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Roraima

Homologação da Raposa Serra do Sol

Fotos: Devison Burkley


A
Área Indígena Raposa Serra do Sol – AI-
RASOL é habitada por aproximadamente
15 mil índios das etnias Macuxi, Wapixana,
Ingarikó, Patamona e Taurepang. O processo
de homologação foi entravado pela inércia do
Presidente da República e por ações judiciais propostas
pelos que querem impedir a demarcação contínua da
área, totalizando 1,7 milhão de hectares.
Com as ações ajuizadas, resumidamente, foram
concedidas liminares que retalharam a Portaria De-
marcatória número 820, uma vez que suspenderam
seus efeitos quanto aos municípios, vilas e respectivas
zonas de expansão, rodovias estaduais e federais e
faixas de domínio, imóveis com propriedade ou posse
anterior ao ano de 1934, plantações de arroz irrigadas
no extremo sul da área indígena identificada, faixa Famílias observam uma das 33 casas destruídas no ataque de 23/11/2004.
de fronteira e o Parque Nacional Monte Roraima, com 16.000 Judiciária de Roraima, após acatar, liminarmente, a Reclamação
hectares (decisão do TRF que manteve e ainda ampliou a liminar (RCL 2833) ajuizada pelo Ministério Público Federal, conven-
concedida pelo Juiz Federal de Roraima). cendo-se de que a competência para decidir sobre a questão
Diversos recursos foram interpostos contra as decisões da AIRASOL pertence ao Supremo Tribunal Federal. Nada mais
proferidas, importando destacar a atuação do Ministério Público impedia a homologação pelo Presidente da República.
Federal, através do Procurador-Geral da República, Cláudio A repercussão da notícia gerou polêmica no Estado e resultou,
Fonteles que protocolizou Ação de Suspensão de Segurança no dia 23 de novembro de 2004, na brutal e desumana destrui-
com o objetivo de impedir as liminares. Porém, a Ministra Ellen ção das comunidades indígenas Brilho do Sol, Homologação e
Gracie, relatora do processo, negou o pedido. Tal decisão foi Esquirã, comandadas pelos posseiros e com a participação de
Agravada pelo Procurador-Geral, entretanto o pleno do Supremo indígenas por eles cooptados.
Tribunal Federal negou provimento ao recurso. Nesse ínterim, A demora em assinar o decreto da tão sonhada homologação
algumas comunidades indígenas foram desmembradas, surgindo possibilitou o ajuizamento de uma Ação Cautelar por parte do
novas comunidades instaladas próximas de algumas ocupações Senador Mozarildo Cavalcante, culminando com a suspensão da
de não índios para evitar o avanço da degradação ambiental e, Portaria 820 do Ministério da Justiça, que estabeleceu a demar-
principalmente, qualquer expansão porventura pretendida. cação contínua da área, impedindo, assim, que ela se realize.
Respaldados nas decisões do TRF e do STF, tais ocupantes Um injusto retrocesso. Apesar de ainda ser possível recorrer
procuraram a Justiça Federal e conseguiram liminares para a dessa decisão, o julgamento do mérito somente ocorrerá após
retirada das comunidades indígenas, fato este impedido pelo o recesso do STF, ou seja, em fevereiro. Até que o impasse seja
Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Aires Brito, que resolvido, devemos nos unir aos povos indígenas na luta pelo
anulou todas as decisões prolatadas pela Justiça Federal, Seção respeito aos seus direitos, com perseverança fé e oração. 

Protesto durante visita do Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.


EDITORIAL
SUMÁRIO
Jaime C. Patias

Jan/fev 2005/01

Alicerces da Paz Cartaz oficial da


CF 2005 Ecumênica (CONIC).
Criança indígena.

A
Foto: Arquivo
vida, o pão, a paz e a liberdade são os quatro desafios
mais importantes que a humanidade enfrenta atualmente,  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
segundo João Paulo II. Iniciamos o ano de 2005 ainda Cartas
sensibilizados pela tragédia provocada pelo maremoto no  OPINIÃO--------------------------------------------------05
sudeste da Ásia. Os apelos à solidariedade continuam e Evasão na Igreja Católica
as vítimas necessitam urgentemente da ajuda de todos. Ricardo Castro / Estêvão Raschietti
Este ano a Campanha da Fraternidade, como já havia ocorrido no  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
ano 2000, é ecumênica e traz como tema “Solidariedade e Paz” Você sim, e por que não?
(ver encarte nessa edição). Rosa Clara Franzoi
Entre os pressupostos para uma boa convivência, encontram-  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
se os atos de aprender transmitir e educar para a paz. Além de Notícias do Mundo
Chiesa / Fides / Zenit
raízes sociais, econômicas e políticas, a paz possui uma dimensão
cultural que se manifesta em expressões produzidas e criadas pela  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
humanidade. Portanto, somos sujeitos e co-criadores de cultura e Na Bahia: entre as raízes e a utopia
Salvador Medina
a paz é um direito e dever que nos cabe, porque somos individual
e coletivamente responsáveis, seres da sociedade, dos povos e  CIDADANIA-----------------------------------------------12
nações da Terra. Neste sentido, a paz se constrói exatamente a Felizes os que promovem a paz
Alfredo J. Gonçalves
partir do poder entendido não como prerrogativa do Estado ou dos
grupos dominantes, mas como condição da própria humanidade.  testemunho-------------------------------------------13
Nova ótica de evangelização
De fato, a possibilidade da paz funda-se na habilidade humana, Luciana Ceretti
não apenas para agir, mas para agir em concerto, constituindo-se
em uma das mais decisivas experiências humanas.  testemunho-------------------------------------------14
Igreja em Taiwan, luz na escuridão
Um outro pressuposto para a paz é partir da não-violência. As Consolação Soares
soluções para o problema da violência terão alcance muito reduzido
enquanto baseadas em métodos violentos. Conforme afirmava  ENCARTE--------------------------------------------------15
Cristãos unidos na Campanha da Fraternidade
Gandhi: “a humanidade somente acabará com a violência através Therezinha Motta Lima da Cruz
da não-violência”. A não-violência, por um lado, significa a recusa
do ódio e do que destrói o outro; por outro, implica a substituição  HISTÓRIA DA MISSÃO----------------------------------19
A comunhão evangeliza
por uma outra força, a força da verdade e do amor. “A verdade Luiz Carlos Emer
vos libertará”, disse Jesus. Como método, a não-violência está
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------20
baseada no respeito absoluto à integridade das partes implicadas, Um novo jeito de ser Igreja
e faz da coerência entre fins e meios a sua estratégia e condição Luiz Balsan e Lírio Girardi
para sua eficácia, pois renuncia implicitamente a violência como
 ATUALIDADE----------------------------------------------22
meio. É preciso garantir que as partes envolvidas no conflito saiam V Fórum Social Mundial
ganhando para não criar ressentimentos que com o tempo venham Jaime Carlos Patias
a gerar mais violência. É por isso que a força das armas jamais  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
assegura uma paz duradoura. Paz para e com as crianças
Os conflitos não devem ser compreendidos como problemas Manuel Aparecido Monteiro (Néo)
que assustam. Eles são parte integrante dos processos humanos. O  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
grande problema é a forma como são enfrentados e resolvidos: de Juventude, solidariedade e paz
forma violenta ou não-violenta. Neste contexto, a paz se apresenta João Batista Amâncio
como um conceito dinâmico que nos leva a provocar, enfrentar e  ENTREVISTA-----------------------------------------------26
resolver conflitos de uma forma não-violenta e cujo fim é conseguir Sucesso do Movimento "Nós Existimos"
Joaquim Gonçalves
a harmonia das pessoas consigo mesmas, com a natureza e com
os outros. É muito importante perceber a paz, primeiramente como  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
uma atitude interior que encontra a sua expressão mais concreta Ensino superior na Amazônia
Comissão de Estudos da IES Católica na Amazônia
nas relações sociais. Essa condição é louvada por Jesus quando
anuncia: “Felizes os que promovem a paz”.   Volta ao Brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
Comina / CNBB / CPT

Missões - Jan/Fev 2005 3


Mural do Leitor
Ano XXXII - no 01 Jan/Fev 2005 Revista Missões
No dia 5 de dezembro, a Comunidade Juventude e ecumenismo
Diretor: Jaime Carlos Patias São Caetano, no interior do município de
Três de Maio, RS, teve a honra de cele- De 28 de dezembro de 2004 a 1 de
Editor: Maria Emerenciana Raia brar os 25 anos de sacerdócio e reenvio janeiro de 2005 realizou-se em Lisboa o 27º
do Pe. Osmar Zucatto para as missões Encontro Europeu de Jovens, organizado
Equipe de Redação: Joaquim F. da Tanzânia. Na ocasião, fiz um esforço e orientado pela comunidade de Taizé. Os
Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa e consegui mais algumas assinaturas da 40 mil jovens que participaram no evento
Clara Franzoi revista Missões: 25. Continuarei fazendo foram alojados em casas particulares e
divulgação durante o ano, pois é uma óti- instituições. As refeições tiveram a marca
Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, ma revista. Eu a utilizo em primeiro lugar da austeridade, que é um dos valores já
Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz para a minha leitura pessoal, depois para consagrados da espiritualidade de Taizé.
Balsan, Salvador Medina, Michelangelo as aulas, celebrações e encontros. É um Só no último dia as famílias tiveram a
Piovano, Júlio César, João Batista, excelente recurso para quem quer ver e oportunidade de oferecer na própria casa
Natalina Stringari, Agnese Casati, ter subsídios para si e para o seu traba- a refeição de despedida. O espírito ecu-
Ivanilda Santos da Silva, Corrado lho. Parabéns a todos que participam da mênico foi nota dominante em todos os
Dalmonego e Luigi Caramaschi construção desse meio de comunicação, atos organizados, sobretudo o da manhã,
formação e informação. dedicado à oração e o da noite, orientado
Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB,
pelo irmão Roger.
Dom Hélder, IPS, MISNA, Pulsar, Va-
Terezinha Turra
ticano
Rocinha, Três de Maio, RS. Informativo “Encontro” do IMC, Portugal.
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires
Nova igreja na Comunidade São Marcos
Jornalista responsável:
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Paulo Antônio Grant da Silveira


Administração: Eugênio Butti

Sociedade responsável:
Missioná­rio­s de Nossa Sra. Consoladora
(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições Loyola


(11) 6914.1922

Colaboração anual: R$ 35,00 missa dentro do novo espaço sobre o qual


AG: 545-2 CC: 38163-2 - BRADESCO se ergue a estrutura da igreja. No dia 31
Soc. Missionários de N.S. Consoladora
A nova igreja da Comunidade São de dezembro, o mesmo bispo dom Odilo
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
Marcos no Bairro da Pedra Branca, São celebrou a primeira missa. A Comunidade
Paulo, é uma obra levada a cabo com São Marcos está de parabéns por tão grande
Missões é produzida pelos
fé e suor em tempo recorde. No dia 21 façanha. O grande impulsionador desta
Missionários da Consolata
Fone: (11) 6256.7599 de março de 2004 foi lançada a pedra obra foi o padre José Radici, missionário
fundamental com missa campal presidida da Consolata. Há 15 anos, a Congregação
Missionários da Consolata por Dom Odilo Scherer, bispo auxiliar da o incumbiu de servir esta Comunidade.
Rua Josimo de Alencar Macedo, 413 Arquidiocese de São Paulo e secretário da Motivado pelos anseios dos moradores
Cx.P. 207 - 69301-970 Boa Vista/RR Conferência Nacional dos Bispos (CNBB). e perante a necessidade de um espaço
Fone: (95) 224.4109 Era a semente de um novo templo, moldado litúrgico maior, hoje tão difícil de encontrar
numa arquitetura singular, condizente com na cidade de São Paulo, quis a Providência
Membro da PREMLA (Federação de a geografia natural e humana e desenhada Divina que se chegasse à proprietária do
Imprensa Missionária Latino-Americana) pelas mãos de Cláudio Pastro. A igreja é terreno, aliás uma senhora católica fervo-
dedicada ao Evangelista São Marcos. Um rosa, que não duvidou em vender o terreno
Redação padroeiro que não está só porque a devoção para tal fim. A partir daí a Comunidade se
Rua Dom Domingos de Silos, 110 popular não hesitou em colocar ao lado dele entusiasmou para efetuar a compra. A
02526-030 - São Paulo outros santos como “coadjuvantes”. São próxima etapa será a transferência do lugar
Fone/Fax: (11) 6256.8820 eles: Nossa Senhora de Fátima, São José, atual de culto para o novo espaço litúrgico,
Site: www.revistamissoes.org.br Santo Antônio e Santa Filomena. prevista para o Natal deste ano.
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Apenas 286 dias. Foi esse o tempo
transcorrido para poder celebrar a primeira Pe. Joaquim Gonçalves, São Paulo, SP.

