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Que Quer Dizer: Dizer Alguma Coisa?* Barbara Cassin*" Resumo: Este artigo tenta mostrar como @ triunfo da ontelogia sobre a sofistica sé é posstvel no momento em que, com Aristételes, se rompe o vinculo entre ser ¢ dizer, chave tanto da constituigdo da ciéncia do ser em Parménides quanto da possibilidade de sua refutagio pelos argumentos da “logologia” sofistica Palavras-chave: ontologia — sofistica — logologia, Fildsofo, sofista, discurso. Dois personagens e um sé trunfo: como € que a seu modo ou, antes, na sua vez de jogar, cada um deles conse gue se apropriar do discurso do outro, instituindo o poder do discurse em proveito préprio? Gostaria de apresentar sucessivamente dois momentos, de exemplar ni- tidez, j4 estudados Separadamente por mim (Cassin 8 ¢ 5), Constituem como que © bate-rebate de bofetadas que deslocam a cabeca ora para um lado, ora Para outro. No primeifo momento, se trata da maneira como Gorgias replica Parménides ou como o tratado Sebre o Nao-Ente ou Sobre a Natureza se propria do poema Sobre a Natureza ou Sobre o Ente, a fim de tornar manifesto que a ontologia é uma obra logolégica, na qual é sempre a sofistica quem fala. No segundo momento, se trata da maneira como Aristételes banca a aposta * Um primeiro esbogo deste trabalho foi apresentado num semindrio do Colégio Internacional de Estudos Filoséticos Transdisciplinares, Rio de Janeiro, em novembro de 1990, tendo-se Sariquecido das discussdes ali surgidas. (Tradugio de Marcio Suzuki) ** Pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique, de Paris. 20 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 diante do regime discursivo de uma sofistica ainda triunfante em meio as ambiguidades e ambivaléncias plat6nicas, a fim de instaurar, com a decisio do sentido, o regime, definitive até nés, das exigéncias totalitdrias da ciéncia do ser enquanto ser, e provar que quem fala, sempre fala a lingua da ontologia. Tudo gira em torno do modo como ser e dizer se enlagam. Que é “dizer alguma coisa” ou, em termos aristotélicos, que quer dizer “dizer alguma coisa” ou, tal como a partir dai todo professor maldoso propord eternamente como tema de dissertaciio a seus alunos, “pode-se falar para nada dizer"? Ao longo da discussao dessa questio — transcendental, desde que existem condigées de possibilidade do discurso —, a vez passa da filosofia a sofistica e da sofistica a filosofia. Af se vera, nova obra de prestidigitagao, que é a resposta do fildsofo que triunfa, mas é a maneira do sofista que assegura essa vit6ria. Dizer, depois de Aristételes, é dizer alguma coisa que tem um sentido para si mesmo ¢ para outrem, mas a filosofia sé ebtém essa equacdo vitoriosa ao citar 0 adversario na presenga dele, tomando-o ao pé da letra: “E vocé mesmo quem acaba de dizer que dizer é sempre dizer alguma coisa.” Aristoteles aplica na sofistica o mesmo golpe que a sofistica acaba de aplicar na ontologia. Mas nao hé nem farsa nem tragédia, e tampouco os gestos se anulam: longe de fazer com que tudo venha, uma vez mais, a dar no mesmo, a histéria nos conduz a uma mudanga de época. De Parménides a Gorgias E Gorgias, com efeito, quem por primeiro nos obriga a uma certa leitura da ontologia, daquilo que ela & por esséncia, como né de ser ¢ dizer. Essa leitura opera em dois niveis, que, por convengao, poderiam ser qualificados como teérico ou filosdfico (contetido, interior: o que 0 poema diz) ou come pratico e literdrio (forma, exterior: o poema como ato de linguagem). Comecemos pelo nivel pratico: ouvindo-o como um todo, como uma obra, compreende-se que o poema, ao falar, faz ser o ser de que fala, E isso duplamente: ao falar dele ¢ ao deixar que ele se diga. Ao falar dele: o Ser é o heréi de Parménides, assim como Ulisses o € de Homero, e, num momento da narragao, sucede ao Ser ser verdadeiramente ele Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 4 mesmo, identificdvel como esfera para todo o sempre perfeita, exatamente nos mesmos termos que descrevem Ulisses preso ao mastro, exposto ao supremo perigo simplesmente porque as Sereias Ihe dizem que é Ulisses (Frag. 8, 26-33 e Odisséia, XII, 160-164) (Cf. minha nota em Cassin 5, pp. 163-169). A poderosa Necessidade ata igualmente o Ser aos liames de sua identidade substancial, Mas além disso, ¢ desta vez se trata de uma fundacdo totalmente diferente daquela da Iliada e da Odisséia, 0 Poema (maitiscula heideggeriana, sob a condi¢ao de “tornar lingiiistica” a co-pertinéncia) faz ser o Ser ao fazé-lo falar a lingua ou deixando-o falar na lingua: 0 ser se desdobra depois do