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O documento resume a obra literária "Essa Terra" e seu autor. Em três frases:
1) A obra de 1976 é quase autobiográfica e narra a experiência do autor, nascido no interior da Bahia, em migrar para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida.
2) A narrativa acompanha a chegada do personagem Nelo à cidade grande e sua dificuldade em se adaptar, bem como retrata a situação de pobreza extrema de sua família que permanece no campo.
3) A obra vin
O documento resume a obra literária "Essa Terra" e seu autor. Em três frases:
1) A obra de 1976 é quase autobiográfica e narra a experiência do autor, nascido no interior da Bahia, em migrar para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida.
2) A narrativa acompanha a chegada do personagem Nelo à cidade grande e sua dificuldade em se adaptar, bem como retrata a situação de pobreza extrema de sua família que permanece no campo.
3) A obra vin
O documento resume a obra literária "Essa Terra" e seu autor. Em três frases:
1) A obra de 1976 é quase autobiográfica e narra a experiência do autor, nascido no interior da Bahia, em migrar para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida.
2) A narrativa acompanha a chegada do personagem Nelo à cidade grande e sua dificuldade em se adaptar, bem como retrata a situação de pobreza extrema de sua família que permanece no campo.
3) A obra vin
autobiogrfica. Trata-se de um relato emocionante do impacto da "cidade grande" sobre o retirante, o imigrante nordestino. O prprio autor - nascido na pequena cidade de Junco, interior da Bahia - percorreu os mesmos caminhos dos seus personagens, deixando o Nordeste para procurar a sorte nas metrpoles do Sudeste.
O romance vincula-se a tradio da prosa regionalista brasileira, que teve seu momento decisivo no perodo do Romantismo. J no Pr Modernismo a misria da regio era atribuda as condies mesolgicas ou a formao tnica da sua populao. Na fico regionalista de 30 os autores optaram por uma viso critica das relaes sociais. Combinando o social e o psicolgico, pretendiam no s caracterizar as estruturas, mas caminhar na direo a uma transformao. Desde o incio da narrativa de Essa Terra, pode-se verificar como o processo de duplicao da identidade influencia tanto o autor, que tambm viveu a experincia diasprica (mudana trnsito) - como j citado, como os personagens criados por ele.
Nesse sentido, o sujeito (autor/personagem) se expe para o outro em busca de afirmao e de reconhecimento identitrio. A maneira como o autor descreve a condio em que surge as primeiras linhas do romance nos fornece as pistas para verificar o quanto a narrativa acaba sendo orientada atravs da poltica do reconhecimento. As temticas do romance so consideradas em regionais e universais.
A HISTRIA CAPITULO 1 ESSA TERRA ME CHAMA (Chegada de Nelo) CAPITULO 2 ESSA TERRA ME ENXOTA (Chegada do pai) CAPITULO 3 ESSA TERRA ME ENLOUQUECE (Chegada da me) CAPITULO 4 ESSA TERRA ME AMA (Partida de Tontonhim)
O Junco: um pssaro vermelho chamado Sofr, que aprendeu a cantar o Hino Nacional. Uma galinha pintada chamada Sofraco, que aprendeu a esconder os seus ninhos. Um boi de canga, o Sofrido. De canga: entra inverno, sai vero. A barra do dia mais bonita do mundo e o pr-do-sol mais longo do mundo. O cheiro do alecrim e a palavra aucena. E eu, que nunca vi uma aucena. Sons de martelo amolando as enxadas, aboio nas estradas, homens cavando o leite da terra. O cuspe do fumo mascado da minha me, a queixa muda do meu pai, as rosas vermelhas e brancas da minha av. As rosas do bem-querer: - Hei de te amar at morrer. Essa a terra que me pariu. -Lampio passou por aqui. -No, no passou. Mandou recado [...] Ora, ele l ia ter tempo de passar neste fim de mundo? (p. 16)
Fim do mundo, as moas sonham com os bancrios de Alagoinhas e os homens da Petrobrs... Muitos maridos vo e voltam, sozinhos, com uma mo na frente e outra atrs, sina de roceiro roa. Mas j viveu tempos piores, em 1932, o lugar teve sua pior seca, sendo comparado ao inferno, de to quente. Ano depois, a chuva foi to intensa que creram ser o dilvio, desta vez o povo caa e morria de frio. (p. 17) O Junco entrou no mapa (fala de Dr. Dantas Jr.) Agora uma cidade leal e hospitaleira. Agora podemos mandar no nosso prprio destino, sem ter que dar satisfaes ao municpio de Inhambupe. (p. 13-14)
L vem os tabarus do Junco dizem os de Inhambupe. [...] Rezemos pela alma do finado Antnio Conselheiro. [...] Quando esteve em Inhambupe, ele foi apedrejado sem d, nem piedade.[...] - Essa terra vai crescer que nem rabo de besta... Para baixo. (p. 18), falou ele, e no que acontece?
