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Produto: ESTADO - _BRASIL - 13 - 30/12/00 A13 Preto

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A13
Daniel Garcia/AE

Tempo
O ESTADO DE S. PAULO Reuters

Desejo
fechado realizado
Mário Covas João Paulo II
enfrentou concretizou
professores em seu sonho
greve e não e festejou
atendeu ano jubilar à
reivindicações. frente da
Pág. 14 Igreja. Pág. 14

SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

CIÊNCIA E SAÚDE

Genoma foi a grande notícia do ano Reuters


Depois de dez anos de
estudos, cientistas
Genéricos,
concluem seqüência
do código da vida
novidade a
preço baixo
Q uem passou em brancas
nuvens pelas aulas de bio-
logia e esqueceu qual é a
diferença entre mitose e meio-
Os doentes brasileiros termi-
nam o século com 57 genéricos
diferentes, à sua disposição nas
se, gene e cromossomo, DNA e farmácias e preços, em média,
RNA, vai ter problemas para se 40% menores que os dos remé-
manter a par do que ocorre nos dios de marca. De início, o go-
laboratórios do planeta. Segun- verno anunciou que eram 89 re-
do especialistas americanos, médios, quando, na prática,
sem conhecimentos básicos de eram 26 – a lista traz o mesmo
biologia, dentro de pouco tem- medicamento várias vezes ou
po vai ser difícil até votar. Afi- porque há mais de um fabrican-
nal, sem essas noções, como po- te ou mais de uma apresenta-
sicionar-se diante de questões ção e inclui os de uso hospita-
como manipulação genética, lar. Quem foi à farmácia atrás
acesso às informações contidas de genérico e ouviu um “não
no genoma de cada um, libera- tem”, foi logo alimentando
ção de alimentos transgênicos e uma tese da conspiratória, unin-
uso de tecido fetal no tratamen- do indústrias, médicos e donos
to de doenças? de farmácia. Hoje, porém, os
Na virada do ano 2000, o físi- balconistas logo oferecem o ge-
co britânico Stephen Hawking nérico – quando existe – para
declarou que, se pudesse voltar quem pede remédio de marca.
atrás, estudaria genética. Porta- Ponto para o ministro Serra,
dor de esclerose lateral amiotró- que fez um acordo para conter
fica, doença neurológica dege- altas de preços dos medicamen-
nerativa que pouco a pouco pa- tos e conseguiu emplacar a lei
ralisa a vítima, Hawking pode- que isenta 1.200 remédios do
ria ser um dos beneficiados pe- pagamento de alguns impostos.
los avanços da era pós-genômi-
ca, a era iniciada oficialmente
no dia 26 de junho, com o anún-
2001
cio da conclusão do seqüencia- Com a nova lei e o acordo de
mento do genoma humano, for- preços, a expectativa é que os re-
malmente uma empreitada con- médios se tornem mais acessí-
junta do Projeto Genoma Hu- veis para o brasileiro. Mas ain-
mano e da Celera Genomics, da é pouco. O ideal, e o minis-
uma empresa privada. tro é o primeiro a reconhecer, se-
Do livro da vida, escrito pe- ria que a população de baixa
los 23 pares de cromossomos renda tivesse remédios de gra-
humanos, os cientistas dispõem ça. A discussão sobre o preço de
de uma série de As (adenina), medicamentos não ferveu só no
Ts (timina), Cs (citosina) e Gs Brasil, mas já toma conta dos
(guanina), que se combinam nu- EUA, da África e da Ásia.
ma seqüência de 3 bilhões de le-
Cromossomos humanos – Palavras como genes, genética e genoma passaram a fazer parte das conversas cotidianas,
tras. Aos poucos, comparando
DNAs de pessoas saudáveis
com os de quem apresenta de-
num reflexo de uma revolução científica que vai mergulhar fundo nas bases da vida e até alterá-las, se necessário Brasil vira
terminado problema de saúde,
eles vão descobrindo onde co-
Associated Press
exemplo no
meça e onde termina cada gene
(cada palavra desse texto).
combate à aids
Até o fim de 2001, todos os ge- Há hoje no planeta 36,1
nes deverão identificados, ou se- milhões de pessoas infecta-
ja, vai ser possível saber o que das pelas aids. Quase 70%
realmente determina a síntese delas sobrevivem a duras pe-
de proteína e o que é “lixo evolu- nas na África subsaariana,
tivo”. O próximo passo é deter- onde está África do Sul,
minar o significado, a função país em que um em cada cin-
de cada gene. co adultos tem a doença,
Em junho, previa-se que essa sem contar com nenhum re-
última etapa levaria anos. Mas médio.
quem acompanhou o noticiário Se a África do presidente
científico em 2000 percebeu Thebo Mbeki, que teima em
que raras vezes se passou uma dizer que a doença não é cau-
semana sem que cientistas sada por vírus e que o AZT
anunciassem a identificação de pode fazer mal a grávidas
algum gene. com aids, foi a nota negati-
E, felizmente, desta vez, o va do ano, o destaque ficou
Brasil não ficou para trás. No por conta do Brasil. Por cau-
ano do genoma humano, o País sa de seu programa de distri-
entrou para o fechado clube buição gratuita do coquetel
das nações que concluíram o se- de anti-retrovirais para os
qüenciamento genético de um doentes, o País foi elogiadís-
ser vivo, no caso, a Xylella fasti- simo em todas os congressos
diosa, num trabalho que foi ca- internacionais e tema de re-
pa da Nature. E, no fim do ano, portagens de redes como
o Instituto Ludwig, de São Pau- BBC e CNN, sempre citado
lo, completou o seqüenciamen- como exemplo.
to de um milhão de fragmentos Mais do que nunca, a pan-
de genes dentro do Projeto Ge- demia de aids devasta paí-
noma Câncer, um volume que ses pobres, que já sentem o
só fica abaixo da produção do impacto da perda da popula-
Instituto Nacional do Câncer ção economicamente ativa,
dos EUA. mas é bem administrada
Milho premiado – Pesquisadores mexicanos levaram décadas para produzir uma espécie geneticamente nas nações desenvolvidas,
2001 modificada com o dobro do teor de proteínas da normal, para enfrentar a desnutrição em países pobres com drogas cada vez mais
eficientes, que garantem vi-

Transgênico na mesa do brasileiro


A grande expectativa agora da e qualidade de vida para
é a chegada ao mercado das os portadores do HIV.
primeiras drogas produzidas
via genética, o que pode ocor-
rer ainda este ano. Pelo menos Polêmica sobre teu seguidas vezes divulgar mio Mundial de Alimentação brapa, que vem trabalhando
2001
três estão em fase avançada de normas de segurança para por terem desenvolvido um mi- na produção de mamão, Só na Rússia, os casos de ai-
estudo. Mais de 11 mil genes alimentos geneticamente transgênicos, alimentos em lho transgênico com o dobro mandioca, batata, eucalip- ds aumentaram 305% em 2000.
já foram identificados e sabe- modificados vai que um ou mais genes foram de proteínas do normal. E a to, feijão e algodão herbá- Os chineses finalmente deixa-
se a função de pelo menos me- prosseguir em 2001 introduzidos para aumentar Monsanto, numa tentativa de ceo geneticamente modifica- ram de lado a tese oficial de que
tade deles. sua resistência ou teor nutricio- melhorar sua imagem, abriu dos para terem maior resis- aids é “doença de estrangeiro”
Também deve crescer consi-

O
s transgênicos já invadi- nal. Mas, o ano acabou e nada mão da patente do arroz doura- tência a pragas e à deteriora- e reconhecem que há, pelo me-
deravelmente o conhecimento ram a mesa dos brasilei- das normas. Por isso, é bem do, espécie transgênica rica em ção. A Europa e o Japão são nos, 500 mil infectados. Na Ín-
acerca da função de cada gene, ros: quem come choco- provável que novas “novelas”, betacaroteno e que pode pôr hoje os mercados mais resis- dia existem 3,7 milhões de doen-
até porque, em genética, o co- lates ou salgadinhos de milho como a que marcou o desem- fim à cegueira causada por fal- tentes aos transgênicos, mas tes. E o fechado Irã dos aiatolás
nhecimento não se soma, mas dos EUA ingere a soja Roun- barque de milho transgênico ta de vitamina A. isso também pode mudar. A está iniciando campanha de
se multiplica. O novo milênio dup Ready, da Monsanto, ou o no Recife, se repitam, com de- polêmica dos transgênicos prevenção. No novo milênio, a
testemunha também os primei-
ros passos da farmacogenômi-
milho StarLink, da Aventis,
proibido para consumo huma-
cisões sendo aprovadas e revo-
gadas pelas várias instâncias
2001 deve esquentar ainda mais
no Brasil e em outros países,
síndrome pode explodir na
Ásia, Leste europeu e alguns
ca, a ciência que usa a genética no, mas que contaminou safra da Justiça. Uma eventual liberação com debates envolvendo os países do Oriente Médio, obri-
para produzir drogas, via com- americana deste ano. 2000 foi o ano em que cientis- dos transgênicos no Brasil prós e os contras da rotula- gando culturas tradicionais a re-
putador, para cada indivíduo. O governo brasileiro prome- tas mexicanos ganharam o Prê- seria um alívio para a Em- gem de produtos. ver tabus.
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GERAL
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A14 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

SOCIEDADE

Na escola, chega a vez da qualidade Robson Martins/Coperphoto


Exames mostraram
queda no nível do Pancadaria e
ensino e desencadearam
polêmicas
fiasco na festa
dos 500 anos
A
última década regis-
trou um crescimento Os preparativos foram lon-
vertiginoso do sistema gos, caros e comentados. O re-
de ensino, do ciclo fundamen- sultado final, porém, decepcio-
tal à universidade. No decorrer nou. A festa dos 500 anos do
deste ano, o ritmo de expansão Descobrimento do Brasil, no
continuou alto, mas o que mais dia 22 de abril, terminou com
chamou a atenção na área de uma batalha campal, envolven-
educação foi o debate sobre ou- do índios, sem-terra e a Tropa
tro assunto: a qualidade do ensi- de Choque da Polícia Militar
no ministrado às crianças e aos da Bahia. Tornou-se impossí-
jovens. Aos poucos, o País vel recordar os acontecimentos
aprende a segunda parte da li- de Porto Seguro, sem associá-
ção, na qual se ensina que quan- los às imagens daquele conflito.
tidade não basta. Para piorar, houve o fracas-
Um dos sinais de alerta sobre so da réplica da nau capitânia,
a urgência desse debate foi o re- que conduziu a frota de Pedro
sultado do Sistema Nacional de Álvares Cabral. Idealizada pa-
Avaliação da Educação Básica ra ser uma espécie de abre-alas
(Saeb), divulgado em novem- dos festejos no cenário do des-
bro. Feito entre estudantes dos cobrimento, ao custo de R$ 4
ciclos fundamental e médio, ele milhões, a réplica não navegou
mostrou queda no seu desempe- e faltou pouco para naufragar.
nho. Em outras palavras, escan- Os índios haviam a ido à re-
carou uma piora na qualidade gião de Porto Seguro para uma
do ensino. manifestação, na qual relem-
O resultado suscitou acusa- brariam os cinco de séculos de
ções e debates. Inicialmente res- problemas que tiveram, desde
ponsabilizou-se a expansão do a chegada dos brancos à terra
sistema. O ingresso de centenas onde eles reinavam sozinhos.
de milhares de alunos na rede Os sem-terra queriam protes-
pública teria provocado seu de- tar – mais uma vez – contra o
clínio. Mas o argumento naufra- governo. A eles juntaram-se lí-
gou quando se percebeu que as deres estudantis, do movimen-
escolas privadas, cujo total de Confronto – Durante a greve de professores, nos meses de maio e junho, o governador Covas participou de to negro, dos punks e de outros
alunos decresceu, também pio- bate-bocas e confrontos físicos. De um deles, na Praça da República, saiu com a boca sangrando e um galo na cabeça grupos, que formavam o movi-
raram. Agliberto Lima/AE mento Outros 500.
No Estado de São Paulo, o ei- No dia 22, quando tentavam
xo do debate foi o sistema de se reunir em Santa Cruz Cabrá-
progressão continuada, no qual lia e dali marchar até Porto Se-
a criança só pode ser reprovada guro, onde o presidente realiza-
ao fim dos ciclos do fundamen- va as celebrações oficiais, a PM
tal – na 4.ª e na 8.ª séries. Em vi- interveio. Eram quase mil poli-
gor desde 1998, esse sistema te- ciais, que usaram bombas de
ve sua eficácia discutida princi- gás lacrimogêneo e balas de
palmente a partir da greve de borracha. No comando encon-
professores por melhores salá- trava-se o coronel Miller, des-
rios, que afetou a rede pública, crito nos dias seguintes como
entre os meses maio e junho. um truculento, que não se dei-
Após 43 dias de greve, marca- xava fotografar em ação, dizen-
dos por cenas de violência, co- do: “Só quem tira foto minha é
mo o confronto com policiais minha mulher e minha filha.”
militares na Avenida Paulista, Passados quatro dias, um no-
os professores voltaram às salas vo incidente. Foi durante a a
de aula sem ver suas reivindica- missa celebrada pelo enviado
ções atendidas. O movimento do papa, o cardeal Angelo So-
teve o mérito, porém, de trazer dano, no mesmo local onde o
à tona o descontentamento dos frei Henrique Soares de Coim-
professores e ampliar a discus- bra a celebrou a primeira mis-
são sobre o sistema de ciclos. sa em terra brasileira, em 26 de
No plano universitário ga- abril de 1500.
nhou destaque a ameaça de cas- Um descendente dos índios
sação de licença para funciona- pataxós, um jovem de pele ne-
mento de cursos. Por meio do gra, quebrou o cerimonial da
Provão e do Sistema de Avalia- missa e fez um longo e irado
ção de Condições de Oferta, o discurso, no qual disse: “São
Ministério da Educação detec- 500 anos de sofrimentos, mas-
tou graves problemas curricula- sacres, exclusão, extermínio de
res e de falta de infra-estrutura nossos parentes.”
nas escolas. Em vários lugares, No tiroteio de acusações re-
os especialistas que faziam ava- gistrado nos dias seguintes, a
liações encontraram cursos de oposição acusou o governo de
jornalismo funcionando sem anti-democrático. Os defenso-
computadores. “Isso é inconce- res do governo disseram que
bível”, desabafou o ministro eram os manifestantes que não
Paulo Renato de Souza, após estavam preparados para a de-
ter lido os relatórios. Fracasso – Índio xavante é impedido pela tropa de choque da PM baiana de participar de ato de protesto na mocracia. E assim passaram-
Num período de dois anos, celebração dos 500 anos, em Porto Seguro. A festa será lembrada pelo conflito e pelo fiasco da nau Capitânea se os 500 anos.
131 cursos ficaram ameaçados Associated Press
de perder a licença. Mas esse sis-
tema ainda é precário, em ter-
mos de melhoria da qualidade.
Papa obteve
Dos processos abertos, apenas
cinco chegaram à fase final,
as graças que
quando se fazem exigências cla-
ras de mudança, e até agora ne-
pediu ao céu
nhum curso foi fechado. Os sonhos do persistente
Karol Wojtyla para o ano
2001 2000 tornaram-se realidade.
Desde que aceitou a tarefa
O debate sobre qualidade de- de dirigir a Igreja Católica,
verá aprofundar-se em 2001. em 1978, o papa polonês não
Um dos seus motes será a refor- escondia o desejo de estar à
ma do ensino médio, que deu frente das celebrações dos 2
os primeiros passos neste ano, mil anos do nascimento de Je-
com a liberação de US$ 250 mi- sus Cristo. Outro de seus dese-
lhões do Banco Mundial. jos era visitar a Terra Santa,
A meta é aproximar a escola onde o Messias nasceu, viveu
do mercado de trabalho, do e morreu, crucificado.
mundo contemporâneo. Como E assim foi feito. Com uma
diz a presidente do Instituto disposição incomum para os
Nacional de Estudos e Pesqui- seus 78 anos e os problemas de
sas Educacionais (Inep), Ma- saúde que enfrenta, o papa atra-
ria Helena de Castro, “o mun- vessou o ano 2000 participando
do muda, a escola tem de mu- das cerimônias do grande jubi-
dar”. leu do cristianismo. Reuniu-se
O problema é saber para que com jovens, sacerdotes, velhos,
lado devem ir as mudanças. As enfermos, gente de todas as par-
decisões são difíceis e parecem tes do mundo que foram a Ro-
arrastar-se, mas é inegável que ma rezar com ele.
aos poucos o País avança. O Ele também conseguiu viajar
que se vê hoje resulta de mu- para o Oriente Médio. Lá relem-
danças que o governo vem su- brou Abrãao, patriarca que deu
gerindo e realizando há pelo origem às três grandes religiões
menos cinco anos. Também foi monoteístas do planeta – o cris-
decisiva a criação da Lei de Di- tianismo, o judaísmo e o islamis-
retrizes e Bases da Educação, a mo. Não visitou todos os luga-
LDB, de 1996. Ela abriu jane- res que queria, mas parecia reju-
las que arejaram o sistema e fa- Sonho – Durante sua peregrinação de seis dias pela Terra Santa, em março, o papa João Paulo II orou diante do venescido quando retornou ao
cilitaram o debate de agora. Muro das Lamentações e relembrou Abrãao, patriarca que deu origem às três grandes religiões monoteístas do planeta Vaticano.
Produto: ESTADO - _BRASIL - 17 - 30/12/00 A17-TR A-RED. P`GINA PB

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A17
Reuters

O ano da
O ESTADO DE S. PAULO Reuters – 12/12/2000

Reação às
nova intifada drogas
Violência Soldados do
explode nos Exército
territórios colombiano
ocupados por treinam para
Israel. E a paz, combater
mais distante. traficantes.
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

AMÉRICA DO NORTE

Eleição expõe fendas da democracia Reuters


Resultado é o 43.º
presidente americano
As análises incluem a busca
de explicações racionais para o
insucesso de Gore. De acordo
Fox abre era de
com legitimidade
duvidosa
com quase todos os modelos de
previsão eleitoral usados pelos
oportunidade e
PAULO SOTERO
cientistas políticos, o vice-presi-
dente e herdeiro político de Bill
risco no México
Correspondente Clinton deveria ter ganho facil- Oposicionista chega ao
mente o pleito de 7 de novem-
poder liderando uma
W
ASHINGTON – A bro.
mente mais criativa e É que o costuma acontecer das mais heterogêneas
conspiratória de Hol- quando a economia vai bem e o alianças da região
lywood não poderia ter imagi- presidente em exercício de al-

W
nado o enredo da grande nove- tas taxas de aprovação popular ASHINGTON – A
la política que os Estados Uni- que Clinton exibe, apesar dos instalação do pri-
dos viveram no ano 2000. No escândalos que marcaram sua meiro presidente de
auge de seu poder político, eco- presidência e do processo de im- um partido de oposição no po-
nômico e militar, a nação que peachment a que sobreviveu. der no México, no início de de-
se autodefine pelo conceito da O rumo da discussão sobre o zembro, abriu um período re-
própria excepcionalidade e se futuro dependerá, em parte, da pleto de oportunidades e de
comporta freqüentemente, em capacidade de Bush de ganhar riscos para os 100 milhões de
suas relações com o resto do legitimidade nos primeiros me- habitantes da segunda maior
mundo, como se detivesse o mo- ses de seu mandato mostrando nação da América Latina.
nopólio das virtudes, produziu que é um líder competente, ca- Administrar um país onde
um espetáculo excepcionalmen- paz de forjar coalizões e de ne- a máquina burocrática do go-
te grotesco e embaraçoso para gociar compromissos que lhe verno federal e da maioria dos
uma democracia madura ao es- permitam executar um progra- Estados nasceu e criou raízes
colher seu primeiro presidente ma de governo. nos maus costumes do cliente-
do século 21. As chances de isso acontecer lismo, do compadrio e da cor-
Forçados a escolher entre as não parecem das melhores. rupção fomentados durante
figuras insossas de herdeiros de “Bush chega à Casa Branca setes décadas de regime do
duas dinastias políticas, que nas circunstâncias menos aus- Partido Revolucionário Insti-
mais os aborrecia do que empol- piciosas possíveis”, afirma Tho- tucional (PRI) será apenas
gava, os americanos dividiram- mas E. Mann, um cientista polí- um dos desafios de Vicente
se como nunca antes nas urnas. tico da Fundação Brookings, Fox nos próximos seis anos.
O resultado é que acabaram de Washington, especializado Mas o historiador que exa-
submetendo o sistema político em estudos governamentais. minar os grandes eventos polí-
do país ao teste mais severo na Não apenas o novo presidente ticos do ano 2000 não terá co-
era do sufrágio universal e reve- tomará posse no próximo dia mo ignorar a magnitude da
laram a si mesmos e ao mundo 20 sob a nuvem de suspeição proeza realizada por este ca-
deficiências e vulnerabilidades deixada pelas circunstância de rismático ex-executivo da Co-
insuspeitadas em sua democra- sua eleição (segundo as pesqui- ca-Cola e ex-governador do
cia: máquinas de votar obsole- sas, cerca de 30% dos america- Estado de Guanajuato, à fren-
tas, cédulas mal desenhadas, nos o consideram um presiden- te de uma das mais heterogê-
eleitores despreparados, funcio- te ilegítimo), como terá de tra- neas alianças de forças políti-
nários eleitorais partidários, tar com uma oposição que se cas que já se viu na região. Ao
um número desproporcional fortaleceu no Congresso, está vencer no dia 2 de julho, Fox
de votos nulos nas áreas de bem colocada para reconquis- virou uma página da história
maioria negra e juízes que to- tar o controle da Câmara dos do México.
mam decisões transcendentais Representantes e do Senado A dimensão do triunfo e o
para vida do país movidos por nas eleições gerais de novem- desejo de mudança que ele tra-
suas preferências políticas. bro de 2002 e atuará motivada duziu supreendeu o próprio
Depois de 36 dias de guerra por esse objetivo, bem como pe- Fox e os principais assessores
pós-eleitoral, o país sentiu-se la convicção de que Bush usur- de sua campanha. Quatro
aliviado pela resolução do im- pou o poder. A recontagem dos dias antes do pleito, Jorge
passe e consolou-se no fato de votos que jornais e universida- Castañeda, atualmente o
que a confusão da contagem e des estão fazendo na Flórida chanceler mexicano, apostava
recontagem de votos na Flóri- podem aumentar o problema numa vitória apertada de Fox
da não gerou episódios de vio- de legitimidade de Bush na fa- e especulava publicamente so-
lência que circunstâncias seme- se de decolagem de sua admi- bre como o PRI fraudaria o re-
lhantes alimentariam em ou- nistração. sultado.
tras latitudes. Mas, no final, A montagem do gabinete de
poucos insistiam na tese segun-
do a qual o sistema funcionou
ministros não resolveu nenhu-
ma das dúvidas sobre a apetên- 2001
ou de que a crise foi uma “lição cia para o novo presidente para
de civismo”. trabalho de governar nem so- Antes de completar seu pri-
A impressão mais forte que bre seu talento ou preparo para mero mês no poder, Fox confir-
ficou foi a de que o sistema fun- fazê-lo. mou que sua prioridade núme-
cionou mal, pois produziu um Os jornais e revistas já estão ro 1, anunciando o lançamento
presidente fraco, com um óbvio repletos de reportagens sugerin- nas próximas semanas de uma
problema de legitimidade, esco- do que Bush exercerá o poder grande ofensiva contra o narco-
lhido no final em função não como uma espécie de “chair- tráfico e o crime organizado.
dos votos depositados nas ur- man”, ou seja, o presidente do Bush à prova – Republicano terá de mostrar que é um líder competente, capaz de forjar “Haverá alguns golpes espeta-
nas, mas de um veredicto politi- conselho de administração de coalizões para governar já no início de seu mandato, a fim de ganhar autoridade culares”, avisou um assessor.
camente motivado de cinco ma- Reuters Acabar com o crime organiza-
gistrados conservadores da Su- rante os oito anos do governo do, que contou com a compla-
prema Corte, numa decisão
que provocou o estrago adicio-
Clinton. Com os EUA crescen-
do a 5% ao ano (ou o equivalen-
2001 cência e cumplicidade oficial na
era do PRI, é a única tarefa de
nal de diminuir a credibilidade te a mais do que a metade do Uma parte dessa resposta é o de Bush. A declaração sugere ati- transformação do México que
da mais respeitada instituição PIB do Brasil), como ocorreu exercício coletivo de sublimação tude menos missionária por parte Fox acha que pode iniciar e con-
da democracia americana. no último triênio, os america- do rancor da batalha eleitoral a de Washington. Mas deixa várias cluir em seu sexênio, segundo
O historiador Arthur Schle- nos podiam, de fato, seguir exi- que os políticos dos dois partidos incógnitas depois de um supreen- afirmou em entrevista exclusi-
singer Jr. não usou meias tintas bindo a atitude politicamente dedicaram-se desde que Gore dente ano eleitoral, que colocou va que deu ao Estado no dia se-
ao descrever o significado políti- “blasé” que mostraram nos últi- concedeu a vitória a Bush – um ri- os EUA diante do espelho. guinte à sua histórica eleição.
co maior da ascenção ao poder mos anos. tual certamente democrático, se- A explicação não esclarece, Um ataque à corrupção cen-
do republicano George W. Mas o colapso das ações das guido em nome da busca da conci- por exemplo, se Washington con- trado na luta contra o narcotrá-
Bush, o quarto dos 43 presiden- empresas high tech nas bolsas e liação e do entendimento biparti- tinuará a insistir que o Japão ado- fico facilitará a relação do Méxi-
tes americanos que chega à Ca- a magnitude da desaceleração dário, mas no qual nenhum dos te medidas para tentar reativar co com os Estados Unidos, on-
sa Branca tendo perdido a vota- da economia constatada nas atores participa com sinceridade. sua estagnada economia, como de existe uma disposição franca-
ção popular nacional para seu duas últimas semanas sur- O líder da oposição democrata fez nos últimos dez anos ou se a mente favorável do presidente
rival, o vice-presidente Albert preendeu o próprio Federal Re- na Câmara de Representantes, Casa Branca censurará o presi- eleito George W. Bush a intensi-
Gore. serve, o banco central dos Dick Gephardt, já resistiu publi- dente Hugo Chávez, da Venezue- ficar as relações com o país vizi-
“Isso coloca a república nu- EUA, e já leva Bush e Chenney camente a reconhecer a legitimi- la, por suas tentativas de restrin- nho elevando-as ao mesmo sta-
ma situação intolerável”, escre- Gore resignado – Boa parte a falar em recessão. dade de Bush e só o fez de manei- gir a ação dos sindicatos, ou ain- tus especial de Inglaterra, Cana-
veu Schlesinger. “É uma situa- do eleitorado contesta derrota Embora a hipótese do pouso ra indireta e quando não lhe resta- da, se o Departamento do Tesou- dá e Israel.
ção intolerável porque é antide- suave da economia numa taxa va outra alternativa. É o senti- ro se empenhará para que o Fun- Mas é incerto se os america-
mocrática (...) e porque impõe um grande empresa. E deixará de crescimento mais baixa con- mento comum entre os democra- do Monetário Internacional nos acolherão o ambicioso proje-
um fardo fatal sobre os ombros o serviço mais pesado da imple- tinue a dominar as previsões tas. Outra parte da resposta pode apoie economias emergentes em to de Fox de discutir uma aber-
do presidente minoritário.” mentação das políticas do go- dos analistas, o fato é que um ser encontrada na declaração que apuros, como fez há dois anos tura da imigração para os
Schlesinger advoga uma mu- verno para seu vice-presidente, recuo da taxa de expansão do Bush fez ao tentar descrever sua com o Brasil e acaba de fazer com EUA, a fim de resolver o drama
dança no critério usado para Dick Chenney, um experiente PIB de 5% para 2,5% ao ano de- política externa. “Será uma políti- a Argentina. A declaração deixa dos cerca de 250 mil trabalhado-
transformar sufrágios popula- ex-deputado e ex-ministro da pois de anos de um período re- ca externa humilde”, disse ele, re- interrogações interessantes no ar res mexicanos que cruzam a
res em votos no Colégio Eleito- Defesa que fará as vezes do exe- corde de vacas gordas pode ter tomando frase dos debates com também sobre o projeto de libera- fronteira todos os anos.
ral – que deu a vitória a Bush cutivo-chefe ou, como prefe- o efeito psicológico de uma re- Gore que assume nova conotação lização comercial das Américas, Com um presidente no poder
por uma margem de apenas 1 rem alguns, de primeiro-minis- cessão e é um dado novo que à luz do processo jurídico-eleito- a viga mestra da política de Bush que não tem o problema de legi-
voto num total de 538 –, de mo- tro, no comando de um grupo complica o panorama no qual ral que lhe deu a presidência. para o hemisfério. É uma propos- timidade de seus antecessores e
do a assegurar que o mesmo de operadores oriundo em boa novo presidente será testado. “Isso significa que nós não de- ta que, embora faça todo o senti- vê na promoção da democracia
candidato vença sempre os parte da administração de O que fará uma superpotên- vemos estar adivinhando prescri- do do ponto de vista do interesse e dos direitos humanos um ins-
dois pleitos, com maiorias refor- George H. Bush, o pai do presi- cia que subitamente se desco- ções para os males dos (outros) econômico dos EUA e possa ser- trumento de ação diplomática,
çadas. dente eleito. bre portadora de defeitos que povos. Se eles quiserem trabalhar vir de base para um dos acordos o México deverá abandonar a
O debate entre políticos, jor- Nada disso teria maior conse- costuma ver apenas nos outros conosco, tudo bem. Mas nosso bipartidários que Bush persegui- atitude defensiva que sempre
nalistas e acadêmicos sobre es- qüência se houvesse garantia e perde uma parte do dinamis- país não pode impor nossas recei- rá, deverá sofrer resistências no exibiu em relação ao tema e ga-
ta e outras implicações do fias- de continuidade da excepcio- mo econômico do qual deriva tas a (outras) nações.” Congresso num quadro de uma nhar projeção como líder regio-
co eleitoral do ano 2000 mil es- nal prosperidade que a econo- seu poder no mundo globali- O que isso quer dizer é um mis- economia em processo de desace- nal, numa disputa de espaço fa-
tá apenas começando. mia americana conheceu du- zado? tério para os próprios assessores leração. (P.S.) da a gerar tensões com o Brasil.
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INTERNACIONAL
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A18 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

