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Resumo: Este trabalho tem como objetivo geral analisar criticamente os processos de
tratamento de água para abastecimento público da cidade de Itabuna, estado da Bahia,
através de pesquisa de campo, realizada na estação de tratamento local. A coleta de dados
foi realizada através de entrevista, com aplicação de dois questionários, um objetivo e outro
subjetivo. Após uma breve introdução, será explicitada a revisão de literatura realizada que
teve como objetivo levantar informações gerais sobre a água, sobre a legislação de
tratamento de água no Brasil e sobre as técnicas de tratamento convencionais. Em seguida,
os resultados do estudo de caso serão discutidos, analisados e criticados, buscando-se
relacionar o que foi encontrado na prática com a respectiva teoria, o que permitirá a
compreensão das considerações finais, onde há uma proposta de melhoria.
Palavras-chave: Tratamento de água; Água; Abastecimento de água.
1. Introdução
A água torna-se, cada vez mais, um fator limitante para o desenvolvimento agrícola,
industrial e urbano. Mesmo em regiões onde os recursos hídricos sempre foram abundantes,
constata-se uma preocupação com a disponibilidade em longo prazo, visto que os impactos
ambientais nos meios hídricos já podem ser considerados problemas globais.
O tratamento de água assume, assim, importância fundamental para diversos fins,
sejam eles industriais, principalmente em indústrias alimentícias, e/ou domésticos, buscando
garantir que a água captada do meio-ambiente atenda às necessidades humanas isenta de
qualquer tipo de poluição e/ou contaminação.
Nas indústrias, o tratamento, além de garantir que os parâmetros de qualidade sejam
atendidos, ainda pode propiciar a reutilização da água como uma alternativa para minimizar
os impactos ambientais e a conseqüente a minimização de custos de produção com a redução
da demanda de água dos sistemas públicos de distribuição.
Muitas organizações, governamentais ou não, dedicam parte do seu tempo para
desenvolver propostas e/ou normas que têm o objetivo de fomentar a importância da
reutilização de água nas indústrias. A Agenda 21 (1994), documento consensual para o qual
contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países num processo
preparatório que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro,
também conhecida como ECO-92, por exemplo, dedicou importância especial ao reuso da
água, recomendando a implementação de políticas de gestão voltadas para a utilização e
reciclagem de efluentes (HESPANHOL, 2003).
No capítulo 21 da Agenda 21 (1994) – “Gestão ambientalmente adequada de resíduos
líquidos e sólidos”, Área Problemática B – “Maximizando o reuso e a reciclagem
ambientalmente adequadas”, ficou estabelecido como objetivos principais: “vitalizar e
ampliar os sistemas nacionais de reuso e reciclagem de resíduos”, e “tornar disponível
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carbonatos (CO3=) ou hidróxidos (OH-). É uma das determinações mais importantes, pois
influencia em todas as etapas do processo de tratamento da água (NETTO e RICHTER,
1991).
Com relação às características biológicas da água, de acordo com Braga et al (2005),
podemos citar dois indicadores mais importantes: algas e microorganismos patogênicos. As
algas, apesar de serem importantes para a manutenção do equilíbrio natural, podem também
gerar alguns problemas. Entre eles, a concentração de grande massa orgânica, levando à
formação de lodo e à liberação de compostos orgânicos; e a possibilidade de dificultar o
processo de tratamento, entupindo os filtros, por exemplo.
Os microorganismos patogênicos, por outro lado, são introduzidos na água pelo
despejo de esgotos sanitários, principalmente pela matéria fecal existente. São três os tipos de
microorganismos que podem ser encontrados: bactérias, vírus e protozoários. A variedade
desses microorganismos dificulta a determinação da quantidade individualizada. Por isso, foi
determinado como indicador dos microorganismos patogênicos a quantidade das bactérias do
grupo dos coliformes fecais. O índice de poluição pelos coliformes fecais foi escolhido por
quatro razões principais: a) eles existem em grande número na matéria fecal e não existem em
nenhum outro tipo de matéria orgânica; b) eles não se reproduzem na água, o que garante uma
aferição precisa; c) são resistentes ao meio; e d) a quantificação e análise são feitas com
métodos simples de pesquisa (BRAGA et al, 2005).
Todos os indicadores mencionados são muito importantes para a determinação dos
processos de tratamento que serão utilizados para que a água atenda aos padrões mínimos de
aceitação para o consumo humano determinados pela OMS e reformulados pelo Ministério da
Saúde no Brasil. A seguir, será explicitado como a legislação brasileira aborda o tratamento
de água.
