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1) O documento discute a teoria da educação estética do homem de Friedrich Schiller e como a experiência da beleza trazida pela arte pode levar à perfeição do caráter e da personalidade.
2) O autor analisa a influência do filósofo alemão Immanuel Kant no desenvolvimento da estética e da crítica filosófica.
3) O documento também discute as ideias do médico, dramaturgo e filósofo alemão Johann Christoph Friedrich von Schiller sobre como a arte pode servir como instrumento de educação ao equ
1) O documento discute a teoria da educação estética do homem de Friedrich Schiller e como a experiência da beleza trazida pela arte pode levar à perfeição do caráter e da personalidade.
2) O autor analisa a influência do filósofo alemão Immanuel Kant no desenvolvimento da estética e da crítica filosófica.
3) O documento também discute as ideias do médico, dramaturgo e filósofo alemão Johann Christoph Friedrich von Schiller sobre como a arte pode servir como instrumento de educação ao equ
1) O documento discute a teoria da educação estética do homem de Friedrich Schiller e como a experiência da beleza trazida pela arte pode levar à perfeição do caráter e da personalidade.
2) O autor analisa a influência do filósofo alemão Immanuel Kant no desenvolvimento da estética e da crítica filosófica.
3) O documento também discute as ideias do médico, dramaturgo e filósofo alemão Johann Christoph Friedrich von Schiller sobre como a arte pode servir como instrumento de educação ao equ
17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1169 SOBRE A EDUCAO ESTTICA DO HOMEM
Jorge Anthonio e Silva Professor de Teoria do Conhecimento e Comunicao, na UNISO Universidade de Sorocaba - Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Cultura.
Este artigo foi escrito aps pesquisam sobre A Educao esttica do homem, de Friedrich von Schiller. Considerando o jogo como recurso para a identificao de todas as possibilidades da plena humanidade na espcie , o filsofo alemo desenvolveu a teoria que enfatiza que a instncia tica do carter alcanada pela experincia esttica. A beleza, trazida pela arte, o resultado do exerccio de volio constante e conduz perfeio do carter e da personalidade. A arte educa e prepara o homem e a humanidade para o comportamento tico.
This article was written after an investigation on The Aesthetic Education of Man, by Friedrich von Schiller. Considering the play of amusement as a resource for the identification of all the possibilities of plain humanity on mankind, the German philosopher developed a theory that emphasizes that the ethical instance of character is achieved by the aesthetic experience. The beauty, brought by arts, is the result of a constant volition exercise and led to the perfection of character and personality. Art educates, and prepares the man and the mankind to an ethical behaviour.
Key words: Aesthetic experience, beauty, art
Nunca os alemes foram to helnicos como no Sculo XVIII. Tempo da grande interlocuo com o passado clssico, para a Filosofia significou um renascimento, com a retomada do pensamento grego, aquele de que as aes humanas devem ser conduzidas por ideais, construdos pelo ato da subjetividade inteligente, passveis de materializao ou no. Com indagaes correlatas na Frana onde os resultados do pensamento foram corporificados em estruturas modelares da transformao social, o Sculo das Luzes (Aufklarung) na Alemanha, fez vibrar a fora da crena no eu ideador, fundando na subjetividade o instrumento para a recepo e inteleco do mundo, historicamente marcado por problemticas de coao individual e coletiva, dentro de sistemas scio-polticos de indiferena aos ideais de liberdade e justeza pblica. A Kant (1724/1804) coube a rdua e sacrificante tarefa de construir um complexo sistema de pensamento, uma moderna Teoria do Conhecimento, buscando a validade lgica do saber tendo como pressuposto (stricto sensu) a razo, qual confere o arbtrio da liberdade, da universalidade do conhecimento puro com as inovadoras leituras dos 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1170 referenciais do apriorismo e do aposteriorismo. A influncia do solitrio pensador, da ento Knigsberg sobre toda a reflexo filosfica que lhe seguiu foi definitiva, assim como foi definitiva sua influncia na inteleco das realidades da arte. Com Crtica da Razo Pura (1781) revelou aos segmentos da criao reflexionante a determinao causal e mecnica do reino da natureza, lendo ontologicamente o homem como ser imerso na realidade dos fenmenos, buscando decifr-los. Legou da estudos