primeiro “e" do fragmento 2, através de todas as formas exigidas ou propostas por uma sintaxe que se inventa, desdobrando-se ao infinito como sujeito (“pais é ser”, 6, 1), apondo-se como participio (“é sendo que é, 6,1), para se substantivar, enfim, pela graga do artigo, no momento mesmo de sua identificagdo herdica (o ente”, 8, 32). Toda a estratégia de Gérgias consiste em nos fazer compreender que o ser jamais é outra coisa que 0 efeito do Poema. As frases do tratado, jogando com a homonimia e com a anfibologia, nos tornam sensfveis A diferenca entre as formas, 4 natureza das palavras (verbo conjugado, infinitivo, participio subs- tantivado ou nfo), ao mesmo tempo que A diferenga entre as fungdes ¢, assim, finalmente, & maneira pela qual a sintaxe cria a semAntica (esti, impessoal: “é possivel”; ou pessoal e, se pessoal, absoluto: “existe”; ou copulativo: “é” tal ou tal?) A conseqiiéncia de tal constatagio é, no entanto, surpreendente: 0 nao-ser Se fraseia tio bem quanto o ser. O Estrangeiro de Platéo retomara o argumento wittgensteiniano: teria sido melhor se Patménides nao falasse do nao-ser, nao Pronunciasse a palavra e nem sequer pensasse nisso, pois, a ndo ser que se chegue ao extremo inumano de emitir sons como uma camp4nula ressonante, a linguagem nos arrasta, ¢ quem diz ouk esti (“nao &”) dird, antes mesmo de se dar conta, impelido pela prépria forga da lingua que fala, t¢ mé eonta (“os nio-entes”) (Sofista, 237a-238c). De fato, como explica perfeitamente Gér- #18, “se o nfio-ser € nfio-ser, no menos que ente o ndo-ente seria: com efeito, 22 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 ondo-ente é ndo-ente tanto quanto o ente é ente, de modo que sao tanto quanto ~ as coisas efetivas.” (M.X.G., 979a 25-28). Gorgias ainda mostra uma outra coisa, num modo que, desta vez, levara de Aristételes a Kant e Benveniste: o nao-ser ndo apenas se fraseia como 0 ser, mas melhor do que o ser; melhor, quer dizer, de mancira menos sofistica, pois deixa justamente menos a¢do para a homonimia e anfibologia. De fato, frasear © nao-ser, dizer que o ndo-ser é nao-ser, ndo leva a confundir cépula e existéncia, como quando se diz “o ser é (ser)”, onde os dois sentidos se confirmam, ou melhor, se confundem, Em suma, o ser, como Ulisses, ¢ polytropos, ainda é talvez um herdi mitolégico, épico, mas nao é sem diivida aquele que seria necessdrio para uma filosofia de pretensao rigorosa. Ao mesmo tempo, a leitura de Gérgias opera no nivel que se podera chamar de téenico, no nivel dos enunciados parmenidianos. No interior do poema se diz que o ser se diz, e que o nalo-ser ndo pode € nao deve se dizer: 0 poema enuncia as regras da relagiio entre ser e dizer, ou melhor, a regra de que sere dizer estéio em relagao. E preciso fazer trés observagdes para compreendé- Jo. O “eu” do poema, sujeito da enunciagio, diz aquilo que se diz, decide acerea do sujeito do enunciado (frag. 2: egon ereo, 2, phrazo, 6; frag. 6,2: ego phrazesthai anoga). © ser, sujeito do enunciado decretado pelo sujeito da enunciacdo, se diz ora como mythos, nome proprio do heréi do Poema, palavra isolada servindo para nomear a via atraente da verdade e da persuasio (frag 8, 1; frag. 2, 1), ora como logos, quer dizer, como aquele que possibilita a relagao, a composicao e sintaxe, 0 prépric discurso (frag. 6, 1), Para dizer aquilo que nado se diz, resta, além do imperativo de nfo dizé-lo, uma nao- inguagem adaptada a seu nao-ser: sons (glossa, frag. 7, 5; onoma, frag. 8, 38). “Que falar seja dizer o ser, tal é, portanto, a ‘decisdo’ que esta no fundamento da ‘tese’ de Parménides” (Aubenque 2, p. 121). Essa leitura do poema é exatamente a de Gorgias, e Pierre Aubenque propoe, em seu préprio nome, a tinica intepre- taco suscetivel de tornar inteligivel a conseqiiéncia sofistica. Tal conseqiléncia é extraida por Gérgias, da maneira, parece, a mais direta, a partir daquilo que chegou até nés como fragmento 3: to gar auto noein estin te kai einai, “é a mesma coisa pensar e ser”. Para evitar 0 anacronismo dum Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 23 “penso, sou”, freqiientemente se faz, por inadverténcia ou nao, como se “pen- sar” fosse passivo: é a mesma coisa ser objeto de pensamento e ser (Aubenque 2, pp. 114-117; O’Brien 14, pp. 19-20), Tal é, em tedo caso, a leitura que Gérgias j4 propde para abrir a segunda tese de seu tratado: é incogno- scivel”. “E preciso que aquilo que é representado (ta phronoumena) seja, e que o nfio-ente, se verdadeiramente nio ¢, tampouco seja representado” (980a 10-11). Ora, a transitividade ou coextensividade, como se preferir, entre “pen- sar” e “dizer” é afirmada e reafirmada ao longo de todo o poema (negativa- mente, a propésito do nao-ser: gnoies-phrasais, frag. 2, 7-8; cf. frag. 8, 7-8; positivamente a propésito do ser: to Jegein to noein te, frag. 6, 1; cf. frag. 8, 34-36). Gorgias esta, pois, imediatamente no direito de concluir que “se assim 6, ninguém diz que uma falsidade nada seria, diria até que carruagens Iutam em pleno mar, pois todas essas coisas seriam.” (id., ibidem 12-14); nao porque nao haja pserdos, mas, mais exatamente, porque uma mentira, um erro, uma ficgdo existem com o mesmo direito que o verdadeiro, desde que sejam proferidos. As duas afirmagées maiores do poema: o ser é, 0 nfo-ser no é, € aidentidade ou co-pertinéncia de ser ¢ pensar (Se Parménides...) sdo suficien- tes para produzir a tese caracterfstica da sofistica: a impossibilidade de distin- guir, do ponto de vista do ser, o verdadeiro do falso (...entéo Gorgias). Nao havendo lugar para 0 ndio-ser, nao hd lugar para erro ou mentira: é a ontologia de Parménides, e somente ela, tomada 4 letra e levada ao extremo, que garante | a infalibilidade e eficécia do discurso, por isso mesmo, sofistico. O ser, novamente, é um efeito do dizer: apenas jd nfio se trata af de uma critica da ontologia — vosso pretenso ser nunca & senio um efeito da maneira pela qual falais —, mas de uma reivindicagao da logologia: “as demonstragdes , dizem tudo, sem excegdo” (id., ibidem, 980a 9s) —, pois nada é da maneira Y Pela qual.o (se) faz crer a ontologia, nao ha outra consisténcia sendo aquela de ser sustentado, A bofetada de Gérgias — tratado contra poema — consiste simplesmente _ ©m chamar atengao, demasiada atengiio, insolente atengio e aten¢do forgada, _ Para todas as manobras, quer da prépria lingua, quer da propria discursividade, ; que permitem o estabelecimento da relagio entre ser € dizer. 24 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 A citagdo de Antistenes: Proclus e Platado Nesse ponto da reflexio, 0 comentador nao pode deixar de aludir a confirmagao fornecida por Antistenes, transmitida por Proclus em seu comen- tario do Crdtilo de Platio. Antistenes dizia que nao se deve contradizer: Tldg yep, onot, Adyos GAnBeterd ylip Adyov th A€yerd $€ t1 Ady 16 SV déyer-6 Se 16 Sv AEyov GAndever. Dirfamos, sacrificande o texto & literalidade: “Pois todo discurso, diz ele, verifica; com efeito, aquele que diz, diz alguma coisa; ora, aquele que diz alguma coisa, diz 0 ente; ora, aquele que diz o ente, verifica.” A equagao sofistica, ultraparmenidiana, ai se desdobra, detalhamente, em toda a sua transitividade: dizer é dizer alguma coisa; dizer alguma coisa, € dizer © ser; dizer o ser, é dizer a verdade; dizer 6, portanto, dizer a verdade. Justamente nao ha “necessidade” de contradizer (este é 0 préprio sentido de mé dein antilegein, que introduz a citagio), pois todos os discursos, como todas as sensagdes, valeme se valem, sem que nenhum deles tenha de triunfar sobre © outro. Daf se pode deduzir, 4 vontade, na linguagem protagoriana, que “o homem € a medida de todas as coisas”, quer porque delas fale ¢ as faga ser, quer porque nfo as evoque ¢ as deixe ao seu nao-ser, quer porque, nalinguagem do Elogio de Helena, “o discurso é 0 grande soberano”, visto que esté em condi¢do de propor a cada alma o mundo no qual ela cré Essa simplificagfo da posigio sofista nado constitui, por isso, um mero resumo, pois a0 mesmo tempo indica todos os Angulos sob os quais pode ser atacada, Isso é confirmado pela seqiiéncia desse breve capitulo em que Proclus propde seu comentario a citagio, comentirio que, em compensagio, os intér- pretes geralmente deixam de lado: Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 25 creio, para explicar, no fundo, a diferenga de posigdo entre Platdo e Aristételes » diante de Antistenes, tomado como férmula embleméatica da discursividade sofistica. E a forga inteiramente nova do aristotelismo € a tinica capaz de opor a essa sofistica uma justa represdlia. Tentemos marcar as principais modali dades dessa diferenga. Como nota, com perspicdcia, Pierre Aubenque, uma das trés partes da equacao antisteniana “é aceita quase sem discussio por Platao”, sendo também atinica, note-se, que nao se presta 4 objeg4o de Proclus. No entanto, prossegue Pierre Aubenque, é a segunda equivaléncia entre “dizer alguma coisa” e “dizer o ente” que se torna realmente problema‘*’, No meu entender, se Platéo ndo questiona essa equivaléncia é porque, em primeiro lugar, nio questiona o fato de que um [ogos seja sempre (mesmo se nao apenas) um loges tinos, quer dizer, exalamente como na interpretagao que Aristdteles