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Apresentação

Conhecidos desde a Antiguidade sob os mais diferentes nomes (profetas, pitonisas,


oráculos etc.) os médiuns são pessoas que, em tese, possuem a capacidade de se comunicar
com o lado invisível ou oculto da vida humana, seja ouvindo sons ou vendo objetos e Seres
que o nosso cérebro não está programado para transformar em realidade, daí a medicina
chamar esses fenômenos de delírio e alucinação, respectivamente. Outros médiuns servem
de instrumento para que os “mortos” possam interagir e transmitir informações para os
“vivos” utilizando o seu corpo e a sua voz.
Ao longo da História, tais pessoas foram idolatradas e respeitadas por uns, e temidas
ou até mesmo perseguidas, condenadas e ridicularizadas, por outros. Na primeira metade do
século XX, a mediunidade era considerada uma psicopatologia pela medicina acadêmica.
Hoje em dia se faz mister pensar a mediunidade no âmbito dos direitos humanos e da
qualidade de vida, garantido ao médium o auxilio necessário para que possa compreender,
educar e utilizar esse recurso psíquico de forma equilibrada, sem que ela prejudique sua
rotina diária.
Esta pesquisa, sem cunho religioso ou proselitismo, apresenta algumas das
características do processo mediúnico, tendo como suporte a própria experiência de vida
daqueles que se dizem médiuns, os Hermes da pós-modernidade.
Durante o ano de 2008, diferentes médiuns residentes na cidade de São Carlos/SP e
região, foram entrevistados tendo como heurística a História Oral. Sem preocupação em
definir o que é certo e o que é errado, mas apenas expor o fenômeno a partir do olhar de
quem vive a mediunidade diuturnamente, o Centro de Documentação e Memória (CDM),
criado e mantido pelo projeto Homospiritualis, convidou médiuns independentes,
kardecistas, umbandistas e de outras linhas de trabalho para falar sobre suas experiências de
vida e como a mediunidade se transformou em uma atividade rotineira, plenamente
integrada em sua vida cotidiana.
Para o volume 1 da série História Oral e Transcendentalismo, escolhemos
apresentar o depoimento e a história de vida de RG, um senhor que diz “estar médium, gay
e negro, mas que não é nada disso”. Como ele nos pediu para não divulgar fotos e nem o
seu nome verdadeiro, seu depoimento não foi colocado na Internet, como o de outros
entrevistados no canal animagogiabrasil, no youtube. Até por essa razão escolhemos sua
história para dar início a essa publicação temática. Outros depoimentos podem ser
acessados no seguinte endereço: www.youtube.com.br/animagogiabrasil.

Adilson Marques
Doutor em Antropologia das Organizações e Educação pela USP. É coordenador de
pesquisa no Centro de Documentação e Memória da Mediunidade (CDM), na cidade de
São Carlos/SP.
A experiência mediúnica de RG 16.220.237-XYZ

R.G. não quis se identificar. Autorizou o uso da sua fala, mas não a sua imagem.
Ele nos explicou que é conhecido pelos espíritos como RG 16.220.237-XYZ. Os números
não são casuais, tendo um significado oculto que ele ainda não conseguiu compreender.
Por sua vez, as letras indicariam três categorias de “espíritos”: os de Luz, os das trevas e
os neutros, com os quais ele diz ter mais simpatia. R.G. afirma que freqüentou vários
centros, das mais variadas linhas, mas hoje vive sua mediunidade de forma independente,
mantendo contato com os “espíritos” que chama de “neutros”. O livro dos espíritos,
escrito por Allan Kardec, no século XIX, no capítulo sobre a escala espírita, faz referência
aos “neutros”, afirmando que eles são ainda “espíritos imperfeitos”.

Eu não me relaciono com os espíritos, são eles que se relacionam comigo. E isso
acontece desde quando eu nasci. Mas em outras existências eles também não me deixavam
em paz.
A minha madrasta afirma que eu era uma criança calma e que dormia a noite toda,
mas vivia conversando “sozinha”. Segundo ela, eu me levantava da cama, ia até um certo
cantinho do quarto e lá me sentava para conversar com os meus “amiguinhos imaginários”
que, hoje eu sei, não eram tão imaginários assim.
Possivelmente, o fato paranormal mais marcante da minha infância foi o dia em que
o meu padrasto teve um aneurisma cerebral. Eu estava com quatro anos de idade e acordei
chorando. A minha madrasta despertou e percebeu que ele não estava se sentindo bem e o
levou para o hospital. No dia seguinte, eu tive a minha primeira clarividência em estado de
vigília. Eu estava em casa e, por volta das 10 horas da manhã, eu vi dois enfermeiros
carregando o meu padrasto em uma maca. Eu me lembro direitinho da cena. Ele estava
coberto até o pescoço com um lençol branco e a maca era com rodinhas.
Eu era muito pequeno e não tinha ainda o conceito de vida e de morte, mas eu disse
para a comadre da minha madrasta, que estava me dando banho: “olha! O meu pai acabou
de morrer!” Ela ficou assustada com o que eu disse, mas depois se constatou que foi
naquele exato momento que ele faleceu no hospital.
No velório, enquanto todo mundo chorava, eu pedia silêncio e dizia: “não façam
barulho que ele está dormindo!” E ainda consolava minha madrasta, a viúva, dizendo
assim: “ele está bem, ele só está dormindo. Ele não vai mais acordar, mas só está
dormindo!”.
E o meu primeiro acidente, de origem espiritual, também aconteceu na minha
infância. Eu estava com cinco ou seis anos de idade. Eu me lembro de estar no berço e
sentir a presença de duas mãos nas costas me empurrando. Na queda, eu quebrei vários
dentes.
Minhas brincadeiras favoritas eram com os meus amiguinhos imaginários. Eu
conversava e brincava com eles. Quando tinha bolo ou doces em casa, eu precisava levar
também para eles. Tudo que eu ganhava, eu levava para eles ver e brincar também. Mas eu
também gostava de brincar no cemitério. Eu não me lembro se eu via alguma coisa lá, mas
eu brincava muito, pulando por cima dos túmulos, correndo para lá e para cá. O cemitério
era o meu parque de diversões preferido.
Outra brincadeira que eu gostava era a de enterrar os mosquitos, fazendo o meu
cemitério particular. Eu os pegava e os colocava dentro de caixas de fósforo. Em seguida,
eu providenciava o enterro deles em túmulos que eu fazia no quintal de casa. Enquanto
outras crianças gostavam de fazer casinha, castelo, pista de corrida... Eu fazia túmulos para
enterrar mosquitos.
Foi nesta época também que a minha madrasta resolveu me levar a um terreiro de
Umbanda chamado Folha Verde, e que ficava na rua Conde do Pinhal, esquina com a
Marcolino Lopes Barreto, aqui em São Carlos. Eu me lembro que assim que acabou o Culto
de Abertura e começou as incorporações dos espíritos, eu corri para junto deles e ficava
falando: “oi, oi, oi...” A minha madrasta ficava nervosa e queria me tirar de lá, mas o
coordenador do terreiro falava que eu podia ficar no meio dos espíritos, que não tinha
nenhum problema. Naquela época eu já os via, mas não nitidamente como vejo hoje.
