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A produção de dissertações e a

importância da leitura
Introdução

Dissertação é uma tipologia presente em diversos gêneros. Deve ser compreendida tanto
do ponto de vista da construção como da leitura.

Leitura é um complexo processo presente na vida de todo ser humano, em diversos con-
textos. É fundamental, para o amplo desenvolvimentos de nossas habilidades de comu-
nicação e interação com o mundo, desenvolver o máximo possível nossas habilidades
leitoras.

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O que é dissertação

“ – Fala-se em modernização, na valorização da mulher como artista. Mas


penso que neste século (segundo uma idéia de Paulo Emílio Salles Gomes) a
modernização em geral só modernizou a burguesia. Pertenço, por exemplo, a
uma corporação que precisa procurar sempre outros recursos além dos relati-
vamente modestos proporcionados pela atividade literária, são raros os escri-
tores que ficaram ricos com o dinheiro dos livros. Os outros ficam aí se virando
na voragem de uma vida que virou um artigo de luxo.
Confesso que há muito tempo me vejo reivindicando maior valorização no
campo da palavra escrita. Combati o bom combate.
Quanto às mulheres propriamente burguesas, essas não precisam
Lygia Fagundes Telles mesmo de nenhum amparo.”
(TELLES, Lygia Fagundes. “Resposta a uma jovem estudante de Letras”.
In: Durante aquele estranho chá. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.)

O fragmento do texto de Lygia Fagundes Telles, se observado de um ponto de vista es-


trutural, pode ser compreendido como uma forma de análise da realidade.

Nele, a autora parte de um tema (“modernização da mulher como artista”) e desenvolve


um comentário analítico a respeito. Segundo a escritora, não há modernização da mu-
lher artista, mas sim uma modernização apenas da burguesia.

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Para defender esse ponto de vista, L. F. Telles indica que ela pertence a um grupo (o dos
escritores) que só consegue viver de maneira modesta do ofício de escrever, raramente
atingindo uma vida realmente confortável com o fruto de seu trabalho.

O tipo de texto escrito por Lygia Fagundes Telles é muito comum para todos nós. Nele
estão inseridos os textos que, em sua forma de composição, partem de um tema abs-
trato e propõe alguma forma de análise ou interpretação do real. Esse tipo de texto é
denominado dissertativo.

Definição semelhante é apresentada por Platão e Fiorin: “dissertação é o tipo de texto


que analisa, interpreta, explica e avalia os dados da realidade.”

Em unidades anteriores, foram estudadas as tipologias narrativa e descritiva. A disserta-


ção também é uma tipologia textual, o que significa dizer que muitos textos que produzi-
“A tipologia dissertativa também está presente
em gêneros orais em que há análise de temas,
mos e lemos apresentam essa forma de organização interna.
como os debates e muitas reuniões de
trabalho”
A tipologia dissertativa está presente, em maior ou menor grau, nas monografias, disser-
tações de mestrado, teses de doutorado, artigos de opinião, editoriais, resenhas, deba-
tes, entre muitos outros gêneros.

Nas palavras de Othon Garcia, para que seja dissertativo, basta que o texto tenha,
como forma de organização principal, o que se poderia chamar de “exposição ou expla-
nação de idéias.”

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Estrutura dissertativa

Vamos destacar algumas características dos textos dissertativos, retiradas de Platão e Fiorin:
a) São textos temáticos: apresentam-se como uma análise de um dado tema. Nos tex-
tos dissertativos, o objetivo principal não é contar uma história ou descrever algo,
mas desenvolver um raciocínio sobre um assunto.
b) Sua ordenação obedece às relações lógicas: por desenvolver um raciocínio, o texto
dissertativo organiza-se por uma relação de lógica entre suas partes. Assim, seu
autor parte de um tema e apresenta idéias sobre o assunto, de tal forma que cada
nova idéia acrescentada seja solidária com as anteriormente expostas.
c) Seu tempo é o presente, de valor atemporal: por procurar falar de um tema de
forma ampla e generalizada, não pensando apenas em um caso isolado, o tempo
verbal mais comum no texto dissertativo é o presente.

