Parecer nº /CONADE/SEDH/PR
RELATÓRIO
3- AUDIODESCRIÇÃO
Inicialmente é preciso destacar que as pessoas com deficiência fazem
parte do conjunto da população brasileira1 e também estão sujeitas a todas as
normas que regem a sociedade, dentre elas a de serem tratadas como sujeitos
de direitos. Para que isso se efetive e a pessoa com deficiência possa exercer
seus direitos, é fundamental que haja equiparação de oportunidades.
Permite que qualquer usuário, mesmo aquele que não pode ver, receba
a informação contida na imagem ao mesmo tempo em que esta aparece,
possibilitando apreciar integralmente a obra, seguir a trama e captar a
subjetividade da narrativa, da mesma forma que alguém que enxerga.
Pesquisas da Dra. Lívia Maria Villela de Mello Motta3 indicam que esse
recurso aumenta em até 80% o nível de compreensão do conteúdo veiculado.
Tanto é assim que foi concedido o prazo de noventa dias para que a
audiodescrição fosse oferecida de forma crescente, iniciando com duas horas
diárias.
5 Disponível em http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/11/direitos-
inegociaveis-por-elizabet-sa.html
Por outro lado, necessário destacar que qualquer mudança no
cronograma constante da Norma Complementar nº 01/2006, que não seja
para agilizar a implementação estabelecida para esta tecnologia assistiva
– cujo prazo de implementação final estava previsto para dez anos –
serviria para beneficiar, mais uma vez, as emissoras de televisão, que
seriam desobrigadas do ônus de propiciar acessibilidade, para assegurar
a plena cidadania das pessoas com deficiência.
4. O DESRESPEITO CONTINUADO
É inadmissível que o interesse pessoal das emissoras de televisão e
suas entidades representativas, que detêm concessão, permissão e
autorização do Governo Federal para funcionar leve-as a postergar o máximo
possível o cumprimento de sua obrigação.
Uma pergunta básica: por que após terem decorrido quase vinte anos da
promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil ainda não se
vê nas transmissões e retransmissões da TV brasileira sequer um único
programa continuado com todos os recursos de acessibilidade – notadamente
a audiodescrição – que permita que uma pessoa com deficiência, possa
exercer com dignidade e autonomia seu direito à informação como todas as
demais pessoas?
Isso quer dizer que a definição de quem tem ou não uma deficiência não
depende tanto das características pessoais dos indivíduos, mas também, e
principalmente, do modo como a sociedade onde vive, organiza seu entorno
para atender à população em geral.
Direitos humanos não podem ser tidos como simples palavras impressas
em algum papel para que sejam ignoradas ou tratadas como letra fria e
grotesca. Impõe-se que seja resguardada a coerência entre os valores do
sistema constitucional e as relações existentes entre os seres.
6 http://www.mj.gov.br/sedh/ct/CORDE/dpdh/corde/ABNT/NBR15290.PDF
telecomunicações por meio de concessões, delegações e permissões da
Administração Pública no Brasil; toda a tecnologia já foi substituída da década
de 1980 até os dias atuais e as empresas permanecem fortes e muito
vinculadas ao Poder Executivo e Legislativo no Brasil7, apesar da vedação
constitucional. Porém, a situação de exclusão por falta de acessibilidade
permanece e a pessoa com deficiência é ignorada e seus direitos violados
como em um crime continuado.
Outro fato que merece destaque é que a presença de uma pessoa com
deficiência em ambientes ou serviços inacessíveis “personifica” o problema e
quem não vivencia a situação de deficiência em seu cotidiano prefere sugerir
uma submissão ou um tratamento diferenciado (preconceituoso ou privilegiado
– ambos proibidos) para solucionar o embate naquele momento, ignorando a
“deficiência” do sistema.
7 Ver www.donosdamidia.com.br
Como conseqüência, queremos inibir imediatamente este desrespeito ao
ordenamento jurídico em vigor, pleiteando a determinação judicial que o
sistema de telecomunicações não exclua nenhum cidadão brasileiro, tornando-
se adequado a todos e que nenhum edital ou contrato de concessão,
delegação ou permissão deste tipo de serviço público seja feito sem a previsão
e exigibilidade de acessibilidade.
Esclareca-se que essas empresas não irão fazê-lo até que o Ministério
das Comunicações exija o cumprimento de toda legislação nacional de
acessibilidade nas telecomunicações.
5. Conclusões e Encaminhamentos:
Por fim, necessário expedir ofício à Imprensa Oficial para que torne o
conteúdo do site e do diário oficial da união acessível a todos e todas, inclusive
para as pessoas com deficiência.
Salvo melhor juízo, é o nosso parecer.
De Uberlândia para Brasília, 02 de novembro de 2009.
Denise Granja
Presidente do CONADE
Para uso interno do CONADE