Antigamente, eu via tudo embaçado, como se fossem imagens sobrepostas.
Eu me lembro também de quando arrumei emprego em um grande centro comercial
de São Carlos. Eu era da equipe de limpeza e me colocaram para limpar o banheiro
masculino, porque ninguém conseguia fazer o serviço. Uma noite, eu estava limpando e
percebi que numa certa parte do banheiro tinha uma energia gelada. Eu dava um passo e
sentia o frio, recuava e sentia que esquentava. Eu fiquei vários minutos indo e vindo, e
sentido aquela mudança de temperatura. O engraçado foi notar que naquela parte fria o
banheiro era mais limpo. Os usuários não conseguiam usar os vasos sanitários que ali
ficavam. De repente, eu senti uma mão no meu ombro. Ao olhar, vejo uma mão sem carne
e um espírito dentro de um caixão. Ele falou que morava ali, que o centro comercial foi
construído no local onde era a casa dele. Eu pedi demissão do emprego e até hoje não entro
naquele banheiro. Naquele mesmo dia, quando eu já estava dormindo, ele apareceu ao lado
da minha cama, me acordou e disse que queria conversar comigo, pois eu era o único que
não tinha medo dele.
Mas o meu sossego terminou quando eu passei a ter pesadelos recorrentes. Com
freqüência eu sonhava com um homem loiro, de olhos verdes. Ele sempre olhava para mim
e dava um sorrisinho maroto. Porém, de repente, ele grudava no meu pescoço e começava a
me asfixiar. Eu tentava me defender com as unhas. Depois de tanto lutar, eu acordava, mas
sempre sentia como se as mãos dele estivessem se soltando do meu pescoço. Com
freqüência eu acordava sem fôlego quando tinha esse tipo de pesadelo. Hoje eu já sei quem
é esse espírito e sei que ele ainda se encontra desencarnado. Depois falarei sobre ele. Mas é
importante salientar que hoje eu sei que problemas na garganta, algo que eu tenho bastante,
estão relacionados a fatos ou algo dito no passado, em outras existências. Não era por acaso
que ele sempre apertava o meu pescoço nos pesadelos, como se estivesse querendo me
mostrar o que fiz para ele.

Hoje eu não jogo mais, mas quando eu jogava Tarot, acontecia o seguinte. Se eu
vou abrir o Tarot e me concentro no nome de uma pessoa, as imagens começam a vir na
minha mente de duas formas. Ou aparece uma boquinha e começa a falar ou as imagens
aparecem como em uma televisão. E a margem de acerto era de aproximadamente 90 %.
Mas, se eu estou jogando com a pessoa à minha frente; se eu jogo para alguma pessoa,
normalmente aparece alguma entidade atrás dela e começa a me falar sobre aquela pessoa.
Mas, às vezes, eles jogam um pano preto e eu não vejo nem as cartas. Eu só vejo se forem
cartas de Tarot, não importa qual sistema. Se forem cartas de baralho, eu não vejo nada.
Essas só servem para jogar cacheta, 21, rouba-monte...
Décadas atrás eu fiz parte de um grupo de teatro. Alguém descobriu e disse: você
joga Tarot, né? Eu não... nem baralho eu sei jogar. E ela falava, joga sim... até que um dia
essa pessoa chegou e me trouxe um presente, um Tarot de Marselha.
Aí eu fui obrigado a jogar e quando eu joguei, e eu descobri que quem tem o seu
Tarot não pode usar o de outra pessoa. Pode embaralhar, mas não dá por causa da energia.
Mas as pessoas pediam para eu energizar o Tarot delas. Isso eu nunca entendi... até que um
dia eu coloquei fogo no meu Tarot e não quis mais saber. Porque se eu pegar no Tarot, na
hora, as informações começam a vir à minha mente ou vem uma entidade e começa a falar
o que eu posso ou não falar para a pessoa.
Normalmente quem vai nesses lugares que jogam Tarot, está desequilibrada. Mas o
Tarot é um instrumento poderoso para a mediunidade.

***

Em suma, desde criança eu vejo os espíritos, mas só fui saber que eu era vidente
bem mais tarde, quando eu já estava com quase 35 anos de idade e cheguei a freqüentar o
Divinismo. Foi lá que, pela primeira vez, me falaram: “você é vidente, você vê espíritos,
você conversa com desencarnados, com mortos...”. Até aquele momento eu me considerava
mais um esquizofrênico ou louco.
Foi por causa daqueles constantes pesadelos que resolvi procurar ajuda. Eu comecei
a freqüentar um centro que ficava no bairro Cidade Jardim e misturava Umbanda,
Candomblé, Quimbanda, Umbandomblé... Enfim, tinha um pouco de tudo. E eu já
freqüentava este centro quando me aconteceu a seguinte experiência. Eu estava sentado em
minha cama, fumando um cigarro, quando eu vi uma coisa surreal e pensei: “o que é isso?
Estou ficando louco?”. De repente, as paredes da minha casa desapareceram e, de onde eu
estava, passei a ver uma mulher muito branca, mas branca que papel, com sandálias
prateadas de salto fino (agulha 21), tipo gregas, daquelas que amarram nas pernas. Ela
usava um vestido azul turquesa, com alguns babados prateados. Mas eu só a via da cintura
para baixo.
Ela veio da direção Oeste, passou por uma encruzilhada e veio na direção de minha
casa. Em seguida, atravessou o portão e entrou. Subiu os degraus da escada e veio até a
porta da minha casa. Ela me fez um sinal com as mãos e, em seguida, deu meia volta e foi
embora. Depois disso, as paredes voltaram a aparecer.
Eu sempre me vi como uma pessoa excêntrica. Quando criança, não gostava de ficar
com as da minha idade. Eu preferia sempre a companhia das mulheres adultas. E apesar de
negro, pobre e a raça negra, em geral, gostar de samba, pagode, cerveja... Eu sempre
apreciei ópera, música clássica, balé, cultura européia... Enfim, eu sempre fui diferente, mas
aquela experiência me desconcertou.
No dia seguinte eu fui ao centro e comentei o fato com um caboclo chamado
Tabajara. Ele não me explicou o que aconteceu, apenas me disse o seguinte: “sua casa está
com muitas perturbações espirituais”.
Muito tempo depois, eu descobri também quem era aquela mulher. Aquela foi a
primeira visita de um “neutro”, ou seja, de um espírito que não é nem da Luz e nem das
trevas, mas que anda na Luz e também nas trevas; que pode fazer o Bem, como pode fazer
o mal, como pode permanecer indiferente.. Muitos espíritos que chamo de neutros não são
da raça humana. Eu descobri que eles usam uma forma humana apenas para eu poder
entendê-los. Eu aprendi, quando estudei Gnose, que existiram outras raças além da humana
na Terra, foram os seres que habitaram, no passado, a Lemúria e a Atlântida, por exemplo.
