A produção de grãos tem sofrido, nos últimos anos, grandes pressões por aumento de produtividade.
Em função destas pressões, as práticas culturais, de manuseio e de armazenagem estão em acelerado
processo de evolução.
Cada cultura e cada região procura adequar suas práticas na busca de maior produção, menor custo e
maior qualidade, o trinômio que atualmente expressa, de forma abrangente, o conceito de
produtividade.
Maturidade fisiológica
Os grãos ou sementes alcançam sua maturidade fisiológica (momento em que possuem o máximo de
matéria seca) em níveis de umidade que impedem a colheita mecânica, além de não permitirem
armazenamento seguro. Na maioria dos grãos, este nível de umidade está acima de 30%.
Como na maioria das vezes não se pode colher os grãos no momento exato de sua maturidade
fisiológica, uma vez que colheitadeiras não são capazes de colher grãos com umidades muito elevadas,
os grãos são colhidos mais secos, o que resulta em alguma perda. Como esta umidade de colheita
ainda é elevada para uma armazenagem segura, normalmente é necessária a secagem artificial.
Como uma das poucas exceções de grãos colhidos no ponto de maturidade fisiológica, temos sementes
de milho que são colhidas e secas em espigas e só debulhadas após a secagem. Importante ressaltar
que este é um caso onde se procura preservar o máximo de rendimento em volume e qualidade do
produto, ainda que incorrendo em custos de colheita, secagem e debulha mais elevados, mas
aceitáveis no caso de sementes de alto valor econômico.
Já grãos como o soja, por exemplo, são colhidos, em algumas regiões, com um grau de umidade com o
qual pode ser diretamente armazenado em silos com aeração. Nestes casos é recomendável que os
silos sejam dotados de controle de aeração. Milho e arroz seguem tendência inversa e são colhidos tão
cedo quanto possível, demandando significativo esforço de secagem.
A secagem
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Secagem e Arm. de Grãos. Agronomia 7º período
Prof. Danilo Cesar
Dentre todos os processos que se aplicam para o trato pós-colheita, conservação e armazenagem
adequada de grãos, a secagem é o de maior consumo energético. E energia, como bem se sabe, é
produto caro e, ultimamente, escasso. Água deve ser evaporada para que os grãos reduzam sua
umidade a níveis que possibilitem armazenamento seguro; e a termodinâmica nos dá muito pouca
margem de manobra no que se refere a quanta energia temos que aplicar para que esta água se
evapore. Sempre estaremos consumindo uma quantidade de energia superior ao calor latente de
vaporização da água, que é algo em torno de 540 kcal/kg de H2O.
Além disto, os grãos são entidades biológicas extremamente sensíveis à ação do calor e da
temperatura, que podem, quando excessivos, causar danos importantes nas características dos
mesmos. Alguns atributos de qualidade e funcionais dos grãos podem ser seriamente comprometidos
pelas agressões térmicas, e entre eles podemos citar o nível de trincas, a integridade de tecidos, a
acidez, os níveis de proteínas, o poder germinativo, a aparência, apenas para citar alguns.
O estado da técnica conhece uma série de maneiras de secagem que podem ser aplicadas para secar
diferentes produtos. As de aplicação prática sempre utilizam o ar como meio secante, ainda que
existam outras formas de proceder a secagem. O ar é usado, na maior parte dos sistemas de secagem,
como elemento que entrega calor aos grãos ao mesmo tempo que extrai a umidade. Assim sendo, as
diferentes estratégias diferem apenas na forma como o ar e a energia transitam pelo sistema de
secagem.
Os principais sistemas de secagem contam com secadores mecânicos, onde o produto a ser secado
transita, em bateladas ou de forma contínua, para que se retire sua umidade. Via de regra, ar aquecido
a temperaturas que variam conforme o desenho do secador é feito passar através do produto,
aquecendo-o e retirando a umidade que captura por suas características higroscópicas.
Secadores apresentam diversas faixas de consumo de energia em função de seu sistema construtivo.
