O guardador de rebanhos
II
O meu olhar ntido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trs...
E o que vejo a cada momento
aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criana se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas no penso nele
Porque pensar no compreender ...
O Mundo no se fez para pensarmos nele
(Pensar estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de
acordo...
Eu no tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza no porque saiba o que
ela ,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que amar ...
Amar a eterna inocncia,
E a nica inocncia no pensar...
PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro.
TEXTO 2
beijamos
Nem fomos mais do que crianas.
E se antes do que eu levares o bolo ao barqueiro
sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-s suave memria lembrando-te assim -
beira-rio,
Pag triste e com flores no regao.
PESSOA, Fernando. Fices do interldio / Odes de Ricardo
Reis.
TEXTO 3
Lisbon Revisited
(l923)
Se tm a verdade, guardem-na!
Sou um tcnico, mas tenho tcnica s dentro da
tcnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a s-lo.
Com todo o direito a s-lo, ouviram?
No me peguem no brao!
No gosto que me peguem no brao. Quero ser
sozinho.
J disse que sou sozinho!
Ah, que maada quererem que eu seja da
companhia!
cu azul o mesmo da minha infncia
Eterna verdade vazia e perfeita!
macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o cu se reflete!
mgoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me
sinta.
Deixem-me em paz! No tardo, que eu nunca
tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silncio quero estar
sozinho!
PESSOA, Fernando. Fices do interldio / Poesias de
lvaro de Campos.
TEXTO 4
Cancioneiro
TEXTO 5
X. MAR PORTUGUS
mar salgado, quanto do teu sal
So lgrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mes choraram,
Quantos filhos em vo rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma no pequena.
Quem quer passar alm do Bojador
Tem que passar alm da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele que espelhou o cu.
PESSOA, Fernando. Mensagem.
TRABALHO EM GRUPO DE 3 OU 4
PESSOAS PARA ENTREGAR NA
PRXIMA
.
SEMANA,
DIA