Eu conheci um outro espírito neutro de uma forma também singular. Eu já estava
com 15 anos de idade e voltava do centro que eu frequentava. Acho que era por volta das
3h30 da manhã, horário que os trabalhos costumavam acabar e eu, quase sempre, voltava
sozinho para casa. Eu lembro que estava uma forte cerração na rua, por causa do inverno,
daquela que não se enxerga um palmo diante do nariz. Eu já estava perto do Campo do Rui,
na rua Padre Teixeira, quando ele resolveu fazer uma “brincadeira” comigo. Após
atravessar uma encruzilhada, eu escutei um assovio. Com aquela cerração, era impossível
ver alguma coisa. Mas, mesmo assim, eu resolvi olhar para o meu lado esquerdo. E o que
foi que eu vi?
Lá estava um homem muito forte, muito robusto, com roupas pretas e uma bota até
o joelho. A roupa e as botas eram de um preto brilhante, inexistente em nossa dimensão. A
roupa era toda preta, mas tinha partes que eram mais claras e outras mais escuras. Ele
também usava uma capa preta que ia até o chão e balançava, apesar de não estar ventando.
A cabeça dele era um crânio branco que também brilhava, como se fosse um abajur.
Quando eu vi aquela figura, senti um arrepio que começou no ossinho do tornozelo
esquerdo e subiu pela perna esquerda até a cabeça; desceu para o ombro direito e foi até o
tornozelo do pé direito e voltou pelo mesmo caminho.
Obviamente que entrei em desespero. Eu fiquei sem forças para correr, apesar da
vontade. Foi curioso notar que, do outro lado da rua, estava passando uma outra pessoa,
encarnada, e eu percebi que ela não via aquele Ser e nem ouvia o assovio. Ela passou pelo
local como se nada estivesse acontecendo.
Eu resolvi, então, virar na rua Marcolino Lopes Barreto e tentei andar o mais rápido
possível. Porém, eu andava e ouvia passos lentos e fortes vindo atrás de mim. Quando eu
olhei para trás, vi somente a sombra dele no chão, com a capinha balançando, sem nenhum
corpo. Eu comecei a rezar O Pai Nosso, A Ave Maria, O Creio em Deus Pai e todas as
orações que eu sabia, todas misturadas e ao mesmo tempo. Mas não adiantava. Aquele Ser
me seguiu até a encruzilhada mais perto da minha casa. Lá ele parou, pelo menos eu acho
que parou porque eu via no chão a sombra parada com a capinha balançando. E como eu
disse, não havia vento e nem corpo encima da sombra.
Quando eu voltei no centro, fui conversar com um espírito que se manifestava como
baiano e era conhecido como Zé Coquinho. Eu queria saber o que estava acontecendo
comigo. Quando contei a história, o médium incorporado arregalou os olhos, deu uma
disfarçada e disse: “não se preocupe! Não tenha medo... foi apenas um salvador que veio
atrás de um outro salvador...” Aí pediu licença, dizendo que precisava fazer uma outra coisa
e eu fiquei ali sem saber o que, de fato, estava acontecendo. Eu fiquei muito tempo sem
saber o que significava tudo aquilo que estava se passando comigo.
Além disso, eu continuava tendo o pesadelo com o loiro apertando o meu pescoço,
mas ninguém lá no centro me falava o que significava aquilo. Sem respostas para o que eu
estava vivenciando, eu entrei em uma forte crise de depressão. E isto aconteceu por volta
dos 19 anos de idade.
Na verdade, eu tive três fortes crises de depressão nesta existência. E, em uma delas,
eu fiquei um ano só deitado na cama. Eu só me levantava para ir ao banheiro, para tomar
banho e para comer.
Como naquele centro localizado na Cidade Jardim não me diziam nada, resolvi
procurar outros, e de todas as linhas. Em todos os centros eu ouvia que eu tinha
mediunidade de incorporação e precisava desenvolver. Em vários centros eu fui rodopiado
como pião, girando com os olhos fechados, como nas danças dos dervixes, mas não
incorporava. Eu só ficava tonto ao abrir os olhos. E como eu costumava ficar num cantinho,
imóvel, vendo tudo e ouvindo tudo, mas sem conseguir me mexer, alguém falou assim: “a
linha dele pertence ao candomblé, é filho de Ogum”. E continuavam me rodopiando até que
um dia apareceu uma mulher desencarnada e me disse: “por que você está fazendo isso?
Você não incorpora!...”.
Quando contei sobre essa mulher, o pessoal do centro fez diversos trabalhos para ela
ir embora, inclusive com pólvora e outras coisas. Porém, ela apenas dava risada e dizia: “eu
não vou embora, eu vou ficar aqui ao seu lado”.
Mas um dia aconteceu algo muito interessante. Eu tinha descoberto os Salmos da
Bíblia. Eu estava em meu quarto quando entrou uma outra mulher desencarnada e me viu
declamando em voz alta alguns. Aí ela falou assim: “é bom que você comece a rezar
mesmo e muito, porque eu vim para te destruir”. Depois foi embora, atravessando a porta,
indo da direção Leste para Oeste. Muito tempo depois eu fui descobrir que as duas
mulheres eram o mesmo espírito. Aquela que ficava comigo no centro, se passando por
minha amiga, e esta que entrou na minha casa e me ameaçou.
Quando ela se passava por amiga, ela se manifestava como uma mulher
relativamente bonita, com mais ou menos 18 anos de idade. Porém, freqüentemente, ela
aparecia nua. Quando ela ficava nua ao meu lado, os homens, na rua, só faltavam pular em
cima de mim. Apesar dela não ser minha amiga de verdade, ela me ajudou, em termos, a
sair da depressão. Ela ficava o tempo todo ao meu lado e, na hora de acordar, ela batia na
minha testa e ficava falando: “vamos levantar! Sai da cama, sai da cama, sai da cama...”.
Eu e ela não parávamos em casa. Nesse período eu tinha muita disposição.
Inclusive, eu estava alegre e contente, mas eu não sabia ainda que estava andando com a
minha própria inimiga.
Esse espírito me contou várias coisas. Amistosamente, falava sobre os lugares que
eu ia, sobre as pessoas, dizia onde eu corria mais riscos e devia evitar...
Depois de algum tempo, quando eu estava para completar 30 anos de idade, eu
resolvi fazer balé clássico, algo que eu sempre apreciei. Nas aulas, eu conheci um bailarino.
A princípio, eu não fui muito com a cara dele. Só depois eu soube que além de bailarino ele
também era espírita. E eu soube da seguinte forma. Dois anos depois de nos conhecermos,
eu estava no camarim trocando de roupa e ele entrou. Naquele dia, ele me convidou para
passar o reveillon na casa dele e me disse: “olha, tem uma pessoa que quer muito conhecer
você!” Eu perguntei quem era e ele me respondeu: “um espírito”. Eu brinquei dizendo que
minha religião não permitia contato com os espíritos, que eu tinha medo dessas coisas...
Mas ela, o espírito que me acompanhava, a inimiga que me ajudou a superar a
depressão, me falou: “se eu fosse você, eu conheceria. Olhe atrás dele e você verá quem é
que quer te conhecer”.
