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Fisiologia Renal

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A circulação extracorpórea é um agen- nal e a pelve coletora que se continua com
te capaz de produzir alterações nas funções o ureter. O parênquima renal apresenta
do sistema renal e no equilíbrio dos líqui- duas regiões bastante distintas: a região pe-
dos e dos eletrolitos do organismo. Os rins riférica, cortical ou córtex renal e a região
são fundamentais na regulação do meio central, medular ou medula renal (Fig. 5.1).
interno, em que estão imersas as células de À semelhança do alvéolo pulmonar na
todos os órgãos. fisiologia respiratória, o rim é constituido
Os rins desempenham duas funções
primordiais no organismo: 1. eliminação de
produtos terminais do metabolismo orgâ-
nico, como uréia, creatinina e ácido úrico,
dentre outros e, 2. controle das concentra-
ções da água e da maioria dos constituintes
dos líquidos do organismo, tais como sódio,
potássio, cloro, bicarbonato e fosfatos.
Os principais mecanismos através os
quais os rins exercem as suas funções são a
filtração glomerular, a reabsorção tubular e a
secreção tubular de diversas substâncias.
O sistema urinário, encarregado da
produção, coleta e eliminação da urina
está localizado no espaço retroperitonial,
de cada lado da coluna vertebral dorso-
lombar. É constituido pelos rins direito e
esquerdo, a pelve renal, que recebe os co-
letores de urina do parênquima renal, os
uretéres, a bexiga e a uretra.
Os rins são envolvidos por uma cápsu- Fig. 5.1. Esquema do rim esquerdo, que demonstra as
la fibrosa que ao nível do hilo renal se dei- regiões cortical, medular e o hilo renal. No hilo penetra
a artéria renal esquerda e emergem a veia renal e a pelve
xa atravessar pela artéria renal, a veia re- coletora.

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CAPÍTULO 5 – FISIOLOGIA RENAL

A camada cortical do rim, a mais ex-


terna, é constituida principalmente por
néfrons corticais, que tem os tubulos cole-
tores menores que os néfrons localizados
mais próximos da região medular, chama-
dos néfron justa-medulares.
A camada medular é constituida prin-
cipalmente pelos longos tubulos coletores
de urina, que se juntam em tubulos maio-
res até se constituirem na pelve renal.
O glomérulo tem a função de filtrar o
sangue enquanto o sistema de túbulos co-
letores absorve parte do líquido filtrado nos
glomérulos. Os túbulos também podem
secretar diversas substâncias, conforme as
necessidades do organismo.
Fig. 5.2. Esquema completo do néfron, mostrando o Envolvendo cada glomérulo existe uma
glomérulo e seus componentes e os tubos coletores, cápsula, chamada cápsula de Bowman que
conforme descrição detalhada no texto.

de unidades funcionais completas, chama-


das néfron. O néfron representa a menor
unidade do rim; cada néfron é capaz de fil-
trar e formar a urina independentemente
dos demais. A função renal pode, portan-
to, ser compreendida estudando-se a fun-
ção de um único néfron. Existem aproxi-
madamente 1.200.000 néfrons em cada
rim, que funcinam alternadamente, con-
forme as necessidades do organismo a cada
momento. O néfron é constituido basica-
mente por um glomérulo e um longo túbulo
que desemboca nos tubos coletores de uri-
na (Fig. 5.2).
O glomérulo é uma rede ou um no-
velo de capilares recobertos por células
epiteliais. Um glomérulo pode ter até 50
capilares. O sangue penetra no glomérulo
pela arteríola aferente e sái através da Fig. 5.3. Esquema simplificado do néfron, mostrando
os principais componentes funcionais, conforme
arteríola eferente. descrição do texto.