Leia o texto a seguir:

“A seleção natural só tem olhos para o indivíduo, a ela não interessa o futu-
ro de qualquer espécie. Haja vista quantos milhões delas acompanharam os
dinossauros nas extinções em massa. Não existe grandiosidade nos desígnios
da evolução, ela segue curso inexorável, mero resultado da soma aritmética
de pequenas conquistas individuais que conferem microvantagens na hora da
reprodução. A evolução não moveu um dedo para impedir que o homem mo-
derno, filho de caçadores e coletores que matavam por comida,
inventasse a poltrona e a geladeira. Como resultado dessa ruptura, com a tra-
dição de escassez permanente vieram a obesidade, o diabetes,
a hipertensão e os infartos do miocárdio.”
Drauzio Varella
(VARELLA, Drauzio. Borboletas da alma. São Paulo: Cia das Letras, 2006.)
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No fragmento do texto de Drauzio Varella encontramos as três características dissertati-
vas anteriormente destacadas:
a) O texto é temático, apresentando uma análise sobre a mudança do hábito alimen-
tar humano, desenvolvido há milhões de anos, e a atual abundância de comida.
b) Há uma relação lógica entre as partes, pois o texto inicia-se com uma informação
sobre a seleção natural. A partir dela, avança no raciocínio e conclui que, como ela
só tem olhos para o indivíduo, nada fez para impedir que nós mudássemos nossa
forma de estar no mundo, criando a vida sedentária e todas as doenças decorren-
tes dessa nova atitude.
c) Observam-se alguns verbos no passado, mas a maior parte de suas frases analíti-
cas estão escritas em um presente generalizador, comum a todos os seres envolvi-
dos naquele processo: “A seleção natural só tem olhos para o indivíduo, a ela não
interessa o futuro de qualquer espécie”. “Não existe grandiosidade nos desígnios
da evolução, ela segue curso inexorável”.

Produzindo um dissertação

Boa parte dos textos que produzimos ou lemos, sejam eles estruturados nas tipologias
narrativa ou dissertativa, apresentam-se organizados em três grandes momentos: o co-
meço, o meio e o fim. No caso dos dissertativos, essa estrutura básica é constituída pelo
que convencionou-se chamar “introdução”, “desenvolvimento” e “conclusão.”
Definição semelhante é encontrada em Francisco Moura, quando afirma: “a estrutura-
padrão de um texto dissertativo é constituída de introdução, desenvolvimento e conclu-
são”.

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Por introdução, entende-se o momento inicial do texto, em que será apresentado o tema
e o ponto de vista do autor sobre o assunto; já o desenvolvimento é composto pelas
idéias, informações ou dados que o autor apresentará para desenvolver seu ponto de
vista. Por fim, a conclusão apresenta o fechamento do raciocínio.

Quando vamos produzir um texto dissertativo, portanto, devemos levar em conta esses
três aspectos. Observemos, com mais detalhes, as especificidades de cada parte:
• Introdução: é o momento em que autor apresenta ao leitor o tema e seu ponto de
vista. Especialmente quando pensamos no universo escrito, é fundamental explicar
ao leitor do que se trata e qual será nossa posição frente ao assunto.
• Desenvolvimento: é a parte principal do raciocínio. Quando defendemos um ponto
de vista, de forma mais ou menos explícita, precisamos expor os motivos que nos
levam a pensar daquela forma sobre o tema.
• Conclusão: como estamos construindo um ponto de vista, precisamos “fechar”
nosso raciocínio.

De forma esquemática, podemos visualizar da seguinte forma:


- Meu tema é X.
- O que penso sobre o tema X?
- Por que penso isso?
- Existe algum autor que pense como eu?
- Baseado em tudo isso, qual minha conclusão?

É claro que os diversos textos não seguem, necessariamente, essa estrutura tão rígida.
Tudo depende do tamanho do texto, do objetivo do autor ao escrevê-lo, do contexto em
que será publicado, entre outros fatores. De qualquer forma, ao compormos uma disser-
tação, devemos seguir um esquema de racicínio, no qual estejam articulados introdução,
desenvolvimento e conclusão.

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Parágrafo Dissertativo

A clareza do raciocínio dissertativo deve-se, em grande parte, à forma como consegui-


mos organizar nossas idéias em parágrafos. Em termos de composição textual, é um
caminho em etapas. Os parágrafos representam, de certa forma, cada um desses está-
gios a serem cumpridos.

