Anda di halaman 1dari 35

Ano 1

Dezembro de 2009

in
[ ]
sub
ação
ordin

#1
As imagens
submissão devem ser
para edição

#2
enviadas em
baixa resolução,
inicialmente,
para seleção
com um texto
de até 1200
caracteres
até 24/01 relacionando-a
contato@plur1verso.com ao tema
proposto.
:

O REFÚGIO DO

FRACO; A
COVARDIA IM-

PRESSA;

36
CAMINHO SUPER-

06 EDITORIAL “Dançar de forma bizarra durante a noite inteira nos caixas ele-
08 LINHA DE TRÁS
Bruno Fonseca
DOGVILLE
Otávio Cohen
FICIAL; PALAVRA 54

p.6
trônicos dos bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas.
Land-art, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alieníge- “A Arte-Sabotagem é o lado negro do Terrorismo Poético
O DINAMISMO MORTO. Lucas Lima

p.11
Luiz Felipe
nas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez – criação-através-da-destruição –, mas não pode servir a ne-
de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Seqüestre alguém e o faça feliz. nhum partido ou niilismo, nem mesmo à própria arte. Assim MONÓTONO, CO-
Escolha alguém ao acaso e o convença de que é herdeiro de uma enorme, como a destruição da ilusão eleva a consciência, a demoli-
inútil e impressionante fortuna – digamos, 5 mil quilômetros quadra-
dos na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim
ção da praga estética adoça o ar no mundo do discurso, do Outro. DIFICADO.
A Arte-Sabotagem serve apenas à percepção, atenção, consciência.
ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa A AS vai além da paranóia, além da desconstrução – a critica defi-
perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário nitica – ataque físico à arte ofensiva – cruzada estética. O menor
_
e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de indício de um egotismo mesquinho ou mesmo de um gosto pessoal
_

42 56
existência.” estraga sua pureza e vicia sua força. A AS não pode nunca procurar

16 HAKIM BEY 10 O ETERNO CAPACHO EVIL LOVE FAKE


o poder – apenas renunciar a ele.”

“Vivemos numa sociedade que faz propa-


_

p.30
E OS ATOS NÃO INSUBORDINADO
ganda de suas mercadorias mais caras com
imagens de morte e mutilação, enviada dire-
“A Associação para a Anarquia Ontológica conclama um boico-
Cristóbal Schmal Matheus Lopes Castro

p.40
tamente para a parte sub-reptícia do cérebro

EXEMPLARES
te de todos os produtos comercializados sob a senha de LIGHT
das multidões através de aparelhos carcinógenos
geradores de ondas alfa que distorcem a realidade
– enquanto algumas imagens da vida (como a nos-
Lucas Guerra
– cerveja, carne, doces, cosméticos, música, ‘estilos de vida’ pré-
fabricados, o que for. O conceito de LIGHT (no jargão situacio-
nista) desdobra um complexo de simbolismo através do qual o Espe-
sa favorita, de uma criança se masturbando) são ba-
táculo espera controlar toda a repulsa contra o seu mercantilismo do
nidas e punidas com uma ferocidade incrível. Não
desejo. O produto “natural”, “orgânico”, “saudável”, é designado para
é preciso coragem para ser um Sádico da Arte, pois
um setor do mercado constituído por pessoas levemente insatisfeitas que
a morte libidinosa está no centro estético do Para-
apresentam um quadro mediano de horror do futuro e possuem uma as-
digma do Consenso.”
piração mediana por uma autenticidade tépida. Um nicho foi preparado
para você, suavemente iluminado pelas ilusões de simplicidade, limpe-

13 44 57
za, elegância, uma pitada de ascetismo e autonegação. Claro, custa um

H akim Bey é o pseudônimo de Peter


Lamborn Wilson, historiador, ensaísta e
CAOS Terrorismo Poético e Outros Crimes Exemplares Hakim Bey
Livro lançado pela Conrad Editora do Brasil, em 2003, com tradução de Patricia Decia FESTIVAL DE FILMES pouco mais... afinal, o que é LIGHT não foi feito para primitivos pobre
e famintos que ainda consideram comida nutrição e não décor. Tem de HELVETICA FRIES HOUSTON
DO BROOKLYN
e Renato Resende. Original em inglês disponível em custar mais – senão, você não compraria.”
poeta americano nascido em 1945. Inicialmente
pesquisador do sufismo (corrente mística derivada
http://www.hermetic.com/bey/taz_cont.html

Seus escritos são marcados por um profundo radicalismo estético “Sem o conhecimento da escu-
Andréa Miranda Matheus Lopes Castro

p.32
Guilherme Förster
do islamisco que acredita na possibilidade de ridão (“conhecimento carnal”)
“A poesia está morta novamente – e mesmo que a múmia do seu cadáver possua

p.17
e ideológico, um anarquismo quase a-político, e pela profusão de refe-
uma relação direta com deus através de rituais ainda algumas de suas propriedades medicinais, a auto-ressureição não é uma não pode existir o conheci-
rências a correntes ideológicas, culturas e movimentos underground.
de canto e dança), morou em diversos países do A polêmica levantada por livros como CAOS: terrorismo poético e outros delas. Se os legisladores se recusam a considerar poemas como crimes, então mento da luz (“gnose”). Os dois
oriente médio até ser expulso do Irã à época da atos exemplares, publicado em 1985, iguala-se à polêmica acerca do alguém precisa cometer os crimes que funcionem como poesia, ou textos que conhecimentos não são meramente
Revolução Iraniana, em 1979. próprio Bey: personagem enigmático, que raramente aparece em públi- possuam a ressonância do terrorismo. Reconectar a poesia ao corpo a qualquer preço. complementares: são idênticos, como
co, “acusado” de estimular atos de guerrilha simbólica e midiática. Não crimes contra o corpo, mas contra Idéias (e Idéias-dentro-das-coisas) que sejam a mesma nota tocada em duas oita-
letais e asfixiantes. Não libertinagem estúpida, mas crimes exemplares, estéticos, crimes vas diferentes. Heráclito afirma que
hackers, cultura rave, anarquismo ontológico,
A coleção de ideias que o acompanha é extensa por amor. Na Inglaterra, alguns livros pornográficos ainda estão banidos. A pornogra- a realidade persiste num estado de
terrorismo poético, teoria do caos, pornografia (e pedofilia), tecnologia, ludismo... fia produz um efeito físico mensurável em seus leitores.” “guerra”. Apenas notas opostas podem

14 46
construir a harmonia. (“O Caos ´e a

MALDITO ANOTHER DRAWING


Hakim Bey descarta convenções e exalta a insubordinação - em
seu sentido mais amplo. soma de todas as ordens.”)”.

ESCRITÓRIO IN THE WALL


Guilherme Förster Mariana Garcia

18 HELIO OITICICA
Gabriela Rabelo
SÉRIE COR[AÇÕES]
Gabriela Rabelo
50

25 A SUPER PRODUÇÃO
Kauê Garcia
Abbas Kiarostami 63
Acaso 17, 56
Açúcar 44
Carcinógenos 17
Carioca 21
Carisma 60
Dogma 95 – 37, 40
Dogville 36, 37, 38, 39, 40, 41
Drogas 62
Fruição 22
Futuro 17
Gays 26
Ivan Serpa 19
Ivonete Pinto 59
Jackson Ribeiro 21
Monarquia 59
Monocromismo 20
Morro 21
Plebeu 22
Pó 22
Poder 17, 54, 63
Admoestações 18 Carnal 17 Durex 29 Geométricas 19 Jacques Aumont 37, 40 Morte 17 Poesia 17, 20, 54
Afeganistão 61 Carne 22 ECA-USP 59 Gilmar Mendes 11 Jarmusch 42 Movimento 22, 30, 31 Poeta 18
Afro- americano 13 Cartaz 13, 54 Economia 62 Gnose 17 Jornalista 10 Muçulmano 61, 62, 63 Polêmica 16
Ahmadinejad 60, 63 Cenografia 37, 38, 39, 40 Efervescência 19 Godard 37 Jump-cut 39, 41 Mulher 61 Política 18
Alfabetos 44 Chacrinha 23 Eisenstein 37 Golpe 8, 9 Junk food 44, 45 Museu Nacional 21 Políticos 62
Allah 60 Cidade 46, 47, 48, 49 Ejaculação 27 Gordura 44 Kaurismaki 42 Música 21, 31, 51 Pop arte 56, 57
Alquimia 17 Ciências 56 Elegância 17 Governo 18 Khatami 63 Mutilação 17 Pornografia 16, 1
Amilcar de Castro 19 Cinema 13, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 59, 63 Elipse 38, 39, 40 Grafite 46, 47, 48, 49 Khomeini 60 Mutilação 27 Porta 31, 37, 38, 3
Amor 17, 18 Circo 17 Elvis Presley 42 Grau-zero 41 Kwuait 61 Nacionalistas 62 Preciosismo 20

26 58
Anarquismo 16 Circunvoluções 22 Emoção 20 Grupo Frente 19 Land-art 17 Narrativa 38, 39, 40, 41 Presidente 63

ADEUS, BONECA Antártica 17


Antídoto 62
Clero 60
Comédia 14, 15
Engajado 29
Enquadramento 38
Grupo Ruptura 19
Guaches 19 ISLÃ, UM REGIME
Lars Von Trier 36, 37, 38, 40, 41
Legibilidade 44
Negro 13
Neoconcretismo 19
Proficiência 18
Propaganda 17, 56

DE PANO! Antonioni 42
Aparência 20
Apolíneo 21
Comportamento 21, 61, 53
Composição 19
Comunicação 22, 45
Entrevista 59
Ereção 27
Escola de samba 21
Guerra 17
Guerrilha 16
Hacker 16
DE SUBMISSÃO?
Lei 63
Lésbicas 26
Letras 44
Neoconcreto 21
Neue Haas Grotesk 44
Neutro 45
Prostituição 28, 62
Psicanalíticos 57
Psíquico 20

Adriana Mitre Apropriação 20, 61


Árabes 61
Conceito 54
Concretista 20
Escritório 14, 15
Escultor 23
Hakim Bey 16, 53
Hápticas 22
Letraset 29
Liberal 63
Noel Burch 36, 37, 38, 39, 40, 41
Núcleos 22
Public Enemy 13
Pulsante 22

Mariana Garcia Arábia Saudita 61


Aristocracia 22
Arquitetura 20, 23
Consciência 20
Consumismo 57
Contato 22
Escuridão 17
Espacialidade 22
Espaço 20, 22
Harmonia 17
Harper’s Bazaar 33
Hejab 61
Liberdade 18, 22, 31, 60, 62, 63
Liberdade de expressão 11
Libertinagem 17
O Clone 61
Obama 12
Ocidental 60
Pungia 22
Punk 42
Quartéis 28
Arrogância 29 Contestação 18 Espectador 22 Hélio Oiticica 18, 19, 20, 21, 22, 23, 31 Libidinosa 17 Ocidente 62 Raccord 37, 38, 39
Arte 18, 22, 54, 56 Continuidade 37, 38, 39, 40 Espetáculo 17 Helvética 44, 45 Life 33 Office Space 14, 15 Racionalista 19, 5
Arte ambiental 22 Contraste 22 Estandartes 22 Helvética fries 44, 45 Light 17 Ordem 21 Radicalismo 16

29 SANTO-EX-PEDINTE
Arte-sabotagem 17 Cor 22 Estereótipos 61 Henri Cartier-Bresson 32 Livros 54 Orgânico 17 Realidade 17

UM POUCO PRO
64
Ascetismo 17 Coração 50, 51, 52, 53 Estetas 22 Heráclito 17 Ludismo 16 Orgulho 62 Rebelde 25
Auto- ressurreição 17
Automatismo psíquico 56
Autonegação 17
Coragem 17
Corão 60
Corpo 17, 22, 61
Estética 17
Estilo 20
Estrutura 19
Hierarquia 22
Hip hop 13
Hipocrisia 51, 62, 63
CTRL+F
Luis XV 22
Lygia Clark 19, 23
Lygia Pape 19, 21
Oriente médio 60, 61
Ortodoxos 21, 61
Ostensivos 56
Regime 62, 63
Rejeição 60
Relevos 22
Autorais 57 Corrupção 60, 62, 63 EUA 56 História em quadrinhos 57 Maconha 63 Outro Sentido 26 Religião 56, 60, 61

Kauê Garcia
Bandeira 54 Corte 37, 38,40 Europa 56, 62 Hollywood 13 Macrocosmo 22 Padronização 45 República 59
Banksy 47, 49 Crimes 16 Expectativas 60 Homosexualidade 8, 9 Madeira 22 Pahlavi 59, 60 Resistência 62
Batalhas 62 Crítica 19 Experiência 22 Homossexualismo 62 Magnum 33 Palavra 54 Ressonância 17
Mangueira 21 Paquistão 61 Revolta 18
Manifestações Ambientais 20 Paradigma 35 Revolução Iranian

1 2 3 4 5
Manifesto 19, 37 Paradigma do consenso 17 Revolução Islâmic
CTRL+F Maomé 62
Marjane Satrapi 62
Parangolé 30, 31
Parangolé 20, 22
Revolucionário 19
Revoluções 35

32 À PROCURA DE
BRESSONS 30 CAPA, MÚSICA
E INCONSTÂNCIA A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W
Lorena Galery Délio Faleiro
6 7 8 9
Beach Boys 42 Cronenberg 42 Experimentação 22, 57, 63 Hormônio 27
Beleza 18 Cultura 16, 21, 60, 61, 62, 63 Expressão 18 Houston 57
Belo 20 Cultura contemporânea 45 Fake 56 Imagem 20, 44, 55
Belo Horizonte 46, 47,48, 49 Cultura européia 57 Farabi Foundation 60 In-corporação 22
Bin Laden 61 Cultura popular 56 Farj Film Festival 60 Individualista 20 Marker 42 Paranóia 17 Ricardo Portilho 4
Bissexuais 26 Dadaísmo 56, 57 FENAJ 12 Inglaterra 17 Massificada 45 Patrícia Azevedo 47, 49 Rigor 21, 61
Boemia 29 Debate 61 Férias 62 Insólito 20, 22 Max Miedinger 44 Pecado 18 Ritmo 21
Boicote 17 Democracia 63 Ferocidade 17 Insubmissão 60 Menosprezar 55 Pedro Carneiro 14, 15 Rockabilly 42
Bold 45 Desajuste 25 Ferreira Gullar 20 Insubordinação 16, 25 Mercantilismo 17 Peixe 5 Romântica 20
Bólide 20, 22 Descobrindo o Irã 59 Festival 60 Insubordinado 10 Merda 25 Penetrável 20, 22 Rotina 14, 15
Bombadeiras 27 Desconstrução 17 Festival de Cannes 63 Intelectuais 62 Metaesquemas 19 Percepção 17, 45 Ruptura 21
Bombaim 17 Desejo 17 Filme 62, 63 Intolerância 60 Metodologia 21 Persa 62 Sádico 17
Boneca 26, 27 Desenho 45, 57 Filólogo 18 Introspecção 57 Michel Foucault 60 Persépolis 62 Sagrado 62
Brooklyn 13 Design Grafico 57 Filosofia 56 Irã 16, 59, 60, 61, 63 Michel Melamed 51 Personagem 61 Sal 44
Burguesa 21 Diálogo 20 Foda-se 25 Iraque 62 Mídias 44 Perspectiva 22 Salve o cinema 62
Burka 61 Diferenciação 45 Força 55 Ironia 40 Mike Judge 14 Perverso 22 Santo 29
Editorial A revista que você tem em mãos não é uma
revista. Plur1verso é um espaço
aberto em resgate às idéias e conceitos, Nosso desejo
às referências e técnicas das práticas de é materializar
comunicação visual. possibilidades em
papel e tinta.
Os colaboradores
Nosso objetivo é dar desta edição são estudantes Como cada
e jovens profissionais com tema sugere estéticas
a palavra às imagens,
coisas a dizer e talento para distintas, Plur1verso
transformar as palavras
dizê-las – ou mostrá-las. se fará única a cada
em imagens e palavrear as Nesta primeira edição, edição: projetos gráficos
Será assim a cada edição de
imagens, fazer as palavras trazemos como tema a [in] sempre inéditos, sempre
subordinação, em sentido Plur1verso: um tema único e
discutirem tudo o que for insubordinados.
amplo. Lançado o tema, vários colaboradores, vários
visual. Este editorial pede Aproveite a visita aos espaços
pescamos trabalhos que têm em pontos de vista e focos de
desculpas por ser texto interesse, em uma coleção das páginas a seguir. Observe
– recorte-o e o rasgue comum uma inquietação contra bem as arestas, sinta o clima,
o que é fácil. São trabalhos que de páginas como esta.
depois de ler. aproprie-se dos sentidos.
recusam presets, plugins e idéias E, se quiser ocupar algum
prontas, que questionam formas e desses espaços em nossa
conteúdos. Nosso desejo é mudar próxima edição, entre em
a comunicação visual de lugar, contato conosco.
ainda que apenas por segundos,
e vê-la se debatendo para
sobreviver e apontando, assim,
novas possibilidades.

