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Cativeiro

Deito-me bem enroscada sobre mim mesma e tento adormecer por umas horas
mas é uma tarefa difícil, aqui está sempre frio. Não é o frio reconfortante que sentia em
casa da avó Esme, nem o mesmo que me roçava a pele quando alguns dos membros da
minha família me abraçavam. O frio familiar da pele deles. Aqui o frio invade-nos,
entranha-se nos ossos e nunca nos larga. Também, o que é que se esperava numa
verdadeira cidade subterrânea habitada apenas por vampiros?
Fecho os olhos e vejo-os. A beleza e a graciosidade que, segundo dizem, herdei
de ambos deixa-me sem fôlego. Foi há tanto tempo.
-Bella, Edward… mãe, pai… Não desistam. Não desistam de mim.
Não sendo totalmente humana não preciso de dormir tanto como os comuns
mortais mas até um ser como eu sente necessidade de descansar de tempos a tempos e é
ai que, na minha actual situação as coisas se complicam. Quando durmo não consigo
manter todas as minhas defesas psíquicas e então sinto-os. Sinto todas as presenças
rondar-me numa tentativa de penetrar a minha mente. Sinto o Alec atentar enfraquecer-
me mais ainda numa altura de maior vulnerabilidade, a irmã dele, Jane, a querer invadir
os meus pensamentos numa tentativa de poder moldá-los segundo a vontade de Caius.
Sinto Aro, o meu “pai” como exige que o trate, com a sua mão nas minhas esperando o
momento mais propício para aceder a todos os meus desejos, pensamentos e memórias
que sempre recusei contar-lhe. Mas o pior não é isso. Os Volturi são apenas presenças
indesejadas, física e mentalmente, que de algum modo posso controlar não permitindo
que alcancem aquilo que querem. O pior é a sensação de impotência e de inutilidade que
me assalta durante dias a fio depois de uma noite, ou dia já que a hora a que durmo é um
pormenor irrelevante, de sono. Uma noite em que os sinto a eles, a minha família.
No início não conseguia compreender que as vozes que me chamavam sem
cessar e as formas distorcidas que assaltavam a visão periférica dos meus sonhos eram
de facto as presenças dos membros da minha família que nunca desistiram de me
procurar. Depois veio uma noite em que Alec e Jane tinham estado a “brincar” comigo
seguindo as suas próprias regras. Algo estava a deixar o Caius desesperado o clã parece
ter achado que os fins justificavam todos os meios. O resultado foi a morte de três
guardas e o meu enfraquecimento físico. Enfraqueci de tal modo que se viram obrigados
a “chamar” um médico humano que conseguisse sarar o meu corpo. Enquanto ardia em
febre e um frio quase sobrenatural invadia cada centímetro do meu corpo, a minha
mente deixou-se ir até ao estado de vigília descuidada que é o meu sono e foi aí que pela
primeira vez em muito, muito tempo consegui senti-los como se estivessem de facto ao
meu lado.
A minha mente emitia um silencioso pedido de ajuda enquanto o corpo lutava
contra a febre e o frio, contra a sede visto que não me alimentava havia alguns dias e
sobretudo contra as drogas que o médico me ministrara pensando que me ajudariam a
ultrapassar a pneumonia que me tinha diagnosticado. Primeiro veio aquele calor tão
querido e conhecido, emanado pela sensação de um corpo deitado junto ao meu, um
corpo que me abraçava como antigamente. Jacob. Depois os acordes de piano
deslizaram suavemente até mim enquanto as mãos experientes do avô me examinavam,
tentando compreender o que acontecera ao meu corpo. O avô Carlisle sempre estudou o
meu desenvolvimento fora do normal, conhece o meu corpo e o seu funcionamento
melhor do que alguém jamais poderá conhecer – apesar de ainda ser um desafio e um
mistério em alguns aspectos – se ele não me conseguisse curar então dificilmente
alguém conseguiria. A mãe segurava-me uma das mãos enquanto o pai continuava a
tocar, acompanhado pelos trinados cristalinos da voz da tia Alice. O calor aumentava a
cada minuto que passava e depois de ter conseguido descontrair percebi que sentia a
presença do tio Jasper tentando manter a calma e a serenidade à minha volta. Na minha
cabeça apenas os podia sentir, ouvir, cheirar… Ainda assim, percebi que em algum
lugar longe de Volterra o meu pedido de socorro silencioso emitido pela minha mente
tinha alcançado a minha família que se encontrava, naquele mesmo instante, toda
reunida tentando não só ajudar-me mas também não quebrar o elo de ligação que
inexplicavelmente tinha ganho forma. Estavam todos lá, vampiros, humanos e lobos e,
pelo menos por enquanto, eram igualmente capazes de me sentir, de me ter com eles.