Com o intuito de definir parágrafo, Luiz C. Figueiredo afirma que eles “são como ‘pra-
teleiras’ que dividem uma seqüência de informações ou pensamentos. Servem para
facilitar a compreensão e a leitura do texto, dar folga ao leitor, que acompanha, passo a
passo, a linha de raciocínio desenvolvida pelo escritor.”

Para que essa linha fique clara, especialmente se pensarmos no esforço de compreensão
que será feito pelo leitor, a organização dos parágrafos torna-se fundamental.

É preciso que o leitor seja apresentado ao tema, em um primeiro momento; depois,


espera-se que cada ponto a ser destacado pelo autor seja desenvolvido em um ou mais
parágrafos. Por fim, o leitor espera que haja um ou mais parágrafos de fechamento da
idéia.

Um elemento que pode orientar a construção de cada parágrafo é o chamado “tópico


frasal”. Pode ser compreendido como a idéia central de um dado parágrafo, em torno
da qual os outros termos e frases se organizam.

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De acordo com Figueiredo, “esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele
nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele vai ser o roteiro do escritor na
construção do parágrafo; ele é o período-mestre, que contém a frase-chave.”

Observe os dois parágrafos a seguir:

“(1) Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos


rodeados (por vezes esmagados ou algemados) por mitos. Nem falo dos belos,
grandiosos ou enigmáticos mitos da Antiguidade grega. Falo, sim, dos mitinhos
bobos que inventou nosso inconsciente medroso, sempre beirando precipícios
com olhos míopes e passo temeroso. Inventam-se os mitos, ou deixamos que
aflorem, e construímos em cima deles a nossa desgraça.

(2) Por exemplo, o mito da mãe-mártir. Primeiro engano: nem toda mulher nas-
ce para ser mãe, e nem toda mãe é mártir. Muitas são algozes, aliás. Cuidado
com a mãe sacrificial, a grande vítima, aquela que desnecessariamente deixa
de comer ou come restos dos pratos dos filhos, ou, ainda, que acorda às 2 da
manhã para fritar (cheia de rancor) um bife para o filho marmanjo que chega
em casa vindo da farra. Cuidado com a mãe atarefada que nunca pára, sem-
pre arrumando, dobrando roupas, escarafunchando armários e bolsos alheios
sob o pretexto de limpar, a mãe que controla e persegue como se fosse cuidar,
não importa a idade das crias. Essa mãe certamente há de cobrar com gestos,
palavras, suspiros ou silêncios cada migalhinha de gentileza.
Eu, que me sacrifiquei por você, agora sou abandonada, relegada, esquecida?
E por aí vai...”
(LUFT, Lya. “Faxina nos mitos”. Revista Veja, n. 1901, 20/04/2005)

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Em cada um dos parágrafos de Lya Luft encontramos tópicos frasais diferentes. No pri-
meiro, a idéia central é que vivemos cercados por mitos bobos que nos fazem infelizes.
Ela está sintetizada no primeiro período do texto, seu tópico frasal (“Boa parte de nossa
infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos rodeados (por vezes esmagados ou
algemados) por mitos”).

Já no segundo, o tema do texto continua o mesmo, mas uma nova idéia foi acrescenta-
da. A autora nos apresentará um tipo específico de mito, o da “mãe-mártir”; esse pará-
grafo inteiro terá como tópico organizador esse tema.

Dissertação e Argumentação

Em nossa tradição escolar, é muito comum a associação dos termos “dissertação” e “ar-
gumentação”, como se fossem sinônimos. No entanto, é importante destacar que temos
aí dois fenômenos lingüísticos distintos.

Como vimos, dissertação é uma tipologia, uma forma de organização interna de alguns
textos. Já argumentação, ou persuasão, pode ser definida como a soma dos procedi-
mentos lingüísticos utilizados em um dado texto que têm por objetivo convencer o recep-
tor/leitor de alguma coisa.

Platão e Fiorin propõe a seguinte definição de “argumento”: “observemos a origem do


termo: vem do latim argumentum, que tem tema argu, cujo sentido primeiro é ‘fazer bri-
lhar’, ‘iluminar’. É o mesmo tema que aparece nas palavras argênteo, argúcia, arguto
etc. Pela sua origem, podemos dizer que argumento é tudo aquilo que faz brilhar, cinti-

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lar uma idéia. Assim, chamamos argumento a todo procedimento lingüístico que visa a
persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi
dito e a fazer o que foi proposto.”

