Os chamados Mega Eventos são, em sua grande maioria, eventos de curto prazo com
conseqüências de longo prazo para as cidades sedes. Os resultados e as conseqüências
geralmente mencionadas na literatura são: a provisão de infra-estrutura, os impactos
econômicos e sociais, a renovação ou criação da imagem da cidade através da mídia,
particularmente da TV.
De acordo com Roche (1994), usualmente também é assumido que os mega eventos
trazem conseqüências futuras em termos de turismo, realocação de plantas industriais e
investimentos externos. Jones (2001) argumenta que para muitas cidades os mega eventos
podem ser um “atalho” para conseguir um reconhecimento global através da exposição de
mídia, o que pode ser bom para um destino turístico caso o evento seja um sucesso, ou até
mesmo, destrutivo caso o evento possua falhas perceptíveis para todos os participantes:
atletas, familiares, imprensa e torcedores.
Roche (1994), relata que os estudos e planejamentos realizados geralmente antes dos
eventos tendem a focar os benefícios econômicos e sociais que o evento em questão pode
gerar. No entanto, de acordo com Higham (1999) existe um crescente número de pesquisas
acadêmicas sobre os efeitos negativos ou ambivalentes dos mega-eventos, tanto do ponto de
vista econômico quanto social. Estas críticas, em sua maioria, estão centradas no processo de
escolha da cidade para o evento, que de acordo com o autor, pode estar desviando parte dos
benefícios econômicos e sociais da comunidade onde o evento será realizado para agradar aos
interesses de patrocinadores e organizadores que, em sua maioria, pouco conhecem da
realidade local.
Outra tendência das pesquisas sobre mega eventos é a de centralizar a análise nos
efeitos ou impactos e não nas causas. No entanto, segundo Roche (1994), recentemente a
1
pesquisa em relação às causas tem recebido alguma atenção através de duas principais
abordagens: planejamento e política.
A abordagem política pode ser justificada, uma vez que, a decisão de sediar um mega
evento é uma decisão política feita pela autoridade local e, na maioria das vezes, não sujeita a
uma análise de custo/benefício (Gamage e Higgs 1997). Somado a isso, pode-se argumentar
que a construção de uma visão objetiva e técnica sobre os mega eventos pode ser prejudicada
pela descontinuidade política, conflito de interesses entre a sociedade local e os organizadores
e patrocinadores.
A abordagem do planejamento nos remete a uma visão mais técnica, onde podem ser
estudadas as variáveis endógenas e exógenas que podem levar ao sucesso ou fracasso do
evento. Desta forma, esta abordagem, é sem dúvida extremamente útil para o planejamento
urbano e turístico da localidade em questão.
As seções seguintes examinam os impactos que podem ser gerados pelos mega
eventos visando contribuir para uma política estratégica que maximize os impactos positivos e
minimize os impactos negativos dos jogos Pan Americanos Rio 2007.
A Decisão da Sede
De acordo com Persson (2002), o método de escolher um destino para sediar os mega
eventos esportivos é semelhante ao método de comercio eletrônico “business to business”
(B2B). O vendedor neste caso é a cidade candidata a sediar o evento e o comprador é o
Comitê responsável pelo evento. O produto, no caso dos jogos Pan-Americanos, é sediar um
mega evento esportivo que dura de 10 a 15 dias, sendo transmitido pela mídia: TV, rádio e
jornais para toda a América e para o mundo. A decisão final do negócio, ou da escolha da
cidade sede, é dada pelos membros do comitê, que geralmente o fazem através do sistema de
votos secretos.
Cabe ressaltar, que o objetivo deste texto é analisar os impactos que podem ser
gerados pelos mega eventos, não pretendendo aprofundar a discussão sobre o processo de
escolha dos jogos, uma vez que, a cidade do Rio de Janeiro já foi escolhida para ser a sede dos
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Jogos Pan Americanos de 2007, e o primeiro passo é a realização de pesquisas e estudos que
possam contribuir para o sucesso dos jogos.
Os impactos econômicos
O cálculo dos impactos econômicos do turismo é uma tarefa muito mais complexa do
que simplesmente calcular os níveis de gastos dos turistas. De acordo com Barbosa (2001), a
estimativa do impacto econômico do turismo, quando baseada somente nos gastos tende a ser
imprecisa e enganosa. Somente quando todos os três níveis de impactos (diretos, indiretos e
induzidos) são estimados é que se pode dizer que os impactos dos gastos turísticos foram
mensurados.
