Moysés Rechtman1
Luciana Phebo2
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Médico Ginecologista, Coordenador do Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência, SOS Mulher, Hospital
Pedro II, Rio de Janeiro, RJ
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Médica Sanitarista, Assessora de Prevenção de Acidentes e Violência da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de
Janeiro
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lado sobre o outro. Assim, a Alma tem domínio sobre o Corpo; a Razão sobre a
Emoção; o Masculino sobre o Feminino.
Os dualismos hierárquicos com privilégio para a Mente (masculina) e
preconceito contra o Corpo e a Matéria (femininas) estão na base do pensamento e da
cultura ocidentais. As imagens positivas e negativas que acompanham os conceitos
de masculinos e femininos acumulam muitos milênios, tendo sido culturalmente
apreendidos. Representam alicerces, tijolos e cimento de uma sólida construção de
papéis de gênero estabelecidos e baseados nos princípios de autoridade e
superioridade do homem em relação à mulher.
A subordinação da mulher, colocada como ser inferior, segundo a teoria dos
dualismos hierarquizados é a raiz da violência de gênero, na medida em que buscam-
se desconstruir os papéis estabelecidos, encontrando resistência dos que querem
manter o “status quo”. Esta desconstrução de papéis tem sido tentada, sem grande
sucesso ainda, por homens e mulheres que acreditam na igualdade de gênero.
Chama a atenção o fato de que “masculinidade” e “feminilidade” , muitas vezes
nada tem a ver com o fato de ser um homem ou uma mulher. O mais importante e
questão central é o comportamento social.
Como características atribuídas ao gênero masculino são citados :
conhecimento, mente, razão, controle, objetividade, verdade literal, luz, escrita,
formas fixas, imutáveis e duras, isolamento, positivo e bom, esfera pública e o ato de
ver. Seriam femininas: ignorância, corpo, emoção, verdade poética, metáfora,
escuridão, tradição oral, coisas efêmeras, cíclicas, interligadas e compartilhadas,
maciez, negativo e mau, esfera privada e o ato de ouvir (Wilshire, 1997).
A busca pelo equilíbrio entre ações e características masculinas e femininas
parece ser uma das chaves para a obtenção da igualdade de gênero. A reconstrução
dos papéis de gênero, é um objetivo a ser alcançado.
Conceitos
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Para Scott (Castro, 1992) gênero apontaria a percepção das diferenças entre
os sexos, sendo importante demarcador de poder. Para Castro (1992) gênero é a
construção sociológica, política e cultural do termo sexo. Heilborn (Castro,1992)
conceitua gênero como a distinção entre atributos culturais alocados a cada um dos
sexos e a dimensão biológica de seres humanos. Já Saffioti (Castro, 1992), afirma que
gênero é a maneira de existir do corpo como campo de possibilidades culturais
recebidas e reinterpretadas: gênero se constrói - expressa através de relações sociais
de poder, em processo infinito de modelagem - conquista de seres humanos. Infere-
se que o sexo anatômico e biológico sugere, mas o que determina o comportamento é
o lado social e cultural. As pessoas tornam-se gênero embora nasçam biologicamente
como homens ou mulheres. O sexo seria socialmente modelado. A biologia
geralmente determina o que passa a ser realizado socialmente a partir do nascimento.
As características tidas como masculinas ou femininas são ensinadas e colocadas
como verdadeiras, no correr do tempo. Assim, por exemplo o menino “não brinca de
boneca” e a menina “não joga bola”. “Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
(Beavoir-1970)
A violência de gênero é um padrão específico de violência fundada na hierarquia
e desigualdade de lugares sociais sexuados que subalternizam o gênero feminino, e
amplia-se e reatualiza-se na proporção direta em que o poder masculino é ameaçado
(Saffiote e Almeida – 1995).
A expressão “Violência contra a mulher” se refere a qualquer ato de violência
que tenha por base o gênero, e que resulta ou pode resultar em dano ou sofrimento
de natureza física, sexual ou psicológica. Coerção ou privação arbitrária da liberdade
quer se reproduzam na vida pública ou privada, podem ocorrer como formas de
violência. (IV Conferência Mundial Sobre a Mulher – Beijing, China 1996).
