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O objetivo da pesquisa apresentada se desenvolve em torno da questão: considerando a dimensão global do “acontecimento ambiental” e a tendência à ambientalização das diferentes áreas do conhecimento, quais são os desenvolvimentos desses processos no campo da educação física no âmbito da pesquisa acadêmica? O corpus da pesquisa foi composto por discursos publicados em periódicos científicos que apresentam propostas de inserção da dimensão ambiental na educação física no Brasil. O corpus foi analisado a partir da Análise Textual Discursiva e os resultados evidenciam tendências e questões que se desdobram sobre processos de ambientalização da educação física no Brasil na atualidade.
Judul Asli
A pesquisa acadêmica sobre a inserção da dimensão ambiental na educação física no Brasil (Motrivivência, 2014)
O objetivo da pesquisa apresentada se desenvolve em torno da questão: considerando a dimensão global do “acontecimento ambiental” e a tendência à ambientalização das diferentes áreas do conhecimento, quais são os desenvolvimentos desses processos no campo da educação física no âmbito da pesquisa acadêmica? O corpus da pesquisa foi composto por discursos publicados em periódicos científicos que apresentam propostas de inserção da dimensão ambiental na educação física no Brasil. O corpus foi analisado a partir da Análise Textual Discursiva e os resultados evidenciam tendências e questões que se desdobram sobre processos de ambientalização da educação física no Brasil na atualidade.
O objetivo da pesquisa apresentada se desenvolve em torno da questão: considerando a dimensão global do “acontecimento ambiental” e a tendência à ambientalização das diferentes áreas do conhecimento, quais são os desenvolvimentos desses processos no campo da educação física no âmbito da pesquisa acadêmica? O corpus da pesquisa foi composto por discursos publicados em periódicos científicos que apresentam propostas de inserção da dimensão ambiental na educação física no Brasil. O corpus foi analisado a partir da Análise Textual Discursiva e os resultados evidenciam tendências e questões que se desdobram sobre processos de ambientalização da educação física no Brasil na atualidade.
FSICA NO BRASIL Cae Rodrigues 1 RESUMO O objetivo da pesquisa apresentada se desenvolve em torno da questo: considerando a dimenso global do acontecimento ambiental e a tendncia ambientalizao das diferentes reas do conhecimento, quais so os desenvolvimentos desses processos no campo da educao fsica no mbito da pesquisa acadmica? O corpus da pesquisa foi composto por discursos publicados em peridicos cientfcos que apresentam propostas de insero da dimenso ambiental na educao fsica no Brasil. O corpus foi analisado a partir da Anlise Textual Discursiva e os resultados evidenciam tendncias e questes que se desdobram sobre processos de ambientalizao da educao fsica no Brasil na atualidade. Palavras-chave: Meio Ambiente; Gesto do Conhecimento; Educao. Motrivivncia v. 26, n. 42, p. 194-206, junho/2014 1 Doutor em Educao (UFSCar/Monash University). Professor Adjunto UFS, Sergipe, Brasil. E-mail: cae_jah@hotmail.com http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2014v26n42p194 V. 26, n 42, junho/2014 195 INTRODUO 2 Levando em considerao as dispu- tas que se desdobram em meio reproduo (e consequente perpetuao) de smbolos legitimados/naturalizados como dominan- tes por histricos embates de fora e a construo/legitimao de novos/diferentes smbolos que desafam o convencionalismo do campo educativo, a pesquisa acadmica se apresenta como signifcativo capital sim- blico formalizado sustentado pela fora do campo cientfco/acadmico, uma vez que no mbito da pesquisa que a comu- nidade acadmica reconhece e legitima os smbolos que de forma contnua e constante (re)constituem as fronteiras (alcances e limites) dos fenmenos socioculturais. Em outras palavras, reconhecendo-se o papel das instituies acadmicas na legitimao de fenmenos socioculturais diante da so- ciedade de maneira mais ampla, a pesquisa desempenha um