Evolução
- a saída de 8000 a 10000 portugueses com destino ao Brasil durante o século XVIII;
- a saída de cerca de 28000 emigrantes durante a última década do século XIX.
Em relação aos períodos mais recentes destaca-se a saída, entre 1955 a 1974, de mais de 1,6
milhões de portugueses ou seja uma média de 82000 emigrantes /anuais. Isoladamente
destacamos a saída de - 34113 emigrantes legais em média, entre 1950 e 1960 e de 68100 entre
esta data e o início da década de setenta, contra menos de 8200 emigrantes entre 1940 e 1950. Já
em relação a datas mais recentes é de salientar que entre 1974 e 1988, somente 230.000
emigrantes saíram oficialmente do país, reduzindo aquele valor para cerca de 15000 saídas
anuais.
Destinos
A intensificação recente deste movimento foi acompanhada por uma preferência cada vez maior
pelas saídas para a Europa, em particular para a França - 985 emigrantes em 1955; 3593 em
1960; 32641 em 1964 e 27234 em 1969 - em detrimento da corrente tradicional, com destino ao
Brasil: 18486 emigrantes em 1955; 12451 emigrantes em 1960; 4929 emigrantes em 1964 e
apenas 2537 emigrantes em 1969. Estes valores realçam a quebra do movimento transoceânico
e a sua substituição pelo intra-europeu. Daí resultou uma segunda alteração que se verificou
através do incremento das saídas clandestinas as quais vieram a superar nos anos de 1969, 1970
e 1971, as saídas legais então registadas.
Recorde-se que não só as razões de natureza económica relacionadas com o nível de vida, as
fracas oportunidades de emprego existentes nas regiões rurais e a incapacidade do tecido
produtivo em absorver os contingentes de assalariados e de trabalhadores libertos das
actividades agrícolas e de subsistência, contribuíram para acelerar este movimento. Também as
razões de natureza política decorrentes do regime Salazarista e da guerra em África justificaram
muitas dessas saídas. Refira-se ainda que o incremento da emigração para a Europa, registada
entre nós no decurso dos anos sessenta e setenta veio a reduzir o tradicional movimento
transoceânico e acompanhou a tendência global da emigração intra-europeia igualmente
registada noutros países mediterrânicos.
Razões várias, dos tempos mais remotos à actualidade, justificam a ocorrência, entre nós, deste
fenómeno. Discuti-las não cabe no âmbito desta notícia. Contudo, importa assinalar a exiguidade
e a "míngua dos meios de subsistência", responsáveis pelo "êxodo" de emigrantes isolados e de
famílias inteiras, hoje radicadas nos diversos países de imigração. Igualmente importa assinalar
as circunstâncias de natureza política que as determinaram associadas a perseguições de
natureza política, à falta de liberdade expressão, à guerra nas antigas colónias e às práticas
sociais dominantes que levaram à fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do
serviço militar.
Em relação aos traços dominantes deste fenómeno, o incremento da emigração para a Europa
conhecida entre nós no decurso dos anos sessenta e setenta, embora tendo contribuído para
enfraquecer o movimento transoceânico, acompanhou a tendência global da emigração intra-
europeia registada igualmente noutros países europeus durante a segunda metade do século XX.
Por isso verificamos o seu grande incremento e expansão em todas as regiões do território, facto
que se verificou em simultâneo com outras modificações globais que afectaram a sociedade
portuguesa.
Em relação à sua extensão no território, notamos que a importância destas saídas foi bastante
acentuada nas regiões densamente povoadas do norte e do centro do país, assim como nas Ilhas
Atlânticas dos Açores e da Madeira. Da mesma forma, este fenómeno afectou as regiões do
Minho, de Trás-os-Montes e da Beira Alta, de onde partiram os maiores contingentes de
emigrantes não só em direcção ao Brasil mas também, já durante a segunda metade do século
XX, para os países industrializados da Europa Ocidental: França, Alemanha; Luxemburgo e mais
recentemente para a Suíça. Isso o comprova as cerca de um milhão de saídas oficiais registadas
no período compreendido entre meados dos anos cinquenta e os finais dos anos oitenta do
século XX oriundas dos distritos de Lisboa, do Porto, de Setúbal, de Braga, de Aveiro, de Viseu e
de Leiria, para referir apenas as mais importantes.
A dimensão deste fenómeno nas suas vertentes: emigração legal e emigração clandestina e sua
expressão em todos os estratos etários da população, sobretudo na população jovem e adulta,
confirmam a sua antiguidade e as raízes históricas deste movimento. Por isso alguns autores
reconhecem tratar-se de uma "constante estrutural" da sociedade portuguesa associado à
"míngua das condições de subsistência" relacionadas com as más condições de vida da
população, com a estrutura fundiária e com as pressões demográficas decorrentes do declínio
das antigas civilizações agrárias da Europa mediterrânica.