Segundo Cooper (2001), os efeitos diretos das atividades turísticas são os gastos feitos
pelos turistas nos estabelecimentos que fornecem os bens e os serviços turísticos. Parte deste
valor sairá imediatamente da economia para cobrir os gastos com as importações. Desta
forma, os impactos diretos dos gastos tendem a ser menores que o próprio gasto, a não ser em
casos raros onde a economia local consegue produzir e satisfazer todas as necessidades dos
turistas.
Já o efeito induzido é aquele gerado através dos salários, aluguéis e juros recebidos
das atividades turísticas que, por sua vez, geram outras atividades econômicas. Os juros pagos
aos bancos por empréstimos geram mais recursos para futuros empréstimos, ocorrendo
conseqüentemente um aumento da atividade econômica.
No caso dos mega eventos esportivos, os efeitos diretos e indiretos causados pelos
gastos dos espectadores, equipes esportivas e jornalistas visitantes são considerados os
maiores geradores de benefícios para a economia local. Os métodos para estimar estes efeitos
derivam dos modelos econômicos desenvolvidos para estimar os impactos econômicos do
turismo, que podem variar desde o modelo de Insumo-Produto (Archer 1984, Fletcher 1989)
até o modelo de equilíbrio geral, amplamente estudado e desenvolvido por pesquisadores na
Universidade de Nottingham - UK. No entanto, esses modelos possuem falhas no que diz
respeito à questão temporal que caracteriza os mega eventos. Pela natureza destes eventos,
podemos dividir um estudo de impacto econômico para um Mega Evento em três fases
distintas:
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com marketing; Investimentos realizados para a construção do(s) complexo(s) onde
serão realizados os eventos esportivos; Investimentos em infra-estrutura de apoio e
logística para a realização do evento. Aumento dos preços de imóveis. Os impactos
econômicos desta fase têm dimensão temporal finita.
Os Impactos Sociais
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Desta forma, a Organização Mundial de Turismo (1998), sugere uma ampla
coordenação entre a polícia e os organizadores dos eventos, de forma a proteger os visitantes
e participantes das ações criminosas.
Vale ressaltar que qualquer Mega Evento, pela sua natureza, irá gerar transtornos para
a comunidade local como super lotação da cidade, congestionamento, e consequentemente um
distúrbio no estilo de vida da comunidade local.
No entanto, um Mega Evento pode também gerar impactos sociais positivos. Burns et
al (1986), argumenta que o fato de sediar um Mega Evento pode trazer para a população local
um sentimento de orgulho e envolvimento com o evento e consequentemente com a
cidade.Outro efeito positivo ressaltado por Crockett (1994) é que os Mega Eventos esportivos
estimulam jovens a uma participação maior no esporte o que pode, no caso de países em
desenvolvimento, e principalmente no Brasil, modificar e melhorar a realidade destes jovens.
Um outro fator a destacar é a construção da infra-estrutura necessária para a realização dos
mega eventos que pode contribuir para o aumento da qualidade de vida local, já que sua
utilização futura será feita pelos residentes.
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O Gerenciamento da Mobilidade é uma nova técnica, e se faz necessária para melhor atender e satisfazer as
necessidades da sociedade, realizando o planejamento, organização e coordenação da demanda por transportes.
Baseia-se em um conjunto de estratégias e intervenções onde a informação, marketing, comunicação e
coordenação são instrumentos primordiais para o sucesso desta técnica. Ë uma técnica que visa à redução do uso
do automóvel particular e estimular a utilização de formas mais sustentáveis de locomoção como o transporte
público (ônibus e trem), uso de bicicletas e viagens a pé.
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quantidade de visitantes que poderá receber, ou melhor, será necessário identificar a oferta e
demanda existente e potencial para definir o limite de capacidade de carga2, antes de se
comprometer com o desenvolvimento do mega evento. Mesmo se tal limite estiver na
contramão dos interesses econômicos freqüentes e imediatos dos patrocinadores e
organizadores.
