Está a ser negociada entre vários Estados uma convenção para controlar a
criação e comercialização de cães de raças perigosas. Vai decorrer a reunião
final. O Estado A faz-se representar pelo seu Director-Geral da Veterinária,
que se esqueceu, daquela vez, de levar a carta de plenos poderes. Pode
assinar o texto da convenção? E que valor terá essa assinatura?
Resolução:
Estamos portanto um acordo internacional escrito entre Estados que se rege pelo
DIP.
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nº 1 da CVDT, poder-se-ia prescindir da declaração dos plenos poderes, ficando
no entanto a validade do acto de assinatura sujeita a confirmação posterior nos
termos do artigo 8º da CVDT, sob pena de assim não sendo s enão produzirem os
efeitos jurídicos do Tratado.
II
Em 29.11.2009 tem lugar em Dakar uma reunião dos Ministros dos Negócios
Estrangeiros de um conjunto de países africanos com vista à negociação de
um tratado sobre cooperação policial na área da luta contra o terrorismo
internacional. O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola teve de se
ausentar no decurso das negociações, ficando este país representado pelo
Vice-Ministro da mesma pasta.
Resolução:
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Estamos portanto um acordo internacional escrito entre Estados que se rege pelo
DIP.
III
Resolução:
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internacional composta por representantes dos 36 governos, ou pelo menos
reconhecida pelos 36. Mas veremos adiante se isso se verifica.
A CVDT diz-nos no seu artigo 5 que se aplica a qualquer tratado que seja acto
constitutivo de uma Organização Internacional e a qualquer tratado adoptado no
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âmbito de uma organização internacional, sem prejuízo das normas aplicáveis da
organização.
Assim sendo, dever-se-ia realizar nova votação até que se obtivesse um resultado
conforme à regra.
Mas isto não invalidaria uma tentativa por parte dos 22 estados a favor de reunir
novamente no sentido de aprovar a criação da OI sem intervenção dos 14 estados
contra, o que seguramente resultaria em unanimidade da votação.
Não podemos exactamente falar em erro, nem em fraude, podemos falar apenas
num incidente que originaria inevitavelmente um afastamento dos Estados
contrários à criação da OI, dado que estas não podem ser criadas sob reservas e
sem respeito à maioria.
Será defensável dizer que assim tenha sido por uma questão de economia de
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esforços, já que inevitavelmente havendo uma maioria, e sendo possível reunir
posteriormente e instituir a OI, não seria necessário protelar esse fenómeno no
tempo.
IV
Os Chefes de Governo da Tailândia, da Malásia, da Indonésia, das Filipinas, da
Austrália e da Nova Zelândia reúnem-se em Kuala Lumpur para negociar um
tratado sobre cooperação em matéria de prevenção e repressão do terrorismo
internacional, através do qual aqueles Estados se comprometem a trocar as
informações que recolham acerca do terrorismo internacional e a permitir às
forças policiais de cada um deles deter suspeitos de terrorismo no território
dos outros, desde que esses suspeitos não sejam nacionais do Estado em que
irão ser detidos. Antes de as negociações terminarem, o Primeiro-Ministro da
Tailândia tem de se ausentar, pelo que, na assinatura do texto final, é
substituído pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros desse país. Os
representantes dos Estados presentes decidem ainda manter secreta uma das
disposições do tratado, que previa a instalação, no território de um deles, de
um centro de detenção para suspeitos de terrorismo em que seriam utilizadas
todas as técnicas de interrogatório que se mostrassem necessárias à obtenção
de informações, incluindo a tortura. Posteriormente, no momento da
ratificação do tratado, a Nova Zelândia notifica os demais Estados de duas
declarações: pela primeira indica que só considerará suspeitos de terrorismo
os indivíduos que tenham cometido ou se preparem para cometer, por
motivos políticos, ideológicos ou religiosos, actos dos quais resultem, por
meios violentos, danos em pessoas ou bens; pela segunda, indica que só
permitirá a detenção de suspeitos de terrorismo no seu território desde que
seja previamente informada desse facto pelo Estado que pretende proceder à
detenção. Por sua vez, a Austrália notifica as demais partes de que só
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permitirá a detenção de suspeitos de terrorismo no seu território marítimo,
não no território terrestre. As declarações da Nova Zelândia não suscitam
qualquer reacção dos demais Estados. Já a comunicação da Austrália recolhe
a objecção de todos os outros Estados que assinaram o texto, com excepção
da Nova Zelândia.
Resolução:
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contudo questões de âmbito de validade por serem objecto do tratado normas
que violassem normas costumeiras internacionais gerais, ou normas que
violassem princípios de ius cogens, no entanto, e numa primeira abordagem pelos
dados que nos são apresentados no enunciado da hipótese não encontramos
violações de princípios de ius cogens, e por uma questão de simplicidade se
supõe que o objectivo da hipótese não fosse avaliar das normas costumeiras
internacionais, considere-se a questão como analisada.