Conceitualmente, a violência física acontece quando há uma ação destinada a
causar dano físico à outra pessoa. A violência psicológica é toda ação ou omissão
destinada a produzir dano psicológico ou sofrimento moral a outra pessoa como
sentimentos de ansiedade, insegurança, frustração, medo, humilhação e perda da
auto-estima. A violência sexual é todo ato no qual uma pessoa que está em posição
de poder obriga outra a realizar atos sexuais contra sua vontade, por meio de
chantagem ou força física (Linhares, 1999).
A violência contra a mulher que ocorre no âmbito da família, caracterizando-se
violência doméstica, é perpetrada por parceiro íntimo, pais, padrastos, conviventes e
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outros parentes. A violência de gênero ocorre também no âmbito da comunidade e do
trabalho.
O medo e a vergonha por estar sendo vítima são constrangimentos permanente
que limitam o acesso da mulher às suas atividades e aos possíveis recursos de
proteção – tornando-se obstáculo à obtenção da igualdade de gêneros. A violação
dos direitos da mulher muitas vezes, não percebida pela própria como violência, deixa
de ser denunciada e portanto detectada. Mesmo quando tal violência é denunciada
nem sempre se protege as vítimas ou se castiga os agressores.
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Nos anos 80 e 90 avanços significativos foram conseguidos como a criação das
Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (DEAMS), as casas abrigos, os centros
integrados de atenção, os Serviços específicos para mulheres no IML (para exames de
corpo delito) e a criação de Conselhos Estaduais de Direitos da Mulher, em alguns
estados.
Quanto a mudanças legislativas, o movimento feminista enfocou o Código Penal
(CP), elaborado em 1940 e em vigor até hoje. O CP prevê os crimes mais comumente
praticados contra a mulher. Alguns artigos merecem adequações à atualidade, pois
são considerados moralistas e discriminatórios. Os artigos referentes ao estupro (art.
213) e ao atentado violento ao pudor (art. 214) são passíveis desta crítica. Para que
se configure o crime de estupro, é necessário que ocorra a conjunção carnal entre o
homem e a mulher, através da penetração do órgão masculino no órgão feminino . Se
a conjunção se der por penetração anal ou oral, o crime é classificado como atentado
violento ao pudor. Apesar dos dois crimes serem igualmente odiosos e aviltantes, as
penalidades são diferentes. A penalidade do estupro prevê reclusão de três a oito
anos, enquanto a do atentado violento ao pudor prevê de dois a sete anos. Um outro
fato referente a estes dois crimes é que ambos estão classificados sob a rubrica de
crimes contra os costumes, quando deveriam ser considerados crimes contra a
pessoa, já que são formas qualificadas como lesão corporal. O agravo maior desta
inadequação classificatória é que os crimes contra os costumes somente se procede
mediante queixa, ou seja, mesmo que autoridade pública esteja ciente do crime, não
se pode se mobilizar em busca do agressor, a não ser que a vítima dê queixa da
violência ocorrida. A obrigatoriedade da ação privada expõe a mulher a novos atos de
violência – seja por parte das autoridades despreparadas a atender essa população,
seja por parte do próprio agressor, que muitas vezes a ameaça a não denunciá-lo– e
transforma-se em um poderoso incentivo ao crime (Linhares, 1994).
Uma outra discriminação do CP é a manutenção do adjetivo “honesta” como
imprescindível para classificar a mulher como vítima, o que preconceituosamente,
nunca se aplica ao homem. Esse qualificativo, por exemplo nos casos de rapto (art.
219) pode deixar sem proteção legal as prostitutas
Uma outra evidência de moralismo está contida no art. 107 do CP. Trata-se da
extinção da punibilidade se o agressor for o marido da vítima, pois entende-se que
nos crimes contra os costumes, o que o agressor danifica não é o corpo físico e sim a
honra da vítima. Já que o casamento “preserva”a honra da vítima, não há argumento
para processar o agressor.
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Um outro artigo desatualizado do Código Penal é aquele que caracteriza o
adultério como crime. Este artigo, na prática só utilizado contra as mulheres, é mais
um exemplo da desigualdade de gênero em nossa sociedade.
