ESTUDOS BÁSICOS
6-2
SUMÁRIO
6.3.6 RISCO 6 - 12
6.4 AMBIENTAIS 6 - 16
6.6 CUSTOS 6 - 18
CAPÍTULO 6
ESTUDOS BÁSICOS
O projeto de uma PCH deverá ser realizado estudos de estabilidade, como descrito no Capítulo
com base nos Estudos Básicos descritos a seguir. 7.
Para a caracterização da forma de uma bacia entre o comprimento total dos cursos d'água de uma
são utilizados índices que buscam associá-la com bacia e a sua área total. Este índice fornece uma
formas geométricas conhecidas. O índice ou indicação da eficiência da drenagem, ou seja, da
coeficiente de compacidade, Kc, é a relação entre o maior ou menor velocidade com que a água deixa a
perímetro da bacia e a circunferência de um círculo bacia hidrográfica. Este índice não considera a
de área igual à da bacia, ou seja: capacidade de vazão dos cursos d’água que, no
caso de ser insuficiente, pode vir a provocar um
P efeito de represamento, reduzindo a eficiência de
K c = 0,28 , onde:
A drenagem.
0 , 385
LT comprimento total dos cursos d'água da L3
bacia, em km; t c = 0,95 ⋅
H
, onde:
A área de drenagem da bacia, em km2.
H diferença entre cotas do ponto mais A equação que melhor expressa esta relação é
afastado e o considerado, em m; do tipo:
Q = a.( h − ho )
L comprimento axial da bacia, ou, b
, onde:
comprimento total do curso d’água principal,
em m.
3
• Tempo de Concentração Q vazão líquida, em m /s;
Q =C ⋅ A ⋅ R⋅I
Q
= C I , onde:
A R
• Extrapolação da curva-chave
Q
A relação leitura x descarga deve ser definida fator geométrico;
A R
em todo o intervalo de variação das leituras de
régua. Dispõe-se, geralmente, de poucas medições C I fator de declividade.
em leituras altas, quando ocorrem as cheias. Como
esta é a faixa de interesse para o dimensionamento Nos limites da aplicação da fórmula de
das obras hidráulicas, a curva-chave deve ser Chézy, os dois termos da equação variam muito
extrapolada no seu ramo superior. O termo pouco, podendo ser considerados constantes. A
extrapolar significa complementar o traçado da função Q=f A R ( )
pode então ser
função Q(h) para os intervalos de leituras representada por uma reta que passa pela
observadas em que as descargas não foram origem. Essa reta, traçada a partir das medições
medidas. Para tanto, é necessário o conhecimento disponíveis, pode ser prolongada até o valor do
do comportamento dos parâmetros geométricos e fator geométrico correspondente à cota máxima
hidráulicos nesses intervalos de cotas. Os métodos observada.
de extrapolação mais simplificados são descritos a
seguir. Sugere-se a publicação do Ministério das
Minas e Energia MME/DNAEE, “Hidrologia - Curva-
Método logarítmico: método simples, Chave - Análise e Traçado - 1989”, como referência
aplicável em rios com seção transversal muito de consulta (ver ANEXO 7).
regular e com um único controle. As medições
devem ser plotadas em papel di-log, onde o Além disto, no Anexo 1, apresenta-se o manual
trecho a extrapolar se ajusta a partir da equação do programa GRAFCHAV, também disponível em
da reta: meio magnético. Este programa foi desenvolvido
pelo Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ
log Q = log( a ) + b ⋅ log( h − ho ) num convênio com a Companhia de Pesquisa de
Recursos Minerais - CPRM. A Diretoria de Hidrologia
No caso de se constatar graficamente um e Gestão Territorial da CPRM gentilmente cedeu
alinhamento dos pontos, o valor de ho é nulo. Se uma versão preliminar do programa.
o conjunto de pontos de medição apresentar uma
curvatura, procura-se determinar o valor de ho 6.3.3 SÉRIES DE VAZÕES MÉDIAS MENSAIS
que retifica a curva. Se a convexidade da curva
for orientada para as vazões, o valor de ho é Deverá ser estabelecida para o local do
positivo, em caso contrário ele será negativo. A aproveitamento uma série de vazões médias
determinação de ho é feita graficamente por mensais derivada de uma série histórica de um
tentativas sucessivas até se obter o melhor posto localizado no mesmo curso d’água ou na
alinhamento possível. mesma bacia, por correlação direta entre áreas de
drenagem, limitada à diferença entre áreas de 3 a 4
Método de Stevens: a aplicação é vezes. A equação de correlação é definida por:
adequada em rios largos, onde o raio hidráulico
pode ser considerado igual à profundidade média A1
Q1 = ⋅ Q2 , onde:
do escoamento. O método apresenta a fórmula A2
de Chézy separada nos fatores geométrico e de
declividade:
3
d amplitude de cada intervalo, em m /s; Desta curva podem ser obtidos os valores de
permanência de vazões no tempo. Dentre estes,
destacam-se as seguintes vazões características:
3
max
Q vazão máxima da série, em m /s; Q(5%), Q(50%), Q(90%) e Q(95%).