Não sei como é que a conexão foi bloqueada, talvez tenha acontecido com o fim
da febre. A única coisa que sei é que um pequeno fio de ligação se mantém activo e que
posso senti-los, lá fora, à minha procura, sempre que adormeço. Contudo, a ligação já
não é tão forte como da última vez e nunca mais fui capaz de trocar palavras ou ideias
com a minha família. Nem mesmo com a minha mãe ou com o Jacob, que sinto sempre
muito próximos de mim. É esta a realidade que me preenche com sentimentos
negativos, que me faz sentir inútil e incapaz do que quer que seja. De que serve ter
nascido com capacidades psíquicas completamente fora do comum se depois nem
sequer as consigo usar para me afastar daqui, para fazer com que este cativeiro acabe de
uma vez e a minha família possa saber onde estou, como vir buscar-me. Engraçado.
Neste momento nem sei bem onde estou, como é que lhes poderia dizer?
Após os dias em que estive doente, acordei com uma noção mais clara das coisas
e as minhas atitudes face aos Volturi mudaram um pouco. Eu tentei não dar muito nas
vistas mas suponho que devo ter errado em alguma coisa e o Aro começou a desconfiar
que algo se passava. Embora não soubesse muito bem o que poderia ser, é um dos
vampiros mais antigos deste mundo, não é completamente estúpido e já tinha percebido
que enquanto durmo não consigo manter a guarda no que respeita á protecção da minha
mente. De algum modo, ele suspeitou. Ainda que sem certezas, começou a haver
suspeitas de modo que agora além das tentativas de invasão da minha mente por parte
de qualquer membro Volturi com o mínimo de poder psíquico, mudamos muito de
lugar, o Aro e eu. Nunca sei para onde me leva - claro que o objectivo é mesmo esse –
mas sei sempre quando vai acontecer.
Aro desconfiou que algo tinha acontecido talvez devido à minha mudança
comportamental, o que ele nem sequer se atreve a sonhar é que agora já sei qual o seu
interesse em mim. Agora já compreendo o porquê de tudo o que me tem acontecido e
isso motivou mudanças em mim. Conhecimento é poder e agora eu sei, agora posso
combatê-los melhor.
Claro que me lembro perfeitamente do dia em que vim viver com os Volturi,
afinal não foi assim há tanto tempo e eu já era crescidinha. O problema é que não
alcançava as implicações desta minha vinda para Volterra e também não percebia muito
bem alguns acontecimentos do meu passado. Na verdade, havia acontecimentos do meu
passado que eu própria desconhecia pois os meus pais, como a maioria dos pais
presumo eu, sempre me tentaram proteger.
Quando nasci houve um confronto directo entre a minha família e o clã Volturi.
