E
EDUCAÇÃO
JEAN PIAGET
2
3
ÍNDICE
O pensamento do adolescente 73
4
5
PIAGET E O EMPIRISMO
PIAGET E O CONSTRUTIVISMO
SUJEITO OBJETO
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
************
14
e seis flores que não são prímulas, descobrir que existem mais
flores que prímulas, que o todo ultrapassa a parte. Isso parece tão
evidente que ninguém tem idéia de ensinar a uma criança.
Entretanto, como veremos, serão necessários vários anos para que
a criança descubra leis desse gênero.
Outro exemplo banal: a transitividade. Se uma vareta,
comparada a uma outra, é igual a essa outra, e se essa segunda é
igual a uma terceira, será que a primeira- que escondi debaixo da
mesa - é igual à terceira? .Será que A é igual a C, se A é igual a C?
Novamente, isso é de uma evidência total para nós termos a idéia
de ensinar isso a uma criança. Ora, serão necessários mais ou
menos sete anos, como veremos, para que a criança descubra leis
lógicas dessa forma.
Logo é, sobre o aspecto espontâneo da inteligência que
estudarei, sendo o único do qual falarei, porque sou psicólogo e não
educador; e também, porque do ponto de vista da ação do tempo, é
precisamente esse desenvolvimento espontâneo que constitui a
condição preliminar evidente e necessária para o desenvolvimento
escolar, por exemplo.
Nas escolas de Genebra, é aos 11 anos somente que
começamos a ensinar a noção de proporção aos alunos. Por que
não começamos mais cedo? É evidente que se a criança pudesse
compreendê-la mais cedo, os programas escolares teriam situado a
iniciação, às proporções na idade de 9 ou mesmo de 7 anos. Se é
necessário esperar 11 anos, é porque essa noção supõe todas as
espécies de operações complexas. Uma proporção é um produto
entre produtos. Para compreender um produto de produtos, é
necessário compreender primeiramente o que é um produto; é
necessário constituir primeiramente toda a lógica das relações
aplicar depois essa lógica das relações à lógica dos números. Existe
aí um amplo conjunto de operações que permanecem implícitas,
que não distinguimos na primeira abordagem e que estão
encobertas sob essa noção de proporção. Esse exemplo mostra
entre cem outros possíveis como o desenvolvimento psico-social
está subordinado ao desenvolvimento espontâneo e psicológico.
Logo, eu me limitarei ao desenvolvimento psico-social e
partirei de antemão de um exemplo concreto. Trata-se de uma
experiência que realizamos há muito tempo em Genebra e que é a
16
fazendo com que ela constatasse que o peso era o mesmo. Depois
de duas ou três vezes, a criança repetiu constantemente: será
sempre o mesmo peso, será de novo o mesmo peso, etc.
Haverá assim aprendizagem do resultado. Mas o que é
interessante, é que essa aprendizagem do resultado se limita a esse
resultado, quer dizer que quando Smerdslund passou para a
aprendizagem da transitividade (o que é um outro aspecto, a
transitividade fazendo parte da estrutura lógica que conduz a esse
resultado), ele não pôde obter aprendizagem com relação a essa
transitividade, apesar das constatações repetidas na balança de A =
C, A = B e B = C, Logo existe uma diferença entre aprender um
resultado e formar um instrumento intelectual, formar uma lógica,
necessária à construção de tal resultado, Não formamos um
instrumento de raciocínio em alguns dias. Eis o que prova essa
experiência.
2º A outra constatação fundamental que tiraremos desse
exemplo das bolinhas de massa é que o tempo é necessário
igualmente como ordem de sucessão.
Constatamos que a descoberta da noção de conservação da
matéria precede de dois anos a do peso; e a do peso precede ide
dois anos a do volume. Essa ordem de sucessão foi encontrada em
toda a parte; ela nunca foi invertida, quer dizer que não encontramos
um indivíduo que descubra a conservação do peso sem ter a noção
da substância, enquanto encontramos sempre o inverso.
Por que essa ordem de sucessão? É que, para que o peso
se conserve, é necessário naturalmente um substratum. Esse
substratum, essa substância, será a matéria. É interessante
observar que a criança começa pela substância, porque essa
substância sem peso nem volume não é constatável empírica,
perceptivamente; esse é um conceito puro, mas um conceito
necessário para atingirmos depois a noção de conservação do peso
e do volume.