O sistema de transporte participa das três fases distintas do impacto econômico: pré-
evento, citado anteriormente como a fase de “investimento em infra-estrutura de apoio e
logística”, sendo eles: licitação de linhas de ônibus, treinamento de motoristas, investimento
na infra-estrutura (malha viária, sinalização, construção de ciclovias, etc...), evento, o sistema
de transporte em si, e pós-evento, representada pela infra-estrutura disponível após o evento.
Todas essas fases devem ser planejadas e discutidas entre as instituições públicas, privadas e
comunidade local.
Cabe ressaltar que ainda há uma enorme lacuna entre o ideal e a realidade prática da
política e do planejamento, onde as entidades responsáveis pelo mega evento devem, neste
curto prazo, realizar um grande esforço para mudar tal situação.
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Capacidade de carga = número máximo de visitantes que um destino turístico pode suportar, para se evitar ou
minimizar os impactos ambientais.
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investimentos federais médios anuais: 1970 a 1990: R$ 7,0 bilhões e 1990 a 2000:
R$ 2,0 bilhões;
• O processo de concessão não solucionará, por si, a deficiência da infra-estrutura do
país, e os investimentos federais serão necessários, aliados a investimentos
privados;
• Houve uma redução do papel articulador, de planejamento, de formulação de
políticas de efetiva gestão do governo federal;
• Há muitos planos e projetos de infra-estrutura de transportes, porém, falta um
programa estruturado de priorização da aplicação dos recursos com objetivos
identificáveis;
• Falta continuidade na aplicação dos investimentos;
• A destinação dos recursos da CIDE não garantiu até o momento fonte segura de
recursos para investimentos em infra-estrutura de transportes;
Sabe-se ainda que, não havendo uma plataforma multimodal para os transportes,
identificam-se alguns aspectos negativos deste sistema: visão concorrencial entre os meios de
transportes, e conseqüentemente isto gera uma disputa isolada por recursos, e ausência da
figura do operador de transporte multimodal como elemento facilitador e integrador logístico.
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• Integração dos modais, beneficiando os usuários à medida que disponibiliza uma
maior opção de transporte, maior competitividade e melhores preços;
• Bilhetagem automática para um melhor controle dos custos e receitas dos meios de
transporte;
• A criação de um bilhete multimodal exclusivo para o visitante que seria vendido
em pontos estratégicos, tais como: postos de informações turísticas, agências de
viagem, hotéis e empresas operadoras de transportes;
• Desenvolver políticas públicas que incentivem e comprometam-se com ações
efetivas para o sucesso do mega eventos - Jogos Pan Americanos Rio 2007.
• Investimento em projetos de infra-estrutura, para facilitar o acesso/deslocamento
aos centros esportivos;
• Reformular o modelo de gestão do setor ferroviário e aquaviário;
• Otimização do sistema de tráfego, especialmente com respeito ao transporte
público (linhas exclusivas aos centros esportivos dos jogos);
• Estabelecimento de um programa de financiamento, envolvendo recursos federais
e privados, recursos do BNDES e de Bancos Multilaterais;
De acordo com Bramwell (1997), pesquisas que relacionam os mega eventos como
componentes de destinos turísticos também enfatizam a necessidade de uma abordagem
efetivamente estratégica. Hall ( ) sugere que o planejamento estratégico para os Mega
eventos são importantes não somente para o sucesso de curto prazo mas também para a
maximização dos benefícios de longo prazo.
Estas perspectivas possuem diferentes argumentos sobre quais os elementos devem ser
inseridos no planejamento além de divergir também quanto a forma de conduzir o
planejamento estratégico.
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diferenças uma vez que cada uma enfatiza diferentes elementos de planejamento assim como
diferentes visões sobre o que deve ser planejado estrategicamente.
A perspectiva clássica, de acordo com Ansoff (1965), requer que primeiro seja feito a
estratégia e somente depois desta etapa é que se podem executar as ações. Esta perspectiva é
vista como uma forma onde o processo decisório se desenvolve de maneira lógica e
seqüencial para se desenvolver e implementar o plano. As etapas sugeridas vão desde a
definição de missão e visão até a implementação, avaliação e revisão.
Inskeep (1994) sugere que o planejamento turístico deve seguir as seguintes etapas
para sua elaboração: determinação de objetivos, pesquisa, analise e síntese, formulação do
plano e das políticas, implementação e monitoramento. Já Getz (1991), defende que o
planejamento de uma mega evento deve seguir os seguintes passos: inventario do evento,
avaliação do produto, avaliação do mercado, identificação dos objetivos, plano de ação e
revisão de todo o processo.