Lembro-me que a questão estava ligada às crianças imortais que no início do século
passado tinham levantado tantos e tantos problemas ao poder dominante. Pensaram que
os meus pais tinham tido o desplante de desobedecer claramente às regras e que me
tinham transformado, todos achavam que era impossível a procriação entre humanos e
vampiros. É claro que é um acontecimento bastante raro, tanto quanto sei quando uma
humana e um vampiro mantém esse tipo de relações, regra geral, ela acaba com o
pescoço furado demais para poder contar a história. Já as vampiras não podem ter filhos
uma vez que os corpos estão mortos a vários níveis. Havia mais como eu, Nahuel e as
irmãs, mas ninguém sabia. Assim, a corte Volturi rumou a Forks, prontinhos para
aniquilar a família Cullen e quem os defendesse. Na altura todos respiraram de alívio
por o confronto não ter alcançado a violência física e as coisas terem ficado
minimamente resolvidas. Uma vez que o episódio tinha corrido mundo e o desfecho do
mesmo era do conhecimento geral da comunidade vampírica, eu e a minha família
estávamos a salvo. Pelo menos enquanto os Volturi lambiam as feridas e tratavam de
restaurar o seu orgulho ferido.
A alegria durou pouco. Caius voltou a Volterra num estado de histeria pouco
saudável que já havia manifestado quando se encontrava frente a nós, o pavor e a
repulsa que sentia em relação aos nossos queridos amigos lobos não o deixava
descansar. Recusava-se a aceitar que a minha família não tinha nenhuma aliança menos
natural com eles, que eles não corrompiam humanos inocentes nas suas transformações,
que estas eram uma questão genética e que pouco ou nada tinha que ver com as
Crianças da Lua que Caius e Marcus odiavam e às quais deram caça durante milénios.
Marcus, sempre com aquela sua atitude de desprezo e desinteresse também não ajudava
nada. Penso que até contribuiu para que a insegurança de Caius evoluísse para uma fúria
vingativa que o levaria a declarar guerra aberta aos transmutantes, a condená-los sem
julgamento e a incitar todo e qualquer vampiro capaz a caçá-los como se não passassem
de animais ou bestas selvagens.
Por esta época, eu e os meus pais viajávamos bastante. Por vezes o avô Carlisle
acompanhava-nos, o meu crescimento era tão acelerado que ninguém sabia muito bem
aquilo que poderia esperar. Jacob também costumava ir, ou pelo menos andava sempre
por perto do local onde nos encontrávamos, a sua natureza transmutante por vezes
obrigava-o a períodos de exercício mais…diga-se, revigorantes para o corpo.
Numa destas deslocações, a avó Esme e a tia Rosalie ligaram. As vozes
transmitiam uma urgência pouco habitual enquanto nos explicavam que a tia Alice tinha
acabado de ter uma visão que colocava um enorme número de vampiros nómadas,
caçadores de prémios, a caminho de Forks. A visão enevoava-se, ia esbatendo até que
desaparecia totalmente o que levava a pensar que esta estivesse relacionada com Jacob e
a matilha. Nenhum dos presentes em casa sabia muito bem como agir, tínhamos que
voltar o mais rápido possível e tentar descobrir o que se estava a passar.
O mistério não durou muito. Carlisle foi contactado por um dos seus amigos
nómadas que lhe dava conta das novas que corriam sobretudo entre os batedores. Não
foram tempos muito fáceis. Às adaptações do quotidiano que já me habituara, fruto do
meu desenvolvimento veloz, tive que acrescentar as que os próprios lobos,
principalmente Jacob, impuseram. Como é lógico, estas novas regras serviam não
apenas para os proteger mas também para nossa própria protecção, não ia ajudar
ninguém se os perseguidores continuassem a achar que o clã Cullen protegia Crianças
da Lua. O ambiente tornou-se tenso. O perímetro de caça era vigiado constantemente.