papel protagonista no reconhecimento/legitimao dos smbolos/ estruturas que constituem esses fenmenos, especialmente pelos prprios atores que fazem parte do universo acadmico. Nesse contexto, os peridicos cientfcos aparecem como um dos principais instrumentos de reconhecimento/legitimao da pesquisa, uma vez que os discursos publicados em peridicos passam pela avaliao de atores que so reconhecidos diante da comunida- de acadmica como especialistas, ou seja, atores da esfera dominante em suas reas. Nesses contnuos e constantes processos de construo/constituio dos fenmenos socioculturais no mbito da pesquisa, as diferentes reas do conheci- mento disputam os espaos de apropriao da razo ou espaos de dominncia, uma busca incessante por um reconhecimento de autoria sobre os smbolos em disputa (BOURDIEU, 2004). Nesse sentido, os smbolos e estruturas que constituem os saberes/conhecimentos associados a fen- menos socioculturais se diferenciam na me- dida em que se relacionam com o objeto e campo temtico de cada cincia, o que no signifca que se constituem, dessa maneira, novos campos de conhecimento, mas um saber que compreende abordagens episte- molgicas e metodolgicas que permitam abordar suas problemticas diferenciadas ligadas a distintas formas de conhecimen- to. Isso exatamente o que acontece, por exemplo, na constituio do saber ambien- tal (LEFF, 1997): como saber interdisciplinar apresenta desafos s diferentes disciplinas, considerando que a integrao do saber am- biental no se faz simplesmente na seleo de elementos culturais potencialmente am- bientalizadores, mas nas problematizaes que envolvem todo o desenvolvimento do conhecimento objetivando a criao de espaos interdisciplinares que legitimem o saber ambiental (LEFF, 1997). No entanto, a institucionalizao 3
da problemtica socioambiental constitui um processo bem recente e se desenvolve 2 O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfco e Tecnolgico Brasil. 3 Por institucionalizao compreende-se o processo pelo qual uma sociedade desenvolve suas prprias estrutu- ras de funcionamento. 196 de maneira bem diferente nos diversos campos disciplinares (BURSZTYN, 2004). Estabelecendo vnculos com os campos de produo cultural relacionados a dife- rentes reas disciplinares e cientfcas, os conhecimentos, valores e sensibilidades ambientais so produzidos e modelados pelas diferentes histrias, concepes, mtodos e formas de organizao de cada rea especfca (FARIAS, 2008). Pois essa argumentao que fundamenta a questo central da pesquisa apresentada nesse ar- tigo: considerando a dimenso global do acontecimento ambiental e a consequente tendncia ambientalizao das diferentes reas do conhecimento, quais so os desen- volvimentos particulares desses processos no campo da educao fsica no mbito da pesquisa acadmica? Os dados coletados para a anlise dos processos de ambientalizao da educao fsica no mbito da pesquisa so procedentes de discursos publicados em peridicos cientficos, compreendendo que esses discursos possuem um prestgio especial uma vez que so submetidos avaliao de atores que so reconhecidos/ legitimados como especialistas em suas reas, consequentemente o legitimando como significativo para o desenvolvi- mento da rea. Os seguintes critrios foram usados para a seleo dos peridicos que fzeram parte da pesquisa: (a) so reconhe- cidos nacionalmente como veculos de divulgao cientfca na rea de educao fsica, estando listados no Sistema Integrado da CAPES na rea de Avaliao Educao Fsica ou Interdisciplinar; (b) possuem banco de dados digitalizado de livre acesso com possibilidade de pesquisa computado- rizada por palavra chave; (c) apresentam uma descrio de foco e escopo com abertura para a possvel publicao de ar- tigos com nfase em educao fsica, meio ambiente e educao ambiental. Durante o processo de seleo dos peridicos a pri- meira palavra-chave utilizada na pesquisa foi Educao Fsica. Os peridicos que no apresentaram nenhum resultado para essa palavra-chave foram automaticamente excludos da pesquisa. No defnimos, a priori, um espao temporal para a seleo dos artigos. Esse