Quando eu olhei, vi um espírito muito bonito, com forma masculina. Mas não deu
certo de o conhecer ou conversar com ele naquele momento. E eu me lembro que foi no
dia 08 de janeiro de 1997, quando eu já estava com 31 anos de idade que aconteceu o
seguinte. Após o término da aula do curso de férias que o bailarino me ofereceu
gratuitamente, de repente, apareceu esse espírito e incorporou no rapaz, repentinamente.
Foi nesse dia que tomei consciência que era o mesmo espírito que aparecia no meu sonho e
tentava me esganar.
Assim que ele incorporou, em portunhol ele disse: “tica, não mudaste nada!” Eu
estava de boca aberta, tentando entender o que ele queria dizer. E ele continuava falando:
“não estás me reconhecendo?”. Estes foram os trinta segundos mais felizes e maravilhosos
da minha atual existência.
Naquele dia, nós, eu e o espírito incorporado no médium, conversamos, brigamos e
antes dele ir embora, ele me disse: “Não podemos ficar juntos, jamais”.
Aquela frase me doeu na alma. Eu senti uma profunda tristeza. Eu não conseguia
entender o que estava acontecendo comigo. Eu só tinha vontade de chorar. E todo mundo
na escola percebeu a minha mudança de humor para pior, e me perguntava o que tinha
acontecido.
E à noite, já em minha casa, apareceu o espírito que se passava por minha amiga e
falou: “olá! Vamos conversar?” Foi aí que ela me contou toda a história e eu entendi o que
se passava.
O que ela me contou, batia com uma regressão espontânea que tive por volta dos 25
ou 26 anos de idade. Eu me via como uma mulher branca, como leite, e cabelo frutacor
abaixo do quadril. Eu estava no século XIX e vivia em conflito com a minha família. Meu
pai tinha um título, devia ser um nobre. A minha família me forçava a casar com um
homem que eu não conhecia, o que era costume na época. Na regressão espontânea eu me
via no meio de um pandemônio. Eu enfrentava o meu pai, colocando o dedo na cara dele e
dizendo: “não caso, não caso, não caso...” Isso, para a época, era um afronto. Uma filha
jamais poderia desafiar o pai. Hoje eu sei que a minha atual madrasta é o mesmo espírito
que naquela encarnação foi o meu pai.
No meio da bagunça, eu ouvia uma voz na minha cabeça me dizendo o seguinte:
“calma, vamos fazer um plano... Não nade contra a maré, seja inteligente”. Hoje eu sei que
foi esse espírito que se passava por minha amiga que falava na minha cabeça. Ou seja, eu
também tinha mediunidade naquela encarnação, sem saber, e ela já me odiava desde aquela
época.
Na regressão, eu revi o dia do casamento. Eu me lembro de ter visto várias
carruagens, muitos escravos levando meus baús e eu estava vestida com um imenso
vestidão de época... Era de noite e meu pai ficava dizendo para mim: “eu não disse que
você ia se casar...”.
Ele nem desconfiava que eu tinha um plano, intuído por aquele espírito. E eu falava
para ele: “eu vou casar sim, mas cadê o meu dote?”. Na época, era costume a noiva ter um
dote. Só que eu já havia o roubado e estava com ele bem guardado dentro do espartilho. E
quando todos foram procurar pelo dote, o que foi que eu fiz? Eu me embrenhei por meio de
um mato, puxei o vestido até o pescoço, e corri como louca.
Na regressão, eu sabia que era eu que vivia aquela cena, mas aconteceu uma coisa
muito engraçada. De repente, eu me desgrudei. Ou seja, eu passei a ver o corpo daquela
mulher correndo pelo mato e eu fiquei parado olhando a cena. Quando isso aconteceu, me
veio à mente a seguinte idéia: hoje eu sou negro, hoje eu sou homem, mas o corpo que está
correndo é o que eu habitei no passado. Em seguida, eu despertei daquele transe.
Eu contei essa minha regressão espontânea para uma amiga. E, conversando com
ela, eu soube que ela tinha tido um sonho semelhante. Mas é importante salientar que eu
não tinha contado ainda para ela da minha regressão espontânea. Ou seja, eu só falei da
minha experiência depois que ela me contou o sonho que tivera.
E o que ela sonhou? Ela me disse que se via como dona de um cabaré em São
Carlos, e tudo que ela me contou passou a fazer sentido. E, futuramente, minha regressão e
o sonho da minha amiga foram confirmados por este espírito que tinha uma forma feminina
e se passava por minha amiga.
Agora você vai entender o que aconteceu. O plano era o seguinte: eu deveria pegar o
dote e se esconder, mas não na corte, na Europa ou em outro lugar óbvio para esconder
alguém com dinheiro. O melhor lugar para se esconder era aqui perto, debaixo do nariz das
pessoas. E foi o que fiz: Eu vim para São Carlos e fui me esconder no cabaré dessa minha
amiga, que ficava em uma casa rosa, atrás da Catedral, na rua Episcopal.
Essa conversa com a minha amiga aconteceu anos antes de passar a mini-série Hilda
Furacão, na rede Globo. Quando vimos a mini-série, nós ficamos boquiabertos e
brincamos: “precisamos exigir nossos direitos autorais!”.
Um amigo de papai freqüentava o cabaré, quando passava por São Carlos. Ele me
descobriu lá e me entregou. Na regressão, eu só vi alguém me pegando e me levando de
volta para casa. Eu não sei o que aconteceu depois. Só sei que terminou com duas mortes.
Até hoje os espíritos não me disseram o que houve. Segundo eles, certas coisas é
melhor nem saber.
Eu fui descobrir que andava com a minha inimiga, por volta de 1998, quando ela me
falou o seguinte: “então você não se lembra de nada? Você não se lembra de mim? Em
primeiro lugar, eu não sou sua amiga e eu já estive aqui no seu quarto”. Foi nesse momento
que eu descobri que era o mesmo espírito, usando três formas diferentes. Essa que se
passava por minha amiga era também a que disse que ia me destruir e a que foi no terreiro e
disse que eu não incorporava.
Em seguida, ela falou: “você lembra daquela vida em que foi morar no cabaré? Fui
eu que te induzi para lá. Você também tinha mediunidade naquela vida e não sabia. E desde
aquela época eu já queria te destruir”.
Eu ainda estava tentando juntar as peças quando ela falou: “e você lembra daquele
homem que aperta o seu pescoço? Então, é o grande amor da sua vida. Mas ele também não
é seu amigo. Ele também te odeia”.
Quando ela disse essa frase, novamente o meu quarto se transformou. Não sei se foi
uma regressão ou o que foi aquilo, eu só me lembro que voltei mais ou menos trezentos
anos no tempo. Foi com essa experiência que consegui compreender toda a história. Eu e o
“grande amor da minha vida” éramos ciganos. Os dois eram brancos e ele era loiro, de
olhos azuis. Pelo que entendi, nós tínhamos combinado no plano espiritual como seria
nossas vidas na Terra e, ao morrermos, iríamos apenas passear. Pelo que percebi, nós
sempre encarnamos juntos. E aquela encarnação como ciganos seria a última. Mas isso na
teoria, porque na prática foi totalmente diferente. Nossa história é semelhante a de Tristão e
Isolda.