3.2 Legislação
A legislação brasileira acerca do uso da água começou a se desenvolver na década de
30, com a edição em 1934 do Código de Águas. Embora seja considerado avançado para a
época em que foi criado, o Código de Águas, ainda em vigor, necessita de atualizações em
conformidade com a Carta Magna de 1988 e a Lei 9.433/97, que estabelece a Política
Nacional de Recursos Hídricos através de princípios e normas e padrões da gestão da água.
A Lei de Recursos Hídricos prevê os fundamentos e objetivos da Política Nacional de
Recursos Hídricos e as diretrizes gerais de ação para sua implementação. O art. 3º da Lei
elenca essas diretrizes e, em seu inciso I, trata da gestão sistemática dos recursos hídricos,
sem a dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade.
No art. 32 da lei supracitada estão dispostos os objetivos e a composição do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos criado pela mesma lei. Dentro os objetivos,
o mais importante para a gestão adequada da água é o previsto pelo inciso IV, que trata do
planejamento, regulamentação e controle do uso, preservação e recuperação dos recursos
hídricos.
A lei estabelece também os campos de ação do poder público, sendo necessário
ressaltar a disposição do art. 31 sobre a responsabilidade dos Poderes Executivos do Distrito
Federal e Municípios em promover a integração das políticas locais de saneamento básico, de
uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federais e estaduais
de recursos hídricos. Ou seja, cabe ao Poder Executivo, em geral, agir conjuntamente com as
esferas estaduais e municipais para garantir a eficácia da Política Nacional de Recursos
Hídricos e o beneficiamento da água para uso da população brasileira de acordo com os
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FIGURA 1 – Seqüencia convencional de um tratamento de água para abastecimento público. Fonte: FUNASA
(2006).
Percebe-se que são necessárias cinco etapas principais: a coagulação, a floculação, a
sedimentação, a filtração e a desinfecção.
O processo de coagulação é o tratamento que consiste na estabilização de cargas da
água com a adição, normalmente, de sulfato de alumínio [Al2(SO3)4]. Segundo a FUNASA
(2006), o sulfato de alumínio é o produto mais utilizado tanto pelas suas propriedades como
pelo seu menor custo. O resultado desse processo é a aglomeração das partículas em
suspensão, formando coágulos, o que facilitará o processo de sedimentação. A água, então, sai
do coagulador e entra no floculador.
A floculação tem por função aumentar o tamanho dos coágulos, formando os flocos.
Isso ocorre porque os coágulos formados anteriormente apresentam cargas elétricas residuais.
Isso fará com que cargas contrárias se atraiam e formem os flocos (RICHTER E NETTO,
1991). Para que o processo seja corretamente executado, é necessário que a água se
movimente continuamente no floculador. O floculador aumenta a velocidade do processo de
sedimentação.
A sedimentação ou decantação é o processo no qual os flocos em suspensão são
removidos da água. Consiste na utilização de forças gravitacionais para separar partículas de
densidade superior à da água, depositando-as em uma superfície ou zona de armazenamento
(RICHTER E NETTO, 1991). Destacaremos dois tipos principais de decantadores: os de
fluxo horizontal e os de fluxo ascendente. Os primeiros são caracterizados pela simplicidade e
eficiência. Como o próprio nome já diz, a corrente da água é horizontal e os flocos se
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Geralmente, a água a ser tratada, coletada dos mananciais, apresenta amônia, oriunda
de diversas fontes de poluição. Nesse caso, a adição de cloro ocorre até que toda a amônia
reaja e seja eliminada. A partir desse momento, surge o CRL. O método é denominado de
“cloração ao break-point” (RICHTER E NETTO, 1991), ou seja, a cloração tem como
referência para a geração de CRL o ponto em que a amônia foi totalmente eliminada. A
desinfecção e a correção do pH, normalmente, são as penúltimas etapas das ETAs e ocorrem
ao mesmo tempo. A última é a distribuição.
Todas as etapas explicadas, se realizadas corretamente, garantem que os padrões de
potabilidade exigidos pela Portaria 518 (2004) sejam atendidos. Porém, é importante realizar
uma ressalva, o processo de tratamento de água também gera resíduos e esses resíduos não
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Lodo
Água de Água de
Lavagem Lavagem
Lodo
Fase
Líquida Adensamento
Lodo Adensado
Condicionamento
Lodo Condicionado
Fase
Líquida Desidratação
Lodo Desidratado
Disposição
Final
Figura 2 – Tratamento de despejos convencional de uma ETA. Fonte: Adaptado de Ferreira Filho e Além
Sobrinho (1998).