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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

se continua com o túbulo proximal. A pres- FUNÇÃO DO NÉFRON


são do sangue nos glomérulos produz a fil- A função essencial do néfron consiste
tração de líquido para o interior da cápsu- em depurar o plasma sanguíneo das subs-
la de Bowman, de onde escoa para o túbulo tâncias que devem ser eliminadas do orga-
proximal. Do túbulo proximal o líquido nismo. O néfron filtra uma grande propor-
penetra na alça de Henle, que tem uma ção do plasma sanguíneo através da mem-
porção com parede muito fina, chamada brana glomerular. Cerca de 1/5 do volume
segmento fino da alça de Henle. Da alça que atravessa o glomérulo é filtrado para a
de Henle, o líquido penetra no túbulo distal cápsula de Bowman que coleta o filtrado
que se insere num canal coletor, juntamen- glomerular. Em seguida, à medida que o fil-
te com os túbulos distais de diversos ou- trado glomerular atravessa os túbulos, as
tros glomérulos. O canal coletor acumula substâncias necessárias, como a água e
a urina proveniente de vários néfrons e se grande parte dos eletrólitos são reabsorvi-
lança na pelve renal. O líquido filtrado no das, enquanto as demais substâncias, como
glomérulo, chamado filtrado glomerular, é uréia, creatinina e outras, não são reabsor-
transformado em urina à medida que pas- vidas. A água e as substâncias reabsorvi-
sa pelos túbulos proximal e distal (Fig. 5.3). das nos túbulos voltam aos capilares peri-
As artérias renais são ramos da aorta tubulares para a circulação venosa de re-
abdominal. Ao penetrar no hilo do rim, a torno, sendo lançadas nas veias arqueadas,
artéria renal dá origem a diversos ramos, e finalmente, na veia renal. Uma parte dos
chamados ramos interlobares que mergu- produtos eliminados pela urina é constitu-
lham na profundidade do parênquima re- ída de substâncias que são secretadas pe-
nal. Desses ramos interlobares, emergem las paredes dos túbulos e lançadas no lí-
as artérias arqueadas das quais se originam quido tubular. A urina formada nos túbulos
as arteríolas aferentes. Cada arteríola é constituida por substâncias filtradas do
aferente produz um tofo ou novelo de ca- plasma e pequenas quantidades de subs-
pilares que constituem o glomérulo; no tâncias secretadas pelas paredes tubulares.
extremo oposto os capilares se reunem no- O fluxo sanguíneo através dos rins
vamente, formando a via de saída do corresponde, em média, à aproximada-
glomérulo, a arteríola eferente. mente 20% do débito cardíaco, podendo
A arteríola eferente se ramifica em di- variar, mesmo em condições normais.
versos outros capilares, formando a rede Em um adulto de 60 Kg de peso, o débito
capilar peritubular, que se emaranha com cardíaco corresponde a 4.800 ml/min; a
os túbulos proximais e distais do sistema fração renal do débito cardíaco será de
coletor. Outros vasos emergem da arteríola 960 ml. O fluxo sanguíneo renal é muito
eferente e se dirigem às regiões que circun- maior que o necessário para o simples
dam as alças tubulares, e são conhecidos suprimento de oxigênio. Cerca de 90%
como vasos retos, que após formarem as al- do fluxo sanguíneo renal são distribuídos
ças na medula renal, se lançam nas veias. pela camada cortical, onde abundam os

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CAPÍTULO 5 – FISIOLOGIA RENAL