Nós nascemos como ciganos e você sabe que os ciganos nobres são prometidos para
o casamento antes mesmo do nascimento. Nós realmente nos casamos e eu me lembro de
ter visto um lugar com praia, mas não era no Brasil. Eu e ele andávamos a cavalo nesta
praia, no por do sol. Eu devia ter no máximo uns 18 anos de idade quando me casei com
ele.
Naquela encarnação, esse espírito que passou a se dizer meu inimigo, tinha algum
parentesco comigo. Eu só sei que não era minha irmã. Mesmo assim, éramos amicíssimas.
Porém, alguns espíritos das trevas começaram a tentá-la.
Eu acho que ela era homossexual naquela encarnação, porque eu a vi, na regressão,
me dando uma “cantada”. Só que eu lhe dei um “esporro” e ela se arrependeu amargamente
do que fez. Ela ficou muito ressentida e magoada. Só que, algum tempo depois, houve uma
festa e ela embebedou o meu marido, o grande amor da minha vida; colocou-o numa tenda,
tirou toda a roupa dos dois e ficou deitada no peito dele, acariciando-o.
Quando eu cheguei e vi a cena, imagine como eu fiquei. Você já viu uma soprano
“1” daquela que quebra vidro berrando histericamente? Foi exatamente o que eu fiz. Aí
todo mundo veio e viu a cena.
Eu queria pular no pescoço dela e todo o resto do grupo falava: “deixa disso, deixa
disso, deixa disso...”.
Outro detalhe! Eu já estava grávida e perdi a criança. No dia seguinte, no
esclarecimento perante todos, o grande amor da minha vida, o único que agüenta o meu
gênio e que é tolerante, bom e compreensivo comigo, falou o seguinte: “coitadinha, ela não
fez por mal”. Foi a gota d’água. Por que ele falou aquilo? Eu fui traída pela melhor amiga e
não tive o apoio do grande amor da minha vida. Mas eu era cigana e sabia magia e rogar
praga. Eu só não sabia que tudo o que vai também volta. E o que foi que eu fiz? Eu mandei
“7 pragas e 13 maldições” para os dois. E ainda por cima eu falei para ele: “você para mim
está morto. Eu não quero mais saber de você nem aqui e nem em lugar nenhum. Fique com
ela que é ‘boazinha’”.
Além disso, eu rachei duas tribos ciganas. Eu era princesa em uma e ele o príncipe
herdeiro em outra. Em um meio machista, como uma mulher pode tomar uma atitude desta!
Na atual encarnação, eu só fui entender como se organiza uma família cigana quando assisti
a novela Explode Coração, na Rede Globo.
E o que fizeram com a outra? Cortaram todo o cabelo dela e a expulsaram da tribo.
Ela me contou que não agüentou a humilhação, virou andarilha, prostituta e se suicidou.
Enquanto isso, eu morria de tristeza de um lado, na casa dos meus pais, e ele, do outro, com
sua tribo.
E o que aconteceu nas trevas? Eles ficaram contentes com o desencarne dela e
fizeram um acordo. Assim que ele também morreu, ela o pegou e também o convenceu a ir
para lá. Quando eu morri, passei a ver os dois desfilando do outro lado, de mãos dadas, e
isso me irritou profundamente. Eu sei que os espíritos das trevas até hoje também me
querem. Dizem que é por causa de um certo poder que eu tenho, mas desconheço. Ver os
dois juntos era uma estratégia para me levar também para lá.
Para não ver mais aquela cena, eu pedi para encarnar novamente. Eu sabia que
encarnando eu teria um certo sossego. Porém, após desencarnar, depois de ter me escondido
no cabaré da minha amiga, novamente encontrei os dois juntos e me lembrei de toda a
história.
Foi depois disso que os espíritos da Luz me fizeram uma proposta: “Por que você
não encarna de novo, já que você o ama tanto, para o resgatar?” Eu, ingenuamente,
concordei e posso te dizer que comi o pão que o diabo amassou com os pés e o rabo,
sapateou em cima, cuspiu e defecou na massa... Mas uma coisa eu consegui. Hoje eu sei
que ele foi resgatado. Hoje ele está de novo na Luz, depois de 35 anos de muito sofrimento
que passei na Terra.
Eu soube disso por intermédio dos meus amigos neutros. Na verdade, esse espírito
que se passava por minha amiga queria que eu cometesse suicídio. Mas foram os neutros
que me ajudaram e que me alertaram do que me aconteceria se eu fizesse essa bobagem. Eu
ia ter que passar por tudo de novo e por outras coisas mais, sem falar que ela conseguiria
me destruir e me levar também para as trevas, o objetivo dela.
No começo do ano (2009) eu fui participar de uma sessão de Apometria. Quando
abriram o trabalho, os médiuns descreveram exatamente com ela se manifesta para mim e
disseram que era ela que costumava causar os acidentes que aconteceram na minha vida.
Através dos médiuns ela perguntava se eu não estava arrependido do que eu tinha feito no
passado. No trabalho, tentaram doutriná-la, mas não conseguiam. Foi quando eles deram
um comando para ela ser levada ao futuro. Quando ela voltou, me propôs uma trégua. Não
sei o que ela viu, mas voltou transtornada. Eu não aceitei a proposta dela. Eu ainda não
consigo perdoar.
Eu cheguei a ir a várias igrejas evangélicas também e um dia o pastor perguntou
quem estava com problema e eu levantei a mão. Ele me chamou para ir lá na frente e
começou a falar para o “demônio sair de mim”, e o espírito que estava ao meu lado
começou a rir e a contar para mim todos os podres do pastor. Uma vez, quando eu ainda
não sabia que era vidente e nem tinha o contato mais forte com os neutros, eu fui a uma
igreja e o pastor colocou a mão na minha cabeça e começou: “sai capeta, sai, sai...” E o
espírito do meu lado só bocejando. Quando o espírito se cansou, começou a falar para o
pastor: “eu sei que você pode me ver e me ouvir...” e eu estava ouvindo tudo. O pastor
falava e falava com o “demônio”, mas não adiantou nada. O espírito foi até a igreja comigo
e voltou comigo. Nenhuma igreja que procurei me deu suporte, me ajudou. Nem os centros
espíritas ou de umbanda que fui. Eu só encontrei alguma paz de espírito quando descobri os
neutros.
Se você me permite, eu vou falar um pouco sobre os neutros. Foi com eles que
aprendi um pouco de Física. Matemática e até Português, pois eles se expressam
corretamente. Eles sabem mudar de vibração, descendo ou elevando conforme a
necessidade e a vontade deles. Eu me lembro que um dia eu estava em um centro
conversando com um caboclo incorporado e eu falava que tinha um espírito ao meu lado
falando comigo. E o caboclo dizia assim: “aí do seu lado não tem nada. É coisa da sua
cabeça”. Em seguida, os neutros falavam para mim: “ele não consegue nos ver e nem nos
ouvir, só você”.