espao foi defnido em cada peridico pela disponibilizao de seu banco de dados digitalizado. Seguindo esses critrios, a seguinte lista de peridicos foi elaborada: V. 26, n 42, junho/2014 197 Quadro 1: Peridicos pesquisados na busca por artigos que apresentam propostas de insero da dimenso ambiental na educao fsica. Ttulo do Peridico ISSN do Peridico Acta do Movimento Humano 1808-0987 gora para la Educacin Fsica y el Deporte 1578-2174 Arquivos em Movimento 1809-9556 Caderno de Educao Fsica: Estudos e Refexes 1676-2533 Cadernos CEDES 0101-3262 Cadernos de Pesquisa 0100-1574 Conexes 1983-9030 Educao e Realidade 0100-3143 Educao Fsica em Revista 1983-6643 Inter-ao 0101-7136 Interface 1807-5762 Lecturas Educacin Fsica y Deportes 1514-3465 Motrivivncia 2175-8042 Motriz : Revista de Educao Fsica 1980-6574 Movimento & Percepo 1677-7360 Movimento 1982-8918 Pensar a Prtica 1980-6183 Revista Brasileira de Cincia e Movimento 0103-1716 Revista Brasileira de Cincias do Esporte 0101-3289 Revista Brasileira de Docncia, Ensino e Pesquisa em Educao Fsica 2175-8093 Revista Brasileira de Educao Fsica e Esporte 1807-5509 Revista da Educao fsica 1983-3083 Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental 1517-1256 Revista Eletrnica Faft/Facic 2176-9443 Revista Mackenzie de Educao Fsica e Esporte 1980-6892 Revista Sul-Americana de Filosofa e Educao 1679-8775 Revista Teias 1982-0305 FIEP Bulletin On-line 0256-6419 Fonte: AUTOR, 2013. Uma vez selecionados os peridicos de acordo com os critrios adotados para a pesquisa, foram realizadas buscas nos bancos de dados digitais de cada peridico utilizando a palavra chave Educao Fsi- ca em combinao com as palavras-chave Meio Ambiente, Ambiental, Ambien- talizao, Natureza, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentvel. Apesar do reconhecimento de que os critrios adotados para a pesquisa possibilitaram uma representativa amostra de produes sobre o tpico analisado necessrio tam- bm reconhecer que a amostra resultante difcilmente contempla a totalidade dessas 198 Quadro 2: Produes cientfcas que apresentam propostas de insero da dimenso am- biental na educao fsica no Brasil Ttulo do artigo Autor(es) Peridico Ano de Publicao Texto 1 A Educao Ambiental na formao de professores de Educao Fsica: uma emergente conexo Franscisco J. P. TAVARES Lecturas Educacin Fsica y Deportes 2003 Texto 2 A Educao Ambiental no contexto da Educao Fsica Escolar Jos E. N. VARGAS; Francisco J. P. TAVARES Lecturas Educacin Fsica y Deportes 2004 Texto 3 Educao Fsica escolar e meio ambiente: refexes e aplicaes pedaggicas Luiz H. RODRIGUES; Suraya C. DARIDO Lecturas Educacin Fsica y Deportes 2006 Texto 4 Educao fsica, esporte e lazer na natureza: preservao, modismo, apologia. Ser tudo isso? Disalda M. T. LEITE; Carlos A. CAETANO Motrivivncia 2004 Texto 5 A Educao Fsica frente a tem- tica ambiental: alguns elementos terico-metodolgicos Fabiano W. SILVA; Ana M. SILVA; Humberto L. D. INCIO Motrivivncia 2008 Texto 6 Educao fsica na dcada da educao para o desenvolvimento sustentvel Renata OSBORNE; Washington A. BATISTA Motriz 2010 Texto 7 Cultura de movimento: refexes a partir da relao entre corpo, natureza e cultura Marina I. B. S. MENDES; Terezinha P. NBREGA Pensar a Prtica 2009 Texto 8 Prtica pedaggica em educao fsica e a educao ambiental Maristela S. SOUZA; Giane S. LARA Pensar a Prtica 2011 Texto 9 Educao fsica, esporte e desenvol- vimento sustentvel Renata OSBORNE; Carlos A. F. da SILVA; Sebastio J. VOTRE Pensar a Prtica 2011 Texto 10 Educao fsica no ensino mdio e as discusses sobre meio ambiente: um encontro necessrio Simone M. GUIMARES e colaboradores Revista Brasileira de Cincias do Esporte 2007 Texto 11 Educao fsica, meio ambiente e aventura: um percurso por vias instigantes Alcyane MARINHO; Humberto L. D. INCIO Revista Brasileira de Cincias do Esporte 2007 Texto 12 Educao ambiental e educao f- sica: possibilidades para a formao de professores Soraya C. DOMINGUES; Elenor KUNZ; Lsia C. G. de ARAJO Revista Brasileira de Cincias do Esporte 2011 Texto 13 Implementao da educao am- biental na