0 penilaian0% menganggap dokumen ini bermanfaat (0 suara)
148 tayangan8 halaman
O documento discute conceitos fundamentais da poética lírica de acordo com Emil Staiger. Resume três características essenciais da poesia lírica: 1) a ênfase na musicalidade através da fonética e rima das palavras; 2) a fusão entre significado e música das palavras onde a linguagem dissolve-se no clima descrito; 3) o uso do presente para capturar momentos passageiros sem preocupação com relações espaço-temporais.
O documento discute conceitos fundamentais da poética lírica de acordo com Emil Staiger. Resume três características essenciais da poesia lírica: 1) a ênfase na musicalidade através da fonética e rima das palavras; 2) a fusão entre significado e música das palavras onde a linguagem dissolve-se no clima descrito; 3) o uso do presente para capturar momentos passageiros sem preocupação com relações espaço-temporais.
O documento discute conceitos fundamentais da poética lírica de acordo com Emil Staiger. Resume três características essenciais da poesia lírica: 1) a ênfase na musicalidade através da fonética e rima das palavras; 2) a fusão entre significado e música das palavras onde a linguagem dissolve-se no clima descrito; 3) o uso do presente para capturar momentos passageiros sem preocupação com relações espaço-temporais.
UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - Cassilndia
PROF: dila de Cssia Souza Santana 1 ano de Letras/ 2014
Conceitos Fundamentais da Potica - Emil Staiger
Estilo Lrico: A Recordao A importncia da constante fontica, e de como a evoluo da palavra no texto d em sua eficcia; Importncia da Rima, dos sons, ou seja, da musicalidade que constitue a produo potica, em se tratando da poesia lrica; Unidade entre a significao das palavras e sua msica; Importante: No estilo lrico, entretanto, no se d a "re"-produo lingstica de um fato. No se pode aceitar que na "Wanderers Nachtlied" estivesse de um lado o clima do crepsculo e do outro a lngua com todos os seus sons, pronta a ser aplicada. Antes, a prpria noite que soa como lngua. O poeta no ''realiza" coisa alguma. Ainda no h aqui um' defrontar-se objetivo (Gegenber). A lngua dissolve-se no clima crepuscular e o crepsculo na lngua. Por isso, a indicao das ralaes sonoras isoladas est fadada a decepcionar. interpretao separa em partes distintas o que em sua origem enigmaticamente uma s coisa. Alm disso, ela no pode nunca desvendar todo o mistrio da obra lrica. Pois esse estado de unicidade (Einssein) mais ntimo que a mais sagaz perspiccia de esprito; capaz de notar como uma face "fala" muito mais que qualquer descrio fisionmica e a alma mais profunda que qualquer tentativa de interpretao psicolgica. (STAIGER) Impotncia ao processo de elocuo da poesia; Os riscos da traduo; Versos lricos, entretanto, quando tm que ser declamados, s soam corretamente, enquanto ressurgem de profunda submerso, de uma quietude isolada do mundo, mesmo quando se trata de versos alegres. Eles precisam do encantamento da inspirao, e qualquer suspeita de intencionalidade continua aqui em desacordo. ( STAIGER) Isso que dificulta ou mesmo impossibilita a traduo em lnguas estrangeiras. No caso das onomatopias, um tradutor engenhoso poder sair-se bem. Entretanto, muito improvvel que palavras com o mesmo sentido em lnguas diversas tenham tambm a mesma unidade lrica de sons e significao. ( STAIGER) Porm, acontece que somos contagiados pela produo sem conhece-la ao p da letra literalmente. A msica esse remanescente, linguagem que se comunica sem palavras, mas que se expande tambm entoando-as. O prprio poeta confessa-o, quando compe a cano (Lied) que destina ao canto. No canto, h uma elaborao da curva meldica, do ritmo. O contedo da frase passa a ter menor importncia para o ouvinte. Acontece, s vezes, que o prprio cantor no sabe bem de que se fala no texto. ( STAIGER) A Lrica causava dificuldades Potica antiga, que procurava classificar os gneros de acordo com caractersticas mtricas, justamente pela variedade de metros existentes, "varietate carminum". Finalmente a potica encontra a melhor sada, dizendo que esta "variedade" uma caracterstica do gnero. (STAIGER) O valor da repetio dentro da composio lrica o refro. A repetio na lrica tem um sentido;
