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Território e Educação: Desconstruindo a Invisibilidade dos Sujeitos do Campo
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Território e Educação: Desconstruindo a Invisibilidade dos Sujeitos do Campo

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O livro Território e educação: desconstruindo a invisibilidade dos sujeitos do campo discute as possibilidades de desconstrução do processo simbólico da inferioridade e invisibilidade dos sujeitos do campo, a partir da atuação destes em mecanismos de exercício democrático, que culminam em práticas escolares e não escolares de valorização e afirmação de suas especificidades e particularidades.
LanguagePortuguês
Release dateJul 29, 2020
ISBN9786555230598
Território e Educação: Desconstruindo a Invisibilidade dos Sujeitos do Campo

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    Território e Educação - Simone Cabral Marinho dos Santos

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Aos sujeitos sociais do campo que atuam no Território Sertão do Apodi, por fazerem da luta por reconhecimento social, o movimento cíclico e contínuo para cumprir o curso da sua travessia.

    E por razões do coração, à minha mãe, Arlete, aos meus filhos, Lucas Dassaev e Luara Vana e ao meu marido, Cláudio. Minhas quatro diferentes formas de amar.

    AGRADECIMENTOS

    À minha família, com todo meu amor, respeito e dedicação.

    Ao professor José Willington Germano, que, com muita maestria, fez-me aventurar na construção do conhecimento, em uma travessia de caminhos e descaminhos, acertos e erros, falas e escutas, leituras e escritas.

    Aos professores Conceição Ramos, Antonio Spinelli, Geovania Toscano, Irene Alves e Lenina Soares, pela cuidadosa e atenciosa leitura, críticas e sugestões ao trabalho.

    À professora Dalcy Cruz, inspiradora do meu diálogo com a narrativa de Guimarães Rosa, por meio da obra Grande Sertão: Veredas.

    Aos estimados amigos, amigas, irmãos e irmãs por afetividade, Joelina, Janaina, Glorinha, Ana Morais, Geovânia, Piolho, Yeda, Socorro Batista, Leida, Hanna Safieh, Lenina, a quem muito estimo, quero bem e não posso me distanciar da amizade e do afeto. Certamente, se não fosse pela leveza, alegria e amizade, ao longo do curso de doutoramento, eu não teria resistido ao isolamento da produção intelectual.

    Aos colegas e aos estimados agregados do Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação, pela troca de ricas experiências e aprendizagens;

    À coordenação e secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS/UFRN).

    Aos meus colegas do Departamento de Educação e do CAMEAM (UERN), pelo apoio e incentivo à continuidade dos estudos.

    Aos amigos(as), sensíveis ao diálogo e à luta por reconhecimento social que atuam no Território Sertão do Apodi: Espedito Rufino, Rosane Gurgel, Caramurú Paiva, Alcivan Viana, Socorro Oliveira, Auricélio Costa, Claudia Mota, Maria Lenilda, Ecineide Silva, Sheila Gurgel, Edilson Neto e Francisco Evânio (Catraca).

    À UERN, por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, pelo incentivo e apoio institucional e financeiro no decorrer do curso de doutoramento.

    [...] Mas há milhões desses seres

    que se disfarçam tão bem

    que ninguém pergunta

    de onde essa gente vem [...].

    (CHICO BUARQUE)

    (Trecho da música Brejo da Cruz)

    APRESENTAÇÃO

    Na vida acadêmica, política e social, aprendi que as preocupações com os problemas sociais não podem ser resolvidas ou entendidas como um objeto de pesquisa, cuja relação pesquisador(a) e objeto dá-se de forma distanciada e o resultado da investigação é uma junção de afirmações e/ou negações de uma determinada realidade, sem qualquer impacto social. Nesse limiar, procurei reconhecer e dar visibilidade aos sujeitos sociais do campo, entendendo esses sujeitos investigados como parte do processo da pesquisa, em igual condição da investigadora. Há, portanto, neste livro, uma dupla preocupação: a institucionalidade territorial por meio da atuação do colegiado do Território do Sertão do Apodi (RN) e as práticas educativas escolares e não escolares. Trago da experiência social investigada, o instrumento capaz de estabelecer, entre os sujeitos envolvidos, necessidades e compromissos, para produzir conhecimentos e tecer seus próprios destinos.

    Na travessia por novas veredas, fazendo uso da estética metafórica de Guimarães Rosa (2006), em Grande Sertão: Veredas, ousei percorrer, desbravar e desvendar a realidade social, abrindo caminhos para o reconhecimento do papel da educação no fortalecimento das identidades sociais, ao situar o sujeito socialmente, frente à condição de invisibilidade social, a que está submetido.