Logo, a criança começa por essa forma vazia que é a
substância, mas ela começa por aí porque sem isso não haveria
conservação do peso. Quanto à conservação do volume, trata-se de
um volume físico e não geométrico, comportando a
incompressibilidade e a indeformabilidade do corpo, o que, na lógica
20
meio por exemplo, a criança começa a jogar .Um dos meus filhos
fazia circular uma concha sobre uma caixa dizendo: "Miau, porque
um pouco antes tinha visto um gato no muro. O símbolo era
evidente nesse caso, a criança não tendo outra palavra à sua
disposição. Mas o que é novo, é representar alguma Terceira forma
de simbolismo: pode ser um simbolismo gestual, por exemplo na
"imitação indireta".
Quarta forma: será o começo da imagem mental ou imitação
interiorizada.
Existe pois um conjunto de simbolizantes que aparecem
nesse nível e que tornam possível o pensamento, o pensamento
sendo, repito, um sistema de ação interiorizada e conduzindo a
essas ações particulares que chamaremos "operações", ações
reversíveis e ações se coordenando umas com as outras em
sistemas de conjunto, dos quais falaremos dentro em breve.
Apresenta-se aqui uma situação que suscita da maneira mais
aguda o problema do tempo. Por que as estruturas lógicas, por que
as operações reversíveis que acabamos de caracterizar, por que a
noção de conservação que falamos há pouco, não aparecem desde
que haja linguagem e desde que haja função simbólica? Por que é
necessário esperarmos oito anos para adquirir a invariante de
substância, e muito mais para as outras noções em vez de elas
aparecerem desde que haja função simbólica, quer dizer a
possibilidade de pensar, e não mais simplesmente de agir
materialmente? Por essa razão, fundamental, que as ações que
possibilitaram alguns resultados no terreno da efetividade material
não podem ser interiorizadas sem mais e de uma maneira imediata,
e que se trata de reaprender no plano do pensamento o que já
aprendemos no plano da ação. Essa interiorização é na realidade
uma nova estruturação; é não apenas uma tradução, mas uma
reestruturação, com uma decalagem que toma um tempo
considerável.
Darei um exemplo: é o grupo dos deslocamentos que, na
organização sensório-motora do espaço, constitui um resultado final
fundamental. O que os geômetras chamam um grupo de
deslocamentos, é por exemplo que a criança se toma capaz,
circulando em seu apartamento ou em seu jardim quando souber
andar, de coordenar suas idas e vindas, de retomar ao ponto de
26
NOÇÃO DE CONSERVAÇÃO
DE QUANTIDADES DESCONTÍNUAS OU DISCRETAS
NOÇÃO DE CONSERVAÇÃO
DE QUANTIDADES CONTÍNUAS - LÍQUIDO -
1-Ausência de Conservação
A = A´ A≠B A ≠ C
A = A´ A≠B A = C
39
3- Noção de Conservação
A = A´ A=B A=C
Argumentos
1. Identidade:
É a mesma água, não se tirou nem pôs. Somente passou de
um copo para outro.
2. Reversibilidade:
2.1. Simples ou por inversão:
Se pusermos a água neste copo (A) outra vez, fica tudo
igual como antes.
2.2. Por reciprocidade:
Neste copo (B) a água está mais alta porque o copo é fino e
alto, neste (A) a água fica mais baixa porque o copo é mais largo
e mais baixo, mas a quantidade é a mesma.
1-Ausência de Conservação
A = A´ A≠B A≠C
A = A´ A≠B A=C
3- Noção de Conservação
A = A´ A=B A = C
• ESTÁGIO PRÉ-OPERATÓRIO
I- Coleções Figurais:
1- Pequenos alinhamentos parciais:
4- Objetos Coletivos:
5- Objetos Complexos:
II - Coleções Não-Figurais
A + A’ = B
46
SERIAÇÃO
1- Ausência de Seriação
3- Seriação Operatória
or
48
1
Nos sistemas de conjunto, cada parte se relaciona com todas as outras e
com o todo, de tal maneira que qualquer modificação em uma das partes provoca
modificações no todo e em cada uma das outras partes. Assim, quando uma estrutura
sofre modificações ao acomodar-se a um objeto do conhecimento, todas as outras
estruturas sofrem acomodações para terem condições de se coordenarem com a
estrutura modificada. Da mesma forma, a estrutura de conjunto também se modifica.