graduao de professores de educao fsica: uma refexo Francisco J. P. TAVARES; Maria I. C. LEVY Revista Eletrnica do Mestrado em Educa- o Ambiental 2001 Fonte: AUTOR, 2013. produes 4 . Os resultados so apresentados no quadro a seguir pela ordem em que os artigos foram encontrados nos respectivos peridicos, ou seja, seguindo a organizao do Sistema Integrado da CAPES, que apre- senta os peridicos em ordem alfabtica: 4 Osborne e col. (2011b) tambm apresentam uma anlise de artigos sobre meio ambiente e sustentabilidade publicados em peridicos nacionais de educao fsica. Apesar da no concordncia com alguns critrios de seleo adotados nos procedimentos de coleta de dados da referida pesquisa, reconhece-se que o artigo apresenta alguns interessantes dados quantitativos sobre a evoluo da temtica em peridicos nacionais. V. 26, n 42, junho/2014 199 Os artigos encontrados a partir dos critrios adotados para a pesquisa formam o corpus para a anlise sobre a insero da dimenso ambiental na educao fsica no mbito da pesquisa 5 . Seguindo a proposta de Anlise Textual Discursiva (MORAES, 2003), metodologia escolhida para a an- lise dos dados dessa pesquisa, uma vez selecionado o corpus cabe ao investigador a desconstruo e unitarizao do corpus, essencialmente um processo de desmonta- gem dos textos destacando elementos cons- tituintes do corpus em busca de sentidos e relaes com o foco principal da investiga- o. Aps o processo de desmontagem dos textos, ou unitarizao, a segunda fase ou segundo ciclo da Anlise Textual Discur- siva realizada pelo estabelecimento de relaes, ou categorizao, e implica em construir relaes entre as unidades de base combinando-as e classifcando-as no sentido de compreender como esses elementos unitrios podem ser reunidos na formao de conjuntos mais complexos (MORAES, 2003). Assim, a categorizao das unidades de signifcado representa um processo de comparao constante entre as unidades em busca de agrupamentos de elementos semelhantes em funo de um sentido per- tinente aos propsitos da pesquisa. Na presente pesquisa essa categoriza- o foi defnida a partir de categorias emer- gentes por um processo interpretativo, ou seja, a partir da construo [...] com base nos conhecimentos tcitos do pesquisador, sempre em consonncia com os objetivos da pesquisa (MORAES, 2003, p.195). As- sim, centrado no objetivo de identifcar as caractersticas particulares que se originam/ desenvolvem na interseco entre o campo ambiental e da educao fsica no mbito da pesquisa no Brasil, foram defnidas trs categorias que sintetizam as principais ideias apresentadas nos textos analisados: (a) educao ambiental pelo jogo/esporte e pelo lazer; (b) um corpo que intermdio de uma viso sistmica/no fragmentria; (c) a educao ambiental na educao fsica escolar. Como seria impossvel a apresentao de cada uma das categorias considerando o limite de caracteres atribu- dos a presente forma de publicao 6 , sero apresentadas na prxima parte do texto consideraes mais gerais sobre o conjunto de argumentos/referenciais encontrados nos diferentes textos destacando convergncias, divergncias e pontos silenciosos. A ambientalizao da Educao Fsica no contexto da pesquisa acadmica: o que dizem as produes cientfcas da rea no Brasil A caracterizao do ambiental apresentada (com maior ou menor densida- de terica) nos textos por diferentes dimen- ses do acontecimento ambiental. Algumas caractersticas historicamente legitimadas pelos discursos ambientais (tanto no sul 5 Optou-se por no incluir na amostra os artigos com autoria ou co-autoria do autor do presente artigo. Essa escolha se justifca pela possibilidade de confito de interesse que se apresentaria diante de uma anlise de textos de prpria autoria. 6 A pesquisa completa est publicada na Tese de Doutorado do autor (AUTOR, 2013). 