Revista Plur1verso é um Ilustração Capa: Filipe da Matta Créditos


projeto de conclusão de curso Colaboradores dessa edição:
apresentado ao Departamento Bruno Barros, Lucas Guerra, 2-3. Maniqueísmo 19. Helio Oiticica 44-45. Helvetica Fries
Filipe da Matta Fotos: Coleção The Fotos: Andréa Miranda
de Comunicação Social da Guilherme Föster, Gabriela Museum of Modern Art -
4-5. Índice 58-63. Islã
UFMG. Realizado pelos alunos Rabelo, Kauê Garcia, Mariana Nova Iorque
Colagem: Andréa Miranda Colagens: Andréa Miranda
20. Fotos: Paloma Parentoni
de graduação: Garcia, Délio Faleiro, Lorena 6-7. Editorial 21-23. Fotos: divulgação 64-65. CTRL+F
Andréa Miranda (Publicidade Ilustração: Bruna Araújo 24. Foto: baixacultura.org Fotomontagem: Filipe da
Galery, Otavio Cohen, Cristóbal
Matta
10-12. O eterno capacho 26-28. Adeus, boneca de
e Propaganda); Bruna Araújo (Pu- Schmal, Andréa Miranda, Lucas insubordinado pano 66-67. Maniqueísmo
blicidade e Propaganda); Filipe da Lima, Matheus Lopes Castro. Ilustração: Filipe da Matta Ilustração: Filipe da Matta Bruna Araújo
Matta (Publicidade e Propaganda); 14-17. Maldito Escritório 30-31. Capa D9
Os trabalhos publicados na re- Fotomontagem: Bruna Fotos: Mariana Garcia
João Vitor Leal (Jornalismo). vista são colaborações e expres- Araújo
sam a opinião de seus autores. 35-39. Dogville
Sob orientação do professor 16-17. Hakim Bey Fotos: divulgação Imovision
Carlos Magno Mendonça. contato@plur1verso.com Ilustração: Andréa Miranda Ilustração: Bruna Araújo

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07
trás
obruno10@gmail.com
Estudante de Jornalismo

Barros Fonseca
Bruno Henrique

de
Linha

[In]
subordinação vem
de dentro. É golpe
do golpe do golpe.
Insubordi[nação] não
é passar para o lado
inimigo. É passar
para seu próprio lado.
In[sub]ordinação.
Para alguns, não
deixa de ser uma
falta de noção.
Insubordin [ação]!

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09
M uitos ainda se lembram da figura do jornalista em épocas passadas. Este era Por que nada fora feito por considerável parte de São Paulo”, até mesmo antes de se cogitar a promulgação do
tido como subversivo, inteligente, perspicaz, o modificador de uma realidade. O dos jornalistas para impedir que a profissão se tor- fim do certificado do ofício, já possuía, em suas redações, número

próprio profissional sentia-se dono de tais características. Era comum os jornalistas nasse chacota nacional? O jornalista, outrora Davi considerável de não jornalistas exercendo a profissão. E, quando se
de Michelangelo, vivencia uma Guernica Picas- promove o mais esperado espetáculo de todo o circo montado por
carregarem consigo um quê de arrogância derivada do status do seu ofício.
siana vendo seu império esfacelar-se a sua volta e Gilmar Mendes – a concretização do fim do diploma por decisão
Afinal, achavam-se a única figura capaz de tornar público um fato (definição de
andando a passo de tartaruga para impedir o fim da do Supremo Tribunal Federal – a Folha
comunicação?), além de o formador de opinião de toda uma sociedade. Caso paramos
profissão. “A grama é sempre mais verde do outro lado...” ainda é condescendente com a atitude.
para pensar nessas características passadas (hoje anacrônicas), o que sobrou daquele
Seria possível indicar alguém como instaura- O jornalista que comenta, observa,
profissional insubordinado nos jornalistas de hoje? A poesia do uso da máquina de dor desse colapso jornalístico? Pergunte isso a um acompanha tantas campanhas contra
Após queda do escrever, o prestígio da profissão, o ideário filosófico de mudar o mundo perderam profissional da área e a universitários aspirantes qualquer tipo de censura ou arbitrarie-
diploma e de uma parte de seu valor e deram lugar às árduas exigências de mercado, a uma classe que todos lhe darão uma única resposta, ou melhor, dade não se apresentou eficiente para
campanha rumo à individualista e um temor acerca do futuro profissional. um único nome: Gilmar Mendes. Gil... o você sabe propor alternativas viáveis para alterar
banalização quem das fantasiosas páginas da história atual do essa nova configuração que atinge do
da profissão parte dos jornalistas ainda se jornalismo é um nome a ser esquecido por aqueles que prota- ofício. Quando algo ocorre em seu próprio
excluem da tentativa de mudança gonizam a rotina do ofício. Fora a partir do infundado argumento de que espaço o periodista não possuiu o mínimo
o direito de publicar notícias apenas por periodistas graduados fere o direito a de organização para incitar na sociedade
liberdade de expressão que o diploma nos foi retirado. repulsa à decisão.

O eterno
Para desorganizar ainda mais a classe, os grandes meios de comunicação Na verdade, é possível enxergar um
impressos, e também de outras áreas, foram a favor da decisão. O jornal “Folha pouco desse cálice do qual o jornalismo
Lucas Guerra
Estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa

insubordinado…
lucguerramg@hotmail.com

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11
se serviu. “Pai tente afastá-lo de nós.” Uma briga de frente com
as empresas jornalísticas iria certamente salgar ainda mais o
apimentado tempero da grave crise de contratação do ofício. Além
e
disso, muitos são os jornalistas já estabelecidos e integrantes do Ícon
e m a
in
sonhado mercado de trabalho que preferem não agir, e fingir que do c mer-
-a
afro empre
nada está acontecendo, uma vez que tais alterações acarretam o . S as
ican emátic s

Spi
t a
poucas mudanças na sua estrutura aparentemente segura. Aquela
rd o u p t
o r

k
abo brindo para

e Le
velha política ainda faz efeito – “Não vejo, Não ouço, Não falo”. ais a o o d o
raci Hollyw ntizaçã .
Será que ainda pensam? em nscie ociais

e
co s
Presidente do Superior A profissão hoje vive uma campanha presidencialista aos uma blemas
e p ro
sobr
Gilmar Mendes

Tribunal Federal, relator moldes de Obama. O disseminar das frases “Yes we can” que o fim

Pub
do recurso que põe fim hop
d e hip as
à obrigatoriedade do do diploma proporcionou no cenário jornalístico – sim podemos po su
Gru o pelas tica

lic
diploma de jornalista, todos ser jornalistas – foi completamente mal interpretado pelos i d á
hec tem s

E
em 2009. Mendes con tras de las sua e

nem
seus integrantes do partido. Estes, na verdade, montaram esquema le ca, p e i a
comparou a profissão à ti mí d
que contribui para banalizar ofício. É comum aos estudantes de polí icas à ivismo

y
de cozinheiro. crít seu at as da
comunicação ouvir piadas que questionam a existência do curso e pelo as caus dade
n uni
até mesmo da profissão. com gra dos
ne .
Federação Nacional dos EUA
Os leigos ainda não entendem o real valor do que o fazer jornalis-
FENAJ

Jornalistas, criada em
mo é. A profissão contempla conceitos éticos e filosóficos que vão muito
1946 para representar a
categoria. além do que o primeiro parecer sobre o ofício pode enxergar. A maneira
Poster
inteligente de se escrever, as várias repercussões que uma notícia pode
desenvolvido
causar, a visão aprimorada e reveladora do jornalista sobre um fato, certamen-
para um festival de filmes
te o põe milhas à frente de um simples individuo que se considera escritor. Além
do Brooklyn, que exibiria filmes
disso, a universidade é a estrada de tijolos amarelos de um bom profissional, inde-
que retrataram a cultura do
pendente da área. É o caminho que o estudante possui para visualizar a importância do ofício e
Bairro Nova-Iorquino, grande
obter aptidão para exercer o mesmo.
maioria sobre a cultura negra.
Não se defende um diploma pelo simples fato deste ser um indicador da possibilidade de
Spike Lee é um dos diretores
exercer uma profissão. O certificado de jornalista não é apenas um mero papel que indica
que representou toda essa onda
especialização em uma área específica do saber. Ele representa toda aspiração, trabalho
do Orgulho Negro na década de
e esforço necessário para se alcançar um ofício. Indica não só nossos conhecimen-
80, junto com o Public Enemy,
tos práticos acerca de um campo de estudo, mas também toda carga teórica,
este referenciado pela trechos
humanística, além dos mais vastos aprendizados que retiramos da vivência
de suas letras no cartaz.
durante os anos de estudo na instituição.
Na censura em que alguns jornalistas preferem se inserir, torna-
se realmente difícil alcançar a possibilidade de alteração no roteiro
da novela do jornalismo. Ainda há tempo para mudança, ainda há
condições de perpetuar os valores que o ofício possuiu. Todavia, é ne-
cessário, mais do que apenas discussões, precisamos de atitude. Nesse
sentido, nem mesmo a Fenaj nos ofereceu alguma defesa realmente
eficiente.
Sem uma previsão de uma articulação de mudança enfática, fica
aí uma dica retirada do manual sociopolítico brasileiro:

“Vamos deixar como Guilher


está para ver no que dá.” guilherm
me Hei
e.foers
ter@gm
se Förs
ter
ail.com

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13
Office Space
“Como Enlouquecer Seu

típica companhia de de-


vida no trabalho de uma

do seu trabalho rotineiro.


por Mike Judge. Satiriza a
de 1999, escrita e dirigida

senvolvimento de software

indivíduos que estão cheios


Chefe”, comédia americana,

durante o final da década de


90, focando na exaustão dos

Morador de Curitiba, Paraná. Co-


meçou no Design em 2004 e desde
então não largou mais. Costuma
trabalhar com formas simples e
retas, o minimalismo é o que rege
grande parte do seu trabalho. Sua
maior influência é o Design e a Arqui-
tetura alemã. Apesar de ser um alemão no
Brasil, como muitos no Sul do país, tam-
bém possui muita influência visual
nacional. Já são longos cinco
anos de Design Gráfico, atu-
almente trabalha como dire-
tor de arte numa agência de
Comunicação Visual.
guilherme.foerster@gmail.com
Guilherme Heise Förster
Maldito
Escritório

Os trabalhos para a peça de


Pedro Carneiro relatam o dia-
a-dia em um escritório. A peça
conta sobre sobre um homem
que odiava o seu trabalho, nos
moldes de Office Space.
01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15
“Dançar de forma bizarra durante a noite inteira nos caixas ele-

p.6
trônicos dos bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas.
Land-art, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alieníge- “A Arte-Sabotagem é o lado negro do Terrorismo Poético

p.11
nas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez – criação-através-da-destruição –, mas não pode servir a ne-
de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Seqüestre alguém e o faça feliz. nhum partido ou niilismo, nem mesmo à própria arte. Assim
Escolha alguém ao acaso e o convença de que é herdeiro de uma enorme, como a destruição da ilusão eleva a consciência, a demoli-
inútil e impressionante fortuna – digamos, 5 mil quilômetros quadra- ção da praga estética adoça o ar no mundo do discurso, do Outro.
dos na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim A Arte-Sabotagem serve apenas à percepção, atenção, consciência.
ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa A AS vai além da paranóia, além da desconstrução – a critica defi-
perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário nitiv a – ataque físico à arte ofensiva – cruzada estética. O menor
e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de indício de um egotismo mesquinho ou mesmo de um gosto pessoal
existência.” estraga sua pureza e vicia sua força. A AS não pode nunca procurar
o poder – apenas renunciar a ele.”