Estas, as principais razões da evolução deste fenómeno que conduziu ao "êxodo" de emigrantes
isolados e de famílias inteiras, hoje radicadas em diversos países de imigração. Estas condições
facilitaram a repulsão demográfica e a exclusão social que favoreceram os movimentos
migratórios com destino à França e à Alemanha, ao Luxemburgo, à Suíça e a outros destinos
europeus, como anteriormente haviam promovido a emigração para o Brasil, o "Eldorado"
português, para os EUA ou mesmo para outros destinos mais longínquos do continente
americano.
Outrora constituída por mão-de-obra essencialmente masculina, a divulgação das saídas para a
Europa e o consequente reagrupamento familiar que a partir da segunda metade da década de
sessenta se começou a acentuar, está bem expressa não só na maior importância dos indivíduos
do sexo feminino - 40% em 1966; 40,8% em 1967 e 53,5% em 1968 - mas ainda na estrutura
etária das saídas legais. No seu conjunto, estas referem uma parcela significativa de indivíduos
com idade inferior a 14 anos. Trata-se de uma emigração adulta, sobretudo masculina, pouco
especializada e letrada. Contudo hoje em dia esta corrente é constituída por jovens e adultos com
maior escolarização e formação profissional.
Do mesmo modo podemos assinalar a importância da emigração familiar quer na sua
componente transoceânica como europeia, facto que abona a favor do seu carácter mais
duradouro e permanente que se tem vindo a acentuar.
Reflexos da emigração
Para além destes aspectos, registamos o aumento do comércio, em particular com o exterior, o
desenvolvimento do turismo e das actividades terciárias em particular na periferia dos grandes
centros urbanos de Lisboa e do Porto. No seu conjunto estas transformações contribuíram para
gerar novas oportunidades de emprego, para o aumento do P.N.B. do país e para uma melhoria
significativa do nível de vida sua população. Contudo, não bastaram para estancar o fenómeno
emigratório português que registou, durante o terceiro quartel do século XX uma das fases de
maior expansão com destino quer à Europa quer mesmo ao continente americano.
Os portugueses no mundo
Uma análise mais pormenorizada desta distribuição realça a distribuição desta população por 28
países na Europa; 39 países em África; 32 países na América; 22 países na Ásia e 2 países na
Oceânia, de que se destacam os mais importantes: União Europeia (1 201 163), Brasil (1 200
000), Angola (20 000), Moçambique (11 668), Guiné-Bissau (800), Cabo Verde (500), e São Tomé
e Príncipe (451).
Desta distribuição, ressaltam alguns aspectos relacionados com a antiguidade deste fenómeno;
outros, as suas características recentes. Assim, em relação à emigração "transoceânica", entre os
destinos referidos o Brasil, continua a ser o país onde a presença portuguesa é mais relevante e
onde os laços de consanguinidade com a sociedade portuguesa, oriunda quer do continente quer
dos Açores e mesma da Madeira, é mais manifesta.
Já os EUA surgem como o destino privilegiado dos Açores e de muitos emigrantes do continente
atraídos em épocas distintas, tal como aconteceu com o Canadá, pelas oportunidades de emprego
aí existentes. Mas não podemos deixar de referir, ainda no continente americano, a Venezuela e a
Argentina, as Antilhas Holandesas e as Bermudas, destinos muito procurados nos finais do
século XIX. No seu conjunto trata-se de destinos característicos da "emigração transoceânica"
que se desenvolveu a par da intensificação da colonização do Brasil e da exploração das suas
riquezas naturais e do alargamento de outros destinos relacionados com o desenvolvimento
industrial e urbano do continente norte-americano.
Relacionada com a colonização de alguns territórios africanos contamos, fora ainda do contexto
europeu, com os testemunhos de uma emigração oriundo sobretudo da Madeira em terras da
África do Sul, ou já com outras comunidades de cidadãos nacionais em Angola e em Moçambique,
no Zimbabwe e noutros países africanos. A evolução dos regimes políticos africanos não permite
no entanto o fortalecimento de comunidades numerosas noutros destinos pelo que o total de
cidadãos nacionais neste continente parece estar a reduzir-se.
Bibliografia
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Editores, 1956.
Nota final
Por razões que se prendem não só com a evolução económica dos países além-mar mas ainda
com as necessidades de mão-de-obra sentidas na Europa, os novos destinos da emigração
portuguesa, traçados desde os finais do século XIX, alteraram-se no decurso do século XX
conduzindo à redução drástica da emigração transoceânica em detrimento da emigração intra-
europeia. Para tanto terão contribuído a proximidade e as facilidades de transporte, os melhores
salários e nível de vida que vieram a fomentar estas saídas em direcção aos países do ocidente
europeu. E como foi notado, tendo em conta as características desta mão-de-obra, fracamente
especializada, este movimento alastrou a todas as regiões do país contribuindo para engrossar
os contingentes de emigrantes portugueses que se espalharam pelos mais diversos países da
Europa e do resto do mundo.