200 quanto no norte 7 ) aparecem com maior frequncia, como, por exemplo, a essen- cialidade da prxis na educao ambiental e o carter interdisciplinar/multidisciplinar/ metadisciplinar/transversal da educao ambiental, citada por mais da metade dos artigos. Alguns artigos aliceram a escolha pelas caractersticas apresentadas em metas/ objetivos defnidos por documentos/even- tos/programas internacionais, tais como a Dcada da Educao para o Desenvolvi- mento Sustentvel (citada em dois artigos), a Poltica Nacional de Educao Ambiental (citada em trs artigos) e o Tratado para as Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global (citado em um artigo). Tambm aparecem com frequncia debates em torno dos termos desenvolvi- mento sustentvel e sustentabilidade, com destaque para a diversidade de signifcados e complexidade desses conceitos. Destaca- -se tambm o conceito paradoxal de desen- volvimento sustentvel, considerando por um lado a ameaa s condies de vida representada pelo crescimento acelerado da economia global e por outro a exign- cia do desenvolvimento de comunidades humanas diante de condies de pobreza. H tambm referncia reao de autores brasileiros (e latinos num contexto mais geral) contra o termo educao para o de- senvolvimento sustentvel, levando-se em considerao o desenvolvimento de teorias associadas educao ambiental crtica que, no contexto latino, ganham novas roupagens sob outras denominaes como, por exemplo, educao ambiental transformadora, educao ambiental po- pular e educao ambiental emancipatria. Nesse contexto, trs artigos fazem referncia aos embates de fora na consti- tuio do saber ambiental/racionalidade ambiental e mais da metade dos artigos destacam a necessidade de criao de novos/diferentes valores ambientais ou a necessidade de criao de uma nova/dife- rente tica ambiental. A ideia da criao de novos/diferentes valores ambientais estaria alicerada na concepo de uma educao ambiental social, que teria por fnalidade a construo de valores, conceitos, ha- bilidades e atitudes que potencialmente possibilitariam a atuao responsvel dos atores sociais (individuais e coletivos) no ambiente, sendo que esses novos/diferen- te valores estariam associados (juntando os conceitos apresentados no corpus de anlise) solidariedade, cooperao, igualdade de oportunidades/direitos e interdependncia. J a necessidade de cria- o de uma nova/diferente tica ambiental estaria associada (novamente juntando os conceitos apresentados no corpus de an- lise) a uma viso de mundo sensibilizadora (associada educao esttica; dos sen- tidos/da sensibilidade); transformadora (em direo a relaes integradas ser humano/ sociedade/meio ambiente); global; e cole- tiva/democrtica/participativa. 7 Por norte se faz referncia a um conjunto de pases (Estados Unidos, Canad, Inglaterra e outros do norte da Europa, e pases com colonizao dos pases previamente citados geografcamente situados no hemisfrio sul, como Austrlia, Nova Zelndia e frica do Sul) que historicamente desenvolvem linhas de pesquisa com razes culturais bem distintas das que aqui sero chamadas de latinas ou do sul (compreendendo especialmente os pases da Amrica do Sul e do sul da Europa, como, por exemplo, Portugal, Espanha e Itlia). Para uma leitura mais aprofundada sobre os enquadramentos crticos e ps- crticos dos discursos da educao ambiental em sua evoluo no norte e no sul sugere-se a leitura de Payne e Rodrigues (2012). V. 26, n 42, junho/2014 201 Ainda nesse sentido, trs artigos cri- ticam mais diretamente valores antropocn- tricos e fragmentrios, inclusive apontando esses valores como principais causadores da suposta crise cultural/civilizatria. Outros quatro artigos criticam mais diretamente a suposta simplicidade de atividades ecolgi- cas/biologicistas/naturalistas, caracterizadas como romnticas e ingnuas e com prticas focadas na sensibilizao ambiental que possibilitam a legitimao de discursos redu- cionistas e com base em prticas comporta- mentalistas que, muitas vezes, esto na base da construo de prticas de greenwashing 8 . Em sintonia com tais crticas, boa parte dos artigos sugere mais diretamente o desenvol- vimento de uma educao ambiental que seja crtica, ou seja, que no seja alienada do mundo; que oponha a viso hegemnica; que critique os modelos autoritrios, tecno- crticos e populistas que no consideram alternativas sociais baseadas em princpios