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Os Jogos Pan Americanos Rio 2007
Os Jogos Pan-Americanos são uma versão continental dos Jogos Olímpicos que conta
com esportes do Programa Olímpico e outros não disputados em Olimpíadas. Realizado de
quatro em quatro anos, sempre um ano antes dos Jogos Olímpicos, a primeira edição dos
jogos Pan Americanos aconteceu em 1951, em Buenos Aires, capital da Argentina. Porém,
sua origem remete a 1932, aos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Inspirados pela realização,
seis anos antes, dos primeiros Jogos Centro-Americanos, representantes de países latino-
americanos no Comitê Olímpico Internacional (COI) propuseram a criação de uma
competição que reunisse todos os países das Américas, com o intuito de fortalecer o esporte
na região.
A história dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 começou em 1998. Na ocasião, o Rio
de Janeiro foi a única cidade que manifestou ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) o
interesse em organizar os Jogos. Em 2001, a Prefeitura do Rio e COB cumpriram todas as
etapas do processo formal da candidatura. A candidatura reuniu apoio das três esferas de
governo, federal, estadual e municipal.
A cidade do Rio de Janeiro chegou fortalecida a data da eleição da sede dos Jogos
Pan-Americanos de 2007, pelo fato de ter mostrado a capacidade de organizar, juntamente
com outras capitais brasileiras (São Paulo, Curitiba, Pará) os jogos Sul Americanos de 2002
em 4 meses, uma vez que por motivos de segurança este não pode ser realizado em Bogotá
(Colômbia). Ao final o Rio de Janeiro ganhou o direito de sediar os Jogos Pan Americanos de
2007 por 30 votos a 21, lembrando que os países que já sediaram os Jogos Pan Americanos
possuem voto duplo na ODEPA.
Conclusão
O objetivo deste documento é buscar relacionar o desenvolvimento do mega evento,
seus impactos, e sua inter-relação com várias atividades como: turismo, transporte, hotelaria,
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e entretenimento sob a perspectiva de que o planejamento e gerenciamento destas atividades
sejam tratados a partir de um processo político único, sistêmico e interativo.
A decisão de sediar um Mega Evento, apesar de política, nos remete a diversos fatores
técnicos que não podem ser deixados em segundo plano. Através do texto acima, conclui-se
que um mega evento pode trazer impactos positivos e negativos para a cidade sede, desta
forma faz-se necessário um número maior de estudos e pesquisas de forma a subsidiar os
organizadores dos Jogos Pan Americanos Rio 2007 a alcançar o sucesso: econômico, social e
turístico dos jogos.
- Até que ponto os jogos Pan Americanos serão importantes para a economia e o Turismo
na Cidade do Rio de Janeiro?
- Até que ponto o Rio está preparado para sediar um Mega Evento?
- Qual a perspectiva econômica e social para o Rio em 2007. Como estará a cidade durante
os Jogos?
- Quais as ações para maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos?
- Como a academia e o mercado podem contribuir para o sucesso dos jogos Pan
Americanos de 2007?
- Qual deverá ser o tamanho da demanda (visitantes, atletas e jornalistas) que o município
do Rio de Janeiro poderá receber?
- Os jogos Pan Americanos devem ser realmente desenvolvidos nas áreas apontadas ou há
outras localidades mais apropriadas para este fim, e como estas áreas devem ser
gerenciadas?
- O desenvolvimento de um mega evento modifica a percepção e o comportamento que as
pessoas tem da cidade em que moram? Como modificar este comportamento em beneficio
do município e da comunidade?
- Caso os jogos Pan Americanos realmente contribuam para o desenvolvimento do turismo,
em que medida este desenvolvimento deve estar integrado a políticas de ordem macro,
como as políticas públicas e de transportes?
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Autores:
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Mestrando em Engenharia de Transportes - COPPE/UFRJ; Pós-graduação - MBA em
Turismo, Hotelaria e Entretenimento, Fundação Getulio Vargas (FGV), Abril 2002;
Graduação em Administração de Empresas – Faculdade de Ciências Econômicas e
Administração Toledo, Dezembro 2000. Experiência profissional nas áreas -administrativa,
distribuição e logística. Atuação na área Hoteleira, desenvolvendo diversas atividades no setor
operacional.
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