glomérulos e, apenas 10% se distribuem me capacidade de reabsorção dos túbulos


pela região medular. renais. O líquido reabsorvido nos túbulos
Os rins possuem um eficiente mecanis- passa para os espaços intersticiais renais e
mo de autoregulação que permite regular daí para os capilares peritubulares. Para
o fluxo de sangue e, através dele, regular a atender à essa enorme necessidade de
filtração glomerular. Este mecanismo é ca- reabsorção, os capilares peritubulares são
paz de manter um fluxo renal relativamen- extremamente porosos.
te constante com pressões arteriais que A grande permeabilidade da membra-
variam entre 80 e 180 mmHg. Sob deter- na glomerular é dependente da estrutura
minadas condições, como por exemplo na daquela membrana e das numerosas fen-
depleção líquida ou no baixo débito cardí- das e poros existentes, cujo diâmetro per-
aco, quando o fluxo renal não pode ser mite a livre passagem das pequenas molé-
mantido, o mecanismo autoregulador pre- culas e impede a filtração das moléculas
serva a filtração glomerular, produzindo maiores, como as proteinas.
vasoconstrição da arteríola eferente, que O filtrado glomerular possui aproxima-
mantém o gradiente transglomerular de damente a mesma composição do plasma,
pressão. A resistência vascular renal se exceto em relação às proteinas. Existem no
ajusta automaticamente às variações na filtrado glomerular, diminutas quantidades
pressão de perfusão renal. As arteríolas de proteinas, principalmente as de baixo
aferente e eferente são influenciadas por peso molecular, como a albumina.
muitos dos estímulos nervosos e hormonais
vasculares, embora sua resposta dependa FILTRAÇÃO GLOMERULAR
das necessidades renais e seja moderada A filtração do plasma nos glomérulos
pelos mecanismos autoregulatórios. obedece às diferenças de pressão existen-
A membrana glomerular possui três tes no glomérulo. A pressão nas artérias ar-
camadas principais: uma camada endote- queadas é de aproximadamente 100 mmHg.
lial, do próprio capilar, uma camada ou As duas principais áreas de resistência ao flu-
membrana basal e uma camada de células xo renal através do néfron são as arteríolas
epiteliais na face correspondente à cápsu- aferente e eferente. A pressão de 100 mmHg
la de Bowman. Apesar da presença das três na arteríola aferente, cái para uma pressão
camadas, a permeabilidade da membrana média de 60 mmHg nos capilares do
glomerular é cerca de 100 a 1.000 vêzes glomérulo, sendo esta a pressão que favorece
maior do que a permeabilidade do capilar a saída do filtrado do plasma para a cápsula
comum. A fração de filtração glomerular é de Bowman. A pressão no interior da cápsu-
de aproximadamente 125 ml/minuto. Em la de Bowman é de cerca de 18 mmHg. Como
24 horas são filtrados aproximadamente nos capilares glomerulares 1/5 do plasma fil-
180 litros de líquido por todos os glomérulos tra para o interior da cápsula, a concen-
(filtrado glomerular), para formar de 1 a tração de proteinas aumenta cerca de 20%
1,5 litros de urina, o que demonstra a enor- à medida que o sangue passa pelos capila-

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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

res do glomérulo, fazendo com que a pres- Diversos fatores podem afetar a filtra-
são coloido-osmótica do plasma se eleve ção glomerular. O fluxo sanguíneo renal
de 28 para 36 mmHg, com um valor médio aumentado pode aumentar o coeficiente
de 32 mmHg, nos capilares glomerulares. de filtração e a quantidade final de urina
A pressão no interior da cápsula de produzida. O grau de vasoconstrição das
Bowman e a pressão coloido-osmótica das arteríolas aferentes dos glomérulos faz va-
proteinas do plasma são as forças que ten- riar a pressão glomerular e conseqüente-
dem a dificultar a filtração do plasma nos mente a fração de filtração glomerular. O
capilares glomerulares. Dessa forma a pres- mesmo ocorre na estimulação simpática
são efetiva de filtração nos capilares glo- neurogênica ou através de drogas simpáti-
merulares é de apenas 10 mmHg, ou seja, cas como a adrenalina, por exemplo. O
a diferença entre a pressão arterial média estímulo pela adrenalina produz constrição
nos capilares (60 mmHg) e a soma da pres- intensa das arteríolas aferentes, com gran-
são da cápsula de Bowman com a pressão de redução da pressão nos capilares
coloido-osmótica do plasma. glomerulares que podem reduzir drastica-
A membrana capilar glomerular tem mente a filtração do plasma e conseqüen-
poros de aproximadamente 30 angstroms te formação de urina.
de diâmetro e, portanto, partículas de mai-
ores dimensões, podem atravessar esses REABSORÇÃO TUBULAR
poros. Seu peso molecular é da ordem de O filtrado glomerular que alcança os
80.000 a 90.000 daltons. túbulos do néfron flui através do túbulo
A destruição normal de hemácias pro- proximal, alça de Henle, túbulo distal e
duz uma pequena quantidade de hemoglo- canal coletor, até atingir a pelve renal. Ao
bina livre no plasma sanguíneo. Os longo desse trajeto mais de 99% da água
glomérulos dispõem de um mecanismo es- filtrada no glomérulo é reabsorvida, e o lí-
pecial capaz de manter essas pequenas quido que penetra na pelve renal constitui
quantidades de hemoglobina livre em con- a urina propriamente dita. O túbulo
centrações de aproximadamente 5%. Se a proximal é responsável pela reabsorção de
destruição de hemácias aumenta e gera cerca de 65% da quantidade de água fil-
concentrações de hemoglobina elevadas trada nos capilares glomerulares, sendo o
(100-125 mg%), os mecanismos glomeru- restante reabsorvido na alça de Henle e no
lares de processamento da hemoglobina se túbulo distal. A glicose e os aminoácidos
esgotam e ocorre a filtração para a urina. são quase inteiramente reabsorvidos com
Como a hemoglobina filtrada não é a água enquanto outras substâncias, por
reabsorvida, esse pigmento protéico apa- não serem reabsorvidos no túbulos, tem a
rece na urina; é a hemoglobinúria. Portan- sua concentração no líquido tubular au-
to, quando a hemoglobina aparece na uri- mentada em cerca de 99 vêzes.
na significa que houve uma grande quan- A reabsorção da glicose exemplifica
tidade de destruição de hemácias. bem os mecanismos de reabsorção de de-