ecolgicos, ticos e justos com as geraes atuais e futuras; e que leve em considerao as preocupaes com os segmentos mais ex- cludos da sociedade e com a naturalizao de situaes opressoras discriminatrias, buscando superar as injustias ambientais e as desigualdades sociais. Em outras palavras, uma educao ambiental poltica, uma vez que reivindica e prepara cidados para exigir justia social, cidadania e tica nas relaes sociais e com a natureza. Como unidade multiplicadora de impacto para a reduo dos problemas ambientais, a escola desenvolveria papel fundamental. Nesse sentido, parte dos artigos destaca a importncia da formao/ capacitao de docentes para a educao ambiental, afrmando que a incluso de no- vos contedos em cursos de graduao para a formao de profssionais que trabalham com atividades na natureza possibilitaria um crescente qualitativo que contribuiria para a formao de cidados mais sensveis e atentos s questes ambientais, assim como para a preparao de profssionais para atuar com a educao ambiental tanto na escola como na natureza (educao sobre/ para e na natureza). Para tanto, a criao do tema transversal Meio Ambiente apa- rece como alternativa entre os artigos. No entanto, parte dos artigos tambm afrma que as grades curriculares dos cursos de educao fsica no contemplam de forma efetiva o estudo sobre meio ambiente e que a poltica de educao ambiental no vem se mostrando sufciente para garantir a efetivao da educao ambiental nos currculos ofciais (inclusive na educao fsica). Assim, em parte responsabilizam a prpria academia pelo analfabetismo ambiental contemporneo. Mais especifcamente na rea da educao fsica, a maioria dos artigos critica de alguma forma as abordagens caracteriza- das como tradicionais, destacando como principais caractersticas desse tipo de abor- dagem: (a) reducionismos fragmentrios com bases materialistas que incluem algu- mas dicotomias clssicas da rea, tais como mente-corpo, trabalho manual e intelectual 8 O termo greenwash (traduo literal seria algo como lavagem verde) usado na lngua inglesa para se referir a uma estratgia de marketing verde maliciosamente/enganosamente usada para promover a percepo de que os objetivos e polticas de uma organizao so ambientalmente corretas/amigveis. 202 e teoria-prtica, sendo que a educao fsica deveria caminhar em direo superao desta tradio cartesiana buscando, assim, caminhos que privilegiem a complexidade; (b) valorizao do profssional tcnico com foco na racionalidade formal ou instru- mental, especialmente na educao fsica escolar; algumas terminologias parecem estar diretamente associadas a esse tipo de abordagem, tais como treinamento de habilidades/aptido fsica e aprendizagem motora/desenvolvimento motor; (c) elitis- mos que contribuem para a discriminao e injustia social, especialmente em prticas de educao fsica escolar que, em geral, so pautadas na excluso pelos critrios de efcincia; (d) atividades competitivas/ esportivas. Curiosamente, apenas um artigo defende o desenvolvimento dos saberes tradicionais, se esses estiverem associados ao desenvolvimento de novos/diferentes saberes que incluam o ambiental. Outra crtica presente na maior parte dos artigos faz referncia crescente expanso de atividades na natureza que por vezes se tornam mais um dos padres de produo e consumo no sustentveis, especialmente pela apropriao da natureza como smbolo distintivo do consumo diante da concepo de uma natureza externa em relao ao ser humano. Assim, os ar- tigos em geral destacam a necessidade de uma educao que se contraponha a lgica consumista/cultura do consumo e seu papel na sustentao do sistema capitalista e que supere a concepo de natureza como for- ma de compensar os problemas urbanos. Destacam ainda que inseres em prticas na natureza no signifcam necessariamente transformaes de valores e ideologias, e enfatizam a irresponsabilidade de certas aes que se denominam sustentveis, mas que na realidade funcionam no sentido oposto dessa expectativa. Diante de tantas crticas aos mo- delos tradicionais de educao fsica e de abordagens reducionistas/fragmentrias