Uma conquista do movimento feminista foi ter conseguido introduzir o repúdio à
violência doméstica na Constituição Federal promulgada em 1988. Algumas
Constituições Estaduais absorveram o dispositivo já contido no Código Penal em seu
artigo 61, que prevê o agravamento da pena nos casos do agressor ser pessoa da
família do agredido ou que com este mantenha relações de intimidade Apesar do
avanço legislativo, ainda hoje em dia, o que se vê nos chamados crimes passionais, é
a utilização freqüente do argumento de “legítima defesa da honra”. Uma outra
conquista foi que a partir de 1990, para os crimes hediondos, incluindo entre eles, o
estupro e o atentado violento ao pudor, o acusado não tem direito a anistia, graça ou
indulto, fiança ou liberdade provisória e que a pena em casos de condenação é
cumprida integralmente em regime fechado.
A luta contra a violência de gênero tem tido ao longo do tempo avanços e
retrocessos, a nível institucional e não governamental. Vários Serviços foram abertos
e fechados, as leis ainda são retrógradas, não tendo sido conseguidas as mudanças
substanciais pretendidas, há dificuldades na criação de casas de acolhida, os centros
de referência ainda são poucos pela demanda existente.
Inegavelmente porém, há maior visibilidade da violência de gênero, e uma tentativa
mais insistente de integração entre as várias esferas de poder e de governo,
fundamental para a formação de uma rede de atendimento que poderá tornar viável a
meta de denunciar e até eliminar a violência contra a mulher.
Após duas décadas do despertar do feminismo e do início da luta específica
contra a violência de gênero, simbolizada pela criação do slogan”Quem ama não
mata” temos que reconhecer que a violência doméstica e de gênero, incluindo os
estupros permanece em grau acentuado e muitas vezes coberta em silêncio e
omissão.
Os Serviços de assistência às vítimas de violência, embora em maior número,
localizam-se, maciçamente, nos grandes centros. Há pouco entrosamento e
integração mesmo nos grandes centros entre os vários órgãos que se incubem de
lidar com a temática.
Só uma integração entre as várias instâncias e áreas de poder com atuação
conjunta de Município, Estado e União, Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e
áreas de Saúde, Educação, Justiça, Segurança, Trabalho e Promoção Social pode fazer
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com que haja criação de uma política adequada ao tratamento, prevenção e até
eliminação da violência contra a mulher nas suas mais variadas dimensões.
O ciclo/espiral da violência
RECONCILIAÇÃO TENSÃO
EPISÓDIO
VIOLENTO
( cada vez com maior intensidade )
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Nem todos os casos de violência doméstica se desenvolvem como
ciclos/espirais.
Às vezes, à medida que o tempo passa as fases de reconciliação e luas de mel
desaparecem.
Impunidade
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o agressor mantém a agressão e a questão não é solucionada adequadamente.
Ficando no campo do acordo, o agressor fica com folha corrida limpa, muitas vezes
tendo como penalidade pagar uma cesta básica - adquirida muitas vezes com o
orçamento da própria família, e portanto penalizando duplamente a mulher. A lei traz
uma polêmica, de todo modo, existem aspectos positivos e negativos que devem ser
aprimorados para permitir que o avanço legal alcançado não seja utilizado como mais
um componente à impunidade que cerca a violência.
Muitas famílias permanecem em silêncio temerosas do julgamento público e
resistentes a de aderir à via jurídico – policial preconizada para resolução desses
conflitos. O silêncio e a omissão são cúmplices da impunidade e da violência.
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Muitas vezes nos casos de violência doméstica contra a mulher é necessária a
saída da vítima do local da agressão sob pena de estar correndo risco de vida. Sabe-
se que alberguar institucionalmente é um último recurso, pois com isso tira-se a
mulher do seu meio, o que é uma forma de penalizá-la. Porém existem circunstâncias
em que não há outra solução. As casas de acolhida abriga , em caráter sigiloso e
provisório (aproximadamente por 4 meses) a mulher e seus filhos.