“Vivemos numa sociedade que faz propa-

p.30
ganda de suas mercadorias mais caras com
imagens de morte e mutilação, enviada dire-
“A Associação para a Anarquia Ontológica conclama um boico-

p.40
tamente para a parte sub-reptícia do cérebro
te de todos os produtos comercializados sob a senha de LIGHT
das multidões através de aparelhos carcinógenos
– cerveja, carne, doces, cosméticos, música, ‘estilos de vida’ pré-
geradores de ondas alfa que distorcem a realidade
fabricados, o que for. O conceito de LIGHT (no jargão situacio-
– enquanto algumas imagens da vida (como a nos-
nista) desdobra um complexo de simbolismo através do qual o Espe-
sa favorita, de uma criança se masturbando) são ba-
táculo espera controlar toda a repulsa contra o seu mercantilismo do
nidas e punidas com uma ferocidade incrível. Não
desejo. O produto “natural”, “orgânico”, “saudável”, é designado para
é preciso coragem para ser um Sádico da Arte, pois
um setor do mercado constituído por pessoas levemente insatisfeitas que
a morte libidinosa está no centro estético do Para-
apresentam um quadro mediano de horror do futuro e possuem uma as-
digma do Consenso.”
piração mediana por uma autenticidade tépida. Um nicho foi preparado
para você, suavemente iluminado pelas ilusões de simplicidade, limpe-
za, elegância, uma pitada de ascetismo e autonegação. Claro, custa um
pouco mais... afinal, o que é LIGHT não foi feito para primitivos pobre

H akim Bey é o pseudônimo de Peter


Lamborn Wilson, historiador, ensaísta e
poeta americano nascido em 1945. Inicialmente
CAOS Terrorismo Poético e Outros Crimes Exemplares Hakim Bey
Livro lançado pela Conrad Editora do Brasil, em 2003, com tradução de Patricia Decia
e Renato Resende. Original em inglês disponível em
http://www.hermetic.com/bey/taz_cont.html
e famintos que ainda consideram comida nutrição e não décor. Tem de
custar mais – senão, você não compraria.”

pesquisador do sufismo (corrente mística derivada


Seus escritos são marcados por um profundo radicalismo estético “Sem o conhecimento da escu-

p.32
do islamismo que acredita na possibilidade de ridão (“conhecimento carnal”)
“A poesia está morta novamente – e mesmo que a múmia do seu cadáver possua

p.17
e ideológico, um anarquismo quase a-político, e pela profusão de refe-
uma relação direta com deus através de rituais ainda algumas de suas propriedades medicinais, a auto-ressureição não é uma não pode existir o conheci-
rências a correntes ideológicas, culturas e movimentos underground.
de canto e dança), morou em diversos países do A polêmica levantada por livros como CAOS: terrorismo poético e outros delas. Se os legisladores se recusam a considerar poemas como crimes, então mento da luz (“gnose”). Os dois
oriente médio até ser expulso do Irã à época da atos exemplares, publicado em 1985, iguala-se à polêmica acerca do alguém precisa cometer os crimes que funcionem como poesia, ou textos que conhecimentos não são meramente
Revolução Iraniana, em 1979. próprio Bey: personagem enigmático, que raramente aparece em públi- possuam a ressonância do terrorismo. Reconectar a poesia ao corpo a qualquer preço. complementares: são idênticos, como
co, “acusado” de estimular atos de guerrilha simbólica e midiática. Não crimes contra o corpo, mas contra Idéias (e Idéias-dentro-das-coisas) que sejam a mesma nota tocada em duas oita-
letais e asfixiantes. Não libertinagem estúpida, mas crimes exemplares, estéticos, crimes vas diferentes. Heráclito afirma que
hackers, cultura rave, anarquismo ontológico,
A coleção de ideias que o acompanha é extensa por amor. Na Inglaterra, alguns livros pornográficos ainda estão banidos. A pornogra- a realidade persiste num estado de
terrorismo poético, teoria do caos, pornografia (e pedofilia), tecnologia, ludismo... fia produz um efeito físico mensurável em seus leitores.” “guerra”. Apenas notas opostas podem
Hakim Bey descarta convenções e exalta a insubordinação - em construir a harmonia. (“O Caos ´e a
seu sentido mais amplo. soma de todas as ordens.”)”.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17
A beleza, o pecado, a revolta,
o amor dão a arte desse rapaz um
acento novo na arte brasileira. Não
adiantam admoestações morais.
Se querem antecedentes, talvez este
seja um: Hélio é neto de anarquista.”
H élio Oiticica nasceu em 26 de julho de 1937, no Rio de Janeiro e foi Hélio Oiticica é considerado um dos artistas mais revolucio- Luciano Figueiredo apud
OITICICA, Hélio. Aspiro ao
criado em uma família da qual herdou sua liberdade de expressão nários de seu tempo; em sintonia constante com a efervescência grande labirinto. Rio de
Janeiro: Rocco, 1986.
e contestação. artística mundial das épocas de 1950, 1960 e 1970 e, de acordo
Oiticica tinha um engajamento político anarquista, não partidário, envolvido com Luciano Figueiredo, “participou ativamente de um dos perío-
apenas em suas escolhas pessoais, avesso a palavras de ordem e que desconfiava dos mais fortes da crítica de arte no Brasil: os anos neoconcretos”.
de organizações de esquerda e partidos comunistas. Essa orientação política (ou, HO possuía uma visão tão ampla que, à sua época, seu trabalho
por que não dizer, não-política), Hélio atribuía ao avô, José Oiticica - professor, foi apenas parcialmente compreendido. Além de sua percepção ex-
poeta, filólogo e notável anarquista brasileiro -, autor do livro “A doutrina anar- tremamente vanguardista, Oiticica, como chama atenção Luciano
quista ao alcance de todos” (1945) e um dos principais articuladores da Insurrei- Figueiredo, é “um dos casos raros na arte brasileira de artista que
ção Anarquista de 1918, que pretendia derrubar o governo central na capital do elabora teorias, conceitua e pensa a própria obra”.
país. Também ao avô, Oiticica atribuía sua proficiência lingüística “Devo a ele
saber todas as línguas latinas bem. Eu falo bem francês – aliás, o francês eu falo
desde os sete anos; eu leio bem o italiano. E eu estudava latim com meu avô, que O início dos estudos
falava onze línguas”. É notável a admiração de Oiticica pelo avô, que, também Em 1954, HO iniciou seus estudos de pintura com Ivan Serpa,
segundo ele, “tinha comportamentos que, para mim, eram valores que me guia- no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Entre 1957 e 1958,
vam, que eu nunca mais esqueci e que meu pai me contou”. produziu uma série de guaches onde figuras geométricas procuram
romper a estrutura formal das composições nas quais estão inse-
ridas, que foram denominados posteriormente pelo próprio artista
como Metaesquemas, resultando em 27 trabalhos nessa técnica, in-
titulados ‘Sêcos’. Esse trabalho participou da I Exposição Nacional
Untitled No. 348”, aguada sobre
Gabriela Rabelo de Arte Concreta, em 1956/57, no Rio de Janeiro e em São Paulo. cartolina, 46 x 58 cm, de 1958.
Publicitária e designer gráfico
Essa produção artística, entretanto, já foi questionada pelo
gabrielarabelo@gmail.com
Colaboração: próprio artista, em um texto de 1972, em que dizia que “Não há
Marcos Franchini porque levar a sério a minha produção pré-59”, ressaltando a
Mayra Milena
importância para o artista de sua participação na experiência Neo-
Mário Pedrosa, no artigo “Arte concreta e nos desdobramentos de sua produção.
ambiental, arte pós-moderna,
Helio Oiticica”. In: Correio da
Manhã, 26/06/1966.

A experiência neoconcreta
HO fundou, em 1959, o Grupo Neoconcreto, ao lado de
artistas como Amilcar de Castro, Lygia Clark, Lygia Pape e Franz
Weissmann. O grupo originou-se a partir da cisão do movimento
concreto, resultante das divergências entre os trabalhos dos artis-
tas paulistas do Grupo Ruptura, e cariocas, do Grupo Frente, com
o qual HO expunha.
Em março de 1959, o Grupo publicou o “Manifesto Neocon-
creto”, e colocava-se contra a exacerbação racionalista a que os
concretistas haviam levado sua obra.

Manifesto do Grupo Ruptura.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06
01 ••0207
• 03• • 08
04 • •0509 • 10
• 06 • 07 •• 08
11• 09
• 12
• 10• •13
11 ••12
14• 13
• 15
• 14•• 16
15 ••16
17 • 18
• 17 • 18•• 19
19
Neste momento, a obra de Hélio O jovem Oiticica já em 1959, quando pelo mundo dominava a vaga romântica do Hélio Oiticica e a ginga da Mangueira
Oiticica ganhou espaço e tridimensiona- informal e do tachismo, indiferente à moda, abandonara o quadro para armar seu primeiro O ano de 1964 representou mais um momento-chave na Hélio era um jovem apolíneo, até um pouco pedante, que tra-
lidade sem, no entanto, abrir mão de um objetivo insólito, ou relevo no espaço, num monocromísmo violento e franco. Tendo partido trajetória artística e na vida de Hélio Oiticica. A morte de seu pai balhava com o seu pai na documentação do Museu Nacional, onde
preciosismo plástico. Em Aspiro ao Grande naturalmente da gratuidade dos valores plásticos, já hoje rara entre os artistas vanguardei- – com quem havia aprendido o rigor e a ordem – e a descoberta aprendeu uma metodologia: era muito organizado, disciplinado [...] Em
Labirinto, Mário Pedrosa descreve esta ros atuais, se mantém fiel àqueles valores, pelo rigor estrutural de seus objetos, o discipli- da Mangueira, à qual foi levado pelo escultor Jackson Ribeiro, cria- 1964, seu pai morreu; um amigo nosso, o Jackson, então, levou o Hélio
fase do trabalho do artista: namento das formas, a suntuosidade das cores e combinações de materiais, pela pureza em ram mais um ponto de ruptura em sua carreira artística. Conforme para a Mangueira, para pintar os carros, foi aí que ele descobriu um
suma de suas confecções. Ele quer tudo belo, impecavelmente puro e intratavelmente precio- descreveu Lygia Pape, também do grupo Neoconcreto e amiga espaço dionisíaco, que não conhecia, não tinha a menor experiência. (...)
so. (...) O aprendizado concretista quase o impedia de alcançar o estágio primaveril, ingénuo próxima de Oiticica: Descobriu, aí, o ritmo, a música. Ficou tão entusiasmado que começou
da experiência primeira. Sua expressão toma um caráter extremamente individualista e, ao a aprender a dançar, para poder participar dos desfiles, dos ensaios;
mesmo tempo, vai até a pura exaltação sensorial, sem alcançar no entanto o sólio propria- se integrou na escola de samba, fez grandes amigos, ele descobriu o
mente psíquico, onde se dá a passagem à imagem, ao signo, à emoção, à consciência. sexo (...) Hélio virou uma outra pessoa (...) Isso começa a interferir na
obra dele em 1964. A morte do pai coincidiu com o fim do movimento
neoconcreto, já não havia aqueles compromissos mais ortodoxos. Aí ele
começou a incorporar essa experiência do morro (...), aquilo começa a
fazer parte dos conceitos dele, da vivência dele (...). Ele muda radical-
Sua produção artística também A mudança também é apontada mente, até eticamente; ele era um apolíneo e passa a ser dionisíaco (...).
Oiticica começa a desenvolver diálogo e possibilidades de trabalho
ganhou diálogo com outras artes como por Mário Pedrosa como a iniciação a Essas barreiras da cultura burguesa se rompem lá, é como se ele vestisse
com outras artes ao incluir em sua obra de 1960, Projeto Cães de Caça,
a poesia – a palavra tornou-se elemento uma nova fase na vida de Hélio: um outro Hélio, um Hélio do “morro”, que passou a invadir tudo: sua
o Poema Enterrado, de Ferreira Gullar e o Teatro Integral, de Reynaldo
marcante em sua obra: casa, sua vida e sua obra.
Jardim. A partir daí, a presença da poesia será marcante em todas as
suas ordens conceituais e programas como Penetrável, Bólide, Parango- Lygia Pape apud JACQUES, Paola
Mas seu comportamento subitamente mudou: um dia, deixa sua torre de Berenstein. Estética da Ginga: a
lé, Manifestações Ambientais, Apropriações. marfim, seu estúdio, e integra-se na Estação Primeira, onde fez sua iniciação popular arquitetura das favelas através da
obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro:
dolorosa e grave, aos pés do morro da Mangueira, mito carioca. Ao entregar-se, então, Casa da Palavra, 2003. P.27.
Mário Pedrosa apud OITICICA,
Hélio. Aspiro ao grande a um verdadeiro rito de iniciação, carregou, entretanto, consigo para o samba da
labirinto. Rio de Janeiro:
Como está tudo claro agora: que a pintura teria de sair do espaço, Rocco, 1986. P.10. Mangueira e adjacências, onde a “barra” é constantemente “pesada”, seu impenitente
ser completa, não em superfície, em aparência, mas na sua integridade inconformismo estético.
Mário Pedrosa apud OITICICA,
profunda.(...) Evidentemente esta solução está de pé de igualdade com Hélio. Aspiro ao grande labirinto.
Rio de Janeiro: Rocco, 1986. P.10.
a arquitetura, pois “funda o espaço”. A arquitetura é o sentimento Penetrável de Oiticica
no Instituto Inhotim, em
sublime de todas as épocas, é a visão de um estilo, é a síntese de todas as Brumadinho/MG.
aspirações individuais e a sua justificação mais alta.

Luciano Figueiredo apud


OITICICA, Hélio. Aspiro ao
grande labirinto. Rio de
Janeiro: Rocco, 1986.

Box Bólide nº17. Variação do


Box Bólide nº1 1965-1966.

Glass Bólide nº05. Homenagem


a Mondrian, de 1965.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21
Arte ambiental: “in-corporação”, espacialidade e Descrição e conceito das principais obras:
sensorialidade na obra de Hélio Oiticica A descrição das obras a seguir foi retirada do artigo “Corpo +
As obras de Oiticica passaram a se preocupar com o corpo em ações diretas Arte = Arquitetura. As proposições de Hélio Oiticica e Lygia Clark”,
nas obras de arte, lutando contra a atitude contemplativa por parte do espectador. de David Sperling, presente no livro “Fios soltos: a arte de Hélio Isso é genial. A maneira como as
A cor ganhou liberdade e, não mais trancada em formas, tornou-se substância, Oiticica” . pessoas se referem a mim é ótimo. Alguns
elemento pulsante da obra, que pungia aquele que a contemplava. Mário Pedrosa me chamavam de pintor, outros de

Bólides
prossegue descrevendo essas relações: escultor. E, pior ainda, me chamaram de
Os Bólides trazem a diferenciação da noção de trans-objeto.
arquiteto! E isso chegou ao máximo no
Realizados a partir de objetos “identificados” -- não “encontrados”
programa do Chacrinha, que me chamou
A arte de Hélio Oiticica tornou-se -- e recolhidos pelo artista. Ao serem identificados, no momento
de costureiro. Ninguém acha uma
experiência, experimentação na es- mesmo de sua identificação, já se encontram implícitos na idéia e,
Deixara em casa os Relevos e os Núcleos no espaço, prosseguimento de uma pri- Entrevista para Jorge Guinle definição. Ah, Ah, Ah!
nessa condição, tensionam a relação sujeito-objeto. A associação de Filho, “A última entrevista de
meira experiência de cor a que chamou de penetrável: uma construção de madeira, com pacialidade, no movimento e na tem- Hélio Oiticica”, in Interview,
poralidade. O artista criava mundos materiais brutos propõe ativar a percepção e o retorno do sujeito abril de 1980.
porta deslizante, em que o sujeito se fechava em cor. Invadia-se de cor, sentia o contato
ambientais - conjuntos penetráveis às coisas mesmas.
físico da cor, ponderava a cor, tocava, pisava, respirava cor. Como na experiência dos
bichos de Clark, o espectador deixava de ser um contemplador passivo; para ser atraído plenos de potencialidades sensoriais,
a uma opção que não estava na área de suas cogitações convencionais cotidianas, que se concretizavam através da

Tropicália

Parangolé
mas na área das cogitações do artista, e destas participava, numa comunicação direta presença do espectador dentro da obra.
Tropicália propõe mais uma diferenciação ao rea- Com o conceito Parangolé e a proposição das ca-
pelo gesto e pela ação. (...) A cor não está mais trancada, mas no espaço circundante Esta presença não era passiva, tam-
lizar a obra como totalidade propositiva de um estado pas ou parangolés, o grande salto da criação do objeto
abrasado de um amarelo ou de um laranja violento. São cores-substâncias que se des- pouco estritamente espacial - de estar
brasileiro da arte de vanguarda, confrontadora dos condi- para a proposição vivencial do corpo é a diferenciação.
garram e tomam o ambiente, e se respondem no espaço, como a carne também se colore, dentro ou passar pela obra - mas de
cionamentos da arte de representação, a qual Oiticica jul- Como resposta aos condicionamentos impostos pela
os vestidos, os panos se inflamam, as reverberações tocam as coisas. O ambiente arde, tornar-se parte dela e deixar que ela se
gava alienante. Como ápice de seu programa ambiental, cultura e pelo sistema da arte e instigação à despro-
incandescente, a atmosfera é de um preciosismo decorativo ao mesmo tempo aristocrá- torne uma parte em si, o que Oiticica
Tropicália sugere a participação do sujeito e a ativação gramação do sujeito, o Parangolé se efetiva na duração
tico e com algo de plebeu e de perverso. denominava incorporação (ou, grafada
do corpo como única forma possível de desnaturalização de sua apropriação pelo público chamado a vesti-lo e
a sua maneira, “in-corporação”).
de hábitos e descolonização do imaginário. A ação do assisti-lo coletivamente. Forma, tempo e limites espa-
sujeito torna-se totalidade sensorial, sígnica e política. ciais não são dados prévios, são conquistas do processo
de ação coletiva. Sujeito e parangolé formam um todo