para o desenvolvimento de atividades na natureza, os artigos apresentam diferentes alternativas: (a) uma compreenso de edu- cao fsica como prtica social/fenmeno cultural, com modelos de movimento que desenvolvam valores sociais e que estejam de acordo com a cultura local/regional; (b) valorizao da brincadeira, da arte, do ldico e das atividades de aventura na mediao das relaes educao fsica- -natureza; (c) uma educao fsica enraizada na atividade humana compreendida como cultura corporal (inclusive com formao de profssionais da motricidade humana) ou cultura de movimento; (d) o desenvol- vimento de um corpo/sujeito integral, ou seja, um corpo como intermdio de uma viso sistmica. Alis, esse ltimo ponto foi destaque em grande parte dos artigos sendo apresentado a partir de diferentes propostas, tais como: (a) desenvolvimento de experincias do corpomundo, com- preendidas como expresses que ocorrem em contato corporal e direto com o mundo e com a natureza e que aguam a percepo; (b) desenvolvimento da teoria da comple- xidade de Edgar Morin para sustentar a concepo do ser humano ecossistmico; (c) desenvolvimento de fundamentos da fe- nomenologia para sustentar a ideia de que o ser humano inseparvel do mundo em que vive, especialmente enfatizando a relao entre corpo, cultura e natureza com foco na intencionalidade do movimento humano. De maneira geral, a maioria dos artigos parece j ter incorporado conceitos que se aproximam dos discursos crticos/ V. 26, n 42, junho/2014 203 ps-crticos de educao ambiental, assim como das crticas (ps)modernas aos para- digmas tradicionais da educao fsica. No entanto, a maior parte dos artigos tambm faz referncia a uma srie de difculdades/ limitaes encontradas na rea da educao fsica para o desenvolvimento de aborda- gens alternativas, inclusive considerando a insero das questes ambientais. Entre elas destacam-se: (a) a falta de formao ou a formao acadmica defcitria de profes- sores da rea para desenvolver a temtica ambiental; (b) o conservadorismo de profes- sores antigos e a consequente difculdade para adoo/insero de novas temticas; (c) a resistncia dos alunos a uma educao fsica que supere a cultura da prtica pela prtica; (d) a rea de tenso e confito entre os objetivos do esporte escolar e os interesses do sistema desportivo de alto rendimento; (e) a desvalorizao da rea no contexto escolar, resultando na carncia de locais ade- quados para a prtica de esportes na escola e na falta de apoio institucional de maneira geral. Sobre esse ltimo ponto, h uma as- sociao preservao de reas desportivas como atividade ambiental, considerando nesse contexto a importncia do acesso s atividades fsico-desportivas de qualidade e a ampliao do esporte e da educao fsica para que sejam acessveis a todos. CONSIDERAES Apesar das recorrentes crticas s abordagens tradicionais da educao fsica e da manifestao da maior parte dos artigos em direo a abordagens alternativas, possvel encontrar nos discursos conceitos e afrmaes que mais se aproximam de abordagens tcnicas com foco na racio- nalidade formal ou instrumental, assim como afrmaes que se aproximam das criticadas abordagens preservacionistas/ naturalistas. Alguns discursos ainda enfati- zam, por exemplo, a educao motora e o desenvolvimento de habilidades como papel fundamental da educao fsica; os jogos motores enquanto instrumentos da educao fsica; e o potencial dos esportes de aventura praticados na natureza no de- senvolvimento de capacidades fsicas e habilidades motoras. H tambm refern- cias a potencial contribuio da educao fsica para dar subsdios manuteno da higiene pessoal e de uma vida mais saudvel (qualidade de vida), caracterizando, inclu- sive, essas atividades como ambientais, uma clara evidncia das razes vivas da educao fsica na rea da sade. Entre as afrmaes que se apro- ximam de abordagens preservacionistas/ naturalistas, geralmente associadas sen- sibilizao como meio para transformao em direo a novos valores ambientais, a fugas do cotidiano ou ainda a abordagens compensatrias, destacam-se, por exemplo, afirmaes que enfatizam o momento