ORIENTE MÉDIO/AMÉRICA LATINA

Plano Clinton não afasta clima sombrio


Oriente Médio termina
Reuters
➤embora esteja aquém das aspi-
rações palestinas, o projeto de
o ano mergulhado em Bill Clinton vai nitidamente
violência e a paz corre além de todas as idéias apre-
contra o tempo sentadas pelas diversas admi-
nistrações americanas no pas-
ISSA GORAIEB sado. Mais ainda, desde a con-
Especial para o Estado quista destes territórios por Is-
rael, em 1967, jamais foi apre-

B
EIRUTE – No Oriente sentada aos palestinos uma
Médio, o ano termina oferta assim tão ampla. E, aci-
em clima extremamen- ma de tudo, os palestinos não
te sombrio, depois das lufadas podem dar-se ao luxo de cho-
de esperança suscitadas nos car-se frontalmente com a úni-
últimos dias por um projeto ca superpotência mundial: pa-
de compromisso proposto pe- ra fazer evoluir num sentido
lo presidente americano, Bill mais favorável o compromis-
Clinton, com o intuito de pôr so dos Estados Unidos, eles
fim ao conflito palestino-israe- preferem, portanto, manter o
lense. Uma reunião de cúpula contato, jogando com um fa-
entre o presidente do Egito, tor capital que atormenta tan-
Hosni Mubarak, o primeiro- to Clinton quanto Barak: o fa-
ministro israelense, Ehud Ba- tor tempo.
rak, e o chefe da Autoridade
Palestina, Yasser Arafat, no
balneário egípcio de Sharm el-
Sheikh, foi cancelada na últi-
2001
ma hora, por causa das pro- Clinton efetivamente tem
fundas divergências existen- um prazo curto, ou seja, somen-
tes entre israelenses e palesti- te até 20 de janeiro, para en-
nos. trar na história – como o dese-
Ao mesmo tempo, conti- ja ardentemente – como o ho-
nuou a onda de violência, mem que conseguiu reconci-
que, no espaço de três meses, liar definitivamente Israel e Is-
já apresenta um saldo de 346 mael, arrancando-lhes, na “li-
mortos, sendo 303 palestinos: nha de chegada”, um acordo
em Gaza, um atentado à bom- global a respeito da questão da
ba contra uma patrulha mili- Palestina. Quanto a Barak, sua
tar israelense deixou 1 morto única chance de sobrevivência
e 3 feridos. Pouco antes, uma política consiste em transfor-
bomba de fabricação caseira mar em plebiscito a respeito da
explodiu junto a um ônibus paz a eleição de 6 de fevereiro,
em pleno coração de Tel- Três meses violentos – Mulher palestina chora durante funeral de um parente, tendo atrás a foto do garoto de 12 durante a qual terá de enfren-
Aviv, deixando 13 pessoas fe- anos Mohammed Al-Durra, cuja morte virou símbolo da violência que explodiu nos territórios ocupados por Israel tar Ariel Sharon.
ridas, 2 delas gravemente. Aí estão portanto duas boas
Contudo, apesar destes Reuters – 12/10/2000 Reuters – 8/12/2000 razões para que Arafat não se
acontecimentos negativos, se- mostre muito apressado e, ao
ria prematuro acreditar que contrário, deixe seus parceiros
os protagonistas da crise disse- “cozinhando o molho”, na es-
ram sua última palavra e a re- perança de concessões mais
gião está prestes a lançar-se substanciais.
de maneira irreversível num Entretanto, o próprio líder
novo século de confronto. O da OLP não está imune da
Plano Clinton prevê a restitui- pressão do tempo. A partida
ção aos palestinos de mais de de Clinton não deixará os ára-
90% da Cisjordânia ocupada, bes e os palestinos inconsolá-
incluindo os bairros árabes do veis: não apenas eles estão re-
setor leste de Jerusalém, parti- signados há muito tempo à re-
cularmente a Esplanada das gra segundo a qual qualquer
Mesquitas, onde estão situa- administração americana deve
dos os lugares santos muçul- provar sua parcialidade em fa-
manos. vor de Israel, mas muitos deles
Por outro lado, pela primei- recordam que, pelo menos
ra vez, Israel mostra-se dispos- duas vezes (sob Dwight Eise-
to a aceitar, no contexto de nhower, em 1956, e sob George
uma paz com os palestinos, H. Bush, em 1990), os republi-
mecanismos internacionais canos se mostraram mais fir-
de controle que comporta- mes que os democratas diante
riam o envio de uma força in- do Estado judeu. Por outro la-
ternacional ao longo da fron- do, na falta de um acordo com
teira com a Jordânia. Mas, Barak, os palestinos deverão
em troca da maior parte dos tratar com o candidato do Li-
territórios, o plano pede que kud, um homem detestado pe-
os palestinos renunciem defi- los palestinos, que o conside-
nitivamente, uma vez por to- ram o responsável supremo pe-
das, ao que eles consideram los massacres perpetrados em
um direito imprescritível, ou setembro de 1982 nos acampa-
seja, o direito de cada um dos mentos de refugiados de Sabra
refugiados que deixaram seus e Chatila, na periferia de Beiru-
lares por ocasião da criação te.
do Estado de Israel, em 1948, Apesar dessa perspectiva
e de seus descendentes (num tão desagradável, Arafat não
total de cerca de 3,7 milhões pode, entretanto, a esta altura
de pessoas ) de voltar à sua pá- dos acontecimentos, decididir
tria de origem. renunciar a este famoso “direi-
Israel começou aceitando Fim de reinado – Manifestantes pedem a renúncia de Guerra às drogas – Soldados da Brigada Antidrogas to de retorno” porque neste ca-
este projeto, vinculado, po- Fujimori depois de reveladas as provas contra Montesinos do Exército fazem exercícios no interior da Colômbia so se exporia a riscos muito
rém, a algumas condições: mais graves, incluindo o de ser
que ele seja aceito também pe-
los palestinos, sirva de “base
de discussão” para a negocia-
Fujimori perde o poder no Guerrilhas e governo não desautorizado pelo próprio po-
vo e pelo conjunto do mundo
árabe.
ção futura de um acordo geral
e, enfim, Washington respon-
da favoravelmente aos seus
Peru e Montesinos escapa se entendem na Colômbia Com toda a certeza, o realis-
mo obriga a constatar que em
caso algum Israel aceitará re-
pedidos de “esclarecimen- Dupla que comandou nos subornando um deputado. Ajuda financeira dos desconfiança pelos países vizi- patriar mais do que alguns mi-
tos”. Mas, depois, o Estado ju- lhares de refugiados, além dis-
deu endureceu o tom, excluin- o país por dez anos é em novembro e enviou uma car- EUA a plano antidroga nhos
Fujimori fugiu para o Japão da Colômbia, como Bra-
sil, Panamá, Venezuela, Peru so minuciosamente seleciona-
do, pela boca do assessor de acusada de armar ta de renúncia, rejeitada pelo complica ainda mais o e Equador. Além da preocupa- dos. É provável também que ja-
Barak, Danny Yatom, qual- esquema de corrupção Congresso – que o destituiu por processo de paz ção ambiental – a pulveriza- mais o minúsculo território au-
quer devolução da Esplanada incapacidade moral. O presi- ção dos cultivos de coca com tônomo palestino poderá absor-

D O
das Mesquitas aos palestinos. uas eleições, denún- dente do Congresso, Valentín ano termina na Colôm- esfoliantes pode causar danos ver – particularmente no plano
Por sua parte, vários res- cias de fraude, escân- Paniagua, assumiu o poder inte- bia sem que o governo à vegetação dos países limítro- econômico – essa massa palesti-
ponsáveis palestinos descarta- dalos com detalhes bi- rinamente. Montesinos segue conseguisse avançar fes –, os vizinhos da Colômbia na de quase 4 milhões de refu-
ram com indignação qualquer zarros e o fim de um regime foragido, provavelmente fora nas negociações de paz com as temem que seu território seja giados que hoje vive miseravel-
hipótese de abandono do “di- autoritário de dez anos marca- do Peru. guerrilhas esquerdistas Forças invadido por cartéis em fuga. mente nos países do exílio.
reito de retorno” e, ao mesmo ram o ano no Peru. Armadas Revolucionárias da A solução mais comumente
tempo, qualquer engajamento Depois do triunfo suspeito Colômbia (Farc) e Exército de cogitada no seio da comunida-
num processo de contornos
não precisamente definidos, o
nos dois turnos da eleição pe-
ruana, quando conquistou
2001 Libertação Nacional (ELN). Os
dois maiores grupos guerrilhei-
2001 de internacional (e que espan-
ta um pequeno país acolhedor
que conduziria uma vez mais um polêmico terceiro manda- Eleições legislativas e presi- ros do país exigem do governo A ajuda financeira ameri- como o Líbano, de textura de-
“a negociações interminá- to, Alberto Fujimori, acabou denciais se realizarão entre ações contra os esquadrões pa- cana ao Plano Colômbia con- mográfica delicada) consistiria
veis”. Quem definiu a posição caindo em desgraça com seu abril e maio. A data de 8 de ramilitares de direita – que com- ta com o apoio do presidente em abrigar na Cisjordânia e
palestina foi o próprio Yasser ex-assessor de inteligência abril, fixada inicialmente para batem os rebeldes esquerdistas eleito dos EUA, George W. em Gaza uma parte destes refu-
Arafat, após um encontro Vladimiro Monteisnos – a emi- o primeiro turno deve ser modi- no interior colombiano. Bush e os primeiros efeitos da giados e em pagar indeniza-
com Mubarak na quinta-feira nência parda do regime fuji- ficada em razão de problemas O Plano Colômbia, embala- estratégia de combate ao nar- ções financeiras a todos os ou-
em Sharm el-Sheikh, afirman- morista. Os dois têm o crédito técnicos. A saída de Fujimori do por uma ajuda financeira de cotráfico devem ser sentidos tros, que deveriam continuar
do que as propostas america- pela vitória contra a hiperin- da cena política modificou to- US$ 1,3 bilhão dos EUA, é ou- já nos primeiros meses do vivendo nos locais onde atual-
nas continuavam sendo exa- flação e a guerrilha Sendero da a correlação de forças do tro ponto de atrito entre as guer- ano. Em sua mensagem de mente residem. Mesmo que
minadas “em profundidade” Luminoso. Mas atribui-se tam- país e uma união dos partidos rilhas e o governo. O presidente fim de ano, porém, as Farc já Arafat aderisse oficialmente
pelos representantes políticos bém à dupla um gigantesco es- antifujimoristas, que parecia americano, Bill Clinton, visitou anunciaram que sabotar o pla- um dia a estas opiniões “realis-
palestinos, ao mesmo tempo quema de corrupção, baseado viável há poucos meses, hoje é o país em junho para confirmar no será seu principal objetivo tas”, só o faria no último está-
em que estão sendo analisa- em operações de contrabando improvável. Partidos tradicio- a intenção de Washington de em 2001. Em 31 de janeiro, gio da negociação de paz e esta
das em conjunto com os paí- de armas e vínculos com o nar- nais que quase desapareceram aportar o dinheiro no esforço vence o mandato concedido à concessão suprema só seria fei-
ses árabes. cotráfico. Em setembro, uma na era Fujimori, começam a contra as drogas. guerrilha sobre a zona desmi- ta depois de garantida a resti-
Esta prudência do líder da fita de vídeo mostrou Montesi- dar sinais de recuperação. O plano também é visto com litarizada no sul do país. tuição integral dos territórios,
OLP explica-se facilmente: ➤ incluindo Jerusalém Oriental.
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A7
Ed Ferreira/AE–1/5/1999

Crime e
O ESTADO DE S. PAULO José Paulo Lacerda/AE–9/11/2000

Freio na
castigo gastança
O escândalo do Lei Fiscal limita
TRT provoca a os gastos e leva
inédita cassação governantes,
de um senador, como Zeca do
a prisão do juiz PT (MS), a
Nicolau e ações promover cortes
judiciais. Pág. 8 e ajustes. Pág. 8

SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

JOGO DO PODER

PT ganha corpo e encara seu maior desafio Robson Fernandjes/AE–29/10/2000


Partido se renova e
conquista seis capitais,
mas ainda espera a
definição de Lula

C
om a vitória em 187 ci-
dades, o PT vai adminis-
trar orçamentos que so-
mam R$ 20 bilhões e influen-
ciam a vida de 28,8 milhões de
habitantes. Não são apenas nú-
meros. Nas eleições de 2000, o
partido de Luiz Inácio Lula da
Silva engordou o balaio de vo-
tos e consolidou-se como a
maior sigla de oposição do
País. Elegeu prefeitos de seis ca-
pitais – São Paulo, Recife, Por-
to Alegre, Goiânia, Belém e
Aracaju – e 2.485 vereadores.
Agora, de olho na sucessão do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, dirigentes petistas ad-
vertem: o sucesso em 2002 de-
pende do bom desempenho das
novas administrações.
O maior desafio é a capital
paulista – vitrine para o bem
ou para o mal. Vencedora de
disputa acirrada com Paulo
Maluf (PPB), Marta Suplicy re-
ceberá de herança dívidas de
R$ 18 bilhões, sem contar res-
tos a pagar e pencas de proble-
mas da gestão de Celso Pitta
(PTN). “Não me intimido”, avi-
sa Marta, com o entusiasmo de
quem conquistou 58,51% dos
votos válidos. “Quero fazer de
São Paulo uma cidade moder-
na e ousada, que entre no sécu- Festa – Os petistas apostam na administração de Marta, que comemorou a vitória na Avenida Paulista, para garantir o bom desempenho da legenda em 2002
lo 21 com idéias novas.”
O PT sabe, porém, que vai vi-
rar vidraça e precisa mostrar
serviço. “Se vocês forem maus
prefeitos, nosso projeto de 2002
FHC patina e só recupera popularidade no final Ed Ferreira/AE–12/12/2000 Joédson Alves/AE–24/11/2000 Ed Ferreira/AE–26/4/2000
vai para o buraco”, apostou Lu- Presidente termina ano
la, no mês passado, para uma
platéia lotada de recém-eleitos. com saldo positivo, mas
Na campanha, discursos in- ‘fantasma’ da briga entre
flamados contra o FMI foram aliados ainda atrapalha
substituídos por propostas con-

B
cretas. Cor-de-rosa ou não, o RASÍLIA – O presiden-
PT, desta vez, foi pragmático. te Fernando Henrique
“Passamos a exibir com mais Cardoso entra no novo
ênfase nossa capacidade de ges- milênio com uma suave recupe-
tão”, diz o prefeito eleito de Por- ração de popularidade. Embo-
to Alegre, Tarso Genro. ra tímido, o saldo é positivo em
Além disso, o partido mon- um ano em que sua habilidade
tou grupo de trabalho que foi testada em várias frentes: ao
orientou a nova safra de candi- longo de 2000, teve de enfren-
datos com pesquisas, vídeos e tar não só os últimos efeitos da Wilson Pedrosa/AE–14/12/2000 Dida Sampaio/AE–28/11/2000
cartilhas contendo dicas de co- desvalorização do real e do ajus-
municação. Com a estratégia, o te fiscal, como uma avalanche
número de prefeitos petistas pu- de denúncias contra seu gover-
lou de 105 para 187 – embora no e o confronto permanente en-
47% não tenham sido reeleitos. tre os partidos da base no Con-
Ainda no primeiro turno, a le- gresso e com seus adversários.
genda saiu das urnas com 11,9 Depois de amargar os mais
milhões de votos – crescimento baixos índices de seus seis anos
de 51,2% em relação a 1996, de mandato, Fernando Henri-
quando obteve 7,9 milhões. que fecha dezembro com 26%
Das 16 cidades que o PT dis- de aprovação, 5 pontos a mais
putou no segundo turno, ga- do que no mesmo mês de 1999,
nhou 13. Quebrou jejum eleito- segundo pesquisas da MCI. Pa-
ral de 15 anos no Nordeste, em- ra aliados, o resultado ainda re-
placando João Paulo Lima no flete a reação da sociedade às
Recife e Marcelo Déda em Ara- medidas impopulares que o go-
caju. Mas não conquistou ne- verno tomou em 99 para garan- Turbulência – Fernando Henrique teve um 2000 difícil, em que as boas novas sobre a recuperação econômica e o ajuste fiscal
nhuma prefeitura em Alagoas tir a retomada do crescimento não foram suficientes para amenizar quedas de popularidade, denúncias contra seu governo e crises na base de sustentação
e no Espírito Santo e amargou econômico pós-desvalorização.
a derrota no Rio de Janeiro. Para setores da oposição, os político e isso não se recupera”,
recuperação da economia e à posta rejeitada pela equipe eco- amigos e até parentes de ACM.
“Perdemos onde saímos dividi- números mostram recuperação analisa o líder do PT na Câma-
manutenção das bases da políti- nômica. No fim do ano, a mes- Além do espetáculo depri-
dos”, constatou o deputado Jo- residual na popularidade de ra, Aloizio Mercadante (SP).
ca econômica. Ele destaca ain- ma discussão, incluída no Orça- mente das brigas entre os dois
sé Genoíno (SP), pré-candidato Fernando Henrique, que não O secretário de Comunica-
da o fato de o presidente ter se mento, tem o apoio do governo. políticos e as acusações indire-
ao governo paulista em 2002. significará a reconquista dos ín- ção, Andrea Matarazzo, avalia
dedicado a outros temas de go- Mas a recuperação da econo- tas a seu governo, o presidente
dices do primeiro mandato. “A que a reação de Fernando Hen-
verno, como segurança pública. mia, a boa reação do Brasil às foi atacado diretamente por
2001 popularidade até melhora, mas
ele perdeu a credibilidade como
rique nas pesquisas deve-se à
A popularidade foi influen-
percepção, pela sociedade, da
ciada também, para bem e para
turbulências internacionais e as
pesquisas não garantiram a Fer-
ACM. Um dos lances mais gra-
ves da disputa foi uma entrevis-
Até junho de 2001, Lula deve Joédson Alves/AE–5/4/2000 mal, pelo de- nando Henrique um 2000 tran- ta concedida a jornalistas es-
anunciar se quer concorrer à bate do reajus- qüilo. Ele atravessou o ano ten-
Presidência. O PT completará
21 anos em fevereiro e, pela pri-
te do salário
mínimo, ante-
tando, sem muito sucesso, man-
ter coesa sua base. Desde o pri-
2001
meira vez, haverá prévia para a cipado pelos meiro embate entre os maiores trangeiros, em que o senador
escolha do candidato. O sena- aliados. Em caciques da aliança – ACM e o disse que Fernando Henrique é
dor Eduardo Suplicy (SP) já março, Fer- presidente nacional e líder do tolerante com a corrupção.
avisou que está no páreo. O ex- nando Henri- PMDB no Senado, Jader Bar- O drama do governo é que a
governador Cristovam Buar- que tinha o balho (PA) – foram 264 dias de disputa pelos postos de coman-
que (DF) ameaça entrar. mais baixo ín- troca de acusações, ultimatos e do do Congresso deve terminar
Na tentativa de identificar dice de ótimo/ ameaças de rompimento, acir- por volta de 15 de fevereiro,
antecipadamente de onde vem bom, 16%. O rados pela disputa pelos postos mas a guerra entre Jader e
a rejeição ao PT e a Lula, a Congresso, de comando do Congresso. ACM não tem data para aca-
cúpula do partido vai preparar, por iniciativa Na briga, quem acabou atin- bar. E pode continuar respin-
em 2001, um plano de ação elei- do presidente gido foi o governo e a figura do gando na administração.
toral. “Precisamos de um traba- do Senado, presidente. Boa parte das de- Apesar disso, Matarazzo
lho de organização nos Estados Antonio Car- núncias de ACM contra Jader aposta que a tendência de me-
e de ajuste dos programas em los Magalhães envolveram órgãos da adminis- lhora nos índices de popularida-
torno de um projeto para o Bra- (PFL-BA), de- tração pública federal coman- de do presidente deve se man-
sil”, afirma o presidente do PT, batia a possibi- dados por pessoas ligadas ao ter em 2001. “Pode ser que não
deputado José Dirceu (SP). O lidade de au- PMDB. O líder peemedebista chegue aos níveis do início de
ano de 2001 trará outra novida- mentar o míni- deu o troco na mesma moeda: governo, mas raramente você
de: a primeira eleição direta no mo para valor devolveu as acusações de enri- vê alguém, com mais de cinco
PT para a renovação de suas di- Guerra – A disputa entre ACM (esq.) e Jader é um dos principais problemas de equivalente a quecimento ilícito e corrupção, anos de governo com a mesma
reções, em 16 de setembro. FHC, já que a troca de acusações divide os aliados e atinge sua administração US$ 100, pro- implicando correligionários, popularidade do início.”
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POLÍTICA
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A8 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

FINANÇAS PÚBLICAS

Austeridade vira lei no ano do ajusteUma das exigências da Lei


Novas regras definem DRAMA
Fiscal que já surte efeito é a obri-
limites para gastos e gatoriedade de identificar recei- Hélvio Romero/AE–30/11/2000
maus administradores
podem até ser presos
tas permanentes para financiar
novos gastos. Ela está por trás
de toda a discussão no Congres-
Luta de Covas
contra o câncer
A
aprovação de leis im- so sobre como arranjar os recur-
pondo austeridade na sos para o mínimo de R$ 180.
administração pública Essa regra facilitou a aprova-
fez de 2000 o ano do ajuste. As ção pelo Congresso de três pro-
comove o País
novas leis incluem mudanças jetos polêmicos de combate à so- Político com fama de es-
radicais na forma de gerir os negação. As medidas facilitam tóico, o governador Mário
gastos públicos, responsabili- a quebra do sigilo bancário pela Covas enfrentou o câncer
zam criminalmente autorida- Receita – que não precisa mais com uma transparência ca-
des que descumprirem limites de autorização judicial –, elimi- paz de comover até os adver-
de endividamento e permitem nam brechas legais que permi- sários. Durante o período
reduzir a sonegação e ampliar a tem pagar menos impostos e em que ficou internado no
arrecadação tributária. Agora, permitem o uso dos dados da Instituto do Coração (In-
o fato de um prefeito transferir Contribuição Provisória sobre cor), ele chegou a convocar
dívidas para seus sucessores po- Movimentação Financeira uma entrevista coletiva e
de ser motivo de prisão, pena (CPMF) para fiscalização. O te- chorou diante dos jornalis-
antes prevista apenas para ca- mor de que a farra de fim de tas. “Tive dor, tive medo. Ti-
sos de corrupção e desvio de re- mandato fosse mais acentuada ve tudo aquilo que um ho-
cursos públicos. com a possibilidade de reelei- mem normal tem”, desaba-
As medidas começaram com ção dos prefeitos facilitou a fou. “Se o homem não sabe
a votação da emenda que proí- aprovação da Lei Fiscal e da chorar, qual é a outra forma
be as câmaras de comprometer Lei dos Crimes Fiscais. mais digna de mostrar seus
mais de 70% do A preocupa- sentimentos?”
orçamento com ção de se ade- O governador foi submeti-
a folha de pes-
soal. Logo de-
pois, em maio,
P ACOTE
quar à Lei Fiscal
fez com que go-
verno e oposição
do a uma cirurgia para a re-
tirada de dois tumores no in-
testino e a uma colostomia,
foi aprovada pe- INCLUI AÇÕES se igualassem em 21 de novembro. A imu-
lo Congresso a nos cortes de gas- noterapia foi a alternativa
Lei de Responsa- CONTRA tos. Os governa- sugerida pelos médicos do
bilidade Fiscal – dores aplicaram Incor e do Memorial Sloan
complementada SONEGAÇÃO às suas adminis- Kettering Cancer Center,
pela Lei dos Cri- trações fórmulas de Nova York, para comba-
mes Fiscais, que que a esquerda ter a doença por ser menos
definiu as punições criminais antes combatia, como demis- nociva à saúde. Mas a defini-
para administradores públicos sões, enxugamento de quadros ção do tratamento, de acor-
que não cumpram as novas re- e extinção de empresas. O go- do com o infectologista Da-
gras. O pacote da austeridade vernador do Mato Grosso do vid Uip, será discutida com
culminou com a votação, em de- Sul, José Orcírio Miranda dos Covas após o ano-novo.
zembro, dos três projetos que Santos, o Zeca do PT, foi o que A reincidência do câncer,
dão instrumentos à Receita pa- mais surpreendeu. Em novem- que afeta o governador des-
ra combater a sonegação. bro, lançou pacote de enxuga- de 1998, tirou da disputa de
A Lei Fiscal impôs um “códi- mento da máquina, que incluiu 2002 um dos principais can-
go de conduta” para governan- corte de vantagens do funciona- didatos do PSDB à sucessão
tes de União, Estados e municí- lismo, redução de 26 para 20 no do presidente Fernando
pios. A idéia é conter o endivi- número de empresas públicas, Henrique. Mas Covas mos-
damento do setor público, ade- fixação do teto salarial em R$ trou disposição de interferir
quando gastos à capacidade de 11.720 e um programa de de- na corrida eleitoral. Antes
financiamento por meio da ar- missões incentivadas. Também de recuperar-se da última ci-
recadação de tributos. A lei visa foram extintas três das 13 secre- rurgia, ele agitou o PSDB
ainda a alterar uma característi- tarias e 11 das 23 empresas, fun- com uma entrevista ao Esta-
ca do federalismo brasileiro: da- dações e autarquias. Os 2,9 mil do na qual defendeu a candi-
qui para a frente a União está cargos de confiança foram redu- Emoção – Covas chora durante a entrevista que convocou no Incor para falar da cirurgia datura do governador do
proibida de dar socorro finan- zidos à metade. Objetivo: econo- de retirada dos tumores: ‘Tive dor, tive medo. Tive tudo aquilo que um homem normal tem’ Ceará, Tasso Jereissati.
ceiro aos Estados e municípios. mizar R$ 74 milhões anuais.