faz de Antistenes, o nome préprio ou, quigd, a definigdo ou, em todo caso, a evocagao de um sujeito em sua presenga. Eu podcria até mesmo dizer que a locugdo Jogos tinos contém a interpretagao platénica do legein ti, e que 0 acompanhamento das andlises do Sofista permite constat4-lo. Antes de tudo, até a primeira ocorréncia da citagao parmenidiana, o Estrangeiro deduz, como bom Gérgias, que nao se poderia _ dizer 0 nao-ser, visto que “quem nao diz alguma coisa, nao diz absolutamente “nada” (ton de mé ti legonta anagkaistaton, hés eoike, pantapasin méden | legein, 237e 1 segs.) embora aquele que se esmera a propalar o nao-ser “nem sequer fala” (oude legein, ¢ 4). Para tirar 0 sofista desse inextrincavel reftigio a oferecido pelo pai Parménides, seguem-se, entéio, a demonstragio do ser do d ndo-ser, a escansio pela repeticao da citagao e, enfim, a demonstragao, por nés >, *Xaminada, do ser do falso. A evidéncia que perdura ao longo dessa tltima 4 demonstragio se enuncia com tanta forea quanto antes a proibigao parmenidia- § na: na medida em que mesmo 0 nao-ser ¢ o falso sao, “o discurso é necessaria- g Mente, cada vez que é discurso de alguma coisa; que nao seja discurso de > alguma coisa, éimpossivel” (logon anagkaion, hosanper ei, tinas einai logon, 30 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 mé de tinos adynaton, 262¢6s); ela ainda é repetida antes da definigao do falso que encerra a demonstragdo (“impossivel que haja um discurso que seja dis- curso de nada” — logon onta médenos einai logon, 263c 10s). A passagem de legein ti ao logos tinos assinala a aceitagdo da equivaléncia entre ti € to on, Enfim, mesmo quando dele digo que voa, sempre se trata de um “Teeteto com quem presentemente dialogo” (263a 8) quando o digo: o exemplo € o paradigma da presenga em ai no discurso. Portanto, neste aspecto Platao ainda é pré-socratico.) Em resume, seja, pois, Jogos tinos a interpretagdo platénica de legein ti, perfeitamente conforme a equivaléncia legein ti = legein to on. A isso se opée, em sua radical novidade, a interpretagao aristotélica desenvolvida no Livro Gama da Metaffsica, Legein ti desta vez se explicita em s@mainein ti, “signifi- ear alguma coisa”. Ao mesmo tempo, contrariamente aquilo que pensava um bom ntimero de aristotélicos, o “alguma coisa” em questao ja nao precisa satisfazer 4 exigéncia de ser também um “ente”, Noutras palavras, Aristoteles nos faz deixar a aurora em que a sofistica jogava e entrar na modernidade classica. Antes de explorar o Livro Gama nessa perspectiva, uma tltim: corregio: esse movimento me parece conforme a diferenga j4 assinalada entre 1 symploke, legein ti (predicado) kata tinos (sujeito), ¢ logos tinos (sujeito) peri tines (sujeito, cercado do predicado): nada surpreende, co} efeito, no fato de que a atengao em relagdo ao predicado, veiculada pelo legein i aristotélico, conduza menos ao substancial ou, se se preferir, mais ao lingtiistico. ( O contragolpe é perfeitamente localizdvel: est4 na demonstragao do pri cipio de ndo-contradi¢ao operada no inicio de Gama 4; demonstragao cient camente impossivel, uma vez que se trata do primeiro principio, mas , dialeticamente exequivel, na forma de refutagdo dos adversdrios que preten- | dem refuta-lo. Ora, a refutagao, elegkhos, € a arma por exceléncia da so- fistiea,” que Aristételes, apés Sécrates, lhe tira das maos como um empréstimo de ocasiao. Assim, como ja se constatou, todo o tratado de Gérgias é uma refutagao do poema de Parménides: parte do dizer do outro, simultanea- mente como procedimento enunciativo ¢ como enunciado tematico, tornando- the manifesto as conseqiiéncias ruinosas ou catastréficas — tomada literalmente, a ontologia é logologia: se Parménides nio é inconseqiiente, ele | Cassin, B., diseurso (20), 1993; 19-39 31 ) nao pode ser sendo Gorgias. Em completa simetria, a demonstragdo por refu- . tagdo parte daquilo que o adversario diz sobre o principio (adversdrio que fala + Asua maneira, nem que seja para exprimir sua recusa), tornando manifesto a . conseqiiéncia, ruinesa para ele, de que obedece ao principio no momento 1 mesmo em que 0 contesta — a sofistica, tomada literalmente, € aristotélica: se 1 Gérgias fala (e é isso que geralmente fazem os sofistas), ele nado pode falar § senao como Aristdteles. O mecanismo da refutagdo se desenvolve em poucas linhas, as quais gostaria de relacionar, ponto por ponto, com a citagdo de Antistenes. Antes de mais nada, Aristételes reinvidica para sia primeira equivaléncia de Antistenes: € possivel proceder a refutagdo, diz, “somente se o adversdrio disser alguma coisa” (an monon