Mas o comum em canes populares ou outros poemas nos mesmos moldes que o refro se diferencie pelo seu carter musical. Parece concentrar em si o elemento lrico, enquanto o resto do poema tende mais ao pico ou ao dramtico. Brentano traz inmeros exemplos. Suas poesias mais longas costumam apresentar um acontecimento, em tom de balada, ou em versos mais ou menos descuidados, e ao mesmo tempo coro-los sempre maneira de captulos, com um refro feiticeiro; Os versos alternantes dessa poesia so declamados a maioria das vezes de modo recitativo, se possvel por um s declamador, para que a "histria" seja compreendida. No refro, colaboram tambm os ouvintes. O canto avoluma-se. (STAIGER) Esses exemplos so os melhores para mostrar o valor do refro. O poeta toca de novo conscientemente a corda que estava soando espontnea em seu corao e escuta o tom pela segunda, terceira, quarta e quinta vezes. O que lhe escapa como linguagem reproduz o mesmo clima anmico, possibilitando uma volta ao momento da inspirao lrica. Nesse meio tempo, ele pode narrar algo ou refletir sobre a disposio anmica (Stimmung). O todo conserva-se liricamente coeso. O refro no final da estrofe no traz diferenas fundamentais. (STAIGER) Apenas o elemento lrico colocado artificialmente no fim, e significativo que aparea o refro no ttulo como em "Amorzinho, Amorzinho perdeu-se"; pois, com isso, a atmosfera lrica comea tambm, realmente desde a; o refro a fonte musical do todo.(STAIGER) Para o poeta lrico no existe uma substncia, mas apenas acidentes, nada que perdure, apenas coisas passageiras. Para ele, uma mulher no tem "corpo", nada resistente, nada de contornos. Tem talvez um brilho nos olhos e seios que o confundem, mas no tem um busto no sentido de uma forma plstica e nenhuma fisionomia marcante. Uma paisagem tem cores, luzes, aromas, mas nem cho, nem terra como base. Quando falamos na poesia lrica, por essa razo, em imagens, no podemos lembrar absolutamente de pinturas, mas no mximo de vises que surgem e se desfazem novamente, despreocupadas com as relaes de espao e tempo. (STAIGER) Chamamos a isso saltos da imaginao, como tendemos a falar em relao linguagem de saltos gramaticais. Mas tais movimentos so saltos apenas para a inteno e para o esprito pensante. A alma no d saltos, resvala. Fatos distanciados nela esto juntos como se manifestaram. Ela no necessita de membros de ligao, j que todas as partes esto imersas no clima ou na "disposio anmica" lrica. ( STAIGER) A poesia lrica carece to pouco de conexes lgicas, quanto o todo de fundamentao. Na poesia pica quando, onde e quem tero que estar mais ou menos esclarecidos antes da histria iniciar-se. Com muito mais razes, o autor dramtico tem que pressupor a existncia de um teatro, e o que falta fundamentao do todo acrescentado posteriormente. Uma poesia pode tambm comear com uma espcie de exposio. (STAIGER) A poesia no exige o modelo racional das palavras. O poeta no conscientiza a procedncia de sua inspirao; Compreende-se qual a razo dessa falta de fundamentao. Em qualquer parte, no fluir de um dia descaracterizado, a existncia transforma-se em msica. o ''ensejo" que levou Goethe a chamar todo trecho autenticamente