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1. O documento discute se um recurso à arbitragem pode ser apresentado mesmo com uma pendência administrativa. Afirma que não há previsão legal que vincule o direito à ação à via administrativa, e que o devido processo administrativo é uma garantia e não um ônus ao administrado.
2. Analisa que o procedimento administrativo é um direito disponível ao administrado, que pode abrir mão dele. A arbitragem é uma forma de jurisdição equivalente ao judiciário, portanto o raciocínio se aplica também a ela. O administrado
Deskripsi Asli:
Judul Asli
A Pendência de Procedimento Administrativo Não Obsta o Recurso à Arbitragem
1. O documento discute se um recurso à arbitragem pode ser apresentado mesmo com uma pendência administrativa. Afirma que não há previsão legal que vincule o direito à ação à via administrativa, e que o devido processo administrativo é uma garantia e não um ônus ao administrado.
2. Analisa que o procedimento administrativo é um direito disponível ao administrado, que pode abrir mão dele. A arbitragem é uma forma de jurisdição equivalente ao judiciário, portanto o raciocínio se aplica também a ela. O administrado
1. O documento discute se um recurso à arbitragem pode ser apresentado mesmo com uma pendência administrativa. Afirma que não há previsão legal que vincule o direito à ação à via administrativa, e que o devido processo administrativo é uma garantia e não um ônus ao administrado.
2. Analisa que o procedimento administrativo é um direito disponível ao administrado, que pode abrir mão dele. A arbitragem é uma forma de jurisdição equivalente ao judiciário, portanto o raciocínio se aplica também a ela. O administrado
A pendncia de procedimento administrativo no obsta o recurso
arbitragem.
1. O ESTADO DE VILA RICA alega que o recurso apresentado instaurao do procedimento arbitral no possui validade, uma vez que se encontra obstado pela pendncia de um processo na esfera administrativa [Autos, Anexo 11, p.31]. No entanto, avocando o exerccio de sua competncia da competncia, cabe a este tribunal arbitral assumir para si a jurisdio sobre o presente litgio, uma vez que no existe previso legal que vincule o exerccio do direito ao da Requerente ao exaurimento da via administrativa. 2. O instituto do devido processo administrativo uma garantia legal conferida aos administrados, como instrumento para proteo de seus direitos individuais frente aos abusos do poder estatal. Assim sendo, tal garantia no se materializa em nus para o administrado, devendo este necessariamente aguardar o trmino do procedimento na esfera administrativa para lhe ser aberta a oportunidade de levar sua causa jurisdio, mas sim em uma forma de lhe assegurar sua defesa. Sendo ento um benefcio proporcionado ao indivduo, bastante claro que este poder abrir mo de tal prerrogativa. Passamos agora exposio.
1.1. Breve histrico do processo administrativo.
3. Em 1215, no Reino da Inglaterra, o monarca Joo Sem Terra celebrou um pacto com a nobreza do pas no qual se estabeleciam certas limitaes ao poder Real, recebendo esse documento o nome de Magna Carta. Em seu item 39, tal texto estabelecia a chamada law of the land, segundo a qual nenhum homem livre teria sua vida, liberdade e propriedade retiradas sem o prvio julgamento com o uso das leis locais. 4. No ano de 1354, no reinado de Eduardo III, o parlamento ingls aprova o Estatuto de Westminster Sobre as Liberdades de Londres, no qual se fez a substituio da expresso anterior law of the land por due process of law, garantindo nobreza o direito a um efetivo processo, antes da realizao de qualquer subtrao a seus direitos. 5. J nos Estados Unidos da Amrica, em 1868, com a adoo da XIV emenda no texto constitucional, alm da V emenda j presente na Bill of Rights, consolidado o princpio do due process of law, herana inglesa das antigas treze colnias, que passa a ser difundido globalmente como uma garantia fundamental, com algumas ampliaes no sentido de frear abusos do poder pblico contra os cidados. 6. Mas e s em 1934 que a Constituio brasileira passa a dar maior ateno ao referido instituto, estabelecendo expressamente em seu artigo 169 a aplicao do princpio do devido processo administrativo pela administrao pblica. A partir desse momento histrico nosso ordenamento jurdico vem tradicionalmente mantendo a vigncia de tal direito, e o ampliado ao longo dos anos, tendo sido acrescida a ampla defesa. 7. Finalmente, em 1988, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil se preocupou em preservar esse instituo fundamental para qualquer Estado que se pretenda ser conhecido como democrtico, adicionando a ele o importante princpio do contraditrio.