Quem no mudou em nada mesmo foi um lugarejo de sopapo, caibro, telha e cal, mas a questo agora saber seu meu irmo (Nelo) ainda se lembra de cada parente... [ele que] um dia pegou um caminho e sumiu no mundo para se transformar... num homem belo e rico, com seus dentes de ouro, seu terno folgado... seus ray- bans, seu rdio de pilha... (p. 14)
CAPITULO 1 ESSA TERRA ME CHAMA (CHEGADA DE NELO) Permanecer ou sair? Saia menino, vai querer ficar que nem eu e seus irmos? (diz a me). No! Fique, pede o pai. Nelo descobriu que queria ir embora no dia em que viu os homens do jipe. Estava com 17 anos... Trs anos sonhando todas as noites com a fala e as roupas daqueles bancrios. (p. 19) Fazia vinte anos que o irmo saira de casa; pegara um caminho e sumira pelo mundo, fora para So Paulo, em busca de melhores condies de vida. Vamos ouvir a voz do progresso. Chegou o banco, de jipe, numa missa, promessa de plantio, o que no aconteceu, padre e governo tambm erram, o povo do Junco percebeu...
A me, vivia em suas constantes reclamaes: - Tenho doze filhos e me sinto to sozinha. Se no fosse por Nelo. No vou passar sua roupa. No sou sua empregada. Os incomodados que se retirem.
A condio da famlia era de extrema pobreza, principalmente quando se mudaram para Feira de Santana, em busca de estudos para os filhos. O pai sempre foi contra, mesmo depois de vinte anos; por ele, ficariam na roa, pois esse negcio de colgio era besteira.
A princpio, Nelo mandava dinheiro para a me (s para a me), mas, com o tempo, parece ter esquecido do assunto. Por morar em So Paulo, toda a famlia acreditava que Nelo estava rico. Mero engano.
E o Nelo voltou?
E papai, no ajuda? O dinheiro que mando d?
Mas cad o Nelo? Ele inteligente. H quantos anos voc manda dinheiro pra sua me, hein Nelo? Tu t rico, hein? Rapaz de sorte. Voc o que mora nas terras to looooonge? Venha mais pra peeeerto. Voc um capitalista, verdadeira homem das capitais...
O encontro dos dois irmos relatado: Totonhim vai peg-lo numa hospedaria e o irmo lhe diz um seco muito prazer. Muito prazer seria o resumo de tudo? Apenas duas palavras para matar vinte anos de saudade? Nelo vai, enfim, para a humilde casa do irmo e quer saber como vai o pai. E como vai a famlia? Pergunta Nelo - Vendeu a roa, a casa da roa e a casa da rua, pagou as dvidas, torrou o troco na cachaa, depois se mudou para Feira de Santana. A me foi antes, para nos botar no ginsio. O velho ficou aqui, zanzando, desgostoso, se maldizendo de tudo. Um dia no aguentou mais e sumiu na estrada, em cima de um caminho, aboiando. Dos irmos, trs esto em Feira. Os pequenos. Os outros esto espalhados. Voc vai ter que viajar muito, se quiser catar um a um.
Tenho dois filhos e uma mulher, voc me ajuda a ach-los Totonhim? (diz Nelo, bbado, carregado pelo irmo) Mas esto em So Paulo, Nelo, diz Totonhim. Nelo contou-lhe sua trgica histria.
Um dia, j abandonado pela mulher e filhos, pensou ver sua ex-esposa num ponto de nibus. Correu desesperadamente para v-la e aos filhos; nesse momento, a polcia o confundiu com um ladro e passou a correr atrs dele. Sem perceber o incidente, Nelo corria cada vez mais. Porm, quando chegou perto, o nibus passara e a mulher se fora. Ao parar, virou presa fcil para a polcia.
Imediatamente identificou Z do Pistom, o primo que havia roubado sua mulher. O policial o acusou de tentativa de sequestro de seus prprios filhos e mandou que o espancassem. Os policiais bateram tanto que o rapaz chegou a ficar inconsciente; a pancadaria era seguidas de constante urina sobre o corpo.
Aqui vivi e morri um pouco todos os dias./ No meio da fumaa, no meio do dinheiro./ No sei se fico ou se volto./No sei se estou em So Paulo ou no Junco (p. 63)
(Custa a crer que um homem destes pudesse...)