SOB SUSPEITA Joédson Alves/AE–18/8/2000

Acusados de corrupção Pitta balança,


mas escapa do
vivem dias de pesadelo Captura de tela/Rede Globo
impeachment
São Paulo não merecia um
Balanço do escândalo num caso sobre gestão fraudu- prefeito como Celso Pitta. Ele
lenta de um consórcio em Brasí- entrou para a história como o
do TRT de lia. Foi solto no dia seguinte. primeiro governante da cidade
São Paulo registra Em novembro foram divulga- a ter o mandato julgado no ple-
punições históricas dos documentos que provam a nário da Câmara Municipal. O
remessa de US$ 1,05 milhão de processo de impeachment foi ar-

O
ano termina com um se- contas abertas por Estevão em quivado em julho, mas, antes
nador cassado, um juiz Miami, sob os nomes de James disso, ele já havia sido afastado
preso e diversos políti- Tower e Leo Green, para a con- do cargo por 19 dias.
cos e administradores públicos ta de Nicolau na Suíça. O Minis- Afilhado político e sucessor
sofrendo processos na Justiça. tério Público denunciou o ex-se- de Paulo Maluf, Pitta foi acusa-
2000 foi um ano inesquecível nador por formação de quadri- do pela ex-mulher, Nicéa, de co-
para os suspeitos de mau uso lha, peculato, estelionato, cor- mandar gigantesco esquema
da verba pública. rupção ativa, falsidade ideológi- de corrupção na Prefeitura,
A “saga” do juiz Nicolau dos ca e uso de documento falso. além de subornar vereadores.
Santos Neto, ex-presidente do O presidente da Incal, Fábio As denúncias de Nicéa foram
Tribunal Regional do Trabalho Monteiro de Barros Filho, e o vi- feitas em 10 de março. No dia
de São Paulo, virou assunto na- ce-presidente, José Eduardo 24, uma ordem judicial deter-
cional, com direito a horário no- Teixeira Ferraz, foram presos minou o afastamento do prefei-
bre na TV. Acusado de ser o em maio. Monteiro de Barros fi- Fuga – A PF fez cartazes to, mas ele conseguiu reverter a
mentor do desvio de recursos cou na cadeia por quase 50 dias de “procura-se” de Nicolau, decisão e voltou nos braços dos
da obra do Fórum Trabalhista, e Ferraz, por três semanas. Eles que se entregou no dia 8 perueiros.
Nicolau teve prisão preventiva são réus na mesma ação aberta O filho de Pitta, Victor, com-
decretada em 25 de abril pelo contra Estevão e Nicolau. Central aos Bancos Marka e plicou a vida do pai em depoi-
juiz Casem Mazloum, da 1.ª Va- FonteCindam na desvaloriza- mentos ao Ministério Público.
ra Criminal Federal, e sumiu. CPI – Em São Paulo, a CPI ção do real, em janeiro de 1999. Disse, com todas as letras, que
A Polícia Federal montou dos Fiscais da Câmara levou O ex-dono do Marka, Salvatore o empréstimo do malufista Jor-
uma grande operação para en- à cassação dos vereadores Vi- Cacciola, acusado de crimes ge Yunes ao prefeito, no valor
contrá-lo e mobilizou a Interpol cente Viscome e Maeli Verg- contra o sistema financeiro, foi Dida Sampaio/AE–14/6/2000 de R$ 800 mil, era apenas fa-
(Polícia Internacional). Carta- niano e do deputado estadual detido em junho. A prisão pre- chada. Já acusado de enriqueci-
zes de “procura-se” com a foto Hanna Garib. Viscome cum- ventiva foi revogada em 14 de mento ilícito, Pitta foi novamen-
de Nicolau foram distribuídos pre 16 anos de prisão por che- julho e restabelecida dias de- te afastado por improbidade ad-
em aeroportos e postos de fron- fiar a máfia dos fiscais da Ad- pois, mas ele já havia fugido. ministrativa. A decisão, do Tri-
teira e a PF abriu com ele a pági- ministração Regional da Pe- bunal de Justiça, durou exatos
na de Procurados de seu site na
Internet. Depois de quase 8 me-
nha. Garib, sob suspeita de
chefiar a máfia de fiscais da
2001 19 dias, período em que o vice-
prefeito Régis de Oliveira
ses de caçada, o juiz acabou se AR-Sé, foi preso em novem- Cacciola apareceu em Ro- (PMN) assumiu o cargo e tro-
entregando dia 8, após negocia- bro, acusado de tentar subor- ma, onde espera em liberdade o cou todos os secretários.
ções entre seu advogado, Alber- nar testemunhas para que resultado de processo de extra- O vaivém de prefeitos tumul-
to Zacharias Toron, e a PF. mudassem seus depoimentos. dição, pedida pelo Brasil. A ex- tuou a cidade. Pitta ganhou a
O mesmo caso fez Luiz Este- As investigações da CPI tam- pectativa é que o processo se re- parada. Voltou para ficar no
vão entrar para a história como bém atingiram vereadores da solva em 2001, mas há um com- dia 13 de junho, amparado por
o primeiro senador cassado por base governista de outra forma: plicador: o banqueiro é italiano sentença do Superior Tribunal
seus pares no País. Em 28 de ju- a perda de votos. Vários não e, embora a legislação do país de Justiça. Um mês depois, foi
nho, o Senado cassou Estevão e conseguiram reeleger-se, como permita extraditar um cidadão absolvido das 11 denúncias fei-
tornou-o inelegível até 2016. A Miguel Colasuonno (PMDB) e que tenha cometido crimes no tas pela seção paulista da OAB.
suspeita de envolvimento com o mais antigo parlamentar pau- exterior, o processo é lento. Em outubro, Maluf foi conde-
o desvio agravara-se em maio listano, Brasil Vita (PPB), que Quanto ao desvio do fórum, nado, em primeira instância, a
com a descoberta de documen- só ficou com a segunda suplên- o juiz Mazloum diz que existe a devolver R$ 1,2 bilhão aos co-
tos que dão conta da participa- cia do PPB. Dos 55 vereadores, possiblidade de julgar os dois fres públicos, por causa de des-
ção do grupo OK, de Estevão, 23 foram reprovados nas ur- processos que estão sob seu co- pesas realizadas em seu último
em 90% das ações da Incal In- nas. A renovação foi de 50,9%. mando até meados de março. ano na Prefeitura. Pitta foi con-
corporações, responsável pela Em 2000, o Ministério Públi- Mas ressalvou que esse prazo denado solidariamente no mes-
obra. Ele chegou a ser preso em co continuou às voltas com a pode ser estendido, caso a com- Inédito – Luiz Estevão tornou-se o primeiro senador a ser mo processo, pois era secretário
30 de junho por decisão judicial operação de socorro do Banco plexidade do processo o exija. cassado por seus pares, mas nega ligação com o caso do TRT de Finanças.
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2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR
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ECONOMIA
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B10 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

INTERNACIONAL

Crise põe em xeque política da Opep


Barril atingiu recorde de mais de 3 milhões barris por de afundar mais no poço que ca-
alta em outubro; em dia em 2000 para conter a alta
das cotações e evitar uma der-
OFERTA X DEMANDA MUNDIAL va sem parar há mais de dois
anos. Tudo dependerá de como o
2001, cartel quer conter a rocada da economia mundial, Em milhões de barris/dia adormecido governo do presiden-
atual tendência de queda agora deverá reduzir sua ofer- te De la Rúa vai reagir à necessi-
ta entre 500 mil e 1 milhão de Oferta dade de reativar a economia.
EUGÊNIO MELLONI barris por dia para evitar o co- Demanda
O governo espera crescer
lapso dos preços e de suas pró- 2,5%, com um déficit fiscal de

E
m 2000, os membros da prias economias. US$ 6,5 bilhões, com pequena al-
poderosa Organização “Se as cotações continua- ta no desemprego em 2001.
dos Países Exportado- rem próximas dos US$ 22 o 79,1 O economista Alemann afir-
res de Petróleo (Opep) vive- barril, o corte realmente ocor- 78,9 78,8 ma: “Não teremos muito cresci-
ram o apogeu e o fracasso de rerá”, prevê o analista Fábio 77,9 77,9 mento.” Redrado diz que a blin-
uma política de contenção da Silveira, da Tendências Con- 77,3 dagem trará tranqüilidade à Ar-
produção, adotada desde sultoria Integrada. 76,2 gentina, mas “não implicará cres-
1999, focada na valorização Razões para o corte não fal- 75,5 75,6 cimento econômico”. Para ele, o
da commodity. O petróleo tam. Os preços do barril do pe- 75,1 75,3 PIB aumentará 1,6%. Os setores
WTI, negociado em Nova tróleo apresentaram, em Lon- 73,8 beneficiados serão os de entreteni-
York, começou o ano a US$ 25 dres e Nova York, uma desva- mentos, reflorestamento, minera-
o barril, chegou a US$ 38 em lorização superior a US$ 12 en- ção e Internet. Os mais atingidos:
outubro e despencou para tre meados de outubro e a ter- 1º 2º 3º 4º * 1º * 2º * têxtil, metalúrgico e calçados.
US$ 24, em dezembro. ceira semana de dezembro. Os Trimestre de 2000 Trimestre de 2001
Cálculos da Fundação Capital in-
O ano foi marcado também motivos foram a recuperação dicam que a média do desempre-
pela intensa especulação nas parcial dos estoques america- Fonte: Agência Internacional de Energia e Tendências Consultoria Integrada * projeção go será de 15%. As exportações
bolsas, com a frenética presen- nos de petróleo e derivados e a Reuters crescerão 4%.
ça dos fundos de investimen- saída estratégica dos fundos Pesquisa realizada pelo jornal
tos por trás da rota ascendente de investimentos. El Cronista indica relativo otimis-
dos preços. A Opep e os gran- Com a baixa, o preço da ces- mo entre o empresariado: 29%
des consumidores industriais, ta de petróleo da Opep, que ser- acham que a recessão terminará
por sua vez, envolveram-se em ve de referência para o cartel, em março. Outros 27%, no segun-
um severo embate sobre o ní- atingiu o piso de US$ 21,64 o do trimestre. Os empresários atri-
vel ideal da oferta – os primei- barril na terceira semana de de- buem a recessão ao aumento dos
ros com os olhos nos petrodóla- zembro, perdendo US$ 4,11 impostos (24%) ou à incerteza da
res, que se tornaram fartos de- em apenas 15 dias. Com esse política econômica (23%). Além
pois de anos de proventos min- nível, a cesta ficou abaixo da disso, 94% dos empresários acre-
guados; os segundos, preocu- banda de US$ 22 a US$ 28 es- ditam que a paridade entre o dó-
pados com o impacto inflacio- tabelecida pela Opep como fai- lar e o peso vai continuar.
nário e com o potencial de de- xa de flutuação ideal das cota- ■ Mercosul – Será um ano de
saceleração do crescimento de ções. Analistas internacionais reativação para o bloco, afir-
suas economias pela alta do não têm dúvida de que, se o mam economistas e empresá-
óleo bruto. “gatilho” criado pela própria rios. Há tarefas pendentes a se-
O ano já iniciou com as cota- Opep para manter os preços rem executadas. Redrado consi-
ções aquecidas: o barril do dentro da banda não funcio- dera positiva a recente reunião
WTI oscilava em torno de nou quando os preços estavam de cúpula. “Mas, temos de
US$ 25 em meados de janeiro, acima de US$ 28 o barril, não apressar a criação de tribunais
US$ 12 acima dos níveis de fe- falhará para mantê-los abaixo de solução de controvérsias”.
vereiro do ano anterior, quan- do piso de US$ 22. Ele adverte que o Mercosul terá
do atingiu o fundo do poço. O Silveira lembra ainda que se de enfrentar o desafio da inte-
forte inverno nos Estados Uni- persistir o teto de produção gração com a Alca.
dos, o principal consumidor atual do cartel, de 32,4 mi- ■ Exportações – O presidente
de óleo de calefação, e uma lhões de barris por dia, a oferta da Câmara de Exportadores , En-
oferta mundial inferior à de- mundial deverá superar a de- rique Mantilla, afirma que as ven-
manda em 2 milhões de barris/ manda em 3,2 milhões de bar- das argentinas para o exterior
dia, no último trimestre de ris por dia no segundo trimes- Gatilho – Instrumento criado pela Opep para manter preços do petróleo dentro da banda de crescerão 10%. “Dependem da
1999, deram o primeiro empur- tre de 2001. US$ 22 a US$ 28 o barril só será eficiente se for para elevar as cotações, dizem os analistas valorização do euro em cerca de
rão para a tendência de alta, Reuters Reuters 11% e da queda
que perdurou até meados de nas taxas de juros
outubro – quando o WTI atin- nos EUA”. As
giu a marca de US$ 38 o barril, vendas ao Brasil,
cotação observada somente para ele, depen-
nos momentos críticos da dem do setor auto-
Guerra do Golfo. motivo e do preço
Nesse meio tempo, estabele- do petróleo.
ceu-se um cabo-de-guerra en- ■ Eleições – Será
tre produtores e consumido- um ano difícil na
res. Pressionada principalmen- política: o gover-
te pelos Estados Unidos, a no enfrentará elei-
Opep, em três reuniões trimes- ções parlamenta-
trais sucessivas, promoveu res em outubro,
três ajustes no seu teto de pro- quando será reno-
dução, elevando-o de 29,3 mi- vada metade das
lhões de barris/dia, no primei- vagas do Congres-
ro trimestre, para 32,4 milhões so. As pesquisas
no quarto trimestre. Tiveram indicam que o go-
papéis decisivos na pressão pe- verno tem gran-
lo aumento da oferta do cartel des chances de
Arábia Saudita e Kuwait, prin- passar por uma
cipais aliados do governo ame- derrota humilhan-
ricano no Oriente Médio. te, que deixaria
Mas, apesar dos aumentos, nas mãos do Parti-
as cotações demoraram a ce- do Justicialista
der. Dados da Agência Inter- (mais conhecido
nacional de Energia (EIA, pe- como “Peronis-
las iniciais em inglês) mostram ta”), da oposição,
que as cotações tiveram, na o controle absolu-
maior parte do ano, pouca rela- to do Senado e da
ção direta com o nível da ofer- Câmara dos De-
ta. Segundo a EIA, somente putados, colocan-
no primeiro trimestre houve do o governo em
um real déficit na oferta da xeque.
commodity, de 200 mil barris/ Turbulência – Fernando de la Rúa (E) enfrentou forte instabilidade na Insatisfação – Nenhum outro governo enfrentou tantas Em março come-
dia. No segundo e terceiro tri- economia, dirigida por Jose Luis Machinea, no primeiro ano de mandato greves gerais, provocadas pelo alto índice de desemprego çarão as primei-
mestres, houve excedentes de ras movimenta-
2,4 milhões e 1,8 milhão de bar-
ris/dia, respectivamente.
Em Londres e Nova York,
as altas foram justificadas, em
Socorro ajuda Argentina a recuperar prestígio ções eleitorais, o que significa que
a partir desse mês espera-se uma
oposição mais dura dos peronis-
tas, que já não estão fazendo fácil
momentos distintos, por confli- Blindagem financeira de política e econômica. Ne- tabilidade cambial. “A Argenti- Alemann sustenta que o ano foi a vida para De la Rúa.
tos no Oriente Médio ou pela nhum presidente na história da na mudou seu governo, e sempre “de crescimento 0% e de um hor- A falta de possibilidade de rever-
dificuldade das refinadoras dá instrumento para Argentina sofreu três greves ge- que isso ocorria, havia uma modi- rível déficit de US$ 10 bilhões”. ter o alto desemprego de forma
acompanharem o ritmo da de- que governo De la Rúa rais no primeiro ano de governo. ficação total da política econômi- O jovem economista-chefe da imediata também instaura um
manda. A saída dos fundos de ajuste economia do país As paralisações tiveram como ca. E, no entanto, desta vez man- Fundação Capital, Martín Re- panorama social exaltado, no
investimentos desse mercado, motivos principais os ajustes eco- teve-se o respeito às privatiza- drado, afirmou ao Estado que qual seriam freqüentes as greves
em outubro, e a imediata que- ARIEL PALACIOS nômicos do governo, o desempre- ções e à estabilidade financeira.” no ano 2000 a Argentina “não gerais e os piquetes nas estradas.
da livre das cotações deixaram Especial para o Estado go, o arrocho salarial e o cresci- Entre os “contras”, os econo- teve um cenário de caos. E, ape- Além disso, o próprio governo
a impressão, contudo, de que a mento da pobreza no país. mistas contabilizam “o enfoque sar do que diziam nossos cole- não consegue manter a aura de

B
especulação nas bolsas foi, em UENOS AIRES – O prin- Ao longo do ano, ficou no ca- gradualista da equipe econômi- gas economistas brasileiros, não honestidade que tinha até há pou-
boa parte, responsável pela cipal instrumento para a minho um aumento no desem- ca, que sempre esteve mais lento houve desvalorização nem sus- co, já que os casos de corrupção
manutenção da alta registrada Argentina sair da crise é prego, de 13,8% para 14,7%. O que os acontecimentos e muito pensão de pagamentos. Isto foi começam a atingir membros da
até então. o prestígio do país por ter conse- governo reduziu o déficit de US$ aquém das necessidades”. Segun- garantido pela blindagem, que família do presidente.
guido ajuda financeira do Fundo 10 bilhões, herdado do governo do eles, “faltou uma estratégia in- teve forte componente local. O De la Rúa tenta fazer o possível
2001 Monetário Internacional (FMI) e Menem, para US$ 7 bilhões.
de outros órgãos internacionais,
tegral para melhorar o desempe- sistema financeiro argentino co- para não naufragar em 2001, en-
Mas a redução foi relativa, já nho fiscal”. Além disso, criticam- locou quase US$ 20 bilhões, al- quanto que seu ministro da Eco-
Os países membros da Opep no total de US$ 39,7 bilhões, co- que este mesmo déficit ultrapas- se os aumentos de impostos, que go que não é costumeiro nos ou- nomia, Jose Luis Machinea, reza
vão realizar sua primeira reu- nhecida como “blindagem finan- sou a meta, prevista com o FMI bloquearam a reativação do con- tros mercados emergentes”. para conseguir remover a econo-
nião em 2001, prevista para 17 ceira”. Mas ter o instrumento e no início do ano 2000, em US$ sumo. O descalabro fiscal foi a mia da recessão que assola o país
de janeiro, em Viena, sob uma
conjuntura totalmente diversa
saber como usá-lo não bastará: 2,7 bilhões. O crescimento do Pro- questão central do ano e a frase
outra variável desta complexa duto Interno Bruto (PIB) no ano que melhor o ilustrou foi a do ex-
2001 há dois anos e meio.
Analistas próximos a Machinea
da que predominou em 2000. equação será a reação dos descon- 2000 teria sido de 0,2% e não se integrante do FMI Vito Tanzi, A arte – ou ciência – de predi- sustentam que sonha com o deno-
Vários ministros do petróleo fiados mercados internacionais descarta que tenha sido negati- que disse que a Argentina “arre- zer o futuro da economia está sen- minado “efeito Malan”: como
da Opep já anunciaram – e os sobre o país nos próximos meses. vo. cada como o Haiti e gasta como do exercida com dificuldade na seu colega brasileiro em 1999, o
analistas acreditam que não se O primeiro ano do governo do Para grande parte dos econo- a Europa”. Argentina. Motivos não faltam. ministro argentino pretende recu-
trata de bravata – que o cartel, presidente Fernando de la Rúa mistas, um dos principais “prós” Fazendo um balanço de 2000, Os analistas tanto sustentam que perar o país com a ajuda recebida
que elevou a produção em foi marcado por forte instabilida- deste ano foi a manutenção da es- o veterano economista Roberto o país pode deslanchar, como po- do FMI e rapidamente crescer.
Produto: ESTADO - _BRASIL - 41 - 30/12/00 B9-TR A-RED. P`GINA PB

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B9
Reuters

Cartel
O ESTADO DE S. PAULO Reuters

Prestígio
em xeque resgatado
Depois do Socorro
apogeu, Opep do FMI ajuda
não consegue Argentina a
sustentar recuperar
preços do imagem no
petróleo. exterior.
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

MERCADO FINANCEIRO

Bolsas encerram 2000 sem euforia


Depois da disparada do cano, para frear o crescimen- ➤ra a Bolsa de Valores de São
início do ano, turbulências to e evitar a inflação vão desa-
quecer a economia america-
CONTÁGIO EXTERNO Paulo (Bovespa) em 2001 e a
maioria mantém as projeções
externas ditam o na além da conta. Turbulências impedem o bom desempenho do mercado doméstico feitas para este ano – a avalia-
rumo dos mercados Os mercados sofreram com 27/3 12/9
ção é que o índice feche entre
essas incertezas que ainda Ibovespa atinge
20 mil e 24 mil pontos. “Per-
CLEIDE SÁNCHEZ RODRÍGUEZ vão permanecer no início de 19.000 Crise Argentina demos o ano, mas dá para re-
nível recorde
e NEUSA RAMOS 2001. A Nasdaq, ainda mais cuperar”, disse o diretor de
pelas dificuldades de se ava- Renda Variável do Lloyds
18.000 22/11

A
s bolsas de valores ter- liar o retorno dos papéis das Bank, Pedro Tomazoni.
minam o ano distan- empresas da nova economia. Seguindo a Da mesma forma, é quase
tes da euforia dos pri- Como são companhias de ris- Nasdaq consenso que o 1.º trimestre
17.000
meiros meses de 2000, quan- co elevado, as bolsas acaba- do ano será decisivo. Nessa
do a Nasdaq, a nervosa bolsa ram extrapolando os movi- época os investidores já pode-
eletrônica dos Estados Uni- mentos, de alta ou de baixa, 16.000 rão saber se a desaceleração
dos, superou a incrível marca que se tornaram constantes 7/7 da maior economia do mun-
dos 5 mil pontos, e o Índice durante o ano. Alta no preço do estará ocorrendo de forma
15.000
Bovespa atingiu nível recor- No último trimestre de do petróleo brusca ou suave. Uma boa no-
de de 18.951 pontos. Nos últi- 2000, os resultados decepcio- 14/4 tícia esperada para o Brasil é
mos pregões do ano, a bolsa nantes dessas empresas e o 14.000 Influenciada pelo 23/5 a melhora da classificação de
americana oscilava em torno problema do crédito acaba- Nasdaq, bolsa fecha Novo pico de risco do País, no início do
dos 2,5 mil pontos, e a bolsa ram afetando a Nasdaq e as abaixo dos 15 mil pontos baixa ano.
13.000
brasileira, na esteira da Nas- bolsas em geral. “A inadim- Tomazoni avalia que os pa-
daq – um comportamento plência nunca atingiu níveis péis listados na Bovespa va-
que predominou durante to- tão elevados, devendo fechar 12.000 lem mais do que estão sendo

ArtEstado
JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
do o ano – registrava 15 mil o ano em torno dos 5%, dian- cotados. Marcelo Audi, do
pontos. te de uma média de 2% ”, afir- Fonte: Estado Merril Lynch, fincou sua pro-
De fato, entre esses dois mou Ziegelmann. jeção para o ano que vem em
momentos, as bolsas vivencia- No balanço geral, no entan- 24 mil pontos, a mesma de
ram momentos de extrema to, a Bovespa mostrou certa A QUEDA DO MITO 2000. “A economia vai cres-
volatilidade. Um vaivém pro- resistência às influências da cer e com ela os lucros das em-
vocado pela disparada do pre- Nasdaq e acabou fechando o Nasdaq alcança 5 mil pontos, mas termina o ano em torno de 2,5 mil pontos presas, mas a redução dos ju-
ço do petróleo, pelas incerte- ano com melhor desempenho ros é crucial para a formação
10/3
zas em relação ao grau de de- em relação à própria bolsa 5.500
do preço”, avalia.
saceleração da economia eletrônica e boa parte dos Pico da euforia Para Tomazoni, os bons
americana e pela tão espera- emergentes. Não fosse pela fundamentos internos deve le-
da correção da Nasdaq. E a crise argentina, acredita o 4/4 4.148,89 1/9 var ao descolamento do Ibo-
5.000
crise da vizinha Argentina executivo do BankBoston, a Divisão
Justiça americana
da Microsoftdecide Sinais de vespa do índice Nasdaq. “O
contaminou a bolsa domésti- Bovespa fecharia com uma derruba
pela divisão
bolsada Microsoft desaquecimento da economia preço das ações de tecnologia
ca. variação próxima a zero, em 4.500 ainda é elevado”, afirrmou,
“A euforia inicial vinha de vez de negativa em quase 12/10 depois de o valor de mercado
uma expectativa de cresci- 11%. Para se ter uma idéia, a 4.000
Alta do petróleo atinge dessas empresas perder qua-
mento da economia america- Nasdaq acumulava uma des- níveis recordes se 50% e fechar o ano em tor-
na num ritmo de 8% ao ano e valorização de 38,3% no ano no de US$ 4 trilhões – em
da possibilidade de retorno até dia 27; a Coréia, 51%; Tai- 3.500 março, eram US$ 6,711 tri-
elevado e rápido dos papéis lândia, 44%; a Argentina, lhões. Mesmo apostando na
das empresas da nova econo- 24%; e o México 22%. 5/4 alta, Audi está apreensivo
mia”, afirmou o diretor da 3.000 Nasdaq chega a 14/4 com a restrição do crédito
área de Renda Variável do
BankBoston Asset Manage-
2001 cair 13,5%; pânico
nos mercados
Inflação em alta faz bolsa
cair 9,67% 22/11
nos EUA, já que isso pode
causar impacto negativo so-
2.500
ment, Júlio Ziegelmann. A A história praticamente se Balanço ruim das bre as empresas com necessi-
dúvida agora é se as altas su- repete. Depois do fiasco das empresas dade de investimentos, como
ArtEstado

cessivas das taxas de juros previsões para 2000, poucos 2.000 teles e elétricas, e as empre-
JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
promovidas pelo Federal Re- analistas se arriscam a apos- sas de telecomunicaçoes têm
serve, o banco central ameri- tar em alguma tendência pa- ➤ Fonte: Estado peso expressivo no Ibovespa.