sobre a subjetividade do tempo e do espao instncias, sem as quais, o conhecimento inexiste. Com a Crtica da Razo Prtica (1788) deu a conhecer uma teoria sobre o homem do querer moral, da vontade e da ao, e cuja determinao prtica a liberdade. Sua Crtica da Faculdade de Julgar (1790) forneceu as bases tericas para o que se pode caracterizar como o criticismo romntico alemo e as fundaes de uma nova Esttica. Enquanto na Frana so erguidas barricadas e a guilhotina desce sobre cabeas coroadas, na Alemanha, sob a gide de Kant pesquisa-se a beleza, o passado, a moral; Goethe (1749/1832) completa suas Elegias Romanas e uma intelectualidade vibrante busca a unidade lingstica e cultural alem com o ideal da Weltliteratur. Poesia, escultura, teatro, pintura, msica e o gosto pelo belo foram copiosamente investigados ao tempo em que a Esttica (Aisthesis = sensao, sentimento) se impunha como um segmento terico individual de reflexo e como disciplina particular de conhecimento crtico-filosfico. A Baumgarten, deve-se essa individuao estabelecida j em 1750 com a obra Esttica Acromtica, tratado definidor da cincia do belo. Em 1755 vm luz as reflexes acerca da imitao de obras gregas, de Winckelmann, fundador da arqueologia cientfica e da historiografia alem, e em 1766, na mesma direo, Lessing examina a arte relacionalmente, ao publicar o Laocoonte, ou Sobre as fronteiras da Pintura e da Poesia, anlise redimensionadora do pensamento esttico e precursora da especificidade significativa de duas categorias de representao at ento postas na mesma base, a msica e as artes belas. Mas sob Kant que ocorre um verdadeiro redimensionamento filosfico no Ocidente com resultados que incluem o trabalho reflexionante do mdico, dramaturgo, poeta professor e editor, Johann Christoph Friedrich von Schiller (1759/1804). 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
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SCHILLER
, ao lado de Goethe a grande expresso no frtil contexto em que se inaugura um carter inovador de anlise da Esttica e da crtica filosfica. Autor diferenciado entre seus pares, pode ser analisado na medida de seu teatro, de sua lrica e de sua postura crtico-filosfica. Refletindo a Esttica como intermediao possvel para a educao e o aprimoramento tico da humanidade, em 1784 publica O Teatro Considerado como Instituio Moral, opsculo que propugna um estado conciliador entre os sentidos e a razo, tendo a arte teatral feito um meio para esse objetivo, com o concurso da catarse trgica que purifica as paixes e adensa a razo reorientando-a. A viso cosmolgica do homem, como no mundo helnico, outro evidente sinal na obra do pensador de Marbach. Para o homem grego a arte se presentificava na habilidade inteligente do fazer, na tekn, o que lhe garantia um princpio epifnico de totalidades entre si e o homem, pois que a transcendncia da arte deveria estar em cada realizar emprico humano. Entende Schiller que a especializao constante do mundo objetivo fez desaparecer o senso de sacralidade antes impresso no viver comum, como entendida a habilidade para a realizao de coisas, que tanto faz regenerar sentimentos adormecidos no homem, pondo-o como instrumento esttico em conjuno do geral e do particular, entre o transitrio e o permanente, entre o fsico e o metafsico. Equilibrando antagonismos com a sbia inflexo dos pincis, da voz que glorifica o som, das mos que escrevem glogas e dos cinzis que da pedra bruta fazem uma representao sensvel, o artista demonstra criativamente a fora da Esttica na conformao da nobreza do carter, porque razo e sensibilidade so o substrato do fazer artstico na criao e na formulao do objeto de arte. O verdadeiro feito da arte demanda o humano jogo das formas sensvel e racional na recepo e convoca o fruidor a juzos. Por isso a arte pode ser instrumento de educao. No ato da contemplao, o fruidor conjuga o entendimento ao belo receber daquela, pondo-se em suspenso ao integrar-se amorosamente ao que v. O que seria do mundo sem as categorias da arte? Um estoque de tcnica e 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1172 cincia reduzido a relaes causais, preso lgica das relaes utilitrias. O mundo da cultura seria uma questo prtica, de causa e efeito apenas, como o o da natureza. Mas, embora a natureza seja o grande modelo de beleza mimtica e um mistrio a ser constantemente desvendado pela razo cientfica, ela no capaz de significar, ela no tem a autonomia do signo porque s do homem a tarefa de criar representaes, e a mais visceral de todas a arte, feita de inteleco e sensibilidade, as matrias primas do ser.