1.2. O processo administrativo enquanto direito disponvel
8. De todo este relatado desencadear do processo histrico da elaborao da atual garantia do devido processo administrativo, h de se notar que esta guarda sua origem diretamente relacionada law of the land inglesa. A importncia de se ressaltar tal elo proveniente da necessidade de se deixar claro que se trata de uma conquista social dos indivduos, sendo ento uma prerrogativa concedida pelo Estado aos administrados. Assim, de seu carter beneficirio, h de se chegar lgica concluso de que este poder ser disposto pela vontade do favorecido. 9. Ora, uma vez que se trata de um instituto elaborado a fim de buscar a satisfao dos cidados submetidos fora estatal, buscando assegurar seus direitos frente aos possveis abusos dos entes pblicos, devemos entender que a necessidade do processo administrativo no pode ser transubstanciada em um nus para o sujeito a quem pretende proteger. 10. Assim sendo, em respeito autonomia da vontade do indivduo, caso este manifeste o desejo de dispor da prerrogativa de se submeter a um procedimento administrativo, estar agindo dentro dos limites de seus direitos. No se pode obrigar algum a figurar em um dos polos de uma relao processual contra sua vontade consciente. 11. Vale lembrar que no art. 49 da lei 14.184/2002, que versa sobre o procedimento administrativo no mbito da Administrao Pblica de Minas Gerais (posso usar lei mineira como sendo lei de Vila Rica???) prev expressamente a possibilidade da extino do processo mediante a desistncia do interessado.
1.3. Da prescindibilidade do procedimento administrativo
12. O inciso XXXV do art. 5 da CRFB/88 institui a inafastabilidade do controle jurisdicional, sendo esta a principal garantia dos direitos subjetivos, no entendimento do constitucionalista Jos Afonso da Silva [p.430], ao estabelecer que a leso ou ameaa a direito no pode ser excluda da apreciao do Judicirio. 13. Percebe-se que a Carta de Outubro d plena autonomia ao direito de ao, condicionando este apenas existncia de litigiosidade presente ou imanente, sendo a nica ressalva estipulada no artigo 217, 1, referente justia desportiva, o que no nos vem ao caso. 14. Alm disso, vale ressaltar que o Cdigo de Processo Civil estabelece como condies da ao to somente a possibilidade jurdica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade da parte. 15. Assim, de se notar que de acordo com a lgica do sistema legal ptrio no existe qualquer requisito de exaurimento da via administrativa para que o poder judicirio possa apreciar determinada demanda. 16. Exemplos no faltam na jurisprudncia brasileira de entendimentos neste sentido, quanto mais em demandas que versem sobre direitos patrimoniais disponveis, como o caso do presente procedimento arbitral. Neste sentido, se pronunciou a 4 Turma Cvel do TJMS, apelao N. Error! Reference source not found.: Alega a apelante, em preliminar, que o autor carecedor de ao por falta de interesse de agir, eis que no procedeu ao esgotamento da via administrativa para o recebimento da indenizao. Tenho que o procedimento administrativo para recebimento do crdito prescindvel, de forma que nada obsta que a parte de ingresse em juzo pleiteando o reconhecimento de seu direito, vez que o interesse de agir resulta na ligao entre a necessidade e a satisfao da pretenso do demandante, que, caso no ajuze a demanda pode vir a sofrer prejuzo. A referida turma do TJMS apresentou o mesmo entendimento na apelao Error! Reference source not found.: O autor no estava obrigado a exaurir a instncia administrativa e a requerida foi constituda em mora pela citao. Ademais, sua insurgncia contra a pretenso exordial revela claramente a inutilidade de uma eventual tentativa de recebimento pela via administrativa. (...) De tal forma, por caracterizar-se o interesse de agir, como a necessidade de obter atravs do processo a proteo ao interesse substancial, entendo restar comprovado o cumprimento citada condio da ao, por parte do recorrido.
TJPR, julgamento da apelao cvel 757152-6, 3 Vara da Comarca de Londrina: O pleito judicial, portanto, no est condicionado a pedido prvio administrativo, sendo perfeitamente cabvel que a parte interessada recorra diretamente ao Poder Judicirio para a obteno de seu direito. At porque no h previso legal no sentido de obrigar a parte a recorrer via administrativa antes de invocar a tutela jurisdicional do Estado
*** H inmeros outros julgados, mas acho que no vale a pena ficar citando. Fiz uma pesquisa e descobri que em o RE 622616 do STF que versa sobre o tema, mas no consegui acessar o site do Supremo pra verificar. ***
1.4. A arbitragem como jurisdio e a consequente dispensa de exaurimento da via administrativa.
17. De acordo com entendimento doutrinrio majoritrio, a arbitragem se trata de um equivalente jurisdicional. Tal viso corroborada pela legislao especfica brasileira que versa sobre essa forma de resoluo de conflito, a lei federal 9.307, dota a sentena arbitral de eficcia e autoridade iguais s da sentena judicial convencional. Desse modo, a deciso proferida pelo tribunal arbitral capaz de produzir os mesmos efeitos que aquela pronunciada pelo poder judicirio estatal, dispensando qualquer forma de homologao e adquirindo naturalmente a estabilidade tpica da coisa julgada. 18. Assumindo a arbitragem como forma de jurisdio, com a nica especificidade de ser privada, fica claro que o raciocnio desenvolvido no presente captulo deste memorial ser logicamente aplicvel tambm a esse procedimento. 19. Ora, uma vez que cabe ao administrado, dentro dos limites de seus direitos, dispor da prerrogativa de se sujeitar ao procedimento administrativo, podendo partir diretamente para a busca da tutela jurisdicional, por fora do art. 5, XXXV da Constituio, nada obstar que este leve a causa a um tribunal arbitral, se esta for sua vontade. Isso porque, entendendo a arbitragem como modalidade jurisdicional, estar includa no estabelecido pelo referido dispositivo constitucional.