4 Jan/Fev 2005 - Missões


evasão na Igreja Católica

OPINIÃO
de Ricardo Castro

A
evasão de membros de Igrejas libertadora. Frente a este fenômeno, as Igrejas carregadas de uma linguagem inadequada
tradicionais ou históricas é parte históricas são desafiadas em dois grandes aos tempos. A Igreja deve se abrir para uma
de uma realidade que caracteriza o aspectos. Primeiramente, o fenômeno exige reflexão interdisciplinar mais atualizada. O
contexto histórico atual, chamado reformas estruturais por parte dessas Igrejas. seu futuro dependerá da maneira e do estilo
por alguns de “pós-modernidade”. A Em segundo lugar, a atualidade exige respostas de vivenciar, assumir e denunciar a temática
modernidade, com a exacerbação mais adequadas ao tempo, principalmente no contemporânea. Precisa-se de uma Igreja me-
do pensamento científico, fragmentou a realida- sentido da linguagem, do corpo e do simbólico. nos prescritiva de normas e mais motivadora,
de e secularizou o religioso. O momento atual Este enfrentamento do desafio atual deve ser criativa e estimuladora de uma vivência nova
se caracteriza principalmente pela perda de elaborado a partir de uma busca fundamental de da fé eclesial. As questões abertas e inéditas
confiança nas grandes utopias da era científica, autenticidade evangélica e vivência dos valores que a realidade histórica hoje nos apresenta
criando um espaço vazio para o retorno ou busca normativos da fé. Mais que afirmar verdades devem ser articuladas num clima de confian-
do espiritual. No contexto da pós-modernidade, doutrinais ou dogmáticas, a Igreja deve retornar ça e de pluralismo. Aqui se deveria aplicar o
a secularização não é sair da esfera religiosa, a experiência fundamental da fé – o encontro princípio “vacatio legis” – em casos em que as
mas é o declínio das religiões instituídas. Na com o Deus de Jesus Cristo nos excluídos e experimentações viriam antes das codificações,
atualidade, isto significa perda da importância empobrecidos de nossa sociedade. A Igreja, sabendo correr riscos, exigindo-se criatividade,
cultural do fator religioso. A religião ficou reduzida mais que se preocupar com comportamentos audácia e uma grande caridade. A Igreja deve
à esfera do culto e aos agrupamentos religiosos morais rígidos e afirmações incoerentes sobre resgatar a utopia, aquela que mantém viva a
específicos. Coexiste com outros valores e se procedimentos éticos, deveria investir energia esperança dos pobres. 
reduz à opção pessoal e ao âmbito da consci- na criação de estruturas de acolhimento, mise-
ência. Ocorre a perda da influência da religião ricórdia e compaixão. Ricardo Castro é sacerdote missionário e professor doutor em
na política e no social. É uma religiosidade que Na Igreja Católica se vive entre a paralisia Teologia Dogmática.
propõe a seus seguidores fins espirituais. É e o mal-estar. Alguns apresentam
uma tendência oposta às questões da década pautas para um novo Concílio. Sen-
anterior, de compromisso político e prática te-se a insuficiência das respostas,

de Estêvão Raschietti

A
Igreja Católica no Brasil está Apesar das conquistas e dos
particularmente alarmada diante avanços do Concílio Vaticano II para
da situação fragmentária da filia- colocar a Igreja em sintonia com os
ção religiosa, da perda de sua tempos, dos caminhos proféticos e
influência em grande parte da dos programas pontuais traçados pe-
Jaime C. Patias

população, do crescimento das las conferências latino-americanas


igrejas evangélicas e das pessoas que se de Medellín e Puebla, a complexa
declaram sem religião. O quadro é preocu- assimilação dessas inovações e
pante se consideramos que estes fatores se as inversões de marchas conser-
agravam nas camadas mais pobres e menos vadoras desencadeadas no atual
favorecidas. Uma das questões mais urgentes pontificado, tornaram a ação evangelizadora de exemplos de santos, mártires e missionários
é como “segurar” o rebanho que resta à Igreja da Igreja Católica em boa parte ineficaz no nos quais podemos nos inspirar. Hoje esses
Católica, qual a estratégia para motivar os fiéis novo contexto mundial. No curso dos séculos, testemunhos exemplares não deixaram de existir,
a manter e a reforçar sua identidade e anunciar a Igreja sempre enfrentou com uma ousadia mas há contínuas denúncias de comodismo e de
sua fé. Em primeiro lugar, há de se reconhecer extraordinária entraves e desafios para anunciar fechamento das comunidades católicas, de seus
serenamente que as transformações sociais o Evangelho. Uma constante na história da padres e bispos, de suas pastorais e movimentos,
no mundo e no Brasil incidiram profundamente evangelização desde os primeiros séculos, é que junto a uma sede de protagonismo altamente
na identidade e nos costumes das pessoas. os cristãos nunca se contentaram em restringir prejudicial para a vida da Igreja. Redescobrir o
Com o advento da modernidade, instaurou-se a mensagem de Jesus ao pequeno círculo espírito missionário significa redescobrir uma das
progressivamente uma ruptura irreversível da elitista, mas sempre procuraram os povos, as posturas fundamentais da tradição missionária:
unidade cultural e religiosa católica. A variedade massas, todas as pessoas. Não temos para os ora et labora (oração e trabalho...). 
de ofertas permite hoje redefinir identidades tempos atuais fórmulas mágicas ou tacadas de
perturbadas pela perda ou pela insuficiência marketing para resolver o problema de segurar Estêvão Raschietti é sacerdote missionário xaveriano, diretor
dos referenciais católicos. o rebanho. Talvez tenhamos um acervo imenso do Centro Xaveriano de Animação Missionária.

Missões - Jan/Fev 2005 5


Relato
de uma viagem
P Fotos: José Roberto Garcia
ermanecemos na Tanzânia durante 15
dias, de 25 de abril a 9 de maio de 2004.
Fomos especificamente com o objetivo
de visitar nossa irmã, Ir. Joselice Santi,
missionária da Consolata. Ir Joselice en-
contra-se pela segunda vez e há quatro
anos naquele país. Da primeira vez, trabalhou lá
durante 7 anos. Reside em Iringa, distante quinhentos
quilômetros da capital, Dar Es Salaam. Há várias
escolas, creches e enfermarias com atendimento
inclusive de maternidade, das Irmãs da Consolata.
As missionárias realizam um trabalho humanitário de
extrema utilidade, e pudemos constatar quanto bem
fazem àqueles que podem ser beneficiados, pois
eles obtém, através dele, as condições mínimas de
alimentação, educação e saúde. Sentimos a preocu-
pação das Irmãs em sempre querer fazer algo mais,
pois há tantos necessitados, porém, suas forças são
limitadas pela falta de pessoas voluntárias, remédios Creche em Ikonda, Tanzânia.
e recursos financeiros.
Visitamos algumas obras dos missionários em Dar Es Salaam, muita pobreza e miséria, constatamos que o sofrimento do
Morongoro e Iringa. Encontramos várias Irmãs brasileiras da povo africano diferencia-se do nosso por problemas graves e
Consolata na Tanzânia, todas trabalhando com muita dedica- aparentemente insolúveis, causados por dificuldades naturais,
ção e entusiasmo, superando problemas pessoais, em lugares como o clima muito seco, tornando-se difícil a produção básica
distantes e enfrentando todo tipo de dificuldade, porém, sempre de alimentos. Outro agravante são as doenças, como a malária
dispostas a ajudar aquelas pessoas simples e necessitadas. Por e a Aids. Mesmo com tantas dificuldades e problemas enfren-
mais que se saiba, através dos meios de comunicação, sobre a tados no dia-a-dia, encontramos um povo conformado com a
situação do povo africano, é muito diferente o que encontramos situação. Não encontramos pessoas agonizando nas ruas ou
pessoalmente. Muito embora tenhamos aqui também no Brasil mesmo pedindo algo a quem quer que seja. Isso é o que todos
aqui imaginam que acontece em lugares com
tanta miséria. Unicamente procuram um meio de
sobrevivência, pois o desemprego e a falta de
recursos, não só da população, como também
do governo, agravam ainda mais as dificuldades.
Quando fomos abordados por alguém, sempre
encontramos pessoas animadas e conformadas,
desejando apenas vender ou fazer algo para
obter o mínimo para sua sobrevivência.
Concluindo, o que constatamos é que o que
falta ao povo africano são perspectivas para algu-
ma mudança, mesmo que a longo prazo. A África
não desperta atenção do mundo, não há interesse
em investir no continente, ainda que seja para
minimizar o grande sofrimento daquele povo, já
que em nosso mundo capitalista ninguém investe
nada sem que haja uma retribuição em troca. 

Osmar Santi
Campo Grande - MS
Centro de formação de catequistas.

6 Jan/Fev 2005 - Missões


pró-vocações
Você Sim, e por que não?
E a sua vida mudou Em todas as épocas e em todos os lugares

C
erta feita, havia um rei que gostava de fazer coisas um deste mundo, sempre houve e sempre haverá
tanto estranhas, sempre com o intuito de ensinar os
funcionários do palácio a serem espertos e trabalhado- pessoas que, movidas por um misterioso
res. Uma noite, enquanto todos dormiam, pegou uma
pedra e colocou-a bem no meio da estrada que dava impulso interior, são capazes de fazer coisas
superiores às próprias forças.
para o palácio. No dia seguinte ficou espreitando para
ver o que iria acontecer. Logo cedo, veio um dos empregados
trazendo a ração para os animais. Percebendo aquela pedra,
reclamou, esbravejou e teve que fazer muitas manobras para de Rosa Clara Franzoi
poder passar. E a pedra ficou lá... Depois dele veio um dos

O
guardas do palácio. Assobiando distraidamente, quase esbarrou
na pedra. Também ele xingou, ficou nervoso, mas seguiu adiante que levou aquela jovem a fazer o que as demais
e a pedra lá ficou... E assim, ao longo do dia passaram várias pessoas não tiveram coragem de fazer? Ela escutou
pessoas. Ao ver a pedra, todas se irritavam, praguejavam con- o coração e agiu. Motivada por aquele impulso e por
tra quem fizera aquela brincadeira de mau gosto, mas a pedra uma sensibilidade de amor ao próximo, ela esqueceu
não saía do lugar. Por fim, uma jovem voltava do seu trabalho. todo o cansaço e agiu com decisão. Muitas vezes, o
Estava muito cansada. Diante da pedra, parou e pensou: “Está comodismo, a preguiça e o egoísmo nos paralisam
escurecendo e se esta pedra ficar onde está, alguém poderá se diante dos desafios.
machucar”. Esquecendo todo o cansaço, esforçou-se para rolar Jovem! A vocação, normalmente, parte de um sentimento
a pedra à beira da estrada. E, ao fazê-lo percebeu que algo altruísta que leva a pessoa a esquecer-se de si mesma e a dar
estava embaixo dela. Fez mais um esforço e conseguiu ver uma uma resposta corajosa e decidida em favor de alguém. Pes­
caixinha. Tomou-a nas mãos. Era pesada. Curiosa, mais do que soalmente, acredito que toda vocação nasce de uma provocação.
depressa, abriu-a. Não acredita no que via. A caixinha estava O rei provocou os passantes. Todos viram a pedra... apenas
cheia de ouro... E o rei, imediatamente chamou aquela jovem um percebeu o sinal; os demais perderam a grande chance
para trabalhar no seu palácio... de melhorar a própria vida. Penso que hoje a nossa juventude
precisa ser provocada para acordar do sono pesado que a so-
Jaime C. Patias

ciedade hedonista injeta continuamente, como morfina, no seu


sangue. Uma juventude adormecida jamais ouvirá os apelos
do povo e muito menos os apelos de Deus, que chama a lutar
por um mundo melhor. (Leia com atenção o texto de São Paulo
aos Romanos 12, 9-15).
Hoje, o mundo, a Igreja e a sociedade, precisam de jovens
que tenham a coragem de remar contra a corrente. Que saibam
dizer “sim” aos apelos de Deus, aos valores cristãos e vivê-los
com alegre disposição.

Atenção! A vocação passa por estes sinais


Jovem! Se alguma coisa deixa você inquieto(a)... Se algo
atrai você como um imã... Se sente como seu o sofrimento, a luta
e as esperanças dos irmãos... Se estas coisas fascinam você...
Atenção, porque a vocação passa por estes sinais. Deus está
chamando você. Você sim, e por que não? 

Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Joaquim Gonçalves


Encontro Missionário para Jovens Rua Itá, 381 - Pedra Branca
Tema: "Vocação Missionária Além-fronteiras"


02636-030 - São Paulo - SP
Data: 02 e 03 de abril 2005 Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br

Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253
02611-011 - São Paulo - SP 69072-970 - Manaus - AM
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br Tel. (92) 624-3044 - E-mail: imcmanaus@manausnet.com.br

Missões - Jan/Fev 2005 7


de 2004 e deixaram mais de 1500 mortos na parte
ocidental da ilha de Luzon, são uma recordação recente
para eles, que bem conhecem o significado da fúria
da natureza, capaz de causar morte e destruição. Por
isto, os filipinos estão respondendo com generosida-
de, demonstrando sua inclinação à solidariedade. Os
missionários Oblatos na Ásia e Oceania, em conjunto
com o Escritório Justiça e Paz da Cúria generalícia
de Roma, criaram uma coordenação para as ajudas,
que serão destinadas às missões dos Oblatos nos
países atingidos, na Índia, Sri Lanka, Indonésia e
Tailândia.
Ásia
Tsunami: solidariedade já! Cuba
2005: Ano Missionário
VOLTA AO MUNDO

A anulação total, imediata e incondicional da dí-


vida pública externa dos onze países afetados pela O Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missioná-
tsunami, no sudeste da Ásia e no leste da África, será rias de Cuba, Pe. Raúl Rodríguez Dago, informou que
proposta durante o Fórum Social Mundial, que ocorre a Igreja de Cuba declarou o ano de 2005 como Ano
de 26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre. No total, as da Missão. O evento terá como slogan “Anunciamos
nações atingidas pelas ondas gigantes acumulam Cristo acompanhados da Virgem da Caridade”. Uma
uma dívida de US$ 272 bilhões. Apenas a Indonésia, das principais atividades será a Primeira Assembléia
um dos países mais afetados pela catástrofe, deve Nacional Missionária, que se realizará em Havana, de
US$ 130 bilhões. A proposta que estará em pauta no 24 a 28 de maio. O evento eclesial, que reunirá toda
FSM 2005 nada tem a ver com as negociações que a Igreja missionária cubana, quer reafirmar, como o
estão sendo realizadas no âmbito do G-7 e do Clube Segundo Congresso Missionário Americano (CAM 2
de Paris, que inclui também a Rússia. Os países de- - COMLA 7), que a Igreja vive para evangelizar.
senvolvidos discutem a concessão de moratória ou
o congelamento das dívidas, o que implica apenas Suíça
em sua suspensão temporária. Infância Missionária em ação
Turquia Nos dias próximos à festa da Epifania (6 de janei-
Liberdade religiosa ro), as crianças suíças da Pontifícia Obra da Infância
Missionária coletaram fundos para as crianças dos
O parlamento europeu já sancionou definitiva- bairros pobres de Pattaya, na Tailândia. Depois do
mente a entrada da Turquia na Comunidade. Uma maremoto de 26 de dezembro muitas crianças tailan-
das condições exigidas desde 2002 se referia às desas perderam suas casas ou seus pais. Há muitos
igualdades democráticas e ao respeito pelos direitos anos, os fundos coletados pela Infância Missionária da
humanos, que implica também a liberdade religiosa. Suíça são destinados a projetos para as crianças na
Na época, a Santa Sé advertiu que na Turquia era Tailândia, Indonésia, Sri Lanka e Índia. Muitos desses
difícil estabelecer critérios sobre a liberdade religiosa, projetos compreendem escolas, orfanatos ou maternais,
mas o ministro das relações exteriores assegurou que administrados pelas congregações religiosas ou pelas
ela seria colocada em prática. Contudo, isso não se dioceses desses países destruídos ou danificados, e
concretizou. Quando o parlamento europeu votou que agora necessitam urgentemente de ajuda.
em 15 de dezembro a entrada definitiva da Turquia,
a cláusula que exigia o reconhecimento de todas as África
igrejas com personalidade jurídica foi retirada. Terra Conselho de Paz e Segurança
natal do Apóstolo Paulo, chamada na época de Ásia
Menor, a Turquia hoje tem cerca de100 mil cristãos, Entre os dias 10 e 11 de janeiro, em Libreville,
dos quais apenas 25 mil são católicos e os ortodoxos capital do Gabão, houve a primeira cúpula de che-
não superam os 10 mil. fes-de-Estado do Conselho de Paz e Segurança
da União Africana (UA). A cúpula debateu as três
Filipinas principais crises africanas: Darfur, Costa do Marfim e
Tsunami e relações inter-religiosas República Democrática do Congo. Trinta chefes-de-
Estado africanos foram convidados. Pela primeira vez,
Os missionários Oblatos de Maria Imaculada (OMI) foram chamados para o encontro outros nove países
nas Filipinas promoveram uma grande campanha de membros da Comunidade Econômica dos Estados da
coleta de fundos para as populações atingidas pela África Ocidental (CEDEAO) que não pertencem ao
tsunami. Os fiéis filipinos não ficaram insensíveis à Conselho de Paz e Segurança. 
tragédia que afetou os países vizinhos. A depressão
tropical e os tufões que atingiram as Filipinas no início Fontes: Chiesa, Fides, Zenit,
8 Jan/Fev 2005 - Missões
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
JANEIRO: Para que nos países de missão se
apresentem apóstolos santos e generosos,
decididos a anunciar a todos o Evangelho de
Jesus Cristo.
de Vitor Hugo Gerhard

