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Este resumo descreve um livro sobre a história e religião que fornece uma contribuição valiosa ao estudo histórico das religiões. O livro discute os métodos e enfoques temáticos da história das religiões ao longo do tempo, desde a antiguidade até os desenvolvimentos contemporâneos na área. Também aborda questões teóricas como a distinção entre história eclesiástica e história das religiões.
Este resumo descreve um livro sobre a história e religião que fornece uma contribuição valiosa ao estudo histórico das religiões. O livro discute os métodos e enfoques temáticos da história das religiões ao longo do tempo, desde a antiguidade até os desenvolvimentos contemporâneos na área. Também aborda questões teóricas como a distinção entre história eclesiástica e história das religiões.
Este resumo descreve um livro sobre a história e religião que fornece uma contribuição valiosa ao estudo histórico das religiões. O livro discute os métodos e enfoques temáticos da história das religiões ao longo do tempo, desde a antiguidade até os desenvolvimentos contemporâneos na área. Também aborda questões teóricas como a distinção entre história eclesiástica e história das religiões.
MATA, Srgio da. Histria & Religio. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2010. 155p. ISBN 9788575264805
Marcos Jos Diniz Silva *
O recente lanamento de Histria & Religio, do historiador Srgio da Mata, alm de enriquecer a j respeitada Coleo Histria & ... Reflexes, traz uma contribuio valiosa ao estudo histrico das religies em suas mltiplas possibilidades, dos mtodos aos enfoques temticos, dos conceitos aos novos objetos. A originalidade e a oportunidade da obra vm suprir a carncia de trabalhos mais densos na vertente terico-metodolgica sobre a religio como objeto de estudo do historiador, no Brasil. Temtica, alis, muito valorizada nas reas antropolgica e sociolgica, a ponto de o fenmeno religioso ter se constitudo matria-prima bsica das reflexes dos pais fundadores da sociologia. J na histria temos tido dificuldade em pensar teoricamente esse campo de estudos, embora seja significativa a produo histrica brasileira de carter quase eclesistico e monoliticamente centrado numa vertente crist. Isso talvez se explique, em parte, em funo de nossa formao cultural engessada no monoplio oficial contra-reformista catlico; doutro lado, pela persistncia de certo preconceito acadmico em parte marxista dos historiadores com os estudos religiosos, mesmo no confessionais. Apesar de que, como afirma Mata Todo aquele que estudar o desenvolvimento da historiografia ocidental se apercebe de que um dos seus campos de testes privilegiados foi e continua sendo a religio de Eusbio a Chladenius, de Ranke a Weber, de Febvre a Ginzburg. (p.143) Introdutoriamente, Srgio da Mata insere o leitor na complexa realidade das religies do mundo atual, explorando nossas subjetividades nos quesitos aceitao, negao e curiosidade, sobre o lugar da religio. Reconhece a complexidade do campo religioso contemporneo, com a vitalidade das religies universais, sistemas religiosos de pequenas comunidades e grupos tnicos, religiosidades leigas, religio civil, dentre outros sistemas de crena. Mas o cerne de sua preocupao saber se ainda h espao para um estudo histrico das religies numa perspectiva reflexiva e crtica, o que equivale a dizer: teoricamente fundamentado, no confessional e sem
* Professor Adjunto do Curso de Histria da Faculdade de Educao, Cincias e Letras do Serto Central- FECLESC, da Universidade Estadual do Cear-UECE. Doutor em Sociologia (UFC). E-mail: marcosjdiniz@oi.com.br Revista Brasileira de Histria das Religies. ANPUH, Ano IV, n. 11, Setembro 2011 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao /index.html RESENHAS _________________________________________________________________________________ 300