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CAPÍTULO 5 – FISIOLOGIA RENAL

terminadas substâncias dentro dos túbulos Existem ainda dois mecanismos de in-
renais. Normalmente não existe glicose na tercâmbio muito importantes. O primeiro
urina ou no máximo, existem apenas ligei- se refere à troca de íon sódio (Na+) pelo
ros traços daquela substância, enquanto íon hidrogênio (H+), nos túbulos, como
no plasma a sua concentração oscila entre parte dos mecanismos de regulação renal
80 e 120 mg%. Toda a glicose filtrada é ra- do equilíbrio ácido-básico. Quando há ne-
pidamente reabsorvida nos túbulos. À me- cessidade de eliminar íon hidrogênio, os
dida que a concentração plasmática de túbulos secretam ativamente o hidrogênio
glicose se aproxima dos 200 mg%, o meca- para a luz, dentro do filtrado e, em troca,
nismo reabsortivo é acelerado até atingir o para manter o equilíbrio iônico absorvem
ponto máximo, em que a reabsorção se tor- o íon sódio. O outro mecanismo de inter-
na constante, não podendo ser mais au- câmbio corresponde à reabsorção de íons
mentada. Esse ponto é chamado limiar cloreto (Cl-) quando há necessidade de se
de reabsorção da glicose. Acima do va- eliminar ácidos orgânicos pelo mecanismo
lor plasmático de 340 mg%, a glicose dei- de secreção tubular.
xa de ser completamente absorvida no Os mecanismos de transporte na
sistema tubular e passa para a urina, po- reabsorção tubular podem ser ativos ou
dendo ser facilmente detectada pelos passivos, dependendo da necessidade de
testes de glicosúria. utilizar energia celular para a sua realiza-
Os produtos terminais do metabolis- ção. O sódio, a glicose, os fosfatos e os
mo, como a uréia, creatinina e uratos tem aminoácidos estão entre as substâncias cujo
outro tratamento nos túbulos renais. Ape- transporte é feito com utilização de ener-
nas quantidades moderadas de uréia, apro- gia celular, transporte ativo, enquanto o
ximadamente 50% do total filtrado, são transporte da água, uréia e cloretos não
reabsorvidos nos túbulos enquanto a necessita consumir a energia das células
creatinina não é reabsorvida. Os uratos são (transporte passivo).
reabsorvidos em cerca de 85%, da mesma
forma que diversos sulfatos, fosfatos e ni- SECREÇÃO TUBULAR
tratos. Como todos são reabsorvidos em A secreção tubular atua em direção
muito menor proporção que a água, a sua oposta à reabsorção. As substâncias são
concentração aumenta significativamen- transportadas do interior dos capilares
te na urina formada. para a luz dos túbulos, de onde são elimi-
A reabsorção nos túbulos renais obe- nadas pela urina. Os mecanismos de secre-
dece à diferença de concentração das subs- ção tubular, à semelhança dos mecanismos
tâncias entre o espaço intersticial peritu- de reabsorção, podem ser ativos ou passi-
bular e os vasos retos peritubulares. A vos, quando incluem a utilização de ener-
reabsorção de água é dependente da gia pela célula para a sua execução ou não.
reabsorção de íon sódio, que é o soluto mais Os processos de secreção mais importan-
reabsorvido nos túbulos renais. tes estão relacionados à secreção tubular