Deixa disso Nelo, pelo amor de Deus tornei a dizer, batendo na outra face, e ele se virou de novo e caiu para o outro lado. p. 16
A preocupao de Totonhim, agora, era com seus pais. O que diria a eles? Como explicar que Nelo no lhes fora visitar, se o nibus de So Paulo parava primeiro em Feira de Santana?
Seu Z da Botica o enchia de chs calmantes. Ele pensava no caixo. Ser que o pai, carpinteiro que era, faria o caixo para o filho? O ltimo que ele fez foi para outro enforcado, um parente nosso que encontramos pendurado num galho de barana.
Enquanto isso, o sargento demorava a liberar o corpo do irmo. Totonhim j estava nervoso e falava com o defunto: - Voc veio aqui s para fazer isso comigo? Voc tinha o Brasil inteiro para fazer isso e veio escolher logo esta sala? Acorda. Comeou a chorar.
O pai mostra-se uma pessoa amargurada. Sente falta da mulher (embora no admita), dos filhos; sente-se sozinho e abandonado. Acorda, olha para aquele colcho onde Deus lhe dera os doze filhos. Chama por todos: - Nelo, Nomia, Gesito, Tonho, Adelaide. mas no h ningum. Sente-se relaxado, a barba por fazer; vai tomar banho no rio. Lembra-se dos filhos, de como ensinara Nelo a nadar; da filha que fugiu com um negro (eta filha desnaturada). Segundo a viso dele, branco com preto no assentava. E dizia ainda bem que os netos tinham cabelos bons. Lembrou-se da mulher, das surras que ela dava nos filhos era uma mulher sem piedade: batia nos filhos at esfolar o couro. No aprovava violncia de espcie alguma.
Caminhando pelo lugar, o pai se lembra, ainda, do irmo, o irmo que ficou com as terras de seu pai e com a sua prpria terra. Foi no dia em que chegou a Feira de Santana com a notcia: os homens do banco estavam apertando, iam tomar- lhe tudo. Entre o banco e o irmo, preferiu vender a propriedade ao irmo. Assim, pagaria a dvida do banco e ainda ficaria com um dinheirinho para abrir um pequeno negcio em Feira de Santana. Mas, o irmo o logrou: deu-lhe uma quantia irrisria pelas terras. Agora, estava sem nada nem ningum.
ESSA TERRA ME ENLOUQUECE Ao mesmo tempo, parece conversar com a me, refletindo que ela havia voltado, no por vontade prpria, mas por necessidade, por causa da morte do filho. Enquanto estavam na sala, o pai fazia, na cozinha, o caixo para Nelo. O filho narrador, em suas reflexes, sente vontade de abraar a me. S no fez porque no pode. Ela estava apertando seu pescoo com toda a fora que ainda restava em suas calejadas e speras mos. Ele queria falar, mas no conseguia. Era como se fosse a hora da sua morte. E naquela hora Totonhim nem lembrou que tinha apenas vinte anos e ainda podia viver muito. Nunca se amaram, eis tudo.
Enquanto a me tentava estrangular o filho, Nelo continuava ali no cho, bem ao seu lado. Depois de solt-lo, ele teve de levar a me para o hospital, que no era perto (provavelmente, um hospcio).
O narrador comea a lembrar do av, que morava com ele, depois, pensa no pai: - No ande com a cabea no tempo. Bote o chapu. Quem anda com a cabea no tempo perde o juzo.
A narrativa sofre outro corte, e o foco a me, seu sofrimento, sua dor, suas brigas com o pai (brigas que acabavam sempre em pancadaria) e a sua esperana depositada em Nelo, para ela, o nico filho que poderia ajud-la. Veja Nelo meu filho se vida que se apresente uma mulher viver apanhando do marido venha me buscar. A mulher cada vez mais dava sinais de loucura: escrevera para o filho e dissera que o pai tomara veneno ( na realidade, quem tomara veneno fora o irmo do pai, mas ela acreditava que fora o marido).
Qualquer resposta ser uma mentira. Promete que vai dormir a viagem inteira, promete? Assim chegaremos logo. Se quiser, reze um pouco, para chamar o sono. Ela vomita sobre as pernas de Totonhim.
O narrador lembra que a me viciada em jogo de bicho. Todo o dinheiro que Nelo lhe mandava, ela apostava. Enquanto isso, os cobradores batiam em sua porta e os filhos passavam fome. Papai se queixa da sorte. Diz que a mudana para Feira de Santana foi a pior desgraa da sua vida. Minha terra no tem palmeiras. Tem suco de mata-pasto. Veneno da melhor qualidade.