lrico de uma poesia de momento. Tal ensejo est relacionado com a histria da vida. Deixa-se fundamentar biogrfica, psicolgica, sociolgica, histrica e biologicamente. Goethe em "Poesia e Verdade" explicita a partir do contexto biogrfico o ensejo de muitas de suas poesias. (STAIGER) O leitor s posteriormente d-se conta de que os versos causaram-lhe alegria ou consolo porque tambm ele vive idnticos condicionamentos. A uma leitura autntica, o prprio leitor vibra conjuntamente sem saber porque, ou melhor, sem qualquer razo lgica. Somente quem no vibra em unssono com a obra exige razes. Somente o que no consegue participar diretamente do clima lrico, ter que o considerar possvel e depender de uma compreenso. (STAIGER) Ao poeta lrico, propriamente, no importa se um leitor tambm vibra, se ele discute a verdade de um estado lrico. O poeta lrico solitrio, no se interessa pelo pblico; cria para si mesmo. Mas uma tal afirmao exige esclarecimentos. Composies lricas tambm publicam-se. A colheita de anos e anos reunida e entregue a um pblico. (STAIGER) A distncia entre obra e ouvinte, aqui superada, inexiste igualmente entre poeta e aquilo de que ele fala. O poeta lrico diz quase sempre "eu". Mas o emprega diferentemente de um autor de autobiografia. S se pode escrever sobre a prpria vida quando a poca abordada ficou para atrs e o eu pode ser visto e descrito de um ponto de observao mais alto. O autor lrico no se "descreve" porque no se "compreende". As palavras "descrever" e "compreender" pressupem um defrontar-se objetivo. Se a primeira se presta a composies autobiogrficas, a ltima serve para um dirio em que o homem se pode dar conta de horas tambm j passadas. (STAIGER) Somente aparentemente, somente no tempo medido pelo relgio que o tema, neste caso, est mais prximo que na autobiografia, pois quem escreve um dirio faz tambm de si o objeto de uma reflexo. Reflete, inclina-se sobre o passado. Se se inclina para trs porque j deixou para trs o alvo. Realmente, o termo reafirma-se em significao literal. O autor de um dirio liberta-se de cada dia, enquanto toma distncia e reflete sobre ele. Se no o conseguir, se expressar-se diretamente, seu dirio soar lrico. (STAIGER) Isso nos conduz ao tempo gramatical do lrico. O presente domina de tal modo que seria suprfluo citar exemplos; (STAIGER) H composies que o poeta entre o presente e o lrico, porm, o pretrito tem tambm um sentido diferente do pretrito pico. O passado que procuram trazer no est longe nem terminou. No delineado nitidamente e nem compreendido em sua totalidade, movimenta-se ainda e comove o poeta e a ns mesmos com a magia que o "An den Mond" de Goethe irradia e que Keller louva mais sobriamente no "Jugendgedenken" ("Lembranas, da Juventude"). (STAIGER)
O passado como objeto de narrao pertence a memria. O passado como tema do lrico um tesouro de recordao. (STAIGER)
Exemplo: Aromas, mais que impresses pticas pertencem recordao. Pode ser que no conservemos um aroma na memria, mas sem dvida o conservamos na recordao. Quando ele se espalha de novo, um acontecimento passado de h muito torna-se subitamente perceptvel; o corao bate e finalmente a recordao instiga a memria; podemos dizer em que circunstncias este aroma nos inebriou os sentidos. Que os aromas pertenam to inteiramente recordao e to pouco memria est sem dvida ligado ao fato de que ns no lhes podemos dar formas, frequentemente mal lhes podemos dar nomes. (STAIGER) "O gnero lrico no objetivo": Esta a frmula geralmente empregada desde a Esttica Idealista. Expressa afirmativamente, a frmula ter que ser: o gnero lrico subjetivo. Da decorre uma subdiviso da poesia em: lrica poesia subjetiva; pica poesia objetiva; drama uma sntese de ambas em que