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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

de íon hidrogênio, potássio e amônia. De- fluxo de sangue através os glomérulos.


terminadas substâncias são eliminadas do Dentre de limites fisiológicos a produção
organismo pelos mecanismos de secreção diária de urina por um adulto oscila entre
tubular, após metabolização no fígado. 1 e 1,5 litros/dia.
Os processos de reabsorção e de secre- A diurese mínima, capaz de manter a
ção ativa dos túbulos distais são influenci- adequada eliminação de dejetos do meta-
ados por hormônios, pela quantidade total bolismo, equivale a 0,5 a 1 ml/Kg/hora em
de solutos, pela dieta, pelo equilíbrio áci- crianças e aproximadamente 30 a 40 ml/
do-base e pelo fluxo do filtrado. hora para os adultos.
Os rins são fundamentais na regulação
CONCENTRAÇÃO E do volume e da composição do líquido ex-
DILUIÇÃO DA URINA tracelular (intersticial), através de meca-
Cerca de 1/5 dos néfrons, localizados nismos complexos que incluem variações
na região justa-medular, tem as alças de das pressões vasculares, variações dos vo-
Henle imersas na medula renal e lumes filtrados, alterações da osmolaridade
retornam ao córtex. Nestes glomérulos e ação de hormônios.
cerca de 65% do filtrado glomerular é Os receptores existentes na parede dos
reabsorvido no túbulo proximal como átrios, direito e esquerdo, quando disten-
solução isotônica. Na porção mais espessa didos pela hipervolemia, alteram a freqü-
da alça de Henle, em que o epitélio é ência dos impulsos emitidos produzindo
relativamente impermeável à água, o uma redução da atividade simpática, que
cloreto de sódio é ativamente transpor- resulta em dilatação das arteríolas aferentes
tado do lumen para o espaço intersticial e conseqüente aumento da filtração glo-
da medula, criando um ambiente hiper- merular. Simultâneamente, na hipófise
tônico e um gradiente osmótico que pro- posterior, é inibida a secreção de hormônio
picia mecanismos de secreção e reabsor- anti-diurético, reduzindo a reabsorção de
ção ditos contra-corrente, capazes de água nos túbulos distais e, portanto, au-
permitir aos rins a produção de urina mentando o volume da urina eliminada.
concentrada ou diluida, conforme a ne- O hormônio antidiurético é responsável
cessidade de eliminar substâncias dissol- pelo aumento da reabsorção de água nos
vidas na urina e a necessidade de preser- túbulos distais, como parte dos mecanis-
var água. Os mecanismos físico-químicos mos reguladores do volume urinário.
envolvidos são bastante complexos e são Um pequeno segmento do túbulo
baseados nas diferenças de concentração distal, pós alça de Henle, se insinua no
do sódio entre o interstício e os capilares ângulo entre as arteríolas aferente e
peritubulares e vasos retos. eferente nos glomérulos, formando uma
A filtração e a produção de urina de- região especial, conhecida como aparelho
pendem de diversos fatores dentre os quais justa-glomerular. Neste aparelho, as células
o mais importantes é a autoregulação do tem uma densidade maior que as demais,