    Neste livro, meus questionamentos dão conta de quatro aspectos: a) a educação no contexto da atuação do colegiado do Território do Sertão do Apodi e seus desdobramentos em práticas educativas escolares e não escolares; b) a escola enquanto lugar de reconhecimento e visibilidade social dos sujeitos sociais do campo; c) a dinâmica de funcionamento do Território do Sertão Apodi, as forças sociais envolvidas, bem como os processos de construção de consensos decisórios e em que medida esses processos vinculam-se com a possibilidade de uma mudança qualitativa da vida dos sujeitos, por meio de processos criativos e inovadores de aprendizagem coletiva e emancipação humana; d) a identificação dos impactos e das possibilidades de ações que colaborem para a desconstrução da inferioridade e invisilidade dos sujeitos do campo, no conjunto de políticas articuladas no Território.

    Aqui, os achados da pesquisa – até 2012 – situam o(a) leitor(a) no momento de efervecência da política nacional dos Territórios da Cidadania no Brasil, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), extinto em 2016. Desde esse ano, a sociedade brasileira vivencia um completo desmonte dos direitos sociais históricos e corte das políticas sociais, voltadas ao desenvolvimento territorial e à redução das desigualdades regionais. Em 2016, o MDA, assim como outros ministérios, foi extinto, via medida provisória n.º 726, de 12 de maio de 2016, sendo incorporado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS). Dias depois, o Decreto n.º 8.780, de 27 de maio de 2016, transfere as competências do MDA, que estavam com o MDS, para a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, com vinculação ao Ministério da Casa Civil da Presidência da República, ficando a abordagem territorial como responsabilidade da Subsecretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), ligada a esse ministério. Se antes a política territorial tinha status de secretaria, a SDT, dentro de um ministério, o MDA, agora, essa secretaria aparece em um contexto secundário, enquanto estratégia de ação e atuação de uma subsecretaria. Essa mudança indica uma fase de desarticulação da política de desenvolvimento territorial e, com ela, os mecanismos de participação social, como os colegiados territoriais, em um contexto de desmonte das ações voltadas ao desenvolvimento social e à agricultura familiar.

    Embora façamos algumas atualizações, após 2012, a complexidade que envolve a derrocada das políticas públicas educacionais e agrárias merece aprofundamento posterior, considerando o atual contexto de desmobilização política e social dos colegiados territoriais.

    O fato é que a postura de reconhecimento social, ao se firmar no exercício da democracia participativa e na reparação de desigualdades sociais, põe-nos diante da confusão das coisas que acomete a realidade permeada de encontros e desencontros, ordem e desordem, de sentidos e significados diversos, feito um redemoinho: o senhor sabe – briga de ventos. O quando um esbarra com o outro, e se enrolam, o dôido espetáculo, como nos lembra Guimarães Rosa (2006, p. 245). E é justamente na sombra dos conflitos humanos, construindo e reconstruindo as teias de vivências, que repousam as possibilidades de enfrentamentos sociais numa realidade social diversa e heterogênea, tal qual se constitui o território e a educação.

    Simone Cabral Marinho dos Santos

    Pau dos Ferros-RN, maio de 2018.

    PREFÁCIO

    Territórios do reconhecimento: educação, democracia e desconstrução da inferioridade de sujeitos relegados pelo processo histórico excludente.

    O meu ponto de vista é dos ‘condenados da Terra’, dos excluídos.

    (Paulo Freire)

    Ao refletir sobre a questão democrática no mundo contemporâneo, Boaventura de Sousa Santos (2016, p. 18), afirma que a democracia não se reduz ao procedimentalismo, às igualdades formais, e aos direitos cívicos e políticos, uma vez que esses dispositivos, por mais importantes que sejam não foram capazes de estender, por si só, as potencialidades distributivas, materiais e simbólicas, às classes populares. Nessa perspectiva, conforme Santos, torna-se necessário conceber uma democracia de alta intensidade, participativa, a democracia como uma nova gramática social que rompa com o autoritarismo, o patrimonialismo, o monolitismo cultural, o não reconhecimento da diferença (SANTOS, 2016, p. 18). Para que essa gramática social se efetive é necessário um enorme investimento nos direitos econômicos, sociais e culturais, ressalta Boaventura de Sousa Santos (2016, p. 18).