M Fotos: Angelo Costalonga


ais da metade da população do mundo encontra-se
na Ásia e África, onde se localiza também a metade
das nações independentes. E estes são territórios
de missão do primeiro anúncio, exatamente porque
a imensa maioria de seus habitantes não chegou
ainda ao conhecimento de Jesus Cristo e o acesso
à fé cristã necessita ser oferecido com mais força.
Quem anda por estas partes do mundo, encontra ho-
mens e mulheres que dedicam energia e tempo na tarefa da FEVEREIRO: Para que os missionários se
evangelização. Certamente, são estes os apóstolos santos
e generosos do século XXI que, no anonimato e, na maioria conscientizem em seu trabalho pastoral:
dos casos, sem o reconhecimento devido, gastam a vida pelo
Evangelho e pela Igreja. sem um profundo amor a Cristo não
existe eficácia apostólica.
O anúncio explícito da Pessoa de Jesus, de Suas palavras
e obras, é a forma mais imediata do serviço, do diálogo e do

N
testemunho de comunhão fraterna que a fé cristã deseja oferecer
a estes povos. Sem este conhecimento de coração e mente, a estes últimos anos tive o privilégio e a graça de
tarefa da evangelização corre o risco de tornar-se uma espécie acompanhar a preparação e a partida de muitos
de “conjunto de valores” a mais no grande mosaico das culturas missionários e missionárias, para regiões distantes
e religiões, diluindo-se e perdendo-se na avalanche de tudo o dentro do Brasil, para países de língua espanhola e
que é oferecido hoje às pessoas, seja pela tradição oral, escrita, para a África. Foram algumas centenas de homens
ou mesmo através dos modernos meios de comunicação. A fé e mulheres, sacerdotes, consagrados e leigos. É
cristã, antes de tudo, é a adesão pessoal à Pessoa de Jesus, bonito ver a disposição dessa gente em se desfazer de tantas
Sua obra e Seu Projeto. coisas pura e simplesmente para responder a um chamado mis-
sionário. O êxodo (saída) que fazem é geográfico, pois partem
para terras estranhas; é um êxodo existencial, pois saem de si
mesmos; é um êxodo humano-afetivo, pois rompem com laços
históricos e relacionamentos profundos; é um êxodo cultural, pois
deixam suas raízes e seu berço. Por fim, não deixa também de
ser um êxodo religioso, pois acabam por deparar-se com outros
universos religiosos, muitas vezes distantes daqueles com os
quais estavam acostumados a estabelecer relações de diálogo
e partilha fraterna.
Após estes anos, cheguei a uma conclusão central: o que
move essa gente para a missão nada mais é do que o amor a
Jesus Cristo e seu conseqüente amor aos homens. Não há outra
motivação com toda esta força, capaz de pôr em risco a própria
vida, deixando tanta coisa e tanta gente para trás. Já repatria-
mos missionários alegres e realizados pela missão cumprida; já
repatriamos missionários esquálidos e debilitados; já repatriamos
os corpos de missionários mortos na missão e pela missão. A
eficácia apostólica e missionária está associada e estes fatores,
que fazem dela uma pérola preciosa de toda a Igreja. 

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da


Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Missões - Jan/Fev 2005 9


Na Bahia: entre as raíz
espiritualidade

Fotos: Arquivo
A presença do missionário, embora seja
acolhida como “presente” divino, não
é suficiente. Ela deve gerar, facilitar e
alimentar o encontro entre o Evangelho
e a cultura, entre a pessoa de Jesus, sua
vida e mensagem e as pessoas que o
escutam e acolhem.
cultuado pelos reis de Ketu, no Benin; de Santo Antônio, nas-
cido em Lisboa e Ogum, o guerreiro que abre caminho; de São
Jerônimo, o grande tradutor da Escritura Sagrada e Xangô,
associado à cidade nigeriana de Oyó; de São Lázaro, aquele
ressuscitado por Jesus e Omolu, invocado para a cura dos males
epidêmicos; de Santa Bárbara, patrona contra a morte repentina
e os raios e Iansã, a deusa das tempestades, dos raios e do
fogo; de São Pedro, comemorado no dia 29 de junho e Xangô,
Senhor da Justiça; de São Bartolomeu, um dos doze Apóstolos
e Oxumaré, Serpente Arco-íris, símbolo do ciclo contínuo da
vida; de Nossa Senhora das Candeias, também cultuada como
de Salvador Medina Nossa Senhora da Luz e Oxum, a protetora das mulheres
grávidas e bebês; de Santana, mãe de Nossa Senhora e Nana
Buruku, relacionada com o ciclo da vida e da morte; de Santo

O
Expedito, intercessor das causas justas e urgentes e Logumedé,
ano de 2004 terminou para nós, membros participantes Orixá menino, chamado de príncipe das águas; de São Cosme
da Igreja, com assembléias de avaliações e novas e Damião, patronos dos médicos e enfermeiros e Ibeji, perso-
programações. O novo desabrochou rapidamente e, nificado como crianças gêmeas; de São Roque, protetor contra
logo no primeiro dia, já pedia uma pedagogia para o flagelo da peste e Obaluaiê, cultuado nas segundas-feiras;
aprender, ensinar e viver a paz, uma forma nova de São Lourenço, diácono da Igreja de Roma e Tempo, entidade
apresentar o menino-Messias nas grandes cidades. cultuada nos terreiros de matriz angolana; de Nossa Senhora
Em resumo, uma nova espiritualidade, capaz de alimentar a da Conceição, a mulher privilegiada por ser a mãe do Filho de
esperança em tempos de fome, terror, catástrofes e terrorismo. Deus e Yemanjá, associada por aqui às águas salgadas; cidade,
Proponho-me neste artigo a partilhar algumas reflexões sobre a enfim, de todos os Santos, como expõe artisticamente o querido
espiritualidade que inspira e sustenta nossa missão nesta periferia Padre José Pinto em “Imagens Duplas”.
de Salvador, Bahia, semelhante a muitos outros subúrbios de Esta “cidade da alegria e da magia” tem o seu “axé”, sua
tantas cidades espalhadas pelo mundo. linguagem e simbologia, suas festas e ritos, seus lugares sa-
grados, personagens lendárias e antepassados imortais, ritmos,
Terra e raízes músicas, danças e instrumentos musicais, seu carnaval, suas
Encontro-me convivendo com uma população majoritariamente tradições, mitos e utopias.
afro-descendente com sua memória de escravidão e resistência; Como missionário enviado aqui em nome desse Jesus de
suas organizações sociais e familiares, seu jeito próprio de educar, Nazaré encarnado em humanidade feminina e inculturado na
promover ou punir, sua maneira de vivenciar, fazer a política e Palestina, sinto, com a Igreja, a necessidade de “inculturar
exercer o poder; seus modos de trabalhar na terra e no mar, de o Evangelho à luz dos três grandes mistérios da salvação: o
cozinhar, comer e consumir, de produzir e colocar os produtos Natal que mostra o caminho da encarnação (...); a Páscoa, que
do trabalho, nem que seja no mercado informal da cidade. conduz, pelas vias do sofrimento, à purificação dos pecados,
Salvador é uma cidade colonial e turística. Cidade do Senhor para que sejamos redimidos; e o Pentecostes, que pela força
Jesus do Bonfim, o próprio Jesus crucificado e de Oxalá, o pai do Espírito possibilita a todos compreender, na própria língua,
dos Orixás; de São Jorge, grande mártir do Oriente e Oxossi, as maravilhas de Deus” (SD 230).

10 Jan/Fev 2005 - Missões


zes e a utopia

Um encontro que me faz companheiro


A mera presença do missionário, embora seja acolhida como
“presente” divino, não é suficiente. Ela deve gerar, facilitar e
alimentar o encontro entre o Evangelho e a cultura, ou melhor
dizendo, entre a pessoa de Jesus, sua vida e mensagem e as
pessoas que o escutam e acolhem. Neste encontro, a comuni-
cação deve se tornar comunhão e intercâmbio, a partilha deve
gerar a justiça e o diálogo a paz; isto é, deve transparecer o
Reino de Deus. São nesses encontros permanentes que eu me
torno companheiro, capaz de “caminhar-com” este povo e de
“comer-com” ele o pão suado da caminhada e o Pão doado da
Páscoa. Graças a essa companhia adequada, podemos elaborar
e realizar projetos de assistência social, de promoção humana,
de transformação sociopolítica e solidariedade internacional;
dialogar entre igrejas e religiões e tentar construir a “ecumene”,
onde esse Jesus crucificado, presente no meio de nós, possa
continuar a luta contra todo tipo de pecado e o Cristo Ressus-
citado possa ser visto e celebrado.

Uma festa que sela a aliança


Este processo de encarnação, vida, crucificação, morte e
ressurreição do Jesus de ontem e do Cristo de hoje presente
nesta cultura suburbana, afro-descendente, deve ser contado,
Uma presença que me faz próximo ensinado e celebrado nas homilias, nas catequeses, nos sa-
A presença de um enviado do Deus da vida é lida aqui na cramentos e nas liturgias com jeito, ritmo, cores, linguagem, e
Bahia como um dom ou bênção do Deus da aliança. Marcar simbologia baianas, assim as pessoas poderão compreender,
presença nos diferentes momentos da existência pessoal ou também aqui, na própria língua, as maravilhas de Deus e viven-
coletiva, preferencialmente dos mais pobres e aflitos, celebrar, ciar o Pentecostes permanente. 
padecer ou chorar com “eles”, me faz “próximo”, me insere no
mundo-vida do “outro”, que aqui é afro-descendente. Deles me Salvador Medina é missionário e pároco da Paróquia São Brás, Salvador, BA.
torno “presente” em nome do Deus do êxodo e do exílio, da
encarnação e da compaixão. Experimento uma reciprocidade
gratuita onde eu vou assumindo a cultura e os baianos vão se Para Refletir
abrindo à mensagem de Jesus Cristo que continua tomando car-
ne, corpo, forma, base biológica e cultural, dimensão histórica e 1. A visão do mundo cultural afro-descendente, “terra e raízes”, deve ser completada
social, ao mesmo tempo que vai transformando, gradativamente, com os elementos indígenas e europeus. Você pode tentar fazer isso pessoalmente ou
o jeito de ser e de viver das pessoas e estas, por sua vez, vão em grupo.
cultivando sistemas e estruturas culturais sempre mais a serviço
2. Conhece algum processo, em andamento, de inculturação do Evangelho? Qual?
da vida, da verdade, da justiça e da paz.

Missões - Jan/Fev 2005 11


Felizes os que
cidadania

promovem a paz
de Alfredo J. Gonçalves Não haverá verdadeira paz sem o respeito
aos direitos humanos, sem uma distribuição

O
lema da Campanha da Fraternidade de 2005 – Felizes eqüitativa dos bens produzidos coletivamente
os que promovem a paz – pressupõe um cenário de
violência generalizada. De fato, hoje a violência está e sem um conceito universal de cidadania.
na ordem do dia, em seus mais diversos matizes e
graus. De forma telegráfica, vejamos algumas de

Joaquim Gonçalves
suas faces mais cruéis.