ti legei, 1006 a 12s), Mas, sendo ultra-antisteniano, assim como Gorgias era ultraparmenidiano, Aristételes assegura essa condicio ne- _ cessdriae suficiente na propria det 0 do homem, excluindo de antemao da humanidade todos aqueles que simplesmente nao se prestariam a sua demons- tragio se ele nada disser, sera ridiculo procurar o que dizer em resposta Aquele que no faz discurso sobre nada, que com isso nio faz discurso algum; pois | um tal homem, enquanto é tal, é subitamente semelhante a uma planta” (13-15). i Ademais, a for¢a propriamente dita da refutagdo provém de uma interpre- tacao desse legein ri, que, contrariamente ao que se passa em Platao, bloqueia a segunda equivaléncia: “dizer alguma coisa” nao é “dizer o ente”, porque nao _ € fazer assercao do ser dessa coisa qualquer que se diz — nem, de resto, de seu ndo-ser. Ao contrario, dizer alguma coisa 6, de uma maneira radicalmente diferente, “significar alguma coisa”: “OQ ponto de partida... ndo é exigir que se diga que alguma coisa ou é ou nfo é (f ewed tt H wh ivan) (pois seria Precipitar-se, sustentando que ai existe uma petigdo de principio), mas que ao. Menos se signifique alguma coisa, para si e para um outro (onwatvery yé w abte kal Gar); pois isso é necessério no momento em que se diz alguma coisa (etep A€you zt). Pois para quem nao significa, nao haveria discurso, nem &g enderegando a si mesmo, nem enderegado a outrem” (1006 a 18-24). Com igual seguranga, Aristételes, que acaba de fundar o imperativo de “dizer alguma coisa” na esséncia do homem, funda agora 0 imperativo de “significar 32 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 alguma coisa” na definigio da linguagem: tudo isso é patente, ao menos na mesma medida que na citagao de Antistenes. Para que a refutaciio efetivamente se opere, é suficiente explicitar a nogao de significagao: significar alguma coisa, nf fio é significar alguma coisa do ente, é significar somente algo de tinico e de convencionalmente idéntico para sie outrem (1006b 12-34). A partir daf, com efeito, basta que eu fale, para que com isso o principio de nao-contradigfo se prove ¢ se instaur mpossfvel que a mesma (palavra) simultaneamente tenha e ndo tenha o mesmo sentido), Toda palavra, visto que tem um sentido, é uma encarnagao do principio, ¢ desde que eu fale, caio sob essa jurisdigao. ye om es Mas para provar que Aristételes efetivamente consegue escapar dessa sofistica que ele esposa, tanto pelo seu gosto de refutagao quanto pela atengao que presta ao discurso enquanto tal, sera necessdrio, parece-me, ainda um esclarecimento. E preciso situar-se com bastante exatidao diante das grandes interpretagdes anteriores ¢, para nés na Franca, ao menos diante da interpre- tagio de Pierre Aubenque em Le Probléme de | "Etre chez Aristote. E perfeita- mente verdadeiro — fato admiravelmente posto a luz nesse livro que ja se tornou classico — que a descoberta ou, mais precisamente, a tematizagao aristotélica da natureza semantica do discurso é, por exceléncia, a contestagao da concepgio sofistica do discurso. Mas isso ocorre sob uma condigao que, parece-me, até agora jamais foi reconhecida como tal: € preciso que o funda- mento de sentido nao seja a esséncia’. Pois, se a natureza semintica do discurso realmente deve suspender a imediatez da relagao entre logos e ser, @ aderéncia da palavra ao objeto do mundo, entao o sentido da palavra 140 poderia depender da esséncia da coisa que, para ter uma ousia — Aristételes nao se cansa de repeti-lo —, deve antes de mais nada ser um on, isto é, existir. Sem essa condigio, ha, pura ¢ simplesmente, contradigio entre descoberta semantica e estratégia anti-sofistica. Para entender como a refutagio pela exigéncia de signifigéo consegue desqualificar a sofistica e garantir novamente a ontologia, basta, ao contrario, constatar que o sentido corresponde — ds vezes, mas ndo sempre, visto que no necessariamente — a uma esséncia. “Por significar alguma coisa”, explic® Aristételes (1006a 32-34), “entendo: se isto é um homem, entao, desde que 19) Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 5 1a) alguma coisa seja um homem, é isso que é ser para um homem”. Entendamas, a partir do exemplo: se “homem” significa “animal bipede”, entéo, desde que io) um homem exista, 0 homem é um animal bipede. O sentido de uma palavra diz e, aesséncia da coisa que a palavra significa, na medida em que essa coisa existe. e Noutras palavras: m (1) Nao se vai da esséncia ao sentido, mas antes do sentido & esséncia; a (2) pode-se passar do sentido @ esséncia, se, e somente se, ha existéncia: Ja. s6 os entes tém por esséncia