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DIREITO PROCESSUAL CIVIL AFC/CGU

PROFESSORA MIRIÃ NUNES

CONCURSO DE AFC/CGU
CURSO COMPLEMENTAR DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL –
APRESENTAÇÃO
Este curso on-line de Direito Processual Civil, composto de oito aulas, é
especificamente direcionado aos candidatos ao concurso de Analista de
Finanças e Controle da Controladoria-Geral da União – AFC/CGU, Área
de Correição.
Trata-se de complemento ao curso de Direito Processual Civil para os
candidatos ao concurso de Analista de Controle Externo do Tribunal de
Contas da União – ACE/TCU, ministrado pela Profª Miriã aqui no site.
Como o programa do concurso de AFC/CGU é bem maior do que o do
ACE/TCU, foram necessárias oito aulas complementares da disciplina,
que compõem este curso.
Portanto, só deverão se inscrever neste curso on-line complementar os
candidatos que concorrerão ao concurso de Analista de Finanças e
Controle da Controladoria-Geral da União – AFC/CGU, Área de Correição
e que já fizeram o outro curso de Direito Processual Civil da
Profª Miriã (composto de cinco aulas).
Se você só fará o concurso de ACE/TCU, não deverá matricular-se neste
curso, pois todo o programa exigido neste certame já foi apresentado
nas cinco aulas do outro curso da Profª Miriã.
Atenciosamente,
Ponto dos Concursos

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CURSOS ON-LINE – DIR. PROCESSUAL CIVIL P/ TCU E CGU
PROFESSORA MIRIÃ NUNES
AULA 01 – ATOS JUDICIAIS: DESPACHOS, DECISÕES
INTERLOCUTÓRIAS E SENTENÇAS.

Olá, pessoal!

É com prazer que inicio a primeira aula do nosso curso de direito


processual civil, pois se você chegou até aqui, é sinal de que se
identificou com a linguagem e compreendeu os pontos iniciais do
programa.

Prosseguiremos hoje para abordar as noções basilares da teoria geral


do processo (jurisdição, ação e processo), relembraremos a estrutura
da relação processual e conheceremos os pressupostos processuais.

A aula de hoje é fundamental para a compreensão de toda a


disciplina processual. Temos a tarefa de compreender conceitos
dotados de alto grau de abstração, mas que, justamente por isso, são
muito interessantes.

Tenha especial atenção aos conceitos da trilogia estrutural do


processo (jurisdição, ação e processo). Ao compreendê-los, você
estará à frente dos concorrentes que buscam tão somente decorar os
dispositivos do Código de Processo Civil.

E aí, prontos? Então, ao trabalho!

2.1 Noções Sobre a Teoria Geral do Processo

Na aula anterior, aprendemos que há uma distinção fundamental


entre as normas de direito material e as de direito processual, sendo
que as últimas tratam, basicamente, de disciplinar uma função, um
Poder do Estado, que é a Jurisdição. Como veremos adiante a
Jurisdição é, por definição, una e indivisível.

Sabemos também que existe uma divisão fundamental do direito


processual em Direito Processual Civil e Direito Processual Penal, sem
falar na existência de outros ramos especializados, como o Direito
Processual do Trabalho, por exemplo.

Já posso imaginar a sua cara de dúvida: “ora, se a Jurisdição é uma


só, como justificar tantas subdivisões? Por que há um código de
processo civil e um outro código para o processo penal? Juízos
criminais e juízos cíveis?” São perguntas bastante pertinentes.

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De fato, sendo o direito processual, basicamente, aquele que
disciplina a função jurisdicional, podemos identificar elementos
comuns em todos os seus “filhotes”. Daí, falar-se em uma Teoria
Geral do Processo, isto é, uma parte geral da matéria que se aplica
indistintamente a todos os seus “ramos”.

Tanto é assim que alguns países como Suécia, Honduras e Panamá


optaram por uma regulamentação única para o direito processual
(civil e penal). Mas a tendência majoritária e a de separar tanto o
estudo quanto a legislação (tal como nós brasileiros fizemos), o que
se dá por razões didáticas e de ordem prática.

Mas, tal separação não impede que os elementos essenciais, comuns


tanto ao processo civil quanto ao penal, sejam agrupados e
estudados sob a denominação de “Teoria Geral do Processo”, que é a
disciplina que estuda os conceitos essenciais ao exercício da função
jurisdicional, dentre eles aqueles que compõem a denominada
“trilogia estrutural do processo”.

O Direito Processual, tal como o estudamos hoje, é uma construção


abstrata, bastante recente se comparada a outros ramos do direito (o
direito civil, por exemplo, que possui alguns institutos praticamente
inalterados desde a Roma Antiga).

Claro que, desde os primórdios, o homem criou normas, fórmulas


para exercer seus direitos em juízo, mas houve um longo percurso
até que os juristas passassem a se preocupar em “fundamentar” o
processo.

Fala-se em “trilogia” porque são três os conceitos: A Jurisdição, a


Ação e o Processo. É “estrutural” porque estes três conceitos são os
“pilares” que sustentam, fundamentam, justificam toda a disciplina
processual.

Eles constituem um ponto de passagem obrigatório para a


compreensão dos demais institutos do direito processual, seja civil,
ou penal.

Dentro dos objetivos delimitados para o nosso curso, abordaremos


esses institutos sempre com uma ótica voltada para o processo civil,
deixando de lado o processo penal.

Bem, agora que já entendemos que há uma teoria geral do processo,


isto é, um campo de estudo que reúne os institutos aplicáveis
indistintamente a todos os ramos do processo (separados por razões
didáticas e práticas) e que, dentre seus institutos há três conceitos
principais, que são a jurisdição, a ação e o processo, vamos tratar de
conhecê-los mais de perto.

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Abordaremos em primeiro lugar a Jurisdição. Mas antes, para auxiliar


a compreensão do tema, passaremos por uma breve introdução. Com
ela, entenderemos melhor qual é a função do direito e o longo trajeto
percorrido desde a solução privada dos conflitos até a submissão dos
particulares à Jurisdição estatal.

a) A Trilogia Estrutural: Jurisdição, Ação e Processo.

Introdução: A Função Pacificadora do Direito, Os Conflitos de


Interesses e Seus Meios de Resolução.

Conforme já mencionamos, o objetivo maior da ordem jurídica é


assegurar a paz social, harmonizar as relações sociais com o menor
desgaste possível. O “direito” nasce como um critério do que é
“certo”, “justo”, em uma dada sociedade, em um determinado
contexto de tempo e espaço.

Então, existe um direito “regulador” (material) que orienta, norteia a


vida em sociedade. Mas, nem sempre esse ordenamento é suficiente
para garantir a paz social, pois, a cada momento, surgem conflitos de
interesses entre os particulares.

Ih! Já vi de novo a cara de dúvida: “que negócio é esse de conflito de


interesses?” Explico com um exemplo: imagine que João tem uma
pretensão sobre um bem que está em poder de Pedro.

Segundo Carnelutti “pretensão é a intenção de submissão do


interesse alheio ao interesse próprio”. Então, Pedro resiste à
pretensão de João e quer permanecer com o bem em seu poder por
qualquer razão.

Trocando em miúdos, João pretende obter um bem que Pedro detém


e Pedro resiste à pretensão de João. Surge um conflito de interesses.
Não é difícil imaginar que daí não vai sair boa coisa, não é mesmo?

Pois é, a lide (litígio) é este conflito de interesses qualificado por uma


pretensão resistida.

Tal situação traz insatisfação aos envolvidos, desestabiliza a


sociedade. Há necessidade de “compor” o litígio, resolver a situação
em nome da paz social.

Podemos enunciar três formas de solução de conflitos: a


autocomposição, a autotutela, e a heterocomposição.

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Na autocomposição, os próprios envolvidos chegam a um acordo,
seja porque uma das partes desiste do seu interesse reconhecendo o
do outro, seja porque ambas as partes fazem concessões recíprocas
com vistas à solução do conflito.

Seria maravilhoso se vivêssemos num mundo abundante em


autocomposição, não é mesmo? Dá até vontade de desejar aos
amigos “Olha, um ano novo repleto de autocomposição para você!”
Desculpem a ironia, mas é que, na verdade a maioria dos conflitos
não se resolve assim tão fácil, embora, mais recentemente, a
conciliação tenha facilitado a autocomposição, especialmente a
endoprocessual.

“Quê? Autocomposição endoprocessual?” Calma, vamos ver o que é


isso.

A autocomposição pode ser extraprocessual (fora do processo) ou


endoprocessual (dentro do processo). A extraprocessual ocorre numa
fase prévia, antes que as partes levem o seu conflito de interesses à
apreciação do Judiciário.

Já a endoprocessual ocorre após a ação ter sido proposta. Imagine


uma causa da competência do Juizado Especial Cível, na qual as
partes chegam a um acordo na audiência de conciliação. No caso,
houve autocomposição endoprocessual, pois não foi um terceiro (o
juiz, ou o conciliador) quem decidiu a causa, mas as próprias partes
que chegaram a um acordo.

Muitas vezes o conciliador funciona como um mediador, um


facilitador do diálogo entre as partes e, no caso, como o processo já
foi iniciado, o juiz apenas verificará se os termos do acordo estão de
acordo com os ditames legais e o homologará na sentença.

Cabe lembrar que a autocomposição, por importar em transação


(concessões recíprocas de ambas as partes), ou renúncia ao direito
por uma das partes valerá apenas para direitos disponíveis (sobre
esse tema, veja a aula anterior).

Após analisarmos a autocomposição, vamos à autotutela. Ocorre


quando um dos envolvidos, mediante seus próprios meios
(principalmente o uso da força), subjuga o outro, submete-o a sua
pretensão. Autotutela e autocomposição têm em comum o fato de
serem soluções promovidas pelos próprios envolvidos (soluções
parciais, das partes).

A autotutela já foi amplamente aceita em tempos remotos. Mas, na


medida em que o estado foi se organizando e adquirindo poder, o
exercício da autotutela foi praticamente extinto, pois não corresponde

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à distribuição da Justiça, à concretização do Direito, mas à mera
prevalência do mais apto.

Hoje, seu exercício é vedado, mas ainda é possível rastrear alguns de


seus vestígios no ordenamento jurídico (são as exceções previstas
pela lei, como a possibilidade de rechaçar o invasor pela força no
esbulho possessório – o desforço imediato do art. 1210, do Código
Civil).

Bem, impossibilitada a autotutela, se as partes não obtêm sucesso


em promover a solução do conflito pela autocomposição, a alternativa
será a heterocomposição. Como o próprio nome indica, na
heterocomposição um “outro”, um terceiro não envolvido e, portanto,
imparcial, é quem decidirá o conflito.

Esse “outro” pode ser um terceiro não investido no poder


jurisdicional, um profissional do direito habilitado (um árbitro).

Ou então, pode ser um Juiz com todas as garantias inerentes,


investido de jurisdição, o Estado-juiz representado por um indivíduo
com atribuição para julgar a causa.

Na primeira hipótese, estaríamos diante da arbitragem. Na segunda,


estaríamos no âmbito do Poder Judiciário, da Jurisdição.

A Lei 9.376/96 trouxe a arbitragem como alternativa à Justiça


convencional, lenta e assoberbada. Sua aplicação, no entanto, é
bastante restrita. Atenção, pois ela é admitida apenas em algumas
situações. Para começo de conversa, é admitida tão somente nas
causas sobre direitos disponíveis.

Ressalte-se que e viável apenas mediante compromisso previamente


estabelecido no próprio contrato que regula a relação jurídica entre
as partes (a chamada convenção de arbitragem).

Isto é, as partes precisam ter “combinado” antes, ter inserido uma


cláusula prevendo que os litígios eventualmente decorrentes da
relação estabelecida naquele contrato seriam submetidos a um juízo
arbitral (que lembrem, não é um juiz de carreira, investido de
jurisdição, não representa o Estado).

É ainda inadmissível nos contratos de adesão (os chamados


“contratos de massa”. Exemplo: contratos padrão entre fornecedores
ou prestadores de serviço e consumidores).

Cumpre observar que as decisões dos juízos arbitrais podem ser


posteriormente submetidas à apreciação do Poder Judiciário, caso
uma das partes deseje, nos termos do art. 33, da Lei 9307/96. Aliás,

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não poderia ser de outro modo, pois o art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal consagra o Princípio da Inafastabilidade da jurisdição:

“XXXV – A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito”

Por tudo que acabamos de aprender, verificamos que a


heterocomposição através da arbitragem dá conta de pequena
parcela das lides, sendo imprescindível o desejo das partes de
submeter-se a ela.

O Estado-Juiz é o principal viabilizador da solução imparcial dos


conflitos pela substituição das partes. Através do Poder Judiciário, o
Estado exerce uma função a ele conferida pelos particulares (a
Função Jurisdicional) e o faz em busca do bem comum, com o
objetivo de alcançar a paz social através da justa composição da lide.

Aqui já entramos na seara do monopólio estatal da jurisdição, que é o


nosso próximo ponto e, agora que já conhecemos a função
pacificadora do direito, o conflito de interesses e os seus meios de
composição, teremos grande facilidade em compreendê-la.

A Jurisdição

Vimos então que, vedada (em regra) a autotutela, se as partes não


chegam a uma solução pela autocomposição (ou se ela não é
admitida por tratar-se de direito indisponível), as partes envolvidas
devem recorrer ao Estado para dirimir o conflito.

É o monopólio estatal da Jurisdição. A Jurisdição é uma das Funções


do Estado, ao lado da Executiva e da Legislativa. Constitui função,
poder e atividade do Estado ao mesmo tempo.

Quer aprender mais um pouco de latim? Vamos lá: o termo


“Jurisdição” deriva da expressão romana iuris dictio, que significa
“dizer o direito”.

Através dela o Estado substitui as partes na resolução dos conflitos


de interesses, aplica a lei ao caso concreto, age imparcialmente, com
o objetivo de manter a ordem, a paz social.

A Jurisdição é dotada de várias características essenciais que a


distinguem das demais Funções do Estado. Em seguida analisaremos
as mais citadas pelos principais autores de Direito Processual Civil,
embora não haja um consenso rigoroso entre os manuais ao apontá-
las.

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Preste atenção a elas, pois é comum encontrar questões de prova
sobre o tema.

As Características Essenciais da Jurisdição: Substitutividade,


Secundariedade, Lide, Inércia, Unidade, e Definitividade.

A primeira característica da Jurisdição é a substitutividade. Na


atividade jurisdicional ocorre a substituição da partes pelo Estado-juiz
para a solução do conflito.

Creio que, após tudo o que foi aprendido nos itens anteriores, você já
é capaz de visualizá-la perfeitamente. As partes, incapazes de chegar
à composição por si, procuram a jurisdição que as substitui na
resolução do conflito.