quaisquer aspiraes de natureza proselitista. (p.18) Refora o dever do autocontrole cientfico como um dos princpios que norteiam a histria das religies, ou seja, abster- se de construir anlises a partir de juzos de valor (ou de f). Assim, o estatuto cientfico da histria das religies deve assegurar que a mesma nada deva ter de religiosa. A partir de ento, o autor desenvolve quatro captulos. No primeiro, intitulado Tempo, conscincia histrica e religio, trata da relao entre os historiadores e a religio. Destaca a equivocada viso que considera a religio coisa do passado ou incompatvel com a modernidade e, consequentemente, certa indiferena pela religio no presente que dificulta a penetrao na mentalidade religiosa do passado. Mas o autor acredita na postura metodolgica que possibilita compreender o crente, medida que reconhece no fenmeno religioso uma fora capaz de gerar efeitos sociais concretos, de regular com maior ou menor xito uma conduta de vida, de moldar com maior ou menor sucesso algumas das estruturas de pensamento por meio das quais aprendemos a nos relacionar com o mundo. (p.22)
No segundo momento, Do eterno retorno conscincia histrica, Mata demonstra a capilaridade da religio nas muitas esferas da vida, para alm da f, santidade ou salvao. De um lado, a fora dos mitos configurando dimenses de tempo muitas vezes a-histrico, as categorias estruturantes do pensamento espao- tempo refletindo-se na relao sagrado/profano, os investimentos simblicos; de outro lado, o surgimento dos monotesmos e do Deus histrico, configurando uma concepo linear e universal do tempo. E, finalizando esse primeiro captulo, o autor discute a tese da Era axial, do filsofo Karl Jaspers, segundo a qual, entre 800 a.C e 200 d. C, teria ocorrido uma revoluo sem precedentes nos sistemas tico-religiosos das grandes civilizaes como China, ndia, Ir, Palestina e Grcia sem que houvesse intercmbio entre uns e outros. Estruturava-se uma viso histrica das coisas humanas sem implicar na extino da conscincia mtica do tempo. O segundo captulo, A religio como objeto: da histria eclesistica histria das religies, o mais extenso. Nele o autor trata, numa perspectiva cronolgica, dos desenvolvimentos da religio como objeto de trabalho do historiador, a partir de Eusbio de Cesaria (260 - 340) considerado autor do primeiro grande empreendimento historiogrfico voltado para o campo religioso. (p.35) Passa pela Idade Mdia onde se deu certo esvaziamento do estudo do fenmeno religioso em proveito da maior centralidade dos escritos de carter institucional da Revista Brasileira de Histria das Religies. ANPUH, Ano IV, n. 11, Setembro 2011 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao /index.html RESENHAS _________________________________________________________________________________ 301
Igreja, onde pontificaram Gregrio de Tours e Isidoro de Sevilha. Reala o movimento humanista e a crtica filolgica com a redescoberta da tradio clssica e do indivduo em oposio fuga do mundo do ideal cristo. Para o sculo XVII, Mata chama a ateno para os estudos bblicos de carter filolgico tanto no meio catlico quanto no protestante, que se colocavam na tnue fronteira entre a crtica filolgica e a crtica da religio. Mas no deixa de reconhecer os trabalhos de eruditos como Gottfried Leibniz e Jean Mabillon, para os quais o uso do mtodo crtico na historiografia viria antes em beneficio que em prejuzo do cristianismo. (p.40) O sculo XVIII traria a reflexo sobre a histria no interior da Igreja Catlica, enquanto a tradio iluminista opunha severamente a religio idia racional de Deus. O autor chama a ateno para o trabalho de Gottfried Arnold, com a Histria Imparcial da Igreja e das Heresias, fruto de vigorosa pesquisa documental, que defendia a tese do declnio da Igreja j a partir da poca apostlica, propondo inclusive a reabilitao das heresias. Outro destaque do sculo XVIII o estabelecimento da distino entre histria eclesistica e histria universal profana, ocorrida pioneiramente nas universidades alems, de grande tradio teolgica. E exatamente na Alemanha, fundada nas razes e metodologias teolgicas, que se desenvolve a historiografia acadmica. Autores como Dilthey, Burckhardt, Herder e Ranke, ou estudaram teologia ou eram pastores. Segundo Mata, esses historiadores costumavam no recuar diante da palavra Deus. (p.52) A seguir destaca, para as dcadas finais do sculo XIX, com a historicizao e o pluralismo moderno, o nascimento da histria das religies. Confrontavam-se o materialismo, o atesmo e o cientificismo com o obscurantismo da Santa S e o conservadorismo poltico e social das Igrejas protestantes. o tempo em que Adolf Von Harnack