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CAPÍTULO 5 – FISIOLOGIA RENAL

cosntituindo a região chamada de mácula chances de desenvolvimento de insufici-


densa. A mácula densa é capaz de detectar ência renal aguda após a circulação extra-
a concentração de sódio no túbulo distal e corpórea. A avaliação da função renal an-
estimular a produção de renina, pelas cé- tes da perfusão é fundamental, para a pre-
lulas do aparelho justa-glomerular. A renina venção de injúria renal induzida pela
cataliza a formação de angiotensina I à perfusão.
partir do angiotensinogênio produzido no Certas cardiopatias cianóticas de lon-
fígado. A angiotensina I origina a angio- ga duração podem ser associadas à graus
tensina II, um potente vasoconstritor das leves de insuficiência renal, bem como a
arteríolas renais. A angiotensina II, por seu aterosclerose, o diabetes e a hipertensão
turno, estimula a produção da aldosterona arterial. A história clínica e o exame do
pela glândula supra-renal, que promove a paciente poderão mostrar a existência de
reabsorção de sódio e a eliminação de po- edema, alterações do volume urinário e a
tássio nos túbulos distais, conforme de- presença de infecção urinária.
monstra o esquema da figura 5.4. A insuficiência renal aguda é uma al-
teração grave, com mortalidade e morbi-
TESTES DA FUNÇÃO RENAL dade elevadas, em que ocorre deterioração
A experiência tem demonstrado que o súbita da função renal, que causa profun-
comprometimento da função renal pré- da desordem no equilíbrio do organismo.
operatória, aumenta consideravelmente as Há extrema redução da excreção dos pro-
dutos nitrogenados, ureia e creatinina; al-
terações da regulação do volume e da com-
posição dos líquidos do organismo e alte-
rações da síntese de determinados
hormônios essenciais. O marco clínico da
sindrome é a acumulação rápida de pro-
dutos finais nitrogenados, levando à uremia
progressiva e à marcada redução da diurese.
Ocasionalmente a insuficiência renal agu-
da pode se acompanhar de diurese abun-
dante. A urina eliminada, porém, tem den-
sidade baixa porque os túbulos perdem a
capacidade de reabsorver água e, em con-
seqüência, de concentrar a urina.
A avaliação pré-operatória da função
renal inclui a determinação dos níveis da
uréia e da creatinina no plasma sanguíneo
e o exame sumário da urina, para a detecção
Fig. 5.4. Ilustra o sistema da Angiotensina. da presença de elementos anormais.

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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

A ureía plasmática oscila entre 20 e 60 DIURÉTICOS OSMÓTICOS


mg% enquanto a creatinina oscila entre 1 e O manitol é uma substância que quan-
2 mg% nos adultos. Nas crianças os valores do injetada na circulação, pode atravessar
normais variam com a idade, sendo, em ge- facilmente os poros da membrana glome-
ral, menores. O exame da urina não deve rular, sendo inteiramente filtrada pelos
revelar proteinúria ou hematúria. A norma- glomérulos. Suas moléculas, contudo, não
lidade dos valores da uréia e da creatinina são reabsorvidas nos túbulos renais e a sua
equivale à presença de função renal adequa- presença no líquido dos túbulos gera uma
da. Quando os valores de ureia ou da creati- sobrecarga osmótica importante. Essa pres-
nina estão elevados ou quando há proteinú- são osmótica elevada no interior dos
ria ou hematúria no exame da urina, torna- túbulos impede a reabsorção da água, fa-
se necessária uma avaliação mais completa zendo com que grandes quantidades de fil-
da função renal, na tentativa de quantificar trado glomerular atravessem os túbulos e
o grau de função renal existente. sejam eliminados como urina.
Níveis muito elevados de glicose no
AÇÃO DOS DIURÉTICOS sangue produzem uma diurese osmótica
Os diuréticos são substâncias que au- semelhante à do manitol.
mentam a formação de urina e sua princi-
pal aplicação é reduzir a quantidade total DIURÉTICOS DE ALÇA
de líquidos no organismo. Durante a cir- São substâncias capazes de reduzir os
culação extracorpórea alguns diuréticos sistemas transportadores nas células tubu-
podem ser utilizados, com aquele objetivo. lares, diminuindo a reabsorção ativa dos
As diversas substâncias com efeitos diuré- solutos tubulares e, portanto, aumentan-
ticos tem mecanismos de ação diferentes. do a pressão osmótica no interior dos
Ao se administrar um diurético, ocor- túbulos, propiciando grande aumento da
re a eliminação associada de sódio e água. eliminação de urina. Os principais diuré-
Se o diurético eliminasse apenas a água dos ticos desse tipo são a furosemida, a
líquidos orgânicos, haveria um aumento da bumetanida e o ácido etacrínico.
concentração de sódio nos líquidos, que se A furosemida bloqueia a reabsorção ati-
tornariam hipertônicos e provocariam uma va do íon cloro na porção ascendente da
resposta dos receptores osmíticos, seguida alça de Henle e no segmento restante do
de aumento da secreção do hormônio túbulo distal. Como os íons cloro não são
antidiurético. O excesso desse hormônio reabsorvidos, os íons positivos absorvidos
promoveria a reabsorção de grande quan- em conjunto, principalmente o sódio tam-
tidade de água nos túbulos, anulando os bém não são absorvidos. O bloqueio da
efeitos do diurético. Quando o sódio é eli- reabsorção de cloro e sódio determina
minado junto com a água, a concentração diurese, porque permite que grandes quan-
iônica dos líquidos se mantém e não há tidades de solutos sejam levadas até os
estimulação antidiurética. túbulos distais onde atuam como agentes