Faces da violência
Primeiramente, temos a violência visível. Ela invade nossas
casas através da televisão e da mídia em geral. Guerras, seqües-
tros, assaltos, tiroteios, crime organizado e narcotráfico são sua
marca registrada. É a violência das manchetes sensacionalistas,
dos espetáculos trágicos, da nudez, do sangue, das balas per-
didas, dos corpos mutilados e estendidos pelo chão, enfim, a
violência da vida banalizada e aviltada ao extremo.
Mas temos também a violência invisível. Esta se esconde
nos porões da sociedade, no interior dos presídios, no segredo
inviolável dos lares. Violência da tortura, do silêncio e do medo,
dos efeitos do álcool e da droga. Quantas mulheres, por exemplo,
ocultam até dos familiares mais íntimos os hematomas e luxa-
ções causados pelos maridos embriagados! E quantas crianças
indefesas e paralisadas dentro de casa pelo mesmo motivo! estava em pauta o tema da dignidade humana. Aliás, paz e dig-
Temos ainda a violência estrutural. A injustiça e as desi- nidade humana são duas faces da mesma moeda. Não haverá
gualdades sociais constituem o pano de fundo de inumeráveis verdadeira paz sem o respeito aos direitos humanos, sem uma
conflitos. A expulsão da terra, o analfabetismo, o trabalho escravo, distribuição eqüitativa dos bens produzidos coletivamente e sem
o tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual são, um conceito universal de cidadania.
entre outras, suas expressões mais conhecidas. O resultado A paz tem diversas dimensões. Entre elas, destacamos a
é a exclusão social crescente, a miséria, a fome e a falta de dimensão ecológica, que requer o uso correto e justo dos re-
condições mínimas de vida. No fim da linha, desfila pelas ruas cursos naturais e a preservação do meio ambiente; a dimensão
a grande multidão dos “sem”: sem-terra, sem-emprego, sem- socioeconômica, a qual passa necessariamente pelo desenvol-
teto, sem-saúde... vimento integral, e não apenas pelo crescimento da produção;
E temos, por fim, a violência repressiva. Quantas vezes, a dimensão político-cultural, em que as diferenças constituem
em nossa trajetória histórica, o punho de ferro da Polícia ou do não um motivo de divisão, mas de recíproco enriquecimento e
Exército se abate brutalmente contra todo e qualquer tipo de a dimensão pessoal e familiar, no sentido de fortalecer os laços
organização, movimento ou luta social. Testemunhas disso são primários do encontro e reencontro.
os negros de Palmares, os camponeses de Canudos, os ope- Da mesma forma que na raiz da violência está o individua­
rários do ABC paulista, os sem-terra de Eldorado dos Carajás lismo e o egoísmo exacerbados, na raiz da paz encontra-se
ou os índios de todo Brasil! a solidariedade. Sem a mão estendida e o coração aberto ao
pobre, ao excluído e ao indefeso, a paz não passará de ilusão ou
Compromisso com a paz retórica. A paz se constrói com gestos, leis, diálogo, encontros e
Esses clamores de violência exigem de todos um compromisso instituições em que todos e todas tenham iguais oportunidades.
concreto com a paz. Não a paz armada ou a paz dos cemitérios, Façamos um ponto final com as palavras do profeta Isaías: a
mas a paz que tem a justiça como fundamento. Nesse grande paz é fruto da justiça! 
mutirão pela paz, nenhuma pessoa, entidade, organização,
movimento ou força social pode ser dispensado. Por isso é que Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade,
a CF/2005 é novamente ecumênica, como foi em 2000, quando Justiça e Paz – CNBB.

12 Jan/Fev 2005 - Missões


Nova ótica

Testemunho
de evangelização
Luciana Ceretti, 47, italiana, pertence à
Congregação das Servas da Caridade e
trabalha no Brasil há 15 anos.
de Luciana Ceretti

N
o meu caminhar vocacional, Deus foi me preparando
aos poucos, passo a passo. Nasci e cresci num am-
biente religioso. Segui fielmente as diversas etapas
de inserção na vida cristã e pastoral. Conheci as
Irmãs Servas da Caridade no Oratório dominical,
inteiramente dedicadas às crianças, adolescentes e
jovens. Seu zelo apostólico chamava minha atenção.
Certo dia participei da festa do envio das primeiras Irmãs ao Bra-
sil: foi o primeiro chamariz missionário. Aos 17 anos comecei a
participar de encontros vocacionais. Mas, depois de certo tempo
grande luta se travou dentro de mim: abraçar o matrimônio ou
consagrar-me a Deus na vida religiosa? Finalmente as palavras
do Evangelho: “Vai, vende tudo... vem e segue-me” (Mc 10, 22)
desarmaram-me. O mesmo Jesus do jovem rico se dirigia a mim.
Encontrei-me frente a uma escolha da qual não podia fugir: dizer
não e ir-me embora triste como o jovem, ou dizer sim, assumindo
Arquivo Pessoal

todas as conseqüências da resposta.

O seguimento
Em 1968 comecei a minha caminhada de formação na Congre-
gação das Servas da Caridade e no dia 10 de março de 1972 Percebi que a primeira tarefa é evangelizar a si mesmo antes
pronunciei os primeiros votos na Itália. Completei minha formação de querer evangelizar os outros. Tornar evangélico o próprio
profissional e teológica e contemporaneamente trabalhei em ser: mente, vontade e coração para que tudo revele o Deus Uno
pré-escolas, dedicando o tempo que restava ao serviço pasto- e Trino a partir das ações corriqueiras do dia-a-dia. Em meus
ral paroquial no meio dos jovens. Porém, na medida em que a 15 anos de Brasil, continuo sonhando com a evangelização do
satisfação pelo que realizava crescia, sentia-me questionada mundo inteiro, porém, com um novo olhar. Aconteceu em mim
e, um pensamento martelava a minha mente: “como você pode uma revolução no que eu entendia por missão. Sonhava com
sentir-se bem, satisfeita no seu trabalho para Deus, na vida aventuras de viajar de barco rio abaixo, fazer longas caminhadas
confortável em que vive, diante de outras realidades carentes na floresta e tudo mais, em busca de pessoas a serem evangeli-
de tudo? É este o Cristo pobre que você segue?” zadas e promovidas em sua condição social. Hoje acredito que,
Deus em sua bondade, comunicou a cada pessoa uma parcela
A Missão evangeliza do seu infinito ser sem diferença de raça, cor, língua ou credo.
Meu pedido de deixar a Itália e partir para um lugar mais carente Descobrir esta realidade é graça. Tomar consciência é dom. Per-
de presença religiosa foi aceito. Aos 27 de janeiro de 1989 pisava ceber lá no fundo o grande tesouro que cada um carrega muda
em terra brasileira. Os desafios foram muitos: a língua, a cultura, o sentido da vida e a direção da busca da felicidade muda o ser.
o clima e a própria missão. Deus me pedia um trabalho interno na Hoje sinto e vivo a minha missão acreditando profundamente
Congregação e não de inserção no meio do povo empobrecido, nesta verdade que pertence a cada ser humano. 
como eu sonhava. O contexto me levou a amadurecer uma nova
visão de missão que não consiste no muito fazer, mas, no ser. Luciana Ceretti é irmã missionária das Servas da Caridade em São Paulo, SP.

Missões - Jan/Fev 2005 13


Igreja em Taiwan
Testemunho

TAIWAN:

Superfície...............36.000 Km²
População..............22.000.000 hab.
Católicos.................7,4 %
Capital....................Taipé

luz na escuridão
“Este é nosso propósito:
Jaime C. Patias

queremos plantar sementes


que cresçam algum dia...
pode ser algo incompleto,
porém, é um começo, um
passo no caminho, uma
oportunidade para que a
graça de Deus entre e
faça o resto”.
Monsenhor Oscar Romero, 24/3/1980

de Consolação Soares
China e separada do continente pelo estreito de Formosa, Taiwan
tem clima marítimo subtropical. A partir do século XVII, foi muito

N
visitada pelos navegantes holandeses, espanhóis e portugueses.
asci em Soure, Pará, mais precisamente na foz do Esses últimos deram à ilha o nome de Formosa, Hermosa.
Rio Amazonas, ao norte do Brasil. Soure está na Ilha
de Marajó, a maior ilha marítima-fluvial do mundo, Ser Igreja em Taiwan
com cerca de 50.000 quilômetros quadrados. Ela é A Igreja de Taiwan é uma comunidade minoritária, numa so-
composta por doze municípios, sendo o maior deles, ciedade completamente pluralista, como uma colcha de retalhos,
Soure, com aproximadamente 20.000 habitantes. marcada por diversas religiões. É uma pequena luz na escuridão.
Meus primeiros anos de estudo foram realizados no Instituto Esta Igreja, apesar de pequena em número de católicos, não
Stella Maris, dirigido pelas Irmãs Agostinianas Missionárias. tem complexo de inferioridade e nem pretende ser grande. O
Neste cantinho religioso aprendi a conhecer mais a Deus e a ter que importa é acolher o Reino de Deus e cumprir a missão com
gosto pela vida de oração. Com o passar dos anos, senti uma sensibilidade em relação à realidade, com um coração grande,
grande necessidade de conhecer mais de perto a espiritualidade tendo cada vez mais uma visão ampla para perceber todas as
de Santo Agostinho e a missão das irmãs. raças como uma só família.
Hoje como ontem, a Vida Religiosa tem a missão profética de
Realização do sonho ser testemunha num mundo marcado por tanta ganância, divisão,
Aos 17 anos, em 1982, realizei o meu grande sonho de guerra e injustiça em todos os níveis. Nossa tarefa apostólica é
ser Agostiniana Missionária. Os primeiros anos de formação de cultivar uma sólida espiritualidade de ação, descobrindo Deus
foram em Soure, e o Noviciado, em Belém do Pará, no Guamá, na vida e em tudo o que fazemos, de uma maneira concreta,
bairro periférico da cidade. Nesta realidade, marcada por várias nesta realidade asiática, cheia de encantos e mistérios.
facetas, experimentei de perto o que é o sentido da pobreza e É’ nesta realidade que o Senhor me chama. Não resta dú-
a grande dinâmica de acolhida às famílias. O Juniorato foi feito vida que a vida diária é um desafio constante e também uma
em São Paulo, onde professei os votos perpétuos, no dia 18 riqueza de aprendizagem. Minha fé em Jesus e a missão na
de abril de 1993. China a que fui convocada a viver, me oferecem uma oportuni-
Faz quatro anos que estou na missão de Taipé, Taiwan. dade de renovação e sinto-me cada vez mais enraizada nesta
Somos uma comunidade internacional e estamos aprendendo cultura. Falta muito para aprender e o caminho da inculturação
a língua chinesa. A ilha de Taiwan Formosa é pequena, de re- é indispensável. 
duzidas proporções, com uma extensão de 36.000 quilômetros
quadrados, sendo Taipé a capital. Situada na costa oriental da Consolação Soares é irmã Agostiniana, missionária em Taiwan.

14 Jan/Fev 2005 - Missões


id o s
s Un idade

istão rat ern

Carmpanha a F
d

a C
n
Abordando a solidariedade como
amor gratuito construtor de segurança
e indispensável para o bem de
todos, a Campanha da Fraternidade
2005 é ecumênica, e alerta para a
necessidade de paz na sociedade.

de Therezinha Motta Lima da Cruz

D
contexto em que somos chamados a viver a fé: muitas
atividades permanentes se originaram de Campanhas da
Fraternidade, como aconteceu, por exemplo, na Pastoral
e novo nos preparamos para uma Campanha da Fraternidade. do Menor;
Já fazemos isso há quatro décadas e existe o risco de nos e) é um processo de educação popular para questões canden-
acostumarmos tanto com esse projeto que podemos até não tes da realidade: o tema de cada Campanha é trabalhado
perceber o quanto é surpreendente o seu potencial. por especialistas e depois traduzido em linguagem mais
Há considerações que valem para qualquer Campanha da simples. Os dados mais importantes, as estatísticas, as
Fraternidade: causas e conseqüências de cada problema ficam ao alcance
a) é um modo bem concreto de viver o clima de conversão da da comunidade. Assim, ao longo desses quarenta anos, a
Quaresma: sem um tema específico, o chamado à conversão Campanha da Fraternidade foi se tornando uma oportuni-
poderia ficar genérico, vago, com menos força mobilizadora; dade muito especial para o povo crescer, não só na fé, mas
b) é uma interação bem eficiente entre a fé e a vida cotidiana: também na prática consciente da cidadania.
todo o material de uma Campanha da Fraternidade ilustra
esse princípio catequético básico, confrontando os problemas Etapas da Campanha
da realidade com as orientações da Bíblia e da Igreja. Não Por todos esses motivos, é fundamental aproveitar bem todas
apenas se pede a interação, mas os roteiros de atividades as possibilidades de uma Campanha da Fraternidade. Não se
mostram pedagogicamente como isso se aplica na prática trata apenas de um tema a ser apresentado numa palestra, de
da evangelização; cartazes a serem expostos na igreja, de uma coleta a ser feita
c) é uma importante oportunidade de comunicar à sociedade no Domingo de Ramos. A Campanha pode realizar grandes
civil a posição da Igreja sobre aspectos relevantes da pro- transformações, tem múltiplas conseqüências. Pode ser um
moção da justiça: a Campanha não fica restrita ao espaço processo missionário de inesperada amplitude se fizermos um
interno da Igreja. Aparece nos jornais e na TV, é levada a planejamento que nos capacite a perceber todo o seu potencial.
instituições da sociedade para esclarecimento e debate, Por isso, apesar de ser desenvolvida, como tempo forte, na
permite e mesmo solicita parcerias com grupos que não Quaresma, é bom considerar que a Campanha tem três etapas:
fazem parte do nosso quadro de agentes pastorais; preparação (o planejamento, o estudo do material, a capacitação
d) É ocasião para gerar atitudes concretas de socorro aos dos agentes); realização (comunicação do tema, de variadas
necessitados a partir de uma sensibilidade maior para o maneiras, ao mais amplo público possível, interferência na

Missões - Jan/Fev 2005 15


realidade, parcerias, oração); continuidade (atividades que per-
manecem, relacionamentos que prosseguem, projetos que vão
ser desenvolvidos). Para ajudar a perceber tudo isso, além do
texto-base que trata do tema da Campanha, foi preparado um
Caderno de Capacita-
ção de Agentes, mate-

A solidariedade é um instrumento a favor da construção de uma sociedade


rial fundamental para
aproveitar melhor to-

onde a paz seja vivida com o devido respeito à essencial dignidade humana.
dos os frutos que esse
importante processo é
capaz de produzir.
Tudo isso vale
para qualquer Cam-
panha da Fraternidade. Neste ano de 2005, porém, temos que
considerar dois aspectos específicos: o tema do ano e o caráter
ecumênico que o trabalho assumiu. Esses dois aspectos estão
relacionados. O tema foi escolhido pensando numa continuidade está com as Igrejas do CONIC.
Já pelo próprio processo de criação da Campanha, houve
uma experiência de solidariedade e paz. Foi bonito ver as equi-

Fotos :Jaime C. Patias


pes com gente das diversas Igrejas trabalhando juntas, trocando
idéias, tomando decisões, crescendo no afeto e no respeito
mútuo. Assim, mesmo que em algumas comunidades não haja
possibilidades concretas para um trabalho conjunto das Igrejas
locais, o simples fato de estarmos usando o texto-base e outros
materiais da Campanha, será uma forma de espiritualidade ecu-
mênica capaz de educar corações e fazer avançar no caminho da
unidade na diversidade. No caso específico dos católicos, temos
aí uma importante oportunidade para comunicar o ecumenismo
como parte integrante da doutrina da nossa Igreja. Às vezes as
pessoas dizem: apesar de ser católico, tenho sentimentos ecu-
mênicos. Deveriam dizer: sou católico e por isso, em comunhão
com a minha Igreja, sou chamado a trabalhar pelo ecumenismo.
O Concílio Vaticano II e muitos outros documentos proclamam o
ecumenismo, não como um apêndice ou atitude opcional, mas
como algo que deve perpassar a identidade católica. Porém,

Oração pela paz na Praça da Sé, São Paulo.

em relação à Campanha da Fraternidade 2000, que também foi


realizada de forma ecumênica. Em 2000, o tema foi “Dignidade
Humana e Paz”; agora somos chamados a refletir sobre “Solida-
riedade e Paz”, pensando na solidariedade como um instrumento
a favor da construção de uma sociedade onde a paz seja vivida
com o devido respeito à essencial dignidade humana. Há também
uma relação com um grande projeto do Conselho Mundial de
Igrejas: a Década para a Superação da Violência (2001-2010).