3
min
Q vazão mínima da série, em m /s; • Regionalização da curva de permanência
Qmédia
CURVA DE FREQUÊNCIA ACUMULADA
OU CURVA DE PERMANÊNCIA
recorrência a elas associados. Esta análise baseia-
Q50 se no exame probabilístico dos máximos registros
fluviométricos anuais. Desta forma, a cada ano está
Q95
associado um máximo anual resultando num
conjunto { y1, y2, ..., yn }, que pode ser interpretado
25 50
TEMPO (%)
75 95 100
como sendo uma amostra de variável aleatória Y,
Figura 6.3.1 - Curva de Permanência de Vazões no máxima vazão anual.
Tempo
Assim, o problema será o de determinar o valor
1
de xT tal que P[Y > xT] = , onde xT é a vazão
T
ESTUDOS BÁSICOS - Topográficos, Geológicos e Geotécnicos, Hidrológicos
6 - 10
q t = a ⋅ ( A) , onde:
b
hidrograma corresponda ao deflúvio (volume
escoado superficialmente) da bacia.
aeb coeficientes;
2
A área da bacia, em km . Para a construção do hidrograma, falta definir a
precipitação efetiva, que representa a parcela da
Como na maioria dos casos a chuva é definida
chuva que gera o escoamento superficial. A
em um local ou posto, deve-se distribuí-la
precipitação efetiva, Pe, é função da chuva
uniformemente por toda a bacia. Para o seu cálculo,
distribuída e do valor de S e é definida pela seguinte
sugere-se a adoção das equações de chuvas
equação:
intensas definidas pelo Engo Otto Pfafstetter em seu
livro “Chuvas Intensas no Brasil”. A transformação
Pe =
( P − 0,2 ⋅ S ) 2 → para P > 0,2.S
da chuva pontual em distribuída é possível através
P + 0,8 ⋅ S
da aplicação da seguinte expressão:
Pe = 0,0 →para P < 0,2.S
A
P = Po ⋅ 1 − W ⋅ log onde:
Ao No Anexo 1 apresenta-se o programa HUT,
desenvolvido em ambiente Windows e também
P chuva distribuída, em mm; disponível em meio magnético, com exemplo de
aplicação prática.
Po chuva pontual, em mm;
6.3.6 RISCO
A área da bacia em estudo, em km2;
Uma vez definidas as vazões de cheias
Ao área da bacia, em km2, para a qual se tem
associadas a diversos tempos de recorrência (T),
P = Po;
deverão ser avaliados os riscos a serem adotados
W fator de correlação. nos projetos das obras de desvio e do vertedouro da
PCH. Os riscos podem ser calculados por:
De modo geral, Ao = 25 km2 e W, segundo
n
Taborga, para o Brasil é igual a 0,10. Efetuando-se 1
r = 1 − 1 − , onde:
as devidas substituições, a equação pode ser assim T
reescrita:
r probabilidade ou risco de ocorrência, pelo
A menos uma vez, da cheia adotada;
P = Po ⋅ 1 − 0,10 ⋅ log
25
T tempo de recorrência, em anos;
1000
S = 25,4 ⋅ − 10 , onde:
CN
A vazão mínima a jusante deve ser definida a Além disto, recomenda-se como bibliografia a
partir de estudos ambientais, principalmente nas publicação “Quantificação de Vazão em Pequenas
PCHs que adotem arranjos do tipo derivação, ou Bacias com Carência de Dados Fluviométricos” de
seja, com desvios das vazões naturais através de Geraldo Lopes da Silveira, tese de doutorado,
canal, túnel ou conduto para uma Casa de Força a IPH/UFRS, 1997.
jusante do local do barramento, reduzindo
substancialmente o afluxo de água no trecho de rio 6.3.8 AVALIAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA
compreendido entre essas duas estruturas.