Outra característica fundamental mencionada por vários autores é a


Secundariedade. A Jurisdição tem o “escopo” (isto é, o objetivo, a
finalidade) de atuação do direito. Existem os preceitos jurídicos, a lei
abstrata e genericamente dirigida a todos como um comando.

Mas algumas vezes isso não basta para garantir a ordem em caráter
primário. Os preceitos são descumpridos e surgem os conflitos de
interesses. Aí é preciso promover a atuação concreta da vontade da
lei, isto é, adequá-la ao caso concreto, àquele conflito de interesses
surgido entre os particulares, numa atividade secundária.

Humberto Theodoro esclarece: “Diz-se que é atividade ‘secundária’


porque, através dela, o Estado realiza coativamente uma atividade
que deveria ter sido primariamente exercida, de maneira pacífica e
espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica submetida à
decisão”.

Mais uma característica apontada para a Jurisdição é a presença da


Lide. Já Sabemos que a lide é o conflito de interesses qualificado por
uma pretensão resistida. Trocando em miúdos, a lide configura a
presença do conflito, do litígio.

Contudo, nem todos os autores apontam à lide como uma


característica inerente à jurisdição, pois ela estará presente na
maioria dos casos, mas não sempre. Aqui cabe fazer a distinção entre
jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária.

A jurisdição é denominada contenciosa quando há lide. A Jurisdição


voluntária ocorre em razão de determinação legal, é a chamada
administração estatal de interesses privados.

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Na Jurisdição voluntária, mesmo que as partes estejam
“satisfeitíssimas” com a situação, não poderão prescindir da atuação
do Poder Judiciário. Podemos citar como exemplo o inventário e o
arrolamento de bens, que são procedimentos para transmissão dos
direitos e herança.

Neles, mesmo que todos os envolvidos concordem com os termos da


sucessão, haverá, necessariamente, a participação do Estado-juiz,
independentemente da vontade das partes. Na jurisdição voluntária,
não há lide.

Outra característica da Jurisdição, de grande relevância, é a Inércia.


“Ih, que esquisito! Ficar inerte não é permanecer parado, sem fazer
nada? E isso é uma característica da Jurisdição”? Bem, é mais ou
menos isso...

A Jurisdição é inerte no sentido de que não toma a iniciativa, não tem


uma atuação espontânea. O órgão jurisdicional deve agir (salvo as
exceções previstas em lei) mediante a provocação da parte
interessada.

O motivo de tal restrição é simples. O objetivo final da jurisdição é a


paz social, então, ela só deverá agir se há alguém “incomodado” com
a situação. Se a parte não move a jurisdição, a intromissão forçada
do Estado iria desestabilizar a relação ou, mesmo, impedir uma
possível solução pacífica ente as partes (autocomposição).

Além disso, se ao juiz fosse facultada a iniciativa para a causa, já


haveria um prejulgamento, uma tendência de envolvimento que
atingiria a própria imparcialidade do juiz.

Princípio da inércia (ou da demanda como também é chamado) está


consagrado no art. 2º, do Código de Processo Civil.

Há uma frase em latim identificada com a Inércia que vale a pena


você memorizar, pois os examinadores gostam correlacionar algumas
das expressões mais conhecidas com os respectivos conceitos
jurídicos. Prontos? Aí vai: “ne procedat iudex ex officio”. Significa: o
juiz não procede de ofício.

Proceder de ofício é tomar a iniciativa jurisdicional,


independentemente de provocação das partes, o que é admitido
apenas excepcionalmente e, em geral, com relação apenas à
matérias de ordem pública.

Temos também a característica da Unidade da Jurisdição. O poder


Estatal é uno e indivisível e, como manifestação do Poder do Estado a
Jurisdição também o é. Conforme já mencionei, a atribuição de

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competências a diferentes órgãos do judiciário é feita apenas para
uma melhor distribuição do trabalho, da atividade.

Podemos falar ainda da Definitividade ou Imutabilidade da Jurisdição.


Diz-se que a jurisdição é revestida de definitividade porque, após a
decisão proferida pelo Poder Judiciário transitar em julgado, não mais
poderá ser alterada.

O trânsito em julgado ocorre quando não é mais cabível qualquer


recurso para determinada decisão judicial, seja porque se esgotaram
as vias recursais, seja porque a parte desistiu do seu direito de
recorrer no prazo legal.

Nesse caso terá se formada a coisa julgada, protegida pela própria


Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXVI:

“a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico


perfeito e a coisa julgada”.

Aqui abro “parênteses” para lembrá-los de que a coisa julgada pode


ser material ou formal. Diz-se que há coisa julgada formal quando a
decisão proferida pelo juízo não analisou o mérito da causa. No caso,
poderá ser proposta uma outra demanda semelhante.

Haverá coisa julgada material quando a decisão insuscetível de


recurso houver alcançado o mérito da questão. Neste caso, jamais
poderá ser proposta demanda idêntica. Mas não se preocupem muito
com isso agora. Precisamos avançar um pouco mais para alcançar
este tema.

Voltando ao nosso tema, a definitividade como característica da


Jurisdição, só os atos do Estado no exercício da função jurisdicionais
a possuem. Os atos do Poder Executivo e Legislativo são mutáveis,
podem ser rediscutidos, revistos.

Bem, essas são as características mais citadas. Há ainda quem cite a


imparcialidade do juízo, que é a ausência de interesse do juízo na
decisão da causa. Ser imparcial é, basicamente, não tomar partido,
não pender para qualquer dos lados, não estar inclinado a uma
decisão favorável ou desfavorável, acompanhar com isenção todo o
processo para, ao final, poder decidir.

Conforme adverti antes, não há um consenso rigoroso entre os


autores. É bem possível que, numa prova, você encontre uma
questão ou um item que omita uma das características citadas, o que
não significa que esteja, necessariamente, incorreto.

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Se isso ocorrer, analise com cuidado. Tenha em mente que a
substitutividade e a inércia são, citadas por todos os autores, sem
exceção e que a secundariedade é citada pela maioria deles. Saibam
que teóricos fundamentais como Ada Pellegrini Grinover e Cândido
Rangel Dinamarco incluem a lide entre as características essenciais
da jurisdição.

O importante é que você já conhece as mais citadas e poderá


discernir se houver algum elemento destoante no contexto.

Agora, vamos ao nosso próximo ponto, os princípios da jurisdição.

Princípios da Jurisdição: Investidura, Improrrogabilidade,


Indelegabilidade, Juiz Natural, Inevitabilidade e
Inafastabilidade.

Além das características que analisamos acima, existem ainda os


Princípios específicos da Jurisdição.

Você aprendeu que a Jurisdição é exercida em nome do Estado por


um indivíduo. O Princípio da Investidura estabelece que para fazê-lo,
tal indivíduo (o juiz) deve estar investido na atividade jurisdicional de
acordo com as regras legais. A jurisdição só pode ser exercida por
uma pessoa investida no papel de juiz, com todas as formalidades e
exigências legais cumpridas.

Cada juiz tem a autoridade de exercer a função jurisdicional no


âmbito de um determinado território. Explico: A Jurisdição é una e a
brasileira alcança todo o nosso território. Mas é claro que, para
efetivá-la é necessário estabelecer critérios para atribuição das
funções aos órgãos jurisdicionais.

Por exemplo, para o juiz de direito (o juízo singular de primeiro grau)


essa “limitação territorial” é a comarca, que corresponde à
delimitação geográfica do município. O Princípio da
improrrogabilidade (ou da aderência ao território) é aquele segundo o
qual cada órgão jurisdicional tem uma delimitação territorial à qual
corresponde a sua atuação.

Assim, se o juiz da comarca do Rio de Janeiro quer intimar alguém


que mora na vizinha Belford Roxo deve fazê-lo através de um pedido
ao seu colega juiz (a carta precatória), para não extrapolar os limites
da sua competência, nem invadir a do outro magistrado.

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Esses critérios de distribuição são rígidos, por isso nenhum órgão ou
poder jurisdicional pode delegar a outro a sua atribuição é o
denominado Princípio da Indelegabilidade.

Para cada causa há sempre um único juízo determinado segundo


critérios legais previamente estabelecidos, lembre-se disso. Aqui cabe
mencionar o Princípio do Juiz Natural, que é um importante e
inafastável princípio da jurisdição.

Não me alongarei no seu exame porque já foi abordado, na aula


anterior, uma vez que é também um princípio constitucional do
direito processual e um corolário do devido processo legal, lembra-
se?

O Princípio da Inevitabilidade prevê a submissão de todos nós ao


Estado-juiz. Ninguém pode recusá-lo, evitar a sua autoridade.
Tomemos o exemplo do réu, uma vez citado, não pode dizer “não
quero participar desse processo”. Será convocado a comparecer em
juízo e, se não apresentar a sua defesa, sofrerá os ônus decorrentes
de sua atitude.

Do mesmo modo nenhum de nós pode simplesmente declarar que


não concorda com determinada decisão e que, portanto, não irá
cumpri-la. Se não concordar, deve recorrer para modificar a decisão,
mas nunca tão somente descumpri-la.

Por fim, falta apenas abordar o Princípio da Inafastabilidade,


importantíssimo, fundamental na disciplina processual. Embora muito
haja a ser explorado com relação a ele, faremos aqui apenas uma
breve apresentação, pois precisamos avançar na matéria.

Está consagrado no Art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal.

“a lei não excluirá da apreciação do Poder judiciário lesão ou


ameaça a direito”

O Poder Judiciário deve apreciar qualquer lesão ou ameaça ao direito


de qualquer pessoa e nada, nem mesmo a lei, pode impedir a
apreciação.

Pelo mesmo princípio (embora o dispositivo mencione apenas “a lei


não excluirá”), o juiz não pode furtar-se a decidir qualquer causa,
mesmo que haja lacuna na lei ou que a lei seja obscura (de difícil
compreensão).

“Lacuna”?

É lacuna, um lugar vazio a ser preenchido.

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Diz-se que a lei é lacunosa quando não se vislumbra nela a disciplina


para uma determinada situação, a solução legal para certo caso. O
legislador, por mais abrangente que busque ser, por vezes, não
consegue prever todos os desdobramentos possíveis.

Não seria razoável que o juiz dissesse: “olha, rapaz, seu caso não foi
disciplinado, não posso fazer nada contra essa injustiça. Espere surgir
uma lei para o caso”.

Ainda que a lei seja lacunosa o juiz está autorizado pelo art. 126 do
Código de Processo Civil a decidir o caso.

Hoje há uma compreensão de que o Princípio da inafastabilidade traz


uma dimensão referente ao próprio acesso à justiça, que pode ser
traduzido, em síntese, como o acesso a uma ordem jurídica justa.

O conceito do acesso à Justiça é riquíssimo e carrega em seu bojo a


idéia de que não é suficiente que o Judiciário aceite apreciar o caso,
mas que, efetivamente, viabilize uma tutela adequada dos direitos a
todos os envolvidos no processo, a qualquer cidadão que dela
necessite.

Apenas para citar alguns desdobramentos do acesso à Justiça,


podemos lembrar que justifica a assistência judiciária gratuita aos
desprovidos de recursos financeiros e determina a efetividade das
decisões (devem ser rápidas se apresentarem caráter de urgência,
risco de lesão ao direito).

O acesso à justiça importa, enfim, num processo justo, célere,


adequado, disponível a todos, sem exceção.

Bem, você acabou de ser apresentado à definição, às características e


aos princípios da jurisdição. Isso não esgota o assunto, mas já
permite o avanço na compreensão da dinâmica do processo, agora
precisa entender o conceito de Ação.

Vamos a ele!

A Ação

Você já sabe que o Estado negou a autotutela e exerce com


exclusividade a atividade jurisdicional, mas apenas mediante
provocação, pois a jurisdição é caracterizada pela inércia.

Então, na presença do conflito de interesses, o particular deve


procurar o Estado-juiz para solucioná-lo.

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Mas é aí? Como é que ele faz isso?

É através do Direito de Ação.

O direito de ação é um direito do particular em face do Estado. Não é


dirigido contra o seu oponente na relação de direito material (o réu
que responderá a ação), mas é direcionado ao próprio Estado.

Através dele o que o particular busca é a apreciação do Estado-juiz


sobre aquilo que acredita ser uma lesão ou ameaça ao seu direito. É
um direito público que tem de um lado o cidadão que busca a
apreciação do seu “caso” e de outro o Estado que tem o dever de
apreciá-lo.

Veja que o direito de ver o seu caso apreciado pelo judiciário


independe do fato do indivíduo ter ou não “razão” no caso concreto,
de estar certo ou errado, de ter ou não ter o “direito” que alega em
relação ao seu oponente, ao réu. Isto seria verificado apenas numa
fase posterior.

Após o desenrolar do processo é que o juiz pode decidir, acolher ou


rejeitar o pedido feito pelo autor, conforme seja ou não demonstrada
a existência do direito alegado.

Observe que mesmo que o juiz ao final decida que o autor não tem o
direito material em face do réu, já terá apreciado, analisado o seu
pedido, ainda que para negá-lo.

É possível concluir, então, que o direito de ação é autônomo, vale


dizer, independente do direito material. É o direito de mover a
jurisdição.

Diz-se do direito de ação que é autônomo e abstrato e também que é


instrumental. Essa instrumentalidade decorre do fato que ele existe
para viabilizar um pretenso direito material, isto é, é um instrumento
para assegurar o exercício de um outro direito.

Vamos adiante: Então o direito de ação é o instrumento que assiste


ao particular para provocar a jurisdição. Porém, o seu exercício é
condicionado. O legislador estabeleceu uma série de condições que
devem ser seguidas pelo autor para que o mérito da causa, o seu
pedido seja apreciado.

Não basta ao autor exercer o direito de ação para ver seu pedido
apreciado pelo o juiz, é preciso exercê-lo do modo correto, legítimo,
regular segundo as condições impostas pelo legislador.

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As Condições da Ação

As condições da ação são três: possibilidade jurídica do pedido,


interesse de agir e legitimação ad causam. Diz-se que são as
condições para o legítimo exercício da ação.

Veja que mesmo que elas não sejam observadas por aquele que
propõe o feito, o direito de ação terá sido exercido, pois o juízo terá
sido provocado e dará uma resposta ao particular. No entanto, tal
resposta será apenas para afirmar que, dada à ausência das
condições impostas pelo legislador, o feito não prosseguirá.

Passaremos agora a analisar cada uma das condições da ação. A


primeira delas é a Possibilidade Jurídica do Pedido. Mas antes de
analisá-la, vamos entender o que é o pedido.

Cada ação tem sempre três elementos que a identificam. São eles as
partes, a causa de pedir e o pedido.