CONJUNTURA

Escassez de crédito é o que mais preocupa


Equilíbrio fiscal deu com inflação declinante. O banco BBV, Octávio de Bar-
cumprimento das metas de su- ros. Segundo ele, a brusca
vigor à economia neste perávit primário em torno de BOLA DE perda do mercado acionário
ano, mas analistas ainda 3% do PIB, aliado a um déficit americano – que reverteu a
temem cenário mundial nominal estável, reduzirão a dí- CRISTAL sensação de riqueza – e o en-
vida líquida do setor público. fraquecimento do euro – que
NEUSA RAMOS PARA 2001 reduz o cacife das empresas
da região em investir em
e JOSÉ ANTÔNIO RODRIGUES
2001 BBV CSFB JP
Andima
Inter American
Citibank
Lloyds emergentes – irão fazer com

D
epois de três anos conse- Banco Garantia Morgan Express Bank que o investimento direto
cutivos de crises, a bola A redução do volume de mingüe em relação a este
de cristal de economis- crédito no mercado financei- Crescimento do PIB (%) 3,8 3,9 4 4 4,1 4 4 ano, quando atingiu US$ 30
tas mostrou-se menos turva e ro internacional é o principal IPCA (%) 4,4 4,1 4 4,4 4,3 4 4,3 bilhões.
os grandes fiascos nas proje- ponto de preocupação de eco- Para a MCM, no cenário
ções econômicas para 2000 fo- nomistas para 2001. A aver- Déficit nominal (% do PIB) 3,5 3,2 3 3,2 3,5 3,1 3,2 em que não ocorrem choques
ram a balança comercial e o são ao risco começou a ser Resultado primário (% do PIB) 3 3,2 2,7 3 3 3 3 externos extremos, mas no
preço do dólar. A previsão pa- dissiminada em setembro, qual o nível de liquidez é
Dívida líquida do setor 49,5 50,1 48,5 48,5 49 48,2 48,5
ra a balança era de uma saldo quando houve percepção que apertado, como prevê Frei-
positivo de US$ 4 bilhões, mas a economia norte-americana público (% do PIB) tas, a queda da taxa de juro
até o dia 24 deste mês, o resulta- estava realmente se desacele- Selic média (% A.A.) 15,25 14,6 13,9 14,9 15 14,6 15 interna fica limitada pelo ní-
do era negativo em US$ 667 mi- rando e as empresas, princi- Selic final de 2001 (% A.A.) 14,75 13 12,5 13,6 - - 14 vel do risco Brasil. A estimati-
lhões. Para analistas, as apos- palmente as do setor de tec- va é chegar ao fim do ano em
tas foram minadas pelo aumen- nologia, haviam aumentado Balança comercial (US$ bi) 0,5 (1,5) 0,6 0,3 1 (1,69) 0 14%, ante os atuais 15,75%.
to do preço do petróleo, preocu- seu endividamento. Segundo Déficit de transações 27 28,2 26,5 26,3 25,5 29,3 25,5 Um corte mais rápido dos
pação quanto ao ritmo do desa- analistas, há expectativa de correntes (US$ bi) juros não ocorre apesar de
quecimento dos EUA e turbu- que a restrição do crédito só economistas avaliarem que o
Investimentos diretos (US$ bi) 23 22 25 22,7 - 28 23
lência na Argentina. possa ser reduzida no segun- cenário mais provável para
No caso da balança comer- do semestre do ano, quando Câmbio (R$ em dezembro) 2,10 1,95 2,00 2,01 2,03 2,00 2,02 2001 é de desaceleração da
cial, além da alta petróleo, ain- o afrouxamento da política * média Fonte: bancos economia dos Estados Uni-
da houve o enfraquecimento monetária americana, indica- ArtEstado/Gisele dos – sem queda brusca. Mas
do euro – que reduziu a deman- da na reunião do dia 19 de de- Quem quiser lançar bônus terá de correr. No O Nasdaq ainda vai cair mais e o mercado local também não será nenhum
da européia pelos nossos produ- zembro, começará a surtir 1º bimestre, deve haver melhora da classificação deve ficar um pouco mais independente, apesar de mar de rosas. Mesmo que o
tos. A substituição das importa- efeito. Atualmente, empresas de risco do Brasil. Depois, a situação o cenário externo ser adverso e da banco central americano re-
ções em setores importantes da de grande porte dos Estados duza os juros já em janeiro, a
complica e, mesmo com otimismo, o perspectiva de redução dos recursos
economia foi menor que a pre- Unidos sem recomendação medida vai demorar alguns
vista e houve queda do preço de investimento, como GE, cenário externo não é benigno meses para surtir efeito.
de produtos agrícolas com for- pagam juros semelhantes aos Pedro Tomazoni, diretor de renda variável do Além desse fator de inquie-
Octávio de Barros, economista-chefe do
te peso na pauta de exporta- oferecidos pelos papéis de BBV Banco Lloyds Bank tação, o preço do barril do pe-
ções. A desconfiança em rela- países emergentes, entre eles tróleo no mercado internacio-
ção ao crescimento dos EUA e o Brasil. nal continuará centrando o
a crise argentina foram as des- Esta restrição de crédito, Um dos grandes desafios do governo e da Não é tão determinística a relação entre foco do mercado financeiro,
culpas para o erro das previ- segundo economistas, pode economia é reduzir os juros para as empresas, crescimento mundial e exportações. Entre 1984 e mas a queda deste ano, já fez
sões do dólar, que ficaria em reduzir o fluxo de recursos determinante para manter os 1999, enquanto o mundo cresceu a instituições financeiras, co-
R$ 1,80. para mercados emergentes investimentos daquelas sem acesso ao 7% ao ano, países como Coréia e mo BBV Banco a rever sua
Fora esses dois pontos, a eco- por longo período de tempo, mercado internacional México cresceram mais que isso projeção de crescimento do
nomia brasileira mostrou-se só- pressionando o câmbio e o PIB para 2001 para cima. A
lida. Houve manutenção da dis- preços dos papéis da dívida Antonio Delfim Netto, economista e Antonio Corrêa de Lacerda, maioria dos economistas
ciplina fiscal e monetária, que soberana brasileiros. Isso, em ex-ministro da Fazenda presidente da Sobeet aposta em crescimento do
somado ao câmbio flutuante, um ano em que a previsão é PIB por volta de 4%, mas ob-
permitiu que o País enfrentasse de queda de investimentos di- servam que o número poderá
o cenário adverso e seguisse fir- retos e desempenho ainda pí- taxa de câmbio deve mudar ção e, portanto, segurando as co, Eduardo de Freitas. ser maior. A balança comer-
me o caminho do crescimento fio da balança comercial bra- de nível, sem tendência de re- taxas de juros”, afirmou o Perspectiva semelhante cial, no entanto, deve conti-
econômico, acima do esperado, sileira. “Por esses motivos, a torno, pressionando a infla- economista-chefe do Uniban- tem o economista-chefe do nuar com desempenho pífio.
Produto: ESTADO - _BRASIL - 22 - 30/12/00 C4 Preto

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR
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C4
Paulo Pinto/AE

Cuidando
O ESTADO DE S. PAULO Gol
Marco Boreli/AE – 8/11/2000

da cidade de Letra
Antonio Raí deixou os
Ermírio de campos
Moraes para
bancou personificar
remodelação força do
da Praça terceiro setor
Ramos. Pág. 5 no País. Pág. 5

SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

VIOLÊNCIA

Chacinas e crimes ousados marcam 2000 Tasso Marcelo/AE – 12/6/2000


Traficantes decretam
toque de recolher e País parou para acompanhar
quadrilhas invadem
DPs para soltar presos seqüestro de ônibus no Rio
A
ousadia de criminosos, Motivo fútil e crueldade depois de o soldado do Bata-
com resgates de presos lhão de Operações Especiais
em distritos, toques de da execução de garotos (Bope) Marcelo Oliveira dos
recolher e a ação de facções em em Mongaguá também Santos ter atirado duas vezes
presídios, atingiu níveis inédi- chocaram sociedade no assaltante, numa tentativa
tos em 2000. O ano foi marcado frustrada de detê-lo. A PM ino-

D
ainda pelo número recorde de ia dos Namorados, 12 centou o soldado, mas a família
chacinas na Grande São Paulo. de junho. O ônibus da li- de Geisa quer processá-lo. Está
O Estado iniciou a contagem nha 174 fazia a rota pedindo R$ 900 mil de indeniza-
de chacinas em 1995. O recorde Central-Gávea quando foi se- ção por danos morais e mate-
ficou estabelecido em pleno dia qüestrado pelo ladrão San- riais ao Estado.
de Natal, com a localização dos dro do Nascimento no Jar- Até hoje ninguém foi punido.
corpos de quatro adolescentes. dim Botânico, Rio. Onze A ação desastrada dos policiais
Foi a 90.ª matança de 2000, pessoas foram feitas reféns causou duas exonerações na
com 312 vítimas. Em 1998, re- e viveram quatro horas de cúpula da PM – dos então co-
corde anterior, tinha havido 89 tensão e terror. Os brasilei- mandantes da corporação, coro-
ocorrências e 308 mortos. ros acompanharam pela nel Sérgio Cruz, e do Bope, co-
A maior chacina de 2000 dei- TV cada passo do drama, ronel Sérgio Penteado.

Delfim Vieira/AE – 12/6/2000


xou dez mortos em Jacareí, Va- até o desenlace, com a mor-
le do Paraíba. No Brasil, o caso te da professora Geisa Fir- Mongaguá – Páscoa, 23 de
de maior impacto foi o do apo- mo Gonçalves, de 20 anos, abril. Dois estudantes universi-
sentado Otávio Rodrigues de e do ladrão, asfixiado num tários e um secundarista, todos
Oliveira, que matou cinco pa- carro da Polícia Militar. de 17 anos, eram esperados pa-
rentes em Arcos (MG), em ju- Usada como escudo, ra o almoço em família. Não
lho. Oliveira foi achado morto Sandra foi assassinada por chegaram. Foram mortos vio-
numa cela de DP em agosto. Se- Pânico no Jardim Botânico – soldado precipita fim trágico do Nascimento a tiros, dispa- lentamente numa casa de praia
gundo a polícia, ele se suicidou. seqüestro de ônibus; no destaque, Luanna sob a mira de revólver rados, segundo a perícia, de Mongaguá, litoral de São
Em 2000, o tráfico desafiou Epitácio Pessoa/AE–9/3/2000 Paulo, onde tinham ido passar
as autoridades paulistas com a o feriado. Danilo Ramos Ribei-
decretação, em novembro, de ro, Bruno de Paula Andrade
toques de recolher na zona sul Ruggeri e Ariel Lagatta de Sou-
da capital, em São Bernardo e za, jovens de classe média, mo-
Campinas. Mas o caso mais ru- ravam em São Paulo. Danilo
moroso ocorreu em fevereiro, era filho de um oficial da Aero-
quando traficantes da Favela náutica reformado e Ariel, de
Heliópolis deram um ultimato, um investigador.
exigindo a desocupação da Fa- Os jovens tiveram pés e bra-
vela Paraguai, na zona leste. ços amarrados com cordas de
A ameaça, no rastro de uma náilon e apresentavam sinais
disputa de quadrilhas que pro- de tortura. Bruno levou uma fa-
vocara 23 mortes, fez debandar cada no pescoço, que atingiu a
90% das famílias que residiam artéria carótida. Daniel e Ariel
no local. A ocupação pela Polí- foram executados com espetos
cia Militar marcou, em meados de churrasco enfiados no pesco-
de março, o retorno dos mora- ço e nas costas. Os assassinos
dores. A pressão da sociedade ainda atiraram um colchonete
fez a maioria dos casos de to- sobre Ariel e atearam fogo. Se-
ques de recolher ser esclareci- gundo o pai de Ariel, o investi-
da, com a prisão dos bandidos. gador Juadir José Ramos de
O ano também revelou o po- Souza, os meninos foram assas-
der das facções criminosas no sinados com “crueldade”. “Já
sistema carcerário paulista. A vi muitos crimes, mas nada co-
queda de braço entre a mais po- mo este”, disse, desesperado.
derosa delas, o Primeiro Co- A polícia de Mongaguá pren-
mando da Capital (PCC), e o deu dois rapazes pelo triplo as-
governo teve seu ápice no sassinato. Cristiano Fondello
maior motim registrado desde Domingues, de 20 anos, foi deti-
1961 na Casa de Custódia de do no mesmo dia do crime, ao
Taubaté. Presídio de segurança praticar um assalto, e delatou o
máxima, ele tinha sido escolhi- cúmplice Luciano de Almeida,
do para confinar os cabeças do de 23 anos. Almeida afirmou
PCC. A rebelião acabou em 18 Favela Paraguai – garoto espia, pela fresta da porta de barraco, policial militar armado na operação realizada ter assassinado os garotos para
de dezembro, após mais de 30 para restabelecer controle das autoridades sobre favela da zona leste sitiada pelas ameaças de traficantes não ser reconhecido depois de
horas de terror, nas quais os Marcelo Alves/Futura Press – 6/3/2000 assaltá-los, já que morava, com
amotinados mataram 9 presos. ram dos bandidos. Em junho e apreensão de 5 toneladas de co- o avô, bem próximo da casa on-
Obrigado a transferir os líderes julho houve assaltos cinemato- caína e outras 159 de maconha de os estudantes passavam o fe-
do motim, o governo criou ou- gráficos nas pistas dos Aeropor- e haxixe. Ele sustenta que estão riado. Disse que não queria cor-
tra penitenciária de segurança tos de Congonhas e Brasília. em curso 72 operações contra o rer o risco de ser preso nova-
máxima, na cidade de Iaras. Em 16 de agosto, ladrões se- tráfico e o crime organizado. mente, porque tinha anteceden-
A falta de vagas nas peniten- qüestraram um Boeing da Outra frente do governo no tes criminais por roubo, furto e
ciárias contribuiu para a super- Vasp na rota Foz do Iguaçu- combate à violência é a reforma homicídio. A mochila e as rou-
lotação dos distritos policiais, Curitiba. Obrigaram o piloto a da legislação. A proposta de re- pas roubadas dos garotos fo-
combustível da indústria de res- pousar em Porecatu (PR) e rou- formulação da Parte Geral do ram localizadas num terreno
gate de presos. São Paulo teve baram R$ 5 milhões. Código Penal, que trata da pro- baldio nos fundos da casa do
21 resgates em DPs até 22 de de- gressão do regime de cumpri- avô de Domingues.
zembro. Em 1999, tinham sido
37, mas com menos violência.
2001 mento de pena, já foi enviada
ao Congresso. O mesmo deve 2001
Uma das ações mais espeta- Os números da violência as- ocorrer com o projeto de refor-
culares aconteceu em março, sustam, mas o secretário da Se- ma do Código de Processo Pe- A estudante de publicidade
quando uma quadrilha lançou gurança Pública de São Paulo, nal, destinado a tornar mais Luanna Belmont, de 20 anos,
um carro contra a porta de vi- Marco Vinicio Petrelluzzi, vê Abre-alas – quadrilha invadiu saguão do 59.º Distrito, ágil o andamento de processos, vê com otimismo a chegada de
dro do 59.º DP, zona leste, para pelo menos um dado positivo na zona leste, com carro para resgatar presos em março também já concluído. 2001. Um dos 11 reféns do se-
invadi-lo. Entre 17 e 18 de se- em 2000. “Pela primeira vez qüestro do ônibus no Rio, Luan-
tembro, ocorreram três resga-
tes, em Sumaré (Campinas) e
em anos houve inversão na ten-
dência de crescimento da crimi- Pressão da sociedade 2001 na acredita que a violência no
Estado está diminuindo e casos
na Grande São Paulo. Nada nalidade em quase todos os índi- O ministro José Gregori como o dela não vão se repetir.
menos do que 185 presos fugi-
ram. Em outubro, bandidos li-
bertaram 95 detentos no 45.º
ces. Em especial nos crimes
mais violentos.” Segundo ele,
na média a queda foi de 3% a
fez FHC antecipar plano anunciou que o governo repas-
sará aos Estados R$ 500 mi-
lhões para a adoção de itens pre-
Após a tragédia, ela integrou-se
à ONG Viva Rio. “Acho impor-
tante participar de campanhas
DP, na zona norte, executando 4%. “Parece pouco, mas é signi- O Plano Nacional de Segu- lidade. Estimada em R$ 60 mi- vistos no Plano de Segurança. como a pelo fim da venda das
um policial militar na fuga. ficativo, se antes crescia 10% ao rança Pública estava em gesta- lhões, ela chegou a ser elevada O secretário Marco Vinicio Pe- armas. E apóio projetos como a
Um resgate à luz do dia ser- ano.” Ele acredita que em 2001 ção havia alguns meses quando para R$ 80 milhões por FHC trelluzzi diz que São Paulo deve Nova Polícia (integração das
viu para expor ainda mais as de- a tendência de queda deve se o presidente Fernando Henri- em outubro, auge da onda de ficar com R$ 50 milhões. “Eles Polícias Civil e Militar)”, diz
ficiências da Fundação Esta- manter. “Vai haver mudança que Cardoso antecipou seu lan- resgate de presos em DPs. Mas serão usados, a princípio, em Luanna, que garante não ter fi-
dual do Bem-Estar do Menor na Prefeitura e, por mais dife- çamento para 20 de junho, pres- ficou em R$ 31 milhões. mudanças no sistema de comu- cado traumatizada.
(Febem). Em 4 de dezembro, renças que haja, vão ser possí- sionado pela repercussão do se- O governo sofreu outro revés nicação da polícia.” A morte do filho Ariel em
cúmplices libertaram F.P., de veis parcerias na cidade que po- qüestro do ônibus no Rio. Foi di- com a proibição do registro de Para o especialista José Vi- Mongaguá transformou a vida
17 anos, o Batoré, acusado de dem ter reflexo na segurança. vulgado que o programa recebe- armas de fogo. Segundo o Mi- cente da Silva, do Instituto Fer- da família. “Mudamos de casa.
15 assassinatos, tirando-o de Isso não ocorria na gestão Pit- ria R$ 2,9 bilhões até 2002 para nistério da Justiça, deixaram nand Braudel, o ministério pre- Estamos diferentes. Com medo
uma Kombi da fundação na ta.” Outra medida prometida, promover ações de combate à de ser vendidas 6 mil armas no cisa ter maior controle da apli- de tudo”, admite o pai, Juadir
Avenida Salim Farah Maluf. que deve aliviar a tensão nos violência nos Estados, R$ 701 País desde 29 de junho, data da cação de verbas. “Ele deveria José Ramos de Souza. “Prende-
A polícia recapturou Batoré DPs, é a remoção dos presos pa- milhões só este ano. Na quinta- proibição, mas o Supremo Tri- ter um padrão de referência pa- ram dois. Mas o caso não che-
no dia 14. Descobriu que ele tra- ra Centros de Detenção Provi- feira, o ministro da Justiça, Jo- bunal Federal restabeleceu o di- ra Estados em termos de equi- gou ao fim. Quero a verdade.
mara a fuga na Febem e instruí- sória. Devem ser erguidos dez sé Gregori, admitiu ter repassa- reito ao registro. pamentos e cobrar desempe- Saber o motivo de tanta cruel-
ra os comparsas pelo telefone. no ano que vem, sete deles na do só metade desse valor. Cobrado por resultados do nho”, sugere. “Vamos fiscali- dade.” Juadir espera em 2001
Seis dias depois, 163 menores capital. Ele confirmou a transfe- A verba destinada à constru- plano, o ministro cita medidas zar centavo por centavo”, ga- que a Secretaria da Segurança
escaparam da Unidade de Pare- rência da secretaria para o cen- ção de penitenciárias em São como a instalação de 18 delega- rante Gregori. “Quem não fez o trabalhe mais com a realidade e
lheiros, usando duas armas. tro em 2001, num prédio que Paulo é um bom exemplo dessa cias da Polícia Federal, a con- que devia ou desviou recursos menos com dados. Segundo ele,
Em 2000, nem aviões escapa- abrigará a cúpula da polícia. diferença entre promessa e rea- tratação de 300 agentes e a não vai receber nada.” isso banaliza a violência.
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2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR
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CIDADES
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000 O ESTADO DE S.PAULO - C5