Arte ambiental é como Oiticica chamou sua arte. Não é com efeito entranhas, gavetas se enchem de pó, e depois são os vidros nos primeiros centrífugo, que extravasa para o exterior, em limites

outra coisa. Nela nada é isolado. Não há uma obra que se aprecie em dos quais ele reduziu a cor a puro pigmento. Os materiais mais diversos fluidos desenhados pela experiência.

si mesma, como um quadro. O conjunto perceptivo sensorial domina. se sucedem, tijolo amassado, zarcão, terra, pigmentos, plástico, telas, Na arquitetura da favela está implicito um caráter

Nesse conjunto criou o artista uma “hierarquia de ordens” — Relevos, carvão, água, anilina, conchas trituradas. Há espelhos como base do Parangolé, tal a organicidade estrutural entre os

Núcleos, Bólides (caixas) e capas, estandartes, tendas (Parangolés) — de núcleos, há espelhos no interior das caixas para novas dimensões elementos que o constituem e a circulação interna e o

“todas dirigidas para a criação de um mundo ambiental”. Foi durante a espaciais internas. De uma garrafa de uma forma caprichosa, como desmembramento externo dessas construções; não há

iniciação ao samba, que o artista passou da experiência visual, em sua uma licoreira, cheia de um líquido verde translúcido, saem pela boca passagens bruscas do quarto para a sala ou cozinha,

pureza, para uma experiência de tato, do movimento, da fruição sensu- do gargalo, como flores artificiais, telas luxuriantes porosas, amarelas, mas o essencial que define cada parte que se liga à ou-

al dos materiais, em que o corpo inteiro, antes resumido na aristocracia verdes, de um preciosismo absurdo. É um desafio inconsciente ao gosto tra continuidade. E aí ele formou os seus movimentos

distante do visual, entra como fonte total da sensorialidade. Com as refinado dos estetas. A esse vaso decorativo insólito, chamou de Home- de Parangolé, admitindo a possibilidade de se imitar os

caixas de madeira, que se abrem como escaninhos de onde uma lumi- nagem a Mondrian, um de seus deuses. Sobre uma mesa, aquele frasco, favelados do Rio de Janeiro, quando com o mínimo de

nosidade interior sugere outras impressões e abre perspectivas através em meio daquelas caixas, vidros, núcleos, capas, é como uma pretensão disponibilidade, criam, também, artes. Vivenciam artes.

de pranchas que se deslocam, gavetas cheias de terra ou de pó colorido de luxo à Luís XV, num interior suburbano. Uma das caixas, das mais Isso é profundamente verdadeiro. Basta que se veja

que se abrem, etc, é evidente aquela passagem do domínio das impres- surpreen-dentes e belas, o interior cheio de circunvoluções irisadas quantas vezes a favela comparece ou visita temas de

sões visuais às impressões hápticas ou táteis. O contraste simultâneo (telas) é iluminado a luz neon. A variação desses bólides em caixas e em artistas ou pintores da categoria dos renomados, para

das cores passa a contrastes sucessivos do contato, da fricção entre vidros é enorme. Como que deixando o macrocosmo, tudo agora se passa sentir que naquela figura da geometricidade simples

sólido e líquido, quente e frio, liso e rigoroso, áspero e macio, poroso e no interior desses objetos, tocados de uma vivência estranha. dos morros cariocas já trazem em si o princípio estéti-
Parangolé Tent 01, 1964
consistente. De dentro das caixas saem telas rugosas e coloridas, como
Pintura; madeira; plástico; co universal na sua arquitetura.”
264 x 120 x 120 mm

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07
01 • •0208
• 03• •09
04 ••05
10• 06
• 11
• 07•• 12
08 • •0913 • 14
• 10 • 11 •• 12
15• 13
• 16
• 14• •17
15 ••16
18• 17
• 19
• 18•• 20
19 ••20
21 • 22
• 21 • 22•• 23
23
Apocalipopótese
Com Apocalipopótese tem-se a
diferenciação da experiência de ma-

[ I nsubordinação, bom tema, talvez meu trabalho se


encaixe perfeitamente com essa proposta, como também
se adequaria para qualquer que aponte

Éden
nifestação pública coletiva, integrada
Éden, mais que a síntese de sua trajetória, o que pela primeira impres- Kauê Garcia www.flickr.com/kauegarcia alguma forma de desajuste com a sociedade.
por ações de múltiplos agentes – ar-

merda
são a montagem de diversas de suas obras no recinto da Whitechapel Gallery
tistas e público – de modo simultâneo
deixaria supor, gera um novo brotamento. O próprio artista revela que a ex-
e descontínuo, em diálogo não linear.
periência confirmou algumas idéias e derrubou outras, indicando-lhe a meta
Tática de descentramento e constru-
“do que pensar” e “de para onde ir” (Oiticica, 1986: 115). Com ele formula a

A Super Produção
ção de múltiplos sentidos frente a
idéia de Crelazer, o puro “lazer-prazer-fazer” inerente ao viver não-programa-
habitualização do cotidiano. O sujeito
do e não-planejado, ao lazer criador acessado em estados de repouso. O viver
configura-se como agente transforma-
desinteressado, não objetivado, torna-se a senha para o ato criador, disponí-
dor de uma realidade múltipla.
vel a qualquer sujeito sem a mediação do objeto, não que seja prévio a este,
mas que deste prescinde. O sujeito na ação mesma do viver é o ser criador e
o próprio “objeto” da arte.
Éden não é concebido como exposição de arte destinada a apresentar a
trajetória de um artista em terra estrangeira ou ainda como cenografia exó-
tica para “ambientar” obras e público. Nem mesmo como aposto às obras ou
seu complemento. Éden é um projeto, brotamento de brotamentos, patamar
extremo das reflexões do artista naquele momento, planejamento ambiental.
Suprassensorial

Com Suprassensorial a diferenciação produzida é a busca da dilatação das


capacidades sensoriais habituais do sujeito, em direção ao que chamou “supra-
sensação”. Prescindindo muitas vezes do objeto, propõe exercícios criativos em
que o que conta é a simultaneidade da vivência com a percepção do viver. Tal
processo visa a descoberta do comportamento individual, movendo o sujeito do
condicionamento inconsciente. Sujeito e ação suprassensorial processam uma

enxergar nas colagens, e isso me torna apto para participar


foda-se, devo ter um pouco de cada coisa ruim que possam
meta-vivência, “objeto” da proposição artística.

bobagem assim, devem tem alguma razão, porém na boa,


juvenil, rebelde sem causa, comercial ou qualquer outra
Outra diferenciação, o desenvolvimento do conceito de Probjeto é considera-

Todos que me subestimam e acham um trabalho


do por Favaretto o momento de completude da abertura estrutural do programa
vivencial de Oiticica (Favaretto, 1992: 178). O objeto ampliado em escala, pro-
posições de Ninhos, tendas e camas, é concebido como receptáculo de vivências
e comportamentos. O objeto não é o alvo da participação, mas campo compor-
tamental, espaço destinado à criação coletiva. Sujeito e Probjeto formam uma
totalidade centrípeta, dirigida a um âmago, espaço interno protegido.

continua na página 29
]
01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25
espaço fui descobrindo que eu realmente era uma mulher, uma
Lá transexual. Uma travesti não quer ser nem homem, nem mulher.
em São João Del Ela quer ter a identidade dela como travesti. É diferente de nós,
Rei eu quis continuar a fazer transexuais, que queremos ter uma identidade de mulher”, diz.
terapia e, desta vez, a minha psicóloga Segundo Lili, as transexuais desejam estar inseridas, por exemplo,
não quis me consertar. Quis me escutar. no movimento feminista, enquanto as travestis preferem transitar

Um dia ela pediu para eu deitar no chão em por todos os espaços. “Mas é claro que ela [a travesti] não pode ir
ao banheiro masculino porque pode ser agredida”, comenta.
cima de um papel. Desenhou o contorno do meu
corpo e me deu um tanto de revista. ‘Agora você
recorta as figuras que quiser e cole no desenho’.
No meio do meu peito eu colei uma mulher e Espelho,
espelho
desenhei com um lápis uma grade de cadeia.
‘Tem uma mulher aprisionada dentro de
você que está querendo sair’, ela
meu… Sarug e Lili, assim como outras transexuais, passaram muito tempo
tentando entender seus sentimentos que não condiziam com o seu corpo. “Eu não queria mais ser uma bo-
falou”. neca de pano. Eu queria mudar”, lembra Sarug. O processo de descoberta implicou em mudanças físicas.
Sarug começou a tomar hormônio feminino, a fazer maquiagem diariamente e a deixar o cabelo crescer.
No início ela chegava a tomar uma cartela inteira de anticoncepcional de uma vez, mas as reações
alérgicas a fizeram procurar uma endocrinologista.
O hormônio feminino evita a ereção, a ejaculação e diminui o crescimento de pêlos.
Sarug explica que o hormônio permitiu que seu letra ‘g’ no final”. Apesar disso, em determinados
corpo mudasse de forma harmônica e natural: “nada lugares é conhecida como Daniele ou Everlin.
agressivo demais. Apesar de aumentar o risco de Já Lili teve vários nomes. “Não compensa
ter uma trombose e um AVC”. Ela investiu nos falar. Hoje todo mundo me conhece como

Adeus
hábitos de embelezamento, fez curso de maquiagem Liliane Anderson”. De nome de batismo,
e aprendeu a cuidar da pele e do cabelo. Preferiu Anderson passou a sobrenome.

boneca de pano!
não recorrer ao silicone cirúrgico para moldar seu Muitos transexuais ainda
corpo. Menos ainda ao industrial, e mesmo usado sentem a necessidade de mudanças
para lustrar peças de avião, limpar pneus e painéis mais profundas. Para esses ca-
de automóveis. Trata-se de um processo clandestino sos existe a opção da cirurgia de
feito pelas “bombadeiras”, travestis ou transexuais correção de sexo, que já pode ser
Quem conta essa história é Sarug Dagir Ribeiro. En-
que realizam cirurgias plásticas improvisadas, sem feita pelo SUS. O paciente precisa
quanto fala, é impossível deixar de reparar em suas longas
nenhuma formação médica. Para fechar os bura- ser acompanhado não só por um
pernas, lábios fartos, maquiagem impecável, voz suave e
quinhos por onde o silicone entrou, é preciso cola cirurgião, como também por uma
num quê de interrogação que traz. Desde a infância era
super bonder e repouso absoluto por cerca de dois equipe de psicólogos e psiquiatras
diferente. Tinha trejeitos femininos. Sabia que gosta-
meses. Esse procedimento cirúrgico pode levar à durante pelo menos dois anos. Marina
va de homens, mas não se identificava com o grupo
morte. “Isto é comum na realidade de trans e traves- Caldas Teixeira, psicanalista que atende
dos gays. Com quase 25 anos, Sarug se descobriu
tis. A gente busca o corpo perfeito, a auto-estima. a casos do SUS em Belo Horizonte, afirma que
Mariana Garcia uma transexual: anatomicamente um homem, mas
Não tem dinheiro, procura as bombadeiras”, conta o acompanhamento é importante por se tratar de
Adriana Mitre com desejo profundo de ser uma mulher.
Lili, que já se submeteu a esse procedimento para uma mutilação. “O objetivo do meu trabalho é fazer
Estudante de Comunicação Social da UFMG Liliane Anderson, mais conhecida como Lili,
turbinar o bumbum. o sujeito passar pela cirurgia da melhor forma pos-
http://www.flickr.com/photos/marianagarcia/ é vice-presidente da Associação Brasileira de
Não basta mudar o corpo. Trocar o nome tam- sível, porque é irreversível e não vai dar pra ele se
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Reportagem produzida para o Laboratório bém é quase sempre indispensável. Sarug é exceção: arrepender e pedir pra retornar”, diz ela. O professor
Outro Sentido, do curso de Comunicação Foi dentro do movimento que ela percebeu ser tran-
ela usa seu nome de registro. Diz que não incomoda do Departamento de Psicologia da UFMG, Marco
Social da UFMG sexual. “Eu falava que era travesti. Dentro daquele
porque “não é completamente masculino graças à Aurélio Prado, comenta que o acompanhamento é

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27
Mudar o corpo

santo-ex-pedinte
interessante exatamente porque ele funciona como uma espécie
de interrogatório para o paciente: “são cirurgias muito definitivas
sobre o corpo e você não tem nada nem ninguém que coloque a
mão no fogo e comprove que aquela cirurgia pode garantir zonas não basta
erógenas de prazer. É interessante que as pessoas não embarquem Transformar o corpo está longe de ser o ponto
nisso apenas como uma forma relativamente rápida de resolver final para todos os problemas. Pode ser apenas o
um conflito”. Marco Aurélio é membro do Núcleo de Direitos começo de outras dificuldades. Para Marina Caldas,
Humanos e Cidadania GLBT. “é um equívoco o transexual achar que todo o
problema dele é o órgão. O órgão está ali só de bode
expiatório”. Segundo ela, outras querelas vão apa-
recendo. A questão da afetividade é uma delas. Um
Reconstrução
total