Observe a embalagem ao lado.

A embalagem do adoçante Linea sucralose mostra desenhos de diversos doces e algu-


mas frutas (morangos) com aspecto bastante agradável (sensação criada pelo volume,
cor, entre outros elementos). A imagem parece nos convencer de que o produto é capaz
de produzir alimentos gostosos.

A escolha por representar as imagens em forma de desenho, bem como a seleção de


cores, pode indicar também que o público preferencial do produto são as crianças,
grandes consumidoras de doces.

Analisando esses elementos, pode-se afirmar que essa embalagem procura persuadir o
leitor de que o adoçante é um produto delicioso, fazendo um apelo à vontade de con-
sumi-lo. Assim, é possível dizer que ela procura convencer o leitor, de forma explícita, a
comprar o produto Linea sucralose.

Novamente de acordo com Platão e Fiorin, “todo texto é argumentativo, porque todos
são, de certa maneira, persuasivos. Alguns se apresentam explicitamente como discursos
persuasivos, como a publicidade, outros se colocam como discursos de busca e comu-
nicação do conhecimento, como o científico. Aqueles usam mais a argumentação em
sentido lato; estes estão mais comprometidos com raciocínios lógicos em sentido estrito.”

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O que é leitura?

Quando faço uma prova, sempre


discuto com meus colegas de faculdade.
Não consigo pensar no enunciado
isolado, levo em conta o que ouvimos
na aula, a personalidade do professor,
o que ele pensa a respeito da
classe e dos alunos.
Não acredito que uma avaliação seja
apenas “resposta para uma pergunta”.
É claro que isso conta, mas não é tudo.

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Muitas pessoas identificam como “leitura” o ato de pegar um livro, uma revista, um jor-
nal ou abrir uma página da internet e atribuir sentido aos textos verbais organizados em
cada um desses meios.

Tendo como base nossa amplitude de definições de texto, já podemos, inicialmente, en-
tender a leitura como um processo de atribuição de sentido a combinações sígnicas de
diferentes naturezas.

Segundo Vincent Jouve, a leitura é uma atividade complexa, que apresenta algumas
facetas.
• Um processo neurofisiológico: “ler é, anteriormente a qualquer análise do conteú-
do, uma operação de percepção, de identificação e de memorização dos signos.”
• Um processo cognitivo: “depois que o leitor percebe e decifra os signos, ele tenta
entender do que se trata.”
• Um processo afetivo: “se a percepção do texto recorre às capacidades reflexivas do
leitor, influi igualmente – talvez, sobretudo – sobre sua afetividade.”
• Um processo argumentativo: “o texto, como resultado de uma vontade criadora,
conjunto organizado de elementos, é sempre analisável como ‘discurso’, engaja-
mento do autor perante o mundo e os seres.”

Nesse sentido, “ler” é um processo amplo, uma forma de interação com os signos que
se dá de um ponto de vista neurofisiológico, cognitivo, afetivo e argumentativo.
Já para o educador Paulo Freire, ler é um ato social, muito importante e que todo ser
humano realiza, independentemente de ser alfabetizado ou não. Para ele, a leitura é,
antes de mais nada, um processo socializado.

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não
pode prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem

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dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre texto e contexto.” (FREIRE, 2003)

Nesse outro sentido para o termo “leitura”, o destaque recai na interação entre o indi-
víduo e o mundo. Todas as pessoas, independentemente de sua escolaridade, lêem a
realidade. Afinal, para Freire, a compreensão de um texto é sua inserção em uma dado
contexto.

Uma outra definição pode ser vista em R. Dell’Isola. Diz a autora: “ler é interagir, é
construir significado para o texto. Quando se invoca a natureza interativa do tratamento
textual, é preciso ter em mente todos os tipos de conhecimento que o leitor utiliza duran-
te a leitura – conhecimentos e crenças sobre o mundo, conhecimentos de diferentes tipos
de texto, de sua organização e estrutura, conhecimentos lexicais, sintáticos (...).”
Paulo Freire
Nessa terceira concepção, destaca-se o papel interativo entre texto e leitor. Para a atri-
buição de sentido, ele realiza uma série de procedimentos, mobilizando vários conhe-
cimentos diferentes, que vão de seu repertório pessoal ao conhecimento da estrutura
interna do texto em questão. Nessa forma de ver a leitura, o sentido não está encerrado
no texto; depende, sim, das estratégias mobilizadas pelo leitor para ter dele alguma
compreensão.

