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ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB

100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR - 4 - 07/09/08


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DOMINGO, 7 DE SETEMBRO DE 2008


C4 CIDADES/METRÓPOLE O ESTADO DE S.PAULO

RETRATOS DO BRASIL q

Jovem faz
programas
e recebe no
fim do mês
Servindo aos vaga-lumes da ‘firma’,
meninas ainda convivem com o tráfico

CELSO JUNIOR/AE
12 ANOS – ‘A menina do celular’, de Coari, leva dinheiro para casa só depois que os clientes, funcionários de empreiteiras e da Petrobrás, recebem o salário; sua mãe não pergunta de onde vem o pagamento
CELSO JUNIOR/AE

Leonencio Nossa dão dinheiro quando recebem o prefeitura. “É um cabide de em-


ENVIADO ESPECIAL
salário”,conta.“Somoscincoir- prego, a forma de manter o po-
COARI (AM) mãos. Meu pai largou minha vo na mão”, afirma o bispo de
mãe e foi para Manaus. Minha Coari, d. Joércio Gonçalves Pe-
“Na verdade, já vou completar mãerecebeBolsa-Famíliaeodi- reira. Ele também critica a
13 anos em dezembro”, diz “a nheiro que eu dou. Ela não gos- construção dos ginásios pela
menina do celular”, ao ser abor- ta que eu atenda no celular as administração municipal. “De
dada pelo Estado à meia-noite ligações dos meus amigos, mas que adianta ter essa estrutura
e meia numa rua do centro de não pergunta de onde vem o di- se não tem política educacio-
Coari. Ela seguia com um moto- nheiro e quem são os que vão lá nal e programas de esporte?”
taxista, profissional que atua em casa deixar o dinheiro.” “Construíram muitas qua-
no agenciamento de adolescen- Essa garota, que abandonou dras, mas dizem que pode ser
tes, para a casa de um “amigo a escola na 4ª série do ensino lavagemde dinheiro. Coari lem-
da firma” com o qual conversa- fundamental, diz que o padras- bra Roma, pão e circo. Pão tem
ra pouco antes por meio de um to tentou violentá-la e foi expul- pouco, mas circo tem muito”,
telefone móvel. so de casa pela mãe. Parte do afirma d. Joércio, que conside-
Na cidade que passou de 38 dinheiro ganho atualmente na ra a exploração de crianças na
mil para 65 mil habitantes des- prostituição é usada para com- cidade “sofisticada”. Para ex-
de o início das obras de extra- prar pasta de cocaína e pagar plicar, observa que não há
çãodegás,nos anos1990,osmo- oscolegasmototaxistas.O“ami- “pontos de encontro” – como
radores chamam de “firma” a go da firma”, que mora em um no caso da “menina do celu-
Petrobráseasempreiteiras.Co- hotel de Coari, deu-lhe R$ 100 lar”, as crianças recebem tele-
nhecido como “farda”, o unifor- no mês passado; no mês ante- fonemas do pessoal da “firma”
me laranja dos funcionários é rior, foram R$ 50. para ir aos hotéis.
símbolo de status numa região No comando de uma diocese
onde a maioria da população PÃO E CIRCO que atende 210 comunidades ri-
não tem capacitação profissio- Quem chega à cidade sem re- beirinhas, o bispo confirma que
nal.Ànoite,empregadosda“fir- serva de hotel dificilmente con- aáreatambémérotaparaadro-
ma” usam a “farda” laranja, pa- segue vaga porque a Petrobrás ga que sai do Peru e segue para
recendo vaga-lumes nos bares costuma reservar todos os Manaus, a capital amazonense.
e prostíbulos do município. quartos para alojar os funcio- E há um elo entre a exploração
A“meninadocelular”nãore- nários. Uma parte do dinheiro de crianças e o tráfico. “(Hoje) A
cebe por programa, mas por do petróleo também paga o sa- cidade joga fora um momento
mês.“Meus amigosda firma me SEM TER ONDE FICAR – Quem chega à cidade dificilmente consegue hotel; vagas são reservadas por estatal lário dos 8 mil funcionários da importante (na área social).” ●