As partes são os envolvidos no pólo ativo e passivo da ação,


conforme você já aprendeu na aula passada, quando discutimos a
relação processual. O pedido consigna o objeto da ação, aquilo que se
pretende obter em juízo. A causa de pedir é constituída apelas razões
de fato e de direito que fundamentam esse pedido.

A possibilidade jurídica do pedido concerne ao fato do ordenamento


jurídico admitir ou não o pedido feito em juízo. É impossível pedir ao
judiciário que satisfaça um pedido vedado pelo direito.

Exemplo clássico é o da dívida de jogo. Suponha que João, jogando


num cassino clandestino ganhou certa quantia em dinheiro. Se o
compromisso não for saldado espontaneamente, João não pode
propor uma ação visando o recebimento dos valores. Como admitir
um feito contrário ao direito?

O Interesse de Agir diz respeito à necessidade de mover a jurisdição


para satisfazer a pretensão do autor. O aparato estatal é dispendioso,
devem ser evitadas lides desnecessárias. O interesse de agir deve ser
compreendido em duplo aspecto: o binômio necessidade/utilidade (ou
adequação).

Antes de propor uma ação é preciso verificar se o provimento


jurisdicional é realmente necessário, isto é, se o mesmo fim desejado
com ele não poderia ser obtido por outro meio. Esse é o aspecto da
necessidade.

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Já o aspecto da utilidade – adequação concerne ao meio utilizado
para veicular o pedido. Existem tipos diversos de ação e cada um
deles tem uma determinada finalidade. De nada adianta impetrar um
mandado de segurança, por exemplo, que é uma ação mandamental
cuja sentença constituirá numa ordem, num mandamento, para
receber valores em dinheiro. Para este fim existe a ação de cobrança.

Portanto, se o juízo verificar que o provimento solicitado é


desnecessário, resultará inócuo, inútil, inadequado para fim a que se
destina, não deve permitir o prosseguimento da ação.

A terceira condição da ação á a Legitimidade ad Causam.

O art. 6º, do Código de Processo Civil, estabelece:

“ninguém poderá pleitear em nome próprio, direito


alheio,salvo quando autorizado por lei”.

Em geral, tem a legitimidade para exercer o direito de ação aquele


que detém a titularidade do direito.

Abaixo, vou me utilizar dos esquemas gráficos relativos às relações


jurídicas de direito material e à relação processual, já apresentado na
aula anterior, para uma melhor visualização.

Imagine que Maria é filha de João. Entre parentes, existe a obrigação


alimentar, sempre dentro do binômio possibilidade/necessidade (o
credor deve necessitar dos alimentos e o devedor tem que poder
pagar). Maria, menor de idade e dependente financeiramente de João
é credora da obrigação alimentar e João é o devedor.

RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO MATERIAL

MARIA ----------- JOÃO


sujeito ativo sujeito passivo

Suponha agora que João vem descumprindo a obrigação alimentar a


vários meses e mesmo após tentativas amigáveis, recusa-se a
cumpri-la.

A maneira adequada de sanar tal situação é através da propositura


de uma ação de alimentos junto à vara competente. Após a
propositura, preenchidas as condições da ação e os pressupostos
processuais (que veremos mais adiante), o réu será citado e
integrará a relação processual.

RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO PROCESSUAL

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JUIZ
/ \
/ \
MARIA JOÃO
(pólo ativo - autora) (pólo passivo - réu)

Normalmente, há uma coincidência entre a titularidade do direito


material e a legitimidade para a propositura da ação (legitimidade ad
causam).

Apenas quando a lei autoriza expressamente, alguém irá a juízo em


nome próprio pleitear direito alheio (são os casos excepcionais de
legitimação extraordinária).

O juiz deve verificar tanto a legitimidade ativa (do autor - pólo ativo
da ação) quanto à passiva (do apontado réu - pólo passivo da ação).
Do mesmo modo que o autor, o réu também tem que ser integrante
da relação jurídica de direito material.

A ação deve ser regularmente proposta pelo legitimado ativo e


prosseguirá apenas em face do legitimado passivo adeqüadamente
indicado.

Voltemos ao nosso exemplo. A correta legitimada à propositura da


ação é Maria, a filha, não a sua mãe. Se for menor, deverá ser
representada legalmente pela mãe, mas ainda assim será ela, Maria,
e não a mãe, a autora do feito.

Do mesmo modo deve integrar o pólo passivo de uma Ação de


Alimentos aquele que tem relação de parentesco com o alimentando.
No caso, a prova da legitimidade passiva na Ação de Alimentos é feita
pela certidão de nascimento. Se João registrou Maria como filha,
responderá à ação.

Então, quando da propositura da ação, o juiz deverá verificar tanto a


legitimidade ativa quanto a passiva.

Todas as três condições da ação (possibilidade jurídica do pedido,


interesse de agir e legitimidade ad causam) devem estar sempre
presentes em qualquer ação que seja proposta. A ausência de uma só
delas já bastará para ensejar, acarretar a carência da ação.

Na carência de ação o juiz não irá analisará o mérito da causa, isto é,


não chegará ao ponto central que o autor quer ver analisado, não se
pronunciará quanto ao direito pleiteado, quanto ao pedido.

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Se a carência de ação for flagrante, detectada já à primeira vista é
causa de indeferimento da petição inicial, caso contrário, é causa de
extinção sem o julgamento do mérito.

O indeferimento da petição inicial está previsto no art. 295, incisos II


e III e parágrafo único, inciso III, do Código de Processo Civil. É a
rejeição liminar da ação, a recusa imediata pelo reconhecimento da
carência de ação. Aqui, não há sequer citação do réu.

É como se o juiz dissesse logo de cara: “Sai pra lá! Você pediu uma
coisa proibida (impossibilidade jurídica do pedido), ou pediu algo que
não precisa ou é inútil pra você (ausência de interesse de agir), ou
pediu algo que não está legitimado a fazer ou em face de quem não
tem nada a ver com isso”.

A carência de ação também pode acarretar a extinção sem


julgamento do mérito com base no art. 267, inciso VI e no art. 329
do código de processo Civil.

Normalmente isso vai ocorrer quando, por qualquer razão, a ausência


de uma das condições só foi verificada num momento posterior do
processo, pois a análise das condições da ação não é objeto de
preclusão, isto é, pode ser analisada a qualquer tempo no processo.

A preclusão é o instituto processual que impede a prática de um ato


no processo, seja porque o prazo para fazê-lo já foi perdido
(preclusão temporal), seja porque tal ato já foi praticado
anteriormente (preclusão consumativa), seja porque a parte praticou
um ato anterior incompatível com o outro que deseja praticar
(preclusão lógica).

As matérias de ordem pública em geral não são alcançadas pela


preclusão. As condições da ação possuem tal natureza e podem ser
reconhecidas em qualquer estágio do processo.

Na extinção sem o julgamento do mérito, como o próprio nome diz o


processo será extinto, findará, sem que o juiz chegue a analisar o
mérito, a questão de direito, o pedido do autor.

Tanto no indeferimento da petição inicial quanto na extinção sem o


julgamento do mérito uma nova ação idêntica à anterior (mesmas
partes, causa de pedir e pedido) pode vir a ser proposta.

Isto porque não houve a formação da coisa julgada material, que


impede a propositura de lide idêntica, mas apenas da coisa julgada
formal. Lembre-se que quando analisamos a definitividade como
característica da jurisdição no começo da aula de hoje você aprendeu
a respeito da coisa julgada.

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As ações são classificadas de acordo com a tutela que se espera do


juízo. Podem ser de conhecimento (visam reconhecer uma relação de
direito material), de execução (visam à satisfação de um direito pré-
reconhecido), cautelares (visam proteger um direito do seu
perecimento) ou mandamentais (contém um comando, uma ordem).

Feita essa síntese sobre o direito de ação, as condições para o seu


legítimo exercício, as conseqüências da carência da ação e a
classificação das ações, podemos passar ao terceiro elemento da
trilogia estrutural, o Processo.

O Processo

O Estado-juiz é inerte e a ação é o instrumento que assegura ao


particular a provocação do exercício da função jurisdicional

Mas, como é que essa função será exercida, por qual meio?

Segundo Pellegrini, Dinamarco e Cintra, o processo é “o instrumento


através do qual a jurisdição opera”.

O Processo pode ser entendido como um meio do qual o Estado se


utiliza para o desempenho da função jurisdicional, desencadeado
mediante o exercício do direito de ação pelo particular.

Percebeu agora porque toda a disciplina processual está assentada


sobre essa trilogia estrutural, esses três pilares conceituais que são a
jurisdição, a ação e o processo?

A Jurisdição regulamenta a função do Estado de prestação da


atividade jurisdicional e é caracterizada pela inércia, pela necessidade
de provocação pelo particular.

A ação é o instrumento do particular para provocar essa atividade


visando à garantia dos direitos materiais que o ordenamento jurídico
lhe assegurou.

O Processo é o meio que o Estado utiliza para exercer a atividade


jurisdicional, deflagrada pelo exercício da ação e que consiste numa
sucessão de atos tendentes a viabilizar a prestação da tutela
jurisdicional pleiteada pelo particular.

Daí, que um não existe sem o outro. São três conceitos bastante
diferentes entre si, mas profundamente interligados.

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A palavra processo tem em seu sentido corrente pelo menos duas
acepções que causam certa confusão: por vezes é identificada com a
sucessão ordenada de atos praticados em juízo (que na realidade,
constitui o procedimento) e por outras é confundida com a sua
própria expressão externa, material, concreta (isto é, aquele punhado
de folhas escritas com uma capa que fica lá no Fórum).

Há que se fazer a distinção. Deve-se utilizar a palavra procedimento


para designar a ordem preordenada segundo a qual os atos devem
ser praticados no processo, de acordo com um rito legal
preestabelecido.

Por sua vez, Autos do processo é a denominação adequada para o


volume externo, material que configura a concretização do processo.
Deve-se dizer: “Vou ao Fórum examinar dos autos do processo” e
não apenas, “vou examinar o processo”, pois o que você pega,
folheia, lê é apenas a manifestação exterior, palpável, que são os
autos.

Você deve lembrar-se da nossa primeira aula e nela antecipamos


muita coisa sobre a relação jurídica processual. Ela envolve os
sujeitos do processo, que são o Estado, o demandante e o
demandado, ou em outras palavras, o juiz, o autor e o réu.

ESTADO
(JUIZ)
/ \
/ \
DEMANDANTE DEMANDADO
(AUTOR) (RÉU)

Veja que o esquema é angular e não linear o que ocorre porque o


Estado (personificado pelo juiz) não está agindo como parte,
defendendo qualquer interesse seu, mas exerce uma função para a
promoção do bem comum e, portanto, está acima das partes.

Observe que as partes se encontram eqüidistantes do juiz, o que


demonstra a sua imparcialidade, já que ele não se aproxima mais de
um lado que do outro.

Se os sujeitos da relação processual são o Estado, o demandante e o


demandado, o objeto dessa relação não é o bem da vida que se
procura obter através do processo, não coincide com o pedido
efetuado na ação, mas consiste na própria prestação jurisdicional.

Analisados estes pontos, apresentarei aos pressupostos processuais.

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Traçando um paralelo como direito civil, o ato jurídico, para ter
validade deve ser praticado por agentes capazes, ter objeto lícito e
ter a sua forma prevista ou não defesa (isto é, não proibida) em lei.

O mesmo se dá com o processo que, para se desenvolver


validamente, precisa obedecer a certos requisitos.

Tais requisitos são os pressupostos processuais, previstos no art.


267, inciso IV, do Código de Processo Civil. Sem estes pressupostos a
relação processual nascerá, mas permanecerá inválida.

Os pressupostos processuais podem ser objetivos ou subjetivos. Os


subjetivos relacionam-se aos sujeitos da relação processual. São
eles: Competência do Juízo, Capacidade das Partes, Representação
por Advogado.

Já os pressupostos processuais objetivos são a Forma Processual


Adequada, a Citação Válida, Inexistência de Litispendência Coisa
Julgada, Perempção e Nulidades e Petição Apta não-inepta.

Ufa! Já trabalhamos um bocado hoje, não é mesmo? A essa altura


você deve estar com a cabeça cheia com tantas informações novas!

Precisamos ainda analisar cada um dos pressupostos processuais,


formar uma noção de procedimento, de ato processual, entender a
participação do juiz como sujeito do processo para, finalmente,
alcançar a disciplina dos atos judiciais e analisar os despachos, as
decisões interlocutórias e as sentenças.

Como são muitos tópicos, o melhor em termos didáticos é parar por


aqui, pois chegamos a um ponto da matéria que permite a
interrupção sem prejuízo da seqüência lógica. Todos os pontos
enumerados no parágrafo anterior serão abordados em nossa
próxima aula, juntamente com exercícios comentados que incluirão a
matéria da aula de hoje.

Até lá!

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AULA 02 – ATOS JUDICIAIS: DESPACHOS, DECISÕES
INTERLOCUTÓRIAS E SENTENÇAS.

Parte II

Os pressupostos processuais (continuação)

Em nossa última aula você conheceu a jurisdição, a ação e o


processo. Aprendeu que a jurisdição é a função do Estado voltada
para a prestação da atividade jurisdicional, que o Estado exerce
através do processo, desencadeado pelo particular mediante o
exercício do direito de ação.

O Processo é uma relação jurídica e é constituído por uma série de


atos. Sendo formado por atos, não é difícil raciocinar que a validade
do processo depende da própria validade dos atos processuais
praticados (que são, em última análise, atos jurídicos).

Vamos “invadir a praia” dos civilistas para lembrar os requisitos de


validade do ato jurídico. Todo o ato jurídico, para ser válido deve ter
objeto lícito, ser praticado por agente capaz e observar a forma
prescrita ou não defesa (isto é, não proibida, permitida) em lei.

Podemos traçar um paralelo entre os pressupostos processuais e os


requisitos de validade dos atos jurídicos em geral. Os pressupostos
processuais seriam os elementos necessários para a constituição e
desenvolvimento válido do processo, assim como os requisitos o são
para o ato jurídico na esfera civil.

Os pressupostos processuais podem ser classificados como subjetivos


ou objetivos. Os subjetivos dizem respeito aos sujeitos da relação
processual: competência do Juízo, capacidade das Partes e
representação por advogado.

Os chamados pressupostos processuais subjetivos podem ser


correlacionados à exigência de capacidade das partes para a prática
do ato jurídico.

Você já sabe que os sujeitos da relação processual são o juiz e as


partes (autor e réu). O requisito da capacidade deve ser observado
em tanto para o juiz, quanto para as partes. No caso do juiz, trata-se
do pressuposto processual da competência do juízo.

O juiz capaz é aquele que é investido de jurisdição, é competente


para a causa e é imparcial.