o sentido da palavra que os designa (é 0 caso da ae palavra “homem” e do homem); (3) quando nao hd existéncia, nao se passa a esséncia, embora a palavra sa tenha um sentido (€ o caso da palavra “bode-cervo”) fio Talvez se possa dizer, para usar um jargdo conveniente ao presente mM propésito, que se a semantica aristotélica consegue impedir a conseqiiéncia es logolégica de uma hiperontologia, isso ocerre porque circunscreve, ao lado da e- ontologia propriamente dita, o lugar para uma logologia revisitada. A fim de ta: que tudo aquilo que se diga nao se torne, por isso mesmo, ser, como em Gorgias se € Antistenes, € necessdrio e suficiente que possa haver sentido sem referéncia. fo Simultaneamente, Aristételes tem as maos livres no que diz respeito ao ao verdadeiro e ao falso. O falso nada tem que ver com o fato de falar de uma 4c, coisa que no existe. Porém, nao porque, como em Platio, sempre se falaré de fa alguma coisa que existe, mesmo quando se trata do ndo-ser. Pois, em Aristé- do teles, pode-se falar de coisas que nao existem, por exemplo, de bodes-cervos, » sem por em perigo a ontologia: pode-se dizer o ndo-ser porque se pode dizer a0 © ndo-ser, porque na linguagem se trata de uma significacio desvinculada da les referéncia. E por isso, de resto, que os valores de verdade ja nio sio uma if questao de sym, sintaxe-sintese, entre um sujeito que é ou nao é e um predicado ria que € ou nao é: “Dizer ‘o ente nao é° ou ‘o ndo-ente é” € falso; ao contrario, dizer ‘o ente &” ou ‘o ndo-ente nao é’, é verdadeiro” (7, 101 1b 26s). Assim, jue Wando nés, aristotélicos, dizemos, dizemos alguma coisa, como Antistenes. jo, Mas quando dizemos alguma coisa, significamos alguma coisa: dizemos pa- jue [2vTas © ndo entes. Bis por que devemos dizer a verdade ao falar de coisas que ica M40 existem (“um boi-cervo no é uma vaca” é uma afirmagio verdadeira). we Acerca das coisas que, quando delas se fala, continuam a nao existir, a 34 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 ca logologia aristotélica, ao invés de fazer concorréncia com a ontologia na constituigdo do mundo, constréi mundos paralelos nos quais as frases verdadei- ras atribuem a ndo-seres predicados inexistentes — nao mais como o falso, em j Platdo, que é, mas o verdadeiro que nao é. Assim, da ontologia aristotélica decorre a possibilidade de admissao da logologia: falando das coisas que nao tém nem existéncia ¢, portanto, nem esséncia nem definigao, desinteressando- se da referéncia fisica ou fenomenal, eis que se abre a possibilidade de co; promover unicamente o sentido, o préprio sentido. Assim como a ontologia car parmenidiana havia-se tornado logologia sofistica, assim também a logologia De se tornara literatura: um caso limite legitimado pela interpretagao do legein ti jst, como sémainein ti. ee ter Duas observagées, para concluir. no De Parménides a Aristoteles, a modulagao da relagio entre ser, dizer ¢ PI* verdade se modifica desde a co-pertinéncia inquestiondvel & desvinculacaa Pel possivel. Mas, em Aristételes, é ainda relacionando-as ao ser e ao nao-ser que podem ser medidas a verdade ou a falsidade de uma proposigao: dizer, daquil 0} que é, que ele é, ou, daquilo que nao €, que nao é — dizer, daquilo que é, que ay nao €, ou, daquilo que nfo é, que é. Verdade e falsidade nao sao, ou nao sa exclusivamente, uma questio de fenomenologia, mas continuam sendo certa: PT mente uma questio de ontologia. “al Que a lingiifstica conviva bem com a ontologia, se torna ainda mai vO! manifesto com os estéicos. Proponho, antes de mais nada, que se tente pensat °°! a teoria estéica da linguagem na perspectiva aberta nao apenas pelas categoriat Pr de Arist6teles, mas pelo semainein ti. Com os estdicos, estd-se de stibito no™ terreno da lingtifstica, gracas a pelo menos duas invengdes. Em primeiro lugar“ res a invengio do ti como género supremo, compreendendo simultaneamente corpos, isto 6, os entes, e os incorpdreos, a respeito dos quais nao se poderi: dizer que sao nao-entes, visto que concernem justamente a esse género su/™° premo."' As criticas dos comentadores de inspiragao aristotélica, que, com Goldschmidt, pensam que no fi estéico ha um ataque ao fi esti, “esséneia”, d vigor ao preconc: sofista: como diz Alexandre de Afrodisia, et yap tf 8i)20" Bu Kol By, “se é alguma coisa, é evidente que também é um ente.” (Top. 301 ee <5 Cassin, B., discurso (20), 1993; 19-39 35 19 (Wall), citado por Goldschmidt 10, p. 15, nota 1) Mas por que nao interpre- tar esse f/ no espago nao-substancial desenhado pelo sémainen ti? Uma segunda invengao vem desde entéo se juntar a primeira, qual