Um pouco pro
exemplo dado pela psicóloga é o de uma transexual
A cirurgia, no caso do masculino que não conseguia aceitar que, mesmo após de ter
para o feminino, consiste na transfor- feito a cirurgia, apenas homossexuais se interessas-
mação do pênis em uma vagina estética. sem por ela. Este é um sentimento que a cirurgia
“Primeira coisa na cirurgia é a retirada dos testículos. não apazigua.
Nós pegamos o órgão sexual, esvaziamos o pênis e tiramos a Além de nem sempre conseguir suprir todas
parte que dá a ereção. Com a pele do pênis se constrói a vagina, as demandas dos transexuais, a cirurgia dificilmen-
com a do saco escrotal é feito os grandes e os pequenos lábios e com a te facilita uma inserção social igualitária. Marco
parte da uretra, o clitóris”, explica o Dr. Carlos Cury, coordenador da Unidade de Aurélio diz que a sociedade normalmente relaciona
Mudança de Sexo da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. a transexualidade à prostituição. Essa visão estere-
Já no caso da transformação do feminino para o masculino, mamas, ovários, otipada seria, para o pesquisador, uma das grandes
trompas e útero são retirados. “Quando o paciente toma o hormônio masculi- causas do preconceito. “Se abrirmos os olhos para a
no, o clitóris começa a crescer e aumenta de tamanho. A cirurgia alonga esse riqueza das experiências, a gente vai ver que não é
clitóris e fica um pênis bem razoável de três a quatro centímetros”, conta Carlos isso. Acho que estamos distantes de reconhecer uma
Cury. igualdade do ponto de vista da convivência, da socia-
Sarug chegou a entrar na fila do SUS e consultar um médico. Desistiu. “A bilidade, da escuta dessa experiência”, afirma.
cirurgia que ele faz é puramente estética, não é uma vagina funcional. É indica- Sarug se formou em Psicologia na UFMG e

zando a situação cairia melhor, e me respeitassem mais, mas


da revista, pois sempre estive na contramão da história,

dos no lixo, Xerox mais barato da cidade, mente perturbada,


Enfim, Arte Punk para vocês, com materiais encontra-
da para transexuais que tem uma aversão muito grande pelo concluiu o mestrado na Faculdade de Letras. Optou

letraset, boemia, durex e total falta de respeito a qualquer


bonito, com um discurso engajado, romantizando e politi-
Isso fica claro na minha arte, que nada é mais do que
uma extensão do que eu sou, mal educada, suja e fora dos
padrões, pode soar como uma arrogância prepotente, mas
de obrigação ou compromisso, inclusive para as terríveis

juro que estou sendo sincero, pode ser que se eu falasse


corpo e feita para ver se salva o sujeito de uma psico- pela prostituição para sobreviver. Ela conta que a

sempre com o dedo médio em riste para qualquer tipo


se”, diz Sarug. Lili não entrou na fila. Ela reclama abertura para o transexual ingressar no mercado for-
das burocracias e afirma que algumas pessoas mal de trabalho é mínima. “Muitas trans e travestis
ficam mais de cinco anos esperando pela são expulsas de casa muito jovens e são abrigadas
cirurgia: “muita gente se prostitui para nas casas de cafetinas. Além disso, a rua é o local
pagar a operação, ou junta dois mil reais onde elas se sentem valorizadas. Que seja pelos 30
e se sujeita a uma cirurgia ilegal”. reais que ganham por programa”, reflete Sarug. Ela
Carlos Cury garante que o procedi- conta que agora está se articulando para retornar à
mento traz o prazer sexual, pois o órgão universidade e sair da prostituição. Pretende tentar
fica totalmente sensibilizado, mas Marina doutorado e depois um concurso público para ser
Caldas aponta a cirurgia como a constru- professora universitária. O tema para a tese, Sarug já

continua na página 25
ção de um órgão artificial, não inervado: tem. Deverá pesquisar a relação entre a prostituição
“do ponto de vista fisiológico, não tem e um tipo de cliente costumeiro em seu cotidiano, o

tendências.

instituição.
para que ?
possibilidade, mas tem paciente que diz militar. Ela também está em fase de produção de um
que tem muito prazer. Não cabe à gente livro que conta suas próprias experiências com esses
ficar julgando”. homens dos quartéis.
]
01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29
lvido como uma
O trabalho foi desenvo s
revela-se característica
prancha conceito que
nhas. Inspirado em
físicas e psicológicas mi
um parangolé, rodei e
Hélio Oiticica construi
Oiticica refletiria em
dancei. A “anti-arte” de a
ncia, a musicalidade e
sua essência a inconstâ a po rta
to à liberdade. Um
insubordinação. Um gri ”.
“para o êxtase asa-delta
aberta para o delírio e

“ Minhas experiênc
com circo do que
a fim de alegrar as
São uns chatos, alé
ias têm mais a ver
com promotores de
burguesias intere
m das conhecidas
hoje
arte; não estou
ssadas em arte.


qualidades
reacionárias; porta
nto basta.

Helio Oiticica, de
Nova York.

ica
Trecho de texto
publicado na col
una Geleia

Helio Oitic
Geral, de Torquato
Neto, no jornal Úl
tima
na
Procure Hora, em 29 de set
embro de 1971.
8
página 1

Parangolé
Capa

D9
Música
e Inconstância.
Délio Faleiro
Social
Comunicação
Estudante de
tos/faleiro
flickr.com/pho

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31
(( { }
N o início do século XX, uma criança de uma tradicional família francesa
ganhou uma câmera fotográfica. Talvez esse seja “o momento decisivo”
mais decisivo da história da fotografia.

À procura
de Bressons
Lorena Galery
Estudante de Artes Visuais e Design Gráfico
http://www.flickr.com/photos/logalery/
O menino, Henri Cartier-Bresson,
tornou-se pouco tempo depois um dos
mais importantes e inovadores fotógrafos
da história, desenvolvendo um estilo
completamente livre e único, que só uma Fotógrafo francês,
nascido em 1908.

Henri Cartier-Bresson
criança poderia ter. Bresson é considerado
Mas o que teria sido de Cartier-Bresson – e da por muitos o pai do
história da fotografia – se o menino francês tivesse fotojornalismo. É um dos
fundadores da agência
sido proibido de brincar com esse equipamento fotográfica Magnum em
caro e destinado para adultos, como acontece 1947. Viajou o mundo
fotografando por revistas
normalmente?
como Life, Vogue e
Harper’s Bazaar.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33
{
) )
Isso não importa, já que não foi assim que se sucedeu, mas será
que diversas revoluções artísticas não estão sendo extintas, ou no
mínimo proteladas todas as vezes que dissemos não às travessuras
de uma criança? Esse ensaio fotográfico propõe subverter o principal paradig-
s
}s
ma da criação das crianças ocidentais: o de dizer não. Aqui, tudo
pode. Roubar biscoito, rabiscar a parede ou brincar com fogo.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35
“ O infinito que (não) se enxerga entre um
quadro e outro na película cinematográfica
Cineastra dinamarques.
é o que inspira o trabalho de teóricos, estudiosos Fundou juntamente com
e curiosos em relação ao cinema. Os espaços de Thomas Vinterberg o
À luz das postulações de Noel Burch no texto “Ele- manifesto Dogma 95.
não-imagem que intercalam cada fotograma Além de Dogville dirigiu Crítico e teórico de cinema
mentos básicos”, do livro “Práxis do Cinema”, constata-se estadunidense. É interna-

Von Trier
trazem o sentido do filme para uma dimensão mais também Anticristo
cionalmente conhecido por
que, antes de compreender os intervalos mínimos entre os (2008), Dançando no Es-
profunda, onde a análise e o conseguinte diagnóstico fotogramas, devemos elucidar certas questões dentro do curo (2000), Os Idiotas seu conceito de decupa-
gem, pelo termo Modo
merecem cuidado especial. É a partir dessa idéia, conceito chamado de raccord. O termo, cuja acepção está
(1998) dentro outros.
de Representação Institu-
intervalos invisíveis entre o que se visualiza na próxima do que seria o intervalo entre um plano e outro, cional e por suas teorias,

Noel Burch
tela, que se procura, neste texto, a analisar breve e compiladas em obras como
principalmente no que tange o tempo e o espaço dentro da “Práxis do cinema” (1969),


despretensiosamente, como são articulados os planos estrutura do filme, torna-se central para a perspectiva que “Teoria da prática do filme”
em certas seqüência do filme Dogville se pretende adotar na análise dos trechos do filme. (1981), e “A Clarabóia do
infinito” (1991).
Lars Von Trier, 2003.

Filmado num galpão na Suécia, Dogville é um


reflexo da obra anterior de Von Trier, um diretor
famoso por ter feito parte do conjunto de cineastas
responsáveis pelo Manifesto Dogma 95. Dogville
não se enquadra em todas as exigências do mani-
festo, mas traz certos elementos que deixam claras
Otavio Cohen as influências, como por exemplo, a ausência de ce-
jornalista e crítico de cinema nografia – apenas alguns objetos cênicos e marcas
twitter.com/otaviocohen | sala2084.blogspot.com no chão constituem o “cenário” onde se desenvolve Deixando de lado ques-
a história. A quase total ausência de câmeras fixas tões de enredo ou críticas em
e o abuso dos cortes rápidos são marcas inconfun- relação à interpretação que se
díveis de que Dogville trouxe alguma inovação à faz da obra, passamos então a
história do cinema. analisar como a estrutura do
filme pode ser vista, levando
em conta a idéia de raccord,
como descrita em Burch,
O fim da porta de Burch
aplicada por Jacques Aumont,
Falando sobre a articulação do espaço-tempo no filme, e a maneira
e fortemente executada de
como os planos se organizam na montagem causando efeitos de
maneira “incomum” por
continuidade, Noel Burch cita o exemplo da porta. Um personagem
cineastas como Eisenstein e
passando por uma porta que liga dois ambientes, sendo filmado em
Godard, principalmente.
um espaço ao abri-la e seguidamente no outro é certamente um
exemplo frutífero, embora simples, para falar sobre raccords de tempo
e de espaço. É em cima desse exemplo que o autor desdobra pratica- Manifesto escrito para a criação de um
cinema mais realista e menos comercial.
mente todos os tipos de raccord citados no texto em questão (nesse Foi uma tentativa de resgate do cinema
ponto, tomamos como incontestáveis as palavras do próprio Burch como feito antes da exploração industrial.

Dogma 95
ao afirmar de que há inúmeras possibilidades de se articular espaço Nele está expresso uma série de restri-
ções técnicas e tecnologias nos filmes, e
e tempo e que as quinze que seu texto traz à tona não são completa- éticas, com regras quanto ao conteúdo
mente estáveis ou limitadoras). dos filmes e seus diretores.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37
espaço mínimo de tempo/espaço
entre dois planos, na montagem O que vemos nessa cena é um jump-cut, uma
de um filme. É a ligação abstrata
pequena fração de tempo elipsada por um corte, em
Na maioria dos filmes que mostram cenas com portas – e per- entre planos, que produz o sen-

Raccord
tido para que a ação descrita que os planos são praticamente idênticos. Nesse tipo
sonagens passando por elas – os exemplos de Burch se verificam, plano, no lado direito do quadro, olhando obliquamente para um
em B esteja colada com a ação de raccord, o que ocorre é que a ação de Jason (abrir a
independente da maneira como as cenas são decupadas (apresen- descrita em A. lugar que estaria “à esquerda” da câmera. Pressupõe-se, então, o
porta) não foi completada, ou melhor, não foi com-
tando elipses de tempo, “descontinuidades” espaciais, etc). O que lugar em que o garoto está. Na tomada seguinte, Jason está de
pletamente mostrada num plano, ao passo de que no
se observa em Dogville, por exemplo, é uma maneira diferente de pé, filmado em plano americano, centralizado olhando para um
plano seguinte o garoto já corria livremente pela rua.
passar pelas portas, já que as mesmas não existem – ao menos não lugar completamente oposto ao que se espera que Grace esteja.
como elementos do cenário. Correndo o risco de cairmos numa Jump-cuts e raccords deste tipo estão pre-
As quebras na continuidade perduram ao longo das tomadas
análise simplista e reduzida, podemos considerar que o espectador sentes durante todo o filme, exercendo efeitos
seguintes, em que vemos Grace novamente sentada, e novamente
chegaria à conclusão de que as idéias descritas aqui são óbvias. dramáticos na narrativa. Ainda na mesma
de pé, enquanto a discussão parece seguir uma seqüência lógica
Não se pode aplicar uma idéia de como os planos são trabalhados seqüência, alguns minutos atrás na ação, Grace
de ordenamento no tempo, como se não houvesse elipses no
na passagem de um personagem por uma porta quando não se tem discute com Jason. Em uma tomada, Grace
diálogo.
porta. Entretanto, levando em conta os aspectos do filme de Von Quebra que gera elipses na está de pé, apoiada nos joelhos enquanto fala com o
narrativa. Ocorre quando, na
Trier, podemos dizer que sim, a porta está lá. Só sua representa- edição, uma ação filmada garoto. Na seguinte, está sentada na parte debaixo

jump-cut
ção visual como um objeto cênico foi suprimida. Mas a maçaneta sofre uma ruptura e, no plano do beliche, enquanto começa uma fala. Na tomada 2 espaços em 1
seguinte, é retomada por um seguinte, está sentada em um banco, de onde termina
faz barulho quando um personagem a manuseia. A porta range e
ângulo e/ou um enquadra-
produz som ao ser batida. E, de uma maneira ou de outra, na di- mento ligeiramente diferente. a fala. Os raccords de direção, posição e de olhar são
mensão do mundo concebido dentro da narrativa, os personagens quase totalmente contrariados nessa seqüência, pois Há outras seqüências no filme em que, sem fugir à regra, as
“sabem” que é por ali que se passa para entrar ou sair de uma casa. cada vez que um dos personagens é elipses de tempo são amplamente utilizadas, ainda que outro
filmado em primeiro plano, elemento capital previsto por Burch se faça presente. O fora-de-
algumas palmadas por ter sido mal- não se sabe ao certo em campo em Dogville ganha uma outra dimensão quando é colo-
criado. Quando ela recusa, ele ameaça que parte da pequena cado em perspectiva não o que escapa ao quadro em um de seus
posicionamento de
a contar para sua mãe. Contrariada, câmera no cinema casa ele está. Em certo seis espaços possíveis de fuga, em que os objetos permanecem
Grace bate em Jason. Então, o garoto e vídeo em que se
enquadra a persona- momento, Grace está em constante latência enquanto não voltam a ser enquadrados.
se levanta para sair da casa. O final da de pé, em primeiro A ausência de cenários e paredes faz com que, muitas vezes,
gem dos joelhos para
cena é filmado em plano geral, por- cima. Foi disseminado personagens fora da ação principal que se descreve na tela em

plano americano
tanto, podemos ver a ação de outros em filmes de faroeste
norte-americanos, determinado momento sejam vistos em segundo e terceiro pla-
Retomando a discussão, percebemos que muito personagens num plano mais adian- onde a câmera
poucas vezes ao longo das quase três horas de duração tado do que o de Grace e Jason, já que mostra a expressão
não há paredes entre eles. Os outros do ator e também a
do filme ocorrem cortes enquanto personagens passam
arma que ele carrega
por portas. Há certas seqüências, porém, que saltam personagens, portanto, parecem estar na cintura.
aos olhos por apresentarem situações diferentes. Uma completamente alheios a tudo. Jason
delas está presente no primeiro ato, ao capítulo 6
(Dogville mostra os dentes): o desfecho da seqüência
no, alheios ao que ocorre no primeiro. Verifica-se também o oposto,
em que Grace (a personagem de Nicole Kidman) tenta “abre” a porta enquanto
quando a ação acontece no segundo ou terceiro plano enquanto
se esquivar das ameaças de Jason, filho de Vera (Pa- vemos que Chuck, seu pai,
os demais personagens habitam o primeiro, como o que se vê na
tricia Clarkson) e Chuck (Stellan Skarsgard). O garoto se aproxima da casa. No
seqüência descrita anteriormente. Em ambos os casos, personagens
deseja receber um castigo de Grace, quer que ela lhe dê plano seguinte, em que a
que estariam “desenquadrados” aparecem persistindo no quadro. O
câmera está praticamente
na mesma posição, Jason
já está na rua, há alguns
fora-de-campo aqui, então, refere-se aos elementos que simplesmente
metros da casa, enquanto
estão excluídos da ação principal, mesmo que em um momento ou
Chuck já passou pela porta.
outro, possam vir a participar dela (o que ocorre de maneira análoga
ao fora-de-campo habitual).

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39
AUMONT, Jacques. A imagem. São Paulo: Papirus, 1990.