Organizadores da Campanha
Não se trata de uma Campanha gerenciada pela Igreja
Católica, coordenada, como de costume, pela CNBB, na qual
outras Igrejas seriam convidadas a participar. A intenção de
garantir uma participação das Igrejas em nível de parceria
igualitária fez com que o comando da Campanha passasse para
um organismo ecumênico. Assim, como já havia ocorrido no
ano 2000, a Campanha ficou por conta do Conselho Nacional
de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), do qual fazem parte sete
Igrejas como membros plenos: Igreja Católica Romana; Igreja
Metodista; Igreja Presbiteriana Unida; Igreja Ortodoxa Siriana;
Igreja Episcopal Anglicana; Igreja Evangélica de Confissão
Luterana; Igreja Cristã Reformada. Outras Igrejas que queiram
participar serão acolhidas com alegria, mas a responsabilidade Grito dos Excluídos 2004
de criação de materiais, decisões e coordenação do processo Ipiranga, São Paulo

16 Jan/Fev 2005 - Missões


não basta escrever documentos, é preciso que a catequese e
o trabalho missionário comuniquem essa dimensão tão essen-
cial para a paz e a própria credibilidade da evangelização. Na
segunda parte do já citado Caderno de Capacitação de Agentes
temos uma espécie de cartilha que explica as características
básicas do ecumenismo que as Igrejas querem desenvolver. É
um material bem interessante para estudo, que pode servir de
base tanto para um dia de convivência entre pessoas de Igrejas
diferentes, como para uma reflexão interna de cada Igreja, num
processo de educação para o diálogo e o respeito mútuo que
se espera dos cristãos.

Felizes os que promovem a paz


A escolha do lema ilustrou um modo de pensar no clima e no
significado do trabalho a ser feito: “Felizes os que promovem a
paz”. Fala-se da prática da solidariedade a serviço da paz como
fonte de felicidade, não como esforço pesado, sacrifício para
obter méritos ou coisa parecida. Ao trabalhar o texto, a equipe
de redação percebeu a solidariedade como modo inteligente
de viver, algo bom em si e capaz de ser acolhido como tal até
pelos que não têm a nossa fé. A solidariedade promotora da paz
é vista de forma muito positiva a partir do seguinte raciocínio: é
impossível viver sem solidariedade; nossa segurança depende
de todos se importarem com todos; a solidariedade é o único jeito
de tornar melhor o único mundo em que nós todos temos que
viver. Na verdade, nenhum de nós estaria vivo se ninguém fosse
capaz de um ato solidário sem visar imediata recompensa: todos
nós já fomos bebês e os bebês precisam de
cuidados que, no momento, não têm como
retribuir. A beleza e a utilidade prática da
gratuidade estão muito presentes no texto
da Campanha. É
o amor gratuito
de Deus que nos

O Concílio Vaticano II e muitos outros documentos proclamam o ecumenismo, não como


salva. É esse mes-
mo amor gratuito,

um apêndice ou atitude opcional, mas como algo que deve perpassar a identidade católica. dado e recebido
entre as pessoas,
que faz a vida valer
a pena. Precisar uns
dos outros não é um prejuízo, é uma oportunidade fantástica
de partilha, de construção de amizade, de complementação
alegre e produtiva. Por isso, uma das idéias fortes do texto-
base se inspira na noção de que a segurança depende mais
da confiança mútua do que da capacidade de defesa. O texto
diz: “a porta mais segura é a que não precisa ser trancada”.
São assim as portas da Jerusalém celeste, descritas no livro
do Apocalipse: portas que nunca precisam ser fechadas porque
não há inimigos a temer. Isso valeria também para as portas do
coração humano, numa proposta de busca da reconciliação em
vez do cultivo de ressentimentos.
Nesse espírito, o texto valoriza muito tudo o que já é feito,
no Brasil e no cenário internacional, na direção da construção
da paz. É um texto que quer ser mais anúncio do que denúncia.
A denúncia existe, é claro, mas apenas para situar o problema.
Pensou-se que seria mais animador destacar como a consciência
do homem e da mulher de hoje já progrediu e criou processos
de mobilização para um mundo melhor e mais fraterno. Seria
interessante que, dentro desse espírito, cada comunidade pro-
curasse fazer um levantamento de tudo que há de bom como
esforço solidário na realidade local, dentro e fora das Igrejas.
Pensamos que isso funciona melhor do que ficar só no “muro
das lamentações”. Ações concretas que já existem são um forte
apelo à cooperação. E elas são muitas, em todas as Igrejas e
no mundo secular.

Missões - Jan/Fev 2005 17


Proposta de ação
Como proposta de ação,
a Campanha da Fraterni-
dade apresenta, além de
tudo o que a comunidade
local julgar apropriado à sua
realidade:

– estudo dos Estatutos da


Criança e do Adolescente, do
Idoso e do Desarmamento;
– mobilização na campanha
pelo desarmamento e no
plebiscito que vai tratar desse
assunto; envolvimento das
Igrejas no processo de de-
volução de armas de fogo;
– formação de grupos ecu-
mênicos de convivência;
– oração e educação para
a espiritualidade da paz;
– formação de Fóruns pela
paz, com parceria de gen-
te de dentro e de fora das
Igrejas;
– cooperação em pro-
cessos de recuperação de
Cartaz da transgressores, defesa de uma justiça que seja curativa, com
penas alternativas; participação no Conselho da Comunidade

CF 2005 junto aos presídios;


– participação em Conselhos para a defesa de direitos e con-
trole social das políticas públicas;
O cartaz da Campanha comunica esse clima positivo. É – impulso à Campanha de Mobilização para o Registro Civil
alegre, convidativo. A bonequinha que domina a cena tem os de Nascimento.
braços exageradamente compridos, para abraçar o mundo Todas as propostas supõem uma educação para a solidarie-
inteiro. Os continentes estão marcados com a bandeira dade e a paz em três âmbitos: pessoal (porque cada um precisa
da paz, o fundo azul comunica a paz do céu. Temos uma estar em paz consigo mesmo, com os outros e com Deus);
bonequinha, desenhada com traços infantis, de forma bem comunitário (porque cada Igreja é um espaço de convivência
esquemática, não uma fotografia. Isso permite que ela não que deve ser exemplo de paz e solidariedade); social (porque
se identifique com nenhuma classe ou etnia e represente o nosso cristianismo tem que dar ao mundo o testemunho dos
todas as crianças. O tipo de desenho, parecido com o que as valores do Reino).
crianças fazem, enfatiza a infância como apelo importante: É uma Campanha da Fraternidade com a ousadia de muitas
estamos devendo às crianças um mundo melhor, elas têm novidades. Cada Igreja poderia aprender a valorizar o bem que
direito de viver em paz. Na Assembléia Geral do CONIC, o outras são capazes de realizar. Seria bonito ver católicos lem-
sociólogo Pedro de Oliveira, ao explicar seu envolvimento brando o heroísmo de um pastor batista como Martin Luther King,
na Campanha, confessou: “tenho netos e preciso de um a capacidade de reconciliação de um metodista como Nelson
mundo menos assustador para que eles não tenham medo Mandela, a dedicação aos doentes de um luterano como Albert
de me dar bisnetos”. Scheitzer. E também ficar conhecendo o irmão da outra Igreja
Abordando a solidariedade como amor gratuito constru- que ali bem pertinho busca ser um fiel discípulo de Jesus. Um
tor de segurança e indispensável para o bem de todos, a primeiro espaço de convivência ecumênica a ser trabalhado a
Campanha dá um destaque às duas pontas da vida, em que partir da Campanha seria a própria família de muitos dos nos-
somos mais frágeis: propõe ações concretas em defesa dos sos agentes de pastoral, onde já existem cônjuges, parentes e
direitos das crianças e dos idosos. É também um modo de amigos que não são todos da mesma Igreja. Tendo sido prepa-
alertar para que ninguém se julgue acima da necessidade rado em conjunto, o texto dos vários materiais da Campanha
de receber solidariedade. Todos nós já fomos crianças e da Fraternidade já passou por um cuidado ecumênico e pode
esperamos viver muito. Mas precisamos uns dos outros em ser usado com tranqüilidade, sem ferir a identidade de fé cristã
muitas e variadas situações também. Se alguém duvida, é de cada um.
só imaginar como seria sua vida numa ilha deserta. A Campanha interpreta a vontade de Deus como um convite
“Viver é muito perigoso” – diz um personagem famoso à felicidade. O texto-base resume bem isso na sua frase final:
de Guimarães Rosa. Para ter mais segurança nesta vida, o “Haverá felicidade maior do que saber que todo dia crescemos,
caminho é aquele apontado por Jesus, o mesmo expresso nos tornamos melhores e, com a graça de Deus, fazemos o
de modo peculiar pelo líder batista Martin Luther King: “ou mundo ser melhor para os outros”? 
aprendemos a viver todos juntos como irmãos ou perece-
remos todos juntos como loucos”. Therezinha Motta Lima da Cruz é membro da Comissão de Comunicação do CONIC e da
Comissão de redação da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2005.

18 Jan/Fev 2005 - Missões


história da missão
A comunhão evangeliza A experiência da Coréia do Sul está
de Luiz Carlos Emer

mostrando aos missionários, que mais do


que fazer muito, a Missão necessita de muita

D
epois de um longo discernimento da Congregação,
no início de 1988, quatro missionários iniciaram comunhão e discernimento em sua realização.
presença e atividades no continente asiático, mais
precisamente na Coréia do Sul. Dentre os missionários
que partiram estavam um italiano, um espanhol, um Depois de um detalhado discernimento comunitário, no iní-
colombiano e eu, um brasileiro. Levávamos conosco cio de 1992 iniciávamos a nossa primeira atividade missionária
o entusiasmo de estar iniciando algo novo e significativo para o propriamente dita, ou seja, inserção numa favela da periferia da
Instituto mas, ao mesmo tempo, levávamnos a responsabilidade cidade de Incheon. Foi uma experiência que teve seus momentos
pela missão de abrir as portas do mais populoso e menos cris- difíceis, mas que foi muito positiva e enriqueceu nosso pequeno
tão dos continentes. As primeiras impressões foram marcadas grupo. Enquanto isso, alguns novos missionários iam chegando
pelo diferente, pela novidade. A língua foi certamente o maior e timidamente um ou outro jovem coreano se apresentava para
desafio. Em quase nada se pareceu com anteriores experiên- discernir a vocação e iniciar um caminho de formação junto à
cias de aprendizagem de um novo idioma. Foi literalmente um nossa comunidade.
retornar a ser criança...e não por alguns meses somente, mas Enquanto a comunidade de inserção procurava estabelecer
por alguns anos. Porém, o entusiasmo foi sempre mais forte uma identidade e abrir caminho, na casa central iniciavam-se as
que as dificuldades e com um forte espírito comunitário nos primeiras atividades de animação e formação missionária para
preparávamos para melhor responder aos desafios que aquela leigos e também de formação para algum jovem candidato à
cultura e aquela Igreja nos apresentavam. vida religiosa missionária.

Conhecendo os desafios Diálogo inter-religioso


Nos primeiros quatro anos, enquanto nos familiarizávamos Quando chegamos ao número de oito missionários e a um
pouco a pouco com a língua e a cultura coreanas colaboráva- conhecimento um pouco maior da língua e cultura coreanas
mos com serviços religiosos nos finais de semana em diversas decidimos que havia chegado o momento de dar um outro im-
paróquias da diocese. Durante este período de colaboração na portante passo e colocar em prática aquilo que havia sido nosso
pastoral paroquial, procurávamos conhecer e discernir juntos sonho e que era também a maior expectativa do Instituto em
os desafios aos quais nós, como missionários, poderíamos relação à nossa presença na Ásia, ou seja, nossa resposta ao
responder criativamente, assim que o conhecimento da língua grande desafio do diálogo inter-religioso.
permitisse. Resumindo, poderíamos dizer que depois de 17 anos de
presença naquele país nossa comunidade cresceu
e solidificou a sua identidade sobre estas três di-
Álvaro Pacheco

mensões missionárias: a inserção junto aos pobres,


o diálogo inter-religioso e a animação missionária
e vocacional. A relativa abundância de clero local
naquele país nos ajudou a construir um estilo de vida
bastante comunitário e centrado na comunhão e no
discernimento e também a concentrarmo-nos em
atividades estritamente missionárias. Ser missionário
na Ásia é um grande desafio como o é ser discípulo
de Jesus em qualquer outro lugar. A ainda curta
experiência da Coréia do Sul está nos mostrando
que mais do que fazer muito, a Missão necessita
de muita comunhão e discernimento na busca e
realização daquelas atividades que são verdadei-
ramente significativas hoje. Isso é, provavelmente,
o que mais caracteriza e identifica nosso pequeno
grupo de missionários na Coréia do Sul. 

Luiz Carlos Emer, missionário, esteve 17 anos na Coréia e agora voltou


para trabalhar no Brasil.

