Dr. Odilon torna público o “venerável documento”, e que por seu intermédio é
preservado e restaurado, devemos a ele como num testemunho de reconhecimento pelo espírito
desbravador e empreendedor da preservação da história de Mogi Mirim, a possibilidade deste
trabalho de transcrição existir de forma integral, com pouquíssimas lacunas, se considerarmos os
233 anos, num país em que o respeito pela memória histórica trilha seus primeiros passos.
Merece e requer algumas notas explicativas, transcritas das aulas do Curso de Paleografia,
que o mestre ministrava, tendo como base a história do município de Mogi Mirim:
- Em certas linhas, aparece pontilhados (indica que há furos no papel original); em outras,
o traço é interrompido (indica que a escrita está praticamente invisível, por umidade ou
desbotamento).
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valem por uma palavra, geralmente monossilábica. Exemplos: & = e; + = mais; cruz; § =
parágrafo; etc.
- O 1°. Livro de Atas de Mogi Mirim teve três escrivãos: João Correia Dias de 1° de abril
de 1770 até 2 de fevereiro de 1772 e de 15 de agosto de 1773 até 5 de fevereiro de 1775; Antonio
Franco de Oliveira de 2 de fevereiro de 1772 até 11 de julho de 1773; e José Rodrigues Pimentel
de 12 de abril de 1775. É interessante caracterizá-los:
- João Correia Dias - Esteve no cargo duas vezes, a primeira, um ano e meio antes de ser
oficializada a escrita da 1ª. ata que data de 1°. de abril de 1770, até fevereiro de 1772, retornou ao
cargo de escrivão devido ao impedimento de Antonio Franco de Oliveira em agosto de 1773,
ficando até fevereiro de 1775, podemos dizer que a grande maioria das atas do 1º. Livro de Atas
da Câmara Municipal de Mogi Mirim foram escritas por esse escrivão que possuía uma letra
pouco extensa horizontalmente, legível na grande maioria dos textos, sendo habitualmente
caprichada.
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- Antonio Franco de Oliveira - O segundo a exercer aquele cargo, as letras traçadas são
mais facilmente legíveis que as do antecessor dele. Algumas peculiaridades da grafia do escrivão:
a) “corenta” em lugar de “quarenta” (esta já era usada, naquela época); b) um caractere
semelhante a um “C” era, no traçado dele, a letra “E”; c) “veriança”, ao invés de “vereança”; d)
uso da letra “u” também com valor de “v”, como se pode verificar em “feuereiro” e “Xauier”,
por exemplos; e) ele escrevia “Mogi merim” e não “Mogi mirim”. Outro cacoete gráfico do
referido escrivão era escrever “eSCriuaõ” e “eSCreuy”. Ele tinha algumas práticas um tanto
curiosas: o “S” final ele costumava prolongar bem a haste inferior dele, tornando aquela letra
mais parecida com “Z”. Apesar de excêntrico esse escrivão registrou pouco mais que uma dezena
de atas desse primeiro livro de atas.
As letras manuscritas pelo ex-juiz ordinário José Rodrigues Pimentel são grandes,
irregulares e pouco caprichadas. Ele cometeu diversos erros de grafia, notadamente em alguns
sobrenomes, tais como Grojão (que ele escreveu grogam) e Queirós (queiros). Pelo aspecto das
letras do escrivão Pimentel, pode ser deduzido que ele não progrediu muito no aprendizado de
ler e escrever, que pode ser percebido serem um tanto trêmulas e traçadas com certo vagar.
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isto é, pagasse uma determinada quantia a um funcionário ou a alguém que tivesse executado
determinado trabalho para a edilidade.
- Eleição - No 1°. Livro de Atas aparecem vários processos de eleições dos juizes
ordinários, vereadores e procurador. Cada traço vertical representa um voto dado para cada qual
dos candidatos concorrentes em cada um daqueles mandatos eletivos. Naquelas eleições, somente
podiam ser candidatos os chamados “homens bons” (proprietários, militares, burocratas,
comerciantes, etc.), estando excluídos os operários mecânicos (artesãos, lavradores, etc.), os
degredados, os judeus e outras categorias sociais incluídas na classe dos “peões”.
- É oportuno destacar que naqueles termos ou atas, não havia indicações de nomes de
oficiais da Câmara (isto é, vereadores) propondo algo, ou então defendendo, ou ainda, atacando
determinada coisa. Os verbos aparecem colocados na 3ª. pessoa do plural: “trataraõ” (=
trataram), “concordaraõ” (= concordaram), “conçultaraõ” (= consultaram), “mandaraõ” (=
mandaram), etc.
O convite feito pelo Professor Dr. Sérgio Romanello Campos para digitar as atas do 1°.
Livro de Atas da Câmara Municipal de Mogi Mirim, por ele transcrito, foi um privilégio.
Conviver com o eterno mestre e ter a oportunidade de com ele elaborar alguns trabalhos, deu-me
a dimensão de sua capacidade intelectual aguçada, do valor da pesquisa e do amor em escrever a
história de Mogi Mirim com fidedignidade e profundidade.
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Este Livro ha de Servir para nelle Se fazerem os termos de vereança da Nova Villa
de Sam Joze de Mog_ Mirim : Vay todo numerado e Rubricado Com a Rubrica de que
uzo. Perª. Da Sª.; e para Constar, fis eSte termo. Sam Paulo 2 de Março de 1770.
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Termo de Vereança
Ao primeyro dia do meS de Abril de mil e Setecentos e Cetenta annos neSta villa de Saõ Joze de
Mogi mirim e por naõ haver Caza de Camara Se juntaraõ os ofeciais della em Caza de morada do
JuiS Ordinario e Prezidente da Camara o Capitaõ Manoel Rodrigues de Araujo Belem e Sendo
ahy todos juntos e depois de tomarem poSse e Juramento por termo na Costa de cada huma de
Suas Cartas de huzança trataraõ do bem comum do povo Com Cordaraõ fazer hum ofecial
Alcayde e nomearaõ a Salvador Pires de Camargo; e mandaraõ Lavrar hum Edital para a limpeza
da villa e nomeouce doiS AlmotacêS a Saber nesta dita villa Ao AlfereS Antonio Gracia Pinheyro
e no Arreal de Mogi Guaçu ao AlfereS Joze Bicudo Rocha e como naõ houve maiS em que Com
Cordarem mandaraõ fazer eSte termo em que aSsinaõ e Eu João Correa DiaS Escrivaõ que o
escrevy.
Aos oito dias do meS de Abril de mil e Sete Centos e Cetenta annoS nesta nova villa de Saõ Joze
de Mogi mirim em Caza de Morada do juiS Prezidente da Camara o Capitão Manoel Rodrigues
de Araujo Belem honde se juntaraõ os ofeciais da Camara Antonio Luis de Morais, Joze Pereyra
Tangerino, o Tenente Domingos Rodrigues Vianna, o Procurador da Camara Mauricio Joze
Machado e Borges e sendo ahy todos juntoS, estando prezentes o AlfereS Joze Bicudo Rocha e o
AlfereS Antonio Gracia Pinheyro dos quais os ditoS ofeciais da Camara Receberaõ o Juramento
dos SantoS evangelhoS em hum Livreo delleS em que puseraõ suas maons direytas sob Cargo do
qual lheS emCarregaraõ que bem e verdadeyramente Servissem de Almotaces guardando em tudo
o ServiSso de Sua Magestade que Deos guarde, o direyto as parteS, de que fiS este termo em que
os ofeciais aSsinaraõ e Eu, João Correa Dias, Escrivaõ, que o escrevy.