Eu só fui entender como isso era possível, quando descobri que eles conseguem
subir muito de vibração ou abaixá-la, conforme a vontade deles. E eles costumam falar
comigo através da telepatia. E como eles nunca me falaram o nome, eu comecei a nomeá-
los do meu jeito. A chefe do grupo, por exemplo, é uma mulher de classe, muito branca,
com lindos olhos violetas. Ela usa um véu negro muito bonito e de rendas pretas. E quando
ela abaixa a vibração, ela cobre até os pés com um véu preto de tuli e usa óculos escuros.
Eu a chamo de Nefertite que significa: a bela chegou. Ela também aparece vestindo um
tubo preto que só existe lá na quarta dimensão, sapato agulha 21 e os cabelos são negros até
a cintura e ondulados.
Quando ela chega, todos param e abre caminho para ela passar. Seja quem for,
olham para o chão, não dirigindo o olhar para ela.
Eu coloquei esse nome porque na época eu assistia muito o canal Discovery e estava
passando um documentário que dizia que a palavra Nefertite significava “a Bela chegou”.
Ela também diz ser da Lemúria e que acompanha a minha evolução há muito tempo, desde
quando ela veio para a Terra e eu ainda nem era um ser humano. Ela diz que olhava para
uma relva verde e via no meio uma flor diferente, de cor lilás. E desde aquele momento ela
me observa, segundo afirma. Ela possui uma coleção de vestidos pretos de vários modelos.
Eu sei que ela mora em um local onde a energia é muito pesada. Ela fica lá para se
proteger. Uma vez eu fui lá em desdobramento. Segundo ela, eu fui o primeiro encarnado a
ir lá para conhecer esse lugar.
Uma outra eu a chamo de Silvia (pronuncia-se ssssssilvia). Ela pratica dança do
ventre. Eu a chamei de Silvia por causa daquela cobrinha do “Castelo Ra-tim-bum” que
atormenta o Euclides. Ela se apresenta com olhos de cobra e é branca como papel. Os
cabelos são pretos, até a cintura. Além disso, ela costuma aparecer com uma naja no
pescoço. Às vezes ela usa uma saia com bicos que se transformam em cobras. O cabelo
também costuma se transformar em cobras, como o da Medusa. Ela é a única que possui
uma falange. Todos os demais andam sozinhos. Dois integrantes da falange dela são o
Feroz, que se manifesta como uma cobra enrolada no pescoço dela, e o outro é um
percursionista que tem mãos grandes e eu o chamo de Murrahand. Um dia, eu acordei e o vi
deitado ao meu lado na cama, roncando. Eu o expulsei de lá na hora.
Outra neutra é a Izabele. Ela pratica artes marciais e dança balé clássico. Ela é
aquela da sandália prateada e vestido azul que apareceu no meu quarto. O lugar preferido
dela é a Ilha de Córsega, na França. E tem a Frozen, que detesta a Terra e vem sempre de
preto. Quando ela aparece, costuma ficar a uns 20 metros do solo. Eu sinto muito frio
quando ela chega.
E também é um neutro aquele que me assustou, lá perto do Campo do Rui, todo de
preto e com cabeça de caveira. Eu o chamo de “rapaz”, pronunciando como o Xaropinho,
aquele boneco que aparece no programa do Ratinho. Ele me disse que era da Lemúria. Um
dia eu perguntei se ele poderia se manifestar da forma como ele era na civilização dele e eu
vi um Ser esguio, de 3 metros de altura, com uma cor estranha entre o negro e o marrom.
Ele parecia um ET mesmo. Eu fiquei de boca aberta e ele me falou o seguinte: “você está
assustado com o quê? O meu pai tem cinco metros! Na minha civilização os adultos têm
cinco ou seis metros de altura... Eu sou menor porque ainda sou um adolescente”. Ele
costuma ficar em uma ilha do pacífico onde venta muito.
Ele me disse que ficou preso aqui na Terra por causa de problemas de coração. E
hoje eu sei que nós todos temos o mesmo carma, por isso essa grande afinidade entre eu e
os neutros. As nossas dores são iguais. Foi por isso que eles quiseram me ajudar. Agora eu
entendo porque me disseram que eu era “um salvador que veio para salvar um outro
salvador”.
E não posso deixar de falar da Jane Calamidade. Eu a chamo assim porque ela só
fala gritando, com os outros neutros, e com voz de soprano 1. Comigo ela fala calmamente.
Ela é branca, cabelos compridos e usa roupas que parecem costuradas no corpo, como a
mulher gato do Batman. Ela possui um chicote com espetos na ponta.
Eu vou contar como foi que eu me uni a eles. Em um centro, os espíritos que não
viam os neutros me receitaram tomar banho de carvão, de enxofre... E quando eu estava em
casa fazendo o banho para me “libertar” deles, eles apareciam e falavam: “o que você está
fazendo? Para que serve isso?”. Eu não agüentava mais. Eu estava ficando desesperado. E
quando eu ia tomar o banho, eles perguntavam: “A água está boa?” E lá ficava eu fazendo o
banho e eles comigo dentro do banheiro. Os espíritos não me davam sossego, nem de dia,
nem de noite. Tanto os neutros, como os das trevas e os da Luz... Eu estava ficando
realmente louco da vida.
No centro, o preto-velho que me mandou tomar o banho, falou o seguinte: “você faz
o banho e vem aqui para eu te contar o porquê disso tudo”. Após o banho eu fui ao centro e
todos eles me acompanharam, parando na porta. Naquele dia, ninguém entrou. Mas, quando
chegou a minha vez de conversar, o preto-velho falou que não daria para contar naquele dia
o que se passava comigo e me mandou voltar em um outro trabalho. Eu voltei para casa
arrasado. No trabalho seguinte, os neutros foram comigo e entraram no terreiro. O trabalho
foi um caos, acabando muito mais tarde do que de costume. O ambiente ficou esfumaçado.
O preto-velho disse que não podia falar nada comigo e foi neste dia, quando cheguei em
casa, que os neutros disseram o seguinte: “vamos abrir logo o jogo com ele”.
Eu sei que eles não se compadecem comigo, eles são interesseiros. Mas foram os
únicos que me ajudaram de fato, até hoje. Em casa, um deles disse: “conta logo o que a
gente quer com ele!” E um outro falou: “queremos a sua alma! Queremos você ao nosso
lado”.
Nesse momento, da minha janela, eu vi uma explosão. Meu quarto se transformou
em uma reunião de espíritos onde parecia que todos se conheciam. E estavam todos juntos,
os espíritos da Luz, os das trevas e os neutros... E a porta-voz, naquele dia, foi a Jane
Calamidade. Ela já chegou berrando: “olha só o que esse bando de incompetentes fez com o
rapaz. Olha no que vocês transformaram o coitado do menino... ele se tornou um zumbi,
parece um morto-vivo!”. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo e ouvindo.
Os outros também estavam paralisados. Ninguém piscava. E eu pensava: “eu estou
delirando, isso é esquizofrenia pura”.
