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Artigo para a “Visão”

17 de Novembro de 2005

França – o Mundo Intercultural

Pedro Jordão

Apesar da aparência local, as actuais convulsões em França constituem um epifenómeno


de um mundo em que a mobilidade transnacional induz interacções culturais nem sempre
pacíficas. Se não conseguimos gerir agora a integração multicultural menos o conseguiremos
no futuro. Este é um problema sistémico, em inevitável crescimento.
No passado as rejeições culturais conduziam à repressão ou à expulsão. Os judeus foram
obrigados a fugir de Portugal e Espanha e tiveram que aguardar 200 anos para serem
admitidos nas universidades inglesas. Mas no mundo actual 180 milhões de pessoas vivem
fora dos seus países de origem. A interacção entre mentalidades é irreversível. A integração
intercultural já não é só uma opção de consciência mas também um imperativo de
coexistência, de gestão económica e de segurança colectiva. Na França do séc. XXI não existe
a opção de expulsar jovens que vandalizam, jovens que são “imigrantes” de 2ª ou 3ªgeração e
que são juridicamente tão franceses como Jacques Chirac.
Prevê-se que em 2017 cerca de 57% da população de Roterdão seja de origem estrangeira e
nessa cidade é construída a maior mesquita da Europa. Em Granada, na região espanhola que
foi governada pelos mouros durante 800 anos e que no passado recente acolheu meio milhão
de muçulmanos, abriu a primeira mesquita edificada em 500 anos. Na Europa, que absorve 57
milhões de imigrantes, 12 milhões de muçulmanos representam uma ínfima percentagem da
população em geral mas congregam núcleos locais importantes, como em França. A maioria
dos implicados nos atentados de Madrid residia no bairro madrileno de Lavapies. No Reino
Unido mais de metade do crescimento populacional dos últimos anos é composto por
imigrantes. Quase 4 milhões de cidadãos do Zimbabwe vivem nos países vizinhos. Na Arábia
Saudita vivem 6 milhões de estrangeiros.
Os Estados Unidos, o país mais multicultural do mundo, acolhem 36 milhões de imigrantes
de todo o planeta. Em cada ano 1 milhão de mexicanos tentam entrar ilegalmente nos Estados
Unidos. Num plano moral é fácil concluir que as portas dos países ricos deveriam estar
humanitariamente abertas a todos os seres humanos que tiveram o mero azar de nascer em
miséria no local errado do mundo. Mas a limitação de recursos e a coesão local suscitam
limites. Numa sondagem concluiu-se que se os mexicanos ( que são 106 milhões ) pudessem
entrar livremente nos Estados Unidos, 46% da sua população mudaria para este país, algo
impensável.
A entrada de imigrantes pode exacerbar a competição no mercado de trabalho local mas
em geral introduz complementaridades e factores de prosperidade. Mas os jovens franceses
com menos de 25 anos sentem um desemprego que se eleva a 22%. Nos países de origem as
remessas dos emigrantes possuem um peso financeiro frequentemente vital. Essas remessas
representam 25% do PIB da Jordânia e a nível mundial são de 100-200 biliões de dólares.
Mas nos países mais pobres a saída dos seus profissionais é um drama. Por ano saem de
África cerca de 23 mil médicos.
A segurança colectiva é indissociável desta mobilidade transnacional. O fluxo de
emigrantes mexicanos para os Estados Unidos encobre imensos traficantes de droga e
emigrantes do leste europeu estão infiltrados pelas máfias russas. Apesar de a islamofobia ser
irracional não pode ignorar-se que núcleos muçulmanos são base logística para uma
importante parte dos ataques do terrorismo internacional.
A tolerância intercultural na Europa é omnipresente na política discursiva, mas só com
ingenuidade não se vê que se inventam pretextos sucessivos para evitar que a muçulmana
Turquia adira à União Europeia.
Em síntese, os distúrbios em França são um mero exemplo do futuro, numa matriz de
interacções transnacionais que liga economias, cidadãos e culturas e que impõe tolerância e
inteligentes engenharias sociais em tempo útil, sob pena de arriscarmos o conflito alargado e
o caos.

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