Missões - Jan/Fev 2005 19


formação missionária

Um nov
de Luiz Balsan e Lírio Girardi de ser
C
om a nova teologia que se desenvolve de modo
particular a partir do Concílio Vaticano II, passa-se a

Arquivo IMC - África do Sul


uma nova compreensão de muitos aspectos da vida
cristã. O Batismo readquire toda a sua importância.
A partir disto, passa-se a compreender a Igreja como
Povo de Deus. Assim fica para trás uma visão que
predominou por alguns séculos e que confundia a Igreja com o
clero. Naqueles velhos tempos, quando alguém falava de Igreja
estava na verdade pensando nos padres, nos bispos, no papa e
talvez também nos religiosos. Não era clara a idéia de que dela
fazia parte cada um dos batizados.
Desta nova compreensão nascem diversas conseqüências:
o Concílio diz que todos são chamados à santidade – a plenitude
do amor – no próprio estado de vida e segundo o que é específico
de cada um (Lumen Gentium 39-41); todos os cristãos, viven-
do em formas de vida distintas, possuem a mesma dignidade
– ninguém é mais importante do que ninguém; sendo membros
de um único corpo que é a Igreja – Corpo de Cristo – todos os
batizados participam da sua missão, que é a mesma que nasce
no coração misericordioso do Pai e para a qual Ele envia o Filho,
que na força do Espírito, realiza a sua missão e a confia à Igreja.
Se todos os batizados participam da Igreja, fica também para
trás outra idéia que condicionou os seus caminhos por séculos:
a idéia de que a missão era confiada unicamente ao clero e os
leigos eram simplesmente colaboradores do apostolado que
pertencia à hierarquia eclesial. Era como se a responsabilidade Comunidade cristã na África do Sul.
de anunciar o Evangelho e formar a Igreja fosse prerrogativa condicionamentos e imperfeições humanas, é Ele quem a dirige.
dos sacerdotes e bispos e os leigos, no máximo, poderiam Antes, portanto, de ser uma sociedade humana, ela tem sua
colaborar com eles. referência primordial no mistério da Trindade e, por isso, tantas
coisas não são previsíveis e nada está assim tão definido como
Igreja mistério se pensava, quando se falava dela como sociedade perfeita. O
A imagem da Igreja como mistério é tão simples quanto Espírito, como nos diz São João, sopra onde quer (Jo 3,8) e é
revolucionária, no bom sentido da palavra. Quando falamos em um constante artífice de novidades na história da humanidade.
mistério, logo pensamos em alguma coisa que não se consegue Estudando atentamente estes dois mil anos de cristianismo, nos
compreender plenamente, que de certa forma tem algo escondido damos conta que, muitas vezes, quando parecia que a Igreja
e que, portanto, foge ao nosso controle e, por conseqüência, não tinha respostas para os grandes desafios e dificuldades que
nos inquieta. Quando, no Concílio Vaticano II, os bispos usaram vivia, o Espírito suscitava pessoas ou acontecimentos capazes
esta expressão para falar da Igreja, de certa forma, referiram-se de renová-la e revitalizá-la a partir de dentro. O próprio Concílio
também a estas idéias. A expressão que predominava até então Vaticano II não seria, por acaso, um destes grandes aconteci-
era a de sociedade perfeita, como se tudo na Igreja estivesse mentos? É nesta constante presença criativa do Espírito que a
previsto e perfeitamente organizado. Usando a imagem de mis- Igreja é chamada a realizar sua missão.
tério, o Concílio quis nos dizer que ela está, antes de mais nada,
relacionada ao Deus Trindade. Ela é uma obra de Deus e está Igreja Povo de Deus
a serviço de Deus e, portanto, é chamada a viver a sua missão O Povo de Deus no Antigo Testamento era, sim, o destina-
no Espírito deste mesmo Deus. No fundo, apesar de todos os tário das grandes promessas e obras de Deus. Isto, porém, não

20 Jan/Fev 2005 - Missões


vo Jeito A Igreja Povo de Deus é enviada ao
mundo para colocar-se a serviço

Igreja
dele, não como quem se confunde
com ele, mas como testemunha que
apela e se compromete a transformá-
lo em um lugar mais humano.

constituía um mero privilégio. Sua missão era Igreja Corpo de Cristo


ser instrumento para que a salvação oferecida Como nos recorda o Apóstolo Paulo, um corpo é formado
por Deus, como dom gratuito, se estendesse por muitos membros que partilham da mesma dignidade, mas
até os confins da terra. O Povo de Deus não o servem de formas diferentes. Cada um tem sua função, uns
pode se fechar em si porque experimenta o amor
talvez mais indispensáveis do que outros, mas somente juntos,
na sua totalidade, podem formar uma
unidade perfeita. Assim é a Igreja. Nela

Jaime C. Patias
há uma diversidade de carismas, frutos
de um único Espírito, em vista do bem
de toda a comunidade humana. Como
fruto destes dons, há uma diversidade
de serviços e ministérios que supõem
tarefas e responsabilidades distintas.
Tanto a atitude de negar esta diversi-
dade, quanto a de negar a importância
da contribuição de cada membro, são
atitudes que empobrecem a Igreja e
obscurecem a multiforme manifestação
do Espírito. É por isso que a Igreja fala
de comunhão eclesial como comunhão
orgânica. Esta expressão quer indicar
que não se trata de uma comunhão
de iguais, mas, pelo contrário, rica de
diversidade. É com esta riqueza, na
valorização do que é próprio de cada
um, como um único corpo, que a Igreja
vive a sua missão. Como membro deste
Comunidade São Caetano, Três de Maio, RS. único corpo, congregado pelo mesmo
de um Pai que quer que a sua obra salvadora se estenda aos Espírito, todo cristão é convocado a participar na única missão,
demais povos do mundo. É esta compreensão que leva o profeta a partir do seu lugar e com respeito pelos serviços, ministérios
Isaías a sonhar: “dias virão em que o monte da casa de Deus será e responsabilidades dos demais. 
estabelecido no mais alto das montanhas... A ele acorrerão todas
as nações” (Is 2,2). A imagem de Povo de Deus nos faz pensar Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidade e doutor em Teologia.
também em um povo a caminho – o Povo de Deus permaneceu, Lírio Girardi é missionário e pároco da Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR.
por quarenta anos, como errante no deserto. De forma análoga,
na história humana, nada se apresenta como pronto e acabado.
A própria vida se apresenta como um dom a ser construído dia
após dia. Assim é também a missão da Igreja: nos encontramos Para Refletir
sempre a caminho na construção do Reino aqui entre nós, na 1. Quais são as principais novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II
história dos homens, aberta para a sua plenitude na eternidade. na compreensão da Igreja?
Esta Igreja que é Povo de Deus é, portanto, enviada ao mundo
para colocar-se a serviço dele, não como quem se confunde 2. O que se entende por comunhão orgânica?
com ele, mas como testemunha que apela e se compromete por 3. Qual a diferença entre Igreja sociedade perfeita e Igreja mistério?
transformá-lo em um lugar mais humano.

Missões - Jan/Fev 2005 21


V Fórum Social Mu
atualidade

um processo histórico
A V edição do FSM volta a ocorrer em dos mercados em cada país e nas relações internacionais. A
Porto Alegre, capital do Rio Grande do idéia de realizar o Fórum no Brasil teve um efeito simbólico: Porto
Alegre, hemisfério Sul, capital de um Estado que se tornava cada
Sul, entre os dias 26 a 31 de janeiro de vez mais conhecido em todo o mundo por suas experiências
democráticas e de luta contra o neoliberalismo.
2005. Cerca de 150 mil participantes O início do processo
são esperados. A realização da I edição do FSM, com a participação de
20.000 pessoas provenientes de 117 diferentes países, evi-
denciou a capacidade de mobilização que a sociedade civil
tem, frente a uma metodologia caracterizada pela garantia da
diversidade e co-responsabilidade no processo de construção
do evento. Embora a mídia tradicional não tenha dado atenção
ao Fórum, 1.870 jornalistas foram credenciados. Em busca da
continuidade, o então Comitê Organizador do FSM (atualmente,
parte da Secretaria) propôs o estabelecimento de uma Carta
de Princípios, de maneira a garantir o FSM como um espaço e
processo permanente em busca da construção de alternativas
em âmbito mundial. Para isso constituiu-se em 2001 o Conselho
Internacional (CI) do FSM, integrado por redes temáticas, movi-
mentos e organizações que acumulam conhecimento e experiência
na busca por alternativas à globalização neoliberal. A ação do
CI favoreceu uma maior interlocução entre as organizações e
apoiou a estruturação de comitês de mobilização nacionais, de
fóruns temáticos e regionais, assim como dos eventos globais
Antônio Milena

de 2002, 2003 e 2004.


A II edição de FSM foi realizada em Porto Alegre entre os dias
31 de janeiro e 5 de fevereiro de 2002, com a presença de mais
de 50.000 pessoas de 123 países. A imprensa compareceu com
3.356 jornalistas, sendo 1.866 brasileiros e 1.490 estrangeiros
de 1066 veículos.
A edição de 2003, também realizada em Porto Alegre, atraiu
cerca de 100 mil pessoas do mundo inteiro. A esse número de-
vem ser acrescentados ainda os participantes do Acampamento
de Jaime Carlos Patias da Juventude (cerca de 25 mil), jornalistas da mídia nacional e
internacional (mais de 4.000) e participantes individuais que, em
2003, tiveram acesso à quase todas as atividades realizadas.

O
Fórum Social Mundial (FSM) foi realizado pela pri- A internacionalização do FSM
meira vez na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Em 2004, em sua IV edição, pela primeira vez, o FSM foi
Sul, entre 25 e 30 de janeiro de 2001, com o objetivo realizado fora do Brasil. A decisão foi tomada pelo Conselho
de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Internacional com o objetivo de iniciar o processo de internacio-
Davos. Esse Fórum Econômico tem cumprido, desde nalização do FSM. O local escolhido foi Mumbai, na Índia e a
1971, papel estratégico na formulação do pensa- data: de 16 a 21 de janeiro de 2004. Contou com a presença de
mento dos que promovem e defendem as políticas neoliberais 74.126 participantes, representados por 1653 organizações de 117
em todo mundo. O FSM, nasceu como um espaço internacional países. Do total, 60.224 eram indianos. Cerca de 3.200 jornalistas
para a reflexão e organização de todos os que se contrapõem à representados por 644 órgãos de imprensa, vindos de 45 países
globalização e estão construindo alternativas para favorecer o fizeram a cobertura do evento. Uma novidade na metodologia
desenvolvimento humano e buscar a superação da dominação do processo FSM foi a inclusão, no programa, de grandes ativi-

22 Jan/Fev 2005 - Missões


undial

Jaime C. Patias
Painel durante o III FSM.

dades autogeridas pelas organizações inscritas, como painéis, palestrantes para as suas atividades. Diferentemente dos outros
conferências e mesas redondas, totalizando 1.203 eventos. As anos, o Comitê Organizador não convidou nenhum palestrante.
atividades foram organizadas em torno dos seguintes eixos amplos: A lista preliminar dos confirmados para o FSM 2005 inclui o
Militarismo, guerra e paz; Informação, conhecimento e cultura; diretor geral da Organização Internacional do Trabalho, Juan
Meio ambiente e economia e Exclusão, direitos e igualdades. A Somavía, o físico austríaco e ecologista, Fritjof Capra, o escritor
mudança mais importante foi com relação ao rumo que o FSM português José Saramago, o teólogo e escritor Leonardo Boff, o
deveria tomar ao propor menos discursos e mais ações, colocando prêmio Nobel da Paz, o argentino Adolfo Perez Esquivel, além
em cheque o conceito do Fórum como “um espaço de debate” e de Boaventura de Souza Santos, Eduardo Galeano, Emir Sader
não um evento de onde derivam propostas de ação global. Essa e Eric Toussant, entre outros.
nova postura ganhou força com a formulação de estratégias de A dinâmica do FSM vai ao encontro dos novos desafios que
ações mais políticas que passariam a ser implementadas pelo o próprio processo gera: de ser instância de análise e debate,
conjunto de movimentos e organizações participantes, como foi que leve às ações globais. Em sua expressão cultural, social
o caso da Coalizão Global de Luta contra a Guerra. e política da sociedade global civil, continua tendo importância
como símbolo de esperança coletiva. A internacionalização do
De volta a Porto Alegre evento favoreceu uma dinâmica de mudanças, um processo de
A V edição do FSM volta a ocorrer em Porto Alegre, entre os amadurecimento e democratização. A realização dos diversos
dias 26 a 31 de janeiro de 2005. Cerca de 150 mil participantes fóruns regionais e temáticos em todo o mundo mostra que o
são esperados para o evento. Representantes dos cinco conti- evento está ganhando caráter de processo descentralizado.
nentes embalarão a caminhada e o show que marcarão o início
das atividades no dia 26 de janeiro. É pela cultura, no show Desafios
de abertura, que se dará a transição de Mumbai, sede da IV Um primeiro desafio é a diversidade diante da globalidade do
edição, para Porto Alegre. Neste ano, o FSM segue uma nova processo e a utopia como horizonte. A sociedade civil mundial,
metodologia. O programa foi montado apenas pelas entidades em sua imensa diversidade, está consciente da importância
participantes, que inclusive são responsáveis por convidar os da união para enfrentar os grandes desafios globais: a paz e a
justiça social. Isso implica em ver a diversidade como riqueza e
transformá-la na principal força.
Imprensa Um outro desafio é a mudança de um Fórum evento para
Até o fechamento desta edição (20/01), 3.458 profissionais um Fórum processo, e passar da capacidade de aglutinar para
de imprensa oriundos de 60 países dos cinco continentes uma capacidade de liderar ações. Especialmente desde Mumbai
estavam cadastrados e 128 veículos de comunicação muitos participantes se perguntam: e agora? É preciso identificar
estavam inscritos. um caminho, estratégias locais ou globais em direção à uma trans-
formação para não permanecer estancado num lema “um outro
Informações no site oficial. mundo é possível”, sem nunca chegar no como, quando e com
www.forumsocialmundial.org.br quem... O FSM deve demonstrar uma capacidade estratégica de
construir a sociedade, a política e a economia, para construir este
outro mundo possível. Sem assumir esses desafio, perderemos
A Revista Missões estará presente no FSM não somente a credibilidade, mas a histórica oportunidade que
2005 e dará informações diárias através do nos oferece o FSM. 
site www.revistamissoes.org.br
Jaime Carlos Patias é missionário, diretor da revista Missões.