o mtodo de reflexo idealista acha-se reafirmado segundo os dualismos eu-no-eu, esprito natureza ou pela dialtica hegeliana. Como sistema ou metafsica, o idealismo no serve mais de base para as cincias humanas. Os conceitos "poesia subjetiva" e "objetiva" permaneceram e enriqueceram seus valores semnticos. (STAIGER) Assim a objetividade da epopeia se explica por apresentar esta a realidade como ela existe, independente da pessoa do poeta. "Objetivo" significa ento algo "imparcial e real" (sachlich) e por isso "de validade universal". A Lrica deve mostrar o reflexo das coisas e dos acontecimentos na conscincia individual. Aqui os conceitos confundem-se. Se "independente da pessoa" quer dizer "em si", a conceituao est visivelmente falsa. Nenhum objeto acessvel "em si". Justamente por ser objeto, est em frente, pode ser observado apenas a partir de um ponto de vista, de uma perspectiva que justamente a do poeta, de seu tempo ou de seu povo. (STAIGER) "Objetivo" no portanto idntico a "independente do poeta". O conceito "presente" deve ser tomado ao p da letra. Deve indicar um frente a frente. Assim podemos dizer que o narrador torna presente fatos passados. O poeta lrico nem torna presente algo passado, nem tambm o que acontece agora. Ambos esto igualmente prximos dele; mais prximos que qualquer presente. Ele se dilui a, quer dizer ele "recorda". "Recordar" deve ser o termo para a falta de distncia entre sujeito e objeto, para o um-noutro lrico. Fatos presentes, passados e at futuros podem ser recordados na criao lrica. (STAIGER) No como se agora, entretanto, o "mundo interior" lrico fosse renovado: "Recordao" no significa o "ingressar do mundo no sujeito", mas sim, sempre, o um no outro, de modo que se poderia dizer indiferentemente: o poeta recorda a natureza, ou a natureza recorda o poeta. O segundo corresponderia, inclusive, melhor experincia de muitos poetas lricos que o primeiro. Pelo menos haveria maior aproximao com o estado de graa ou de maldio da disposio interior.(STAIGER) Os sentimentos, todos os estados mais recnditos e profundos de nosso ntimo no esto entrelaados da maneira mais esquisita com a paisagem, uma estao do ano, um estado da atmosfera, um alento? Um certo movimento, com o qual desce de um carro alto; uma noite de vero sem estrelas; o cheiro de pedras midas num vestbulo de casa; a sensao de gua gelada ao salpicarem gotas de uma fonte em tuas mos; toda tua riqueza interior est ligada a milhares dessas coisas telricas, teus progressos, teus desejos, tua embriaguez. Mais que ligada, criada a solidamente com as razes de sua vida, que se com uma faca as cortasses desse solo, elas murchariam e morreriam entre tuas mos. Se queremos encontrar a ns mesmos, no podemos descer ao nosso ntimo; temos que ser buscados fora, sim, fora de ns. Como arco-ris fantstico nossa alma ameaa-se sobre a precipitao irresistvel da existncia. No possumos nossa pessoa; ela nos sopra de fora, foge-nos por muito tempo e volta-nos num sopro. Apesar de ser nossa "pessoa". A expresso uma ousada metfora. (STAIGER) Voltam estmulos que se aninharam aqui, outrora, um dia. E so realmente os mesmos? No apenas seu sangue, trazido aqui por um misterioso sentimento ptrio? o que basta, algo volta. E algo se encontra em ns com outro algo. No passamos de um pombal". (STAIGER) O autor lrico no toma imagens da esfera do corpo (Krper) para expressar uma coisa diversa, como o estado da alma; mas a prpria alma que corprea(leiblich) e se transforma em sentimentos que no afligem o "Krper", mas o "Leib". Mas tambm com isso a ''disposio anmica" no trazida ao interior. Apenas o "Knper" limitado e representado como uma forma em que de tora se pode penetrar. Leib, ao contrrio, a denominao para tudo que anula a distncia entre ns e o mundo exterior. (STAIGER) Quando Safo escorre suor ou tomada de tremores, justamente quando ela no est "em si, mas "fora de si". Nas entranhas que ardem, Mignon sente a distncia da terra amada. Do ponto de vista do "Leib", portanto, no nos sentimos como individualidade, como pessoa ou ser historicamente localizado. Sentimos a paisagem, a noite, a amada, ou mais exatamente sentimo-nos na noite e na amada: Dilumo-nos no que sentimos. (STAIGER)