Passemos então para uma subquestão que se prende com facto de o Antes de as
negociações terminarem, o Primeiro-Ministro da Tailândia se ausentar, e ser
substituído na assinatura final pelo MNE desse país. A questão foi jé dirimida na
fase de análise da legitimidade dos chefes de governo para representarem
Estados prescindindo da apresentação da declaração de plenos poderes, questão
essa que se convoca à solução uma vez mais. Nos termos do Artigo 7º nº 2 alínea
a) da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados reconhece-se a
capacidade de agir em plenos poderes sem dessa declaração se fazer necessidade
não só aos chefes de Governo, como também aos Chefes de Estado e aos
Ministros dos Negócios Estrangeiros, pelo que a questão se encontra igualmente
respondida.
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que reiteram precisamente a obrigatoriedade de comunicação de todo e
qualquer Tratado ao Secretário das Nações Unidas, para que este seja registado e
publicado.
Não havendo aqui uma sanção, nem sequer um desvalor originado pela violação
da previsão normativa estaríamos perante uma norma imperfeita, por não impor
precisamente nem sanção nem nulidade do acto, sendo que a única consequência
seria a inoponibilidade da clausula perante os órgãos das Nações Unidas,
especialmente perante o Tribunal Internacional de Justiça.
Já aqui se disse que são normas imperativas de Direito Internacional Geral, quer
isto dizer que são normas que impõem determinadas condutas, que não podem
ser afastadas a não ser por norma imperativa de Direito Internacional geral, que
são aceites de forma tendencialmente unânime pela comunidade internacional e
que criam obrigações internacionais erga omnes, ou seja que criam a obrigação
de respeito para todo e qualquer um, independentemente do Estado
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(considerado em termos de costume e Direito Interno)
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- A primeira declaração define quais são os sujeitos que considerará suspeitos de
terrorismo. Poderíamos pensar ser esta uma reserva, mas se atentarmos à
definição de reserva nos termos do artigo 2º alínea d) verificamos que «Reserva»
designa uma declaração unilateral, qualquer que seja o seu conteúdo ou a sua
denominação, feita por um Estado quando assina, ratifica, aceita ou aprova um
tratado ou a ele adere, pela qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de
certas disposições do tratado na sua aplicação a esse Estado.
Ora no presente caso não nos parece que exista essa exclusão ou modificação se
efeito jurídico de qualquer disposição, pelo que consideramos ser uma
declaração interpretativa, na medida em que visa especificar o âmbito do seu
entendimento daquilo que se podem considerar suspeitos de terrorismo.
É claro que esta fronteira não é nítida e na medida que se interpreta ou
especifica um determinado regime existe sempre um estreitamento da amplitude
do conceito, o que muitas vezes é necessário por se tratarem de conceitos muito
abrangentes e muito permeáveis à várias interpretações.
Não nos parece ser tão ténue assim a diferença no caso em análise, pelo que
vamos uma vez mais dizer que é no nosso entender uma declaração
interpretativa.
Diz-nos a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados que um Estado pode
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no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação, da aprovação ou da
adesão a um tratado, formular uma reserva, a menos que esta seja proibida pelo
tratado (visto que nada nos é dito na hipótese a este respeito vamos afastar
desde já esta alínea); o tratado apenas autorize determinadas reservas, entre as
quais não figure a reserva em causa (pelo mesmo motivo que na situação anterior
afastamos igualmente esta hipótese); ou que a reserva seja incompatível com o
objecto e o fim do tratado.
Poderíamos pegar na análise por aqui e isto operaria a invalidade da reserva, mas
julgamos não ser esta a solução mais adequada. Portanto vamos assumir que a
reserva seria possível de acordo com a previsão do artigo 19º, primeira parte.
Há pois que a analisar a questão relativa à aceitação e à objecção das reservas:
Vejamos o artigo 20º da CVDT:
A aceitação de uma reserva por outro Estado Contratante constitui o Estado
autor da reserva em P
arte no tratado relativamente àquele Estado, se o tratado estiver em vigor ou
quando entrar em vigor para esses Estados
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Excluindo à partida os números 1,2,3 por não encontrarem reflexo na hipótese
em questão, olhemos para o número 4 do artigo.
Diz-nos a sua alínea a) que a aceitação de uma reserva por outro Estado
Contratante constitui o Estado autor da reserva em Parte no tratado
relativamente àquele Estado, se o tratado estiver em vigor ou quando entrar em
vigor para esses Estados;
e a sua alínea b) que a objecção feita a uma reserva por outro Estado
Contratante não impede a entrada em vigor do tratado entre o Estado que
formulou a objecção e o Estado autor da reserva, a menos que intenção contrária
tenha sido expressamente manifestada pelo Estado que formulou a objecção;
Podemos então dizer que houve quase unanimidade (apenas não o foi por não
objecção da Nova Zelândia) na objecção dos outros estados à reserva
apresentada pela Austrália, pelo que aqui podem advogar-se duas posições:
A regra geral é esta ultima, sendo que no tocante a Direitos Fundamentais, como
é o caso (proibição da tortura), tem vindo a doutrina a defender a
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inadmissibilidade da reserva e a vinculação do Estado ao tratado, o que
permitiria nomeadamente opor-lhe, através de acção intentada no TIJ, a norma
em caso de violação.
Assim sendo, na nossa opinião e fundados precisamente na doutrina, a Austrália
ficaria vinculada ao Tratado.
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