As visitas indesejadas eram esperadas com um sentimento de ódio crescente que
contribuía para que existissem mais disputas mesquinhas e desnecessárias entre nós. Se
pensávamos que a situação não se podia complicar mais não podíamos estar mais
enganados. Numa tarde chuvosa de Primavera apareceram os romenos. Stefan e
Vladimir. Recordava-os da sua anterior visita à nossa casa, aquando da acusação injusta
que Irina fez recair sobre a minha família. Nessa altura não tinha compreendido muito
bem quem eram e quais as suas maiores aspirações, apenas sabia que ansiavam por
poder. Agora, as inseguranças de Caius e Marcus, a derrota dos Volturi dois anos antes
num campo cheio de testemunhas e a caça ao lobo que iniciaram, faziam os romenos
pensar que as condições para desafiarem o poder dominante estavam quase totalmente
reunidas. Quase. Na sua opinião o único elemento que lhes faltava para poderem por
fim àquilo que eles chamavam a ditadura egocêntrica dos Volturi, era que a minha
família e os lobos se colocassem do seu lado. Todos juntos enfrentaríamos “aquele
bando de incompetentes e inúteis que nada mais fazem senão eliminar quem não se
consegue defender” como dizia Stefan. Claro está que foram ouvidos, mais por boa
educação que por outro motivo qualquer mas ninguém pareceu muito inclinado para se
lhes juntar, nem sequer Leah a mais impulsiva de todos os transmutantes e que tinha
ainda alguns problemas em obedecer às ordens que lhe eram dadas.
Vladimir e Stefan acabaram por partir, talvez tenham regressado à Roménia.
Mas pensando em retrospectiva penso que teria sido muito melhor se tivéssemos tido a
coragem ou o despeito necessários para nos juntarmos a eles e desafiar o poder vigente.
Uma verdadeira revolução vampírica. Sabendo o que sei hoje vejo que eles tinham
razão, não nos motivos que os levavam a querer uma mudança, apenas no facto de a
desejarem. As motivações dos dois irmãos não são as mais correctas e tal, juntamente
com o facto de Carlisle achar que ainda tem algum tipo de divida para com os Volturi
pelos anos que com eles viveu – e também por não se querer envolver excessivamente
em questões políticas – foi o grande motivo que impediu a minha família de se lhes
juntar. Se fosse hoje, eu ia com eles. Mas não fui. E por isso estou aqui, presa a este
velho vampiro egoísta que nada mais quer senão o controle dos meus poderes afim de
os poder usar a seu bel-prazer.
Pouco depois da partida daqueles dois sinistros personagens houve um confronto
no nosso território no qual acabámos por levar a melhor sobre um grupo de nómadas
que nos atacava. No entanto, também sofremos baixas e a avó Esme e a tia Alice
acabaram bastante mal tratadas e nem todos os cuidados do avô e do pai livraram a tia
Alice de um “internamento” e de um tratamento que, tanto quanto sei ainda ninguém
sabe porquê, a privou das suas capacidades psíquicas durante algumas semanas. Na
verdade, nenhum de nós percebeu se esta perda temporária das capacidades foi uma
consequência do ataque ou do tratamento e agora pouco importa. O que realmente
interessa é que foi um acontecimento deveras oportuno e que veio beneficiar apenas as
ambições de Aro.
Sem as capacidades da tia Alice era complicado prever o que poderia ou não
acontecer-nos. Quanto aos lobos o problema não se colocava, eles andavam sempre
alerta e além do mais a névoa continuava a impedir as visões de Alice sempre que estas
envolviam algum dos membros da alcateia. Emmett e Rosalie revezavam-se com o pai e
a mãe nas patrulhas ao terreno que circundava a nossa casa e onde nos últimos tempos
caçávamos. Ninguém se queria afastar muito de casa e do resto da família. Escusado
será dizer que Jasper e Carlisle só saiam de perto de Alice e da avó Esme para poderem
caçar, ainda assim quando o faziam demoravam apenas o mínimo indispensável não
desejando deixá-las nem por um minuto. Mesmo com toda esta vigilância o que mais
temíamos aconteceu e o nosso território foi invadido numa das raras tardes de sol com
que somos brindados em Forks. Regra geral a família mantém-se em casa ou em locais
seguros nos dias solarengos e o pai continua a não gostar de mostrar a sua pele quando
banhada pelo sol. A sua verdadeira natureza é revelada nestes momentos e tenho a
sensação de que tal o faz sentir-se vulnerável. Mas eu gosto do sol, da sensação dos
raios de encontro à minha pele, do calor agradável que me vai envolvendo enquanto
uma espécie de preguiça começa a tomar conta de todo o meu ser. Normalmente
acabava por adormecer ao sol, era quase inevitável. Aquela tarde não foi excepção.