Entretanto o poeta lrico, certamente imbudo do generalizado modo de expresso pico, fala de mundo interior e mundo exterior. E chama justamente de ''ntimo" algo recordado que no lhe est no momento diante dos olhos, algo passado ou ainda futuro. "Atravs do labirinto do peito" desfilam dias inenarrveis de amor. "No corao os pensamentos" (Eichendor) so igualmente recordaes do passado. Mas tambm este interior de acento predominantemente local que considera o peito e o corao como uma espcie de forma oca, o que quer dizer em ltima anlise "no presente"; e no descobrimos qualquer diferena daquelas recordaes da vida presente no espao, em que na linguagem simples do poeta o um-no-outro insinua-se at certo ponto puro; (STAIGER)
No "Wanderer in der Sgemuhle" ("Viandante na Serraria") Kerner sonha com o que se apresenta a seus olhos, recorda a paisagem e o moinho da serraria; tal recordao possvel porque ele sente, no arroio que enche e esvazia as canaietas, a tristeza de sua vida seca; no rudo repetido da serra, que atravessa dolorosamente a madeira do abeto, a origem dolorida de seus versos, e na preparao do sarcfago, da morte, o ltimo sentido de sua vida. "Cala-se a alegria inquieta do homem: / murmura a terra, como em sonho / maravilhadamente com todas as rvores / o que o corao mal percebe, / velhos tempos, tristezas amenas / e tremores abafados passeiam / pelo peito como faixas luminosas" * "Ante seu olhar, como ante o imprio do sol, / ante seu alento como ante brisas primaveris / funde-se o eu, de h muito em tmulos glidos / jazendo frio e rijo; / no perduram egosmo, nem teimosia; / fogem de medo sua presena." (STAIGER) O artista refere-se poesia lrica, enquanto o diletante est falando do fenmeno lrico. de poesias lricas que destacamos o fenmeno lrico. Portanto no podemos deixar de chamar a ateno para a contradio existente entre o lrico e toda a essncia da linguagem. Atravs da lngua, por exemplo, como rgo do conhecimento polemizamos com a realidade e estabelecemos algumas relaes entre as coisas. A prpria lngua serve como o instrumento da anlise, para em seguida, de novo, reunir ela mesma os elementos distintos em construes frasais. (STAIGER) Resta-nos ainda falar dos limites da poesia lrica e dizer quanto eles ainda devem ao poeta e ao leitor. Muitas vezes sentimo-nos obrigados a falar sobre o "milagre" da linguagem lrica. Ela inexplicvel e no reflete mrito algum, j que ningum a cria a fora. Aqui bem se aplica a frase de Duhamel: "Miracle n'est ps oeuvre".25 O poeta lrico no produz coisa alguma. (1) Por isso, enquanto o autor pico tem que ser diligente e o dramtico at aferrado, o lrico pode ser to indolente como Mrike ou to ablico como Brentano. (STAIGER) O elemento pico precisa ser recolhido, o dramtico tem que ser arrancado a fora. O lrico, porm, dado por inspirao. Esperar pela inspirao a nica coisa que o artista lrico pode fazer. (STAIGER) Quem, entretanto, toda vez espera a graa, s pode abandonar-se tambm graa, e no ter direito de aguardar nenhum efeito da fora, da vontade nem da pacincia. Aqui no se pode excetuar nem ao menos uma tmida burilao da cano. No caso de uma cano no ser elaborada por conhecimento de arte o que sem dvida tambm pode acontecer novos