Ela acabou com todos eles dizendo que eram incompetentes, que não prestavam
para nada. Eu me lembro dela dizendo assim para os espíritos de Luz: “se deixarem para
vocês a guarda de duas tartarugas, elas vão fugir e vai aparecer uma terceira grávida. E de
hoje em diante vocês estão terminantemente proibidos de chegar perto dele. Agora ele é
nosso”.
Depois desse dia, os espíritos de Luz sumiram da minha vida. Só os neutros e os das
trevas, os meus obsessores, que aparecem. E os neutros dizem: “carma é carma! Nisso não
podemos interferir. Podemos fazer trocas, te ajudar, mas tem coisas que não podemos
interferir”.
Mas antes de eu me unir aos neutros, eu fui a uma reunião do Divinismo. Isso foi
logo depois da virada do milênio. Quando eu fui lá para conhecer os neutros me disseram:
“tudo bem! Quer ir, vá! Mas nós não vamos com você. Não queremos nos contaminar...”.
Eu fiquei curioso com essa história da contaminação e eles me responderam: “você
saberá!”. Os neutros nunca me dão respostas diretas. Eles são enigmáticos e dizem que eu
tenho inteligência e capacidade para raciocinar e descobrir os porquês das coisas. E eu
descobri o motivo. Dependendo do lugar que vão, eles pegam alergia. Eles preferem ir onde
tem música de qualidade. Eles gostam, por exemplo, de balé clássico, opera...
E foi somente no Divinismo que eu soube que era vidente. Eu tinha freqüentado
diferentes centros por mais de 20 anos e em todos queriam que eu incorporasse. Nunca me
falaram sobre vidência. E como eu soube? Eu estava lá vendo os trabalhos quando eu vi um
navio chegando e um monte de espíritos entrando no centro. E os médiuns começaram a
descrever exatamente o que eu estava vendo. Na hora eu pensei o seguinte: “é o que estou
vendo, eles são loucos como eu!... Gente, eu encontrei o meu hospício...”.
Mais ou menos meia hora antes de encerrar o trabalho, eu olhei para o presidente do
centro e vi ao lado dele um chinês com roupa vermelha cheia de bordados em dourado,
parecendo um mandarim. Ele tinha cavanhaque e cabelos compridos e enrolados. Eu
lembro que as unhas eram grandes e ele ria com a mão na boca.
Conversando com o presidente do centro, eu falei que tinha visto também o navio
que os médiuns descreveram. E ele foi a primeira pessoa que me disse o seguinte: “isso
aconteceu porque você é vidente”. Em seguida, ele me perguntou se eu conseguia ver mais
alguma coisa.
Quando eu falei do chinês, ele pediu para eu me sentar ao lado dele. Quando eu fiz
isso, a minha visão se ampliou e eu comecei a ver muito mais coisas dentro do centro.
Eu só fui saber quem era aquele chinês numa outra reunião, quando ele resolveu
fazer acupuntura em mim. Ele não me perguntou se eu queria. Ele simplesmente começou a
espetar agulhas invisíveis no meu corpo e eu disse que aquilo estava doendo. Nesse
momento, o presidente do centro falou para mim o seguinte: “você sabe quem ele é? Ele
falou que te conhece de outras vidas”. Ao demonstrar que ignorava quem era aquele chinês,
o presidente do centro falou que se tratava de Lao-Tsé, o autor do Tao Te Ching. Os
chineses me perseguem e eu ainda não sei o motivo. Ao seu lado, por exemplo, tem um
chinesinho que também é neutro e eu tenho uma amiga, a que me indicou o centro onde o
trabalho foi um caos, que se casou na igreja Santo Antonio, na Vila Prado, e foi morar no
Vale do Paraíba. No casamento dela, o “quinteto fantástico” apareceu: a Nefertite, a Silvia,
a Froner, a Jane e a Izabele. Quando ela engravidou, veio para São Carlos e eu coloquei a
mão na barriga dela. Na hora apareceu um chinezinho e falou: “oi! Lembra de mim?” E
começou a falar uma frase de um programa que eu assistia na infância:

“Chiclete, goma de mascar;


Bambu, vara de pescar;
Canguru, bicho de pular.”

Ou seja, ele era um dos meus “amiguinhos imaginários” com quem eu brincava e
assistia TV quando era criança. E ele me disse que cuidaria daquele menino que estava para
nascer.
Falando ainda dos neutros, uma vez eu fui ao Vale do Amanhecer e lá eu perguntei
para o coordenador do trabalho se ele já tinha escutado falar dos neutros. Na hora, ele
arregalou os olhos e disse: “cuidado com essa estirpe. Eles são perigosíssimos. Eles estão
montando falange”.Foi quando eu soube do tal exílio que deve ter na Terra, nas próximas
décadas. Ele me disse que, com o Apocalipse, os neutros poderão ser remanejados para
outros lugares ou ficar aqui, como remanescentes.
Eu não tenho a mínima idéia do que vai acontecer aqui. Não sei se a raça humana
permanecerá existindo ou se Deus vai providenciar uma outra. Eu não sei se quem vai
dominar a Terra vai ser a Luz, os neutros ou as trevas... A única coisa que sei é que,
atualmente, existem três forças, como se fosse um circulo com 120 graus. Antigamente
existiam duas forças, como em um cabo de guerra, mas agora tem uma terceira força neste
jogo.
E eu, por enquanto, estou do meu lado. Em segundo lugar, do lado dos neutros.
Depois de tudo o que me aconteceu nesta vida, eles foram os únicos que nunca mentiram
para mim. Os espíritos de Luz não mentem, mas omitem. O que dá no mesmo. E como eu
identifico se o espírito é da Luz, neutro ou das trevas?
A aparência é a mesma, o que muda é a energia. A energia das trevas é pesada,
pegajosa. Eu me sinto mal e me dá frio quando eles se aproximam. Quando é um espírito da
Luz, eu me sinto entediado. Eu só me sinto bem com os neutros. Estes me fazem sentir com
energia. Além disso, os neutros não incorporam, eles têm nojo. Quando eles se manifestam
é como se alguém tivesse ligado uma tomada atrás de você e te usasse como microfone.
Mas isso não é incorporação.
Por isso não basta apenas ver para identificar a classe do espírito, porque os das
trevas podem, se quiserem, aparecer como anjos de Luz. O importante é sentir o cheiro e o
gosto deles para saber se ele é da Luz, das trevas ou é neutro.
Os neutros que conheço falam várias línguas e o português eles falam com
perfeição. E eles vêm sempre com trilha sonora. Aliás, muitas das músicas daqui são
inspiradas por eles.
Eu achava que era coisa da minha cabeça, pois quando eu ouvia certas músicas, eles
apareciam na minha frente. Até que um dia, eles apareceram sem que eu estivesse ouvindo
música. Mas reparei que antes deles chegarem, as músicas tocaram dentro da minha cabeça.
E eu descobri que quando a música toca na minha cabeça eles estão chegando, é a
anunciação. E cada um deles tem o seu próprio repertório.