O que tambm individualiza Schiller na Alemanha do Sculo XVIII sua capacidade de pensar multidisciplinarmente a arte, fazendo-a possibilidade analtica no sentido do julgamento tico da atitude histrica (Mary Stuart, Guilherme Tell, Joana DArc, A Conjurao de Fiesco, Dom Carlos) com personagens que, no poucas vezes, so postos em xeque entre o vcio e a virtude.
A constante tendncia a amalgamar a criao literria com o exerccio reflexivo da filosofia em Schiller resulta em sua Poesia Filosfica na pequena obra que mais se justifica como tratado do pensamento: A Educao Esttica do Homem numa srie de Cartas (ber die sthetische Erziehung des Menschen in Eine von Briefe). Trata-se de um ensaio escrito de fevereiro a dezembro de 1793 na forma de cartas ao seu mecenas, o prncipe dinamarqus Friedrich Christian von Schleswig- Holstein-Sondenburg-Augustemburg, as Cartas de Augustemburg, como comumente conhecidas, so um registro de excelncia para a pesquisa sobre o Romantismo e o Idealismo alemo, tal a sua caracterstica de composio filosfico-literria. O hbito do texto confessional e epistolar vinha sendo objeto da investigao intelectual e revelou em 1782 um primor de inveno narrativa com a magnificncia da obra francesa Les Liaisons Dangereuses, do jacobino Choderlos de Laclos. O girondino Schiller, enfraquecido com a febre fria mas maduro como dramaturgo e poeta, adota essa forma de escritura e, sob a influncia de Kant, Schelling (1775/1854), dos sensualistas ingleses, especialmente o Conde de Shaftesbury (1671/1713), tendo sempre presente a escritura de Goethe 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1173 (1749/1832), produz um tratado esttico como confessional agradecimento intelectual ao prncipe que, o subsidiou nos difceis ltimos anos com uma penso de mil tleres. Com isso conforma seu estudo literrio-filosfico sobre a possibilidade da educao tica da humanidade fundamentada no recurso esttico, pautado na lgica das relaes entre o sujeito e toda a sua alteridade, intermediados pelo belo, escopo da obra de arte, instrumento que aprimora. Fica aqui dada a sua contribuio analtica sobre os temas em voga em seu tempo; a Esttica e a Educao. Trata-se de um pequeno roteiro analtico em 27 cartas que vieram a converter-se em possibilidade de direcionamento do carter para a grandeza do belo viver, da bela recepo do mundo, do belo responder aos fenmenos da existncia. Esttica e Educao
A Educao Esttica do Homem , inicialmente uma composio reflexiva como proposta de se ver o homem como organismo vivo em constante transformao no seu compromisso com a prtica poltica. O carter poltico fortemente impresso nas nove primeiras cartas vai lentamente cedendo passo para a pesquisa de mbito metafsico, at tornar-se um estudo antropognico sobre a liberdade do sujeito. Para o endendimento de Schiller o homem deve ser lido como uma obra de arte porque nesta que est manifesta a totalidade de todo o saber livre, fazendo vibrar no contingente logicamente produzido, a universalidade da transcendncia. O grande objeto sensvel, como Las Meninas, de Velzquez, A Ronda Noturna, de Rembrandt, Morte em Veneza, de Thomas Mann, o Fausto, de Goethe e a sublime teia de Arthur Bispo do Rosrio exemplificam essa universalidade transformadora do conhecimento atravs de objetos representativos, meros signos da liberdade e da autonomia.