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Ao analisarmos o princípio do juiz natural, na primeira aula, você foi


apresentado ao conceito de competência. Competente é o juiz com
atribuição para julgar determinada causa segundo os critérios legais
previamente estabelecidos.

Tais critérios garantem que para cada causa haverá um único juízo,
excluindo-se todos os demais. Você já sabe que o juízo imparcial é o
predeterminado pela lei para a causa.

Grosso modo, a competência pode ser entendida como um critério de


divisão do trabalho, um critério legal para distribuição dos processos
entre os vários órgãos jurisdicionais.

Além de competente o juízo deve estar afastado de qualquer de


impedimento ou de suspeição.

As causas de impedimento e de suspeição configuram obstáculos à


imparcialidade do juízo, dizem respeito à própria pessoa do juiz e o
tornam inapto, incapaz para julgar a causa.

O impedimento é vício mais grave que a suspeição e tem suas causas


enumeradas nos arts. 134 e 136 do Código de Processo Civil. As
causas de impedimento podem ser alegadas a qualquer tempo, não
precluem.

O juiz estará impedido para a causa se nela figurou como parte,


atuou como representante judicial da parte, perito, membro do
Ministério Público (antes de ser juiz, é claro) ou testemunha, se a
julgou em primeiro grau de jurisdição e recebe a atribuição de
reapreciá-la em grau de recurso (no caso de haver sido promovido) e
quando há parentes seus envolvidos na causa.

“Primeiro grau de jurisdição? Isso você não explicou”...

Há várias espécies de jurisdição e por isso, podemos falar em


jurisdição superior e jurisdição inferior, embora essa não seja a
melhor designação, pois passa a idéia de hierarquia, que na realidade
não existe. Melhor falar em jurisdição de primeiro e de segundo grau.

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Ocorre que o direito de suscitar a revisão da decisão é assegurado à
parte que ficou insatisfeita com a sentença proferida (é o denominado
princípio do duplo grau de jurisdição).

O juízo de primeiro grau é exercido pelo juiz singular, aquele que


primeiro conhece da causa e profere uma sentença.

Assim, busca-se afastar a possibilidade de erros nas decisões.

Bem, agora que você já entendeu o que são o primeiro e o segundo


graus de jurisdição, podemos voltar às causas de impedimento e
suspeição.

A suspeição tem suas causas definidas no art. 135 do Código de


Processo Civil e, se a parte não as alega no prazo e na forma legal,
serão objeto de preclusão.

É suspeito o juiz que é amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer


das partes, que possui relação pessoal (ou de algum familiar seu) na
qualidade de credor ou devedor de qualquer das partes, que é
herdeiro ou empregador de qualquer das partes.

É suspeito, enfim, o julgador que pode, por qualquer razão, estar


interessado num resultado favorável ou desfavorável a qualquer das
partes.

A suspeição pode até ser alegada pelo juiz sem explicitação das
razões que a embasam, por motivo de foro íntimo.

Aliás, compete em primeiro lugar ao próprio juiz (que certamente


conhece o fato) alegar o impedimento ou a suspeição. Mas, se ele
não o faz, deve a parte fazê-lo.

A capacidade das partes (autor e réu) também constitui pressuposto


processual.

As partes devem ter capacidade, que é o instituto do direito que


determina a aptidão para a prática de atos da vida civil, nos termos
da lei civil.

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É capaz o indivíduo maior, dotado de saúde psíquica, pois tem
discernimento. Sua vontade deve ser considerada pelo direito,
diferente do incapaz, que possui vontade, embora o direito não possa
considerá-la pela ausência de discernimento (devida à imaturidade
própria da pouca idade ou moléstia que o acomete).

Se incapaz, a parte não está proibida de vir a juízo (nem poderia


estar, pois nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser afastada da
apreciação do poder judiciário), mas deve fazê-lo representada por
pessoa capaz nos termos da lei civil. A representação é o instituto do
direito civil que sana o vício da incapacidade.

Assim, se o menor de idade vai sozinho a juízo pleitear alimentos, o


processo não irá se constituir validamente. Ausente o pressuposto
processual de capacidade da parte, seu pedido não será apreciado.

Contudo, se esse mesmo menor comparece a juízo representado por


sua mãe, o requisito estará preenchido.

O outro pressuposto processual subjetivo é a representação por


advogado. Este pressuposto diz respeito à capacitação técnica para
estar em juízo. Como a parte, em regra, não possui os
conhecimentos técnicos necessários para litigar, deverá estar
assistida por advogado, profissional tecnicamente habilitado.

Vejam que aqui tratamos da regra, mas há uma exceção. Nas causas
da competência do Juizado Especial Cível a lei permite à parte, caso
deseje, a litigância sem a assistência do advogado. Isto pode ocorrer
porque os juizados tratam apenas das causas de menor
complexidade.

Além dos pressupostos processuais subjetivos, existem também os


objetivos.

Podemos apontar como pressupostos processuais objetivos a Forma


Procedimental Adequada, a Citação Válida, Inexistência de
Litispendência Coisa Julgada, Perempção e Petição Apta.

A forma procedimental adequada consiste nas palavras de Humberto


Theodoro Jr., na “observância da forma processual adequada à
pretensão”.

A citação válida constitui a própria relação processual. Sem ela, o


processo não poderá se desenvolver validamente.

As ausências de litispendência, coisa julgada e perempção constituem


pressuposto negativo, isto é, um pressuposto processual que indica
não o que deve estar presente, mas aquilo que não pode haver.

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“Ih, complicou”...

Então vamos “descomplicar”.

Coisa julgada você já sabe o que é. Ao analisarmos a definitividade


(ou imutabilidade) como característica da jurisdição em nossa
segunda aula, você foi apresentado a ela.

Coisa julgada é decisão transitada em julgado. Diz-se que a decisão


transita em julgado quando dela não mais cabe recurso. Você já
aprendeu que a coisa julgada é protegida pela própria Constituição
Federal, em seu art. 5º, inciso XXVI.

Para que um processo se desenvolva validamente é preciso verificar a


inexistência de coisa julgada sobre o caso, vale dizer, é preciso
verificar se já não houve anteriormente uma decisão definitiva do
Poder Judiciário acerca daquele pedido, fundamentado naquela causa
de pedir, entre as mesmas partes.

“E a litispendência, o que é”?

Como o próprio nome indica, é a pendência de lides idênticas. Se já


foi proposta uma ação com determinado pedido, causa de pedir e
partes, não pode ser proposta nova ação idêntica à primeira perante
outro juízo.

Caso isto ocorra, a segunda ação não poderá prosseguir. Aqui, ao


indicar a inexistência de coisa julgada e de litispendência como
pressuposto para o desenvolvimento válido do processo, o legislador
procurou afastar o risco de decisões contraditórias.

A segurança jurídica é um valor importante. O particular precisa


saber que a sua causa será decidida sem o risco de alteração
posterior, de decisões conflitantes com relação a um único caso.

“Ainda falta a perempção”.

Eu sei, vamos a ela.

A perempção ocorre quando o autor, por três vezes dá causa á


extinção do processo pela sua inação (por não fazer o que é preciso
no processo).

Aqui é como se o legislador dissesse o seguinte: “Meu amigo, você já


propôs essa mesma ação três vezes e em todas elas deixou que a
mesma se extinguisse. Agora já é demais! Você não quer litigar, só
quer encher o saco”...

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Então, presentes a coisa julgada, a litispendência ou a perempção, o


processo não prosseguirá, mas será extinto sem julgamento do
mérito.

Outro pressuposto processual pode ser apontado na exigência de


petição apta. A petição apta (ou não-inepta) é aquela que preenche
todos os requisitos estabelecidos em lei.

Alexandre Freitas Câmara define a petição inicial como o instrumento


da demanda. É um ato solene, que não pode dispensar os requisitos
essenciais, enumerados principalmente no art. 282, do Código de
Processo Civil e também no art. 39, inciso I do mesmo diploma legal.

A petição inicial deve indicar o órgão judiciário ao qual se dirige,


apontar os elementos identificadores da demanda, as partes (com a
respectiva qualificação), a causa de pedir (apontando os fatos que
embasam a pretensão do autor) e o pedido (que deve ser certo e
determinado).

Deve trazer também o valor da causa, indicar as provas que se


pretende produzir, requerer a citação do réu e informar o endereço
do advogado.

Caso a petição não traga todas essas informações, conterá um vício.


Se o vício for de natureza sanável, o juiz determinará um prazo para
que o autor a emende, isto é, corrija o vício. Se for insanável, a
petição será indeferida liminarmente, vale dizer, o processo não
prosseguirá.

A inépcia da petição inicial é uma das causas de indeferimento da


petição inicial, enumeradas no art. 295 do Código de Processo Civil.
Indeferida a inicial por inépcia, não haverá julgamento do mérito e o
processo será extinto.

Não há um consenso na doutrina com relação aos pressupostos


processuais. Apontamos aqui a classificação que julgamos mais
simples e, portanto, mais adequada para este curso.

Há uma corrente mais restritiva, encabeçada por Ada Pellegrini e


Cândido Dinamarco e seguida por Alexandre Câmara que enumera
apenas três pressupostos processuais (demanda regularmente
formada, capacidade de quem a formula e investidura do destinatário
da demanda).

Há uma outra classificação que os divide em pressupostos


processuais de existência (que não convalescem, isto é, não podem

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ser sanados), cuja ausência acarretaria a própria inexistência do ato
processual e pressupostos processuais de validade.

Como não se verifica uma sistematização rigorosa na doutrina acerca


do tema, para nós, o melhor é ficar com a classificação mais
simplificada exposta neste tópico.

Sempre que uma pretensão é deduzida em juízo, isto é, sempre que


o juiz recebe uma petição inicial, deverá primeiramente verificar a
presença dos pressupostos processuais. Se presentes tais
pressupostos, passará a analisar a existência das condições da ação.

Apenas na presença dos pressupostos processuais e das condições da


ação poderá ser analisado o mérito da causa

A falta de qualquer das condições da ação conduzirá à extinção sem


julgamento do mérito. No caso dos pressupostos processuais, as
conseqüências da sua inobservância variam conforme o caso.

A ausência do pressuposto processual da competência do juízo, por


exemplo, pode deslocar o feito para outro juízo (o competente) que
nele prosseguirá.

O vício de representação (que atinge o pressuposto processual da


capacidade das partes) poderá ser sanado dentro do prazo
estabelecido, e aí não haverá a extinção sem o julgamento do
mérito.

O mesmo não vale, no entanto, para a presença de coisa julgada,


litispendência ou perempção. Verificada a sua existência o feito será
extinto sem julgamento do mérito.

Para terminarmos o exame do processo e, com ele, o exame da


trilogia estrutural, resta apenas apresentar-lhe as espécies de
processo.

Se o processo é o instrumento para a atuação da jurisdição, pode ser


classificado de acordo com o provimento jurisdicional (a tutela, a
resposta, a sentença) solicitado.

Há várias espécies de processo e a sua classificação leva em conta o


tipo de tutela jurisdicional pleiteada. A tutela jurisdicional é a
resposta do Poder Judiciário buscada pelo autor da ação (a sentença).

A classificação clássica é a trinaria, que apresenta o processo de


conhecimento, o de execução e o cautelar.

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No processo de conhecimento a parte visa o acertamento, a


verificação da existência do direito.

Já o processo de execução destina-se à efetivação do direito


predeterminado por um título executivo. Esse título executivo pode
ser judicial (uma sentença previamente obtida num processo de
conhecimento) ou extrajudicial (um título dotado de certeza, liquidez
e exigibilidade – como um cheque, por exemplo).

O processo cautelar, por sua vez, busca o acautelamento de um


direito. É específico para situações nas quais há risco do perecimento
do direito. Seu objetivo é resguardar a própria tutela jurisdicional
que, sem a medida cautelar, restaria inócua, inútil.

O procedimento

Os atos do processo não se apresentam isoladamente, mas de


maneira interligada, interdependente. Aparecem integrados no
procedimento, que é a soma dos atos do processo e cuja finalidade é
viabilizar o provimento jurisdicional.

No Brasil, o legislador optou pelo sistema da legalidade das formas


para disciplinar o procedimento. A regulamentação legal confere
segurança às partes no tocante às formas processuais essenciais.

Ao mesmo tempo, a aplicação do princípio da instrumentalidade das


formas abranda o rigorismo, o formalismo excessivo.

Pelo princípio da instrumentalidade o mais importante é que o ato


realize o fim a que se destina, isto é mais importante até do que a
sua própria forma, a menos que esta seja da própria substância do
ato, isto é, seja-lhe essencial.

As formas dos atos são estabelecidas pela lei com base em


circunstâncias de lugar, tempo e modo.

Quanto ao lugar, em geral os atos do processo são praticados na


sede do juízo.

No tocante ao tempo, há uma ordem seqüencial entre os atos e a


maioria deles se sujeita aos prazos legais para a sua prática.

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Quanto ao modo, há três aspectos a considerar. O primeiro é o da
linguagem (deve ser utilizada a língua portuguesa). Entre nós há
certo predomínio da linguagem escrita, mas a oralidade também está
presente ainda que em menor medida.

O segundo aspecto relacionado ao modo no procedimento diz respeito


ao impulso à iniciativa para o desenvolvimento da seqüência de atos
processuais.

Entre nós vige o impulso oficial. Uma vez rompida a inércia do


judiciário pela propositura da ação, o juiz irá fazendo o processo se
mover fase a fase.

O terceiro aspecto diz respeito aos ritos (tipos de procedimento).

Há o procedimento que segue o rito comum e os procedimentos


especiais. O primeiro, como o próprio nome indica, é o mais
“comum”. Os procedimentos especiais se aplicam às situações
peculiares eleitas pelo legislador.

O procedimento comum pode ser ordinário ou sumário. O rito é


sumário nas hipóteses em que o legislador permitiu um procedimento
mais célere, simplificado. É ordinário quando a lei não o faz. A
maioria dos processos se desenvolve pelo rito comum ordinário

Os procedimentos especiais, por sua vez, podem ser de jurisdição


voluntária ou contenciosa. Você já foi apresentado a ambas as
espécies de jurisdição quando tratamos da lide como característica da
jurisdição, na aula passada.

Além desses, pode-se falar em procedimentos de execução e


cautelares.

Cabe notar que, o procedimento dos Juizados Especiais Cíveis é


denominado por alguns “sumaríssimo”, pois o legislador concebeu-o
como um rito ainda mais ágil e célere do que o anteriormente criado
para o procedimento pelo rito sumário.

Percebeu que estamos aproximando o “zoom” da nossa câmera? Já


visualizamos o processo, nos aproximamos um pouco mais para
analisar o procedimento e agora, vamos continuar nos aproximando
para focar os atos processuais. Nosso objetivo final é “fechar” a lente
nos atos judiciais.