Acordei com uma sombra que se entrepunha entre mim e o sol. Ainda sem ter
aberto os olhos comecei a refilar com Jacob e a sua mania de me roubar aqueles raios
mágicos apenas por pura pirraça. A gargalhada que respondeu aos meus protestos era-
me desconhecida. Abri os olhos e levantei-me num único movimento fluído e rápido
que decerto pareceria impossível num humano normal e aquele que vi deixou-me sem
palavras. À minha frente, com o que restava da gargalhada que eu ouvira ainda a bailar-
lhe no rosto estava Aro. Reconheci-o de imediato. Tinha contactado com ele dois anos
antes e esperava com todo o meu coração que ainda faltassem muitos e longos anos até
que tivesse necessidade de ficar de novo frente a frente com aquele personagem. Não
gritei. Não usei nenhum meio ao meu alcance para pedir socorro, para avisar que não
estava sozinha, limitei-me a olhá-lo e depois a ouvi-lo. Penso que foi precisamente o
que me disse que fez com que não me atrevesse a avisar ninguém da sua presença. A
sua proposta era bastante simples. Ele e só ele, tinha capacidade para demover Caius e
Marcus da perseguição sanguinária que estes haviam movido sobre nós e os nossos
amigos. Todos aqueles a quem eu chamava família, no sentido mais lato do termo,
tinham naquele momento uma sentença de morte pendente sobre as suas cabeças e tal
não era segredo para mim. A solução para o problema de todos nós estava nas minhas
mãos. Nas minhas e nas de Aro. Se eu aceitasse a sua proposta, ele envidaria os seus
melhores esforços para que o processo de caça e perseguição fosse travado. Ainda havia
tempo para reverter todo o mal que havia sido implementado recentemente nas mentes
dos vampiros mais influenciáveis. Poderíamos reverter os resultados da propaganda
Volturi, o medo e a desconfiança, ainda havia tempo para voltarmos todos a ter mais
paz e manos problemas. Era fácil, era muito fácil. Bastava que não hesitasse, bastava
que eu aceitasse a mão que Aro me estendia e em silêncio o acompanhasse a Volterra.
Seria apenas por um mês, disse. Apenas queriam saber quais as minhas verdadeiras
capacidades, afinal eu sou uma realidade tão estranha, tão rara, algo que todos julgavam
impossível. Conheceria Volterra e a corte que regia a vida de todo e qualquer vampiro à
face desta terra, estaria no lugar onde as coisas realmente acontecem. Não que estas
coisas me importassem muito. Claro que tinha a minha dose de curiosidade, ainda que o
meu desenvolvimento fosse veloz havia muitas coisas que eu desconhecia,
principalmente no que dizia respeito às questões mais sensíveis de diplomacia,
avaliação do carácter de um indivíduo e das motivações históricas de alguns
acontecimentos que continuavam a pautar as atitudes e comportamentos de alguns. Não,
nada daquilo que me prometia me interessava, nada senão o fim das hostilidades que
grassavam e estilhaçavam o nosso dia-a-dia.
As imagens que tinha dos meus pais e dos meus tios felizes e na escola
começaram a assaltar-me a mente, as tardes calmas e repletas de riso passadas com os
meus avós – tanto maternos como paternos – vieram-me à memória. Mas o pior eram as
lembranças descontraídas das corridas e brincadeiras com Jacob e a matilha, o saber que
Jacob já não podia deitar-se comigo todas as noites como fazia antes. Um mês em
Volterra era o preço a pagar pelo regresso à normalidade, não era um preço muito
elevado. Contudo, custava-me que me pedisse que os abandonasse assim sem mais nem
menos, sem qualquer explicação, sem uma despedida. A mãe e o pai jamais
acreditariam que me tinha ido embora por minha livre iniciativa mas mesmo assim, não
deixar um sinal de pesar pela partida, algo que os pudesse ajudar a compreender, era
algo que não me parecia correcto. Bem, era uma decisão difícil e um passo assustador
mas seria apenas um mês.