Leitura inferencial: o contato do leitor com o texto

Aprofundando melhor a relação entre texto e leitor, Vicent Jouve atribui máxima impor-
tância ao conhecimento prévio no ato de ler.

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“A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhe-
cimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao
longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o
conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue
construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhe-
cimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se
dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não
haverá compreensão.”

Observe os textos a seguir:

Ao observarmos essas imagens, imaginamos serem páginas de jornais. A maioria de


nós não compreende as línguas em questão, mas, ao analisarmos as fotos e as realida-
des que elas parecem representar, a estruturação das páginas, a maneira de organizar
os textos, entre outros aspectos, levantamos hipóteses de leitura para os textos.

Essa é uma situação extrema (páginas em línguas desconhecidas), mas os leitores reali-
zam essas estratégias o tempo todo, com os mais variados textos. E, a partir delas, vão
construindo suas hipóteses de sentido para o que lêem.

A esse conjunto de procedimentos utilizados e hipóteses construídas pelo leitor para


compreender uma dada materialidade textual dá-se o nome de inferência. Para
Dell’Isola, inferência “é uma operação que os leitores desenvolvem enquanto estão len-
do o texto ou após terem completado a sua leitura.”

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Fique Atento
Como podemos notar, realizar inferências é um processo natural nos diversos atos de leitura. Ele
é fato fundamental na construção do sentido feita pelo leitor. Nesse interação, no entanto, de-
vemos ter em mente que o autor, ao produzir sua textualidade, possui uma intenção, sugerindo
sentidos a partir de sua organização de fatos e idéias. Se, ao fazer uma leitura, nosso objetivo
é procurar entender um pouco esse raciocínio autoral, devemos estar atentos para que nossas
inferências pessoais estejam a serviço dessa compreensão. Muitas vezes, um termo, uma frase,
uma imagem suscitam em nós sentimentos, idéias que não necessariamente têm a ver com o
que o texto nos apresenta. É importante perceber isso, especialmente quando fazemos uma
leitura com um objetivo profissional, escolar, pois devemos estar aptos a distinguir quando uma
idéia que nos ocorreu é pertinente ou não com a leitura em questão.

Em busca da leitura crítica

“A interpretação não é mero gesto de decodificação, de apreensão do sentido. Também


não é livre de determinações. Ela não pode ser qualquer uma e não é igualmente distri-
buída na formação social. O que a garante é a memória sob dois aspectos: a) a memó-
ria institucionalizada, ou seja, o arquivo, o trabalho social da interpretação em que se
distingue quem tem e quem não tem o direito a ela; e b) a memória constitutiva, ou seja,
o interdiscurso, o trabalho histórico da constituição da interpretação.” (ORLANDI, 2004)

Tendo como base o conceito de memória, Eni Orlandi afirma que as interpretações re-
lacionam-se com ela de duas formas: primeiro, pelo viés institucional, conjunto de vozes
socialmente constituídas que aparecem como os “interpretantes” previsíveis de um dado
texto.

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Se observarmos, por exemplo, as vozes que aparecem na mídia analisando uma fala
presidencial, elas serão compostas prioritariamente por outros políticos, cientistas polí-
ticos, sociólogos, empresários, enfim, representantes de grupos sociais que formam a
“memória representativa” de um assunto como esse.

O outro viés é o constitutivo. A interpretação de um texto também levará em conta os


outros textos com os quais ele dialoga, que o constituem, de certa maneira. Observar o
que um texto está dizendo é, também, resgatar o que os outros textos que o originaram
já disseram.