Os Atos Processuais

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O ato processual é, em síntese, um ato jurídico (processual)
proveniente de um dos sujeitos do processo. Sabemos que os
sujeitos do processo são o juiz, o autor e o réu.

Dado o caráter do nosso curso, nos concentraremos nos atos do juiz,


os atos judiciais.

Os Atos Judiciais

O juiz é o sujeito imparcial na relação processual, exerce função que


é Poder-dever do Estado e não pode se furtar de decidir qualquer
questão levada ao seu conhecimento.

Tanta responsabilidade concentrada nas mãos de uma única pessoa


tem como contrapartida uma série de garantias e prerrogativas
(vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos) para
que o juiz possa exercer a contento sua função.

O órgão jurisdicional é dotado de poderes meios, como o poder de


polícia, a fim de assegurar o bom desenvolvimento e a ordem do
processo. Obviamente, também é dotado de poderes jurisdicionais
que podem ser de meio (de movimentação do processo, por
exemplo), ou de fim (atos decisórios e executórios).

Vemos que existem atos praticados pelo juiz que têm cunho
decisório, enquanto outros atos são praticados para o andamento do
processo, sendo desprovidos de qualquer cunho decisório.

Despachos, decisões interlocutórias e sentenças são espécies de atos


judiciais. Podemos dizer que apresentados nessa ordem, figuram em
ordem crescente no que diz respeito ao seu conteúdo decisório.

A distinção tem assento legal. É o art. 162 e parágrafos do Código de


Processo Civil que a estabelece.

A seguir, analisaremos cada espécie em separado.

Os Despachos

Despachos são os atos judiciais que determinam providências


relativas ao andamento do processo.

São denominados despachos ordinatórios ou de mero expediente,


pois são desprovidos de conteúdo decisório, somente impulsionam,
movem o processo.

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O juiz pode proferi-los de ofício (sem o requerimento das partes).
Lembre-se que entre nós vige o princípio do impulso oficial, segundo
o qual cabe ao juiz cuidar do desenvolvimento do processo fase a
fase.

Mas, nada impede que a parte requeira providência que julgar


necessária ao andamento do processo e assim provoque o juiz a
emitir um despacho.

Podemos citar como exemplo de despachos ordinatórios aqueles que


designam data para audiência, abrem vista do processo para a parte,
baixam os autos ao contador para apurar cálculos.

Os despachos de mero expediente, por definição não tem o poder de


causar ônus, prejuízos a qualquer das partes, por isso são
insuscetíveis de recurso.

Qualquer das partes que não concordar com a sentença, pode


recorrer. O recurso assegura que a decisão será revista por outro
órgão jurisdicional, agora de segundo grau, formado por um
colegiado de juízes (por mais de um magistrado), mais experientes
que os de primeiro grau.

O recurso visa evitar decisões equivocadas, que prejudiquem as


partes. Se os despachos não têm condão de prejudicar quem quer
que seja, são inofensivos e, portanto, podem ser irrecorríveis.

A fundamentação é um requisito das decisões judiciais. Pelo princípio


do livre convencimento motivado, o magistrado pode valorar
livremente as provas e os elementos do processo para ao final
decidir.

Mas, ao proferir a decisão, deverá explicitar sua motivação, os


fundamentos de fato e de direito que o levaram àquela conclusão.
Isto ocorre para que possa haver um controle da decisão, tanto pelo
particular quanto pelos órgãos de jurisdição, para que se evite o
arbítrio do juiz e se possibilite a revisão da decisão em segundo grau.

Tal não se aplica aos despachos, pois sendo desprovidos de caráter


decisório, dispensam a apresentação da sua motivação, uma vez que
o motivo de sua prolação é tão somente o andamento do processo.

Os despachos, portanto, não carecem de fundamentação.

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Os despachos são, por definição, irrecorríveis, mas note que, advindo


qualquer prejuízo de uma decisão com aparência de despacho, ela
será descaracterizada como tal.
Caso tenha o poder de prejudicar qualquer das partes, será tomada
por decisão interlocutória e estará sujeita ao recurso de Agravo,
como veremos a seguir.

As Decisões Interlocutórias e o Meio judicial adequado a sua


impugnação: O Agravo.

Segundo o Código de Processo Civil, decisão interlocutória é o ato


pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente.

Você já sabe que o direito de recorrer assiste à parte insatisfeita com


uma decisão judicial. Ele consiste na possibilidade de provocar a
revisão, por um órgão de jurisdição superior, da decisão proferida
pelo órgão de jurisdição inferior.

Os provimentos judiciais podem ser finais (os que dão fim ao


processo, as sentenças) ou interlocutórios (proferidos no decorrer, ao
longo do processo).

A decisão interlocutória é um provimento de cunho decisório que


resolve uma questão incidente (uma questão surgida durante o
processo que tem que ser superada, decidida).

Ela não tem o efeito de terminar o processo, que prosseguirá até que
seja proferida a sentença, mas “fecha”, decide uma determinada
questão no “meio do caminho”, isto é, no curso do processo.

A decisão que indefere a produção da prova pericial pode ser tomada


como um exemplo de decisão interlocutória. As liminares (decisões
provisórias, dadas em caráter de urgência para resguardar um direito
em perigo), que são concedidas no curso do processo, antes da
sentença, também têm a natureza de decisões interlocutórias.

Já vimos no tópico anterior que a fundamentação é indispensável às


decisões. Dentre outras razões importantes para a exigência da

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fundamentação, podemos destacar a possibilidade de reexame da
decisão em caso de recurso.

As decisões interlocutórias têm o poder de causar prejuízo às partes


e, portanto, são passíveis de recurso, pois, caso a parte utilize o
recurso no prazo legal, ocorrerá à preclusão, ou seja, aquela questão
não mais poderá ser rediscutida no processo.

Sendo assim, as decisões interlocutórias não dispensam a


fundamentação, embora para as mesmas tal fundamentação possa
ser breve, sintética.

O recurso cabível para enfrentar as decisões interlocutórias proferidas


pelo juízo de primeiro grau é o recurso de agravo, dirigido ao tribunal
imediatamente superior.

Na realidade poderíamos enumerar uma série de recursos previstos


em lei com o nome de “agravo”, mas, como tais recursos guardam
pouca ou nenhuma identidade com o agravo clássico a que nos
referimos, fogem ao objeto do nosso estudo.

Aqui nos interessa o agravo disciplinado nos arts. 522 e seguintes do


Código de Processo Civil, que admite duas formas básicas: o de
instrumento e o retido.

O agravo de instrumento tem esse nome porque é feito em


“instrumento” apartado, independente. É uma petição instruída
(acompanhada) de cópias das peças mais importantes do processo,
dirigida diretamente ao tribunal.

O Agravo de instrumento “sobe” ao Tribunal para imediata apreciação


e o processo segue seu curso normal na vara de origem.

Caso o agravo seja provido (tenha seu pedido atendido, acatado), a


decisão interlocutória será reformada.

O prazo para interposição do agravo de instrumento é de dez dias, a


contar da intimação da decisão. Deve obedecer a todos os requisitos
enumerados na lei (arts. 524 e seguintes).

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Eles são muitos: o agravo deve indicar a exposição das razões do
recurso, o nome e o endereço dos advogados das partes, informações
sobre o processo original, cópia da decisão agravada, comprovante
de recolhimento do preparo, os instrumentos de procuração dos
advogados.

Alguns recursos estão sujeitos a preparo. Preparo é o nome que se dá


às custas devidas pela interposição do recurso.A pena para o não
recolhimento do preparo é a deserção. Se considerado deserto, o
recurso não será admitido.

O agravante deve ainda comunicar o juízo a quo (o que proferiu a


decisão agravada) sobre a interposição do agravo no prazo de três
dias. É indispensável que envie a prova dessa comunicação ao
Tribunal, pois sem ela a agravo não será admitido.

Esse requisito visa viabilizar o exercício do direito de retratação pelo


juiz a quo. É facultado ao juiz o juízo de retratação, vale dizer, ele
pode voltar atrás na sua decisão.

A parte contrária será intimada para em dez dias apresentar as suas


contra-razões. E o exercício do contraditório em grau recursal.

As decisões proferidas do tribunal que confirma ou reforma a decisão


interlocutória atacada pelo agravo tem o nome de “acórdão”.

Vimos algumas peculiaridades do agravo de instrumento, vejamos


agora o agravo retido. Nele fica apenas consignada a irresignação
com a decisão interlocutória, mas a revisão pelo Tribunal não é feita
imediatamente.

No agravo retido a parte documenta a sua insatisfação e previne a


preclusão do tema, mas só eventualmente suscitará a análise do
recurso. Apenas se não houver retratação e o apelante reiterar o seu
pedido de apreciação do agravo retido, é que o tribunal apreciará a
questão.

O objetivo do agravo retido é evitar a preclusão sobre a questão


incidente, que só será reapreciada pelo tribunal após a sentença de
primeiro grau se a parte reiterar o pedido quando de eventual
apelação.

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No agravo retido a parte aguarda a desfecho da causa para só então


suscitar a efetiva revisão da questão incidente.

Apelação é o recurso cabível para as sentenças e será objeto do


próximo tópico.

As decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e


julgamento e também as posteriores à sentença só podem ser objeto
do agravo retido (art.523, Parágrafo 4º, do Código de Processo Civil)

Os recursos possuem efeitos, que são determinados pela lei.

Podemos falar assim em efeito devolutivo (isto é, que “devolve” ao


Tribunal o conhecimento sobre a questão recorrida, anteriormente
conhecida pelo juiz de primeiro grau) e efeito suspensivo (poder de
suspender, paralisar a tramitação).

O agravo possui efeito devolutivo e, em regra, não possui efeito


suspensivo. Mas, excepcionalmente, se a decisão interlocutória
atacada pela via do agravo for apta a causar prejuízo irreparável,
pode ser conferido o efeito suspensivo ao agravo de instrumento.

O agravo retido independe de preparo (diferentemente do agravo de


instrumento) e pode ser interposto por simples petição nos autos ou
mesmo oralmente (aliás, apenas oral e imediatamente se a decisão
houver sido proferida em audiência – art. 523, parágrafo 3º do
Código de Processo Civil).

Deve trazer as partes, as razões do recurso (os motivos que


embasam a pretensão recursal) e o pedido de reforma da decisão
recorrida.

Assim como no agravo de instrumento, parte contrária será ouvida


em dez dias para apresentar suas contra-razões e, ao final do
procedimento, o Tribunal proferirá acórdão confirmando ou
reformando a decisão atacada.

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As Sentenças e o Meio judicial adequado a sua impugnação: A
Apelação

Sentença, na definição do Código de processo Civil é o ato que põem


fim ao processo, decidindo ou não o mérito da questão.

Ao analisar as condições da ação e os pressupostos processuais você


pode observar que o processo pode ser extinto com ou sem
julgamento de mérito. A análise do mérito consiste na análise do
próprio pedido, da questão deduzida em juízo.

Tanto as sentenças de extinção sem julgamento do mérito quanto as


de extinção com julgamento do mérito põe fim processo.

A sentença possui requisitos essenciais enumerados no art. 458 do


Código de Processo Civil. São eles: o relatório, a fundamentação e o
dispositivo.

Toda a sentença deverá apresentar obrigatoriamente estes três


requisitos.

O relatório consiste numa breve apresentação dos fatos. A


Fundamentação apresenta a motivação, as razões de fato e de direito
que levaram o juiz a tomar a sua decisão. No tópico anterior já
mencionamos a importância da fundamentação das decisões judiciais.
A sentença não fundamentada é tomada por nula.

O dispositivo contém a parte principal da sentença, a decisão


propriamente dita tomada para aquele caso.

É de se lembrar aqui que apenas o dispositivo é alcançado pela


imutabilidade da coisa julgada. As razões expostas na fundamentação
não estão proibidas de posterior reapreciação em outro processo,
mas o dispositivo, este sim, após o trânsito em julgado da sentença
se tornará insuscetível de reapreciação.

O juiz deve observar, ao prolatar a sentença, o princípio da


congruência, ou da adstrição da sentença ao pedido consagrado no
art. 460 do código de Processo Civil.

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Segundo tal princípio, ele não pode dar nem mais, nem menos, nem
outra coisa, mas apenas o que foi pedido. A sentença deve ser reflexo
do pedido, afirma Luiz Guilherme Marinoni.

Caso a sentença conceda ao autor menos do que ele pediu estaremos


diante de uma sentença citra petita. Se ela concede mais do que o
pedido é ultra petita, se concede algo que não foi pedido é extra
petita.

Ao final do tópico “processo” você foi apresentado à classificação das


sentenças, vamos relembrá-la:

A doutrina mais antiga classifica as sentenças em declaratórias (se


declaram à existência de um direito), constitutivas (se constituem
novas situações jurídicas) ou condenatórias (se condenam alguém em
face de outrem).

Cabe observar que a doutrina mais moderna vem agregando


categorias a tal classificação. Numerosos são os autores que admitem
uma quarta espécie, a das sentenças mandamentais (que contém um
mandamento, uma ordem, como no mandado de segurança).

Outros já admitem uma quinta espécie, a das sentenças executivas,


mas esse já é uma corrente menos expressiva.

À parte que ficar insatisfeita com a sentença proferida assiste o


direito de recorrer. O recurso cabível para enfrentar as sentenças,
com ou sem julgamento de mérito, é a apelação. Assim estabelece o
art. 513 do Código de Processo Civil.

A apelação é dotada de efeito devolutivo. Fala-se aqui em


devolutividade ampla, pois permite a impugnação de qualquer erro
encontrado na sentença seja vício de forma (error in procedendo) ou
vício de julgamento (error in judicando).

A apelação “devolve” ao tribunal o conhecimento sobre a matéria


impugnada.

A apelação, em regra, será também dotada do efeito suspensivo (tem


o chamado duplo efeito: devolutivo e suspensivo). Salvo as exceções

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legais (arts. 466, 520, I a VII e 1184 do CPC), a apelação impedirá
que a sentença produza efeitos imediatos.

O prazo para a interposição da apelação é de quinze dias (art.508 do


CPC). Deve ser protocolada junto ao próprio juiz de primeiro grau que
prolatou a sentença (juiz a quo).

“Como assim? Não é o Tribunal quem vai julgar”?

Sim, é o Tribunal quem julga, mas a apelação está sujeita ao duplo


juízo de admissibilidade. Primeiro o juiz da causa admite o recurso e
confere-lhe o efeito, depois ela sobe ao Tribunal.

Deve trazer nomes e qualificação das partes, fundamentos de fato e


de direito, pedido de reforma da decisão.

Na apelação o juizo a quo também pode exercer o juízo de


retratação, caso julgue conveniente.