Na Figura 2, percebe-se que a água do despejo é reaproveitada e os resíduos sólidos
são encaminhados para aterros sanitários e usos agrícolas. Com referência à água de lavagem
dos filtros, é possível que se faça em um tanque separado o processo de sedimentação para
facilitar a desidratação.
O processo de tratamento das ETAs convencionais não é tão complexo, mas exige
uma gestão adequada para que todas as etapas sejam perfeitamente executadas. A falha em
alguma delas pode causar muitos problemas para as populações, o que é inadmissível. A
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Para esclarecimento das respostas objetivas, foi realizado uma entrevista com o
encarregado da área. As informações obtidas dizem respeito ao processo de tratamento da
ETA estudada. Todas as informações que serão explanadas a seguir são baseadas nas
respostas obtidas na entrenvista.
Após a captação de água, que ocorre no Rio Almada, amostras são submetidas a
análises biológicas e físico-químicas. Esse é um procedimento padrão e deve ser realizado
diariamente.
Com relação à técnica de tratamento utilizada, observou-se que consiste na realização
de cinco etapas principais e uma última referente a adição de flúor. O fluxograma da Figura 3
esquematiza o processo adotado.
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FLOCULADORES DECANTADORES
MECÂNICOS HORIZONTAIS
FLOCULADORES DECANTADORES
HIDRÁULICOS ASCENDENTES
FILTROS DE
ARÉIA
DESINFECÇÃO
DISTRIBUIÇÃO ANÁLISE FLUORETAÇÃO OU CLORAÇÃO
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informados. O que foi dito é que há um projeto de tratamento e reutilização dos resíduos em
planejamento.
A seguir, todas as informações obtidas serão analisadas criticamente com base na
comparação do que foi encontrado na ETA estudada com a teoria.
4.1 Análise crítica
Com relação ao processo de tratamento utilizado pela ETA em análise, observou-se
que a seqüência de etapas é bem parecida com o processo convencional mostrado no item 3.3.
A execução e o controle das atividades observadas na visita permitem afirmar que os padrões
mínimos de potabilidade exigidos pela Portaria 518 (2004) são alcançados. Porém, há que se
considerar dois pontos importantes.
O primeiro diz respeito à falta de flexibilidade caso haja um problema no tratamento
ou na rede de distribuição. Não foi constatado na visita a presença de reservatórios auxiliares
para regularização do processo, portanto, seria muito difícil atender à demanda da cidade caso
algum imprevisto acontecesse no processo de tratamento.
O segundo e, talvez, o mais importante, é com relação ao despejo descontrolado dos
resíduos. Verificou-se que a empresa, atualmente, não realiza nenhum tipo de tratamento nos
resíduos da ETA e os despeja novamente no Rio Almada. Obviamente, o resultado é o
aumento da poluição do rio e o conseqüente prejuízo para as populações ribeirinhas e para o
ecossistema.
De acordo com Andreoli et al (2001), para a legislação de diversos países, e mesmo a
brasileira, os impactos ambientais causados pelo destino inadequado de resíduos é sempre dos
produtores do resíduo, que podem ser enquadrados na própria lei de crimes ambientais.
Portanto, fica a necessidade da urgente implantação do projeto que terá como objetivo
tratar e reutilizar os resíduos da ETA.
5. Considerações finais
Pelo estudo de caso, é possível concluir que o processo de tratamento da ETA da
cidade de Itabuna-BA é adequado para garantir que os padrões mínimos de potabilidade sejam
atendidos para o consumo humano. As etapas do tratamento são coerentes com o que foi
encontrado na literatura.
O principal problema identificado foi o destino inadeqüado dos resíduos gerados
durante o processo. Para solucionar esse problema, propomos o modelo apresentado no tópico
3.3.1.1. Utilizando esse modelo, todos os resíduos seriam tratados e/ ou reutilizados.
Destarte, consideramos que o objetivo geral, bem como os específicos, foram
alcançados. Concluimos o trabalho ressaltando a oportunidade que existe no desenvolvimento
de inovações para o tratamento e/ ou reutilização de resíduos das ETAs. A Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC) poderia contribuir nesse sentido com a aplicação de
investimentos em projetos de extensão em parceria com a estação de tratamento da cidade de
Itabuna-BA.
Referências
ANDREOLI, C. V. et al. Resíduos sólidos do saneamento: processamento, reciclagem e disposição final.
Curitiba: Abes, 2001.
BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2 ed.
Revisada. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
BRASIL. Decreto Federal n.º 24.643, de 10 de julho de 1934.
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