oportuno associado educao fsica para a formao de convices ambientais e de proteo do meio ambiente, uma vez que suas atividades seriam realizadas pre- dominantemente ao ar livre; a eliminao do estresse e da sobrecarga intelectual e a manuteno da qualidade de vida proporcionados pelo contato direto com a natureza; a realizao das atividades de aventura que sem dvida geram a com- preenso da importncia da preservao do meio ambiente; o afastamento de expresses cticas e individualistas que permeiam o cotidiano urbano a partir de relaes humanas mais diretas e intensas na natureza; a capacidade das atividades 204 de aventura de levar o praticante a um nvel de conscincia sobre diversas relaes hu- manas, permitindo ainda um distanciamento espao-temporal das experincias cotidianas, inclusive as sensoriais e motoras, suposta- mente ampliando as possibilidades de auto- conhecimento e de mudanas de hbito. Vale ainda um destaque para algumas das atividades ao ar livre que so sugeridas como meio para transformao em direo a novos valores ambientais, mas que, especialmente isoladas de um contexto ambiental mais amplo, tambm parecem se aproximar de abordagens preservacionistas/naturalistas, tais como excurses, acampamentos, recreao turstica, mutires de limpeza e plantao de mudas de plantas nativas. De maneira geral, apesar de escassas e esparsas, evidenciando sua posio ainda bastante perifrica, as propostas de insero de questes ambientais na educao fsica apresentam um movimento particular que se constri na interseco do campo am- biental com o campo da educao fsica e de seus subcampos ou campos com os quais historicamente dialoga, como, por exemplo, esporte, lazer e turismo. Desse movimento originam-se novos/diferentes/alternativos olhares que podem gerar questionamentos/ transformaes dos paradigmas dominantes os quais fazem parte da construo histrica desses campos, potencialmente gerando novos/diferentes embates de fora e conse- quentes maneiras de pensar/fazer. Analisados em conjunto os artigos parecem apresentar boa parte das principais caractersticas que compem os discursos ambientais contemporneos, inclusive em seus desenvolvimentos crticos e ps- -crticos tanto no norte como no sul. No entanto, quando analisados individual- mente parece ainda faltar maioria dos artigos uma maturidade terica diante das evolues dos discursos ambientais. Em outras palavras, apesar das caractersticas ambientais apresentadas estarem, em geral, de acordo com os discursos contempor- neos, parecem pouco avanar sobre o que j conhecido, como se estivessem presentes nos artigos apenas para serem apresentadas aos acadmicos da educao fsica, que, em teoria, pouco sabem da emergente sinergia entre sua rea de atuao e a rea ambien- tal. No h dvidas de que a divulgao dos discursos ambientais em veculos mais especifcamente voltados para a rea de edu- cao fsica seja essencial para a legitimao deste encontro discursivo, especialmente considerando sua marginalidade como debate emergente. H nesse sentido uma potencial oportunidade rara de construo discursiva embrionria no encontro entre dois campos distintos e que, levando em considerao a crescente urgncia em pro- mover investigaes educacionais a partir de um imaginrio globalizante (de forma mais cosmopolita e globalmente democrtica), pode emergir como signifcativa contribuio para a contestao/(re)construo de paradig- mas vigentes. No entanto, essa construo fragilizada pela divulgao de discursos in- gnuos e teoricamente carentes, realidade que aumenta ainda mais a responsabilidade dos atores envolvidos na construo e na divulgao deste potencialmente conspcuo discurso emergente. REFERNCIAS AUTOR, 2013 BOURDIEU, P. Os usos sociais da cincia: por uma sociologia clnica do campo cientfco. So Paulo: Ed. UNESP, 2004. V. 26, n 42, junho/2014 205 BURSZTYN, M. Mei o ambi ent e e interdisciplinaridade: desafios ao mundo acadmico. Desenvolvimento e Meio Ambiente, UFPR, n.10, p.67-76, jul./dez., 2004. DOMINGUES, S. 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Recebido em: fevereiro/2014 Aprovado em: maio/2014