A qualidade esttica no homem aquele bem novo que lhe permite a auto- determinao, porque lhe restitui a liberdade de fazer de si instrumento em evoluo constante. Ser esttico superar a contingncia dada pela natureza das coisas e intoxicar de cada um os rastros, com a segunda criadora do ser; a beleza. 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1174 Se para Kant a beleza est relacionada ao terica, subjetividade, para Schiller ela se faz ato, relaciona-se ao prtica, por isso pode-se falar de uma Esttica Objetiva. O homem fsico deve tender ao moral, passando pelo esttico. Para isso a condio ideal do cidado a de munir-se de vontade, buscando em si a superao das paixes que obnubilam os julgamentos e do homem no outra a tarefa seno a de emitir juzos. Quando Sartre afirma que o homem est condenado prpria liberdade, fala como um antagonista ps-schilleriano, que acaba por confirmar este ltimo. Baseia-se no rduo castigo das escolhas que, fatalmente, pressupem um abandono. Se tenho isso, no posso ter aquilo, reza a leitura rasa do pensador francs. Para Schiller, ser esttico fazer realizar em si e no coletivo a prpria natureza do homem que o apetite pela liberdade, onde reside a justeza e o divino do carter humano, ainda que das escolhas sobrevenha o abandono. Tanto no sujeito quanto na cultura, a liberdade um ideal a ser conquistado pela razo e frudo. Na Carta VII, Schiller discute a liberdade sob a gide do comportamento e do carter alegando que onde o homem natural abusa de seu arbtrio da maneira mais desregrada, mal se lhe pode mostrar sua liberdade; onde o homem artificial quase no usa a sua liberdade, no se lhe pode tomar o arbtrio ( 2). O problema da liberdade, chave do sistema de Kant, vem da idia cosmolgica de uma absoluta espontaneidade, resultante da elevao da categoria de causalidade da incondicionalidade. 1 Kant distingue dessa liberdade transcendental e que a causalidade absolutamente pensada, a liberdade prtica que autonomia da vontade. Toma a razo como pressuposto da liberdade e tem esta como causa prtica no homem, uma vez que transformadora para o aprimoramento e dotada de um carter inteligvel e capaz de dar ao homem a lei do seu agir. 2 Mas a liberdade anterior ao homem e est impressa no mundo como fora promotora do aperfeioamento da mquina do universo que tem em seus desgnios o acaso. Diferente a liberdade experimentada pelo homem: um efeito s possvel no que Schiller determina como homem in totum. Entende que esse homem o que j desenvolveu seus dois impulsos fundamentais ( 1) 3 Na idia de desenvolvimento
1 Vaysse, Jean Marie (1998) Le Vocabulaire de Kant, Ellipses, Paris, Frana, p. 32 2 Idem 3 Schiller, Fridrich von, A Educao Esttica do Homem, 1995, Iluminuras, SP, p. 105 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1175 est o aspecto temporal de cada um, tanto no homem individual quanto em toda a humanidade. Depreende-se que o percurso para a liberdade est prefigurado na fora mobilizadora da vontade sintonizada com a harmonia desses impulsos 4 . Na possibilidade de sua humanidade plena, o homem est por princpio determinado pelo desequilbrio natural entre esses impulsos e, embora sendo o domnio da razo a sua maior conquista, est ainda sujeito prevalncia do sensvel porque a condio humana a da contradio. Nos perodos da vida em que no desenvolveu por completo sua liberdade (por isso est temporalidade e pode evoluir) um poder tornar-se pessoa porque ainda determinado pelas sensaes. Antropologicamente o homem , primeiro, sensvel porque antes de ter todos os recursos da razo desenvolvidos, vive sob a primazia das leis dos sentidos. Experimenta, sente, responde fisicamente. A razo absoluta est nele, carecendo do trabalho constante para o amadurecimento e nisso a educao, seja pela imitao, seja pela construo no aprender, atua e desenvolve o papel constituidor do carter. Esta a concepo esttica de Schiller, uma teoria de fases evolutivas, na qual a beleza no objeto da experincia sensualizante e agradvel aos sentidos apenas, com tambm no construda somente pela razo porque o sensvel e o racional devem estar postos em relao de equilbrio harmnico no sujeito livre e este em relao de homeostase com os fenmenos. Exemplo concreto dado no 4 da Carta XX quando sustenta:
Todas as coisas que de algum modo possam ocorrer no fenmeno so pensveis sob quatro relaes diferentes. Uma coisa pode referir-se imediatamente a nosso estado sensvel (nossa existncia e bem-estar); esta sua ndole fsica. Ela pode, tambm, referir-se a nosso entendimento, possibilitando-nos conhecimento: esta sua ndole lgica. Ela pode, ainda referir-se a nossa vontade e ser considerada como objeto de escolha para um ser racional: esta sua ndole moral. Ou, finalmente, ela pode referir-se ao todo de nossas diversas faculdades sem ser objeto determinado para nenhuma isolada entre elas: esta sua ndole esttica. Um homem pode ser-nos agradvel por sua solicitude; pode, pelo dilogo dar-nos o que pensar, pode incutir respeito pelo seu carter; enfim, independentemente de tudo e sem que tomemos em considerao alguma lei ou fim, ele pode aprazer-nos na mera contemplao e apenas por seu modo de aparecer. Nessa ltima qualidade julgamo-lo esteticamente.