54
D D’
C
C’
B
B’
A A’
56
classe dos gatos, A’1 à dos não gatos, ambas constituindo B, classe
dos mamíferos, que pode ser formada também por A2 - classe dos
cavalos - e A’2 - classe dos mamíferos não cavalos; ou por A 3 - dos
macacos e A’3 - dos mamíferos não macacos, e assim por diante.
A’3
A1
A’1 A3
A2
A’2
Neste agrupamento cada soma resulta sempre na classe
completa dos mamíferos, comportando, portanto, vicariâncias, uma
vez que seus termos podem ser substituídos sem alterar a classe
total.
Agrupamento III - multiplicação biunívoca de classes: As
classes podem ser multiplicadas umas pelas outras. O resultado
dessa multiplicação é sempre uma classe de menor extensão,
porque possui os predicados das duas classes multiplicadas. Se
multiplicarmos, por exemplo, a classe dos carros, que comporta
todos os carros, pela classe dos vermelhos, que inclui todos os
objetos vermelhos, tenho a classe dos carros vermelhos, que
comporta apenas os carros de cor vermelha, deixando de incluir
todos os outros carros - não vermelhos - e todos os outros objetos -
não carros. O produto desta multiplicação é, portanto, a interseção
de ambas as classes.
Podemos tomar como exemplo, novamente, os brinquedos
de uma criança. A classe dos brinquedos poderia ser dividida pela
cor, hierarquia (D1 ) e pela espécie, (D2 ). Assim, poderia ser
constituída, por um lado, pela classe dos brinquedos azuis (A1 ), dos
brinquedos amarelos (B1 ) e dos brinquedos vermelhos (C1 ) e, por
outro lado, pela classe dos carrinhos ( A2), pela dos piões(B2 ) e pela
das bolas(C2 ) . A multiplicação lógica dessas hierarquias dá origem
à matriz multiplicativa ou tabela de dupla entrada:
58
D1 A2 B2 C2
D2
A1 A1 A2 A1 B2 A1 C2
B1 B1 A2 B1 B2 B1 C2
C1 C1 A2 C 1 B2 C1 C2
Este agrupamento recebe o nome de multiplicativo biunívoco
porque cada classe da primeira hierarquia (D1), multiplica-se pelas
classes individuais da segunda hierarquia (D2) para dar origem às
classes de menor extensão, situadas nas interseções.
Diversas atividades podem propiciar o estabelecimento
destas relações multiplicativas. Um exemplo clássico, seria o de
colocar diante da criança dois conjuntos, um com objetos verdes
(uma caneca, um carro, uma caneta, etc., todos verdes), formando
uma linha vertical, e outro de folhas de diversas cores, amarela,
laranja, marrom, vermelha (exceto verde) formando uma linha
horizontal. O ponto de interseção ficaria vazio e se perguntaria à
criança, o que poderia ser colocado ali. Para obter a resposta a
criança teria de considerar os critérios de classificação dos dois
conjuntos: objetos verdes de um lado e folhas do outro.
Multiplicando ambos os critérios, teria uma folha verde.
Com crianças menores podemos apresentar diversos
objetos para ela escolher, dentre eles, o que serve para ambos os
conjuntos. Com crianças mais velhas isso não é necessário. Com
estas também é possível trabalhar com palavras, a partir dos
conteúdos escolares já trabalhados. Por exemplo, pode-se oferecer
nomes de diversos personagens portugueses de nossa história para
um conjunto e, para outro, nomes de reis de diversas
nacionalidades, para preencher a interseção a criança poderia
escolher entre diversos nomes de personagens de nossa história,
tendo apenas D. João VI para representar o rei português.
Agrupamento IV - multiplicação counívoca de classes: Na
multiplicação counívoca de classes (um-para-muitos), cada classe
de uma hierarquia pode ser multiplicada por todas classes de outra
hierarquia. Tomemos o exemplo de uma família, sendo a hierarquia
K1 formada pelas classes: A1 - os filhos de x, B1 - os netos de x - e C1
59
A
a
B b
c
C
2
São ordenadas porque ocorrem em uma única direção.