Bibliografia
BURCH, Noel. Praxis do Cinema. São Paulo: Perspectivas, 1979.
Possivelmente, trechos de DOGVILLE. Lars Von Trier. Suécia/Dinamarca/EUA. 2003. Lions

Dogville comprovam a supeita


Gate Entertainment. Cor.
VALIM, Alexandre. O dogmatismo de Dogville. In: Revista Espaço
“(...) é inegável que, apenas
de Burch: “(por definição, não
Acadêmico, Julho de 2004. Disponível em: <http://www.espacoa- através da exploração sistemáti-
cademico.com.br/038/38cult_valim.htm>. Acessado em 01/07/08
se pode “ver” o espaço-fora-de- às 04h11min. ca das possibilidades estruturais
tela), mas é importante saber inerentes aos parâmetros cinemato-
que este tipo de inversão é gráficos, poderá o cinema libertar-se
concebível”. das formas antigas de narrativas e
desenvolver novas. (...) É este tipo de
cinema do futuro que nós espera-
mos que venha logo”
Uma das funções da ausência de
paredes na narrativa reside no campo da
sintaxe. Vê-se aqui uma das metáforas
Esta breve análise está longe de
críticas construídas por Von Trier: muitas
querer concluir que uma obra como
vezes as pessoas fingem não ver o que
Dogville seja o melhor exemplo para
acontecem debaixo de seus narizes – ou está disposto a assumir o roman-
demonstrar as especificações de Burch.
mesmo através das paredes – e não ce com a forasteira que, para os
Conclusão Ainda há outras combinações e articulações
fazem nada a respeito. Exemplo gritante demais, é apenas uma serviçal. Entretanto, a
A partir dos exemplos dados, situados de raccords que não foram exploradas por Von
disso é a cena em que Grace é estuprada ironia é que, ao fundo do quadro, atrás de Gra-
sob a esfera de análise de Noel Burch, somos Trier por falta de oportunidade, acaso ou simples
por Chuck, enquanto vários personagens ce e Tom, vemos todos os outros personagens.
levados a crer que os dois elementos principais inadequação. Contudo, as seqüências analisadas
estão por perto, alienados, separados
aqui discutidos (os raccords e a questão do fora-de-campo) são utilizados, em aqui (assim como as demais, que ficaram “fora-do-
dessa ação por paredes Enquanto o diálogo dos dois é focalizado em primeiro
Dogville, com fins estruturais, e também contribuem para o que se pode campo” deste texto) parecem suficientes para uma
“imaginárias”. Entretanto, plano, por entre elipses e jump-cuts, a ação no plano
chamar de plástica da imagem. Raccords dinâmicos ou estáticos, de tem- maior compreensão das articulações do tempo-espaço
devemos olhar além da posterior permanece contínua. Um dos pequenos “sal-
po ou de espaço, jump-cuts e falsos-raccords permeiam toda a obra, descritas pelo autor.
interpretação para que tos” no tempo frequentes no filme acontece aqui. Numa
colocando-a num patamar de um tipo de cinema que se desprende
possamos analisar o efeito que se tem tomada, Tom está ao lado de Grace, enquanto ela reage
dos valores do “grau-zero”. Registro puro da realidade.
colocando “dois espaços” (de acordo com à declaração e diz que também o ama, e no seguinte,
Apesar de trazer No cinema, o grau zero é a
o que é dito por Burch) em um. ele passa pela frente dela, saindo transposição meramente
elementos certamente

grau-zero
pela direita, numa ação cujo reflexiva dessa realidade sem
pioneiros no cine- os elementos que quebram a
início foi suprimido lógica naturalista e realista da
ma, importando do
Uma seqüencia ideal para que possamos pelo corte. narrativa.
teatro alguns deles,
perceber tal coisa é aquela no capítulo 5 (4 de
Dogville não é um
Julho) em que Tom (Paul Bettany) se declara
filme completa-
para Grace. Ele não deseja que o momento seja
mente inovador.
testemunhado pelos demais
Persistem certos
habitantes da cidade, que fes-
elementos dra-
tejam ao redor de uma mesa
máticos e técnicos
na rua principal, porque não
habituais. Entretanto,
as possibilidades de
estruturação e continuidade
são exploradas até o limite do que se
pode ver num filme de distribui-
ção mundial, o que vai de
encontro às expectati-
vas de Burch:

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41
T rabalhei por seis anos como Designer Gráfico e
os dois últimos dois como Ilustrador.
Trabalho no meu escritório no bairro
de Neukölln em Berlim.

Evil
Lov
Tenho interesse pelos processos
de produção e minhas influências
vem das gravuras, dos posters, das
tipografias antigas, o Modernismo
alemão, a arquitetura, as artes
gráficas populares e espontáneas,
os ícones religiosos, os filmes de
Jarmusch, Antonioni, Kaurismaki,
Cronenberg, Marker.
A música punk,
rockabilly, surf rock, Elvis
Presley, The Cramps e
Beach Boys.

666 Ever tried. Ever failed.


No matter. Try Again. Fail
again. Fail better.
Samuel Beckett
666 Cristóbal Schmal Designer Gráfico e Ilustrador www.artnomono.com

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43
Helvetica Fries
Tipografia e comunicação

Andréa Miranda Designer gráfico www.andreamiranda.net


visual. Usos canônicos e
não canônicos. O desenho

A Helvetica Fries foi criada atendendo


Tipografia Experimental
e a representação das
letras e suas possibili-
dades expressivas. Letras
a proposta de exercício feita pelo
como imagens. Imagens professor Ricardo Portilho, na disciplina de
como letras. Técnicas
e ferramentas para
Tipografia Experimental ministrada
pesquisa e elaboração de no curso de Comunicação da UFMG, no
signos tipográficos, letras semestre passado. A proposta era a seguinte:
e alfabetos. Utilização da
Tipografia em diferentes
mídias.
“Helvetica Modificada - Faça um nova variação
para a Helvetica que não seja do tipo bold ou
itálico. Sua abordagem deve adicionar, complicar
ou personalizar a Helvetica de alguma maneira,
lidando com a relação entre padronização e
diferenciação no desenho de um caractere, e
Em 1957, Max Miedinger dialogando com a percepção da Helvetica como
criou a família tipográfica
representante de um desenho de tipos ‘neutro’ e
Neue Haas Grotesk.
Difundida como um símbolo ‘universal’.”
de tecnologia de ponta
suíça, a Helvetica se tornou
reconhecida e utilizada
mundialmente. Seu objetivo
era de criar um tipo claro,
sem significados culturais,
de fácil legibilidade e que
Helvetica

pudesse ser usado em


diferentes tipos de suporte:
de sinais de trânsito a
impressos em papel.

Assim, a Helvetica Fries foi criada tendo como


base as batatas fritas, escolhidas por serem, de certa
forma, símbolo de uma cultura contemporânea mas-
sificada, do junk food e da aceleração do nosso
cotidiano, que muitas vezes não nos deixa ver o que
A junk food contém altos
níveis de gordura saturada, está a nossa volta e o que acontece com nós mesmos.
sal ou açúcar e numerosos
aditivos alimentares como
glutamato monossódico
e tartrazina; ao mesmo
tempo, é carente de
proteínas, vitaminas e fibras
dietéticas. Popularizou-se
porque é barata de produzir,
possui prazo de validade
prolongado e pode não
precisar de refrigeração. É
Junk Food

fácil de encontrar, requer


um mínimo preparo e pode
exibir uma vasta gama de
sabores.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45
A

]
té então, Belo Horizonte era para mim

Another
uma cidade de paredes monótonas. Iguais
àquelas de boa parte das grandes cidades.
Não me entenda errado. Sabia que os grafites
estavam por aí, mas é que nunca tinha
parado para reparar. E as coisas são assim.
Estão no mundo à espera de um olhar atento.

drawing
]
A oportunidade para reparar nesses outros
desenhos que compõe a paisagem urbana
surgiu em uma aula do Atelier de Ensaio
Fotográfico, na Escola de Belas Artes da UFMG.
A professora e fotógrafa Patrícia Azevedo levou

in the
alguns livros para subsidiar as nossas ideias.
Escolhi o já clichê Banksy, o menos fotógrafo
de todos, se é que me entendem. A primeira
vez que escutei esse nome foi há três anos e
desde então ele nunca mais saiu da minha

wall
lista de referências.

Mariana Garcia | estudante de Comunicação Social da UFMG

Mariana Garcia, gosta de um aparente


paradoxo, das letras, dos livros, do jornalis-
mo, das lentes (menos as da miopia), das
imagens e da fotografia. Por agora busca
apaziguar a vontade de fazer essas coisas
conviverem em harmonia. Tudo no fim das
contas é só mais uma forma de expressão e
é isso que importa.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47
Fotógrafa e professora artista de rua inglês de
efetiva da Escola de renome internacional.

Patrícia Azevedo
Belas Artes - UFMG. Uma Suas obras, grande maio-
de suas mais recentes ria em stencils, stickers
exposições foi NORTHERN ou grafite, são carregadas
ART PRIZE, em Leeds, de conteúdo social expon-

Bansky
Inglaterra. Coordenou do claramente uma total
coletivamente o projeto aversão aos conceitos de
NO OLHO DA RUA. autoridade e poder.

]
Decidi, sem grandes pretensões, fazer

]
um pequeno inventário do grafite em Belo
Horizonte, assim como o livro do Bansky
trazia um inventário de sua “arte de guer-
rilha”. E a partir daí aquela frase pronta
“quem procura acha” nunca foi tão ver-
dadeira para mim: passei a ver grafite em
todo e qualquer lugar, seja nos muros de
uma grande casa no Bairro Cidade Jardim
ou na Praça da Estação e arredores. Essa
é minha coleção inacabada e espero que
fique assim por um bom tempo. Por sorte,
essas paredes costumam mudar.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49
é r i e
S rr[[aaççõeesss]] uma matéria
relatando um
incên-

CCCooor
a at en çã o
Chamou-m e de espetáculos
nc ia s tr ág ica s em uma casa
dio e suas conseq
uê americana.

parte
ho u qu e as chamas eram
“O público ac ”.
orou a reagir
do show e dem
o refinada
t oo.. tã
JJuu
Juss t Quem afinal se
ria dotado de
da pirotecn ia , do entreteni-
ver os limites
ante
sintonia para treTETAni-

E ssa série
que trazia
em forma
surgiu a p
m pequen
artir de a
as declara
lguns tra
balhos
mento ?
mento com
Po ré
o
m
um
, m
to
e é impossível nã
do ,
ça
em
-n íq
o pensar no en
grande parte do
s programas da

ueis, em parcela
da música po
Tv,
p, o
lo s ca ia
de desenh ções de a nos espetácu indo a tragéd
o. Nesses mor e todos aplaud
nomeei d
e Anatom esboços [q l de se gu nda a segunda os conta.
y of Love u e eu fu te bo sem nos darm
como um ] eu trata
sentimen va o amo a parte
dentro, de to que vinha
literalme
r
ic o ac ho u qu e a miséria er
cada um
d n te “O públ público achou
acabou se o s ó rgãos do d e
m or ou a reagir”. “O
tornando corpo. De da vi da e de e demorou a
– uma fo uma nece
ssidade p
senhar
ci a er a parte da vida
rma de co que a vi ol ên orância era
que me p locar pra
fora senti
ra m im
bl ic o ac hou que a ign
reagir”. “O pú agir”.
reocupav
a m m e n to e demorou a re
ficavam m
artelando
, deprimia
m ou idéia
s parte da vida
s que esmo
minimam na minha assim se dá. M
ente inte c abeça e e se ns aç ão qu e a impunidade
ressantes u achava Tenho a emos que os O primeiro desenho foi lovin’ with
. o se acreditáss
qu en as do dia-a-dia. Com amarão a
as pe crisias, não ch all my heart, seguido pelo lovin’ with all
pr é- co nc eit os , as nossas hipo
nossos my kidney. A partir daí seguiram outros,
dos tempos.
eio ao turbilhão
atenção em m que em geral utilizavam algum trecho de
elmelamed .zip.net]
Melamed [mich música, algumas vezes com uma palavra
Michel
ou outra modificadas, ou com alguma
delas substituída aleatoriamente por um
[GABRI sinônimo. O intuito era criar uma men-
ELA RA
Gabriela BELO] sagem enigmática, aparentemente sem
é aquari
e deixa ana na sentido (ou escrita de forma errada), mas
de dorm scida e
ir em h m 1987
mente o . Flutua que, depois de algum tempo observan-
as idéia rá rios no ouvindo
s que lh rmais p música
Gradua e vem à c a ra e xpressa do, permitisse ao interlocutor decifrar a
da pela a b e r g rafica-
U FMG em ç a .
momen Publicid mensagem. Essa série de esboços circulou
to ela s a d
e dedic e e Pro
dução d a ao cu pagand pelo corpo até o pulmão; a partir daí, me
e sticke rso de a, neste
rs p a ra sere D esign d
de idéia m colad e Produ apaixonei [graficamente] pelo coração e em
(in)cons os por to e a p
Portfó tantem aí, enqu ro-
lio: ww ente so a n vez de me declarar pra alguém eu adotei o
w.coro b re os p to m u d
flot.co lanos p a
m/gabi_ ara o fu símbolo gráfico do coração para tratar de
rabelo turo.
assuntos diferentes, apelando à emoção do
interlocutor.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49 • 50 • 51
escritos do
Na série Cor[a s, descobri os
ções] eu busq Dois anos atrá ado
uei um tratam eu tenho pens
melhor, me pr
eocupei mais ento gráfico
im Be y e no tei que o que com
com harmonia Hak muito grande
de cores do qu
e nos esboços
s formais e
di ta do te m uma conexão
e acre por
que deram or ético proposto
verdade, essa igem a ela [n Terrorismo Po
preocupação
foi mais o resu
a o conceito de e, se gu ndo o
mpreend
evolução atra ltado de uma mo Poético co
vés dos experi
mentalismos ele. O Terroris
Love do que um da Anatomy
a decisão, prop
riamente]. Ai
of próprio autor, escala que pode
m
essa preocupa nda que haja entas em larga
ção estética,
o eixo do meu “ações não-viol rável ao pode r de
apropriar de
elementos gr trabalho é me
im pa ct o ps icológico compa
áficos para cr ter um e o ato é uma
sagens textua ia r signos e men or ist a - co m a diferença qu
is que propõe - um ato te rr nsciência” .
importa muito
m ações. A té
cnica em si nã mudança de co
. o
e
te ligado ao qu
está fortemen
Esse conceito na . A ci da de
arte urba
centemente na
temos visto re e anônimos de ix a-
mensagens qu
e está repleta de r, desenho, pi
ntura,
com camisetas stencil, sticke
en sã o de m udar o mundo ram em fo rm a de
cidade como
Não tenho a
pret
ação é possív
el fazer as
s ou tr os su portes. Usar a
to
m nã o sei que tipo de pero que
entre mui ar mensagens
é
desenhos. Ta
m bé
m elas, mas es meio para lanç
em a pa rt ir do contato co te democrá tic o, po is
pessoas tomar mudar absolutamen
e pensar em e le r
as façam refletir pode produzir
as m en sa ge ns
amento é um
a coisa qualquer um o
an ça de comport ns e, ao mesm
amise
- de atitu de . M ud
em geral. Tend
o essas mensage
r a r em c fíc il de acontecer, te a or de m at ual,
indo p a
corpo
,
muito pess oa l e di
que não é tão tempo, subver
a baram o para o ac ab ei aprendendo e as ve ze s até
ões ] a c ad o r n
ntro estudado publ
ic id ad e,
uzir uma competindo –
Cor[aç como m. De então, é prod i-
e n h os dos s i m agens m e nsage si m . O qu e tento fazer, s - de combatendo
- a comun
s a as
Os de áfico d orte p
ara a sagem fáci l ngir as pessoa
lor gr o sup r men tencial para pu das placas e
elo va alque o ge m co m po ue a cação oficial
ã o p o c o m e q u s, com mensa ensagem cheg
tas, n d o corp o corpo i ferente fa ze r com que a m
elo va
l o r
ssupo
s t o
otaçã o d
ão, alguma m an ei ra ,
sintam obriga
das outdoors.
mas p tá pre u con quest ento, elas se
a já es ação o r ie em elas e, po r um m om
i s e t
re sig
n i fi c
caso d
a s é
ão do
lado bre o assunto.
da cam e adqui n s. No s entaç a refletirem so
n e l a g e p r e eu
inseri
da
m das
tatu
coraçã
o-re orma,
a m b é i c a r o e a l g uma f eria
é o ca
so t te apl se, d ual. S