CIDADANIA

Movimento social mostra a sua força Marcelo Ximenez/AE – 22/11/2000


Terceiro setor já
movimenta Heliópolis é
R$ 11 bilhões por
ano no Brasil terreno para
voluntários
E
m 2000, o Brasil desco-
briu o terceiro setor, não
só como fonte de resgate Disputas com rivais da vizi-
da dívida social, mas como for- nha Favela Paraguai que causa-
ça econômica em si. Só numa ram sucessivas chacinas puse-
de suas facetas, a filantrópica, ram no noticiário policial, no
ele movimenta por ano R$ 11 bi- início do ano, a maior favela do
lhões, cerca de 1% do Produto Estado, a Heliópolis. Mas foi
Interno Bruto (PIB), e emprega muitas vezes mais notícia o
1,2 milhão de pessoas. No bem que o trabalho voluntário
apoio a doentes e carentes, na (de diversas religiões, de empre-
defesa do ambiente ou da me- sários e de profissionais libe-
lhoria da qualidade de vida nas rais), associado a uma comuni-
cidades, o terceiro setor tam- dade organizada, pode trazer a
bém ajuda empresas a cumprir um local como Heliópolis, onde
sua função social e revela-se moram 80 mil pessoas.
um poderoso instrumento de A mais recente conquista
marketing. Uma tendência que ocorreu em 1.º de dezembro,
vai se acentuar em 2001, Ano com a inauguração do Centro
Internacional do Voluntário. Cultural e Esportivo. Primeiro
Os dados sobre o peso do ter- pólo de lazer da favela, ele foi
ceiro setor no PIB constam de erguido por moradores, com
um estudo publicado em agos- recursos da Companhia Side-
to, segundo o qual há pelo me- rúrgica Nacional (CSN), num
nos 200 mil entidades filantró- investimento de R$ 300 mil.
picas no País. O trabalho foi Voluntários cederam luminá-
realizado pelo Instituto Supe- rias, divisórias e material hi-
rior de Estudos da Religião dráulico.
(Iser) no âmbito de uma pesqui- O presidente da União de
sa sobre o terceiro setor em 22 Núcleos, Associações e Socieda-
países, coordenado pela Uni- Ensaio de orquestra – maestro Baccarelli ensina canto e música clássica a crianças e jovens carentes em Heliópolis; des de Moradores de Heliópolis
versidade John Hopkins, dos iniciativa, mantida com recursos da Volkswagen do Brasil, ajuda a mudar imagem da maior favela de São Paulo e São João Clímaco (Unas),
Estados Unidos. Itamar Miranda/AE – 3/7/2000 João Miranda, disse que estão
Divulgado em março, um es- zou para exigir paz em 2000. O sendo feitos contatos com ex-
tudo do Instituto de Pesquisa ápice dessa luta ocorreu em ju- atletas para dar aulas de espor-
Econômica Aplicada (Ipea) lho. No dia 7, após uma sema- tes. “Estamos buscando parcei-
mostrou que em 1998 as empre- na de mobilização, atos contra ros para manter atividades.”
sas do Sudeste investiram cerca a violência levaram milhares São justamente as parcerias
de R$ 3,5 bilhões em ações so- de pessoas às ruas de todo o que fazem de Heliópolis um
ciais comunitárias. Isso equiva- País, principalmente nas 16 exemplo do que pode ser feito
le a quase 30% dos gastos so- maiores capitais. Em São Pau- para melhorar a qualidade de
ciais do governo federal naque- lo, o símbolo das manifestações vida das comunidades caren-
le ano. A pesquisa revelou ain- foram as 53 cruzes, alusão ao tes. Várias iniciativas foram
da que 70% das empresas de co- número de mortes registrada mostradas em uma série espe-
mércio e 68% das indústrias fi- na região metropolitana no fim cial de reportagens publicada
zeram algum tipo de ação so- de semana anterior, “planta- pelo Estado em março. Como
cial em 1998. das” no dia 3 por integrantes a do maestro Sílvio Bacarelli
do Movimento Basta, Eu Que- que, com apoio da Volkswagen
Duas Silvias – Os recursos fi- ro Paz em frente do Monumen- do Brasil, ensina música e can-
nanceiros e até humanos para to a Pedro Álvares Cabral, no to a menores de 7 a 14 anos.
essas atividades muitas vezes Parque do Ibirapuera. Nos vários projetos tocados
vêm do exterior. Em março, pela comunidade são atendi-
por exemplo, a rainha Silvia,
da Suécia, nascida no Brasil, es-
teve em São Paulo para lançar
2001 dos mil menores. Há atividades
para o período em que eles es-
tão fora da escola, um grupo de
o braço nacional da sua institui- A tendência do terceiro setor adolescentes que dá orientação
ção, a World Childhood Foun- em 2001 é de crescimento, diz o sexual e incentiva a leitura, dez
dation (WCF). Em agosto, a re- coordenador do Centro de Estu- núcleos de alfabetização de
portagem do Estado mostrou dos do Terceiro Setor da Funda- adultos, mantidos por várias en-
outra Silvia, anônima, traba- ção Getúlio Vargas (FGV), tidades, consultas de acupuntu-
lhando numa comunidade ca- Luiz Carlos Merege. E não só Paz – 53 cruzes foram fincadas pelo Movimento Basta, Eu Quero Paz no Ibirapuera para ra, massagem e sessões de tera-
rente da cidade. Silvia Wester- por conta do Ano Internacional lembrar as mortes ocorridas na região metropolitana no primeiro fim de semana de julho pia oferecidas por voluntários.
mann deixou a placidez da Suí- do Voluntariado. “A média de A Igreja Renascer tem proje-
ça para morar com a filha Mia- participação é de 1,5% do PIB Milton Michida/AE – 26/10/2000 tos lá, como padaria comunitá-
na, de 9 anos, no Jardim Araca- no Brasil. Nos países desenvol- ria e reciclagem de papel, e a
ti, perto do violento Jardim Ân- vidos é de 4%, então há muito Católica mantém creches, aten-
gela, na zona sul, e ensinar mo- campo ainda.” dimento a portadores do vírus
radores da Favela da Muriçoca O filão também é promissor da aids e a gestantes e crianças
a produzir pão. no quesito empregos: responde desnutridas. ONGs do exterior,
Há vários prêmios para in- por 2,2% do mercado no País, como a Actionaid do Brasil,
centivar a atuação do terceiro ante 6% no exterior. “O segmen- também apóiam projetos de es-
setor, como o Voluntários do to não vive só do voluntariado e truturação da comunidade.
Ano, concedido pela consulto- a oferta tem aumentado, ao con-
ria Kanitz & Associados. Um
dos agraciados este ano foi o
trário do setor privado.” Para
Merege, o problema do terceiro
2001
craque Raí, que deixou os cam- setor é a sua falta de organiza- A construção de 3 mil mo-
pos de futebol para vestir exclu- ção. “Ele ainda é disperso.” radias num terreno do Depar-
sivamente a camisa da Funda- É justamente para otimizar tamento Estadual de Trânsi-
ção Gol de Letra, criada por atividades que foi criada a Re- to (Detran), na Avenida Pre-
ele. Na categoria empresa, novi- de Brasileira de Entidades Fi- sidente Wilson, é uma das
dade de 2000 do prêmio, ga- lantrópicas (Rebrat), com 300 prioridades da União de Nú-
nhou a indústria farmacêutica entidades. “Estamos pondo em cleos, Associações e Socieda-
Schering-Plough, pelo projeto funcionamento um portal na In- des de Moradores de Heliópo-
Criança é Vida, por meio do ternet (www.terceirosetor.org. lis e São João Clímaco
qual 80 funcionários transmi- br), como meio de mobiliza- (Unas). A primeira luta,
tem conhecimentos de sáude a ção”, afirma o empresário Ro- quando a prefeita eleita Mar-
crianças de creches da periferia gério Amato, presidente da Re- ta Súplicy (PT) assumir, vai
e suas famílias. brat. No portal, pessoas físicas ser pela desapropriação da
O aspecto educativo da atua- ou jurídicas vão poder ter infor- área.
ção espontânea das organiza- mações de experiências que de- “Temos ainda a proposta
ções não-governamentais rom- ram certo e trocar dados. “No de fazer uma vila olímpica
peu a barreira da filantropia. A ano que vem ela deve estar fun- Revitalização – com apoio de empresários como Antônio Ermírio de no estacionamento do Hospi-
sociedade também se organi- cionando a plena capacidade.” Moraes, o centro de SP, sobretudo a Praça Ramos, ganhou novo visual tal Heliópolis”, diz o secretá-
rio-geral da Unas, José Geral-

Marta aposta em parceria para erguer SP


do de Paula Pinto. “Mas nos-
so papel não é só cobrar dos
vários níveis de governo que
façam algo pela Favela Helió-
Algumas áreas públicas dezembro para melhorar o que Antonio Ermírio de Moraes, já o projeto Vida 2000, formado presários e governo. “Se cada polis – queremos ser parcei-
batizaram de Quartier Cultura mostrara como uma interferên- por entidades assistenciais, já um fizer o que estiver ao seu al- ros, fazendo casas em muti-
da cidade já servem Artística. Trata-se de uma área cia simples pode fazer a diferen- atua em oito bairros carentes. cance, a situação vai melhorar, rão, por exemplo”, afirma.
como laboratório para de 92 mil metros quadrados ça ao bancar a recuperação e a Em parceria com moradores, sem dúvida. Muita gente quer Outra proposta: em vez de
trabalho conjunto compreendida pelas Ruas Mar- instalação da nova iluminação as entidades promovem muti- ajudar. É preciso apenas um construir creches, que exi-
tins Fontes, Avanhandava, da Praça Ramos de Azevedo, rões e, graças a doações, cons- empurrãozinho”, disse. gem grandes investimentos,
Voluntários e a iniciativa pri- Consolação e João Guimarães ao lado do Teatro Municipal. troem praças e locais de entrete- Ermírio mandou limpar es- a Unas recomenda que sejam
vada também preocupam-se Rosa, incluindo a Nestor Pesta- Antes abandonado e fétido, o lo- nimento em áreas pertencentes te ano a Praça Ramos. O Gru- alugadas casas. “A Prefeitu-
com o estado de degradação so- na e a Martinho Prado, onde es- cal transformou-se em área de à Prefeitura. “Como a própria po Votorantim também inves- ra pode prover os recursos fir-
cial e urbana de São Paulo. A tão o Teatro Cultura Artística, lazer, com jardins floridos e se- comunidade ajuda, ninguém tiu na mudança da iluminação mando convênios com a asso-
prefeita eleita Marta Suplicy restaurantes e casas de shows. gurança mantida pela Votoran- destrói”, diz o idealizador do de sua sede, o antigo Hotel Es- ciação; a comunidade se en-
(PT) já disse várias vezes que Todo o dinheiro para resgatar a tim. O BankBoston também ga- projeto, Vanderlei Coelho. planada, situado no local. “Foi carrega de administrar.”
quer contar com parcerias para região da decadência sairá da rante a segurança no Vale do um ato pessoal nosso. Estamos Já faz isso com outra cre-
desenvolver projetos, de revitali- iniciativa privada. A remodela- Anhangabaú, onde até as fon- conservando a Praça Ramos e che na Rua da Mina, que de-
zação de bairros a cursos profis-
sionalizantes. Mas muitos cida-
ção inclui melhorias das calça-
das, paisagismo – até com va-
tes enfim funcionam e os cantei-
ros estão floridos.
2001 com isto a cidade ganha mais
uma área de lazer”, explicou o
ve ser reformada em outra
parceria com a iniciativa pri-
dãos e empresas já estão traba- sos suspensos em postes –, des- Outra carência, a falta de es- O superintendente do Grupo empresário. “Do jeito que esta- vada. Com isso, o número de
lhando por conta própria. poluição visual e a pintura de paços de lazer, que acaba resva- Votorantim, Antonio Ermírio va, não poderia continuar. A crianças atendidas passaria
Vinte empresas e entidades grandes painéis em fachadas e lando na violência, encontra de Moraes, acredita que, para Praça Ramos estava completa- de mil para dois mil. Segun-
preocupadas com a recupera- faces sem janelas de edifícios. apoio em voluntários da iniciati- avançar na recuperação do cen- mente abandonada. Sei que há do o secretário, várias dessas
ção do centro assinaram convê- No primeiro semestre, o Gru- va privada para sua solução. tro da cidade em 2001, é neces- outros empresários que podem propostas já foram entregues
nio com a Prefeitura em 13 de po Votorantim, do empresário Como foi mostrado em janeiro, sária uma ação conjunta de em- fazer o mesmo.” à equipe da prefeita eleita.
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000 O ESTADO DE S.PAULO - D5

TEATRO

Artes cênicas articulam-se como um setor social Lenise Pinheiro/Reprodução


A consciência coletiva
aspirando à
representação é dado
novo no fim do século
MARIANGELA ALVES DE LIMA
Especial Marcelo
Drummond
em ‘Boca de

A
s colunas do haver e do de-
ver da arte fecham quando Ouro’: obra
bem entendem. Assim na de Nélson
arte como na vida. Daqui a algum Rodrigues é
tempo – e um tempo impreciso – fundamental
poderemos olhar a distância este para nós
último ano do século e reconhe- como
cer a semente de alguma coisa no- Shakespeare
va ou a última floração de uma de- para os
terminada idéia do teatro. Além ingleses
disso,pensarumteatroem expan-
são incontrolável por esta gigan-
tesca malha urbana é tarefa im-
possível para um único observa-
dor. Ainda assim, formulamos hi-
póteses. Penso que quem quiser
compreender a função dessa anti-
quíssima arte neste final de século
deverásomaraoqueocorre nocir-
cuito profissional milhares de ou-
tros empreendimentos teatrais
que ocorrem neste exato momen-
to nas áreas mais pobres da cida-
dee alémdafronteira urbana,esti- J.F. Diório/AE
mulados pelas instituições liga- vo”, mas, antes, de uma consciên- compreensão da natureza multi-
das à Igreja Católica, pelas organi- cia coletiva aspirando à represen- facetada da linguagem cênica.
zações não governamentais de di- tação. Há aí muito pano para a Entre as muitas coisas boas do
versos matizes ideológicos e por manga do século vindouro. ano estão aqui referidas três
alguns projetos chapa branca co- Também o teatro profissional obras sinalizando a diversidade.
mooComunidadeSolidária.Infor- começa a articular-se como um Peça O grupo Teatro da Vertigem re-
mações que circulam por meio de setor social, oque é muito diferen- ‘Apocalipse’ pensou o texto sagrado em Apo-
instituições ligadas à área social te deuma mera associação corpo- foi encenada calipse 1,11 como um pungente
permitem concluir que nunca se rativista. Em 1990 ouviu-se, par- em presídio: e agressivo manifesto artístico
fez tanto teatro em comunidades tindo do posto mais alto do poder projetos contra as idealizações da realida-
pobres. Há um nível de pobreza público o sinistro mote: “Virem- teatrais de e a panacéia salvacionista. A
que torna o cinema impossível, o se.” A renúncia fiscal resumiria o saem dos Máquina, um espetáculo meio
acesso à cultura vínculo entre o cenários carioca e meio pernambucano
letrada um so- Estado e a produ- luxuosos e (de dupla nacionalidade porque
nho. Para quem
tem nada ou pou-
co,a simplicidade
É
PRECISO
ção artística pro-
fissional. Não era
preciso muita
dos espaços
‘confortáveis’
estamos tão afastados de outros
Estados que nos parecem países
estrangeiros) foi uma surpreen-
de meios do tea- CONSIDERAR imaginação para dente e atualíssima formalização
troé oúnico cami- adivinhar quais das dicotomias rural-urbano e ar-
nho expressivo. AS ONGS seriam os proje- caico-moderno, que inspiraram
Fazer teatro não é tos artísticos pri- reflexão e projetos para uma no- colocar o bloco na rua, os bons es- Marco Antonio Braz dava conti- boa parte da dramaturgia brasilei-
uma escolha, mas E A IGREJA vilegiados pelos va política cultural capitaneado petáculos produzidos este ano nuidade a um projeto a longo pra- ra dos anos sessenta. Rei Lear,
uma necessida- departamentos pelos grupos artísticos mais sóli- não conseguiram ficar em cartaz zode trabalhosobre a obrade Nél- produção dirigida por Ron Da-
de. Só um esforço de marketing: os dos da cidade e expandindo-se tempo suficiente para que o públi- sonRodrigues. Enfim, vistapor di- niels e capitaneada por Raul Cor-
cultural proporcionalmente gran- mais bobos, os que tivessem mais agora para outros centros de pro- co pudesse apreciá-los devida- ferentes ângulos, a obra do mais tez, proporcionou ao público a ex-
dioso, talvez com a contribuição lantejoulas, os que mais se asse- dução cultural. É um duro traba- mente. O Teatro Oficina, por importante dramaturgo brasileiro periência de uma obra clássica
das universidades (que por en- melhassem, em tradução tupini- lho conceitual porque o primeiro exemplo, encenou um comoven- valeparanósomesmoquevalepa- realizada por meio da compreen-
quanto têm se ocupado mais da quim, aos comerciais da Broa- passo não é o da criação de meca- te Boca de Ouro, acolheu uma di- ra os ingleses uma temporada são do texto, sem precisar recor-
teoria do que da pesquisa de cam- dway.Sempre secundados por ce- nismos de estímulo a um teatro reção de Cibele Forjaz de Toda shakespeariana em Stratford on rer aos enfeites que disfarçam, pe-
pona áreadacultura),poderáava- nários espalhafatosos, progra- realmente importante, mas a rein- Nudez Será Castigada e uma bre- Avon. São informações estéticas la originalidade, o medo reveren-
liarafeição estéticae afunçãoínti- mas escandalosamente coloridos trodução do conceito de polis na ve temporada de Os Sete Gati- fundamentais para os brasileiros. te do encenador diante de Sha-
ma desse teatro. e alojados em casas de espetácu- cabeça dura de um Estado que se nhos, dirigida por Vadim Nikitin. As instituições de ensino talvez kespeare. A vida cultural, não só
Mas é uma das coisas novas e lo“confortáveis”. A contra-ofensi- acredita um modesto gerente da Enquanto isso o Tapa encenava A não saibam disso. o teatro, precisa ser atravessada
diferentes deste final de século, va começa a firmar-se como um área comercial do País. Serpente, em um espetáculo nada E há também, está claro, obras pelo rio corrente da história. Do
porque não se trata, desta vez, de movimento denominado Arte Sem subvenção, com um apoio menos do que perfeito, e no Tea- pontuais cujo sentido singular lodo depositado na margem, bro-
ideólogos “conscientizando o po- contra a Barbárie, um grupo de financeiro suficiente apenas para tro de Arena o grupo dirigido por serve não a uma tendência, mas à ta o que nunca se viu antes.

DANÇA
Reprodução

Regionalização pode ser salvação


reduzida às Leis de Incentivo co- Basta conferir a trajetória de não foi acolhida, o que salienta a
Revitalização vem com moimpeditiva do desenvolvimen- companhias como o VilaDança injustiça sempre presente em
companhias de todo o to saudável das artes brasileiras. (Salvador), Verve (Campo Mou- qualquer escolha.
País, mas há sempre Apesar da torcida contra do go- rão), Gestus (Araraquara), Cia. Em São Paulo, o trabalho do
verno e de seus instrumentos de de Dança Balé de Rua (Uberlân- Centro Cultural São Paulo me-
carência de recursos distorção,adançabrasileiraconti- dia) ou o pólo de Fortaleza, com rece ser destacado. Em época
HELENA KATZ nuouflorescendo,graçasaoesfor- o Alpendre, a Bienal de Dança, o de encolhimento de oportunida-
Especial ço individual dos envolvidos na Andanças e o Colégio de Dança des, a sua programação vem
sua produção – situação da qual do Ceará. O futuro de tudo isso, funcionando como um oxigê-

A
dança não pode ir tão não devemos nos ufanar, pois se contudo, pode ser antevisto nas nio indispensável.
bem quanto devia e podia apóia exclusivamente em sacrifí- dificuldades que acometem o Ce- Nesse sentido é que a suspen-
num país que não lhe des- ciospessoais.Seráquecontinuare- na 11 (Florianópolis) e o Quasar são do Movimentos de Dança do
tina recursos e tampouco um pro- mos a contar com algo da impor- (Goiânia), dois exemplos de com- Sesc precisa ser lamentada. E as
jeto de política cultural. Aqui, um tânciadoTerçasdeDança,ativida- petência e talento injustamente quartas-feiras do Sesc Pinheiros,
festival da importância do Pano- de realizada pelo Estúdio Nova ameaçados por uma continuada que já conquistaram estabilidade
rama RioArte de Dança Contem- Dança, que há cinco anos escoa e ausência de recursos. Em Caxias pela pertinência da sua curado-
porânea corre o risco de ser inter- irriga a produção de ponta em São do Sul, sob a direção de Sigrid No- ria, devem ser estimuladas, bem
rompido porque o Ministério da Paulo? Ou será que o modelo que ra, a Cia. Munici- como o novíssi-
Cultura informa, depois dele ini- prevalecerá é o que o mercado pal se expande e moespaço das se-
ciado, que a irrisória verba de R$
60 mil que havia sido verbalmen-
te acordada não mais lhe será
aplica ao Ballet Stagium que, ini-
ciandoo seu30.º anodeatividades
permanentes com a melhor cria-
consolida, ates-
tando que grupos
oficiais podem
F ESTIVAIS
gundas, aberto
na Casa das Ro-
sas, com coorde-
destinada. Talvez esse seja o me- ção de Décio Otero em tempos re- burlaro velho mo- VÃO FORMAR nação de Lenira
lhor exemplo do tratamento des- centes (À Margem dos Trilhos), e delão e dar certo. Rangel. Quanto
respeitoso que a dança brasileira depois de haver modificado a dan- A gestão de He- EIXO ao eixo em torno
vem recebendo do Minc e a ele ça deste país, continua sem patro- lena Severo dian- do Estúdio Nova
podem ser acoplados vários ou- cínio integral, ao passo que seu va- te da Secretaria DISTRIBUIDOR Dança, com suas Competência – ‘Coreografia para Ouvir’, do Quasar, de
tros, como o da destinação da lorosotrabalhosocial contacoma Municipal de Cul- três companhias, Goiânia: qualidade ameaçada pela falta de incentivo
mesma quantia de R$ 60 mil do necessáriagarantiadesobrevivên- tura do Rio de Ja- merece muito
Fundo Nacional de Cultura para cia? Estaria ocorrendo, por parte neiro,queinstalouum apoioconti- mais do que têm recebido suas di- mo assim, todos continuam a de Pina Bausch, que aqui estréia,
a parte infantil do Festival de das empresas, uma alarmante mi- nuado a companhias de dança, retoras Tica Lemos, Christiane criar, domesticando o futuro em agosto, a nova produção que
Joinville (qual o critério? Quem gração de interesse do marketing que hoje somam 11, infelizmente Paoli-Quito e Adriana Grecchi, in- com a sua teimosia em resistir. faz de nós o seu tema.
decide que esta é a prioridade pa- cultural para o social? A atitude da não contaminou outros secretá- cansáveis no papel de produto- Quantoa 2001, parece trazer al- A grande novidade talvez este-
ra este tipo de verba?) ou a repeti- Shell poderia ser entendida como rios. O resultado pode ser aferido ras e difusoras de conhecimento. gumas poucas mudanças. Os dois ja no convite recebido pela Lia
ção da não realização da promes- um sintoma, quando anunciou no vigor da produção carioca, que O desamparo também vitima mais importantes festivais profis- Rodrigues Cia. de Dança, que, em
sa de um Projeto Cena Aberta me- queatrocadoseupioneiropatrocí- voltou a ocupar uma posição de artistas como Vera Sala, Helena sionais, o FID, de Belo Horizonte, setembro, será acolhida pela de
nos equivocado que o de 1998. nio do Grupo Corpo pelo de proje- destaquenoPaís.Companhias co- Bastos e Raul Rachou, João An- e o Panorama RioArte, do Rio de Maguy Marin para uma residên-
Como disse José Celso Marti- tos sociais se devia a uma mudan- mo as de Lia Rodrigues, Regina dreazzi, Marta Soares (recém- Janeiro, aproximarão as suas da- cia em Lyon, França. Se aqui não
nez Corrêa, em entrevista à revis- ça de objetivos? Miranda (que completou 20 contemplada com uma prestigio- tas para formar um eixo distribui- acontece, outros percebem e in-
ta Caros Amigos de setembro: Embora o tamanho do nosso anos), João Saldanha, Marcia Mi- sa bolsa Gugghenheim), Sandro dor, esforço ao qual também se vestem na nossa dança, como é o
“Esse é um ministério de repasse país continue funcionando mais lhazes, Carlota Portela, Rubens Borelli, Claudia de Souza, Maria- reunirá a Mostra Internacional do caso do governo francês, que des-
contábil de dinheiro público para como impedimento do que como Barbot, Paula Nestorov, Paulo na Muniz, Mario Nascimento, Lu Sesc São Paulo. Assim, atrações tinou 100 mil francos para esse
empresas.Elesimplesmente apro- o estímulo que deveria ser para a Caldas, João Carlos Ramos, An- Gontijo e Margô de Assis, Adria- como Boris Charmatz, este prati- projeto. Se a validade dos pedi-
va os projetos. Quem decide não é circulação da informação e con- drea Maciel e Renato Vieira, des- na Banana, Eva Schul, Frederico camente confirmado,poderãocir- dos para Papai Noel não vence na
quem faz a cultura.” Hoje, já há vo- seqüente consolidação de um frutam de um pequeno mas indis- Paredes e outros aqui nomeados cular pelas três capitais. O Kirov manhã seguinte, que o novo ano
lume suficiente de dados para mercado, há traços, aqui e ali, de pensável apoio. Infelizmente, a de como representantes de tantos Ballet e o Nederlands Dans Thea- inaugure novos pensamentos no
diagnosticar uma política cultural uma auspiciosa regionalização. Marcia Rubin, por exemplo, ainda outros na mesma situação. Mes- tre devem voltar ao Brasil, além comando da cultura brasileira.
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D6 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

LITERATURA
J.F. Diório/AE Rita Morais/Divulgação

Surpresa – O cineasta Pedro Almodóvar lançou o livro ‘Fogo nas Entranhas’, editora Viagem – Fernando Moraes continuou ajudando a entender o Brasil com o livro
Dante, num ano em que, na poesia, destacaram-se Manoel de Barros e Ferreira Gullar ‘Corações Sujos’, sobre os japoneses de São Paulo que não acreditavam no fim da Guerra

Diversificar foi a idéia fixa do mercado editorial


Essa perspectiva, com do ano, com estudos sobre Porto mera, Rocco. Houve a afirmação com uma edição impecável de O destacou a de Glenn Gould, Uma qualidade.
Alegre e o Rio de Janeiro; seja ain- nacional do paranaense Wilson Castelo. Vida eVariações,assinada por Ot- No 2001, teremos finalmente o
seus acertos e erros, da, e sobretudo, o filão dos best Bueno, com Meu tio Roseno a Ca- No campo dos ensaios e da re- to Friedrich, da Record. Uma ree- lançamentodo esperadoDicioná-
deve ser repetida no sellers em série, como os três vo- valo, Editora 34, e do suíço, radi- flexão crítica literária, o destaque dição importante, com o selo da rio Houaiss, pela Objetiva, pro-
próximo ano lumes de A Pedra da Luz, de cado em Londres, Alain de Bot- ficou para Inútil Poesia, de Leyla mesmaeditora, foi a do ensaio De- gramado para agosto, com duas
ChristianJacques, da Bertrand. Is- ton, com Nos Mínimos Detalhes, Perrone-Moisés, Companhia das vassos no Paraíso, de João Silvé- mil páginas e 220 mil verbetes,
JOSÉ CASTELLO so sem falar nos três volumes da Rocco. E ainda o lançamento de Letras. Um grande livro de entre- rio Trevisan. O livro de referência duas vezes as dimensões do con-
série Harry Potter assinados pela Fogo nas Entranhas, a novela do vista, Quatro Autores em Busca mais ambicioso talvez tenha sido sagrado Aurélio. A violência ínti-

