E ao segundo dia de prova, Carlos Sousa assume-se já como uma das boas surpresas da prova sul-
americana, sendo o único piloto privado a conseguir imiscuir-se na luta de gigantes que opõe as duas
super-favoritas equipas oficiais do pelotão automóvel.
Após uma primeira etapa algo prudente e que serviu essencialmente para o piloto tomar o pulso à
competição e também à nova motorização do seu Mitsubishi Racing Lancer, Carlos Sousa mostrou hoje
o porquê de ser considerado uma ameaça real para as duas formações de fábrica que alinham neste
Dakar.
Afinal, convém não esquecer, é o único privado de toda a caravana automóvel a ter de utilizar um
restritor de 32mm (contra os 34mm das restantes equipas com motores a gasolina) e uma caixa de
apenas cinco velocidades, num estatuto apenas semelhante aos das principais duplas oficiais da
Volkswagen ou BMW.
Indiferente aos mais de seis meses de inactividade e ao próprio desconhecimento absoluto do novo
figurino do Rali Dakar, o mais bem sucedido piloto português no historial desta prova provou hoje estar
ao seu melhor nível de sempre, superando todas as adversidades de uma longa e difícil especial com 355
km cronometrados e logo disputada em condições algo adversas, com a chuva a deixar a pista bastante
escorregadia e traiçoeira.
Ficando a apenas seis segundos do sétimo mais rápido da especial, Carlos Sousa apenas se viu superado
pelo vencedor do ano passado, o sul-africano Giniel de Villiers, já nos derradeiros quilómetros da tirada.
Não obstante, voltou a ser o melhor dos portugueses em prova e também o melhor dos Mitsubishi,
subindo quatro lugares à geral e fixando-se agora no sétimo lugar da classificação, tendo agora à sua
frente apenas carros oficiais das equipas Volkswagen e X-Raid.
“Logo que o percurso se tornou mais técnico, decidi forçar um pouco o ritmo, embora sem correr
quaisquer riscos, também porque o piso estava bastante traiçoeiro e propício a ligeiras saídas de
estrada. Daí até final, mantivemos o mesmo andamento e conseguimos assegurar um bom registo
final, cumprindo o objectivo de subirmos mais uns lugares na classificação geral. No global, foi uma
especial difícil e em que encontramos de tudo um pouco: nevoeiro, chuva e até lama. Mas não
cometemos erros e estou satisfeito pelo ritmo que já conseguimos imprimir nesta fase inicial. Amanhã
o cenário muda radicalmente e vamos já encontrar as primeiras dunas. Espero manter a tendência do
dia de hoje”, resumiu Carlos Sousa à chegada ao bivouac de La Rioja, já ao início da noite.
CLASSIFICAÇÃO
ETAPA 2
1º Al-Attiyah VW 4h01m55s
2º Chichérit BMW + 1m08s
2º Neves VW + 2m01s
3º Sainz VW + 2m41s
4º Miller VW + 2m44s
5º Peterhansel BMW + 3m09s
(…)
9º SOUSA Mitsubishi + 6m20s
Ao contrário do que se passou na última edição, os concorrentes deste Dakar 2010 vão começar a sofrer
já ao terceiro dia prova. De acordo com a Organização, a mudança na paisagem será radical: das rápidas
pistas de terra dos primeiros dois dias, a caravana descobre os primeiros trechos de areia, com perto de
30 km de dunas pela frente. Para além da sua dimensão, apropriada para o início do rali, estas dunas
caracterizam-se pela sua cor branca. Nesta nova paisagem, as equipas poderão apreciar as saídas de
pista. Terão também de se adaptar à mudança de clima e especialmente às tempestades de areia que
são frequentes nesta zona.
CURIOSIDADE DO DIA
Antigo director desportivo da Mitsubishi e considerado um dos grandes responsáveis pelos sucessos
desportivos da ex-equipa oficial japonesa no Dakar (12 vitórias em 27 presenças), Dominique Serieys
aceitou o repto de Nicolas Misslin e passou a desempenhar as funções de consultor e team-manager da
nova equipa JMB Stradale Off Road. Conhecedor como poucos do potencial do Mitsubishi Racing Lancer,
o antigo navegador francês explica quais são as reais limitações de Carlos Sousa pelo facto do seu carro
utilizar um restritor da admissão de ar de 32mm (menos 2mm que os restantes carros a gasolina) e uma
caixa de apenas 5 relações: “Devido ao handicap que lhe foi imposto pela Organização, o carro do
Carlos Sousa perde efectivamente 30 cavalos de potência e 25 km/h de velocidade para os restantes
carros da equipa e outros com motorização a gasolina”.