4 So potncias coexistentes na mente (impulso sensvel e impulso formal) e separadas pelo prprio ato humano de se estar inteligentemente no mundo. pulso natural no sujeito e somente nele existe. So as duas possibilidades para se abarcar o fenmeno, a sensibilidade e a forma racional. A eles Schiller agrega uma terceira instncia; o impulso ldico, com intermediao esttica. 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1176 Existe, assim, uma educao para a sade, uma educao do pensamento, uma educao para a moralidade, uma educao para o gosto e a beleza. 5
A semelhana com as quatro fases de Aristteles clara, um vez que para o estagirita os objetos do mundo compreendem quatro causas: a material, a eficiente, a final e a formal. A partir do objeto (causa material) Schiller prope trs possibilidades de leitura ajuizadas pela mente. Uma vez apresentado o objeto do conhecimento ao sujeito, irrompem os juzos que so os trs pilares constituidores de toda a inteleco do mundo. Dado o fenmeno, pela Lgica reconhecido em sua constituio de materialidade. Sobre ele o sujeito estabelece juzos de valores, instalando-o na mtrica da Moral e, finalmente, pode ser lido em sua totalidade de bem pela Esttica. O homem schilleriano um universo em perene construo, um sujeito renovado dentro da alteridade do mundo, fonte de renovos e instrumento em busca da perfeio. Por mais aprisionado que esteja ignorncia convocado pela sua natureza racional a sair da imanncia para transcender a tudo, tornando-se uma divindade em si na medida da busca de sua plenitude duradoura. Se o homem no quer o aprisionamento natureza apenas, satisfazendo as necessidades bsicas roussonianos; a perpetuao, o descanso e a alimentao, porque est dotado do livre-arbtrio e este a ante-sala do conhecimento verdadeiro, sem a mcula da crena apenas. Conhecer o destino do homem, por isso recusa-se a ser apenas natureza. Por isso desafiou o Criador, porque quer a razo esclarecer os domnios da natureza, universalizando o que conhece, tornando tudo uma possibilidade de discurso, porque a linguagem a substncia do pensamento. preciso indagar, nunca estar satisfeito com o que se sabe, buscar na ordem da vontade o ilimitado porque a razo faz habitar na espcie algo indizvel que apenas se consegue chamar pobremente de liberdade. Mas a liberdade existe como potncia e deve ser transformada em ato pela razo. Como na semente a primeira est inserida, mas s se corporifica no ato futuro de ser fruto, dependendo da ao, do cuidado, da rega. Um fruto que carece da ao transformadora da natureza para que se perpetue na constncia
5 Idem, pg. 107 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1177 do messidor. Significa, ainda, buscar a generalidade na medida em que se rompem espaos, abrindo brechas atravs do motor secreto das representaes com as quais o homem cria universos de beleza inteligente como a Lgica, a Poltica, a Metafsica, e a Teologia. Mas tambm realiza, em seu lento processo em direo infinitude, algo em muito intil, em muito sem funo imediata como a poesia, a msica, enfim, a arte dos belos quadros, das leves esculturas, da leveza da dana. Toda a arte libertadora porque desaprisiona, elimina interditos pondo o sujeito em sua condio divina, fazendo nele existir um continuum utpico porque vai idealisticamernte alm do que meramente dado. Se a arte um projeto de infinitude porque em nada se enquadra a no ser como relao aprimoradora entre si o artista e o fruidor. preciso educar-se esteticamente para que em cada um se garanta a justeza e o rigor dignificante dos juzos inexorveis. O pensador de Marbach pensa a educao de forma contrria a Rousseau (1712/1778) e semelhante a Kant. Ela deve ser um instrumento de construo do sujeito pautado na liberdade da vontade para o aprimorar-se. Mais que isso, deve ser um exerccio constante que busca equilibrar os sentidos e a razo, ambos fonte de todo o julgamento realizado pelo sujeito e em desarmonia, com a sujeio de um ao outro. Quando o sentidos impem-se unilateralmente como