A Química do Refrigerante
Este trabalho aborda a produção de refrigerantes, descrevendo a função de cada um de seus componentes.
Sua fabricação exige um rigoroso controle a fim de assegurar a qualidade de um produto destinado ao consumo
humano. O refrigerante também se presta para diversas experiências em sala de aula, envolvendo a análise
sensorial, a solubilidade de gases em líquidos e as reações em meio ácido.
R
efrigerante é uma bebida não de Bebidas das Américas (AmBev) tação, alterando a cor original do
alcoólica, carbonatada, com detinham, em 2004, 68% do mercado refrigerante. Os fenóis transferem
alto poder refrescante encontra- (Rosa e cols., 2006). seu sabor típico, principalmente
da em diversos sabores. O vocábulo quando combinado com o cloro
“tubaína”, empregado no interior do Composição do refrigerante (clorofenóis);
Brasil, é sinônimo de refrigerante Os ingredientes que compõem - Metais: Ferro, cobre e manganês
regional e local. A indústria de refri- a formulação do refrigerante têm aceleram reações de oxidação, de-
gerante surgiu em 1871 nos Esta- finalidades específicas e devem se gradando o refrigerante;
dos Unidos. No Brasil, os primeiros enquadrar nos padrões estabeleci- - Padrões microbiológicos: É neces-
registros remontam a 1906, mas dos. São eles: sário um plano de higienização e
somente na década de 1920 é que Água: Constitui cerca de 88% controle criterioso na unidade indus-
o refrigerante entrou definitivamente m/m do produto final. Ela precisa trial, que garantam à água todas as
no cotidiano dos brasileiros (ABIR, preencher certos requisitos para ser características desejadas: límpida,
2007). Em 1942, no Rio de Janeiro, empregada na manufatura de refrige- inodora e livre de microorganismos.
foi instalada a primeira fábrica. rante (Palha, 2005): Açúcar: É o se-
O Brasil é o terceiro produtor - Baixa alcalinidade: gundo ingrediente
mundial de refrigerantes, depois dos Carbonatos e bicar- O Brasil é o terceiro em quantidade (cer-
Estados Unidos e México (Palha, bonatos interagem produtor mundial de ca de 11% m/m). Ele
2005; Rosa e cols., 2006). Contudo, o com ácidos orgâni- refrigerantes, depois dos confere o sabor ado-
consumo per capita é da ordem de 69 cos, como ascórbico Estados Unidos e México. cicado, “encorpa” o
L por habitante por ano, o que coloca e cítrico, presentes produto, juntamente
o país em 28º lugar nesse aspecto. na formulação, alterando o sabor do com o acidulante, fixa e realça o pa-
A Coca-Cola e a Pepsi detêm ¾ do refrigerante, pois reduzem sua acidez ladar e fornece energia. A sacarose
mercado mundial, avaliado em cerca e provocam perda de aroma; (dissacarídeo de fórmula C12H22O11
de US$ 66 bilhões anuais (Rosa e - Sulfatos e cloretos: Auxiliam na de- - glicose + frutose) é o açúcar comu-
cols., 2006). finição do sabor, porém o excesso é mente usado (açúcar cristal).
Entre 1988 e 2004, o mercado na- prejudicial, pois o gosto ficará dema- Concentrados: Conferem o sabor
cional cresceu 165%, verificando-se siado acentuado; característico à bebida. São compos-
também um aumento da participação - Cloro e fenóis: O cloro dá um sabor tos por extratos, óleos essenciais e
de refrigerantes regionais (de 9% para característico de remédio e provoca destilados de frutas e vegetais (Palha,
32%). A Coca-Cola e a Companhia reações de oxidação e despigmen- 2005). Sabor é a experiência mista de
(C7H5NSO3)
(C6H12NSO3Na)
(C14H18N2O5)
(C4H4NSO4K) 3
* Não resiste ao calor (alimentos com aspartame não devem ser aquecidos)
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Abstract: The chemistry of soft drink. This work presents an overview on the production of soft drink, describing the function of each of its components. The manufacture of a soft drink requires
a rigid quality control since it is a product for human consumption. Soft drink is also useful as a tool for some classroom experiments, such as sensorial analysis, the study of solubility of gases in
liquids and the reactions in acid medium.
Keywords: soft drink; gases; sensorial analysis.