Missões - Jan/Fev 2005 23


Paz para
ecomascrianças
Infância
Missionária de Manuel Aparecido Monteiro (Néo) “Quando o dia da paz
renascer, quando o sol

N
o coração do ser humano, talvez não haja palavra
mais querida do que paz. O mundo conturbado da esperança brilhar, eu
a que chamamos de moderno “se apresenta ao
mesmo tempo poderoso e débil, capaz de realizar vou cantar...”
o ótimo e o péssimo, o caminho da liberdade e da
escravidão, do progresso e do atraso, da fraterni- (Zé Vicente)
dade e do ódio” (GS. 9). No entanto, reconhecemos que há
incontáveis iniciativas provenientes de organizações sociais,
cívicas e religiosas, empenhadas em promover a vida, a justiça Vítima fatal (fábula)
e a paz no mundo. Já no Antigo Testamento o profeta Jeremias Certa vez, um velho lobo e um cordeirinho se encontraram
falava ao povo em nome de Javé: “conheço os desígnios que na margem de um riacho para matar a sede. Assim que o lobo
formei a vosso respeito – oráculo do Senhor – desígnios de paz avistou o frágil cordeirinho disse em tom agressivo: “Por que você
e não de desgraça, para vos dar um futuro e uma esperança” está sujando a água?” Respondeu o cordeirinho: “Não sou eu
(Jr 29,11). É a paz verdadeira que proporciona condições de senhor, pois estou mais abaixo”. Não se dando por vencido, disse
vida digna para todos. o lobo: “Ah! Foi você que falou mal de mim no ano passado!”
“Impossível, senhor, pois só tenho dois meses de idade”. “Bem,
Desordem mundial se não foi você, foi seu pai e você vai pagar por isso”.
No mundo, há riqueza suficiente para que todas as pes­soas Esta fábula de Monteiro Lobato pode nos ajudar a entender
possam viver uma vida digna, mas acontece que ela não é quão frágeis e desprotegidas são as crianças diante do sistema
distribuída de forma justa e igualitária. De um lado, poucos têm de morte no qual o mundo está mergulhado. Para o lobo não
muito e do outro, a grande maioria, sobrevive. Veja a que ponto há nada que o possa satisfazer enquanto não realizar seus
se chegou: o mundo atual produz anualmente 25 trilhões de interesses, mesmo quando encontra ao seu alcance uma frágil
dólares de riqueza, dos quais 18 trilhões estão nas mãos dos 7 vítima. Quem seria esse lobo cruel no nosso mundo? Por que
países mais ricos. Bastaria 1% dessa riqueza para acabar com atacar vítimas inocentes? O que pode fazer o cordeirinho para
a pobreza no mundo. Estima-se que o mercado de capitais mo- se livrar do lobo? (sugestão: organizar uma dinâmica de grupo
vimente diariamente 20 trilhões. Bastariam 2 desses 20 trilhões para encontrar uma saída para o cordeirinho).
que se aplicam diariamente para resolver os maiores problemas
da miséria no mundo. Gasta-se hoje ao ano 900 bilhões de dó- Ano novo, vida nova!
lares em armamentos, dos quais 50% só nos Estados Unidos. “Barriga cheia, coração contente”, reza um dito popular. Mas
Vive-se num escândalo permanente. o coração é feliz de verdade quando está em paz. O mundo
nos apresenta 5 milhões de crianças morrendo de fome a cada
Arquivo

ano. Elas são as primeiras vítimas das guerras e catástrofes.


Se queremos um Ano Novo cabe a todos, principalmente aos
governantes, promover uma cultura de paz e de justiça. A Infância
Missionária (IM) é chamada a ser promotora da paz. Para isso
é necessário manter-nos bem informados sobre o que acontece
no mundo das crianças, na vida e na cultura dos outros povos.
Não se trata de ignorar ou descuidar as necessidades locais,
da paróquia e da diocese. É cooperando nas atividades mais
desafiadoras que a IM realiza sua missão e carisma, como o
seu fundador dizia: “algo precisa ser feito”, fez-se e continua
sendo feito através das crianças, promovendo a paz e alegria
de filhas(os) de Deus nos cinco continentes. 

Manuel Aparecido Monteiro (Néo) é sacerdote missionário e animador vocacional.

24 Jan/Fev 2005 - Missões


Juventude

conecxão jovem
Jaime C. Patias
solidariedade
e paz
Os jovens têm o dever de lutar para
que a paz seja vivenciada, construindo
uma cidadania planetária baseada na
responsabilidade universal.

ela só existirá quando houver equilíbrio social e igualdade de


oportunidades para todos. Por isso, sem as condições básicas
de vida não existirá paz.
de João Batista Amâncio Nós, jovens, precisamos descobrir nossos deveres, lutar pela
igualdade, pelo respeito e pela tolerância. Para isso, devemos

E
lutar para que ninguém seja submetido a condições degradantes,
ste ano, a Igreja Católica, juntamente com o Conselho não podemos permitir que pessoas sejam torturadas, violenta-
Nacional de Igrejas Cristãs, deseja aprofundar o tema das, massacradas e discriminadas, quer pela lógica cotidiana
da solidariedade e paz na Campanha da Fraternidade da violência, da repressão, da exclusão, quer pelo preconceito
Ecumênica. Acreditamos que um dos maiores desafios com relação à expressão religiosa. Em nossos encontros, reu-
com que nos defrontamos atualmente seja o favoreci- niões e celebrações, é necessário que lutemos contra a cultura
mento e o fortalecimento da paz. E nós, jovens, não racista existente na sociedade, contra o sexismo, a intolerância
podemos ficar de fora desta discussão porque promover a paz religiosa e a homofobia. Agindo assim estaremos contribuindo
requer não apenas a proclamação de idéias pacíficas, mas, en- para a ampliação da democracia e da justiça social e ajudando
tender que a paz verdadeira traz consigo solidariedade, justiça a criar a cultura da paz.
e igualdade social.
Atualmente, a despesa global com armamentos é 2.400 O exemplo de Jesus
vezes mais elevada que a despesa a favor da paz. Meio milhão Não podemos deixar de mencionar quem mais lutou e tentou
de cientistas em todo o mundo estão fazendo pesquisas e desen- instaurar uma cultura de paz: Jesus Cristo. O desejo dele era
volvendo tecnologia na área militar, ou seja, estão trabalhando a comunhão entre todos os homens e mulheres. Com Jesus o
dia e noite para criar armas, com o objetivo de obter lucro. Dados poder é colocado a serviço, ao invés de ser usado para oprimir.
estatísticos revelam que hoje são gastos com a indústria bélica, Significa o exercício da antiviolência por excelência, porque
cerca de 850 bilhões de dólares anuais. serve à justiça e à paz. O lugar do poder é o lugar de quem
serve, o primeiro deve fazer-se escravo, o último de todos e
Uma cultura da paz é possível aquele que está a serviço deve fazer-se como criança diante
Sendo a paz um valor inclusivo e a cultura, o modo coletivo de Deus (Mt 18,1;20, 26-27). 
de sentir, pensar e agir, a cultura de paz requer novas formas
de convivência e mecanismos mais justos de distribuição de João Batista Amâncio é seminarista, atualmente fazendo noviciado em Buenos Aires, Argentina.
oportunidades, riquezas e saberes. Ela estimula conexões, de-
safia nossa capacidade criadora de soluções práticas, sustenta
os processos de mudança de consciência que, por sua vez, Participe escrevendo: Rua N.S. Consolata, 12
exigem o empenho de cada jovem para a construção de uma Sta Felicidade - CEP: 82030-190 - Curitiba-PR
cidadania planetária baseada na responsabilidade universal. E-mail: conexaojovem@revistamissoes.org.br
Precisamos recriar uma cultura de paz, tendo em vista que

Missões - Jan/Fev 2005 25


Sucesso do Movimento
entrevista

Membros do Movimento
“Nós Existimos” na sede
da revista Missões, após
regresso da Itália.

de Joaquim Gonçalves
No Fórum Social Mundial de 2003, em

A
homologação da área indígena Raposa Serra do Sol Porto Alegre, foi lançada a Campanha
ganhou destaque na mídia também em função da
Campanha “Nós Existimos”. De fato, havia uma ação “Nós Existimos” a nível nacional e
popular de 1998 que contestava uma portaria do Ministro
da Justiça da época, determinando a demarcação da internacional. Idealizada e organizada em Boa
área indígena de forma contínua. Posteriormente, o juiz
federal Helder Girão, da Primeira Vara de Roraima, suspendeu Vista, capital de Roraima, agrupava várias
a inclusão dos três pequenos municípios, criados às pressas
dentro da área indígena, para impedir a homologação contí- entidades sociais em defesa das terras dos
povos indígenas, dos pequenos lavradores e
nua. O Ministério Público Federal, a União e a Funai entraram
com recurso, mas a juíza Selene de Almeida negou o pedido.
Finalmente, em setembro de 2004, o Procurador Geral da União
entrou com reclamação, alegando ser o mérito desse julgamento da população urbana pobre.
de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, o que
foi considerado correto. A partir daí, o presidente ficou com o área, que uma vez resolvidas as pendências jurídicas, assi-
campo jurídico limpo para poder resolver o problema. Mas, de naria o decreto. Agora ficamos com a sensação de que sua
repente, no dia 3 de janeiro último, o Supremo interveio nova- mão ainda treme perante o suposto furor de vários setores da
mente para suspender a homologação, através da Ministra Ellen sociedade, interessados na dominação direta ou indireta das
Gracie. É uma suspensão provisória, fruto de apadrinhamento áreas indígenas. Se a área for homologada em ilhas, são os
judicial a que vimos assistindo há anos, dando um presentão donos do dinheiro, que exploram as terras mais férteis, que
aos arrozeiros e fazendeiros. continuarão mandando.
O senhor presidente teve a oportunidade ímpar para resolver Missões entrevistou João Carlos Martinez, missionário na
o problema e não quis. Por que será? Em 10 de maio de 2004, região do povo Macuxi, sobre o sucesso da Campanha e as
ele assegurou pessoalmente, em encontro com indígenas da expectativas da homologação.

26 Jan/Fev 2005 - Missões


o “Nós Existimos”
Por que a Campanha “Nós Existimos” se transformou em Justiça atua com uma ou outra velocidade e eficácia. Na minha
Movimento? opinião, os problemas jurídicos que vão aparecendo e que tocam
“Nós Existimos” nasceu como Campanha, e por isso, com a vida dos apadrinhados dos governantes são resolvidos para
um tempo determinado de existência, concretamente um ano. evitar a todo o custo o cumprimento da lei. No fundo há muitos
Quando chegou a hora de fechar suas atividades as entidades interesses pessoais escondidos que circulam no tráfico de in-
envolvidas, vendo os resultados obtidos durante esse curto fluências e pessoas que se fazem valer de um falso patriotismo
espaço de tempo, decidiram continuar trabalhando juntas. Por para enganar a sociedade e conseguir lucro fácil. Desse jeito
uma questão mais organizativa, passamos a chamá-la de Movi- a responsabilidade pelo nosso seqüestro vai sendo ocultada e
mento “Nós Existimos” já que reflete melhor a idéia de busca da diluída e ninguém acaba sendo incriminado.
realização de valores dentro de uma realidade que permanece
no tempo, mas muda em alguns aspectos. E também porque Quais as possibilidades e esperanças que ainda restam
persistem os problemas que motivaram a Campanha. para que seja feita a homologação contínua, respeitando os
direitos dos povos, conforme reza a Constituição?
A visita à Boa Vista e à área indígena Raposa Serra do Sol, Os arrozeiros, ocupantes das terras indígenas, não são os
em junho do ano passado, do ministro da Justiça, Márcio verdadeiros proprietários porque não têm nenhum título válido
Thomaz Bastos, terminou com a promessa da homologação sobre as áreas que ocuparam. Nenhum organismo da União re-
para breve. Quais conhece a propriedade particular e nem a posse legítima dessas
Fotos: Jaime C. Patias

seriam os entra- terras. O uso delas está baseado na conivência de políticos e


ves que impedem juízes inescrupulosos. César Quartiero, por exemplo, rizicultor
a assinatura? indiciado pela invasão da Missão e seqüestro dos missionários,
Já são mais de candidatou-se à prefeitura de Paracaíma e foi eleito. Por acaso
três décadas traba- estará preocupado com os problemas do povo? Ele apenas usa
lhando para que a política em benefício próprio. O problema é que as pessoas
os povos indígenas acabam votando naqueles que não cumprirão o que prometeram
vejam seus direitos O mínimo de democracia em Roraima ainda hoje é um sonho.
respeitados pela
sociedade nacio- Quais as ações comuns entre os três setores do movimento:
nal. Não podemos causa indígena, causa do povo rural e causa dos migran-
perder a esperan- tes dos subúrbios para terem seus direitos respeitados e
ça. Sabemos que cidadania mais digna?
os inimigos das A primeira e principal ação do Movimento é favorecer o encontro,
causas dos pe- o conhecimento e a partilha entre as pessoas que pertencem aos
quenos são cada três setores sociais: agricultores, índios e moradores da cidade.
Lançamento da Campanha no FSM 2003.
dia mais fortes, Para poder criar uma base social capaz de trabalhar pelos seus
mais organizados e poderosos. Eles contam com tudo, podem direitos, é necessário terminar com as divisões entre eles, que
comprar tudo, a cobiça deles não encontra limites. Mas os povos além do mais foram favorecidas pelas oligarquias dominantes
indígenas sabem que estão agindo do lado da lei, cobrando o com a única função de dividir o povo. Outra ação importante do
reconhecimento de seus direitos e com a cartilha da Justiça na Movimento é a formação das lideranças populares. Precisamos
mão. Um dia a homologação chegará. Sabem também que isso criar consciência participativa e democrática na população de
não acontecerá sem luta e sem organização. Os direitos estão Roraima para que o povo não seja manipulado. Por último, des-
aí, escritos nas leis, mas quem quiser vê-los respeitados terá tacar o nosso projeto de Mercado Ético e Solidário, uma idéia
que correr atrás e perseverar. nascida dos encontros entre os três grupos sociais como forma
de dar solução aos problemas de produção e comercialização
O senhor foi um dos missionários seqüestrados naquele dos seus produtos.
levantamento dos arrozeiros contra a homologação. De que
forma eles foram responsabilizados? Como o senhor se Vocês missionários encaram esse tipo de problema como
sente hoje naquele ambiente? evangelização?
Ficamos alguns dias sob custódia de indígenas a mando Agimos conforme o Evangelho: a primeira preocupação nossa
dos fazendeiros. Não sabíamos o que viria pela frente. Man- é a do testemunho de vida. E para dar testemunho precisamos
tiveram-nos incomunicáveis até que chegou a Polícia Federal ser solidários com os pequenos. Como podemos ser solidários
para intervir e nos colocar em liberdade. Por enquanto, não se não caminhamos juntos com os pobres, os indígenas ou se
houve nenhum tipo de ação por parte da Justiça. Teoricamente ficamos apenas ocupados com a formação religiosa? O primeiro
a polícia continua investigando os fatos, mas o tempo passa e anúncio é o testemunho de vida. 
a sensação de viver num Estado onde reina a impunidade cres-
ce. Em Boa Vista, dependendo de quem cometa os crimes, a Joaquim Gonçalves é sacerdote missionário, membro da Comissão Justiça e Paz.

