido.
Finalmente, em setembro de 2004, o Procurador Geral da União
entrou com reclamação, alegando ser o mérito desse julgamento da população urbana pobre.
de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, o que
foi considerado correto. A partir daí, o presidente ficou com o área, que uma vez resolvidas as pendências jurídicas, assi-
campo jurídico limpo para poder resolver o problema. Mas, de naria o decreto. Agora ficamos com a sensação de que sua
repente, no dia 3 de janeiro último, o Supremo interveio nova- mão ainda treme perante o suposto furor de vários setores da
mente para suspender a homologação, através da Ministra Ellen sociedade, interessados na dominação direta ou indireta das
Gracie. É uma suspensão provisória, fruto de apadrinhamento áreas indígenas. Se a área for homologada em ilhas, são os
judicial a que vimos assistindo há anos, dando um presentão donos do dinheiro, que exploram as terras mais férteis, que
aos arrozeiros e fazendeiros. continuarão mandando.
O senhor presidente teve a oportunidade ímpar para resolver Missões entrevistou João Carlos Martinez, missionário na
o problema e não quis. Por que será? Em 10 de maio de 2004, região do povo Macuxi, sobre o sucesso da Campanha e as
ele assegurou pessoalmente, em encontro com indígenas da expectativas da homologação.
A
Região Norte tem somente 5,9% das matrículas no
Ensino Superior do país, mas apresentou em 2003
o maior incremento percentual: 21,1%, prevendo-
se que suas taxas de crescimento se mantenham
elevadas nos próximos anos. De um modo geral,
no Brasil, a taxa de expansão das matrículas tem
superado largamente a de crescimento populacional em geral e
dos jovens. Todavia, projeções de demanda futura devem con-
siderar a provável influência de outros fatores, particularmente
no caso das Instituições de Ensino Superior (IES) privadas,
como a capacidade de pagamento da população potencial, os
atuais índices de inadimplência, o crescente número de vagas
ociosas, o excesso de oferta em certas áreas do conhecimento
e em certas regiões, e a demanda crescente por educação
diferenciada e de boa qualidade.
Divulgação
De 25 a 28 de fevereiro acontecerá o 7º Fórum
Nacional de Assessores da Pastoral da Juventude.
O evento será realizado no Centro Pastoral Dom
Fernando Gomes, em Goiânia. O objetivo é desenca-
dear, junto aos assessores, a reflexão e discussão da
Educação na Fé. É um espaço de auxílio, no processo
de construção do Seminário Nacional sobre Processo
de Educação na Fé, que acontecerá nos dias 15 e 18
de setembro de 2005. Informações: (61) 313-8300 ou
pelo e-mail: pjb@pjb.org.br
Brasília
Reunião do Comina
Os membros do Conselho Missionário Nacional
(Comina) reuniram-se nos dias 16 e 17 de dezembro,
VOLTA AO BRASIL
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Porto Alegre
25 a 31 Janeiro de 2005
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Colaboração anual R$ 35,00 Quantidade por DEPÓSITO BANCÁRIO pelo Banco Bradesco, agência 0545-2 c/c 38163-2.
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01 assinatura R$ 35,00 A Revista Missões publica 10 edições no ano.
02 a 09 assinaturas R$ 25,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
10 ou mais assinaturas R$ 20,00 cada assinatura bimensal.
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