Em PCH, os reservatórios têm, de modo geral,
Como balizamento, poderá ser adotado o pouco volume e, conseqüentemente, pequena
menor valor entre 50% da vazão de 95% de capacidade de regularização.
permanência no tempo e 80% da vazão de
abastecimento, Q7,10, que representa a menor média A construção de um barramento sempre altera
em sete dias consecutivos com recorrência de 10 o equilíbrio hidráulico-sedimentológico de um curso
anos. Seu valor definitivo deverá ser definido com os d’água, devido à desaceleração da corrente líquida
órgãos ambientais envolvidos, a partir de critérios ocasionada pela presença do reservatório, dando
estabelecidos caso a caso. início a um processo de assoreamento. Desta forma,
os aspectos sedimentológicos se revestem de
grande importância, uma vez que este processo se Q vazão líquida, em m3/s.
inicia nas suas bordas reduzindo o já pequeno
volume d’água existente. Essa equação permitirá obter uma série de
valores de descarga sólida a partir da série de
É de primordial importância a consideração da vazões líquidas obtidas no estudo hidrológico. O
descarga sólida do leito nos pequenos reservatórios, valor médio anual, Q ST , corresponde ao valor a
uma vez que a maior parte da descarga em ser adotado para avaliação do assoreamento. O
suspensão sai pelas estruturas extravasoras e/ou deflúvio sólido anual, D ST , é obtido multiplicando-
circuito hidráulico de geração, permanecendo no se Q ST pelo número de dias do ano, ou seja:
lago o sedimento grosso, de maior granulometria,
como areia. DST = Q ST ⋅ 365
Para pequeno reservatório utiliza-se a curva de Entrando na curva de Churchill com o valor
Churchill, Figura 6.3.3, que fornece a eficiência de numérico acima, tem-se a % de sedimento que sai
saída de sedimento do reservatório. Na bibliografia do reservatório. Por diferença de 100% obtêm-se a
consultada existem duas versões da curva, o que eficiência de retenção que deve ser expressa em
necessita cuidados. A presente curva foi obtida de fração.
Morris/Fan (1997), Strand (1974) e Vanoni (1977).
As curvas apresentadas por ICOLD (1989) e O peso específico aparente do sedimento
Annandale (1987) têm dados de entrada diferentes, depositado pode ser calculado de acordo com a
bem como as coordenadas. orientação da bibliografia no Anexo 7 ou arbitrado
entre 1,1 a 1,5 t/m3, p a ra depósitos argiloso-siltosos
a arenosos.
Figura 6.3.3 - Retenção de sedimentos no reservatório de acordo com Churchill (Vanoni, 1977)
O valor de D ST deverá ser multiplicado por sedimentos. Esse controle abrange desde o
dois, caso se espere um aumento do transporte de planejamento do plantio de vegetação ciliar para
sedimentos com o tempo, ou seja, se os solos da proteção das margens do reservatório e contenção
bacia estiverem sujeitos à agricultura ou a outras do transporte lateral de sedimentos pelas
ações antrópicas. Caso se disponha de dados enxurradas, até projetos especiais de obras de
sedimentométricos de cinco anos ou mais, deve-se engenharia, visando a proteção dos equipamentos
procurar ver a taxa de aumento de transporte de contra abrasão, tais como desarenador e/ou outros
sedimentos no curso d’água através de curvas de dispositivos. Poderá ser também necessária a
massa (consultar Carvalho, 1994). previsão de custos de operação adicionais para
dragagem de material depositado junto à tomada
Para o cálculo do tempo de assoreamento, ou d’água. Previsão para programas de controle de
vida útil do reservatório, utiliza-se a seguinte erosão na bacia contribuinte é também desejável.
expressão:
As pequenas barragens devem dispor de
V descarregador de fundo posicionado próximo à
T = T , onde:
S tomada d’água. Desta forma, mesmo com o
assoreamento do reservatório preservar-se-á a
tomada d’água, operando-se adequadamente o
T tempo de assoreamento, em anos; descarregador, principalmente em épocas chuvosas.
- Legislação Aplicável incluindo o Processo de Nesses locais, onde o desnível é criado pela
Licenciamento; própria barragem, tem-se, normalmente, um arranjo
compacto com as estruturas alinhadas e com a casa
Os dados sobre a geologia, hidrologia,
de força localizada no pé da barragem.
sedimentologia, bem como sobre o arranjo geral das
obras, devem ser repassados à equipe de meio A adução é feita através de uma estrutura de
ambiente para utilização nos estudos. tomada d’água, convencional, incorporada ao
barramento e à casa de força.
6.5 ARRANJO E TIPO DAS ESTRUTURAS
ALTERNATIVAS
Outras alternativas de arranjo geral que
pareçam atrativas como, por exemplo, aquelas nas
O arranjo das estruturas, em qualquer
quais a estrutura da tomada d’água, os condutos
aproveitamento hidrelétrico, é condicionado,
forçados e a casa de força ficam longe do
basicamente, pelos aspectos topográficos,
barramento, num ponto qualquer do reservatório, em
geológicos e geotécnicos do sítio. Além desses,
função de aspectos geomorfológicos da bacia (rio
destaca-se que as características ambientais do
com meandros) - o que não é raro, devem também
local são também importantes na definição do
ser estudadas.
arranjo geral do aproveitamento.
tempo para a simulação da usina com o histórico nos estudos de dimensionamento sob o ponto de vista
de vazões disponível. do ótimo, utiliza-se o conceito de vida útil econômica (50
anos para as usinas hidrelétricas), que é superior ao
• Parâmetros econômicos período mínimo de concessão proposto pela Lei
9074/95 para as concessões outorgadas por licitação
A partir da avaliação dos benefícios pública, que é de 35 anos renováveis, incluindo estudos,
energéticos, é necessário convertê-los em valores construção e operação.
econômicos, para que se possa aplicar a
metodologia de análise do custo/benefício • Taxa de desconto
incremental.