Em uma outra obra, a autora destaca esses mesmos dois aspectos ligados à interpreta-
ção, usando termos diferentes: previsibilidade e legitimidade. Sobre o primeiro item (pre-
visibilidade), diz: “os sentidos se sedimentam de acordo com as condições em que são
produzidos; e, dada a relação entre os textos, o conjunto dessas relações indica como o
texto deve ser lido.” (ORLANDI, 2006)

Assim, podemos entender que toda a leitura se dá a partir de uma certa previsibilidade,
pois o sentido de um texto vai se sedimentando de acordo com a situação comunicativa
em que foi produzido.

Além disso, um texto é sempre o resultado de um diálogo com outros já existentes, que
lhe fornecem sustentação, Nesse sentido, os intertextos estabelecidos por um texto in-
dicam modos de como devemos lê-lo. Os textos que participam da construção de um
outro indicam caminhos para sua compreensão que não devemos desprezar.

Eis aí um grande desafio para o leitor: para interpretar um texto, é preciso ter em mente
esses dois aspectos. Assim, o sentido de um texto passa pelo contexto de sua produção.
Isso implica que, ao iniciar uma leitura de uma obra, com o intuito de interpretá-la,

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deve-se levar em conta quando foi produzida, que impacto causou, o que continua sen-
do dito sobre ela, entre outros fatores.

O sentido de uma obra também está relacionado com os outros textos que a constituem.
Quando discutimos o conceito de intertextualidade, vimos que um texto nunca é total-
mente original; ele constrói-se a partir de outros, já existentes. Entrar em contato com
parte desse conjunto é também fator relevante para a interpretação textual.

Retomando, aliás, o conceito de leitor que o define como aquele que “se assume como
tal na prática da leitura, numa ordem social dada, em um lugar específico” (ORLANDI,
2006), podemos entender que só nos tornamos efetivamente leitores quando somos
capazes de caminhar pela previsibilidade de leitura de um texto, bem como de, a partir
dele, construirmos leituras legítimas.

Esse é o segundo aspecto da leitura destacado por Orlandi. Legitimidade não deve ser
compreendida como única leitura possível de um texto. Pelo contrário, como elemento
de um processo histórico, um texto pode receber, no decorrer do tempo, novas significa-
ções.

Se, no entanto, desprezarmos a previsibilidade, as leituras já feitas a partir do texto, cor-


reremos o sério risco de atribuir-lhe sentidos incoerentes com sua situação de produção.

Interpretar a tela de Picasso, como qualquer outra obra, exige que conheçamos um pou-
co do contexto de produção do quadro (a vida de seu autor, de seu país, especialmente
sobre Guernica, pequena localidade basca bombardeada pelos nazistas em 26 de abril
Guernica, Picasso
de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola). Além disso, interpretá-la nos solicita tam-
bém saber um pouco sobre a proposta do artista, suas técnicas, suas outras telas, seus
contemporâneos, suas influências, entre outros fatores.

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Fique Atento
Dominique Maingueneau destaca três grandes “estratégias” usadas pelos leitores para se
aproximarem dos textos:
a) domínio da “gramática da língua”: diz respeito à capacidade de decodificar o que está no
texto, entender as palavras, a estrutura das frases, enfim, atribuir um sentido mínimo ao que
se lê.
b) capacidade de compreender as regras de estruturação textual: são as estratégias que nos
permitem perceber se um texto é corente, se suas partes não se contradizem, se estão bem
Dominique amarradas; é o conjunto de nossos conhecimentos sobre a forma de organização de um dado
Maingueneau
texto.
c) conhecimento do contexto enunciativo: “um certo saber de extensão muito variável sobre a
época, o autor, as circunstâncias imediatas e distantes e o gênero do discurso ao qual a obra
pertence”. Nesse sentido, para realizarmos uma leitura crítica de um dado texto, devemos ter
em mente que precisamos de informações sobre o contexto da obra e do autor, pois elas nos
orientarão para uma leitura do texto dentro de um universo previsível de possibilidades de
sentido.

Bibliografia

DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura: inferências e contexto sociocultural. Belo Hori-
zonte: Formato, 2001.
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GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Editora FGV,
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Materiais Complementares

MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
PACHECO, Agnelo C. A dissertação. São Paulo: Atual, 1988.
PITA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Dissertação: o parágrafo e seu desenvolvimento. São Pau-
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PITA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Leitura inferencial e leitura crítica. São Paulo: Anhembi
Morumbi (documento em PDF)

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