Importante destacar que, "o pagamento parcial de uma obrigação prescrita não a torna
exigível pelo credor quanto ao débito restante. Ou seja: o saldo residual não se converte
em obrigação civil e, portanto, exigível em face do devedor" [10].
Embora a obrigação natural seja inspirada na obrigação moral, esta com aquela não se
confunde. Não obstante, tanto na obrigação moral quanto na natural há um vínculo de
eqüidade. Ensina Maria Helena Diniz que, "o cumprimento de obrigação moral será tido,
como vimos, como uma liberalidade; já o adimplemento de obrigação natural será
considerado pagamento e não mera liberalidade" [12].
"A obrigação natural, tenha ela uma causa lícita ou ilícita, baseia-se nas exigências de
regra moral. Apesar de o direito positivo ter legitimado uma determinada situação em
benefício do devedor, este pode, a despeito disso, encontrar-se em conflito com a sua
própria consciência, e nada obsta a que, desprezando a mercê recebida da lei, realize a
prestação a que se sente moralmente obrigado. Assim acontece, por exemplo, se o
indivíduo é liberado do débito pela prescrição do respectivo título creditório, ou se é
beneficiado com a fulminação de nulidade do negócio jurídico de que seria devedor, se
válido fosse. Além disso, a realização de uma obrigação natural constitui um ato
intimamente ligado à vontade do devedor. É movimento partido do seu próprio ‘eu’, livre
manifestação de sua consciência, embora exigindo igualmente a vontade menos
necessária do accipiens".
4. A dívida prescrita
Apesar de a legislação brasileira não dispensar, como ocorre em outros países, uma
disciplina própria às obrigações naturais, fez previsões esparsas no ordenamento jurídico.
"Com isso leva nossos civilistas, juízes e tribunais a procurar no ordenamento jurídico, no
direito e na doutrina alienígenas, por meio dos processos de integração de lacuna,
subsídios para delinear as obrigações desprovidas de ação ou de executoriedade" [14].
Art. 882. "Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir
obrigação judicialmente inexigível".
Melhor andou o Código Civil português ao reservar três artigos exclusivamente para as
obrigações naturais. A saber:
Art. 402. "A obrigação diz-se natural, quando se funda num mero dever de ordem moral ou
social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de
justiça";
Art. 403. "Não pode ser repetido o que for prestado espontaneamente em cumprimento de
obrigação natural, exceto se o devedor não tiver capacidade para efetuar a prestação";
Art. 404. "As obrigações naturais estão sujeitas ao regime das obrigações civis em tudo o
que não se relacione com a realização coativa da prestação, salvas as disposições
especiais da lei".