Secadores de coluna ou de cavaletes sem recirculação de ar podem consumir algo como 1500kcal/kg
de H2O evaporada, enquanto que secadores com recirculação do ar de resfriamento e de parte do ar
de secagem, como os modelos Kepler Weber-DRM, podem reduzir este número a valores inferiores a
950 kcal/kg de H2O evaporada. Outros modelos de secadores como o de fluxo concorrente, que
trabalham com temperaturas mais elevadas, operam na faixa de 1200kcal/kg de H2O evaporada, e
desempenho similar é alcançado por secadores intermitentes com câmara de repouso.
Estes números, evidentemente, podem mudar em função do produto secado, das faixas de redução de
umidade e de características próprias dos secadores, principalmente seu volume interno, taxas de
ventilação e temperaturas de secagem. Dentre todos estes fatores, um dos que tem maior efeito no
consumo específico de um secador é a temperatura de secagem; quanto mais elevada, mais
termicamente eficiente é o secador. Este beneficio, no entanto, é contrabalançado pelo dano que altas
temperaturas podem causar nos grãos, o que acaba por limitar as temperaturas de secagem e,
conseqüentemente, o rendimento térmico que cada máquina pode alcançar. Diferentes fabricantes
usam diferentes critérios de desenho, tentando encontrar o melhor compromisso entre vazões
específicas, volumes em processo e temperaturas de secagem que resultem em equipamentos com a
melhor relação custo/benefício e que causem a menor agressão possível aos grãos.
Um outro aspecto importante dos secadores é potência instalada. Diferentes concepções construtivas
podem afetar de forma importante o número de HP's que uma máquina consome. Este aspecto é de
vital importância, dependendo de onde se instale o sistema de secagem, pois em muitos lugares a
energia elétrica é cara ou limitada, ou ainda pior, racionada. Como regra, secadores recirculados têm
menor consumo específico. No primeiro caso, o motivo é a diminuição do volume total de ar
processado pelo sistema de ventilação da máquina e, no segundo, é a menor perda de carga que se
consegue em corpos de secagem com cavaletes.
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Secagem e Arm. de Grãos. Agronomia 7º período
Prof. Danilo Cesar
As estratégias de secagem mecânicas podem ser as mais variadas. Uma forma é utilizar aerações
potentes. Neste caso, eliminam-se as perdas de campo, mas aumenta-se o consumo de energia
elétrica, cara e de difícil disponibilidade. Esta estratégia tem ainda o problema de conviver com taxas
elevadas de respiração por períodos que podem ser longos, dependendo do tipo e qualidade da
aeração, incorrendo, desta maneira, em perdas de matéria seca e qualidade. Além disso, estudos
científicos demonstram que uma secagem diferida (feita a posteriori) em silos inocula defeitos e perdas
de qualidade que vão se agravando ao longo do período de armazenagem.
Desde o ponto de vista da qualidade dos grãos, o mais recomendável seria a colheita em seu ponto de
maturidade fisiológica e secagem imediata em temperaturas e taxas de ventilação que não agridam o
produto.
Faz sentido, então, aplicar secadores de alto rendimento para melhorar a equação econômica, cujos
fatores mais favoráveis estão em aspectos que por vezes não são avaliados, como rendimento de
massa seca e qualidade final do produto. Num sistema com esta proposta, os custo típicos são da
ordem de US$ 0,25/ton em eletricidade e US$ 0,90/ton em combustível (a custos médios de US$ 0,11
por Kwh e US$ 12,00 por metro cúbico de lenha). Num sistema alternativo, em que se seque até, por
exemplo, 16% de umidade e se encaminhe o grão para silos com ventilação mais potente para
resfriamento e conservação, estes custos mudam para US$ 0,37/ton em eletricidade e US$ 0,67/ton
em combustível. Sem considerar custos de mão-de-obra e depreciação do ativo fixo, a opção com
secagem parcial mostra-se ligeiramente mais econômica no total, ainda que gastando mais em energia
elétrica. Esta diferença cresce se forem utilizados combustíveis mais caros como óleo ou gás.