CCCoSinta
i n t e ressan r e a l , como s i g no vis ele,
u-se corpo de um olar n
torno p e ito do a l a través b je to e c o
rdo d o ção-r e e um
o sentad
esque o r a o cora o n ome d r e a l [repre -
se pra
f a com bjeto o cora

seu
puxas r u m a plac e s i g no e o i m a gem d
e ent r pei a oisa

oorrr[[aççããooo]]]
escrev idade estam uma c
como a mbigü os eu ação é
ou m a
s de s e n h l , c o r a nte, Propor açõe
criand um do afina eress s novas é um
]. E m a m i seta – t o b e m int de mostrar a forma
igno c efe i
pelo s tro da i esse
aos outros
uma realid
e den e ache ade
e l o l ado d t r o – que você ac
redita que
ção p e den futuro
. é possível e
lado d or no
lhor que a me-
u e fi ca do m e l h O vestuário te
atual. Quem
sabe, fazend
q lorar m um caráter a pessoa ac o
t e n d o exp re ss comunicativo reditar que
pr e an te – a moda o bem inte- o mundo po
tem, na verdad ser algo dife de
mais amplo. e, só que em rente e extr
Tenho consci um âmbito você conseg aordinário,
Pseudônimo de Peter ência de que ue fazer, co
é moda - e ne o que eu faço mo escreve
Lamborn Wilson, historiador, m é a idéia qu não Hakim Bey
e o seja. Trata- , que ela “s
uma idéia us se de expressa
Hakim Bey

escritor e poeta, pesquisador ando o corpo r e sinta mot


como suporte. a procurar ivada
do Sufismo bem como da or- veste uma m Quando algu um modo m
ensagem, ela ém ais interess
ganização social dos Piratas atinge outro de existênc ante
de e de signifi nível de intens ia” .
do século XVII. Veja mais nas cação: um co ida-
ração desenh
páginas 16,17. o real e o text ad o bate junto co
o se torna um m
a fala repetid
mente pelo qu a ininterrupta
e veste a cam -
isa.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49 • 50 • 51 • 52 • 53
O REFÚGIO DO
FRACO; A
COVARDIA IM-
PRESSA; “Lembrando que, eu sei o poder da Lucas Lima Luiz Felipe
palavra e, se for pra ser sincero, é DESIGNER GRÁFICO DESIGNER GRÁFICO
CAMINHO SUPER- www.luklima.com www.flickr.com/lbracadesign
claro que não penso dessa forma tão
FICIAL; extrema mas era pra ser arte então a
gente tem levantar uma bandeira!”
O DINAMISMO MORTO.
MONÓTONO, CO-
DIFICADO.
_

_
_
: :

O REFÚGIO DO O REFÚGIO DO

FRACO; A FRACO; A

COVARDIA IM- COVARDIA IM-

PRESSA; PRESSA;

CAMINHO SUPER- CAMINHO SUPER-

FICIAL; FICIAL;

palavra escrita, utilizada na poesia e nos livros, uma

Tentei com esse trabalho valorizar a imagem.


amigo - Luiz Felipe) para expor ao lado de
O DINAMISMO MORTO. O DINAMISMO MORTO.

diversos outros artistas em um lançamento

maior do que o significado de um texto escrito.”


demonstrei o que ela significava pra mim. Quis
boa forma de traçar um paralelo com o que faço.

carrega muitas vezes um significado forte, bem


pra isso, transferi-la para o mais baixo patamar
pudesse me guiar na criação. Sendo assim, vi na
aleatórios, busquei desenvolver um conceito ou
MONÓTONO, CO- MONÓTONO, CO-

Como não costumo fazer arte ou trabalhos

de importância. Tornei-a o mesmo que nada e


Na realidade, tentei menosprezar a palavra e,
alguma relação com o evento em questão que
Fomos convidados (eu e o Braca, meu

mostrar a força da imagem e como a mesma


DIFICADO. DIFICADO.

_ _

_ _

_ _

de um livro de poesias.
:

O REFÚGIO DO

FRACO; A
COVARDIA IM-

PRESSA;

CAMINHO SUPER-
FICIAL;

O DINAMISMO MORTO.

MONÓTONO, CO-

DIFICADO.

_
_

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49 • 50 • 51 • 52 • 53 • 54 • 55
fake
Matheus Lopes Castro

anos, e em seguida cursei faculdade de design gráfico. Atualmente trabalho como freelancer, desenvolvendo trabalhos autorais. Sou
influenciado pelo dadaísmo (buscando a experimentação), surrealismo (buscando introspecção) e pela pop art

houston
Trabalho com design desde os 14 anos (nessa época por pura diversão), fiz um curso de desenho e história em quadrinhos por 3
DESIGNER GRÁFICO
mathiole@gmail.com

(buscando criticar o consumismo). Trabalho muito com técnicas mistas, aliando o tradicional, feito a mão, com o digital.”
Formado em Zurique por
franceses e alemães, o
Dada foi um movimento
de negação. Fundaram-
no para expressar suas
decepções em relação a
incapacidade da ciências,
religião, filosofia em
evitar a destruição da Eu-
ropa. Sua proposta é que
a arte ficasse solta das
amarras racionalistas e
Dadaísmo

fosse apenas o resultado


do automatismo psíquico,
selecionado e combinan-
do elementos por acaso.

Com raízes no dadaísmo, Nas primeiras décadas


a pop art começou a do século XX, os estudos
tomar forma na década psicanalíticos e as in-
de 1950, quando alguns certezas políticas criaram
artistas, após estudar um clima favorável para
os símbolos e produtos o desenvolvimento de


da propaganda nos EUA, uma arte que criticava a
passaram a transformá- cultura européia e a frágil
los em tema de suas condição humana diante
obras. Representavam, de um mundo cada vez
assim, os componentes mais complexo. O surre-

Surrealismo
mais ostensivos da cul- alismo foi por excelência
tura popular, de poderosa a corrente artística
Pop art

influência na vida cotidi- moderna da represen-


ana na segunda metade tação do irracional e do
do século XX. subconsciente.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49 • 50 • 51 • 52 • 53 • 54 • 55 • 56 • 57
Ivonete Pinto é jornalista
e doutora em cinema pela
Escola de Comunicação e Artes
da USP. Publicou diversos
trabalhos, dentre os quais o
livro “Descobrindo o Irã”, de
1999. Nesta entrevista, ela fala
de cinema e conta um pouco
de sua experiência no Irã e
comenta as condições de vida
e os hábitos dos iranianos após
a Revolução Iraniana de 1979,
que derrubou a monarquia
então exercida por Pahlavi e
instituiu a República Islâmica.
A “IMAGEM” DO ISLÃ PARECE SER, JÁ HÁ
ALGUM TEMPO, AQUELA DE UMA MULHER

(...) vida privada


COBERTA DA CABEÇA AOS PÉS. VOCÊ CON-
CORDA COM ESTA IDEIA? QUAIS SERIAM,

e vida pública NO SEU ENTENDER OUTRAS [NOVAS] IMA-


GENS DO ISLÃ?
tornam-se uma só.
Cada país islâmico tem suas características, seu perfil de comportamento.
A posição da mulher nas diferentes sociedades islâmicas muda de acordo mais
com a cultura local do que propriamente em função da religião. No Irã, país
onde as mulheres, mesmo sob o rigor religioso, sempre trabalharam e tiveram
seus direitos, não se vê os absurdos de uma Arábia Saudita ou Kwuait, onde as
PLUR1VERSO - CONTE UM POUCO DA SUA mulheres sequer dirigem automóveis. A própria roupa no Irã não é a burka (e a
EXPERIÊNCIA NO IRÃ, O QUE A MOTIVOU A ignorâncias dos ocidentais em relação a isto é enorme. Até hoje me perguntam
IR ATÉ LÁ? QUAIS ERAM AS SUAS EXPECTA- como era usar a burka no Irã...). No Irã nem mesmo o shador é obrigatório, ele
Ivonete Pinto - A primeira foi como turista, com meu marido, mas já fiz TIVAS? só é obrigatório em escolas públicas e para as mulheres que trabalham para o
entrevistas na Farabi Foundation e, como era a época do Fajr Film Festival, já vi governo (e, naturalmente, para entrar nas mesquitas). No mais, usa-se o hejab,
alguns filmes. Retornei outras duas vezes para cobrir o festival como crítica. que é um modo de vestir e de se comportar que envolve não mostrar as curvas
Desde o início da Revolução Islâmica, em 1979, o Irã chama a atenção do do corpo e não mostrar o cabelo.
mundo. Na verdade, sempre chamou por sua posição estratégica no Oriente
Burka Shador Hejab
Médio e pelas idiossincrasias da dinastia Pahlavi. Mas com a Revolução, o país
Vestido utilizado por Vestido que cobre todo Manto que cobre o
se tornou infinitamente mais interessante. Não é à toa que pensadores como
mulheres de alguns o corpo à exceção dos cabelo, o pescoço e parte
Michel Foucault foram para lá ver de perto os acontecimentos. AS TELENOVELAS BRASILEIRAS, COMO A países islâmicos como olhos, menos “radical”, do peito, é a vestimenta
o Afeganistão e o portanto, que a burka. É mais utilizadas pelas
Farabi Foundation Fajr Film Festival RECENTE O CLONE, TÊM SE APROPRIADO Paquistão. Cobre todo o utilizado pelas mulheres mulheres em países
Produtora e distribuidora Maior festival O OLHAR OCIDENTAL ENTENDE A RELA- FREQÜENTEMENTE DE ELEMENTOS DA corpo da mulher, inclusive em países islâmicos islâmicos como o Irã.
de filmes iraniana internacional de cinema CULTURA ISLÂMICA NA CONSTRUÇÃO DE os olhos. como o Irã e a Arábia
ÇÃO DOS POVOS ISLÂMICOS COM A ORDEM Saudita.
fundada em 1983. É uma do Irã, ocorre em Teerã PERSONAGENS E TRAMAS. COMO VOCÊ
das grandes responsáveis desde 1982. É realizado POLÍTICO-RELIGIOSA ISLÂMICA COMO UMA
pelo destaque do cinema sempre no mês de RELAÇÃO DE SUBMISSÃO. ESTE OLHAR É ENXERGA ESSAS APROPRIAÇÕES? São interessantes para a divulgação de certas culturas, mas de fato acabam
iraniano fora do país fevereiro, ocasião em que deformando estas culturas através dos estereótipos. Fazem uma mistura incrível
MUITO CRITICADO POR DEMONSTRAR UMA
através de acordos se comemora também o
de financiamento e aniversário da Revolução INTOLERÂNCIA CONTRA UMA CULTURA DI- entre árabes e muçulmanos e é como se todos países do Oriente Médio fossem
exibição e, sobretudo, da Iraniana de 1979. FERENTE. NO ENTANTO, O PRÓPRIO TERMO ortodoxos e de alguma forma seguidores de Bin Laden. O Clone era tão risível
realização e participação quanto foi esta novela sobre a Índia [Caminho das Índias]. O lado bom é justa-
“ISLÔ SIGNIFICA, AO PÉ DA LETRA, “SUB-
em festivais.
MISSÃO”. COMO VOCÊ COMPREENDE ESSA mente a oportunidade de, em espaços mais sérios, como alguns programas de
IMPLICAÇÃO DA IDEIA DE “SUBMISSÃO” NA TV, alguns jornais e alguns cursos universitários, promover o debate chamando
Submissão, sim, a Allah e ao Corão, mas em tese não há uma submissão po- CULTURA ISLÂMICA? pessoas mais esclarecidas.
lítica, tanto que a revolução foi feita. A questão é que como agora trata-se de uma
teocracia, liderada pelo clero, e a constituição sendo a Sharia, vida privada e vida
pública tornam-se uma só. Em tese, ir contra a política implementada pelo clero
seria então um ato de insubmissão intolerável. No entanto, a revolução já fez
30 anos e os jovens do país, que são maioria absoluta, não viveram os primeiros
anos da revolução e não foram “contaminados” pelo carisma do líder Khomeini.
O Clone era tão
Têm outra cabeça e, embora sigam a religião de uma forma muito séria e de fato risível quanto foi esta
fiel, preferem ter mais liberdade. Por outro lado, há muita corrupção no governo
e a rejeição a esta última eleição de Ahmadinejad só demonstra o quanto eles
novela sobre a Índia.
estão insatisfeitos. Não acredito, porém, que o regime teocrático mude a curto ou
médio prazo. Se houver transformações, serão lentas.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49 • 50 • 51 • 52 • 53 • 54 • 55 • 56 • 57 • 58 • 59 • 60 • 61
O FILME IRANIANO SALVE O CINEMA (DIR.