Pode-se demonstrar que a taxa de desconto
Assim sendo, os parâmetros econômicos deverá coincidir com o custo de oportunidade do capital
necessários, no decorrer das análises, são: na situação de um mercado de capitais em equilíbrio.
Em situações reais, no entanto, as condições de
• Custo de Referência da Energia - CRE (US$/MWh); concorrência perfeita não existem e a determinação da
• Custo de Referência da Ponta - CRP taxa de desconto a ser utilizada no Setor tem se
(US$/MW/ano); constituído em matéria bastante controvertida.
• Custo de Referência da Energia Secundária - CRES A influência da taxa de desconto é tão importante
(US$/MWh); que pode condicionar totalmente o processo decisório,
• Vida Útil do Aproveitamento (anos); direcionando a política de expansão do sistema de um
extremo ao outro, em função do valor adotado, ou seja,
• Taxa de desconto (%).
projetos de longa maturação, como as hidrelétricas,
No enfoque atual de dimensionamento, os tendem a ser penalizados com taxas altas que, ao
custos de referência representam os custos contrário, acabam por beneficiar projetos termelétricos,
marginais de substituição dos benefícios advindos cuja maturação é mais rápida.
com a implementação de uma nova fonte de
geração, ou seja, representam os parâmetros de No caso do Setor Elétrico brasileiro, o valor de
valorização econômica dos benefícios energéticos referência tradicional, que vinha sendo utilizado, era
avaliados ao longo da vida útil do projeto em análise. de 10% ao ano. No que tange ao dimensionamento
ótimo, o mais adequado, ao se compararem custos e
Para os Sistemas Isolados, os benefícios benefícios decorrentes de variações incrementais
advindos do projeto serão valorizados pelo custo da em determinados parâmetros, é a realização de
geração térmica substituída ou pelo custo da análises de sensibilidade das alternativas para
interligação desse Sistema ao Sistema Interligado variações no valor da taxa de desconto, aferindo-se
brasileiro. as soluções face às possíveis alterações
conjunturais que possam pressionar bastante o
No caso de Sistemas Hidrotérmicos com Bacias custo de oportunidade para captação de recursos.
Isoladas, o ganho de energia secundária pode ser Entretanto, caso não seja possível realizar esta
valorizado através do custo médio de geração térmica análise, recomenda-se adotar uma taxa de 12% ao
(US$/MWh) ou através do custo de geração de cada ano.
fonte térmica cuja variação de geração esperada possa
ser identificada nos resultados das simulações com e 6.7.3 DIMENSIONAMENTO DOS PARÂMETROS
sem o projeto em pauta. FÍSICO-OPERATIVOS DO PROJETO
mínimo normal desse reservatório. Ao volume 8760. ∆ EG. CRE + ∆ PG.CRP + 8760. ∆ ES.CRES >
d'água acumulado entre esses níveis mínimo e ∆C
máximo chama-se volume útil do reservatório e o
volume abaixo do nível mínimo normal chama-se onde:
volume morto.
∆ EG variação incremental de energia garantida /
firme, devido à redução do NA mínimo
Este estudo é feito para os casos de PCH com
normal (MW ano);
regularização.
∆ PG variação incremental de potência garantida,
A máxima depleção operativa de um devido à redução do NA mínimo normal
reservatório deve corresponder ao limite econômico (MW);
de depleção, ou seja, a um limite de utilização de
seu volume quando operado dentro do Sistema ∆ ES variação incremental de energia secundária,
devido à redução do NA mínimo normal
Interligado.
(MW ano);
QUEDA (m)
onde ∆ EG, ∆ PG e ∆ ES, como anteriormente
definidos, correspondem agora a incrementos de
potência instalada, e ∆ C passa a ser a variação
incremental dos custos do aproveitamento devido ao Href.
aumento de potência instalada, em US$/ano.
95%
Nota-se que, conceitualmente, o TEMPO (%)
• flexibilidade operativa;
Figura 6.3.6 - Distribuição de Quedas de uma Usina
ESTUDOS BÁSICOS - Topográficos, Geológicos e Geotécnicos, Hidrológicos
6 - 26
• outros.