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CAPÍTULO 5 – FISIOLOGIA RENAL

osmóticos e impedem a reabsorção da água. al sistêmico, reduzindo a fração renal do


Além disso, a incapacidade de reabsorver débito;
íons cloro e sódio pela alça de Henle para 6. Redução do fluxo sanguíneo renal;
o interstício medular, diminui a concen- 7. Alterações do volume e da composição
tração daqueles íons no líquido interstici- eletrolítica do líquido extracelular;
al medular e a capacidade de concentrar 8. Aumento da eliminação renal de sódio
urina fica muito reduzida. Esses dois me- e potássio;
canismos tornam a furosemida um diuré- 9. Hemólise e hemoglobinúria;
tico muito eficiente. A bumetanida age do 10. Produção de microembolia na circula-
mesmo modo que a furosemida. O ácido ção renal.
etacrínico pode ser usado em pacientes que A hipotensão é bastante comum, no
não respondem a furosemida. Entretanto, início e após os primeiros momentos da cir-
seu uso prolongado pode produzir distúr- culação extracorpórea. É causada por uma
bios auditivos. multiplicidade de fatores que agem em
Existem outros diuréticos que atuam sincronia, como a redução do fluxo de per-
por mecanismos diferentes, mas não são fusão em relação ao débito cardíaco do pa-
aplicados nas situações agudas, como na ciente, a hemodiluição com redução da vis-
circulação extracorpórea. cosidade do sangue e diluição das cateco-
laminas circulantes, e a redução da
OS RINS NA CIRCULAÇÃO remoção de bradicinina pelos pulmões na
EXTRACORPÓREA fase de “bypass” total. A hipotensão esti-
Diversas alterações funcionais e orgâ- mula a atividade simpática e aumenta a
nicas dos rins tem sido detectadas em rela- produção de catecolaminas, renina, angi-
ção à circulação extracorpórea. Esta, pode otensina, aldosterona e hormônio antidiu-
afetar adversamente a função renal por di- rético. Ocasionalmente, a hipotensão pro-
versos mecanismos, tais como: duzida pela circulação extracorpórea requer
1. Variações do tônus vascular, produzin- a administração de drogas adrenérgicas ou
do vasodilatação e hipotensão sistêmica; vasoconstritoras.
2. Exacerbação da atividade simpática, com Os rins participam dos mecanismos de
produção e liberação excessiva de cateco- redistribuição protetora do fluxo sanguíneo,
laminas na circulação; na medida em que sacrificam o seu pró-
3. Exacerbação da atividade hormonal, prio fluxo sanguíneo através da constrição
com produção e liberação excessiva de das arteríolas aferentes, para aumentar o
vasopressina e outros hormônios; afluxo sanguíneo de outros órgãos, como o
4. Traumatismo aos elementos figurados do cérebro e o miocárdio, durante períodos de
sangue, com liberação de substâncias hipotensão e hipovolemia.
vasoconstritoras, como o tromboxano A2 O período inicial de hipotensão da cir-
das plaquetas; culação extracorpórea é seguido por um
5. Redistribuição irregular do fluxo arteri- período de elevação progressiva da pres-

