Enidelce Bertin
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trico do escravo, R.Slenes preocupa-se em observar a funo ideolgica da economia interna dos escravos, ou seja, o quanto os espaos de autonomia dos cativos
serviram aos interesses dos senhores por maior controle social, bem como as estratgias dos escravos para obter ganhos simblicos ou efetivos - no cativeiro. Para
visualizar esses ganhos, o autor atentou para as coisas midas, para tudo aquilo
que os viajantes ignoraram entre elas a alimentao, moradia e a vida familiar.
No ltimo captulo, os estudos antropolgicos sobre os africanos foram o recurso
usado para instrumentalizar a releitura dos relatos de viagens. Isso porque, na anlise
de R.Slenes, as prticas culturais africanas dos escravos no foram compreendidas
pelos viajantes. Assim, o autor empreende a busca de um entendimento para a posse
do fogo sempre aceso no interior das cabanas e suas influncias na famlia escrava.
Na frica Central, alm de servir para cozinhar, o fogo domstico protegia a cabana
dos insetos e da umidade, guardando tambm um sentido ritualstico ao fazer a mediao com os ancestrais. No Brasil, o fogo no interior da cabana servia, entre outras
coisas, para afastar insetos, preservar a cobertura de palha e de ligao com os antepassados. A constatao dessa permanncia de prticas culturais africanas no ca-
Referncia Bibliogrfica
FLORENTINO, M. e GES, J.R. A paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico,
Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997.
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