A
diversificação, que muitas inglesa J. K. Rowling, da Rocco, premiado cineasta espanhol Pe- do Brasil, de José Geraldo Couto, o Dicionário Mulheres do Brasil, maseráo tema de dois ensaios po-
vezes se transformou em que venderam em oito meses, jun- dro Almodóvar, com o selo da pe- daRocco, reúneestupendas refle- organizado por Shuma Shumaher lêmicoscomo Sexo e Negócios, de
banalização, foi a grande tos, 500 mil exemplares no Brasil, quena Dantes. A xões sobre o país e Érico Vital Brazil, Jorge Zahar. É Shere Hite, e Assédio Moral, de
idéia fixa do mercado editorial e ao todo, perto de 67 milhões de Civilização Brasi- na fala de Juran- obrigatório citar ainda o novo li- Marie-France Hirigoyen, ambos
brasileiro no ano 2000, perspecti-
va que, com suas qualidades e de-
feitos, serve de pista para o que vi-
exemplares em todo o mundo.
Destacaram-se, também, as anto-
logias, sendo a mais celebrada de-
leira prosseguiu
em seu esforço de
recuperação da
N O ANO
dir Freire Costa,
José Murilo de
Carvalho, Renato
vro de Fernando Moraes, Cora-
ções Sujos, Companhia das Le-
tras, e o estudo de John Cor-
prometidos pela Bertrand. Vem aí
também o primeiro romance de
Rubens Figueiredo, Barco a Seco,
rá no próximo milênio. Vendeu- las, sem dúvida, a estupenda Cem obradeLúcio Car- QUE VEM SAI Janine Ribeiro e mwell, O Papa de Hitler, sobre o pela Companhia das Letras, que
se muito gato por lebre, é verda- Melhores Contos Brasileiros do doso, com O Des- Roberto Damat- polêmico pontificado de Pio XII, também lançará A Carta Histéri-
de, e o leitor se viu afogado mui- Século, organizadapelocrítico Íta- conhecido, e tam- O ‘DICIONÁRIO ta, quatro de nos- Imago. Mais ainda lembrar do no- ca, de Arturo Perez Reverti. Na
tas vezes num circuito de lança- lo Moriconi para a Objetiva. bém foi responsá- sos mais destaca- vo livrode Paulo Coelho,O Demô- área das biografias, a grande pro-
mentos desordenados que nem Na área da ficção, o grande lan- vel pelo grande HOUAISS’ dos pensadores. nio e a Srta. Prym, Objetiva, con- messa é O Arquiteto do Impossí-
mesmo os mais atentos puderam çamento nacional foi, sem dúvi- lançamento do Outro importan- siderado mesmo por seus desafe- vel, relato da vida do presidente
digerir. da, o magnífico romance Dois Ir- ano no campo da te ensaio lançado tos como seu melhor romance e Juscelino Kubitscheki, assinada
Porisso, se destacaram, em pri- mãos, de Milton Hatoum, pela poesia, Ensaios Fotográficos, de em 2000 foi Freud: Conflito e Cul- que já bateu a casa dos 250 mil por Cláudio Bojunga para a Obje-
meiro lugar, as coleções, que têm Companhia das Letras, editora Manoel de Barros; sendo obriga- tura, coletânea de estudos organi- exemplares vendidos. Mas as tiva. A Jorge Zahar anuncia ainda
a vantagem de oferecer ao leitor responsável também pelo princi- tório citar ainda, nessa área, a edi- zada por Michael S. Roth, reunin- grandes vitoriosas no ano 2000 fo- O Circo Eletrônico, o esperado li-
uma certa ordem. Seja a Literatu- pal título de ficção estrangeira, A ção de Toda a Poesia, de Ferreira do ensaios, entre outros, de Peter ram, provavelmente, as editoras vro sobre a televisão brasileira de
ra e Morte, da Companhia das Le- Caverna, de José Saramago. Tive- Gullar,pela JoséOlympio. Inevitá- Gay, Harold Bloom e Oliver Sa- universitárias, à frente delas as da Daniel Filho. No que diz respeito
tras, com os excelentes livros de mosboas revelações, como o apa- vel registrar também a reedição chs, acompanhado por uma gran- USP e da Unesp, que se expandi- aos clássicos brasileiros, a Ar-
Moacir Scliar sobre Kafka e de recimento dos gaúchos Altair da obra de Frans Kafka, que vem de exposição sobre o criador da ram, sofisticaram seus produtos tium promete para 2001 a Obra
Bernardo Carvalho sobre Sade; Martins, autor de Como se Moesse sendo traduzida por Modesto Ca- psicanálise em São Paulo que, em e, assim, saltaram os muros da Reunida de Lima Barreto, organi-
seja a coleção Metrópoles, que a Ferro, da WS Editor, e Max Mall- rone para a Companhia das Le- 2001, chega ao Rio. academia, conquistando o gran- zada por Beatriz Resende e Ra-
Record começou a lançar no fim mann, autor de Síndrome de Qui- tras, que nos brindou, esse ano, Entre as grandes biografias se de público com ensaios de grande chel Valença.

TELEVISÃO

Dias melhores poderão vir para a TV em 2001


Medidas para conter prendas domésticas pôde douto- camisados no Programa do Rati- Com exceção da novela de Ma- do Descobrimento. Além de
O SBT apostou no humor mais
rar-se na bisbilhotice da vida dos nho apresentaram-se como uma noel Carlos (que avançou o sinal acharumlugaradequado(Fantás-
famíliadeGoreteMilagres–ÔCoi-
‘abusos’ têm o mérito famosos. As fofocas, antes restri- alternativaparale- do bom compor- tico) para o talento cômico de De-
tado –, mas não conseguiu segu-
de discutir a qualidade tas a publicações impressas, ga- vantar o Ibope da tamento nas alco- nise Fraga, estourou com o reality
raraondaquandoosíndices deau-
da programação
LEILA REIS
nharam uma importância tão
grande que passaram a disputar
tempo com a preparação de tor-
tarde. E as revis-
tas foram fundo:
NoteAnote(Re-
FOFOCAS
vas e estreba-
rias), poucas ou-
sadias foram co-
show No Limite. Com isso, aca-
diência não responderam à altu-
bou aprendendo uma lição: quan-
ra. O resultado foi que o bom elen-
dooespectadormédiosevêrepre-
co ganhou o olho da rua antes do
Especial tasedocinhos nosprogramas ves- cord), Mulheres GANHARAM metidas pela TV. sentado de uma maneira heróica
fimdoano,deixandocomúnicaal-
pertinos. (Gazeta) , A Casa Entre as raras, es- – comoforam os sobreviventesda
ternativapara opúblico do SBT as
LUGAR DE
P
or caminhos transversos, o Nesse quesito, a movimenta- é Sua (Rede TV!) tá o investimento PraiadosAnjos–elegostaepresti-
piadashardcore doAPraçaéNos-
ano2000 na TV,anunciada- ção cresceu devido a denúncias tesouraram a vida da TV Cultura em gia. O sucesso de No Limite, cla-
sa.
mente morno por causa contra pagodeiros resistentes em de Deus e o mun- DESTAQUE um jornalismo ro,acabouestimulandooutros ca-
A Globo começou bem o ano
dasefemérides–olimpíadaseelei- assumir a paternidade de crian- do do showbiz. mais dinâmico e, nais, como a Bandeirantes, com
comapremiadaAMuralha,minis-
ções – ficou quente, nos últimos ças e a pagar pensão para as ex, Leão Lobo, além do ponto de vista desalinhavado Território Livre.
série escrita por Maria Adelaide
meses. E não foi pela inovação, que decidiram lavar a roupa suja de partnerdiário de MárciaGolds- formal, menos engessado do que Mas isso é comum na TV, em que
Amarale dirigidapor DeniseSara-
mas pela intervenção desastrada em público. De certa maneira, os midt, ganhou mais uma sessão se- os telejornais exibidos pelas ou- as experiências bem sucedidas
ceni, que junto com A Invenção
de um juiz carioca que jogou a no- pedidos de exame de DNA gera- manal na Gazeta – Arroz, Feijão e tras redes – Diário Paulista, por no Ibope são inevitavelmente clo-
do Brasil, de Guel Arraes e Jorge
veladas8 paraas 9 e proibiu a apa- dosnobate-bocanoturnodosdes- Fofoca, aos sábados. exemplo. nadas na vizinhança.
Furtado, comemorou os 500 Anos
rição de atores menores de idade Divulgação Divulgação Com exceção de talentos isola-
em Laços de Família, por causa dos – como o de Adriane Galisteu,
das cenas com excesso de pimen- MarcosMion e JoãoGordo, que se
ta. revelaram bons apresentadores –
A confusão provocada pelas este ano a TV não produziu qual-
medidas judiciais e sua repercus- quer fenômeno capaz de abalar o
são – notícias indignadas no Jor- reinado de ninguém.
nal Nacional, protestos dos artis- Mesmo assim é possível ser oti-
tas e da entidade que representa mista com relação ao futuro. Para
as emissoras – deu uma chacoa- não errar, a Globo começa o ano
lhada na massa telespectadora como os anteriores: pondo no ar
que, pela primeira vez, passou a talvez a sua produção maissofisti-
discutir a qualidade da programa- cadados últimos tempos. A minis-
ção que entra em sua casa, porque série Os Maias, uma adaptação
sentiu efeitos no vídeo: uma nove- de Maria Adelaide Amaral do clás-
la sem crianças e a discussão do sico de Eça de Queiroz. Com elen-
veto nos canais concorrentes, co de 52 componentes, inúmeras
aliás, em vários. Afinal, em 2000, o locações em Portugal, direção de
colunismodeTVpassoua serape- Luiz Fernando Carvalho e atores
ça de resistência dos programas doprimeiro escalão,Os Maias en-
femininos. tra no ar no dia 9 de janeiro, ani-
A espectadora, tratada como mando um pouco o marasmo de
rainha do lar por todos os canais reprisesquetomacontadaprogra-
que investem no universo das mu- Pico – A Globo acertou em cheio com ‘No Limite’, que fez Revelações – Adriane Galisteu, Marcos Mion e João mação nos meses que antecedem
lheres, além de aprofundar-se nas com que o espectador médio se visse representado na tela Gordo mostraram talento na apresentação de programas o carnaval.
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000 O ESTADO DE S.PAULO - D7

MPB

Música brasileira chegou à idade da memória Reprodução Reprodução


Projetos de resgate e sem apelo à lei de renúncia fiscal.
Há outros inúmeros e valiosos
atuação de gravadoras projetos individuais, como o do
independentes fogem violeiro Roberto Corrêa, que vem
dos vícios do mercado realizando o levantamento da mú-
sica do entorno do Distrito Fede-
MAURO DIAS ral.
Esforço solitário foi o do biólo-

O
s resgates, de obras e gê- go Omar Jubran, que, ao longo de
neros, marcaram o ano 15 anos, colecionou os discos (de
que acaba. Algumas ini- 78 rotações por minuto) com as
ciativas são espantosas: num primeiras gravações das músicas
mercado fonográfico como o nos- de Noel Rosa. Com o auxílio fi-
so, orientado exclusivamente pe- nanceiro de outros apaixonados,
las leis de um mercado viciado, muniu-se de computador e fil-
conduzido pelo poder econômi- trou digitalmente as gravações,
co, quem poderia pensar na cria- eliminando os estalos e barulhos,
ção de uma gravadora exclusiva- melhorando o som. A Funarte e a
mente dedicada ao choro? gravadora Velas encarregaram-
Pois aconteceu. Foi fundada, se de pôr nas lojas a caixa Noel Pe-
no Rio, berço do gênero, a Acari la Primeira Vez, com os 229 pri-
Records, gerenciada pelo violo- meiros registros da noeliana.
nista Maurício Carrilho e pela ca- O Itaú Cultural e a gravadora
vaquinhista Luciana Rabello. Em Atração resgataram o acervo fo-
seus poucos meses de existên- nográfico da Funarte, títulos ra-
cia, a Acari editou preciosidades ríssimos de uma coleção que esta-
– como os solos de Luciana e va fadada a desaparecer; por ini-
Maurício (esse, com o CD que le- ciativa dos herdeiros de Irineu
va seu nome, fez o melhor disco Garcia, estão chegando ao CD os
instrumental da década), promo- discos da gravadora Festa, selo
vendo solos de estréia de vetera- independente dos anos 50, de pé-
nos tão geniais quanto desconhe- rolas como as primeiras grava-
cidos, como Índio do Cavaqui- ções das canções camerísticas
nho – e assim por diante. de Tom Jobim e Vinícius de Mo-
Para os próximos meses, a Aca- rais, poesia de Drummond, Ban-
ri promete, entre raridades, um deira e Cabral, entre outros, dita
CD com canções inéditas de Ra- pelos autores...
fael Rabello, com letras de Paulo O Itaú Cultural lançou seu pró-
César Pinheiro, gravadas ao vivo, prio projeto de mapeamento das
ao longo de vários anos, em mui- músicas regionais, nomeando
tos shows em que o violonista equipes de curadores com atua-
acompanhava a irmã cantora, Raridades – As primeiras gravações das músicas de Noel Rosa foram recuperadas pelo biólogo Omar Jubran, que trabalhou ção nas áreas específicas e garan-
Amélia. 15 anos para recolher os discos de 78 rotações; as músicas de Caymmi, em sua voz, estão reunidas em caixa de sete CDs tindo a edição de discos, progra-
Firmou-se no mercado alterna- mas de rádio, um site na Internet
tivo – entenda-se, aquele que não que funciona entre o Rio e São pela BMG. Ou a edição, pela EMI, em gravações de estréia (como O mente na análise teórica do mate- e assim por diante.
leva em contra os parâmetros co- Paulo, prepara solos de Guilher- da obra quase completa de Caym- QueÉ Que a Baiana Tem?, em re- rial coligido). E o Sesc São Paulo, cuja impor-
merciais imediatistas – como a me de Brito e Casquinha, para fa- mi, na voz do autor. gistro de 1939, na voz de de Car- Bem melhor do que esse traba- tância para cultura nunca é de-
maisimportante gravadora nacio- lar só em dois dos maiores com- Este é um caso mesmo espe- mem Miranda, em dueto com o lho é o que está sendo realizado mais exaltar, promove a transcri-
nal a CPC-Umes, de São Paulo, positores da história do samba. cial. O compositor autor). pelo Instituto de Radiodifusão ção para CD e livro dos progra-
de compromisso assinado unica- Da grande indústria, pouco se Dorival Caymmi A Abril Mu- Educativa da Bahia (Irdeb), sob mas Ensaio, da TV Cultura – en-
mente com a qualidade e linha de
ação diversificada, atuando no
samba, no choro, no forró, na tra-
pode falar de bom. Os nomes no-
vos que ela pôs na praça são clo-
nes dos nomes que pôs na praça
sempre foi seu
maior intérprete.
Para a EMI, gravou
B AHIA
sic, selo novo
mas poderoso,
editou o pacote
o título de Bahia, Singular e Plu-
ral. Equipes viajaram por todos
os municípios baianos, registran-
trevistas e musicais com os no-
mes que fizeram e fazem a histó-
ria da música brasileira.
dição popular de partes diversas nos anos anteriores. E, natural- 12 elepês, a partir RECOLHE Música do Bra- do em áudio e vídeo as manifesta- Iniciativas assim parecem
do País, na música instrumental, mente, os nomes que já estavam de 1954, poucos de- sil – quatro dis- ções locais da cultura popular. apontar para o momento em que
no resgate de memória. na praça nos anos anteriores clo- les reeditados, ne- FALAS DE SEU cos, um livro lu- Os programas já foram mostra- passaremos a ter memória. Falta,
Outros selos de igual valor vão naram-se, eles mesmos, em dis- nhum hoje em catá- xuoso, uma sé- das nas televisões educativas da no entanto, resolver questões gra-
aumentando seu poder de fogo: a cos ditos novos. Novos? logo. Pois bem, os INTERIOR rie de TV. É um Bahia e de São Paulo. O plano da víssimas, como as da divulgação
Jam Music, com um olhar para o Mas, ainda assim, a indústria 12 discos foram mapeamento obra prevê a edição de seis CDs. e distribuição desse tipo de traba-
pop articulado (vide de Bena Lo- prestou bons serviços, enquadra- agrupados em seis dasmúsicas po- Quatro já foram lançados. lho. A Internet, as rádios comuni-
bo) e outro no samba tradicional dos, estes, no capítulo dos “proje- CDs e reunidos na caixa Caym- pulares das diversas regiões do Em Alagoas teve início outro tárias e outros canais que estão
do Rio (caso do disco de Christi- tos especiais”. É o caso da caixa mi Amor e Mar, que traz ainda País, trabalho de vulto e impor- projeto importante – Das Lagoas surgindo parecem ser a saída. Es-
na Buarque de Holanda cantando (com três CDs) de Jacó do Bando- um sétimo disco, colecionando tância, sem dúvida, embora com – de registro da cultura popular, sa é uma questão para o próximo
Wilson Batista). A Lua Discos, lim, lançada agora, no fim do ano, outras músicas do compositor equívocos conceituais (principal- bancado pela iniciativa privada, século.

MÚSICA CLÁSSICA
Marcos Mendes/AE Heloísa Bortz/Divulgação

O maestro
John Exibição da
Neschling ‘Cavalleria/
rege a Osesp Pagliacci’,
às vésperas no Teatro
da Alfa (E),
inauguração compensou
da Sala São os
Paulo, espetáculos
construída irregulares
na antiga do ponto de
estação de vista da
trens Júlio montagem,
Prestes como ‘O
Guarani’

Osesp foi o melhor da temporada erudita


Orquestra Estadual nias de Mahler e Shostakovitch, xão Segundo São João, recitais sações: boas regências e, nos tremamente bem escrita não foi são ao vivo, pela Rádio Cultura,
poemas sinfônicos e ciclos de como os do cravista Ilton Wjus- elencos, interpretações gratifi- vista por um público tão amplo toda tarde de sábado, da tempora-
deu relevo à música canções de Strauss e Wagner pro- nik e lançamentos de discos co- cantes: o Cherubino de Denise de quanto merecia. Mas o prêmio da do Metropolitan Opera House,
nacional e mostrou varam que é no grande acervo da mo Um Cravo Bem Variado, de Freitas; a Santuzza de Céline Im- que recebeu da APCA foi o reco- sempre com os comentários de
repertório inédito música instrumental dos séculos Regina Schlochauer, que incluiu bert; a Mamma Lucia de Denise nhecimento de sua qualidade. convidados. O resultado foi tão
19 e 20 que está a vocação dos excelentes interpretações do Sartori; o Sílvio de Paulo Szott; o Importante foi também a es- positivo que a emissora já está re-
LAURO MACHADO COELHO músicos que se apresentam na Concerto Italia- Prólogo de Sebas- tréia, em julho, do Concerto pa- petindo a dose: no dia 9, iniciou,
Especial Sala São Paulo. E o recém-anun- no e da Partita tião Teixeira. ra Computador e Orquestra, de com O Cavaleiro da Rosa, de Ri-
ciado programa para 2001 de- BWV 831.
O USADIA
Entre as ópe- Rodolfo Coelho de Souza. Obra chard Strauss, a empreitada de

A
nunciada desde o final de monstra que a Estadual não pre- Quanto à músi- ras, também, al- pioneira, pois se tem notícia de trazer para seus ouvintes os espe-
1999 e realizada quase tende deixar a peteca cair. ca lírica, o ponto gumas boas sur- peças escritas para computador táculos do principal teatro de ópe-
sem falhas, a programa- A Osesp destacou-se até mes- mais alto foi a Lu- MARCOU O presas:duas mon- e conjunto de câmara, mas não ra de Nova York. Quem ouviu, re-
ção da Osesp foi o ponto alto na mo num ano de grandes atra- cia di Lammer- tagens corretas com acompanhamento de gran- centemente, o magnífico Navio
vida musical da cidade em 2000. ções internacionais, em que a ci- moor, no Munici- TRABALHO DE de Valter Neiva: de orquestra, esse concerto foi Fantasma regido pelo russo Va-
Além de obras de grande porte – dade viu a Filarmônica de Ber- pal, com June An- Pedro Malazar- executado pelo autor, com a Or- liery Guerguiev, teve uma idéia
a Missa Solemnis, de Beetho- lim, o Quarteto Alban Berg, os be- derson e Frank JAMIL MALUF te, de Camargo questra Experimental de Reper- do que pode esperar em 2001.
ven, as Estações, de Haydn, o líssimos recitais de lieder de Mat- Lopardo; o que Guarnieri, no tório, cujo regente, Jamil Maluf, Além disso, a presença de or-
War Requiem, de Britten – e do thias Görner, dose dupla de Ba- mais deixou a de- São Pedro, e O sempre mantém seus músicos questras como as Filarmônicas
relevo dado à música nacional, renboim ao piano e regendo a Or- sejar foi O Guarani, do Teatro Al- Barbeiro de Sevilha trazido de abertos a todo tipo de experi- de Israel e Nova York, de maes-
passada em revista na série Cria- questra de Chicago, além de fa, irregular do ponto de vista da Santo André. E principalmente mentação (uma delas foi, neste tros como Riccardo Muti, a mon-
dores do Brasil, a Orquestra Esta- bons concertos com as sinfôni- montagem e do elenco. Monta- Domitila, ópera de câmara do ca- final de ano, ter tocado lado a la- tagem de óperas de Giuseppe Ver-
dual ofereceu concertos sempre cas de Praga e Colônia. O Ano Ba- gens discutíveis, como a das Bo- rioca João Guilherme Ripper, do com Wynton Marsalis e sua or- di no ano em que se lembram os
estimulantes do ponto de vista ch foi comemorado condigna- das de Fígaro, no Teatro São Pe- cantada por Ruth Staerke e mon- questra de jazz). cem anos de sua morte, dão indí-
do ineditismo do repertório e da mente, com boas interpretações dro, ou a da Cavalleria/Pagliac- tada por André Heller. Infeliz- E não nos esqueçamos de men- cios de que, em 2001, a qualidade
qualidade dos intérpretes. Sinfo- da Missa em Si Menor e da Pai- ci, no Alfa, ofereceram compen- mente, essa peça de música ex- cionar a festa que foi a transmis- deve, pelo menos, manter-se.
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D8 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

POP

Motivos pelos quais o ano valeu e não valeu a pena Divulgação


Eminem, Kid Rock, shows memoráveis no Rio e em
São Paulo;
Napster, Britney, 5. O guitarrista Carlos Santana
Marky, Sonic Youth e ganha nove prêmios Grammy
Madonna no altar como bom álbum Supernatural e
– 30 anos depois de sua célebre
JOTABÊ MEDEIROS apresentação em Woodstock –
torna-se o primeiro artista latino a

N
uma medição estrita- alcançar destaque ímpar dentro
mente estatística, lógi- do fechado mercado da música
ca, matemática, o ano norte-americana;
2000 não deixa grande saldo pa- 6. O filme X-Men, baseado no
ra o mundo pop. O esgotamen- maisvendidogibidoplaneta,mos-
to de fórmulas e as repetições tra como se pode fazer com talen-
marcaram a temporada. Da sé- to e imaginação uma boa adapta-
rie “por que o ano 2000 não vai Entre ção dos comics, algo que há muito
deixar saudade”, segue uma pe- virginal e não se conseguia;
quena lista de argumentos: apimentada, 7. As peças A Vida É Cheia de
★ a cantora Som e Fúria, de Felipe Hirsh (ba-
1. No Brasil, o pop rock foi mar- Britney seada no livro Alta Ansiedade, de
cado pela volta dos que não fo- Spears Nick Hornby) e A Vida não Vale
ram:CapitalInicial,KikoZambian- destacou-se um Chevrolet, de Mário Bortolot-
chi, Ira! e outros fantasmas; na to,saldamumavelhadívidadotea-
2. No mundo, viveu-se a explo- enxurrada tropara coma culturapopeossig-
são das teen-bands e dos rappers de atrações nos da contemporaneidade;
farsescos, como Five, ‘N Sync, teen da 8. O paulistano Marco Antonio
Christina Aguilera, Westqualquer temporada da Silva, o Marky Mark, de 27
coisa, Eminem e Kid Rock; deles, anos, que começou animando fes-
acantoraBritneySpears, entrevir- tas nas danceterias Sound Fac-
ginaleapimentada,parecesobres- tory e Toco, na zona leste, torna-
sair-se com mais destaque; se o mais badalado DJ brasileiro
3. Em junho, um dos maiores na cena dos clubes europeus, e to-
festivais de rock da Europa termi- ca até na República Checa;
na em tragédia, o Roskilde Festi- 9. São lançadas três caixas de
val,na Dinamarca, comnove mor- discos que valem um inventário
tes (relatório concluído na sema- do rock no século inteiro. A pri-
na passada mostra que uma das meira é Box of Pearls – The Janis
causas foi a parca qualidade do Joplin Collection, que reúne to-
som,quecausouosprimeirospro- Beatles Anthology, escrita presu- nhos Carl Barks, de 99 anos, que pouco criteriosa, baseada em portáveis Spice Girls; no Brasil, os dos os CDs da cantora texana Ja-
testos e o conseqüente tumulto); mivelmente para contar “a histó- deu vida aos personagens Pato princípios meramente subjeti- pagodeiros de laboratório atin- nis Joplin, mas o CD-bônus Rare
4. Em julho, o maior revés já so- ria dos quatro fantásticos em Donald e Tio Patinhas, de Disney. vos, conheça outra pequena sé- gem a saturação e vêem suas ven- Pearls.Asegundaé TheJimiHen-
frido pela onipotente indústria fo- suas próprias palavras”, e que 9. E o ano culmina com o anti- rie de motivos que fizeram o últi- das de discos caírem vertiginosa- drix Experience, contendo qua-
nográfica (o sistema Napster de não conta nada além do já sabi- climático casa- mo ano do sécu- mente; tro CDs de Jimi Hendrix
rastreioetrocademúsicaspela In- do; no fim do ano, porém, no re- mento de Madon- lo valer a pena: 3. O Instituto Moreira Salles re- (1942-1970),o maiordos guitarris-
ternet) é tirado da rede por deci-
são judicial.
5. O estádio de Wembley, cená-
lançamento de seu disco All
Things Must Pass, George Harri-
son vai um pouco adiante e quei-
na e Guy Ritchie:
não queremos vo-
cês por perto,
P AGODE
1. No Brasil, a
febre revisitado-
ra trouxe de volta
lança, em abril, o livro Paranóia,
de Roberto Piva, editado original-
mente em 1963 e um elo entre a
tas, morto há 30 anos. E a terceira
foi Bowie at the Beeb, lançada na
Inglaterra pela Virgin Records e
rio de partidas memoráveis de fu- xa-se de ter sido pouco valoriza- mas também não SATURA E VÊ à pauta do dia a poesia brasileira e a beat genera- que reúne gravações do camaleão
tebol e de shows históricos, vive do no auge do quarteto. os queremos lon- maravilhosa ban- tion, um livro que recupera a pri- Bowie realizadas entre maio de
seu derradeiro jogo em outubro e 7. No final de outubro, o Naps- ge, dizem os as- SUAS VENDAS da dos anos 80 meira ambição de descrever a 1968 e maio de 1972.
sai de cena para sempre; oportu- ter trai seu princípio libertário e tros-pombinhos Fellini,que,redes- “paisagem de morfina” de São 10.O cartunistapaulistano Lou-
nistas como sempre, os irmãos alia-se à empresa alemã Bertesl- à “asquerosa” mí- CAÍREM coberta, tocou no Paulo e que conecta a linguagem renço Mutarelli lança o álbum O
Gallagher, do Oasis, registram lá mann, gestora da gravadora BMG dia que os perse- Abril Pro-Rock e da metrópole com o som do jazz Rei do Ponto, segunda parte de
uma das últimas boas apresenta- que, em seguida, associa-se com gue. A ex-mate- teve seu disco de Coltrane e Miles Davis; sua trilogia sobre o detetive Dio-
ções de rock no álbum Familiar outra gigante, EMI. O que era de rial girl agora é uma zelosa mãe Amor Louco relançado; 4. O Free Jazz Festival enfim medes, e põe os quadrinhos brasi-
to Millions, recém-lançado; graça passará a ser cobrado. de família. 2. O mundo teen acordou de trouxe ao Brasil o patrimônio do leiros num nível jamais alcançado
6. Os Beatles ainda não con- 8. Morre nos Estados Unidos o ■ sua histórica letargia e ignorou so- rock alternativo, a banda nova- emrelaçãoàprodução internacio-
tam tudo. Sai a megabiografia veterano desenhista de quadri- Agora, numa medição nem um lenemente o novo disco das insu- iorquina Sonic Youth, que fez nal.