matizes s podero surgir de novas inspiraes. "Miracle n'est ps oeuvre", e mais adiante, "poemas so beijos que a pessoa d aomundo; mas de simples beijos no nascem crianas". Isso to espirituoso e to sbio como muitas das melhores idias de Goethe sobre questes estticas. Ele diz inicialmente fiquemos na mesma imagem que o lrico no gerado, no concebido nem dado luz. (STAIGER) Gerar, conceber e dar luz apenas corresponderiam a uma poesia que; acordasse o grmen da vida na "matria" e aos poucos forma-se uma criatura. Adiante diz Goethe, porm, que no lrico nada fundamentado. (STAIGER) O autor lrico por conseguinte no constri coisa alguma, mas naturalmente tambm no destri. Uma tragdia pode destruir a crena, descobrindo as contradies existentes na imagem do mundo feita por uma gerao (veja-se pg. 150). O poeta lrico, porm, arrastado pela corrente da existncia e esquecendo a cada momento o anterior, sem ser portanto capaz de estabelecer qualquer relacionamento, tambm no consegue perceber contradies. (STAIGER) A noite cheia de mentira e enganos, a noite seio maternal. Nunca vejo bastante, vejo demais em seus olhos. Uma contradio ao lado da outra, sem intermedirios. Mas isso no aflige o poeta, pois ele no pensa, nem pressupe coisa alguma. (SATAIGER) Um drama pode provar que um mundo histrico impossvel (pg. 147). Epopia e dramas tm, portanto, uma funo histrica. De uma cano no se deduz nada. Ela composta, deixa-nos impassveis, conta com a admirao de alguns. Mas ningum pode determinar sua vida segundo uma cano, como se pode por exemplo escolher um heri a partir de uma obra pica ou de um drama. A cano no nos serve de modelo nem, ao contrrio, capaz de horrorizar-nos. No nos aconselha, quando temos que tomar uma deciso, enquanto que uma frase pode bem nos encorajar em alguma prova difcil. As canes no se fazem necessrias. No resolvem problemas.No podemos recorrer a elas. (STAIGER) Quem gostaria de tomar, uma vez que fosse, um perfume, algo flutuante ou atmosfrico, como testemunha de qualquer coisa? Uma cano pode consolar-nos, mas no nos pode ajudar. antes uma amada que um amigo em quem nos apoiamos para lanarmonos obra ou ao, e antes uma amada que uma esposa, que est ligada para sempre ao marido. Tudo isso leva concluso de que a poesia lrica nada domina, no tem objeto em que incidir qualquer espcie de fora, e que, enfim, cheia de alma mas no tem esprito. (STAIGER) E isto no espelha nova decorrncia do pequeno tamanho da cano? Suas poucas linhas "no apresentam coisa alguma". Como poderiam contar histrias ou dar algum tipo de segurana a que nos pudssemos abandonar? A isso nada se pode objetar. Mas j sabemos como esta pequena extenso pertence essncia do lrico; toda cano curta porque s dura o tempo em que o existente (das Seiende) est em total harmonia com o poeta. Isso quer dizer, em outras palavras, que o poeta lrico no tem destino. Onde quer que o destino, a resistncia de uma realidade estranha qualquer, possa interferir, seu ato de criar cessa. (STAIGER) Ele no reflete sobre o que significa este cessar, nem pensa que aquela-vida que era msica agora de novo estranha e exterior. Ele chega a perceber o fato e o lamenta com tristeza. Mas enquanto o percebe no consegue exprimir-se como poeta. Resta-lhe apenas esperar pela nova ddiva da harmonia. Ento ele cantar novos versos, para calar-se outra vez em breve. Uma existncia terrvel, que compra a beatitude da graa ao preo de um desamparo comovedor com respeito a tudo que signifique proveito, e que compra a felicidade da harmonia pelo preo de uma ferida a sangrar dia a dia, para a qual no floresce na terra uma planta que a cure. (STAIGER)
STAIGER, Emil. Conceitos Fundamentais da Potica. Tempo Brasileiro Rio de Janeiro, 1977.