Na apelação, assim como no agravo, a parte contrária apresentará


suas contra-razões.

OS Tribunais, como você já sabe são órgãos colegiados, compostos


de mais de um magistrado. Normalmente, os recursos são julgados
por três juízes – um relator, um revisor e um vogal.

O relator apresenta um voto detalhado com os pormenores do caso e


a solução alvitrada. Esse voto é levado à sessão de julgamento, onde
os demais também votam e a decisão é tomada por maioria. Caso
desejem, os advogados das partes podem comparecer ao Tribunal
para “sustentação oral” na sessão de julgamento.

Apurado o resultado na sessão será lavrado o Acórdão. O Acórdão é a


decisão do Tribunal que confirma, anula ou reforma a sentença.

Bem, esses os pontos principais na disciplina dos atos processuais.

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Devo lembrá-lo de que é fundamental o exame dos dispositivos legais
citados, que não foram transcritos justamente para que você
manuseie o Código de Processo Civil.

A leitura da legislação por si só não basta. É preciso complementar


seus conhecimentos com os conceitos teóricos.
Mas, por outro lado, no tipo de concurso que você irá prestar, é
fundamental a memorização dos principais dispositivos legais sobre o
tema.

A seguir apresentarei alguns exercícios sobre os temas abordados


nesta aula e na aula passada.

Iniciaremos a próxima aula com o comentário dos gabaritos.

Divirta-se!

1) (AGU 98) Indique a opção incorreta.

Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o


interessado a requerer, nos casos e forma legais (CPC, art. 2o).
Assim, a inércia é uma das características da jurisdição, mas existem
matérias que o juiz pode apreciar de ofício, tais como:

a) inépcia da petição inicial

b) prescrição

c) incapacidade processual ou irregularidade de representação das


partes

d) incompetência absoluta

e) perempção

2)(AFRF-2002) O processo pode ser extinto:

a) sem julgamento de mérito, com homologação de transação


celebrada entre as partes.

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b) com julgamento de mérito, quando o juiz indeferir a petição inicial
fundado em decadência, ainda que o réu não tenha sido citado.
c) com julgamento de mérito, quando o juiz acolher a argüição de
perempção.

d) com julgamento de mérito, quando o juiz acolher, de oficio, a


prescrição relativa a direitos patrimoniais.

e) com julgamento de mérito, quando o juiz acolher a argüição da


existência de coisa julgada.

3)(BACEN 2001)A teoria da ação adotada pelo Código de Processo


Civil considera que

a) o exercício do direito de ação independe do conteúdo da sentença


que venha a ser proferida, quer seja de mérito ou não.

b) o direito de ação é exercitado pelo Autor ao provocar a atividade


jurisdicional.

c) não terá exercitado o Autor o direito de ação senão quando


procedente sua pretensão.

d) o exercício do direito de ação terá sido exercitado quando conduzir


à solução da lide.

e) o direito de ação é apenas o próprio direito material reagindo


contra ofensa que lhe foi feita.

4)(BACEN 2001)Para que a relação processual se constitua e


possibilite sentença de mérito é pressuposto processual, entre outros,

a) a existência de citação válida.

b) subjetivo, específico para o autor, que ele tenha capacidade


postulatória.

c) comum ao autor e réu capacidade para estar em juízo e


capacidade postulatória.

d) legitimatio ad causam do autor e do réu.

e) subjetivo específico para o réu que ele tenha capacidade para ser
parte e capacidade postulatória.

5) (BACEN 2001)A sentença põe fim ao processo, sem julgamento de


mérito:

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a) fará coisa julgada material quando a extinção resultar da
constatação da existência da perempção.
b) não transitará em julgado, uma vez que não resolveu o conflito de
interesses.

c) resulta sempre da ausência de um pressuposto de constituição


e/ou desenvolvimento da relação processual.

d) não autoriza a interposição de recurso, uma vez que fica aberta a


via da repropositura.

e) quando o faça pela existência de litispendência, será obstáculo a


que seja intentada de novo a ação, na permanência do motivo que
serviu à primeira extinção.

6)(AFC/CGU - 2003/2005)Em relação aos Princípios Constitucionais


do Processo Civil, assinale a opção correta.

a) A Constituição Federal assegura o devido processo legal no âmbito


criminal; no âmbito cível sua aplicação é feita por analogia, já que
não é expressamente previsto.

b) Nos processos administrativos não punitivos, porque não há


acusados, é desnecessária a aplicação dos princípios do contraditório
e da ampla defesa.

c) Como o réu exerce a garantia da ampla defesa na contestação,


esse princípio não possui aplicação na fase probatória.

d) O princípio do contraditório implica assegurar que as contradições


suscitadas pelas partes sejam devidamente esclarecidas pelo juiz na
sentença.

e) O princípio do juiz natural abrange a vedação de julgamentos por


juízo ou tribunal de exceção e as regras sobre competência dos
juízos.

7)(AFC/CGU - 2003/2005) Em relação à atividade jurisdicional, às


espécies de processo e à tutela jurisdicional, assinale a opção correta.

a) Para que a sentença de um processo de conhecimento produza


efeitos, é necessário um processo autônomo de execução.

b) A nulidade de citação poderá ser suscitada mesmo após o trânsito


em julgado da sentença.

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c) Quando a lide versar sobre questões de ordem pública, a jurisdição
atua sem provocação das partes.

d) Embora seja definida como administração pública de interesses


privados, a jurisdição voluntária apresenta as mesmas características
da jurisdição contenciosa.

e) O processo cautelar é acessório do processo de conhecimento, mas


não do processo de execução.

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AULA 03: O PROCESSO CIVIL E O CONTROLE
JUDICIAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

A aula de hoje enfrenta um tema limítrofe, um assunto que transita


entre o direito administrativo, o direito constitucional e o direito
processual civil.

A abordagem partirá do princípio que você, aluno, já possui os


conhecimentos elementares em direito administrativo e constitucional
e será concentrada nos aspectos processuais da matéria.

Essa opção tem dois fundamentos: o primeiro, é que pressuponho o


seu conhecimento do direito administrativo e do direito
constitucional, pois são disciplinas fundamentais em qualquer
concurso público. O segundo, é que sou professora de processo civil e
não das citadas matérias e, portanto, convém que não “me meter na
seara alheia”, ainda mais diante dos excelentes colaboradores que o
site possui.

Feita essa “exposição de motivos”, podemos passar ao nosso último


tema: “O Processo Civil e o Controle Judicial dos Atos
Administrativos”.

Noções Gerais Sobre os Tipos de Controle dos Atos


Administrativos.

Sabemos que o Poder, no Estado Moderno, é concebido de modo


tripartite. Assim, o Poder do Estado é exercido mediante três
funções: A Executiva, a Legislativa e a Judiciária.

Sabemos ainda que tais “Poderes” do Estado devem ser exercidos de


modo independente e harmônico entre si, num sistema de “freios e
contrapesos”, onde uma função pode “moderar” a outra.

Não é à toa que o art. 2º, da Constituição Federal estabelece:


“São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

O Executivo “controla” (não no sentido de submeter, pois existe a


independência dos Poderes, mas no sentido de “moderar”,
“contrabalançar”) o Legislativo através do poder de veto, enquanto
que ao Legislativo é assegurada a possibilidade de rejeitar o veto do
chefe do Executivo e o Judiciário poderá sempre apreciar a legalidade
e a constitucionalidade dos dispositivos legais resultantes desse
processo.

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Esse controle assegura o equilíbrio do sistema.

O controle dos atos do Estado (mediante o exercício de qualquer de


suas funções) é fundamental para o particular, no sentido de que
assegura as instituições democráticas.

Existe um grande número de mecanismos para o controle de tais


atos, mas, dentre todos, assume especial importância o controle dos
atos da Administração Pública (função executiva).

Os atos da administração pública são passíveis de controle legislativo,


administrativo e judicial.

Dentro desse sistema, o ponto que interessa para você, que está
discriminado no programa de direito processual civil do edital para
Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas da União, é o
controle judicial dos atos da administração pública.

Portanto, passemos a ele.

O Controle Judicial do Ato Administrativo:

A função do Poder Judiciário como controlador dos atos da


administração é verificar a sua legalidade, isto é, verificar sua
conformação aos ditames legais.

Em termos de direito comparado (isto é, do estudo do direito com


base na comparação ente os institutos jurídicos de vários países),
podemos apontar, basicamente, dois sistemas para controle dos atos
administrativos: o da dualidade da jurisdição e o da unidade da
Jurisdição.

O sistema da dualidade da jurisdição (também denominado sistema


francês) é muito comum na Europa. Nele existe uma instância
administrativa específica, separada da estrutura do poder judiciário
propriamente dito.

Tal instância, tal “justiça” administrativa (que pertence à estrutura do


Executivo e não do Judiciário) tem a atribuição de julgar as causas
referentes à invalidação ou interpretação dos atos administrativos,
que são suprimidas à competência dos órgãos da estrutura do
judiciário.

Já no sistema da unidade da jurisdição a matéria pertinente à


apreciação dos atos da administração pública não é afastada da

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competência do poder judiciário. Muitos países americanos (dentre
eles, EUA e Brasil) adotam este segundo modelo.

Veja, no entanto, que a adoção pelo ordenamento jurídico brasileiro


do sistema da unidade da jurisdição não implica na inexistência do
contencioso administrativo (que é o trâmite da solução do conflito
entre particular e administração pública pela via administrativa).

A distinção é que no sistema de dualidade da jurisdição as decisões


da Justiça Administrativa são revestidas de definitividade, são
imutáveis, estão afastadas da apreciação pelo Poder Judiciário.

Uma decisão do Conseil d’Etat, o Conselho de Estado francês (o mais


alto tribunal da instância administrativa francesa) está revestida de
definitividade, é imutável, não pode ser reapreciada por órgão do
Poder Judiciário.

O mesmo não ocorre no sistema da unidade da jurisdição. Nele, uma


questão já decidida pela administração através do contencioso
administrativo pode ser reapreciada, controlada pelo Poder Judiciário.

A consagração do princípio do Monopólio da Jurisdição entre nós pode


ser inferida, deduzida do próprio art. 5º, inciso XXXV, da Constituição
Federal (“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”).

Observe, no entanto, que, o controle exercido pelo judiciário sobre os


atos da administração pública é limitado. Ao judiciário seria dado
aferir tão somente os aspectos da constitucionalidade e da legalidade
dos atos da administração pública.

A função controladora do poder judiciário sobre os atos da


administração deveria limitar-se à análise da sua conformação aos
ditames da lei e da Constituição.

O julgador não deveria se “intrometer” no chamado mérito


administrativo, vale dizer, nos critérios de conveniência e
oportunidade considerados pelo administrador para a prática do ato.

Tal vedação decorre do próprio princípio da separação dos poderes. O


julgador não pode praticar ato próprio da administração (a aferição
da conveniência e da oportunidade), sob pena de infringência do
próprio art. 2º da Constituição.

O particular pode servir-se de qualquer via processual (qualquer


ação) adequada a reparar uma lesão ou ameaça ao seu direito em
face da administração.

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No entanto, existem meios judiciais específicos para a provocação do


controle judicial. São ações peculiares, voltadas para a tutela dos
interesses dos particulares em face da administração, concebidas
como mecanismos mais eficientes para esse fim.

Dentre eles, podemos citar o Mandado de Segurança, a Ação popular


e a Ação Civil Pública. Conforme orienta o programa do edital,
passaremos à análise de cada um deles.

O Mandado de Segurança Como Meio de Controle Judicial do


Ato Administrativo

O Mandado de Segurança é uma ação mandamental, isto é, busca na


tutela jurisdicional um mandamento, uma ordem. A sua origem
remonta ao direito saxão, ao writ of mandamus da common law.

É uma ação com fundamento constitucional. Podemos falar em


mandado de segurança individual (art. 5º, inciso LXIX, da
Constituição Federal) e mandado de segurança coletivo (art. 5º,
inciso LXX, da Constituição Federal).

É uma garantia do cidadão, um “remédio” constitucional e encontra


sua regulamentação na lei 1533/51.

Assegura o direito líquido e certo do particular em face do ato de


ilegalidade ou abuso de poder praticado por uma autoridade coatora
(representante do poder público).

É direito líquido e certo aquele que pode ser comprovado de plano


pelo juiz (isto é, imediatamente, “de cara”, num golpe de vista),
aquele que tem prova pré-constituída.

Hely Lopes de Meirelles o conceitua direito líquido e certo: “é aquele


que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado em sua
extensão e apto a ser exercido no momento da impetração”.

A prova da certeza e da liquidez do direito alegado deve acompanhar


a petição inicial (a petição inicial, também denominada peça exordial,
é o instrumento que inicia a “demanda”, o processo, qualquer que
seja ação, lembra-se?).

Diz-se, então, que o mandado de segurança exige prova pré-


constituída quanto à existência do direito líquido e certo.

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Se tal prova não existir, o impetrante não poderá servir-se do
mandado de segurança, terá que propor uma ação ordinária de
conhecimento.

Isto ocorre porque o mandado de segurança possui um rito, um


procedimento diferenciado, mais célere (denominado rito sumário
especial), pois é um instrumento voltado para a imediata proteção do
particular em face da arbitrariedade do Estado.

Se a parte não dispõe da prova pré-constituída para comprovar a


certeza e liquidez do seu direito, não poderá “impetrar” o mandado
de segurança.

Deverá, no caso, propor uma ação ordinária que permita a dilação


probatória. Aí, na fase instrutória, adequada à produção de provas,
promoverá a comprovação dos fatos que demonstram seu direito.

O mandado de Segurança possui todo um procedimento próprio


previsto na lei 1533/51, complementado pela aplicação subsidiária do
Código de Processo Civil.

Então, o procedimento do Mandado de Segurança é especial, previsto


com vários detalhes na lei 1533/51, mas, naquilo que a lei calar e no
que o Código de Processo Civil não a contrariar, serão aplicadas suas
disposições gerais.

A aplicação subsidiária do Código de Processo Civil é uma aplicação


complementar, supletiva, no que couber, naquilo que não que não
contrariar a lei específica.

O termo “impetração” é usado para designar a propositura de certas


ações como o mandado de segurança, o habeas corpus, o habeas
data.

O habeas corpus é o remédio constitucional destinado à proteção do


direito à locomoção (direito de ir e vir e, por isso é utilizado para
reparar a privação da liberdade).

O direito à locomoção é líquido e certo, assegurado na Constituição


Federal a todos, mas, já que possui remédio específico (o habeas
corpus) para a sua proteção, não pode ser defendidos pela via do
mandado de segurança.

O habeas data é o remédio constitucional destinado a assegurar o


direito de informação do particular em face do Estado (assegura o
direito de petição).