Seria lógico imaginar que esta tendência se mantivesse até o ponto onde não se secasse os grãos e se
executasse toda secagem por aeração, como sugerido acima. Esta opção, no entanto, apresenta sérias
limitações, pois pode resultar em perdas importantes de qualidade e de perdas de peso e matéria seca
por respiração e deterioração. Os valores econômicos destas perdas podem ultrapassar, de longe, as
eventuais economias feitas com a eliminação da secagem. Além disto, produto não seco armazenado
está sempre correndo risco pela eventualidade de falha no abastecimento elétrico, o que causaria
interrupção na aeração, prejudicando o produto.
Como se pode perceber pelo exposto, a decisão de que tipo de sistema utilizar é muito complexa.
Como regra, secagens mais imediatas, feitas com máquinas que tratem o grão com mais cuidado (vale
dizer máquinas grandes), são mais caras e produzem grãos de melhor qualidade, ao passo que
secagens feitas de forma parcial, ou até diferidas, são mais baratas, mas inevitavelmente causam
algum dano à qualidade do produto, além de reduzirem o volume final de matéria seca; e este fator
não permite verificação de forma definitiva, pois trata de valores absolutos não comparáveis em safras
ou locais distintos.
A qualidade da secagem
A secagem, por sua vez, pode ser uma inoculadora de problemas, se não executada adequadamente.
Como já comentado, pode causar agressões térmicas que são sempre danosas para os grãos. Por esta
razão, a secagem mecânica deve ser objeto de muita atenção e cuidado.
Os processos devem ser tais que os grãos não atinjam temperaturas superiores a um certo valor. Este
valor muda de acordo com o produto e seu uso final. Produtos sensíveis como arroz, cevada malteira e
sementes em geral não devem ultrapassar 39ºC. Também a taxa de remoção de umidade não pode ser
muito elevada, pois pode resultar em elevado stress no grão, gerando trincas e quebras.
A prática recomenda remoções de 1,5 a 2 pontos percentuais por hora, no caso do arroz e das
sementes; de 3 pontos, no caso do milho; e de até 5 pontos, no caso do soja. Esta limitação serve
como parâmetro para definição do tamanho do secador ou do sistema de secagem requerido para cada
tipo de produto e cada capacidade.
Além destas questões de caráter mais amplo, no volume de grão secado existem questões que afetam
os grãos de forma individual.
A primeira delas é quanto o sistema de secagem é capaz de tratar todo e cada um dos grãos de forma
homogênea. Sistemas de secagem em camada estática, como secagem em silos sem misturadores,
tratam de forma diferente os grãos da camada inferior, se comparados com os da camada superior.
Secadores com problemas no fluxo dos grãos ou de ar em seu interior também dão tratamento
desigual aos grãos, quando estes, ao passarem por diferentes caminhos no corpo do secador, estão
sujeitos a distintas condições de secagem. Estas diferenças de tratamento podem fazer com que alguns
grãos estejam sujeitos a condições extremamente desfavoráveis no que se refere à manutenção da
qualidade, ainda que os parâmetros médios, do secador como um todo, estejam como desejado.
Os próprios grãos podem introduzir diferenças individuais, pois nem todos estão no mesmo grau de
umidade. Grãos de um mesmo pé de soja, de uma mesma espiga de milho ou de um mesma panícula
de arroz podem apresentar diferenças de umidade superiores a 5%.
Esta diferença pode causar sobressecagem ou subssecagem em alguns grãos, ainda que a média esteja
correta. Neste caso, pouco pode ser feito no que se refere aos equipamentos, porém cabe ressaltar
uma vez mais: qualquer processo mais lento será mais favorável, uma vez que dará mais tempo para
que os grão busquem alcançar o equilíbrio de umidade.