VISUAIS
Divulgação

Uma arte em busca de suas raízes Reprodução


Leituras históricas trouxe à baila uma série de ques-
tões relevantes, que deverão in-
e revalorização da fluir por algum tempo na maneira
gravura brasileira de se pensar o passado e o futuro
deram o tom da agenda das artes plásticas no País.
Para retirar as lições positivas
MARIA HIRSZMAN do megaevento, é necessário pa-
rar de pensá-lo como um bloco

E
ste foi um ano que olhou único e coeso – o que só faz au-
para trás, investigando o mentar a megalomania daqueles
passadona tentativa de es- que confundem quantidade com
tabelecer um perfil, mesmo que qualidade – para destacar dois as-
multifacetado, da arte no Brasil. pectos importantes desse proje-
As comemorações em torno dos to: a relevância indiscutível da ar-
500 anos de descobrimento do te marginalizada dos negros, ín-
Brasil pautaram em grande medi- dios e loucos e a reafirmação de
da as atividadesligadas às artes vi- uma visão histórica mais ampla,
suais, consumindo boa parte dos que recoloca a importância do sé-
recursos e atraindo a atenção das culo 19 na definição da identida-
instituições, produtores culturais de nacional.
e, porque não, de uma parcela sig- Com efoques absolutamente
nificativa do público. particulares, as exposições que
Mestre – Obra de Goeldi, um dos papas da gravura nacional
Indiscutivelmente, a polêmica constituíram o corpo da Mostra
exibida no MAM, que mostrou o expressionismo alemão
Mostra do Redescobrimento, do Redescobrimento merecem
com suas cifras astronômicas ser vistas de maneira individuali- foram apresentados resumos da tes plásticas, a exposição de
(um custo de US$ 24,5 milhões e zada. Se algumas exposições ga- obra de artistas de grande impor- obras expressionistas cedidas pe-
um público de 1,9 nham ainda mais tância, quer histórica quer con- lomuseude Wuppertal, na Alema-
milhão de pes- relevosobesteen- temporânea. Entre os que foram nha. Após um longo período em
soas) ocupou o
centro das aten-
ções. Essa nova
S ÉCULO 19
foque (é o caso,
por exemplo, do
módulo indígena,
agraciadoscom belas retrospecti-
vas estão Ismael Nery, Di Caval-
canti (arte sobre papel), Guig-
que as atrações internacionais se
constituiam no grande chamativo
da programação, o circuito pare-
maneira de admi- ESTÁ do núcleo de arte nard, José Pancetti (que chega a ce estar dando cada vez mais va-
nistrar a cultura popular e da mos- São Paulo no próximo ano, pro- lor à produção nacional, o que
teve seus efeitos SENDO traImagensdoIn- metendo ser um dos destaques de também se faz sentir tanto no im-
sobre a Fundação consciente), ou- 2001), Abraham Palatnik, Cildo pressionante aumento no núme-
BienaldeSãoPau- REDESCOBERTO tras perdem bri- Meireles e até Arthur Barrio. ro de títulos dedicados a estudar e Excluídos – Retrato de baiana, um dos destaques da Bienal
lo, que sofreu lho. Coincidente- Outro viés importante da pro- divulgara artebrasileira(comdes- dos 500 anos que mostrou a arte dos negros, índios e loucos
uma de suas pio- mente, os nú- gramação desse último ano do sé- taquepara otrabalhoque vemsen-
res crises. Sob a sombra da Mos- cleos dedicados à arte barroca culo foi a importância indiscutí- do desenvolvido pela editora Co- lor recorde de US$ 800 mil em lei- confirmados para 2001, como a
tra dos 500 anos, a direção da fun- (que se destacou na mídia e junto vel dada à gravura. Nos últimos sac&Naifiy),quantopela crescen- lão realizado no final de novem- continuação da itinerância da re-
dação adiou a Bienal para 2002 ao grande público em decorrên- meses do ano, grandes institui- te participação de artistas con- bro na Christie’s– preço que sur- trospectiva de Pancetti, da mos-
sem consultar o curador Ivo Mes- cia de uma sedutora cenografia, ções culturais de São Paulo se de- temporâneos brasileiros no bada- preendeu muitos especialistas já tra organizada para comemorar
quita, abrindo uma longa crise que ofuscou o que poderia haver bruçaram sobre o tema, trazendo ladocircuitointer- que se trata de os 50 anos da Bienal de São Paulo
que culminou com a demissão de de relevante na leitura curatorial à tona a qualidade surpreendente nacional. Artistas uma obra menor prevista para maio e de algumas
Mesquita e a renúncia do presi- proposta) ou às produções mo-
dente do Conselho, Luiz Seraphi- derna e contemporânea sairam
co, e de vários conselheiros que perdendo.
da produção gráfica nacional, de
ontem e hoje: o Museu de Arte
Contemporânea realizou a mos-
ainda jovens, co-
mo Sandra Cinto,
Ernesto Neto, Ro-
E
M 2001,
do pintor moder- exposições internacionais já pro-
nista – é apenas gramadas (como as exposições
um sinal deque se de arte egípcia e da mostra Ouro
discordaram da forma como as Coma excessão de algumasini- tra O Papel da Arte, o Itaú Cultu- chelle Costi e Iran A BIENAL mantémoproces- da Colômbia, programadas pelo
coisas foram encaminhadas pelo ciativasvoltadas para ofuturo, co- ral exibe Investigações: A Gravu- do Espírito Santo so de valorização Masp), não está prevista a realiza-
presidente da Fundação, Carlos mo o bem-sucedido projeto Ru- ra Brasileira e o Museu de Arte vêm conquistado COMPLETA crescente dos ção de nenhum grande evento. O
Bratke. mos Visuais, do Itaú Cultural, que Moderna expôs uma seleção im- espaço nos Esta- grandes nomes que talvez seja uma grande vanta-
Deixando de lado as críticas divulgou o que vem sendo produ- pressionante de obras dos três dosUnidose,prin- 50 ANOS da arte brasileira. geme um sinal de amadurecimen-
que se poderia fazer ao modelo do zido de novo e de relevante nos grandes mestres da gravura brasi- cipalmente, na Ainda é cedo to. Sem uma força centrífuga que
megaevento,queprivilegia o gran- quatro cantos do País, ou da Tem- leira, Goeldi, Lívio Abramo, e La- Europa. para que se tenha trague interesses dos mais distin-
dioso e o espetacular – em detri- porada de Projetos do Paço das sar Segall. No segmento histórico as coi- uma visão clara de como será a tos planos, talvez haja uma me-
mentoda pequena, masimportan- Artes, pode-se dizer que os princi- Esta última tinha relação com sastambém estãomelhorandopa- agenda do próximo ano. Além da lhor distribuição dos recursos
te contribuição de artistas, cura- pais destaques da agenda foram um dos melhores eventos interna- ra os brasileiros. A venda de um BienaldeVeneza,nocenáriointer- que privilegie uma ampla gama de
dores e fornecedores –, o evento retrospectivos. Ao longo do ano cionais do ano no campo das ar- quadro de Di Cavalcanti pelo va- nacional, há poucos eventos já instituições e eventos.
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000 O ESTADO DE S.PAULO - D9

CINEMA
Fotos: Divulgação

Soco no estômago – O filme mais forte do ano, uma adaptação de Ruy Guerra sobre o Ponto alto – Apostando no tom farsesco e no jeitinho brasileiro de contornar problemas,
romance de Chico Buarque, ‘Estorvo’ expõe uma visão radical da sociedade brasileira ‘Eu Tu Eles’ mostrou que uma produção não precisa ser ruim para fazer sucesso

Filmes nacionais voltam ao sucesso de público


Foram lançados 23 cada caso é um caso. Mas filmes Foram filmes que fizeram seus ra na caricatura para expressar
como Auto da Compadecida e Eu caminhos, de uma maneira ou de sua indignação diante de uma rea-
longas e a participação TuElespodemsugeriralgumasre- outra. Amélia trouxe de volta Ana lidade social pouquíssimo edifi-
na bilheteria cresceu em flexões. Entre elas, a de que nem Carolina, diretora havia muito au- cante.
relação ao ano passado sempre sucesso de bilheteria está sente das telas, com um trabalho Rap do Pequeno Príncipe Con-
associado a baixo nível. Certo, inspirado sobre o choque cultural tra as Almas Sebosas, de Paulo
LUIZ ZANIN ORICCHIO são exceções à regra, mas indi- esuafunção nagênese dasocieda- Caldas e Marcelo Luna, também
cam caminhos para que o cinema de brasileira. Estorvo, de Ruy apontaparaolado escurodaorga-

T
udo somado, não foi um brasileiropossaatingiroseupúbli- Guerra,outroveteranoquenãofil- nização social brasileira. No caso,
anoruimparaocinemabra- co, como já o fez no passado e faz mava há vários anos, foi, para al- a violência da periferia (do Recife,
sileiro.Em termosquantita- agora, às vezes. Seguem a fórmula guns críticos (entre eles, este que mas extensiva a qualquer perife-
tivos: com 23 longas-metragens do tom farsesco, indicam modos escreve) o filme de maior impacto ria) contada em dois casos exem-
lançados no mercado interno, te- espertos e irônicos de contornar do ano. Adaptando o romance de plares, e complementares, um ra-
ve 42% a mais de público do que problemas.Estãopróximosdaqui- Chico Buarque, Ruy inova e radi- pper e um matador que nascemde
em 1999 – lo que acontece caliza nessa radiografia impiedo- um mesmo local e uma mesma
5.806.144 ingres- na vida real dos sa do Brasil dos anos 90. Filma condição social.
sos vendidos con-
tra 4.088.870 do
ano anterior (ci-
M AS A
brasileiros, com
sua tendência a
acomodações de
com a liberdade e sentido de in-
venção de um jovem de 20 anos,
somados à experiência de quem
Boa surpresa foi Quase Nada,
produção pequena, artesanal, de
Sérgio Rezende, que vinha de tra-
fras da publica- BILHETERIA NÃO conflitos – o “jeiti- já dirigiu clássicos comoOs Fuzis balhos muito mais caros e volta-
ção Filme B, de nho”, em suma, e Os Cafajestes. dos para o mercado como Guerra
Paulo Sérgio Al- CHEGA A 6% tão nacional e po- Igualmente impiedoso, talvez de Canudos e Mauá, o Imperador
meida). Claro, pular quanto o ca- mais, ainda que não tão inventivo e o Rei. Desta vez, em iniciativa
boa parte desses DO MERCADO fé, o carnaval e o em termos formais quanto Estor- quase doméstica, Rezende inves-
números se de- programadoRati- vo, é Cronicamente Inviável, de te notexto,nos atorese numapro-
vem a filmes co- nho. Sérgio Bianchi. Talvez tenha sido posta original: o mal-estar, em ge-
mo Xuxa Popstar ou Anjo Trapa- Nem só de espírito cordial, pa- o filme brasileiro mais polêmico ral associado à cidade, agora é lo-
lhão.Masmesmoocinema dequa- rausarasurradaexpressãodeSér- do ano, pelo menos em alguns cír- calizado no campo.
lidade emplacou boas bilheterias, gio Buarque de Hollanda, viveu o culos. Houve quem o achasse cíni- Para o ano que vem, já há pelo
como foram os casos de Auto da cinema nacional no ano 2000. Pe- co por não apontar saídas para o menos uma bela estréia garanti-
Compadecida, de Guel Arraes, e lo contrário. Alguns dos seus me- impasse nacional – como se esta da, para março ou abril: Bicho de
Eu Tu Eles, de Andrucha Wa- lhores filmes vieram do trabalho fosse uma obrigação de artistas. Sete Cabeças, de Laís Bodanzky,
ddington. Comparado com o qua- com o contraditório, com a fric- Na história contada, ninguém vencedora do Festival de Brasília.
dro geral, no entanto, o panorama ção, com aquilo que há de incon- presta, e poucas vezes se traçou Um filme raçudo, de impacto e de-
é preocupante: com todo esse sistente e trágico na sociedade um retrato tão cru da sociedade núncia do repressivo sistema psi-
crescimento, os filmes brasileiros brasileira. São os casos de filmes brasileira. Da elite aos sem-terra, quiátrico ainda em vigência no
nãochegarama6% domercado in- comoAmélia,Estorvo,QuaseNa- passando pela classe média, to- País. Levantou a galera durante o
terno, uma fatia ainda muito pe- da, Rap do Pequeno Príncipe, dostêmsuaculpano cartório.Tra- festival. Tomara repita a dose em
quena. AtravésdaJanelae Cronicamen- Promessa – ‘Bicho de Sete Cabeças’, de Laís Bodanzky, balho de moralista, no bom senti- sua estréia comercial. Merece to-
Não há fórmulas em cinema e te Inviável. ganhou o festival de Brasília e deve fazer sucesso em 2001 do,queexacerba defeitos e exage- da a atenção.
Fotos Divulgação

Periféricos e alternativos
na contramão de Hollywood O astro Tom
Cruise em
‘Magnólia’,
que
Houve bons filmes dos co, o Brasil, que este ano apresen- Russell Crowe foi o melhor confirmou a
touumasafracomosmelhoresfil- ator do ano e ela – quem foi a me- inportância
EUA, mas o melhor do mesdesdearetomadaeisso épou- lhor atriz? Poderia ser a francesa do diretor
cinema mundial veio de co diante do que ainda está por vir Nathalie Baye, nunca menos do Anderson
outras partes do mundo em 2001 – é só esperar por Bicho que comovente na sua sincerida- após o forte
de Sete Cabeças, de Laís Bodan- de em Uma Relação Pornográfi- ‘Boogie
LUIZ CARLOS MERTEN zky. O que seria do cinéfilo brasi- ca, de Frédéric Fonteyne. Mas po- Nights –
leiro– e dopaulistano, em particu- deria ser também Björk em Dan- Prazer sem
Limites’

H
á vida inteligente em Hol- lar – se não houvesse o Espaço çando no Escuro. O musical do di-
lywood, mas não adianta Unibanco de Cinema, a Mostra In- namarquês Lars Von Trier vem ra- sobre
procurá-la em Beleza ternacionalde São Pauloe a distri- chandoos críticos e o públicodes- pornografia
Americana. O grande vencedor buidora Mais Filmes? Estaríamos de que recebeu a Palma de Ouro,
do Oscar 2000 apenas banaliza o entregues às majors. em Cannes, em maio passado. É
superior Felicidade, de Todd So- Hollywood gosta de fazer fil- um filme divisor de águas.
londz, realmente tão bom que foi mes para os olhos, cheios de efei- Hoje, o grande debate refere-se
esquecido pela tos e explosões. às novas tecnologias que estão
academia no ano Em geral, não são mudando a face do cinema. Dan-
anterior. Os me-
lhoresfilmes ame-
ricanos do ano fo-
B OAS
feitos para um
olhar mais demo-
rado, capaz de de-
çando no Escuro já entrou para a
história pelo marketing – as cem
câmerasdevídeousadaspelodire-
ram Magnólia, SURPRESAS tectar densidades tornas cenas de dança.O musical,
de Paul Thomas e sutilezas. Muita gênero ilusionista por excelência, Cena do
Anderson, O In- VIERAM DO IRÃ gente se queixa é tratado de forma antiilusionista. iraniano
formante, de Mi- de que o cinema Umblefe–namedidaemqueatec- ‘O Vento nos
chael Mann, e O E DE TAIWAN iraniano é chato. nologia do futuro é usada para ce- Levará’, de
Mundo de Andy, Não é verdade, lebrar o que não deixa de ser uma Abbas
de Milos Forman. Abbas Kiarosta- ondaretrô,ummelodramabastan- Kiarostami,
A esse trio pode-se acrescentar mi, o magnífico, mostra quase na- te tradicional. Björk é maravilho- um filme que
também Gladiador, o épico so- da em O Vento nos Levará, um fil- sa, Catherine Deneuve, num pe- mostra quase
bre a queda do império romano me que paradoxalmente conse- queno papel, talvez seja melhor nada, mas
de Ridley Scott que estabeleceu gue dizer tudo sobre a condição ainda, mas Von Trier precisava consegue
Russell Crowe, já admirável no humana. Tsai Ming-liang, o Ro- apelar tanto em cenas como a do dizer tudo
papel do informante, como o bert Bresson da Ásia, prosseguiu, crime?Ou a da execução? O deba- sobre a
maior ator do ano. em O Buraco, com seu discurso te agitouoano de 2000. Devepros- condição
Hollywood pode dominar mas- que estabelece a incomunicabili- seguir no próximo ano, que é tam- humana
sivamente o mercado brasileiro dade como a única forma de co- bém o próximo século e o próxi-
(e mundial), mas alguns dos me- munhão entre os homens. E o que momilênio.Ocinemaestámudan-
lhores filmes do ano, talvez os me- dizer de Luna Papa, do cineasta do. Para onde vai o cinema? Não
lhores,vieram de cinematografias do Tadjiquistão Bakhtiar Khudoj- importa.Oimportanteé queconti-
periféricas e até alternativas em nazarov, senão que é um filme ra- nue sendo essa janela mágica que
relação ao mainstream. O Irã, Tai- ro, possuidor de extraordinária nos permite entender os outros e
wan, o esfacelado império soviéti- imaginação visual. a nós mesmos.
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2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR
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E4
Reuters - 11/6/2000 O ESTADO DE S. PAULO J.F.Diorio/AE - 27/9/2000
Simplesmente Garimpeira
o melhor de ouro
Bicampeão em Marion Jones
Roland Garros, ganhou três
campeão do medalhas de
Masters, ouro no
número 1 do atletismo em
mundo. É Sydney. E duas
Guga. Pág 3 de prata. Pág. 2

SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

FUTEBOL

A paixão nacional fica de cabeça para baixo Sebastião Moreira/AE - 14/10/2000 Tasso Marcelo/AE - 20/12/2000
O Brasil brilhou em
vários esportes, mas, no
CPIs tentam pôr
futebol, só fracassos
e escândalos
um pouco de
ordem na casa
ROBERTO BASCCHERA ROSA COSTA

O
ano 2000 vai ficar mar- BRASÍLIA – A primeira ins-
cado com destaque na piração para o deputado Aldo
história do esporte bra- Rebelo (PCdoB-SP) propor a
sileiro. Para o bem e para o criação da CPI da Nike veio de
mal. O país do futebol bri- um menino que aguardava a se-
lhou em diversas modalida- leção brasileira no aeroporto do
des, menos no futebol. O me- Rio, após a Copa de 1998. Ele
lhor tenista do mundo na tem- viu a cena pela televisão e não
porada foi um brasileiro, Gus- gostou quando seguranças da
tavo Kuerten. Carismático, o Confederação Brasileira de Fu-
campeão de Roland Garros e tebol (CBF) tomaram das mãos
do Masters de Lisboa ganhou desse torcedor e rasgaram o car-
ainda mais fama, dinheiro e taz em que a bandeira brasilei-
prestígio. Gil de Ferran revi- ra aparecia com a inscrição “Ni-
veu os bons tempos de Émer- ke” em vez de “Ordem e Pro-
son Fittipaldi nas pistas dos gresso”, numa alusão à possível
Estados Unidos e levou o títu- intromissão da empresa na es-
lo da Fórmula Indy. Rubens calação da seleção. Rebelo dis-
Barrichello, enfim, venceu se que começou aí o trabalho de
sua primeira corrida na Fór- convencer seus colegas a investi-
mula 1 e, no melhor estilo, ao garem o que estaria por trás des-
volante de uma Ferrari. O me- se patrocínio.
lhor cavaleiro do mundo em Inicialmente, a tarefa parecia
atividade, Rodrigo Pessoa, fácil e já em fevereiro de 1999
para quem não acredita, tam- ele contava com 200 assinatu-
bém é brasileiro. Mesmo sem ras – 29 além das necessárias –
ter conquistado uma meda- para propor a criação da comis-
lha individual em Sydney, bri- são. “Foi aí que começaram as
lhou nas competições euro- pressões”, recorda. Segundo
péias e termina o ano como ele, quando o requerimento che-
primeiro do ranking. Brilho da estrela – Romário teve, aos 34 anos, uma das Outro ano de agonia – Ronaldo sofreu novamente grave gou à Mesa da Câmara, 35 de-
O futebol? Bem, o futebol melhores temporadas na carreira e fez o que mais sabe: gols contusão no joelho e agora luta para voltar aos gramados putados retiraram a assinatura.
virou caso de polícia. Assun- Reuters-30/7/2000 Aldo Rebelo disse que reco-
to para deputados e senado- meçou a tarefa de convencer
res, em duas Comissões Par- seus colegas a apoiarem sua
lamentares de Inquérito idéia. Conseguiu o apoio de 207
(CPIs) instaladas no Con- deputados. O que ele não sabia
gresso Nacional – uma na Câ- era a reação que haveria contra
mara e outra no Senado –, a investigação. “Ministros, diri-
que investigam desde o con- gentes de estatais, dirigentes de
trato da CBF com a Nike até clubes, todos resolveram atuar
a indústria de passaportes para impedir a CPI”, contou.
falsos para facilitar transfe- Além do desarquivamento
rência de jogadores. A sele- de CPIs já esquecidas, para obs-
ção olímpica, uma das favori- truir o espaço das investigações
tas à medalha de ouro em parlamentares, houve ainda a
Sydney, naufragou diante decisão da Comissão de Consti-
dos alegres e vibrantes cama- tuição e Justiça da Câmara de
roneses. A seleção feminina julgar a iniciativa inconstitucio-
foi contaminada pelo clima nal. De acordo com o deputa-
de vaidades e desentendi- do, o presidente da CBF, Ricar-
mentos entre comissão técni- do Teixeira, se instalou em Bra-
ca e dirigentes. Perdeu o sília para comandar a obstru-
bronze para a Alemanha. ção. “Até o então técnico da se-
O problemático joelho di- leção Wanderley Luxemburgo
reito de Ronaldo, o Fenôme- agiu para impedir a CPI.”
no, ainda é tema de debate e
preocupação. Nem no futebol CPI do Senado – Entretanto,
de salão os brasileiros conse- uma nova estratégia para inves-
guiram honrar a tradição. A tigar irregularidades no futebol
esperança do hexacampeona- estava sendo desenvolvida no
to na Guatemala desfez-se na Senado. A inspiração do sena-
derrota por 4 a 3 para a Espa- dor Álvaro Dias (PSDB-PR) foi
nha, na final do Mundial. o catastrófico desempenho do
Abatida pelos escândalos, Brasil na Olímpiada de Sydney
desmandos e desorganização, e a sugestão de repórteres espor-
a seleção brasileira ganhou tivos. Dias disse que começou a
técnico novo, Emerson Leão. coletar as assinaturas de seus
Seu antecessor, Wanderley colegas “em surdina, sem alar-
Luxemburgo, festejado em de”. Somente depois de ter o
1999 como o melhor treina- apoio de 39 deles para a criação
dor do País, termina 2000 ten- da CPI é que resolveu comuni-
tando livrar-se do emaranha- car sua decisão.
do de fatos e suspeitas que Fim de uma longa espera – após muita luta, iniciada em 1993,Rubens Barrichello consegue, no GP da Alemanha, a O desempenho do presidente
pairam sobre sua reputação. primeira vitória na F-1, também o primeiro triunfo de um brasileiro na categoria depois de Ayrton Senna do Senado, Antonio Carlos Ma-
O Campeonato Brasileiro Beto Issa/AE - 28/10/2000 Joedson Alves/AE - 6/12/2000 galhães (PFL-BA), de defender
até o nome original perdeu. a iniciativa, terminou por calar
Virou Copa João Havelange, os líderes contrários à proposta.
o torneio do bom, do barato e Foi aí que o deputado Eurico
de algumas surpresas, como Miranda (PPB-RJ) e outros de-
o Palmeiras “operário” do putados dirigentes de clubes,
técnico Marco Aurélio Morei- que eram contra a investigação
ra e o “Azulão” São Caetano. na Câmara, resolveram agir,
Os dirigentes preocuparam- passando a defender que basta-
se em marcar o modesto Ga- va a CPI da qual eles mesmo
ma, de Brasília, e quem esca- participariam e não a do Sena-
pou para marcar um gol de do. Como se viu, não foram
placa foi o São Caetano, do- bem-sucedidos.
no de um futebol empolgan-
te, alegre e ofensivo.
Na olimpíada mais organi-
2001
zada de todos os tempos, o Eliminatórias para a Copa
Brasil contou com 205 atletas Talento e sorte – Gil de Ferran aproveitou a chance em Luz no fim do túnel – Aldo Rebelo e Álvaro Dias: presidentes do Mundo, Copa América,
e conquistou 12 medalhas, ne- um time de ponta, a Penske, e conquistou o título da F-Indy de CPIs que se propõem a passar o futebol brasileiro a limpo Mundial Sub-20, Mundial de
nhuma delas de ouro. Rodri- Clubes da Fifa, Taça Liberta-
go Pessoa, Guga, Robert em datas festivas para o es- tos, Diego Armando Marado- na levou o prêmio. A Fifa, no aos atletas o direito de trans- dores da América. Competi-
Scheidt, Torben Grael e as du- porte brasileiro. O Estádio do na, virou quarentão, mais po- entanto, rendeu-se à majesta- ferência para o clube que es- ções não faltarão para que o
plas do vôlei de praia ficaram Maracanã fez 50 anos, Émer- lêmico do que nunca. Esses de de Pelé e entregou-lhe o de- colherem, poderá entrar em futebol brasileiro recupere pe-
pelo caminho. A seleção de fu- son Fittipaldi festejou três dé- 20 anos de diferença na idade vido troféu. vigor em março. Os clubes de lo menos parte de seu prestí-
tebol, eliminada nas quartas- cadas de sua primeira vitória entre os dois gênios da bola No País do futebol, poucos times baratos, e nem sempre gio em 2001, tanto pelos clu-
de-final, deu vexame. Sobres- na Fórmula 1, o tricampeona- pesaram a favor do argentino se arriscam a prever o que vai bons, deverão prevalecer so- bes como pela seleção brasilei-
saiu, porém, o valor e a força to mundial de futebol no Mé- numa desastrada votação pro- acontecer em 2001 na modali- bre as equipes de estrelas e sa- ra. As maiores expectativas
de vontade dos anônimos atle- xico também completou 30 movida pela Fifa na Internet dade esportiva preferida dos lários milionários. As dúvi- têm endereço: a seleção de
tas paraolímpicos do País. anos e o Rei Pelé, o herói para eleger o maior futebolis- brasileiros. O campeonato na- das são muitas. Talvez, a úni- Emerson Leão e o Congresso
O ano em que o veterano maior do tri, chegou aos 60. ta do século. Mais entrosado cional ainda é uma incógnita. ca certeza: Pelé continuará Nacional, palco de duas CPIs
Romário brilhou foi pródigo Um de seus grandes desafe- com os internautas, Marado- A nova Lei do Passe, que dá sendo majestade. que investigam o futebol.
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2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR
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ESPORTES
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SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000 O ESTADO DE S.PAULO - E5