Enquanto levava a me para o hospital, observava-a: ela estava ficando cega, j no mais conseguia pr a linha na agulha. Reclamava de suas filhas, que nunca a ajudaram.
Foi ento que eu (narrador Totonhim) comecei a me sentir perdido, desamparado, sozinho. Tudo o que me restava era um imenso absurdo. Mame absurdo. Papai Absurdo. Eu Absurdo. A revolta, outra vez e como sempre, mas agora maior, mais perigosa. No morrers de susto, bala ou vcio. Morrers atolado em problemas, a doce herana que te relegaram. O enterro foi pago com dinheiro emprestado a juros. Uma misria, de uma misria de outra misria. Teu pai no sabe se vai ter dinheiro para comer, daqui pra frente, quanto mais se vai pagar os juros do enterro de um filho. (p. 137)
Por fim, o filho narrador conta ao pai que vai embora. Para onde? Para So Paulo. Com o dinheiro que receberia pela Prefeitura, compraria uma passagem e venderia a vaca que o av deixara.
O pai no se conformava: - Voc igual aos outros. No gosta daqui falou zangado. Ningum gosta daqui. Ningum tem amor a esta terra.
Ele tinha, eu sabia, todos sabiam.
Passado o sermo, papai amansou a voz. Parecia mais conformado do que aborrecido:
- Voc faz bem disse. Siga o exemplo Abaixou as vistas, sem completar o que ia dizer. (p. 138)
ALGUMAS CARACTERSTICAS O impacto da cidade grande sobre o retirante, o imigrante nordestino;
No apenas a histria do Junco e sua sina. tambm e muito mais a tragdia pessoal das personagens que desfilam pelo livro, marcantes e exemplares. Histria dramtica e subjetiva de uma pequena cidade nordestina, a saga de uma famlia, a triste histria de ns todos emigrados, um belo tecido de vidas cruzadas que no se ligam.
UNEB 2010
Levanta-se e percorre os quartos vazios, sem camas, sem nada. Entra na cozinha e acende o fogo. Pensa em fazer um caf. Desiste. Joga gua nos ties, apaga o fogo. J que ia embora, para que caf, para que fogo aceso? Sai at o avarandado. A barra do dia est nascendo, da cor do ouro. Carregaria estas manhs para sempre, levaria nos olhos e na alma o raiar destes dias, as promessas da vida nova, deixando sempre um velho dia para trs. Desce at o riacho.
Tira a roupa. O corpo nu se reflete na gua limpa, esverdeada, sombra do capim- angolinha, capim de beira de rio.
TORRES, Antnio. Essa Terra. 21 ed. So Paulo: Record, 2005. p. 71.
A personagem em foco
01) mostra-se, ainda que na memria, ligado terra. 02) revela-se desprendido dos bens materiais. 03) opta pelo isolamento social como uma soluo para os seus conflitos existenciais. 04) rompe com o seu passado, a fim de se deixar conduzir por novos objetivos de vida. 05) entra em choque com a realidade circundante que j no atende aos seus anseios. UNEB 2011
Nelo, querido, no vou chorar a tua morte. Foste em boa hora. Agora eu te entendo, bem capaz que eu j esteja comeando a te compreender. Saiba de uma coisa, papai. Eu vou embora. Para onde? O dinheiro que eu receber da Prefeitura, no fim do ms, para comprar uma passagem. [...] Mas para onde voc vai? Para So Paulo. Se h uma coisa que no compreendo isso: porque o velho nunca aceitava uma ideia nossa. Tnhamos que apresentar o fato consumado, para que o admitisse. Mas contrariado. Voc igual aos outros. No gosta daqui falou zangado, como se tivesse dado um pulo no tempo e de repente tivesse voltado a ser o pai de outros tempos. Ningum gosta daqui. Ningum tem amor a esta terra. Ele tinha, eu sabia, todos sabiam. Passado o sermo, papai amansou a voz. Parecia mais conformado do que aborrecido: Voc faz bem disse. Siga o exemplo Abaixou as vistas, sem completar o que ia dizer.
TORRES, Antnio. Essa Terra. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 168-169.
O dilogo de Totonhim com o pai, destacado do captulo final de Essa Terra, revelador de um dos problemas enfocados no romance de Antnio Torres:
01) A solidez da estrutura de poder patriarcal na sociedade nordestina. 02) A fbula do filho prdigo desenraizado que decide ingressar na poltica. 03) A migrao norte-sul do homem como consequncia de atritos polticos e familiares. 04) A natureza cclica da migrao do sujeito nordestino e a redefinio de sua identidade. 05) A desumanizao do imigrante nordestino como consequncia da violncia no campo.