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Atenção: não confunda “mandado” e “mandato” (são coisas muito
diferentes, não tem nada em comum! Nunca diga “mandato de
segurança!”).

Mandato é instituto do direito civil. Nele, uma pessoa, impossibilitada


de efetivar um ato ou negócio jurídico, designa outra para fazê-lo em
seu nome. A procuração é um instrumento de mandato no qual o
outorgante delega poderes ao outorgado.

O “mandado de segurança” é uma ação destinada a corrigir um ato


coator, uma arbitrariedade de um representante do poder público em
face de um particular, que possui um direito líquido e certo.

No mandado de segurança, caso o juiz “conceda a segurança” (isto é,


julgue o pedido do autor procedente, isto é verifique a necessidade
de “assegurar” o direito líquido e certo), proferirá uma sentença que
contém uma ordem um “mandamento”, daí o termo mandado de
segurança.

O objeto do mandado de segurança é atacar um ato ou conduta


ilegal, uma ilegalidade ou abuso de poder de qualquer autoridade em
face do direito subjetivo de um particular. O mandado de segurança
visa, enfim, coibir o assim chamado ato coator.

Na verdade, o mandado de segurança está apto a sanar tanto o ato


quanto a omissão lesiva do poder público.

Hely Lopes de Meirelles define como ato de autoridade, suscetível de


mandado de segurança, toda ação ou omissão do Poder Público e de
seus delegados, no desempenho de suas funções ou a pretexto de
exercê-las.

Aqui podemos inferir o legitimado passivo, isto é, quem vai figurar no


pólo passivo da ação no mandado de segurança: “autoridade do
poder público” (isto é, aquele agente do poder público que detinha o
poder decisório para a prática do ato coator) ou aquele que
desempenha funções do poder público.

Em geral o mandado de segurança terá como legitimado passivo


alguém que pertença aos quadros do estado, isto é desempenhe uma
atividade do poder público com poder de decisão.

No entanto há casos específicos em que alguém que exerce função


privada poderá figurar no pólo passivo. Isto ocorrerá em caso de
delegação. Assim, o reitor de uma Universidade, por exemplo, está
sujeito ao mandado de segurança, pois a educação é função do
Estado, no caso, delegada ao particular.

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O legitimado passivo terá prazo para informar o juízo das razões do


ato praticado. Tais informações não constituem uma defesa técnica.

A defesa técnica será feita pelo órgão responsável pela defesa judicial
da entidade da administração pública a qual se vincula a autoridade
coatora.

Assim, imagine que um administrado importa mercadoria, que fica


retida (no entender do particular, indevidamente) no armazém de
carga do aeroporto “X”.

O mandado de segurança será impetrado em face da autoridade


responsável, o inspetor da alfândega do aeroporto “X”. Ele será citado
para prestar informações e o fará, mas será um Procurador da
Fazenda Nacional (responsável pela defesa judicial dos órgãos
vinculados à Secretaria da Receita Federal) quem fará a defesa
técnica.

O legitimado ativo, no mandado de segurança individual é a pessoa


natural (indivíduo) ou jurídica (empresa, entidade etc.) que teve seu
direito líquido e certo (exceto o de locomoção, protegido por habeas
corpus) lesado ou ameaçada por qualquer autoridade.

O mandado de segurança coletivo, com o próprio nome permite


antever, visa à proteção de direitos coletivos de que sejam titulares
partidos políticos com representação no Congresso Nacional (art. 5º,
LXX, alínea a, da Constituição Federal), organização sindical, entidade
de classe ou associação Nacional (art. 5º, LXX, alínea b, da
Constituição Federal).

No mandado de segurança coletivo os legitimados vão a Juízo


defender de modo coletivo os direitos de seus integrantes, de seus
associados.

A impetração do mandado de segurança se sujeita a prazo


decadencial de cento e vinte dias, a ser contado do conhecimento da
prática do ato.

Aqui precisaremos parar um pouco nossa análise do mandado de


segurança para cometer a ousadia de introduzir alguma explicação
sobre a decadência e a prescrição.

Preferiria não fazê-lo, pois a prescrição e a decadência são institutos


afetos ao direito civil, não ao processo civil. Mas, tenho recebido e-
mails dando conta de dúvidas acerca de tais institutos e da

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necessidade que vocês têm sentido de alguma orientação em direito
civil.

Por isso, peço antecipadamente desculpas por invadir a praia de


algum colega. Solicito ainda a complacência de vocês, pois são
institutos extensos e complexos, que dariam um curso só para eles,
mas que precisaremos abordar de modo extremamente superficial.

Não tenho (nem posso ter) a pretensão de esgotar o tema, mas


apenas de fornecer conceitos simplificados, precários mesmo, apenas
para auxiliar a compreensão do nosso tema.

Portanto, salve agora no disco rígido da sua mente todas as


informações novas do arquivo MANDADO DE SEGURANÇA (depois
voltaremos a ele) e abra um novo arquivo, com o nome PRESCRIÇÂO
E DECADÊNCIA.

Devemos considerar que o tempo possui uma atuação no mundo


jurídico. Um aspecto especialmente relevante desta atuação do
tempo ocorre sobre as relações jurídicas.

Existem certos direitos que para serem exercidos devem observar


determinados prazos.

Existe um brocardo romano que, traduzido, significa: “o direito não


socorre ao que dorme”. Imagine que um sujeito tem determinado
direito em face de outro e não o exerce, não porque exista qualquer
obstáculo, mas tão somente porque prefere permanecer inerte.

O fato de existir a possibilidade de exercício de um direito pesando


eternamente sobre a cabeça do sujeito passivo daquele direito (do
devedor numa relação obrigacional, por exemplo) gera instabilidade,
traz insegurança, ameaça à paz social.

Por isso, o transcurso de um determinado prazo razoável estabelecido


em lei para o exercício do direito aliado à inércia do seu titular produz
efeitos.

Estamos falando aqui da prescrição extintiva e da decadência.

Adianto–lhe que existe muita divergência doutrinária sobre o tema.

Autores clássicos, renomados, endossam correntes diversas, mas,


para atingir nosso objetivo, nos afastaremos dessas querelas e
abordaremos o tema de modo extremamente simplificado.

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A prescrição, para parte significativa da doutrina, seria o efeito do
decurso de prazo e da inércia do titular sobre os direitos subjetivos.

Toda relação jurídica compreende um sujeito ativo é um sujeito


passivo. Tais sujeitos encontram-se envolvidos numa relação de
prestação e contraprestação.

Tomemos o exemplo de uma relação obrigacional: João comprou de


Pedro um relógio. João deve pagar o preço a Pedro e Pedro deve
entregar o relógio a João. Se João não pagar o preço, Pedro não
precisa entregar o relógio.

Os direitos subjetivos são passíveis de prescrição. Na prescrição, após


o decurso de prazo o sujeito não poderá exercer a proteção do seu
direito, isto é, não poderá propor a ação que protegeria o seu direito
material.

Imagine um caso no qual Pedro recebeu de João um cheque como


pagamento pela venda do relógio, que foi entregue em perfeitas
condições. Pedro depositou o cheque, que foi devolvido. Mas, ao
invés de executar o cheque de João no prazo estabelecido em lei,
Pedro nada faz.

Após o decurso do respectivo prazo prescricional, Pedro até poderá


executar o cheque de João, mas se João vier a juízo e alegar
prescrição, não poderá ser obrigado a pagar.

Direito de receber o valor remanesce (obrigação natural). Caso João


queira honrar o compromisso e espontaneamente pagar o valor a
Pedro, este não será indevido.

Por sua vez, Pedro até poderá propor uma ação, no entanto,
esgotado o prazo prescricional, se a parte a quem favorece a
prescrição a invocar em juízo, estará liberada do seu pagamento.

Veja que a prescrição deve ser alegada pela parte favorecida por ela,
não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz.

Ao reconhecer a prescrição o juiz profere sentença que extingue o


processo com julgamento do mérito, isto significa que, após o seu
trânsito em julgado, não mais poderá ser proposta outra ação
idêntica, pois haverá coisa julgada material.

A prescrição se sujeita às causas de impedimento, interrupção e


suspensão.

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Existem fatos que impedem o início da fluência do prazo
prescricional. Entre cônjuges, por exemplo, só corre a prescrição após
o término da relação conjugal. É uma causa moral, voltada para a
preservação do casamento.

A suspensão é a paralisação da contagem do prazo prescricional. Na


suspensão o prazo que já correu é computado e a contagem será
retomada após a cessação da causa de suspensão.

Já a interrupção destrói o prazo já computado, apaga-o


definitivamente, e determina um novo início da contagem. Veja que
um dos fundamentos da prescrição é a inércia do “credor” na relação
jurídica. Se o sujeito rompe essa inércia, nada mais justo do que
reiniciar a contagem do prazo.

Assim, no exemplo mencionado, Se Pedro protesta o cheque de João,


interrompe-se a prescrição, ou seja, o prazo prescricional recomeça a
fluir tendo com termo inicial a data da notificação do protesto.

A decadência, por sua vez, seria o efeito do tempo aliado à inércia do


titular em relações jurídicas decorrentes de direitos potestativos.

Direito potestativo é aquele no qual o sujeito ativo tem um poder, ao


qual corresponderia tão somente uma sujeição por parte do sujeito
passivo.

A decadência pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, não precisa ser
alegada pela parte. O seu reconhecimento também implica em
extinção do processo com o julgamento do mérito.

A decadência, em regra, não se suspende nem se interrompe. Flui


continuamente, não podendo ser obstada.

Atenção: não confunda prescrição, decadência e preclusão. Prescrição


afeta o exercício do direito material, a decadência atinge o próprio
direito material e a preclusão nada tem com isso!

A preclusão é tão somente a perda da faculdade de praticar um ato


dentro do processo, não afeta em nada o direito material.

Prescrição e decadência são institutos afetos ao direito civil, não ao


direito processual, muito embora tenham conseqüências processuais
(geram a extinção do processo com o julgamento do mérito).

A preclusão é instituto afeto ao direito processual, produz efeitos


apenas dentro do processo.

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Voltando ao nosso tema, veja então que o prazo para impetração do
mandado de segurança é um prazo decadencial de 120 dias a contar
do conhecimento do ato ou omissão da autoridade.

Vale dizer que o prazo não conhecerá causas de interrupção ou


suspensão e, após o seu transcurso, se a ação eventualmente for
proposta, o juiz a extinguirá com julgamento do mérito,
reconhecendo a decadência de ofício, independentemente de
alegação da parte contrária.

Claro que pelo princípio da inafastabilidade da apreciação do poder


judiciário, o particular ainda poderá buscar a tutela jurisdicional para
corrigir a irregularidade, mas agora terá que recorrer às vias
ordinárias, pois ocorreu a decadência do seu direito de impetrar a via
mais célere do mandado de segurança.

Lembre-se de que o direito não socorre ao que dorme... É o famoso


“bobeou, dançou”.

Prosseguindo no estudo do mandado de segurança é preciso ressaltar


que é admitida a concessão de liminar, até mesmo antes do
recebimento das informações da autoridade coatora pelo juiz.

A liminar é uma decisão precária, anterior à sentença que porá fim ao


processo. A decisão em caráter liminar tem natureza de decisão
interlocutória.

Visa acautelar, prevenir e, em certos casos, pode ser concedida


inaudita altera pars, ou seja, antes de se ouvir a outra parte (lembre-
se que já a conheceu ao analisar os casos de contraditório diferido,
adiado).

Pode ser concedida na presença de dois pressupostos: o periculum in


mora e o fumus boni iuris.

O periculum in mora é o perigo na demora. Consiste na possibilidade


e que um dano irreparável ou de difícil reparação venha a ocorrer
caso a irregularidade não seja rapidamente corrigida. É uma situação
na qual não se pode esperar pela prolação da sentença, sob pena de
que o dano já haja se efetivado antes mesmo do fim do processo.

O fumus boni iuris é a fumaça do bom direito, isto é, é a aparência do


direito. A presença do fumus boni iuris se verifica numa boa
possibilidade de que o alegado pelo autor corresponda ao correto, em
uma situação na qual já de início, pelo menos aparentemente, o
direito assista ao autor.

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A competência para o julgamento do mandado de segurança segue o
critério ratione personae, se verifica em função da pessoa da
autoridade impetrada.

Se a autoridade da administração pública responsável péla prática do


ato coator for o Presidente da República, as mesas da Câmara ou do
Senado, o Tribunal de Contas da União, o Procurador–Geral da
República ou o próprio STF, o órgão competente para julgá-las é o
Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, da Constituição Federal).

Se for ministro de Estado ou o STJ, é caso de competência originária


do STJ (art.105, I, “b”, da Constituição Federal).

Se a ato houver sido praticado por TRF ou Juiz Federal, é competente


o Tribunal Regional Federal (art. 108, I, “c”, da Constituição Federal)

Quando a pratica do ato decorrer de autoridade da administração


vinculada à União, a competência para processar e julgar o mandado
de Segurança será do Juiz Federal (de primeiro grau).

No caso das autoridades ligadas aos demais membros da federação a


Justiça comum será a competente, sempre de acordo com as
respectivas constituições estaduais, regimentos internos dos tribunais
e códigos de organização judiciária.

É de se lembrar que, quando cabível recurso ou correição, o mandado


de segurança não é via processual adequada a atacar ato judicial.

Analisado o mandado de segurança em seus principais contornos,


resta apenas lembrar que é admitido também de modo preventivo
para impedir a prática de ato iminente (em vias de ser praticado) da
autoridade que, se praticado causaria lesão ou ameaça ao direito do
particular.

O mandado de segurança é muito útil como meio de controle dos atos


da administração pública, tendo em vista seu procedimento especial e
a possibilidade de concessão de medida liminar, e impetração tanto
de modo individual (para defender o interesse de uma só pessoa)
quanto coletiva (para proteção dos interesses de vários indivíduos),
mas não é único mecanismo judicial voltado para este fim.

A seguir, passaremos a analisar a ação popular, um outro meio para


o controle judicial do ato administrativo.

A Ação Popular Como Meio de Controle Judicial do Ato


Administrativo.

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A ação popular tem fundamento constitucional no art. 5º, inciso


LXXIII, e é regulamentada pela lei 4717/65.

Seu objetivo é tutelar o patrimônio público, a moralidade


administrativa e o meio ambiente, através da invalidação do ato
lesivo e conseqüente restabelecimento da legalidade por ele ofendida.

Tem por objeto principal, portanto, a desconstituição do ato lesivo ao


patrimônio público, a moralidade administrativa e o meio ambiente,
ao patrimônio histórico e cultural.

Segundo afirma Diogo de Figueiredo Moreira Neto, o ato lesivo é


ilegal (viola a ordem jurídica) e é ilegítimo (se desvia a finalidade
pública que o justificaria).