Missões - Jan/Fev 2005 27


Ensino superio
amazônia

Fotos: Jaime C. Patias


da Comissão de Estudos da IES Católica na Amazônia

A
Região Norte tem somente 5,9% das matrículas no
Ensino Superior do país, mas apresentou em 2003
o maior incremento percentual: 21,1%, prevendo-
se que suas taxas de crescimento se mantenham
elevadas nos próximos anos. De um modo geral,
no Brasil, a taxa de expansão das matrículas tem
superado largamente a de crescimento populacional em geral e
dos jovens. Todavia, projeções de demanda futura devem con-
siderar a provável influência de outros fatores, particularmente
no caso das Instituições de Ensino Superior (IES) privadas,
como a capacidade de pagamento da população potencial, os
atuais índices de inadimplência, o crescente número de vagas
ociosas, o excesso de oferta em certas áreas do conhecimento
e em certas regiões, e a demanda crescente por educação
diferenciada e de boa qualidade.

Instituições e cursos de graduação


Das 101 IES instaladas na Região Norte, 68 se encontram nas capi-
tais e 33 no interior e observa-se o predomínio numérico das instituições
privadas, 86, em contraste com 15 universidades públicas.
de matrículas: 27,6%. As
IES comunitárias, Total de instituições públicas federais
IES Total de IES Total de e estaduais oferecem maior
Estado confessionais ou IES
particulares públicas IES diversidade e observa-se
filantrópicas privadas
uma crescente participação
Rondônia 21 3 24 1 25 dos cursos (bacharelados,
Acre 4 1 5 1 6 licenciaturas e tecnólogos) à
distância. Na Região Norte
Amazonas 10 4 14 4 18 são oferecidos atualmente
Roraima 4 1 1 1.306 cursos de graduação,
Pará 14 2 16 4 20 dos quais apenas 90 em IES
comunitárias, confessionais
Amapá 7 0 7 1 8 ou filantrópicas, com des-
Tocantins 13 2 15 3 18 taque para os Estados do
Amazonas (42% do total
TOTAL 73 13 86 15 101
de 90), Tocantins (27%) e
Rondônia (21%).
Os dados sugerem a relevância da comparação entre a
demanda e a oferta de cursos, segundo as diferentes áreas Corpo docente e pós-graduação
do conhecimento, possibilitando assim um olhar crítico sobre Enquanto no país apenas 35,8% dos docentes trabalha
a oferta de educação superior na Região, face às perspectivas em tempo integral, na Região Norte este percentual se eleva
e vocações locais em termos de desenvolvimento econômico para 52,8%. No caso dos horistas, apresenta um percentual
e social. Chama particularmente a atenção o grande número consideravelmente menor (26,3%) do que o conjunto do país
de IES privadas em Rondônia. Por outro lado, observa-se que (40,9%). Os Estados que concentram maior número de docentes
as instituições confessionais representam um grupo bastante são o Pará (38,1% do total de 11.450 da Região) e o Amazonas
reduzido neste universo. (25,9%), sendo os percentuais dos que trabalham em tempo
Em todo o país entre 1993 e 2003 houve grande aumento no integral de 66,5% e 44,7% respectivamente, o que pode ser
número de cursos de graduação (32%), que passaram de 5.280 visto como um indicador do peso relativo das universidades
para 16.453, sendo a maioria (quase 66%) oferecida pelo setor públicas nos dois Estados, particularmente no Pará, uma vez
privado. Administração e Direito concentram o maior número que via de regra são as que concentram o maior número de

28 Jan/Fev 2005 - Missões


or na Amazônia
professores com tempo integral. Em termos de formação, os
Relatório da Comissão de Estudos da
dados da Região também mostram contrastes importantes com
o conjunto do país: 12,1% dos docentes possuem doutorado
Instituição de Ensino Superior (IES)
(versus 39,5% no Brasil), 33,9% são mestres (versus 27,2%),
39,2% são especialistas (versus 33,3%) e ainda há 15,1% dos
Católica na Amazônia retrata a situação da
docentes apenas com graduação. Do total de 5.266 mestres e
doutores, 44,1% estão no Pará e 25,4% estão no Amazonas.
educação superiora na Região.
As IES comunitárias, confessionais ou filantrópicas da Região
Norte empregam 952 docentes, dos quais 105 têm graduação,
466 têm especialização, 334 têm mestrado e somente 47 têm e 75% dos 4.226 programas de televisão produzidos). Foram
doutorado, indicando uma demanda reprimida por cursos de também realizados 46.540 eventos e 13.180 cursos presenciais
pós-graduação stricto sensu. Verifica-se na pós-graduação de até 30 horas como atividades de extensão, verificando-se
lato sensu o mesmo fenômeno já observado para os cursos de em ambos os casos o predomínio do setor privado (80,1% e
graduação presenciais, isto é, em termos globais, as instituições 61,4% respectivamente). Já na oferta de cursos de extensão à
privadas apresentam um maior número de cursos, um elevado distância, observou-se que o setor público superou o privado,
número de matrículas e uma baixa diversificação de cursos por contribuindo com 54% do total.
Caberia aqui discutir a aparente relação custo/de-
manda dos cursos de graduação das IES e a definição
das atividades de extensão. A variedade das atividades
de extensão e o expressivo número de participantes
indicariam que elas estão perdendo sua tradicional carac-
terística assistencial e se transformando num espaço de
oportunidades educacionais e sociais para a população
como um todo? O papel social e educativo como expres-
são do compromisso socialmente responsável das IES
com seu entorno social estaria sofrendo um processo de
“mercantilização” com venda de serviços a custo mais
baixo para complementar o orçamento?
Finalmente, pode-se dizer que atualmente no Brasil, e
também na Região Norte, o ensino superior é majoritariamente
noturno e, como já assinalado, se expande principalmente
no setor privado. Embora o número de vagas já seja maior
que o de concluintes do Ensino Médio, ainda há mais que
o dobro de candidatos para o número de vagas. Por outro
lado, observa-se um número crescente de ociosidade,
especialmente no setor privado (cerca de 42%), indicando
instituição. Nas públicas ocorre o contrário: menor número de a necessidade de um planejamento cuidadoso para a oferta de
cursos e matrículas, porém, grande variedade de cursos por cursos e vagas, em especial nas IES particulares.
instituição. No caso da pós-graduação stricto sensu, havia em A Região Norte, apesar do crescimento de matrículas de
2002 segundo a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de graduação nos últimos anos superior a média nacional de 13%,
Pessoal de Nível Superior), 1.350 estudantes matriculados na ainda tem um número de matrículas proporcionalmente menor
Região Norte (1,4% do total de pós-graduandos do país). do que a representatividade percentual de sua população. A
oferta quantitativamente maior de vagas e cursos no setor pri-
Extensão universitária vado contrasta com uma diversidade muito maior de áreas de
Em 2003, pela primeira vez, foram coletadas informações sobre formação superior (embora com oferta de vagas significativa-
as atividades de extensão. Uma das áreas de maior destaque foi mente inferior) no âmbito das instituições públicas, indicando a
a assistência à saúde, com 179.056.780 atendimentos, fundamen- possível existência de diversas áreas com oferta bastante limitada
talmente prestados pelas universidades públicas (92,55%). Outra no setor privado e reforçando a necessidade de investimentos
área relevante foi a assistência jurídica, que realizou 472.332 significativos para atingir uma efetiva democratização do acesso
atendimentos, a maior parte através de instituições privadas à educação superior. 
(81,1%), com participação maior das universidades (73%). As
IES privadas também tiveram uma presença importante na área Thierry Linard de Guertechin, sacerdote jesuíta é presidente da Comissão. Professores Luiz Cesar
de comunicação (89,5% dos 17.998 dos programas de rádio Monnerat Tardin, coordenador, Cynthia Paes de Carvalho e Marimar Muller Stahl.

Missões - Jan/Fev 2005 29


Goiás Campanha de solidariedade
Pastoral da Juventude Maremoto na Ásia

Divulgação
De 25 a 28 de fevereiro acontecerá o 7º Fórum
Nacional de Assessores da Pastoral da Juventude.
O evento será realizado no Centro Pastoral Dom
Fernando Gomes, em Goiânia. O objetivo é desenca-
dear, junto aos assessores, a reflexão e discussão da
Educação na Fé. É um espaço de auxílio, no processo
de construção do Seminário Nacional sobre Processo
de Educação na Fé, que acontecerá nos dias 15 e 18
de setembro de 2005. Informações: (61) 313-8300 ou
pelo e-mail: pjb@pjb.org.br

Brasília
Reunião do Comina
Os membros do Conselho Missionário Nacional
(Comina) reuniram-se nos dias 16 e 17 de dezembro,
VOLTA AO BRASIL

na Sede Nacional das Pontifícias Obras Missionárias


do Brasil, no Distrito Federal, para mais uma reunião
ordinária. Como tema de estudo e reflexão, o missió-
logo Pe. Paulo Suess discorreu sobre A Missão das Em solidariedade às vítimas do maremoto na
Comunidades Eclesiais de Base: Seguir Jesus no Ásia, a Cáritas Brasileira, organismo da CNBB, abriu
Compromisso com os Excluídos. Além disso, cons- a conta-corrente Cáritas Brasileira SOS Ásia número
taram da pauta os seguintes assuntos: projeto para 39.000-3, agência 3475-4 do Banco do Brasil para
o Centro Cultural Missionário (Brasília — CNBB); a receber doações de qualquer quantia para ajudar as
Missão brasileira no Timor Leste (com a presença famílias desabrigadas e na reconstrução dos países
da Ir. Beatriz, que acabou de retornar daquele país); destruídos pelas ondas gigantes. O maremoto ocorreu
Juventude Missionária; preparação para o encontro no último dia 26 de dezembro de 2004, devastando e
com os coordenadores dos Conselhos Missionários destruindo 12 países no continente asiático, causan-
Regionais (Comires), dias 15 e 16 de março de 2005; do a morte de mais de 150 mil pessoas e deixando
7º Encontro Nacional de Organismos e Institutos mais de cinco milhões de desabrigados e milhares de
Missionários, dias 26 e 27 de agosto de 2005 (POM desaparecidos. Informações: Cáritas, (61) 325.4174
— Brasília); e 1º Congresso Missionário Além-Fron- e (61) 9989.6509.
teiras (de 21 a 23 de abril de 2005), em São Paulo,
SP; Assembléia Nacional da Infância Missionária Trabalho Escravo
(de 3 a 5 de dezembro), relação Comire e Infância
Missionária; presença do Pe. Gervásio Quiroga por A Empresa Agropecuária Agrovás, do presidente
dois meses na Guiné-Bissau, a partir de 3 de de- da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge
zembro, onde atuará como professor do Seminário, Picciani (PMDB); o ex-deputado Augusto Farias e a
em projeto de cooperação entre Igrejas da CNBB. família Mutran, do Pará, grande exportadora de cas-
Além dos membros do Comina, destacou-se ainda a tanha-do-pará. Estes são alguns nomes que figuram
presença de Dom Laurindo Guizzardi, CS, Bispo de na relação, produzida pelo Ministério do Trabalho e
Foz do Iguaçu, PR, responsável pela Pastoral dos Emprego, de infratores que utilizam o trabalho análogo
Brasileiros no Exterior. à escravidão. A relação, que ficou conhecida como
São os seguintes os membros eleitos para a “lista suja”, foi divulgada no dia 5 de janeiro, e traz 64
gestão 2004-2007 do Comina: nomes, entre empresas e fazendeiros. Só vai para
a relação o nome do empregador cujo processo já
1. D. Sérgio Eduardo Castriani, Bispo Prelado de tenha sido transitado em julgado. Para que o nome
Tefé, AM: Presidente seja retirado da lista, o infrator será monitorado du-
2. Ir. Maize Silva Pereira: Secretária Executiva rante dois anos. Os produtores e empresas rurais
3. Pe. Cláudio Ambrósio: Tesoureiro que constam no cadastro têm dificuldade em obter
4. Pe. Eduardo Alencar Lustosa: Comires acesso a recursos públicos, em especial os fundos
5. Srta. Cristina Paulek: Missionários Leigos constitucionais. No ano passado, 2.745 trabalhado-
6. Pe. Daniel Lagni: Pontifícias Obras Missionárias res foram libertados da escravidão e mais de R$ 4,5
(POM) milhões foram pagos em direitos trabalhistas durante
7. Pe. José Geerickx: Centro Cultural Missionário as 71 operações dos grupos móveis do Ministério do
(CCM) Trabalho e Emprego. Ainda em 2004, 264 fazendas
8. Ir. Maris Bolzan: Conferência dos Religiosos do foram fiscalizadas. 
Brasil (CRB)
9. Ir. Rosita Milesi: Pastoral dos Brasileiros no Ex- Os nomes da “lista suja” estão disponíveis em:
terior (PBE) www.cptnac.com.br
10. Pe. Paulo Suess: Conselho Indigenista Missio-
nário (Cimi) Fontes: Comina, CNBB, CPT
30 Jan/Fev 2005 - Missões
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