gião, levantando números que do filho. Estava na 8ª série do

Hospitais de Coari tratam podem revelar, de forma mais


objetiva, os dramas das crian-
ças. No dia da conversa com o
Estado, o hospital atendeu
ensino fundamental quando tu-
doaconteceu.“Aprofessoradis-
se que eu estava passando mal e
me mandou para casa. Não vol-

gestantes com até 9 anos


uma adolescente de 14 anos, tei mais.” No posto médico do
que sofreu um aborto, e uma de bairro Urucu, 22 das 60 grávi-
15 anos, que teve um filho. das assistidas são adolescentes
de até 17 anos. “Quando as fir-
FAVELA RECENTE mas (empresas) vêm, o índice de
Outrapersonagemqueexempli- gravidez aumenta”, diz Izanira
Em 2007, 280 adolescentes deram à luz; no 1.º semestre deste ano, foram 176 fica a situação atual no municí-
pio é a jovem que a reportagem
Lima de Oliveira, enfermeira
responsável pelo posto, que
simplesmente identificou como acompanhou o depoimento da
CELSO JUNIOR/AE “menina ribeirinha”, uma ado- “menina ribeirinha”.
COARI (AM)
lescente grávida de 15 anos que “Geralmente, as meninas
vive em Urucu, favela surgida grávidasomitem,porumaques-
O Hospital Regional de Coari recentemente. Ela só foi atraí- tão cultural, que o pai da crian-
temumaestruturadecausarin- da pelas enfermeiras do posto ça era da firma, foi embora e é
veja aos demais municípios na de saúde por causa do sorteio homemcasado”,revela Izanira.
beira do Rio Solimões. As insta- de duas cestas básicas. Morava “Elas sentem vergonha, a pró-
lações e equipamentos são no- numa comunidade ribeirinha pria família discrimina. Saem
vos e os corredores, arejados. A do Amazonas com os pais e seis de casa, vão morar com a tia, se
maternidade, no entanto, apre- irmãos. Há três anos, a família mudam para a casa da amiga.”
sentanúmerosqueassustam os abandonou o sítio e se mudou
profissionais da saúde. No ano para Coari, no rastro do desen-
passado, 280 gestantes de até volvimento proporcionado pelo ‘Quando chegam as
17 anos deram à luz no hospital. gás.Nacomunidadedela,próxi-
Esse número chegou a 176 no ma de um terminal da Petro- empresas, o número
primeiro semestre deste ano – e brás, a quantidade de peixes di- de adolescentes
duas das mães tinham 12 anos. minuiu, segundo os moradores, grávidas aumenta’
Outras 20 adolescentes sofre- com a intensa movimentação
ram aborto e foram atendidas das embarcações.
no mesmo período. Na cidade, o pai, acostuma- A situação é igual no posto
O médico paulista Ricardo do a pescar, plantar e caçar, de saúde do centro de Coari.
Matias, há um ano e seis meses não conseguiu emprego e dei- Das 37 grávidas que estão sen-
à frente do hospital, tira de sua xou a mulher e os filhos. Na últi- do acompanhadas pelo posto,
função a síntese do que aconte- ma vez em que ele apareceu em 12 são adolescentes. “Quando
ce na cidade. “Não é falta de casa, levou a filha ao médico. A chegam os homens das emprei-
dinheiro na prefeitura. O que menina reclamava de dores de teiras do projeto do gás, o nú-
falta é uma política de educa- cabeça. Ela estava grávida. “O mero de adolescentes grávidas
ção continuada, de capacita- médico disse que ele (o pai) não aumenta”, afirma Benegilda
ção de professores. O nível es- poderia fazer nada contra Souza, a enfermeira responsá-
colar das crianças é extrema- mim”, contou a garota, tímida, vel,repetindo a constatação fei-
mente baixo, faltam professo- cabelosnegros,comcorpoeros- ta por Izanira. Em 2007, duas
rese não há centros para espor- to de criança deformados pela meninas de 9 anos, grávidas, fo-
te e cultura”, diz. Matias ainda gravidez de 6 meses. ram atendidas no centro médi-
faz um trabalho pioneiro na re- ‘MENINA RIBEIRINHA’ – Ela só foi atraída para exame no posto de saúde pelo sorteio de duas cestas básicas Mas não conta quem é o pai co. ● L.N.

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