Patrimônio público deve ser entendido como bens e direitos de valor


econômico, artístico, estético, paisagístico, histórico, cultural. Tem
sentido material e imaterial.

A moralidade administrativa não se identifica tão somente com o


sentido vulgar, ligado à ética, às intenções, mas compreende um
sentido de resultado, que decorre do fato do agente público ter
conduzido seu agir de modo a atingir efeitos normalmente aceitáveis,
ter cumprido com o seu dever de boa administração.

Além da desconstituição do ato lesivo a sentença proferida na ação


popular poderá também determinar o pagamento de perdas e danos,
caso tenha sido possível apurar a culpa dos praticantes do ato.

Veja então que nesse caso, a sentença será a um tempo


desconstitutiva (do ato lesivo) e condenatória (do culpado pela
prática do ato, que será condenado nas perdas e danos).

É legitimado à propositura da ação popular qualquer cidadão. A


qualidade de cidadão é comprovada pela comprovação da qualidade
de eleitor na petição inicial da ação popular (art. 1º, parágrafo 3º, da
lei 4717/65).

O art. 6º, da lei 4717/65, estabelece a legitimação passiva (bastante


ampla) para a ação popular. Podem figurar no pólo passivo da ação
popular o ente responsável pela prática do ato lesivo (pessoa jurídica
de direito público ou privado), os servidores e funcionários que
contribuíram para a sua prática e terceiros eventualmente
beneficiados pelo ato lesivo.

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Aqui haverá o fenômeno da pluralidade de réus, onde vários sujeitos
figurarão no pólo passivo da ação (litisconsórcio passivo).

Um aspecto interessante na ação popular é que, caso deseje, a


pessoa jurídica apontada no pólo passivo pode deixar de contestar a
ação e juntar-se ao cidadão no pólo ativo.

Presentes o periculum in mora e o fumus boni iuris é admitida a


concessão de medida liminar na ação popular.

Uma que merece destaque na disciplina da ação popular é a dos


efeitos produzidos pela coisa julgada.

Em regra, na maioria das ações, a coisa julgada produz efeitos


apenas inter partes, vale dizer apenas àqueles que participaram da
lide estarão sujeitos aos efeitos diretos da sentença.

Essa é a regra geral: a sentença proferida num dado processo


alcança apenas aqueles que nele figuraram como partes, não
produzindo efeitos diretos (mas apenas efeitos reflexos) sobre
terceiros.

Aos poucos, pensando principalmente na economia processual, no


atendimento aos interesses de várias pessoas através de um mesmo
processo, o legislador estabeleceu casos em que é atribuído o efeito
erga omnes (e não apenas o inter partes) à coisa julgada, à sentença
transitada em julgado.

O termo latino erga omnes significa “contra todos”, em face de todos.


Diz-se que a sentença proferida em dado processo produz coisa
julgada erga omnes, quando seus efeitos atingem não apenas
àqueles que nele figuraram como partes, mas outros não integrantes
daquela relação jurídica processual.

A sentença com eficácia erga omnes tem efeitos extensivos a todos,


vale para “todo mundo”.

No art. 18 da lei da ação popular o legislador da época inovou. Dispôs


efeitos diversos para as sentenças proferidas na ação popular,
segundo a natureza do pronunciamento ofertado.

As sentenças proferidas na ação popular terão efeitos erga omnes,


salvo no caso em que o juiz decidir pela improcedência do pedido
com base na insuficiência das provas apresentadas pelo próprio
autor. Em tal caso, a coisa julgada terá efeito inter partes.

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A sentença com eficácia inter partes tem efeitos aplicados apenas aos
litigantes naquela demanda, não se estende às outras pessoas, a
quem não participou da lide.

Atribuindo-se efeito inter partes à sentença que decidiu pela


improcedência do pedido do autor com base na mera insuficiência de
provas, o cidadão melhor provido de meios probatórios poderá propor
ação popular com mesmo pedido e causa de pedir em face do mesmo
réu e lograr êxito em desconstituir o ato lesivo.

Tal se dá com o fundamento de que o ato da administração lesivo ao


patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente é,
por definição, um ato lesivo a todos, não apenas ao cidadão que
intentou a ação popular.

Hely Lopes de Meirelles afirma que pela via da ação popular não são
tutelados interesses próprios, mas da comunidade e que o seu
beneficiário direto não é o autor popular isoladamente, mas o povo,
que é, nas suas palavras, titular do direito subjetivo ao governo
honesto.

Diogo de Figueiredo Moreira Neto afirma mesmo que o cidadão age


aqui como substituto processual de todo o povo.

A lei da ação popular isenta o autor popular das custas e dos ônus da
sucumbência, salvo tenha ele agido com comprovada má fé.

Custas são os valores que devem ser recolhidos quando da


propositura da ação e os ônus da sucumbência agravam o vencido no
litígio.

Quando alguém perde a ação é condenado a pagar um percentual


sobre o valor da causa (até vinte por cento) que é revertido para o
advogado da parte vencedora.

Caso não houvesse a previsão legal de isenção, o instrumento


processual seria infrutífero, pois como poderia um cidadão arcar com
os custos da propositura de uma ação para tutelar um bem de valor
alto (um bem integrante do patrimônio histórico, por exemplo, uma
obra de arte) com o risco de eventualmente não prosperar?

O procedimento da lei 4717/65 prevê a intervenção do Ministério


Público no feito como custos legis.

Na qualidade de custos legis o Ministério atua não como parte


interessada, mas como fiscal da lei, zelando pelo seu fiel
cumprimento.

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A Ação Civil Pública Como Meio de Controle Judicial do Ato


Administrativo.

A base constitucional da Ação Civil Pública encontra-se no art. 129,


III, da Constituição federal e a sua regulamentação na lei 7347/85.

A Constituição Federal menciona em “patrimônio público e social,


meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos”.

A Ação Civil Pública visa à proteção ao meio ambiente, aos direitos do


consumidor, dos bens de valor estético, artístico, históricos,
paisagísticos, proteção contra infrações à ordem econômica.

Diz-se que o rol de bens tutelados citados pela Constituição e pela lei
é apenas exemplificativo e não exaustivo. Isto significa que não
apenas os bens acima citados podem ser tutelados pela via da ação
civil pública. Mas qualquer interesse difuso e coletivo.

Como vocês já devem saber os interesses ou direitos difusos são


aqueles de natureza indivisível, transindividual, cuja titularidade é
atribuída a pessoas indeterminadas e ligadas por uma circunstância
de fato.

Os interesses ou direitos coletivos são aqueles de natureza indivisível,


transindividual, cuja titularidade é atribuída a um grupo, que é uma
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou à parte contrária
por uma relação jurídica base.

Podemos mencionar aqui ainda uma outra categoria de direitos, os


individuais homogêneos. Mas veja que aqui se trata de direito
individual, não transindividual, não existe uma coletividade
reconhecida num grupo. Trata-se apenas de um tratamento plural
para direito individuais.

A ação civil pública possui rito especial, nela se obtém uma tutela
específica.

A sentença proferida na ação civil pública pode consistir em


condenação do réu a fazer ou deixar de fazer algo que vá causar
dano aos bens por ela tutelados (obrigação de fazer ou não fazer) e
pode trazer condenação ao pagamento de valores em dinheiro.

A essa altura, você já deve ter observado que a ação popular e a


ação civil pública têm em comum a defesa de certos bens, como o

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meio ambiente e o patrimônio histórico, isto é, ambas prestam-se a
tutelar os interesses difusos ou coletivos.

Mas observe que a tutela prestada por cada uma delas é diversa. A
ação popular objetiva, fundamentalmente, a desconstituição do ato
ilegal da administração e a ação civil pública visa à tutela preventiva
ou repressiva relativamente ao dano.

A tutela repressiva atuará nos casos em que o dano já se efetivou, já


ocorreu. Aqui a sentença obrigará um não fazer (uma abstenção para
evitar que dano maior seja causado) e a própria reparação do dano já
causado.

A tutela preventiva visa evitar a consumação do dano iminente

Na Ação Civil Pública, admite-se a concessão de medida liminar para


evitar que o dano se efetive sempre que presentes o periculum in
mora e o fumus boni iuris.

Atente para o fato de que, em certos casos, ação popular e ação civil
pública poderão ser propostas simultaneamente com relação ao
mesmo fato, pois tutelar os mesmos interesses, mas possuem
objetivos diversos.

Estão legitimados à sua propositura o Ministério Público (que exerce o


papel de guardião dos direitos da sociedade), pessoas jurídicas de
direito público (autarquias, fundações autárquicas), pessoas da
administração indireta (empresas públicas, fundações, sociedades de
economia mista) e associações civis em geral.

As associações são legitimadas ativas desde que incluam entre as


suas finalidades a proteção dos valores tutelados pela via da ação
civil pública e tenham sido constituídas há pelo menos um ano.

Quando o legitimado à ação civil pública for o Ministério público,


haverá um inquérito civil prévio. O inquérito civil é um procedimento
que visa preparar a instrução (o suporte probatório) da ação civil
pública a ser futuramente proposta.

Com relação à legitimação passiva, pode figurar qualquer pessoa,


natural ou jurídica, pública ou privada.

A ação civil pública, diferentemente das duas ações descritas


anteriormente (mandado de segurança e ação popular) não se
constitui exclusivamente em meio de impugnação de ato de
administração, mas também se presta a ser proposta em face de
outros entes.

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Assim como na ação popular, a ação civil pública possui variação nos
efeitos da coisa julgada segundo a natureza da sentença nela
proferida.

A sentença proferida na ação civil publica faz coisa julgada erga


omnes, exceto se for fundamentada na insuficiência de provas,
quando possuirá efeito inter partes.

A eficácia erga omnes, no entanto, estará aqui restrita à delimitação


da competência territorial do órgão que a prolatou, ou seja, produzirá
efeito erga omnes (extensivo a todos) apenas no âmbito de jurisdição
do órgão do poder judiciário que a proferiu.

Essa restrição à eficácia erga omnes da coisa julgada na sentença da


ação civil publica fundamentada em prova suficiente não impede que
uma nova ação popular com o mesmo objetivo seja proposta perante
um outro órgão jurisdicional, de base territorial diversa.

Tal restrição foi uma alteração introduzida pela lei 9494/97 e sofre
muitas críticas, pois ofende a segurança jurídica na medida em que
para uma mesma causa poderão ser proferidas decisões diferentes,
caso o juízes das ações posteriores decidam de modo diverso do
primeiro.

Tomemos o exemplo de uma sentença proferida em ação civil pública


da competência da justiça federal, decidida em segunda instância
pelo Tribunal Regional Federal da Segunda Região, cuja base
territorial é constituída pelos estados do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo e uma outra sentença posterior e contrária à primeira,
proferida por outro TRF (do sul, por exemplo).

Teríamos populações de diferentes estados recebendo tratamentos


diversos com relação aos mesmos direitos. Isso ofende a segurança
jurídica.

No caso da fundamentação em insuficiência de provas (que terá


apenas efeitos inter partes), qualquer legitimado que obtenha nova
prova sobre o fato, poderá propor nova ação civil pública em face do
réu, com mesma causa de pedir e pedido.

Vejam que quem figura no pólo passivo do mandado de segurança é


a própria autoridade coatora (Lembra-se do nosso exemplo do
inspetor da alfândega do aeroporto “X”?). O mandado de segurança
ataca ilegalidade ou abuso de poder praticado por uma autoridade.

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Na ação popular figura no pólo passivo a pessoa jurídica de direito
público que praticou o ato ilegal que deve ser desconstituído (o
servidor responsável também figurará como litisconsorte).

Na ação civil pública que busca impugnar atos praticados pela


administração pública também é a pessoa jurídica que praticou o ato
danoso quem figura no pólo passivo.

Faltou apenas dizem que tanto a ação popular quanto a ação civil
pública não possuem regras de competência especiais, como o
mandado de segurança.

Ambas serão propostas na justiça comum estadual ou na justiça


federal (conforme o responsável pela prática do ato esteja vinculado
ao poder federal ou estadual), junto aos seus respectivos órgãos de
primeiro grau (comarcas ou varas federais) segundo as regras
normais de competência.

Bem, chegamos ao final da exposição teórica do nosso curso,


cobrindo todos os pontos elencados no programa apresentado de
início.

Decidi deixar a correção dos exercícios da aula passada para a nossa


última aula para privilegiar a conclusão dos conteúdos, em razão da
proximidade da prova.

A próxima aula será disponibilizada até sexta-feira e conterá os


gabaritos comentados dos exercícios oferecidos nesta aula e na aula
imediatamente anterior e ainda, atendendo aos seus pedidos, quadro
sinóticos resumindo a matéria.

Desculpo-me pela demora na resposta aos e-mails do fórum, mas


infelizmente nosso curso foi bastante corrido, graças à proximidade
da prova e devido a outros compromissos que tenho, e por isso não
pude atendê-los com a regularidade que gostaria.

Comprometo-me, no entanto a concentrar-me na resposta aos e-


mails, após a disponibilização da última aula para responder a todos.

Alguns poderão observar que venho buscando sanar algumas dúvidas


apresentadas através das próprias aulas, quando possível.

Concentrem-se no estudo.

Até amanhã!

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1) (TCU/02) A impetração do mandado de segurança:

a) descabe contra decisão judicial de qualquer natureza.

b) cabe, ainda que contra o ato caiba medida correicional.

c) que tenha resultado em decisão denegatória, nunca admite sua


renovação.

d) que tenha resultado em sentença que o denega por inexistência do


direito líquido e certo, não obsta que o impetrante intente a ação
própria.

e) que resulte, desde logo, em indeferimento, enseja agravo.

2) Proposta a ação popular:

a) o Ministério Público, obrigatoriamente intimado, pode assumir a


defesa do ato impugnado.

b) a pessoa jurídica cujo ato seja objeto de impugnação deverá


defender-se, vedada sua atuação ao lado do Autor.

c) não se admite a habilitação de qualquer cidadão como assistente.

d) ocorrendo a absolvição de instância, pode o Ministério Público


promover o prosseguimento da ação.

e) a sentença que julgue improcedente a ação não admite que outro


cidadão intente outra ação com o mesmo fundamento.

45- A sentença proferida em ação civil pública:

a) relativa a direitos homogêneos, faz coisa julgada erga omnes


qualquer que seja a decisão de mérito.

b) não faz coisa julgada em qualquer hipótese de improcedência.

c) quando faz coisa julgada, o faz nos limites da competência


territorial do órgão prolator.

d) julgando improcedente o pedido por insuficiência de prova, faz


coisa julgada erga omnes.

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e) relativa a direitos difusos, dando pela improcedência do pedido,
admite que qualquer legitimado intente outra ação com idêntico
fundamento.

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