Tipos de secagem
A mistura é feita por meio de roscas verticais que varrem a superfície do silo. Este sistema
homogeneiza a massa de grãos e elimina potenciais problemas de sobre ou sub-secagem. Como no
sistema anterior, opera por bateladas e, uma vez concluída a secagem, o produto pode ficar
armazenado no próprio silo.
c) Secagem em silo secador Top-Dry: trata-se de um silo dotado de uma superfície perfurada sob o
teto do mesmo, onde camadas seqüenciais de grãos são secas em camada fixa. Os grãos quando
secos, ainda quentes, são descarregados no silo onde passam a ser resfriados. Este ar de resfriamento
adicionado de ar aquecido é utilizado para secagem da camada fixa seguinte. É um sistema com bom
rendimento térmico, consumindo menos de 1000 kcal por kg de água evaporada.
d) Secagem em secadores intermitentes com câmara de repouso: são secadores onde o produto a ser
secado circula no interior da máquina, com ventilação de ar quente, até que se alcance a umidade
desejada. É um secador muito apropriado para produtos com altos graus de umidade. Trata-se sistema
de secagem muito seguro, pois, por dispor de câmara de repouso, só uma pequena parcela do volume
de grãos está sofrendo secagem a cada instante, limitando o potencial agressivo da mesma. Funciona
bem com cargas parciais, o que o torna um sistema apropriado para pequenas produções ou onde haja
descontinuidade de produção.
f) Secagem contínua: um secador contínuo, ventilado com ar aquecido, é carregado com produto
úmido que, após ficar um determinado tempo em seu interior, sai seco, de forma contínua, pronto para
os processos subseqüentes. Os secadores podem ser de fluxo cruzado (coluna ou cavalete) ou fluxo
concorrente. Podem ter ou não sistema de resfriamento incorporado, dependendo de o resto da
instalação dispor ou não de dispositivos para resfriamento.
Secadores podem ser colocados em seqüência e, quando antecedendo silos ventilados, podem ser
utilizados em processos de seca-aeração.
Vale dizer que devem ter acesso fácil e franco às zonas onde haja peças móveis e elementos de
desgaste ou consumo, bem como a lugares onde haja acumulação de sujeira e rejeitos. Também é
importante que sejam dotados de sistemas de comando automáticos, que permitam uma operação
mais adequada, cuidadosa e eficiente do secador.
Outras questões
Limpeza -As impurezas, além de consumirem energia para sua secagem e manuseio, podem causar
problemas no funcionamento dos sistemas de secagem, dificultando tanto o fluxo do ar como o do
produto. Por estas razões, aconselha-se que o produto passe por máquinas de limpeza previamente à
secagem.
A questão das impurezas ainda enfrenta uma impertinente questão comercial, onde as regras de
comercialização permitem um certo nível de impurezas, o que faz com que a limpeza mais apurada não
pareça atrativa ou conveniente.
São vicissitudes que talvez se alterem num futuro próximo, quando ficar claro que não há muito
sentido em manusear, secar, transportar e armazenar impurezas.
Fonte de calor -A escolha do combustível ou fonte térmica é importante. Deve-se levar em conta
disponibilidade e custo e qualidade do ar de secagem produzido. Cada região e cada aplicação tem a
fonte mais adequada, não existindo, portanto, uma fonte de calor ideal.
Na maioria dos casos, a combustão de biomassa ainda é a opção mais conveniente. Nestes casos, um
cuidado a ser tomado é quanto à capacidade de combustão das fornalhas.
De maneira geral, as biomassas (madeira, cascas e resíduos) têm queima difícil e requerem altas
temperaturas e câmaras de combustão amplas para que possam queimar de forma completa, evitando
a geração de gases incombustos e poluentes, além da quantidade de calor necessária para o bom
funcionamento dos secadores. Além disto, as fornalhas de biomassa não devem produzir fagulhas, que
são as potenciais causadoras de incêndio.
Conclusão
Como se pode inferir do apresentado, a secagem de grãos é um tema complexo e deve ser analisado
desde uma perspectiva balizada pelas condicionantes de cada caso específico. Não há verdades
absolutas e, na grande maioria das vezes, a instalação que se dispõe é a possível e não a ideal.
Além disso, em muitas ocasiões, os sistemas de secagem são obrigados a operar fora do seu regime
normal para que a unidade como um todo possa maximizar sua performance.
De qualquer sorte, é importante que os usuários e operadores estejam cônscios das condições de
secagem e armazenagem que conseguem proporcionar aos grãos, buscando maximizar os benefícios
possíveis ou, por outra perspectiva, limitar ao máximo as inevitáveis perdas nas quais sempre se
incorre ao armazenar qualquer produto de origem vegetal.