    O presente livro aborda, justamente, uma experiência voltada à constituição dessa nova gramática social: os Territórios da Cidadania. Trata-se de uma política pública que, tendo por base o território, ou seja, o lugar de pertença, procurou enfrentar as desigualdades regionais, bem como as abissais desigualdades sociais existentes no Brasil. Para tanto, foram mobilizados recursos materiais, com a inclusão no orçamento do país, de uma agenda positiva de enfrentamento da exclusão social, como também mediante a expansão e fortalecimento dos direitos econômicos, sociais, políticos, culturais, das populações vulneráveis, enfim, das classes populares, para ser mais claro.

    Tais políticas emergiram a partir de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva, um operário metalúrgico e migrante nordestino, foi eleito Presidente da República pelo Partido dos Trabalhadores. A partir de então, iniciou-se um ciclo de expansão de políticas sociais redistributivas e de inclusão social, como aconteceu com a proteção salarial da classe trabalhadora e a adoção das quotas sociais; aprofundamento e diversificação das instâncias de democracia participativa, como o incremento das conferências nacionais, em diversas áreas a exemplo da educação e da saúde e em várias outras; descentralização das políticas culturais, com a criação dos Pontos de Cultura, disseminados por todo o país, atingindo os mais remotos lugares, mares e sertões; fortalecimento de uma agenda que conferia prioridade às pautas da diversidade: populações indígenas, afrodescendentes, questões de gênero e assim por diante. Esse quadro torna evidente que uma nova gramática social estava emergindo, com intensa interpelação e protagonismo popular.

    Tanto é assim, que essas forças políticas reformistas, sob a hegemonia do PT, lograram sair vitoriosas de quatro eleições presidenciais seguidas, elegendo os presidentes da república no período 2002-2013: Lula e Dilma Rousseff. No entanto, esse ciclo chegaria ao fim com o golpe de Estado parlamentar de 2016, que destituiu a presidente Dilma Rousseff, acusada de cometer crime de responsabilidade sem que isso tenha sido devidamente comprovado. As forças derrotadas em 2013, tendo o PSDB à frente e contando com o apoio decisivo dos seus aliados da direita política, questionaram a eleição desde o início. Todo esse processo culminou com o golpe de Estado de 2016, capitaneado por Michel Temer, antigo aliado do PMDB, que assume o poder, resultando na implantação de um Estado de exceção. Com isso, inicia-se a implantação de uma agenda política regressiva, ultraneoliberal, de ataques aos direitos humanos, sociais, trabalhistas, desmonte das políticas sociais inclusivas e da política externa independente dos centros hegemônicos do capitalismo, como vinha ocorrendo antes.

    No que diz respeito ao cenário externo, esse é um contexto em que diversos países da América Latina, especialmente da América do Sul, começam a eleger, por volta do ano 2000, governos identificados com uma agenda política de esquerda, reformista, de alargamento dos direitos humanos, sociais e trabalhistas, de fortalecimento da democracia participativa e de enfrentamento do neoliberalismo. Nesse momento, as instâncias regionais de poder, como o Mercosul e o Unasul, fortalecem-se e se tornam protagonistas no contexto internacional. Para tanto, o papel desempenhado pelo Brasil foi fundamental. Além das fronteiras da América do Sul, o governo brasileiro ganha estatura e se torna protagonista na política internacional, pela sua aproximação com países do continente africano e por inserir-se nos Brics, ao lado da China, Índia, África do Sul e Rússia inaugurando um processo de constituição de uma globalização anti-hegemônica. Renovam-se as esperanças de que outro mundo é possível; mais justo, mais belo, menos desigual.

    Políticas, como os Territórios da Cidadania, decorrem desse contexto de mudanças e de redefinição da agenda política. Esse é um tema importante que merece melhor atenção por parte dos estudiosos e dos movimentos sociais, principalmente, pelo enfoque que a autora privilegiou no seu trabalho com o apoio, notadamente, da teoria do reconhecimento social de Axel Honnett, da sociologia das ausências e das emergências de Boaventura Santos e da pedagogia libertadora de Paulo Freire. Esse enfoque implica em compreender os Territórios da Cidadania como Territórios do Reconhecimento e não apenas como espaço geográfico. Reconhecimento, esclareça-se, dos sujeitos do campo, a quem esse estudo privilegia.