61
0
(A) x x (ou x = x)
a a
(B) x y, = “irmão de”
a’ a’
(C) x z, = “primo-irmão de”
b b b
(D) x y, x z, = “tem o mesmo avô que”
Mais escuro
62
A1 A2 A3 etc.
Maior B1 B2 B3 etc.
C1 C2 C3 etc
BIBLIOGRAFIA
(nenhuma)
Fig. 01
65
3
Piaget , Inhelder e cols. Operações de Arranjo. In: (1980). A origem da
idéia de Acaso na criança. Rio de Janeiro, s/d, pp.269-291.
66
Fig. 02
67
depois
Fig. 03
68
Procedimentos do sujeito
Durante um primeiro estágio, pré-operatório, observa-se
uma indiferenciação entre as ações do sujeito e as oscilações do
pêndulo, isto é, ao tentar solucionar a tarefa as ações realizadas
pela criança são confundidas com os movimentos observáveis do
pêndulo. Quase sempre, o sujeito explica a maior freqüência de
oscilações pelo impulso dado e intervém sempre nos movimentos do
aparelho. Não há seriação ou correspondências exatas entre os
fatores e suas conseqüências, e muitas contradições são
observadas.
No estágio operatório concreto a criança começa a seriar os
fatores, a estabelecer correspondências entre eles e a freqüência
das oscilações, mas ainda não dissocia os fatores. Esse período
divide-se em dois níveis:
Em um primeiro nível, IIA, torna-se capaz de seriar as
alturas, os comprimentos, os pesos, de julgar objetivamente as
mudanças de freqüência e chegar a correspondências exatas.
Além disto, descobre a correspondência inversa entre o
comprimento da corrente e a freqüência das oscilações, mas ainda
atribui um papel ao peso, ao impulso e à altura de soltar.
Nota-se que não chega a dissociar os fatores, variando
vários ao mesmo tempo. Não existe seriação exata dos pesos e
conclui que o comprimento do barbante não é o único fator a intervir.
Já no nível de efetivação ou de equilíbrio deste estágio, nível
IIB, o sujeito torna-se capaz de todas as formas de seriação e
correspondências que permitem variar os quatro fatores e conseguir
ler os resultados; seriar exatamente os efeitos dos pesos na
experiência bruta e de utilizar tabelas simples de variação.
Entretanto, os fatores nem sempre podem ser separados,
razão pela qual, muitas vezes tiram das operações apenas algumas
inferências de transitividade (A< C se A < B e B < C), não imaginam
a multiplicidade de variações que podem ser tiradas das operações
e variam simultaneamente vários fatores, podendo não variar o fator
que desejam examinar.
Apenas no estágio operatório formal a dissociação de
fatores torna-se possível, embora ainda não seja espontânea.
70
4
Inhelder e Piaget. Tração do Peso sobre o Plano Inclinado. In:1976. Da
Lógica da Criança à Lógica do Adolescente: ensaio sobre a construção das
estruturas operatórias formais. São Paulo: Pioneira, 1.976, pp.139-150
71
Fig.05
Bibliografia
*****************
73
O PENSAMENTO DO ADOLESCENTE5
Jean Piaget
Adaptação: Orly Z. Mantovani de Assis
5
Este texto foi adaptado do Capítulo XVIII do livro do autor intitulado Da
Lógica da Criança à Lógica do Adolescente.
74
6
Por exemplo, La Formation du Symbole chez I'Enfant, cap. 1 X.
79
7
As moças naturalmente se interessam mais pelo casamento, mas o
marido com que sonham é muito freqüentemente "teórico" e suas reflexões sobre a
vida conjugal adquirem muitas vezes o aspecto de "teorias".
80
8
Ainda não se encontrou, do ponto de vista sociológico, uma explicação
satisfatória para esse fato. O fato de atribuir as estruturas formais explicitadas pelos
gregos ao caráter contemplativo de tal ou qual classe social não explica porque essa
contemplação não se limitou às ideologias metafísicas e tenha chegado à criação de
uma matemática.
86
9
J.PIAGET e A. M. WEIL, O Desenvolvimento na Criança da Idéia de
Pátria e as Relações com o Estrangeiro, Bull.Intern.des.Sc.Sociales (UNESCO), t.III
(1951), pp.605-21
88
Bibliografia
INHELDER, B e PIAGET, J. (1976) Da lógica da criança à lógica do
adolescente. Tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo: Pioneira,
pp.249-260.
*******************