seja: a do lekton, “o exprimivel”, ou melhor, “o enuncidvel™'?), Eis o nome de um dos trés elemen- tos “ligados entre eles”, literalmente “subjugados” (suzugein allélois, Sext. Emp., cit, 11) ao Jeges. Com efeito, todo /agos propée simultaneamente dois corpos e um incorpéreo: corpo — antes de mais nada, sémainon —, o signi cante, se define como phané, “som vocal” ou “significante vocal” (Baratin- Desbordes), por exemplo, Dion; depois, corpo é o tugkhanon, o “referente”, isto €, 0 “objeto” ou ainda o “sujeito” no sentido de “substrato”, é o exterior correspondente (to ektos hypokheimenon); e, enfim, como que entre os dois, tem-se esse achado incorpéreo que é 0 Jekron, que também se chama sémai- nomenon, o “significado”, e se define como “a coisa ela mesma” (auto to pragma, “o contetido de pensamento”, traduzem Baratin-Desbordes), indicada pelo som vocal ¢ a qual nds outros compreendemos quando se apresenta ao NOSSO pensamento com 0 som vocal, ao passo que as pessoas que nfo falam nossa lingua (hoi de barbarei) nio a compreendem, ainda que ougam esse som", (Sext. Emp., cit., 12). Assim, quando um estéico significa alguma coisa, significa um “ex- primivel” ou um “significado” que nao € um ser, nem também um nao-ser, mas “alguma coisa” de “incorporal”. E é esse /ekton, e somente ele (mas nio o som vocal nem o referente), que é suscetivel de ser verdadeiro ou falso, sob condigdo, no entanto, de ser “completo” (hautoteles), isto 6, de ser, nao um Predicado isolado, em falta (ellipes), como Sderates, por exemplo, minimo uma “assergao” (axidma), como Sécrates escreve. A estdica, que isola e tematiza o registre do s@mainomenen para dele fazer 0 fegistro da verdade, é, neste sentido, o acabamento do aristotelismo. Mas quando um estéico fala, quando diz alguma coisa, nfio nos esquega- mos de que diz, ao mesmo tempo, um significante, um significado, um referente — tudo isso junto — num logos. Esse conjunto légico condiciona, evidente- mente, a maneira pela qual ser ¢ ndo-ser intervém na determinagdo do ver- dadeiro e do falso. Diégenes Laéreio relata: “A assergéo (axidma) tira seu nome do ato de considerar alguma coisa como verdadeira (axiousthai) ou como 36 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 Ca falsa: quando dizemos ‘é dia’, consideramos que € dia. Se efetivamente é dia, a assergao citada é¢ verdadeira; se nao, é falsa” (WII, 65, trad. Baratin-Des- bordes). “Se efetivamente é dia”: ofions uév obv fépac; “se nado”: wh otong — “se nao é dia”, “se nao se faz dia”, Em suma, quando se diz, pretende-se dizer verdadeiramente. E diz-se verdade quando aquilo que se diz é conform Aquilo que é, A equivaléncia entre dizer o ser e dizer verdade caracteriza uma jg ontologia de prescrigdo antisteniana. Em todo caso, se se em apenas esses textos, dificilmente se qualificara de verdadeiras, como em Antistenes, pro- posigGes de um discurso de ficgdo que, a fim de poder p6r em sintaxe 0 nao-ser com o nao-ser, deveria ao menos rebaixar o plano do “objeto exterior”, d referéncia, ao plano do pragma significado, do “contetido do pensamento”. D bom grado concluirei dizendo que o estoicismo, préximo nesse aspecto ds platonismo, também sofistica, como testemunha seu gosto pelos paradoxos jogos entre significantes — mesmo que tal gosto seja, exatamente como. no Eutidemo de Platao, um testemunho explicito de aversao. E também que aristotelismo constitui, no fim das contas, a mais avangada estratégia anti- sofistica, aristotelismo que consegue, por duas vezes, flagrar o sofista em set proprio lar — fora da humanidade (logos de plantas, que nada dizem), e for da filosofia (histérias de bodes-cervos, que falam verdadeiramente de coisa que nao existem): isso porque logra suspender, o mais eficazmente possivel, relacdo de co-pertinéncia entre logos e ser, relagdo que traz em seu bojo potencial catastrofe da ontologia. Abstract: This paper intends to show that the triumph of onthology over sophistics only occut when Aristoteles breaks the relationship between logos and being, This relationship is the ke} for the foundation of a science of being in Parmenides and also for the possibility of it refutation in the arguments of the sophistic “logologia”. Keywords: onthology — sophistic — logology, Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 37 Notas (1) Cf, em 975 a 25, 0 paradigmatico obx fou odte evan obte jh even, que se pode traduzir, de modo tréplice, por: “aguilo que nem é ser nem ndo-ser”, “nem ser nem ndo ser sao”, “ndo é possivel nem ser nem no ser”; ¢ também mew artigo (Cassin 4, pp. 171-178). (2) Trata-se do capttulo XXXVI da edigado Pasquali (Proclus in Platonis Cratylum commentaria Teubner), citado em particular por Aubengue (1, p. 100, e 2. pp. 120-¢ segs. e nota 58). Cf. Cassin, 5, p. 28. A falta de qualquer mengdo a Antistenes no texto plaidnico, deve-se observar que ndo se trata (ao menos para Pasquali, haja vista aordem que propde) de um comentario a429b (como Pierre Auberque), ou 429d (como creio), mas de um escélio a 385d, anexado a observacdo de Sécrates acerca do hekast0i onoma, o nome, gue cada um dé a cada coisa, mesmo se difere segundo as linguas ¢ os ustdrios; assim, Antistenes se apropria de Protégoras de um modo inteiramente diferente do de Aristételes, no qual se trata do nome de cada coisa (ekaston, Met. V, /024b 35), do enunciada préprio a cada coisa (ho oikeos logos, ho autou logos, 33, 35). Em Platdo, todas as maneiras, igualmente relativas, de nomear 8d0 igualmente justas; em Aristétetes, ndo hd sendo wm enunciade apropriado para cada coisa, e todos os outros falam de alguma outra coisa, Estando dada alguma coisa, é pois impassivel haver contradicdo, tanto porque todos os nomes sao igual- mente verdadeiros desde 0 momenta em que os damos, quanto porque 0 nome ou o enunciado verdadeiro é, ao mesmo tempo, o tinico posstvel. (3) Para essa tradugdo e para a problemdtica do todo, permito-me a referéncia a meu artigo Les Muses et la Philosophie. Eléments pour une Histoire du Pseudos, a Ser publicado nos Etudes sur le Sophiste de Platon, volume coletivo sob a diregdo de Pierre Aubenque, bem como aos trabathos de Michel Narcy, A qui la parole?(!2) e Platon revu et corrigé (13). (4) “€ neta que reside o sofisma ou, se se preferir, 0 arbitrdrio da deciséo.” (Aubenque 2, nota 58, p. 121). (5) E aqui que a clara recusa do legein ti por Proclus ganharia todo seu sentido, dando repentinamente outra intencao ao siléncio acerca da equivaléncia entre legein 4 = legein to on. 38 Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39) (6) Por exemplo, Terence Irwin (11). Sobre isso, veja-se meu trabaiho Quelques Apories de la Science de V Etre — Aristote et le Linguistic Turn, a ser publicado nas atas do coldquio sobre Les Stratégies Contemporaines d’ Appropriation de I’ Antiquité. (7) Assim, como 6 sabido, 0 tratado de Aristoteles, Refutagdes Sofisticas, ndo é uma compilagao das maneiras de refutar os sofistas, mas analisa os mecanismos que permitem aos sofistas levar a bom termo suas préprias refutagées, 0 que por certo posteriormente possiblita ndo se deixar levar por elas (8) Nao insisto nessa demonstragéo, pois constitui 0 centro de meu comentario em Fala, se és homem (Cassin 5). (9) Para Pierre Aubengue (1, p. 128), “a permanéncia da esséncia é... pressuposta como fundamento da unicidade do sentido: & porque as coistas tem uma esséncia que as palavras tém wm sentido”; da mesma maneira, para Terence Irwin (11, pp.241- 266), “significar alguma coisa requer a existéncia das esséncias.” (10) Para Aristételes, portanto, s6 resta a definigao do verdadeiro e do falso langada pelo Estrangeiro logo apés a primeira ocorréncia da citagao parmenidiana (“Serd, creio, reputado falso um enunciado que diga que os entes ndo sdo € que os ndo-entes Go", 240¢ 10 e segs.), pois a definigao do Sofista ndo considera a exaustdo dos casos, que permite pensar o terceiro excluido. Ora, isso jd é, por si sé, bastante significative, pois o enunciado platénico dé testemunho da preeminéncia do ti como sujetto evocado por tedo logos, ae passe que o enunciade aristotélico opera a combinatéria entre um sujeito e um predicade de igual importdncia no enunciada. As sucessivas definigdes do falso no Sofista ndo fardo sendo acentuar a dissimetria (260c I e segs.: “O fato de crer nos ndo-entes ou de dizé-los, eis em suma aquilo que produz o falso no pensamento ow no discurso”: a seguir, 263d, cf. supra). Veja-sé Narcy 12, pp. 82-93. (11) Cf. Sextus Empiricus, Adv, Math,, X, 234 ¢ 0 comentario de Victar Galdschmid# (10, em particular pp. 13-20). (12) E a tradugao proposta por Mare Baratin e Frangoise Desbordes (3) nas dois textos fundamentais que parafraseie aqui: Diégenes Lagreio, Vida dos Fildsofos, VH, 55-73, Sextus Empiricus, Adv. Log., Hl, H (veja-se pp. 122, 128). Cassin, B., discurso (20), 1993: 19-39 39 w o Bibliografia . Aubenque, P. Le Probléme de |’ Etre chez Aristote. Paris, 1983, 5° edicto —_—__ Syntaxe et Sémantique de Etre. In: Aubenque, P. (org.). Etudes sur Parménide, I, Le Poéme de Parménide. Paris, 1989. . Baratin, M./Desbordes, F, L'Analyse Linguistique dans l'Antiquité Clas- sique. Paris, Klincksieck, 1981 . Cassin, B. 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