O papel das casas de acolhida é o de em primeiro lugar salvar vidas. Os
pricipais objetivos de tratamento, em geral, são: interromper o ciclo de violência,
garantindo condições de proteção à mulher e seus filhos, propiciar orientação jurídica,
social e psicológica, possibilitar reflexões críticas sobre as questões de gênero e
cidadania, possibilitar o atendimento em saúde às mulheres e aos seus filhos, e
garantir aos filhos um espaço sócio-educativo, com a manutenção ou inserção à vida
escolar. .
Existem ainda pouquíssimas casas de acolhida no Brasil. Há projetos para
ampliá-las, porém dependem de liberação de verbas e vontade política.
A violência sexual
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divulgação à população e aos profissionais de saúde sobre o encaminhamento das
vítimas de estupro.
Nos casos de estupros ou atentados violentos ao pudor são preconizadas as
medidas de profilaxia e tratamento do protocolo do Ministério de Saúde - Prevenção e
Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e
Adolescentes, 1999. O protocolo inclui a prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis (sífilis, gonorréia, tricomoníase, clamídia, hepatite B). Nos casos de
estupro deve ser oferecida ainda a anticoncepção de emergência ( pílula do dia
seguinte) para mulheres em idade fértil. A eficácia do tratamento é tanto maior
quanto menor o tempo ocorrido da violência sexual até a procura do atendimento
médico, sendo que o intervalo máximo para efeito da anticoncepção de emergência é
de até 72 horas após ocorrido o estupro.
Exames para estabelecimento do diagnóstico e rastreamento de doenças
sexualmente transmissíveis são também solicitados. Cerca de 16% das mulheres que
sofrem violência sexual contraem alguma DST e uma em cada 1000 é infectada pelo
HIV (Ministério da Saúde 1999).
A quimioprofilaxia do HIV, não é preconizada pelo Ministério da Saúde, porém a
questão é bastante polêmica e vem sendo discutida.
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A abertura do CEAMVV possibilitou orientação, reflexão e tratamento às
mulheres vítimas de violência doméstica, com caráter emergencial, preventivo e
curativo através da aplicação de técnicas de empoderamento e melhora da auto-
estima. São prestados atendimentos em grupo ou individuais com o objetivo de dar a
essas mulheres condições de sair do ciclo de violência a que são submetidas.
Os resultados relativos à violência doméstica já se fazem sentir. Várias
mulheres já deram sinais da capacidade de se libertar do ciclo de violência seja pelo
rompimento da relação com o parceiro íntimo ou pela formalização de processos
judiciais ou mesmo por mudanças relacionadas aos pactos domésticos e conjugais.
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Dados Estatísticos
Dados do IBGE (1990) mostram que no Brasil a violência contra a mulher é três
vezes maior que contra o homem. Cerca de 60% das agressões físicas contra as
mulheres acontecem em suas próprias residências e são cometidas pelos parceiros
íntimos ou membros familiares. Segundo o Conselho Estadual do Direito da Mulher, a
cada hora há 7 mulheres em situação de violência, e essa tendência vem
aumentando.
Os indicadores de violência entre homens e mulheres no Rio de Janeiro
montram-se bem diferentes. Enquanto os homens morrem, as mulheres apanham São
os homens as principais vítimas dos homicídios: em 1999, de acordo com as
estatísticas da Secretaria de Segurança, foram assassinadas 4.812 homens (81,1%) e
498 mulheres (8,4%). Em 620 casos (10,5%), o sexo não foi informado. No caso das
lesões corporais dolosas, os indicadores apontam uma realidade bastante diversa. São
as mulheres as grandes vítimas das agressões. Dos 58.696 casos registrados em
1999, 59,3%as vítimas eram mulheres. Os casos contra homens foram apenas 35,7%
- nos restantes o sexo não foi informado (quadro 1). Pesquisa realizada em São Paulo
aponta na mesma direção, porém indica ainda que apesar das mulheres não serem as
vítimas preferenciais nos casos de homicidios, o crescimento das vítimas fatais
femininas superou o das vítimas masculinas. Além disso, cerca de 20% dos
homicídios, entre os do sexo feminino, foram por motivo passional (Folha de São
Paulo, 2000)
Registro da Polícia Civil - Estado do Rio de Janeiro, 1999
Sexo Homicídio doloso Lesão Dolosa
Masculino 81,1% 35,7%
Feminino 8,4% 59,3%
Não informado 10,5% 5,0%
A agressão contra a mulher no Brasil era uma caixa preta até a criação dos
primeiros Serviços especialiazados no atendimento a essas vítimas. Os dados do SOS
Mulher, por exemplo, indicam que a mulher apanha em casa e seu maior algoz é o
marido ou parceiro íntimo. –mais de 50% das vítimas atendidas foram agredidas pelo
cônjuge. As mulheres que procuram este Serviço, freqüentemente, têm 19 a 29 anos,
1º grau completo e não têm ocupação remunerada. Os números indicam ainda que o
alvo das agressões é principalmente a face, o que denota a intenção do agressor em
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humilhar a mulher. A maior parte das queixas é feita na segunda-feira e são relativas
as agressões sofridas no domingo, dia referido como o de maior agressão doméstica.