Enquanto hesitava ali, vulnerável, frente a Aro percebi que havia mais e novas
presenças na floresta. Eram-me desconhecidas e ao sondar melhor e mais atentamente o
meio envolvente compreendi que o Volturi não estava tão só quanto me tinha feito
pensar. Disfarçando a minha perplexidade e o facto de já me ter apercebido de que não
estávamos sozinhos, olhei-o nos olhos e o que vi fez-me estremecer. Um arrepio
percorreu-me a espinha contribuindo para que mais facilmente perdesse a força nas
pernas. Ele não fazia agora qualquer esforço para esconder que se eu não acedesse
livremente à sua chantagem me levaria dali à força sem se preocupar com as baixas que
tal acção poderia representar para a sua guarda. Não tinha escapatória, se não cedesse
ele levar-me-ia à força.
Foi assim que vim parar a este buraco escuro que são as catacumbas de Volterra.
Foi aqui que fiquei terrivelmente doente às mãos de dois dos seres mais sádicos à face
da terra e que depois de quatro anos de cativeiro consegui, de um modo que não
controlo, voltar a contactar com a minha família. Através deste fugaz contacto soube a
verdade acerca dos planos de Aro para a sua colecção de seres especiais e com
capacidades psíquicas fora do normal, as suas tentativas para fazer com que o meu pai e
a tia Alice – que já recuperou os seus poderes – se juntem a mim. Fiquei a saber mais
sobre mim e sobre os que me rodeiam numa noite de febre do que em quatro anos de
reclusão. Mas estes novos conhecimentos revelaram-se uma faca de dois gumes e agora
pago caro por eles. Sinto a minha família cada vez mais perto mas Aro também deve
sentir, por isso mudamos ambos de lugar com uma frequência cada vez maior e que me
deixa cada vez mais assustada, com mais receio de que este pesadelo nunca tenha fim.
Ainda assim, agora já não estou tão só, tão isolada. Agora toda a família trabalha como
uma alcateia em caça, olhando numa só direcção pois agora já têm a certeza de qual é o
seu verdadeiro alvo. Os pontos fracos desta nova estratégia de Aro começaram
progressivamente a revelar-se e agora eu nunca sei para onde me leva mas sei sempre
quando e como o fará e todos juntos vamos aproveitar este conhecimento para nos
reunirmos novamente.
Deito-me bem enroscada sobre mim mesma e tento adormecer por umas horas
mas é uma tarefa difícil, aqui está sempre frio. Tento concentrar-me no calor da
expectativa que me invade a alma e me enche de alegria. Tenho que me concentrar nas
minhas defesas para que os pensamentos não fluam e alcancem a mente de Aro, sempre
alerta. Tenho que me defender. Tenho que nos defender. Quando acordar, aro vai estar
pronto à minha espera. Vai ser dia e ele vai estar prontinho para abandonar a cidade ao
abrigo da luz quente do sol italiano que, pensa, nos protegerá de quem nos queira
interceptar. Ah, o engano… doce engano. Já o fizemos tantas vezes que já não acredita
realmente que algo possa correr mal. Já não tem medo da minha fuga, pensa que mais
dia, menos dia vergará a minha vontade e me conseguirá tornar uma obediente
ferramenta nas suas mãos. Não. Depois de amanhã, não. Oh, como está enganado!
Fecho os olhos e vejo-os. A beleza e a graciosidade que, segundo dizem, herdei
de ambos deixa-me sem fôlego. Ouço um trinado melodioso que me faz sorrir:
- Protege a mente apenas mais umas horas Renesmee. Mantém a guarda. Já falta
pouco tempo…

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