OLIMPÍADA

Em Sydney, da esperança à decepção


As perspectivas eram
Reuters - 18/9/2000

boas, mas o Brasil não Na natação, um


ganhou uma medalha de
ouro sequer nos Jogos
show de beleza e
muitos recordes
JOÃO PEDRO NUNES A Olimpíada de Sydney
bem que poderia ser chamada

E
ste ano, em Sydney, pe- de Jogos da natação ou das
la primeira vez desde a águas. O esporte, que arranca
Olimpíada de Montreal, da torcida australiana uma
disputada em 1976, o Brasil paixão semelhante à que a bra-
não ganhou uma medalha de sileira tem em relação ao fute-
ouro. A sensação de frustração bol, surpreendeu as expectati-
foi enorme, principalmente por- vas mais otimistas ao registrar
que a delegação nacional havia no moderníssimo Centro
quebrado todos os recordes em Aquático de Sydney as incrí-
Atlanta, em 96, com a conquis- veis marcas de 39 novos recor-
ta de 15 medalhas (3 de ouro) e des olímpicos e 15 recordes
havia feito uma grande campa- mundiais. Com tantos resulta-
nha no Pan-Americano de Win- dos espetaculares, sobraram
nipeg, em 99. Em Sydney, de perguntas e insinuações sobre
15 de setembro e 1.º de outu- doping não confirmadas.
bro, o Brasil ganhou 12 meda- O espanto tem uma explica-
lhas (6 de prata e 6 de bronze). ção simples. Em Atlanta, em
A expectativa de boa partici- 1996, o torneio de natação teve
pação brasileira ganhou ainda três recordes mundiais. Em
mais fôlego com os resultados Sydney, só no primeiro dia, cin-
de vários atletas em competi- co marcas foram superadas.
ções internacionais antes dos Nunca um esporte foi tão avas-
Jogos e com a montagem da salador. Só para comparação,
Operação Sydney, pelo Comitê o atletismo passou pela Olim-
Olímpico Brasileiro (COB). píada sem o registro de novos
Os números traduzem a de- recordes mundiais.
cepção brasileira. Em Atlanta, A competição, dominada pe-
o Brasil terminou em 25.º lugar lo confronto entre Estados Uni-
no quadro geral de medalhas – dos e Austrália, teve o brilho de
que classifica o país de acordo dois holandeses – o nadador de
com o número de ouros obtidos nome difícil Peter van den Hoo-
– e em 17.º pelo número absolu- genband e Inge de Brujin, co-
to em medalhas. Na Austrália, Dupla dinâmica – Peter van der Hoogenband (E) e Ian Thorpe, na decisão do ouro nos 200 m, livre; na Olimpíada das roados os reis da piscina. Hog-
o Brasil terminou em 52.º no ge- águas, o holandês ousou vencer o “Thorpedo’’ em Sydney, calando 17 mil pessoas que estavam no Centro Aquático gie venceu duelos espetacula-
ral e em 22.º no absoluto. Reuters - 16/9/2000 res. Derrotou o bicampeão
Em Sydney, o País obteve olímpico Alecksandr Popov,
medalhas em oito esportes – AS MEDALHAS DE SYDNEY nos 100 m, livre, com recorde.
foram nove em Atlanta. O E ainda calou os 17 mil torce-
grande vilão, neste caso, foi o Países Ouro Prata Bronze Total dores, ao superar o favorito
futebol masculino, bronze em australiano Ian Thorpe, o
96, desta vez, eliminado nas 1º Estados Unidos 39 25 33 97 “Thorpedo”, nos 200 m, livre.
quartas-de-final. 2º Rússia 32 28 28 88
Ele ganhou ainda bronze nos
Na lista das decepções brasi- 50 m, livre, que teve uma deci-
leiras na Austrália, a seleção 3º China 28 16 15 59 são raríssima no esporte. A me-
de futebol, de Wanderley Lu- 4º Austrália 16 25 17 58
dalha de ouro foi dividida pe-
xemburgo, ganhou ouro – foi los norte-americanos Anthony
eliminada no mata-mata por 5º Alemanha 14 17 26 57 Ervin e Gary Hall Jr.
Camarões. Foi difícil entender 6º França 13 14 11 38
Inge de Brujin conquistou
também os motivos que impe- três ouros, com três novos re-
diram o Brasil de comemorar 7º Itália 13 8 13 34 cordes mundiais nos 50 e 100
títulos olímpicos no vôlei de m, livre, e nos 100 m, borboleta
8º Holanda 12 9 4 25
praia, na vela e hipismo. e foi o principal alvo nas insi-
Alguns pódios, porém, foram 9º Cuba 11 11 7 29 nuações sobre doping. (J.P.N.)
comemorados como ouro, co-
10º Grã-Bretanha 11 10 7 28
mo o revezamento 4x100 me-
tros do atletismo, comandado
pelo velocista Claudinei Quiri-
52º BRASIL 0 6 6 12 Glória, tensão e
no, que ganhou a medalha de
prata, ficando atrás apenas dos
drama marcam
Estados Unidos. Outra meda- CAMPANHA VERDE-AMARELA a competição
lha com sabor especial foi o
bronze da seleção feminina de Prata Bronze A norte-americana Marion
basquete, triunfo importante da Jones, a supermulher, terminou
geração pós-Paula e Hortência. Judô Natação a Olimpíada de Sydney com cin-
Na natação, a medalha de Tiago Camilo Revezamento 4 x 100 livre co medalhas: três de ouro e
bronze conquistada por Gus- duas de bronze. Se não foi o su-
tavo Borges, Fernando Sche- Carlos Honorato Hipismo cesso esperado – o objetivo era a
rer, Edvaldo Valério e Carlos Vôlei de praia Equipe de saltos conquista de cinco ouros –, a
Jayme no revezamento 4 x campanha comprovou sua com-
100 metros, livre, deixou um Adriana Behar/Shelda Vôlei petência e a condição de uma
clima de decepção. Zé Marco/Ricardo Seleção feminina das maiores estrelas do esporte
Tiago Camilo e Carlos Ho- mundial. As medalhas de ouro
Vela Basquete
norato brilharam no judô, foram ganhas nos 100, 200 e no
com medalhas de prata em Robert Scheidt SeleSandra/Adriana revezamento 4x400 m. O bron-
que poucos acreditavam. Atletismo Seleção feminina
ze veio no salto em distância e
no revezamento 4x100 m.
Cavalo falha – No hipismo, o Afirmação – Alessandra foi uma das principais jogadoras Revezamento 4 x 100 rasos Torben Grael/Marcelo Ferreira Apesar do sucesso, Marion
cavaleiro Rodrigo Pessoa, tri- da seleção feminina de basquete: bronze com jeito de ouro não teve um ambiente tranqüilo
campeão da Copa do Mundo, Reuters - 15/9/2000 em Sydney com o anúncio do
sofreu com a indisposição de
seu cavalo, Baloubet du
Rouet, que não esteve bem na
Austrália destaca-se pelo doping do marido, o campeão
mundial do arremesso do peso
C. J. Hunter.
final individual. A modalida-
de, bronze por equipe, obteve
um bom resultado com o quar-
espetáculo e organização O atletismo mostrou força ao
quebrar o recorde de público:
112.524 pessoas estiveram no
to lugar conquistado por An- Planejamento assim mesmo, com a antecedên- Estádio Olímpico para ver a
dré Johannpeter, que igualou cia necessária. australiana de origem aborígine
o feito de Eloy Menezes nos Jo- minucioso e dedicação O Comitê Organizador, bati- Cathy Freeman. Nunca um
gos de Helsinque, em 1952. contribuíram para o zado com a sigla de Socog, cui- evento olímpico, em 104 anos,
No vôlei, a seleção masculina grande sucesso dou com cuidado dos meios de reuniu tanta gente. Ela ganhou
não perdeu nenhum jogo na fa- transportes, o grande vilão de a medalha de ouro nos 400 m.

O
se classificatória, mas foi humi- s organizadores da Olim- Atlanta, em 1996, e soube tirar Cathy transformou-se numa
lhada pela Argentina nas quar- píada de Sydney deram vantagem do fato de a Austrá- das estrelas dos Jogos antes mes-
tas-de-final. A feminina perdeu um verdadeiro show. lia ser um país de apenas 19 mi- mo do início do torneio de atle-
para Cuba nas semifinais, mas Conseguiram fazer a maior fes- lhões de habitantes. tismo ao acender a pira olímpi-
conseguiu o bronze mesmo ta do esporte mundial no ano A festa olímpica contou tam- ca na cerimônia de abertura.
com atletas novatas no grupo 2000, aproveitando o máximo bém com outras iniciativas. Na A Olimpíada não foi só festa.
dirigido por Bernardinho. das possibilidades de seu povo. cerimônia de abertura do even- Registrou dramas, como o da gi-
No vôlei de praia, a decepção Com cortesia, esbanjaram preo- to, por exemplo, em que os orga- nasta romena Andreea Radu-
foi enorme. Adriana Behar e cupações com a ecologia e, ao nizadores aproveitaram para fa- can, que perdeu a medalha de
Shelda, donas dos principais tí- mesmo tempo em que colheram zer uma homenagem aos aborí- ouro individual geral depois
tulos do esporte, perderam o ou- sucessos nos mínimos detalhes, genes e à mulher, o momento de que seu exame antidoping deu
ro para as australianas Cook e colocaram a Grécia contra a pa- grande emoção do desfile foi a positivo para pseudoefedrina.
Pottharst. Sandra e Adriana ga- rede. Dificilmente os gregos vão entrada conjunta das duas Co- Recorreu à Corte Arbitral de Es-
nharam bronze. No masculino, conseguir organizar, em 2004, réias no Estádio Austrália. Os porte (CAS), em Sydney, que ne-
os campeões mundiais Loyola e um evento como o feito pela atletas foram aplaudidos de pé gou a apelação.
Emanuel pararam nas quartas- Austrália. por cerca de 100 mil pessoas. O Para a história – Cathy Freeman, na cerimônia de abertura: Raducan foi a primeira ginas-
de-final. Zé Marco e Ricardo A competição australiana co- desfile das delegações da Croá- emoção e beleza marcaram o espetáculo no Estádio Olímpico ta na história olímpica a perder
perderam, na decisão, para meçou a ter sucesso na antecipa- cia e de Timor Leste, que compe- a medalha e a tornar-se campeã
Blanton/Fonoimoana (EUA). ção da construção das sedes es- tiu sob a bandeira do Comitê ções e disse que aprendeu uma nal (COI) por causa do atraso individual geral, pela Romênia,
Na vela, Robert Scheidt, na portivas. O último estádio a ser Olímpico Internacional (COI), grande lição. Ela contou que te- das obras. Mas na última visi- desde que Nadia Comaneci en-
classe Laser, e Torben Grael e entregue – e testado – foi o de vô- também emocionaram. ve 130 observadores nos Jogos ta da comissão do COI a Ate- cantou o mundo nos Jogos de
Marcelo Ferreira, na Star, per- lei de praia, construído em Bon- A presidente do Comitê Or- e nenhum deles encontrou na- nas, porém, o delegado belga Montreal (1976). Perdeu a me-
deram a medalha de ouro na úl- di, uma espécie da carioca Co- ganizador da Olimpíada de da que pudesse criticar. Jacques Rogge ficou satisfeito dalha por causa de dois compri-
tima regata. Scheidt ficou com pacabana. O protesto dos usuá- Atenas, Gianna Angelopoulos- Os organizadores dos Jogos com a evolução nos trabalhos midos para febre dados pelo mé-
a prata, enquanto Torben e Mar- rios banhistas atrapalhou ainda Daskalaki, esteve em Sydney de 2004 sofreram pressão do e nas garantias dadas pelo go- dico Loachim Oana uma hora
celo conquistaram o bronze. mais a obra, que ficou pronta, acompanhando as competi- Comitê Olímpico Internacio- verno. (J.P.N.) antes da competição. (J.P.N.)
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E6 - O ESTADO DE S.PAULO SÁBADO, 30 DE DEZEMBRO DE 2000

TÊNIS

Guga, retrato perfeito de um campeão Célio Jr./AE – 3/12/2000


mais uma vez o russo Marat
Tenista torna-se o
Safin. O brasileiro venceu e
melhor do mundo, parece ter sentido um alívio
consolida a carreira muito grande por ter afasta-
e populariza o esporte do um fantasma que já o inco-
modava bastante.
Com o troféu de Indianápo-
CHIQUINHO LEITE MOREIRA lis, Guga chegou a Nova
Especial para o Estado York apontado, pela primei-
ra vez, como um dos favori-

O
ano de 2000 vai ficar tos ao título do US Open.
marcado como o ano Mas, de repente, viu-se dian-
do tênis no Brasil. Ja- te de um adversário complica-
mais, em toda a história, a do, o australiano Wayne Ar-
modalidade alcançou tanto thurs – adepto do saque e vo-
destaque como com a brilhan- leio –, na primeira rodada de
te temporada do tenista nú- um torneio importante: Gu-
mero 1 do mundo, Gustavo ga disse adeus à competição
Kuerten. Até para a impren- muito antes do que esperava.
sa internacional o futebol dei- A frustração pela elimina-
xou de reinar como assunto ção prematura no US Open
de interesse e ela já põe o ajudou a piorar sua incômo-
País no mapa do tênis mun- da situação com a participa-
dial. Entre os brasileiros, Gu- ção na Olimpíada de Sydney.
ga transformou-se em um Uma briga entre seus patroci-
dos principais ídolos nacio- nadores e o Comitê Olímpico
nais. Uma história de suces- Brasileiro (COB) por pouco
so de um garotão com jeito não impediu que o principal
simples, descontraído, estilo tenista brasileiro participas-
surfista, que venceu à custa se dos Jogos.
de sacrifício e dedicação Em Sydney, Guga chegou
num esporte até então consi- às quartas-de-final – per-
derado elitista. deu para o medalha de ou-
O sucesso não vai dar des- ro, o russo Yevgeny Kafelni-
canso a Guga. Como novo nú- kov. Aproveitou a atmosfe-
mero 1 do mundo, ele já co- ra dos Jogos para ver os me-
meça 2001 tendo a posição lhores atletas do mundo em
ameaçada por rivais esper- ação e torcer pelos outros
tos, que aproveitarão o fato brasileiros.
de o brasileiro estar ausente Guga continuou nas qua-
das quadras no início do ano dras rápidas pelo restante da
para acumular pontos e dimi- temporada, jogando em
nuir sua diferença para o lí- Hong Kong e Tóquio – foi às
der. O sueco Magnus Nor- quartas-de-final nos dois tor-
man, por exemplo, que due- neios. Seguiu depois para a
lou com Guga em 2000, já es- Europa e para a fase mais te-
tará jogando no dia 1.º, no mida do ano: a temporada in-
Torneio de Chennai, na dis- door de torneios em piso de
tante Índia, só para não per- carpete. Esteve razoável em
der a chance de marcar pon- Stuttgart, caindo nas oitavas-
tos desde o comecinho da de-final diante de Sebastien
temporada. Em Auckland, Grosjean, e chegou às quar-
na Nova Zelândia, jogadores tas-de-final em Lyon, perden-
como o inglês Tim Henman e do para Patrick Rafter.
o francês Sebastien Grosjean Em Paris, sua cidade prefe-
também estarão em quadra rida depois de Florianópolis,
atrás de pontos preciosos. Guga voltou a brilhar. Cur-
O maior desafio de Guga tiu seus endereços favoritos e
já é manter a liderança do jogou como nunca numa qua-
ranking num circuito exigen- dra de carpete. Chegou às se-
te, com competições impor- mifinais depois de passar por
tantes a cada semana e dian- Chris Woodruff, Patrick Raf-
te de rivais perigosos e dispos- ter e Albert Costa – perdeu
tos a tudo para roubar do bra- para o saque canhão do aus-
sileiro a condição de número traliano Mark Philippoussis.
1 do mundo. A consagração veio em se-
Mesmo que não mantenha guida, com a conquista me-
a posição por muito tempo, morável no Masters Cup de
Guga, com certeza, fez mui- Lisboa. Guga começou no tor-
to pela popularização do tê- neio de forma preocupante.
nis no Brasil. Suas conquis- Perdeu de Andre Agassi na
tas na quadra o levaram a primeira rodada e sentiu
uma posição jamais sonhada uma lesão na coxa, mas recu-
pelos brasileiros, superando perou-se a tempo de vencer,
astros como Pete Sampras e em seqüência, Magnus Nor-
Andre Agassi. O tênis pas- man, Yevgeny Kafelnikov,
sou a fazer parte da torcida, Pete Sampras e Andre Agas-
já conhecedora de detalhes si, na final, para comemorar
técnicos, como as várias su- o título da Copa do Mundo
perfícies de jogo e sofistica- de Tênis. Sua estrela brilhou
ções das regras. intensamente, a ponto de seu
O momento mais marcante maior rival, o russo Marat Sa-
de 2000 veio mesmo no fim fin, cair nas semifinais, tiran-
da temporada. Justamente do de seu caminho o último
no último torneio, o Masters obstáculo que o separava tam-
Cup de Lisboa, em Portugal, bém, da liderança do ranking
Guga mostrou ao mundo que mundial.
é o novo rei do tênis e assu- Em 2000, Guga foi o tenis-
miu a coroa, superando ver- A imagem de um vencedor – Depois de ganhar o Masters de Lisboa com uma fantástica vitória sobre Andre Agassi, ta que por mais tempo lide-
dadeiros monstros sagrados Guga, bandeira brasileira às costas, ajoelha-se na quadra, atrás dos troféus que simbolizaram sua conquista rou a corrida dos campeões.
numa superfície, o carpete, Teve 65 vitórias, diante de 21
em que jamais havia conquis- também pela Eslováquia, no tes períodos do ano. O brasi- Fora de seus domínios, Gu- Em 97, por pouco não ga- derrotas. Ganhou seu primei-
tado um título sequer. Rio. Só perderam na traiçoei- leiro brilhou como nunca, ga não foi muito longe em nhou o Torneio de Montreal, ro título em quadras rápidas,
A transformação de Guga ra grama de Brisbane, para a mas deu um susto na torcida. Wimbledon. Passou na pri- Canadá, em quadra rápida, e levantando o troféu de cam-
em um tenista mais completo forte equipe da Austrália. Logo no primeiro torneio, em meira rodada – com relativa não se conformava com isso. peão em Santiago, Hambur-
foi, provavelmente, a maior O verdadeiro impulso veio Montecarlo, em que defendia dificuldade – pelo norte-ame- Motivado pela campanha go, Roland Garros, Indianá-
conquista do brasileiro em com o título do ATP Tour de o título conquistado em 99, ricano Chris Woodruff. O em Miami no início do ano, polis e Lisboa.
2000. Ninguém discutia seu Santiago – na competição, caiu na primeira rodada. E mais importante foi que co- Guga chegou mais confiante
talento, mas ainda se duvida-
va de que poderia ir longe em
Guga ergueu os troféus de
simples e duplas (ao lado de
pior: sentiu uma lesão nas
costas que poderia ser grave.
meçou a se impor como um
dos líderes do tênis – não se
para a temporada norte-ame-
ricana que culmina com o US
2001
competições fora de seu terre- Antônio Prieto) e conquistou Preocupado, Guga voltou conformou com certas marca- Open, o quarto e último Em 2001, Gustavo Kurten
no preferido, o saibro. A preo- a confiança necessária para ao Brasil para três semanas ções do juiz e exigiu respeito, Grand Slam do ano. No Mas- vai investir nos grandes tor-
cupação tinha fundamento. almejar uma temporada de de tratamento e recupera- denunciou discriminação e ters Series de Cincinnati, te- neios, em que estão em jogo os
Logo no primeiro Grand sucesso. ção. Retornou à Europa e favorecimento a jogadores ve uma semana importante. melhores prêmios e, principal-
Slam do ano, o Aberto da Outro ponto determinan- surpreendeu a todos ao al- dos Estados Unidos e Euro- Não levou o sonhado título, mente, o maior número de pon-
Austrália, em janeiro, o brasi- te na campanha de Guga cançar a final do Masters Se- pa. O brasileiro perdeu na ter- mas superou obstáculos difí- tos. Com isso, espera manter-se
leiro decepcionou ao perder em 2000 foi o Masters Series ries de Roma. Perdeu o título ceira rodada para o desconhe- ceis, como a tensa e nervosa entre os dez primeiros do ran-
na primeira rodada para o es- de Miami, o Ericsson Cup. para o sueco Magnus Nor- cido alemão Alexander Po- vitória sobre o norte-america- king durante toda a temporada
panhol Albert Portas, depois O brasileiro não levou o títu- man, mas ganhou a certeza pp, que, depois disso, foi con- no Todd Martin. Chegou às e classificar-se para o Masters
de desperdiçar vários match lo, mas, para muitos, mere- de que poderia jogar nova- vidado a defender a Inglater- semifinais e acabou perden- Cup, marcado para Sydney.
points. Já tinha perdido tam- ceu vencer. Chegou à final mente num nível competiti- ra por ser filho de ingleses. do do inglês Tim Henman Se seus planos derem certo,
bém na estréia no Torneio de diante de Pete Sampras e vo. Na semana seguinte, ga- num jogo em que esteve per- Guga acredita que poderá, ou-
Sydney, também disputado perdeu num jogo que deixou nhou o título do Masters Se- Nos EUA – Apesar do bicam- to da vitória sobre um adver- tra vez, terminar uma tempora-
em quadras de rebound ace, muitas dúvidas sobre as ries de Hamburgo, numa de- peonato de Roland Garros, sário cujo estilo não gosta de da como o número 1 do mundo.
um piso sintético relativa- marcações dos juízes. Guga cisão memorável com o rus- dos títulos de Santiago e de enfrentar: o saque e voleio. Mas já avisou: se cair para ter-
mente rápido. saiu da quadra decepciona- so Marat Safin. Hamburgo e de já ter conquis- Jogos assim não dão o ritmo ceiro ou quarto lugar, não vai
A boa fase começou logo do, mas com a certeza de Entusiasmado, Guga che- tado a liderança da corrida de que o brasileiro precisa pa- significar, necessariamente, que
depois. Guga ajudou o Brasil que poderia, enfim, sonhar gou a Roland Garros cheio dos campeões, Guga ainda ra aplicar seus golpes com tenha feito um ano ruim.
a superar a França pela pri- com conquistas também em de confiança. Ergueu o tro- não parecia satisfeito. Sonha- perfeição. Guga terá uma temporada
meira rodada da Copa Da- superfícies rápidas. féu do bicampeonato – ven- va com novos horizontes e Finalmente, o tão sonhado movimentada. Jogará os quatro
vis, numa campanha em que Por força do calendário da ceu Norman na final depois queria ampliar seus domí- título em uma quadra rápida Grand Slams – Austrália, Ro-
os brasileiros acabaram por Associação dos Tenistas Pro- de disputar 11 match points nios para as quadras rápidas veio no ATP Tour de Indianá- land Garros, Wimbledon e US
repetir o feito de 1992, alcan- fissionais (ATP), Guga vol- – e alcançou a marca de 13 vi- – diz que só alcançará a reali- polis. Guga superou adversá- Open – e os nove Masters Se-
çando as semifinais. No cami- tou para o saibro. A tempora- tórias consecutivas, o que lhe zação profissional se conquis- rios como Todd Woodbrigde, ries. Fora isso, disputará cinco
nho, Guga, Fernando Melige- da da primavera européia é rendeu o título de novo rei tar pelo menos um título em Taylor Dent, Wayne Ferrei- torneios da série ATP Tour, ape-
ni e Jaime Oncins passaram sempre um dos mais fascinan- do saibro. todas as superfícies. ra, Lleyton Hewitt e, na final, nas dois em quadras de saibro.

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