As denúncias ou solicitações de atendimento, de um modo geral, vêm
aumentando em número no decorrer do tempo em todos os Serviços de atendimento
à mulher vítima de violência. Em 1991, por exemplo nas Delegacias Distritais e nas
DEAM foram registradas 17.596 queixas de lesão corporal dolosa cometida contra a
mulher. Em 1999, houve 34.831 queixas, um aumento de 84%. Se por um lado esse
aumento leva a hipótese que a violência de fato pode estar se agravando, a criação e
implantação de instrumentos e recursos de atendimento à mulher violentada é
também uma outra causa do aumento de notificações.
Conclusão
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Sabe-se que uma força enérgica, centrífuga, que tenha perdido sua conexão
com algum contexto criador ou produtivo pode tornar-se facilmente uma força
destrutiva, causando danos principalmente a pessoas e seres mais frágeis em termos
físicos, ou seja : mulheres , crianças, idosos, animais e outros.
Neste momento, temos uma sociedade em crise que vem trazendo à tona as
mazelas do pensamento “produção” mostrando o quanto este perdeu o sentido de
"Para que?" "Para Quem?" e "Para onde?" Hoje em dia o consenso geral é: “Se não
produzir você não é nada!”
A discussão pública da violência contra mulher não é uma ação de amparo a
mulher, apenas. É a discussão sobre a crise de valores que vem sendo vivida e tem
demonstrado, cada vez mais evidente, que os valores considerados femininos são
essenciais à sobrevivência de todos, sendo alguns deles : o cuidado, a atenção , o
abrir-se à compaixão, a intuição e a sensibilidade.
O que vem acontecendo é o fato de que homens e mulheres vem rompendo a
escravidão de velhos papéis. É um trajeto com muitos erros de avaliação e
interpretação. As mulheres vieram abrindo espaços em terrenos considerados
masculinos inicialmente. Sem dúvida é mais fácil entrar em terrenos já valorizados,
além do que os papéis masculinos são mais visíveis do ponto de vista social (“ são
para fora”). Ao homem vem sendo mais duro aceitar e abrir-se para papéis e atitudes
mais femininos já que historicamente foram menos valorizados, É da maior
importância ressaltar que estas mudanças vem a ser sua própria salvação, e a
possibilidade de terminar com o pesado jogo do: “ homem não chora”, “ homem tem
que enfrentar” , “homem tem que agüentar”, “homem não pode vacilar” e assim por
diante.
A discussão pública da violência contra mulher é a oportunidade de homens e
mulheres criarem um novo pacto absolutamente essencial para a sobrevivência da
própria espécie.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GREGORI, Maria Filomena. Cenas e queixas, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1993.
LANNES, Rosana & BERNI, Angela. Análise genérica dos casos de mulheres
vitimizadas do CEAMVV, mimeo, Rio de Janeiro, 1999.
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SAFFIOTI, Heleith I. B. & ALMEIDA, Suely S. Violência de gênero, poder e
Impotência. Rio de Janeiro, Revinter, 1995.
WARSHAW, Robin. Eu nem imaginava que era estupro. Rio de Janeiro, Rosa dos
Tempos, 1996.
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