A hipocrisia não
MOHSEN MALKHMALBAF) PROVOCA UMA
Mohsen Malkhmalbaf
DISCUSSÃO SOBRE SUBORDINAÇÃO/INSUBOR-
Popular diretor de
cinema iraniano e atual
preso aos 17 anos
e solto à época da
DINAÇÃO AO TRAZER A FIGURA DE UM DIRE-
TOR (O PRÓPRIO MAKHMALBAF) ARBITRÁRIO
é um atributo só
do Ocidente.
presidente da Academia Revolução Iraniana. Seu
Asiática de Cinema. Em filme Salve o cinema foi DIANTE DOS ATORES AMADORES CANDIDA-
sua juventude como realizado para celebrar o
TOS A UM PAPEL EM SEU SUPOSTO PRÓXIMO
militante político, foi centenário do cinema. PASSADOS DEZ ANOS DA PUBLICAÇÃO DE
FILME. PELA LÓGICA DO FILME, A INCITAÇÃO
SEU LIVRO DESCOBRINDO O IRÃ, VOCÊ PER-
À INSUBORDINAÇÃO PODE SER UMA FERRA-
CEBE ALGUMA MUDANÇA COM RELAÇÃO À
MENTA DE RESISTÊNCIA AO REGIME ISLÂMI-
IMAGEM DO PAÍS E DA CULTURA ISLÂMICA
Sem dúvida os muçulmanos, pela sua história de invasões, lá no início com CO. COMO VOCÊ COMPREENDE ESTA LÓGICA?
EM GERAL? Escrevi o livro durante o primeiro período do governo Khatami. Um governo
Maomé, forjaram um espírito guerreiro. Os iranianos, por terem sofrido, no século
mais liberal, ou moderado, ao menos. A primeira vez que estive lá, não via
passado, vamos chamar de interferências da Inglaterra e da Rússia, precisaram
mulheres mostrando cabelo, nem casais de mãos dadas. Na segunda e terceira
criar mecanismos de defesa. Eles são muito nacionalistas, têm muito orgulho de
vez isto já foi visto nas ruas. Na terceira vez, fui numa festa que rolou vinho e
sua pátria. Foram invadidos pelos árabes, mas mantiveram a língua persa e não
maconha. Hoje, com Ahmadinejad, isto ainda acontece, mas as regras voltaram a
gostam nem um pouco quando são confundidos com os árabes. É claro que os go-
ser mais rígidas. Na verdade, a lei não mudou, o que havia antes era um pouco
vernos se aproveitam deste espírito para empreender batalhas políticas – às vezes
mais de tolerância que agora o presidente não tem. Ou por crença, ou para fazer
literais, como na guerra contra o Iraque, às vezes no campo (ainda) da retórica
média com os aiatolás que o mantém no poder. Ou as duas coisas.
contra Israel. Mas a desobediência só faz sentido se não for contra algo sagrado.
NA HISTÓRIA EM QUADRINHOS E NO FILME
PERSÉPOLIS, BASEADOS EM UMA HISTÓRIA
Marjane Satrapi ALÉM DE SALVE O CINEMA E PERSÉPOLIS, Abbas Kiarostami
REAL, UMA JOVEM IRANIANA TESTEMUNHA
Artista iraniana Autora de sua infância, passada VÁRIOS OUTROS FILMES TÊM RETRATADO Talvez o mais influente up). Ganhou diversos
da série em quadrinhos em um período de guerra DA REVOLUÇÃO IRANIANA (1979) É ENVIA- diretor de cinema prêmios internacionais
entre o Irã e o Iraque, O MUNDO ISLÂMICO COM ALGUMA VISIBI-
autobiográfica Persépolis, DA À EUROPA PARA FUGIR DOS CONFLITOS iraniano, é da mesma importantes, e foi
publicada em 2000 e sua adolescência LIDADE INTERNACIONAL - POR EXEMPLO geração que Mohsen presidente do júri do
passada na Áustria. POLÍTICOS DE SEU PAÍS. NO CONTEXTO DA
transformada em filme O DIRETOR ABBAS KIAROSTAMI, QUE FOI Makhmalbaf (que, Festival de Cannes em
de animação em 2007. Atualmente, mora e TRAMA, A CULTURA EUROPÉIA É APRESENTA- aliás, foi tema de um 2005.
Persépolis conta a história trabalha na França. TEMA DE SUA TESE DE DOUTORADO. NO SEU
DA, EM CERTOS MOMENTOS, COMO “ANTÍDO- de seus filmes, Close
ENTENDER, HÁ UMA “IMAGEM” DO MUNDO
TO” À ISLÂMICA. VOCÊ CONCORDA COM ESTA
ISLÂMICO PROPOSTA POR ESTES FILMES?
É preciso analisar o contexto daquela família do filme, no caso da Marjane APRESENTAÇÃO? POR QUÊ?
QUAL SERIA ESTA “IMAGEM”? Kiarostami tenta fugir disto. Seus filmes, tirando Dez, que mostrava a situ-
Satrapi. Eram políticos, intelectuais, tinham estudo, cultura e experiência no exte-
ação das mulheres de forma explícita, têm sido mais universais, mais voltados
rior. Portanto, uma visão de mundo diferente. Ainda hoje, claro, famílias buscam
à experimentação formal. Mas não nos enganemos: Kiarostami, como boa parte
alívio para as pressões passando férias na Europa. Tanto para as mulheres, que
dos iranianos, é um muçulmano que apenas não tolera mais o regime corrupto, a
podem andar mais à vontade, quanto para os homens, por razões óbvias. Mas isto
hipocrisia, a falta de liberdade. Há cabeças mais arejadas no Irã e o que se quer é
não se estende a todo país. São classes privilegiadas que têm recursos para isto e,
que elas alcancem o poder – em eleições limpas – e promovam a democracia.
mais importante, têm um pensamento diferente da média. A impressão que temos
quando passamos um tempo lá, convivendo com pessoas comuns, é que se a cor-
rupção for controlada e a economia voltar a crescer, não haverá tantos problemas.
Falta de dinheiro e falta de liberdade é que não dá. Esta é, claro, uma visão de
fora, de alguém que não mora lá. Tenho certeza que você poderia encontrar posi-
ções diametralmente opostas. É um país complexo, cheio de contradições. Escrevi
uma reportagem para a Gazeta Mercantil em 2001 que eu chamei de Por trás dos
(...) fui numa festa
véus, que justamente chamava a atenção para as contradições do país e para o fato que rolou vinho e
de que há algo por trás do que vemos. A prostituição, o homossexualismo e as
drogas, por exemplo, não são visíveis num primeiro momento, mas existem de
maconha.
forma crescente. A hipocrisia não é um atributo só do Ocidente.

01 • 02 • 03 • 04 • 05 • 06 • 07 • 08 • 09 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 • 25 • 26 • 27 • 28 • 29 • 30 • 31 • 32 • 33 • 34 • 35 • 36 • 37 • 38 • 39 • 40 • 41 • 42 • 43 • 44 • 45 • 46 • 47 • 48 • 49 • 50 • 51 • 52 • 53 • 54 • 55 • 56 • 57 • 58 • 59 • 60 • 61 • 62 • 63
Abbas Kiarostami 63 Carcinógenos 17 Dogma 95 – 37, 40 Fruição 22 Ivan Serpa 19 Monarquia 59 Plebeu 22 Sharia 60
Acaso 17, 56 Carioca 21 Dogville 36, 37, 38, 39, 40, 41 Futuro 17 Ivonete Pinto 59 Monocromismo 20 Pó 22 Significado 55
Açúcar 44 Carisma 60 Drogas 62 Gays 26 Jackson Ribeiro 21 Morro 21 Poder 17, 54, 63 Signo 20, 44
Admoestações 18 Carnal 17 Durex 29 Geométricas 19 Jacques Aumont 37, 40 Morte 17 Poesia 17, 20, 54 Silicone 27
Afeganistão 61 Carne 22 ECA-USP 59 Gilmar Mendes 11 Jarmusch 42 Movimento 22, 30, 31 Poeta 18 Simbolismo 17
Afro- americano 13 Cartaz 13, 54 Economia 62 Gnose 17 Jornalista 10 Muçulmano 61, 62, 63 Polêmica 16 Símbolo 44, 45
Ahmadinejad 60, 63 Cenografia 37, 38, 39, 40 Efervescência 19 Godard 37 Jump-cut 39, 41 Mulher 61 Política 18 Simplicidade 17
Alfabetos 44 Chacrinha 23 Eisenstein 37 Golpe 8, 9 Junk food 44, 45 Museu Nacional 21 Políticos 62 Sintonia 19
Allah 60 Cidade 46, 47, 48, 49 Ejaculação 27 Gordura 44 Kaurismaki 42 Música 21, 31, 51 Pop arte 56, 57 Solução 20
Alquimia 17 Ciências 56 Elegância 17 Governo 18 Khatami 63 Mutilação 17 Pornografia 16, 17 Spike Lee 13
Amilcar de Castro 19 Cinema 13, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 59, 63 Elipse 38, 39, 40 Grafite 46, 47, 48, 49 Khomeini 60 Mutilação 27 Porta 31, 37, 38, 39 Sub-reptícia 17
Amor 17, 18 Circo 17 Elvis Presley 42 Grau-zero 41 Kwuait 61 Nacionalistas 62 Preciosismo 20 Subconsciente 57
Anarquismo 16 Circunvoluções 22 Emoção 20 Grupo Frente 19 Land-art 17 Narrativa 38, 39, 40, 41 Presidente 63 Submissão 60
Antártica 17 Clero 60 Engajado 29 Grupo Ruptura 19 Lars Von Trier 36, 37, 38, 40, 41 Negro 13 Proficiência 18 Suburbano 22
Antídoto 62 Comédia 14, 15 Enquadramento 38 Guaches 19 Legibilidade 44 Neoconcretismo 19 Propaganda 17, 56 Subversivo 10
Antonioni 42 Comportamento 21, 61, 53 Entrevista 59 Guerra 17 Lei 63 Neoconcreto 21 Prostituição 28, 62 Sufismo 16
Aparência 20 Composição 19 Ereção 27 Guerrilha 16 Lésbicas 26 Neue Haas Grotesk 44 Psicanalíticos 57 Suíça 44
Apolíneo 21 Comunicação 22, 45 Escola de samba 21 Hacker 16 Letras 44 Neutro 45 Psíquico 20 Suntuosidade 20
Apropriação 20, 61 Conceito 54 Escritório 14, 15 Hakim Bey 16, 53 Letraset 29 Noel Burch 36, 37, 38, 39, 40, 41 Public Enemy 13 Superfície 20
Árabes 61 Concretista 20 Escultor 23 Hápticas 22 Liberal 63 Núcleos 22 Pulsante 22 Suporte 44
Arábia Saudita 61 Consciência 20 Escuridão 17 Harmonia 17 Liberdade 18, 22, 31, 60, 62, 63 O Clone 61 Pungia 22 Surf rock 42
Aristocracia 22 Consumismo 57 Espacialidade 22 Harper’s Bazaar 33 Liberdade de expressão 11 Obama 12 Punk 42 Surrealismo 57
Arquitetura 20, 23 Contato 22 Espaço 20, 22 Hejab 61 Libertinagem 17 Ocidental 60 Quartéis 28 Tachismo 20
Arrogância 29 Contestação 18 Espectador 22 Hélio Oiticica 18, 19, 20, 21, 22, 23, 31 Libidinosa 17 Ocidente 62 Raccord 37, 38, 39, 41 Tato 22
Arte 18, 22, 54, 56 Continuidade 37, 38, 39, 40 Espetáculo 17 Helvética 44, 45 Life 33 Office Space 14, 15 Racionalista 19, 56 Teatro 14, 15
Arte ambiental 22 Contraste 22 Estandartes 22 Helvética fries 44, 45 Light 17 Ordem 21 Radicalismo 16 Teatro Inaugural 20
Arte-sabotagem 17 Cor 22 Estereótipos 61 Henri Cartier-Bresson 32 Livros 54 Orgânico 17 Realidade 17 Técnicas 57
Ascetismo 17 Coração 50, 51, 52, 53 Estetas 22 Heráclito 17 Ludismo 16 Orgulho 62 Rebelde 25 Tecnologia 16, 44
Auto- ressurreição 17 Coragem 17 Estética 17 Hierarquia 22 Luis XV 22 Oriente médio 60, 61 Regime 62, 63 Telenovela 61
Automatismo psíquico 56 Corão 60 Estilo 20 Hip hop 13 Lygia Clark 19, 23 Ortodoxos 21, 61 Rejeição 60 Temporalidade 22
Autonegação 17 Corpo 17, 22, 61 Estrutura 19 Hipocrisia 51, 62, 63 Lygia Pape 19, 21 Ostensivos 56 Relevos 22 Teocracia 60
Autorais 57 Corrupção 60, 62, 63 EUA 56 História em quadrinhos 57 Maconha 63 Outro Sentido 26 Religião 56, 60, 61 Terrorismo 17
Bandeira 54 Corte 37, 38,40 Europa 56, 62 Hollywood 13 Macrocosmo 22 Padronização 45 República 59 Terrorismo poético 16, 17, 53
Banksy 47, 49 Crimes 16 Expectativas 60 Homosexualidade 8, 9 Madeira 22 Pahlavi 59, 60 Resistência 62 The Cramps 42
Batalhas 62 Crítica 19 Experiência 22 Homossexualismo 62 Magnum 33 Palavra 54 Ressonância 17 Tipografia 44
Mangueira 21 Paquistão 61 Revolta 18 Tipografia Experimental 45
Manifestações Ambientais 20 Paradigma 35 Revolução Iraniana 16, 59, 62 Tipográficos 44

1 2 3 4 5
Manifesto 19, 37 Paradigma do consenso 17 Revolução Islâmica 60 Tolerância 63
ctrl+F Maomé 62
Marjane Satrapi 62
Parangolé 30, 31
Parangolé 20, 22
Revolucionário 19
Revoluções 35
Tradicional 57
Transexuais 26

a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z
6 7 8 9 0
Beach Boys 42 Cronenberg 42 Experimentação 22, 57, 63 Hormônio 27
Beleza 18 Cultura 16, 21, 60, 61, 62, 63 Expressão 18 Houston 57
Belo 20 Cultura contemporânea 45 Fake 56 Imagem 20, 44, 55
Belo Horizonte 46, 47,48, 49 Cultura européia 57 Farabi Foundation 60 In-corporação 22
Bin Laden 61 Cultura popular 56 Farj Film Festival 60 Individualista 20 Marker 42 Paranóia 17 Ricardo Portilho 45 Travessuras 35
Bissexuais 26 Dadaísmo 56, 57 FENAJ 12 Inglaterra 17 Massificada 45 Patrícia Azevedo 47, 49 Rigor 21, 61 Travestis 26
Boemia 29 Debate 61 Férias 62 Insólito 20, 22 Max Miedinger 44 Pecado 18 Ritmo 21 Tridimensionalidade 20
Boicote 17 Democracia 63 Ferocidade 17 Insubmissão 60 Menosprezar 55 Pedro Carneiro 14, 15 Rockabilly 42 Turista 60
Bold 45 Desajuste 25 Ferreira Gullar 20 Insubordinação 16, 25 Mercantilismo 17 Peixe 5 Romântica 20 Underground 16
Bólide 20, 22 Descobrindo o Irã 59 Festival 60 Insubordinado 10 Merda 25 Penetrável 20, 22 Rotina 14, 15 Universal 45
Bombadeiras 27 Desconstrução 17 Festival de Cannes 63 Intelectuais 62 Metaesquemas 19 Percepção 17, 45 Ruptura 21 Valorizar 55
Bombaim 17 Desejo 17 Filme 62, 63 Intolerância 60 Metodologia 21 Persa 62 Sádico 17 Vanguardista 19
Boneca 26, 27 Desenho 45, 57 Filólogo 18 Introspecção 57 Michel Foucault 60 Persépolis 62 Sagrado 62 Visibilidade 63
Brooklyn 13 Design Grafico 57 Filosofia 56 Irã 16, 59, 60, 61, 63 Michel Melamed 51 Personagem 61 Sal 44 Vogue 33
Burguesa 21 Diálogo 20 Foda-se 25 Iraque 62 Mídias 44 Perspectiva 22 Salve o cinema 62 Xerox 29
Burka 61 Diferenciação 45 Força 55 Ironia 40 Mike Judge 14 Perverso 22 Santo 29 Zurique 56
Cafetinas 28 Digital 57 Forças armadas 8, 9 Irracional 57 Militar 28 Peter Lamborn Wilson 16 Sensorial 20, 22
Campo 39, 40, 41 Dinheiro 62 Formas 22 Islã 60, 61 Moda 20, 52 Pintos 23 Sensorialidade 22
Caos 16, 17 Dionisíaco 21 Fotografia 30, 31, 32, 46, 47, 48, 49 Islamismo 16 Moderado 63 Pintura 19, 20 Sensual 22
Capacho 10 Diploma 10 Fotojornalismo 33 Israel 62 Moderna 57 Plano 36, 37, 38, 39, 40 Sexo 21
Caractere 45 Diversão 57 Franz Weissmann 19 Itálico 45 Mohsen Malkhmalbaf 62, 63 Plano americano 39 Shador 61
Entre no clima da
Entre no clima da
próxima edição
próxima edição
Submissão
Submissão de de
trabalhos
trabalhos
até até Bemou
Bem Mal
ouMal
Certoou
Certo ouErrado
Errado
expresse suas idéias
expresse suas idéias
envie seus trabalhos
envie seus trabalhos
contato@plur1verso.com

Produções textuais, devem ser


enviadas na íntegra para avaliação.
Imagens devem ser enviadas em
baixa resolução para seleção,
juntamente com um texto de até
1200 caracteres relacionando-a ao
tema proposto.
contato@plur1verso.com

Anda mungkin juga menyukai