E isso acontece a qualquer hora do dia ou da noite. Sempre que eles querem se
comunicar comigo.
Quando eles se comunicam por telepatia eu entendo; quando eles falam, não. E a
música é o nosso código. Se não for isso, esqueça. Muitos tentam se disfarçar como um
deles. No início, até me enganavam. Mas depois que foi estabelecido esse código, eu sei
identificar quem se aproxima. Sem contar o cheiro, o gosto, a vibração...
Os espíritos vibram em várias faixas e cada médium os percebe de uma forma
diferente. No meu caso eu percebo a vibração do espírito, sinto o cheiro que ele tem e o
gosto. Por exemplo, hoje não se faz sabonete de pitanga? A pitanga não tem cheiro e um
gosto específico? É a mesma coisa. O espírito tem um cheiro e um gosto. Muitos médiuns
sentem o cheiro, mas eu sinto o cheiro e o gosto. Por exemplo, quando um espírito das
trevas se aproxima de mim, eu sinto uma energia pesada, pegajosa, densa... Mas que pode
ter gosto de mel... Já um espírito superior tem sempre uma energia suave, mas, muitas
vezes, o gosto dele é amargo. Um espírito das trevas pode enganar na forma, no gosto e no
cheiro, mas a vibração denuncia. Ele não tem como enganar na vibração. É como se fosse
uma identidade própria que cada um possui. Já os neutros são neutros. Uns por estágio
evolutivo e outros por opção. Como eu já disse, poucos neutros são humanos. E eles podem
ter uma vibração alta ou baixa, conforme o interesse deles. Segundo me disseram, eles não
precisam mais encarnar na Terra.
Vou falar um pouco sobre como vejo os diferentes planos espirituais. Imagine
círculos concêntricos. Existe a infra-dimensão, que seria o Umbral. Depois vem a primeira
dimensão, que é onde vivem as formigas e todos os animais que andam em linha reta.
Depois vem a segunda, que é a dos animais que respeitam cerca. Depois tem a terceira, que
é a nossa. A quarta dimensão é o Astral, que para mim é o paraíso, onde gosto de estar.
Depois vem a quinta, a sexta e outras que eu não sei dizer como são. Imagine que são como
escadas. Quem está lá embaixo não vê quem está em cima, mas quem está em cima vê e
interage com quem está embaixo.
Na quarta dimensão você conversa por telepatia, voa... Tudo o que tem na terceira,
tem na quarta e muito mais. Por exemplo, você não está vendo, mas aqui parece uma arena,
com espíritos de Luz, das trevas e neutros assistindo a tudo o que está acontecendo. Para
mim é como se fossem todos encarnados. Eu vejo ao mesmo tempo o que acontece na
terceira e na quarta dimensão, com os olhos abertos ou fechados.
E por causa da minha vidência, eu perdi, por exemplo, o medo dos Exus. Antes eu
achava que o Exu era o diabo. Mas eu aprendi que o importante é a intenção e não os
objetos que se usam nos rituais. E os neutros sempre me falavam para não ir nesses lugares
porque eu me aborreceria. Até que um dia eu fui num centro e conversei com um Exu e
percebi que eles não são como os neutros que conheço, mas eles também não fazem nem o
Bem e nem o mal, mas o que você pede. E eles fazem porque são os mais próximos de nós,
eles ainda são humanos. Mas tudo depende sempre do merecimento da pessoa.
Eles costumam ser bem orgulhosos e muitos foram médicos na Terra. Quando eles
afastam os obsessores ou fazem o Bem ganham pontos com isso. Mas eles falam que não
estão satisfeitos onde eles estão, mas também não querem encarnar. Eles preferem ficar no
plano espiritual a encarnar. E os socorristas na mesa branca, aqueles que descem no Umbral
para resgatar os espíritos são também Exus, ou seja, são seres humanos que estão em
evolução. Os Exus são espíritos que têm um Ego além da conta e muitos são médicos.
Muitos gostam de bebida alcoólica, cigarro, sexo... Eles ficam em bares, motéis, boates e
até pela rua, sugando as pessoas. É assim que eu os vejo rotineiramente.
Porém, mesmo entre eles existe uma hierarquia. Os mais altos na hierarquia, apenas
coordenam. São os mais baixos nesta hierarquia os que fazem o serviço sujo, mas tem que
fazer bem feito. E eles têm horário para trabalhar, para se divertir e para o estudo. Existe
um aprendizado para virar Exu. Eles recebem um medalhão e precisam respeitar as ordens.
Por isso que o Exu não é um obsessor. Estes últimos não respeitam nada.
Uma vez eu estava conversando com um Exu e ele me disse o seguinte: “eu gosto
muito de você, mas se me pedirem para te bater, eu vou te dar um corretivo...” Ou seja,
tudo depende do que pagarem para eles fazerem. Mas tudo depende sempre do
merecimento da pessoa.
Você sabe que o espírito não tem forma. Mas, o perispírito tem. E o do Exu, porque
eles adoram se divertir, costuma ter rabo, chifre etc. Mas é para se divertir, para assustar as
pessoas. Eu já vi vários Exus que são bonitos. Estes usam o encanto para seduzir.
Normalmente, aparecem belos e sedutores em trabalhos relacionados com sexo. Em
resumo, o Exu não é um demônio, mas uma pessoa normal, um desencarnado em evolução.
O Zé Pilintra é um tipo de Exu, mas se você reparar ele costuma ser representando
de duas maneiras nas imagens: um com gravata vermelha e outro com gravata branca. O
primeiro está mais ligado aos trabalhos de Quimbanda e o outro nos de Umbanda. A minha
energia não bate com a dele, mas eu tenho uma conhecida que tem muita afinidade com a
falange do Zé Pilintra. Ela pode ir em qualquer centro; onde ela estiver, ele abaixa e vai
cumprimentá-la. Mas também é uma falange que só existe ou é conhecida em São Paulo, no
Rio de Janeiro...
O trabalho que os Exus fazem na Umbanda também é feito na Igreja Católica. Lá
eles recebem outros nomes. Os Exus podem ser chamados de São Jorge, Santa Bárbara... É
tudo relativo, cada lugar tem uma forma de trabalho, mas é sempre a mesma coisa, com os
mesmos espíritos.
Por isso, tudo depende do ponto de vista. Por exemplo, na Umbanda os pretos-
velhos e os caboclos são considerados espíritos de Luz, mas no Candomblé são Eguns, os
espíritos de mortos. Eles não são os Orixás, os espíritos que não encarnam. E no
movimento evangélico são chamados de demônios, como se fossem “seres do mal”.
É importante entender que os espíritos tomam a forma que quiserem. Muitos
espíritos que se manifestam como pretos-velhos não são pretos e nem são velhos. Existem
os espíritos iluminados que usam essa forma, mas há muitos Exus se manifestando como
pretos-velhos ou caboclos. Eles adoram fazer isso para se divertir e enganar as pessoas. É
como se estivessem usando uma fantasia. Eu percebo se é ou não um espírito de Luz por
causa da vibração.

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