    Nessa perspectiva, Simone Cabral aborda as experiências de desrespeito, humilhação e os direitos humanos e sociais vilipendiados, a que estão expostos esses sujeitos, como detonadores das lutas pelo reconhecimento e por políticas sociais de reparação de injustiças sociais produzidas pelo processo histórico excludente. Esse processo produz invisibilidades e a inferioridade das camadas sociais relegadas e denegridas por um sistema social desigual e injusto. Contudo, essa assimetria, ou seja, a produção da inferioridade ocorre não somente no plano material, conforme a dialética do senhor e do escravo, mas também no plano do simbólico à medida que silencia os oprimidos: ao fazer apagar as suas vozes, a diversidade das culturas e a pluralidade do conhecimento, como aconteceu com a dominação colonial capitalista, na qual o Brasil foi inserido.

    Uma das novidades, portanto, deste belo livro reside nisto: fazer uma leitura dos territórios, procurando desconstruir a inferioridade dos sujeitos do campo no domínio do simbólico. Para tanto, é preciso dar voz a esses sujeitos, retirá-los do silêncio e da invisibilidade como forma de inseri-los no espaço público e potencializar a sua ação coletiva em busca de justiça social. Daí o apelo que a autora faz à educação libertadora, à democracia participativa e à luta por reconhecimento social.

    Trata-se de aportes referenciais fundamentais para a desconstrução da inferioridade desses sujeitos no campo do simbólico. Para tanto é fundamental superar as monoculturas da mente, no dizer de Vandana Shiva, cultivando uma prática educativa dialógica e libertadora. É por meio da educação libertadora em espaços escolarizados e não escolarizados, que os sujeitos tomam conhecimento do seu lugar no mundo e, desse modo, reconhecem-se. Esse é o território dos diálogos dos saberes, conforme Edgar Morin, das ecologias do conhecimento, segundo Boaventura de Sousa Santos e da democracia cognitiva. Mediante a sociologia das ausências, torna-se possível evidenciar como as invisibilidades sociais são produzidas pelo processo histórico excludente. Por sua vez, a sociologia das emergências, ao disseminar amplamente pequenas ações coletivas exitosas, evidencia a existência de possíveis futuros, diferentes do presente. É isso que Simone Cabral Marinho dos Santos empreende neste trabalho, no qual escolheu o Território da Cidadania do Sertão do Apodi espaço da sua pesquisa.

    Infelizmente, essa nova gramática social, com o golpe de Estado parlamentar de 2016, vem sendo destroçada pelos violentos ataques de que vem sendo alvo as políticas sociais de inclusão social, os direitos humanos, sociais, trabalhistas e as políticas voltadas à diversidade. O desmonte começa com a extinção do próprio Ministério de Agricultura Familiar (MDA) e, por conseguinte, da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), aos quais estavam afetas as políticas atinentes aos Territórios da Cidadania. O MDA teve as suas competências transferidas e rebaixadas para a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e a SDT para a Subsecretaria de Desenvolvimento Rural, ambos vinculados ao Ministério da Casa Civil da Presidência da República. Portanto, são claros os indícios do processo de desarticulação e desmanche da política de desenvolvimento territorial e, com elas, dos mecanismos de participação social, como os colegiados territoriais, numa evidente demonstração da celeridade com que está sendo implantada a destruição das ações voltadas ao desenvolvimento social e da agricultura familiar.

    Apresentado originalmente como tese de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN, este livro, escrito com paixão e esmero, constitui uma leitura imprescindível a todos que se posicionam do ponto de vista dos ‘Condenados da Terra’, como diz o mestre Paulo Freire, que se interessam e lutam por justiça social, pelo fortalecimento do espaço público democrático e o enfrentamento das desigualdades sociais de toda a sorte, em defesa da diversidade, com esperança e convicção que outro mundo é possível.

    Natal-RN, março de 2018.

    José Willington Germano

    Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

    REFERÊNCIA

    SANTOS, B. S. A difícil democracia: reinventar as esquerdas. São Paulo: Boitempo, 2016.

    Sumário

    1

    INICIANDO A TRAVESSIA: A TÍTULO DE INTRODUÇÃO 21

    2

    TERRITÓRIO E LUTA POR RECONHECIMENTO: O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DA INVISIBILIDADE E INFERIORIDADE DOS SUJEITOS DO CAMPO 31

    2.1. PADRÕES SOCIAIS DE RECONHECIMENTO SOCIAL E SUPERAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE INFERIORIDADE E INVISIBILIDADE SOCIAL 33