determinao da conduta, quando as paixes determinam a ao, a possibilidade de erro nos juzos sobre os fenmenos do mundo evidente porque o saber emprico apenas, obscurece a razo. Mas s a razo apartada das humanidades sensveis no d conta do homem em sua completude, porque aniquila a amorosidade transcendente do carter. Elimina aquilo que no homem o repertrio de sua prpria humanidade; o belo sentimento. Nesse caso, ignorar a amorosidade do outro desfaz toda a beleza que dignifica o homem em seu destino de colocar-se positivamente em todas as suas dimenses de conhecimento no cosmos. Educar-se significa buscar o equilbrio entre essas duas instncias antagnicas, fazendo-as plasmar-se em homeostase para que o mundo e seus fenmenos sejam constantemente o palco da serenidade, do equilbrio e da justeza humana. como olhar as estrelas noite e perceber a harmonia do Cosmos, o movimento plstico sereno e firme dos astros, o equilbrio dos 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1178 movimentos que se complementam e perpetuam no grande teatro da escurido. Se a razo e os sentidos constroem a subjetividade, a interioridade humana, que assim o faam tomando-se a bela humanidade como um caminho evolutivo para o ideal da perfeio. O ser schilleriano, portanto, tico porque se auto-regula dentro de uma verdadeira cincia do comportamento, pondo-se no mundo como motor de uma tica universal em sua plena humanidade. quando a arte vista como um caminho educativo sem precedentes. O homem, ele mesmo o prprio modelo de arte, porque aos olhos de sua humanidade belo e, consequentemente, bom e verdadeiro. O modelo justifica a assertiva de que a experincia da beleza extingue toda a instabilidade inscrita numa desarmonia interior recorrente, uma vez que a beleza promove a interao livre de todas as foras psquicas. Schiller no legou um sistema educacional, de base antropolgica, (como o Emlio), que desse conta de uma prtica emprica dessa eticidade. Sua reflexo no se esgota no tempo porque hiptese de uma tica social de matiz clssico com a busca de totalidades na insero humana no mundo, para ele esquecida quando a poesia separou-se da vida cotidiana. Acredita que a possibilidade de um mundo fundamentado nesses princpios humanizadores pode existir, uma vez que j existiu na histria. A Polis de Epicuro, a Metempsicose, ou transmigrao das almas platnica, a msica das esferas de Pitgoras, a beleza racional da Matemtica e a democracia garantida pela Gersia ou Conselho dos Ancies foram construes estticas na metafsica e na convivialidade grega. Se a arte est contaminando toda a ao humana, ela pode ser um princpio tico a todo procedimento, agregando no mundo da diversidade e de fragmentos, um princpio e um fim de beleza totalizadora. Nada mais adequado a todas as pocas, pois todas as pocas e todos os povos, ainda que na dureza da vida primitiva, desenvolveram sistemas de representaes artsticas. Podem carecer de uma cincia particular, de uma observao astronmica sistematizada, de uma matemtica plena, mas uma arte e formas particulares de crena na sacralidade, nunca lhes faltou. Por isso a beleza no conhecer. Qualquer ele, e por isso, tambm, as meigas e fortes palavras profticas da Carta XXV Quando surge a luz 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
1179 no homem, deixa de haver noite fora dele; quando se faz silncio nele, a tempestade amaina no mundo, e as foras conflituosas da natureza encontram repouso em limites duradouros. 6
Jorge Anthonio e Silva doutor em Comunicao e Semitica pela PUC-SP, com especializao em Esttica e Histria da Arte. Autor de O Fragmento e a Sntese (Perspectiva, 2003), Arthur Bispo do Rosrio Arte e Loucura (EDUC/FAPESP 1997. Membro da APCA-Associao Paulista de Crticos de Artes e consultor Ad Hoc da FAPESP.
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6 Schiller, Friedrich von, A Educao Esttica do Homem, Iluminuras, SP, 1995, p. 130 17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis
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