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Transtorno do deficit de atenção cívicacom hiperactividade social em rede

(TDACHSR)

Por José Pacheco Pereira

A doença ainda é socialmente desigual na sua distribuição entre os adultos, mas já


está fortemente implantada nas escolas

Onome que uso em cima é uma adaptação própria a partir da tradução portuguesa do
inglêsAttention-deficit hyperactivity disorder, que substituiu ou aperfeiçoou
oAttention-deficit disorder(ADD) que há uns anos era comummente usado em
Psiquiatria. Vi naWikipédia essa tradução e embora não esteja certo do rigor da
dita, para o que vou dizer chega-me, porque não é a doença da "psique"
propriamente dita que me interessa, mas uma sua variante social. Digamos que é um
exercício de "psicologia social" pouco rigoroso, impressionista, do género da
"psicologia das multidões".

É o nome, a descrição da coisa, que, isso sim, me parece mais que interessante.
Parece-me certo para uma doença social que alastra por todo o lado, a olhos
vistos. Padecemos, nós portugueses, de uma dose forte de Transtorno do Déficit de
Atenção Cívica com Hiperactividade Social (TDACHSR, lê-se "tedacherr"), não por
igual, nem todos, mas cada vez mais. E o efeito social da doença é devastador,
ataca o "povo" que é suposto ser sábio, mas que a doença torna cada vez menos
sábio, e ataca as elites que já nem sabem o que é ser elite, se é que alguma vez o
foram.

Registe-se já que a doença ainda é socialmente desigual na sua distribuição entre


os adultos, mas já está tão fortemente implantada nas escolas, hoje o seu
principal foco de infecção primária, que chegará a todos, ao rapper negro da
Amadora, como ao "beto" do colégio da Opus Dei. Perguntem a um professor pela
atenção das criancinhas. E já agora perguntem às criancinhas pela atenção do
professor. É como uma nova gripe, ataca a todos menos aos mutantes que não sabem
que são mutantes e têm lá um gene qualquer que os defende. Mas a calamidade é
geral.

O doente número um foi certamente um nerdqualquer, depois infectou outrosnerds,


depois os amadores das últimas modas tecnológicas, depois os autores de blogues,
depois os jornalistas, depois as "juventudes" partidárias, já "amolecidas" para a
infecção pelo telemóvel, depois a gente da moda, depois alastrou para as
instituições, para os negócios, deu origem a um mercado. O vírus do TDACHSR
encontrou não só portadores como poderosos centros de infecção.

Chegada às escolas, a doença começa de baixo para cima, nos mais novos, e está em
plena força nas "novas gerações" e nas ex-"novas gerações". Ou seja, está a fazer-
se cada vez mais forte quando essas gerações hoje infantes chegarem à vida cívica,
ou seja, a partir do momento em que começam a escrever umas banalidades arrogantes
em qualquer sítio da Rede, quando passarem do SMS no telemóvel para o Facebook e o
Twitter. Comunica-se também um pouco para os "mais velhos", mas não é ainda
dominante. Estes ainda mantêm algum arcaísmo social, alguma "atenção", porque
ainda conheceram na sua juventude algum silêncio, algum tempo lento, alguma
prevalência da leitura sobre a televisão, ou apenas a televisão e os jornais, mas
tudo ainda muito devagar e pouco "interactivo". Ainda prezam a sua privacidade,
outro dos bens que se estão a tornar escassos por uma geração que acha normal ter
localizadores nos telemóveis e começar qualquer conversa com um "onde estás?". E
não lhes passaria pela cabeça colocar fotografias em poses obscenas no hi5, ou
dizer "onde estão" de meia em meia hora no Twitter.

O que é que caracteriza esta TDACHSR? Uma completa falta de atenção ao que é
relevante, cultural, social, económica, politicamente, uma enorme dificuldade de
identificar o "ponto" e de ir ao "ponto". Pelo contrário, manifesta-se por uma
imersão numa multidão de "pontos", todos igualmente dispersos, todos igualmente
irrelevantes. Uma enorme dificuldade em aprender, porque nunca se está no mesmo
sítio, nunca se está calado, nunca se pára de se mexer, nunca se desliga o
telemóvel, nunca se sai de frente dos ecrãs, televisão e computador, nunca se
deixa de falar, de "twitar", de enviar SMS, nunca se deixa de receber "tweets" e
SMS, fotografias, sons, vídeos, alguns, poucos, textos. O vírus da TDACHSR produz
uma rede muito complexa porque emaranhada, mas é incapaz de gerar uma seta, uma
direcção, um sentido, um significado. E produz uma memória curtíssima, uma
presentificação absoluta, uma incapacidade de lembrar tempos, e de os comparar.
Pode-se "ler" nesta "nuvem"? Poder pode, mas fora dela. É o que fazem os poderosos
que se colocam noutro lugar. Atentos. Sem deficit de atenção. Com memória.
Focados. No "ponto".

Em baixo, no meio, na "interacção", a rede distrai, dispersa, perde, é um


labirinto kafkiano em que os que estão nela imersos não sabem verdadeiramente
aonde ir. Nem querem saber por que estão demasiado interactivos nesta forma
moderna da dança de S. Vito. Não sabem sequer que estão perdidos, mas fazem imenso
barulho, mandam imensas mensagens, "twitam" que se fartam, na proporção directa do
que não pensam. Fornecem-nos toda uma série de trivialidades. Eu hoje sei a que
horas se vão deitar os directores dos jornais portugueses e onde comem e o que
comem, e os amores e ódios dos nossos jornalistas escorrem pelo labirinto... Tudo
produz "opinião", na maioria dos casos uma espécie de "bocas" mais ou menos
envenenadas, como os comentários anónimos, ou uma forma moderna das cartas
anónimas e das conversasself righteousnos cafés. Não interessa que os "factóides"
(magnífica palavra) sejam boatos, mentiras,inuendos, falsificações, desde que
estejam escritos nalgum lado, ganham vida própria e existem "interactivamente".
Como não há gravidade, e como o labirinto funciona como oFlatworld de Abbott, onde
cai peçonha, fica peçonha.

A TDACHSR não é pluralista no seu interesse, mas monista na sua desatenção. Ela
mantém fortes relações com o relativismo ético e apaga as distinções entre o saber
e a ignorância, a decência e a perversidade, a verdade e a falsidade, o carácter e
a esperteza. Tudo passa a valer o mesmo e circula como se fosse o mesmo, porque a
TDACHSR lhe tira o sentido, na sua desatenção à diferença, diferença que nasce de
"literacias" que exigem atenção, esforço, trabalho, tolerância e vida.

Sim, vida. Porque os doentes da TDACHSR não têm tempo para nada que implique
alguma quota de realidade. Porque a realidade é demasiado complexa para a
desatenção. É que, de vez em quando, o pouco "interactivo" e demasiado antigo
mundo real, imperfeito, duro e cruel, desaba sobre a Matrix.Historiador e deputado
do PSD

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