    2.2. O CAMPO E A POLÍTICA NACIONAL DOS TERRITÓRIOS 51

    2.3. OS COLEGIADOS TERRITORIAIS 65

    2.4. O TERRITÓRIO SERTÃO DO APODI: PROCESSO DE FORMAÇÃO 69

    3

    O LUGAR DA EDUCAÇÃO NO TERRITÓRIO SERTÃO DO APODI: CONSTRUINDO TEIAS DE VIVÊNCIAS NO COLEGIADO TERRITORIAL 91

    3.1. DA EDUCAÇÃO RURAL À EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA IDENTIDADE EM CONSTRUÇÃO 92

    3.2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS 97

    3.3. A EDUCAÇÃO NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960 107

    3.4. O DEBATE ATUAL EM TORNO DE UMA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO 116

    3.5. TRAVESSIAS, VIVÊNCIAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ESPAÇOS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES NO TERRITÓRIO SERTÃO DO APODI 130

    3.5.1. A pauta da educação no Território 141

    4

    LUTA POR RECONHECIMENTO: ABRINDO-SE VEREDAS PARA EDUCAÇÃO 149

    4.1. O ASSENTAMENTO SANTA AGOSTINHA-CARAÚBAS-RN: O LUGAR, O CAMINHO, OS SUJEITOS E A CRECHE ESPAÇO DA ALEGRIA 150

    4.1.1. A Creche Espaço da Alegria 161

    4.2. PROPOSTA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA 174

    4.3. ABRINDO-SE VEREDAS: ENTRE AS VULNERABILIDADES E AS POTENCIALIDADES DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DA INVISIBILIDADE E INFERIORIDADE DOS SUJEITOS DO CAMPO 186

    CONCLUINDO PARA CONTINUAR A TRAVESSIA 197

    REFERÊNCIAS 203

    ANEXO 221

    CARTA TERRITÓRIO SERTÃO DO APODI-FÓRUM CARAÚBAS (Texto mimeografado; não publicado, título original) 221

    1

    INICIANDO A TRAVESSIA:

    A TÍTULO DE INTRODUÇÃO

    ¹

    O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah! Que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado de arrocho de autoridade [...] Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães[...] O sertão está em toda parte (ROSA, 2006, p. 7-8).

    A sonoridade do ser e do falar sertanejo expressa na obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (2006), certamente, inspira uma escuta sensível para se pensar o sertão. Guimarães Rosa, numa linguagem própria e recriada no relato das memórias de sua personagem principal, Riobaldo, retrata o cenário de um sertão marginalizado, marcado pela rusticidade da realidade. Delineia a sua geografia encantada retomando a grandeza do sertão brasileiro ao abordar as particularidades regionais como uma dimensão universal. Assim, eleva, ou mesmo, confunde-o à imagem da totalidade do mundo: O sertão está em toda parte (ROSA, 2006, p. 8).

    O sertão descrito por Guimarães Rosa ora é pequeno, próximo e concreto, ora é indecifrável pelo estranhamento da condição e linguagem sertaneja e finito apenas pela grandeza do mundo. Dizemos, então, paradoxalmente, que pode ser entendido como um lugar de natureza abrasiva e nada atraente, ao mesmo tempo, um lugar de encantamentos. Por trás dos relatos das áridas vidas de seus personagens, tanto o conformismo como o desejo de luta, dialeticamente, são confrontados na peleja pela sobrevivência, movidos pelo apelo humano e universal de sentimentos como amor, raiva e medo. Nesse contexto literário, o sertão não se limita ao espaço físico, mas simboliza a relação do sujeito com o seu tempo, o seu cotidiano, os seus questionamentos, enfim, com o significado da vida.

    Sem a pretensão de encontrar medidas para localizar e definir o sertão, preferimos percebê-lo em sua diversidade social, cultural, política e econômica, como tão bem o decifrou Guimarães Rosa (2006). Esse trabalho tem o sertão como limite espaço-temporal de investigação, em que trazemos para o exercício da descoberta e da criação que implica a pesquisa acadêmica e científica, o Território Sertão do Apodi, localizado no estado do Rio Grande do Norte.

    Este livro é resultado de nossa tese de doutorado, defendida em 2012, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em que discutimos a tomada de decisão, as tensões, os limites, as vulnerabilidades e as ambiguidades, mas também às possibilidades da participação em favor do reconhecimento social dos sujeitos sociais do campo. Buscamos inovadoras formas de institucionalidade política baseadas na democracia participativa que reconhecesse e pudesse dar visibilidade às ações e às práticas sociais capazes de gerar novas normas e formas de controle social dos sujeitos para garantir abertura à negociação de interesses heterogêneos e resistência às formas hegemônicas de educação.

    Ao reconhecermos as especificidades que compõem

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