desenvolve o conceito de autonomia dos fenmenos religiosos, de Gottingen e Ritschl. E Max Muller estabelece a distino entre historia eclesistica/teologia e histria das religies, onde defendia que a cientificidade desta viria necessariamente da aplicao do mtodo comparativo. Na ltima parte do captulo, A historiografia contempornea e a histria das religies, o autor traa os caracteres que distinguem a histria das religies da histria eclesistica e dos estudos bblicos. Apresenta os contributos da psicologia da religio oferecidos por William James e Wilhelm Wundt; da sociologia de Durkheim e Weber, Troeltsch. Assim como Simmel, na linha fronteiria entre filosofia e sociologia da religio. Tambm se ocupa da tradio folclorstica e do legado fenomenolgico. Revista Brasileira de Histria das Religies. ANPUH, Ano IV, n. 11, Setembro 2011 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao /index.html RESENHAS _________________________________________________________________________________ 302
O terceiro captulo, intitulado Mtodos, perspectivas, problemas, Srgio da Mata procura delinear as possibilidades metodolgicas no tratamento histrico das religies, ressaltando o vastssimo arsenal terico (conceitual e metodolgico) do objeto religio, se comparado a outros campos da pesquisa histrica. Trata da variedade de fontes para o estudo histrico da religio. Merece destaque o reconhecimento da religio como uma forma de linguagem. Ou seja, para alm da dimenso simbolizante das categorias religiosas, elas guardam a capacidade de instituir uma causa ltima para todas as coisas. (p.74) E essa caracterstica coloca desafios ao historiador, em sua operao hermenutica, entre o excesso de identificao e o excesso de estranhamento frente ao objeto religio. Noutra vertente, o autor trabalha a problemtica da secularizao/modernidade, religio/poltica, religio/esfera pblica como desafios prtica historiogrfica. Discute experincias poltico-religiosas atravs do mito, da sacralizao da poltica, da religio civil, da religio poltica... E finaliza o captulo remetendo discusso sobre a operacionalidade epistemolgica da tese do retorno do sagrado (ou do religioso) na contemporaneidade. Tema cativo, sobretudo, na sociologia da religio, mas ainda quase inexplorado no campo historiogrfico. O quarto e ltimo captulo, denominado Pequena morfologia histrica da religio, traz mais de duas dezenas de conceitos e categorias de uso corrente nos estudos de religio, e indispensveis ao historiador como ferramentas tericas para enriquecer a narrativa, tais como ascetismo, carisma, rito, teodicia, sagrado/profano, paganismo/politesmo... Pois, alerta o autor:
Nenhum historiador, o pesquisador descrente inclusive, est inteiramente liberto das concepes religiosas de sua sociedade e de seu meio sociocultural. Elas tendem a enquadrar nossa apreenso daquilo que numa outra sociedade, ou em pocas passadas, foi ou deveria ter sido religio. (p.92)
Na concluso, o autor pe em destaque a tendncia geral dos historiadores em omitirem o lugar da religio na histria, privilegiando esferas econmicas, polticas e at culturais sem perceberem os elementos religiosos implcitos. E recomenda: O historiador no tem que partilhar o mesmo ponto de vista do crente, mas ele deve se esforar para compreend-lo, caso queira, de fato, penetrar a mentalidade que guiou nossos antepassados e ainda guia tantos de nossos contemporneos. (p.142) Assim, prope maior acuidade analtica no trato da dimenso social e institucional da religio, Revista Brasileira de Histria das Religies. ANPUH, Ano IV, n. 11, Setembro 2011 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao /index.html RESENHAS _________________________________________________________________________________ 303
levando-a para alm de sua face visvel. Embora enfocando com mais destaque a relao do historiador com a religio, entendida esta no sentido mais duro, institucional ou com o carter marcante de Igreja, deixando a dever alguma meno questo das religiosidades, de muito valor conceitual nos tempos atuais; a obra Histria & Religio, de Srgio da Mata, cumpre muito bem o papel de guia introdutrio ao estudo histrico do objeto religio, no deixando tambm de oferecer oportunas indicaes tericas e proveitosas pistas metodolgicas ao historiador.