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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

são arterial causado pela resposta regula- leitos vasculares, inclusive o renal. A re-
tória do próprio organismo que, com freqü- distribuição é o resultado do aumento da
ência, resulta em hipertensão. A vasocons- atividade simpática; os órgãos mais afeta-
trição produzida pela hipotermia, a eleva- dos são os que tem preponderância de
ção da resistência vascular sistêmica e a inervação simpática e muitos receptores
ausência de pulsatilidade na circulação, são simpáticos, como os rins.
também contributivos na gênese da respos- A hipotermia também contribui para
ta hipertensiva. Os mecanismos dessa res- a vasoconstrição renal e redistribuição do
posta hipertensiva, produzem vasoconstri- fluxo sanguíneo renal. O fluxo renal redu-
ção renal, que reduz o fluxo sanguíneo re- zido é redistribuido para a periferia da ca-
nal, predispondo os rins à isquemia e mada cortical. O mecanismo concentrador
injúria. dos rins ( mecanismos de contra-corren-
A redução do fluxo sanguíneo renal te), devido à redução de fluxo na camada
reduz a energia disponível para os meca- medular é deprimido.
nismos da atividade renal normal, inclusi- A proteção da hipotermia é menos efi-
ve a autoregulação. Algumas das alterações caz para os rins, em relação aos demais ór-
renais durante a circulação extracorpórea gãos. A vasoconstrição renal é precoce e
podem ser atribuidas à essa redução do ocorre antes que o órgão esteja uniforme-
suprimento de energia, particularmente a mente resfriado. Além da vasoconstrição,
depressão das funções de reabsorção ati- a hipotermia produz o aumento da viscosi-
va, da secreção renal e da regulação da dade do sangue, que favorece a aglutina-
concentração e diluição. ção intravascular que, contudo, pode ser
A autoregulação e o balanço tubular minimizada pelo uso criterioso da hemo-
dependem da integridade dos mecanismos diluição.
de reabsorção de sódio. A eliminação ex- A hemodiluição com soluções crista-
cessiva de sódio (natriurese), que ocorre lóides, quando em excesso, predispõe o
durante a perfusão, estimula a resposta paciente à formação de edema, devido à
regulatória do aparelho justa-glomerular, redução da pressão coloido-osmótica do
que aumenta a produção de renina, angi- plasma e diminui a reabsorção nos capila-
otensina e aldosterona, que acentuam a res peritubulares, que resulta em uma
vasoconstrição renal. A aldosterona au- diurese aquosa e rica em eletrolitos.
menta a eliminação de potássio e reduz a Além de contribuir na formação de
de sódio. Esta diurese eletrolítica, pode microêmbolos de restos celulares, a hemó-
causar deseqüilíbrio eletrolítico durante a lise produz vasoconstrição pela liberação
circulação extracorpórea. de produtos vasoativos do interior das cé-
A redistribuição do fluxo sanguíneo, lulas lesadas. A hemoglobina livre é cap-
durante a circulação extracorpórea, é uma tada pela haptoglobina do plasma e subse-
resposta que objetiva a preservação do cé- qüentemente metabolizada no fígado.
rebro e do coração, às custas dos demais Quando são atingidos níveis excessivos de

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CAPÍTULO 5 – FISIOLOGIA RENAL

hemoglobina livre, ela é filtrada nos é estimulada pela administração de


glomérulos e excretada na urina. Por ser manitol, que acelera a eliminação da he-
uma molécula grande, com peso molecular moglobina livre.
de 68.000, a hemoglobina é filtrada com Há numerosas evidências de que os
dificuldade e pode cristalizar nos túbulos efeitos deletérios da circulação extracor-
renais, causando obstrução e necrose pórea sobre os rins, incluindo a produção
tubular. Uma prática freqüente para pre- de insuficiência renal aguda, estão relaci-
venir esta ocorrência, consiste em alcali- onados à duração da perfusão. Isso torna
nizar a urina e estimular a diurese. A alca- imperativa a criteriosa monotorização da
linização da urina dificulta a cristalização função renal, principalmente nas perfusões
da hemoglobina e se obtém pela adminis- que se prolongam por mais de três a qua-
tração de bicarbonato de sódio. A diurese tro horas.

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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

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