24 de janeiro de 2010 15
Ensaio do Ser
por Caroline Guimarães Gil
Sei o que dizer
Mas não sei ler
Lixopor Ângela Russi
O que escrevo
Sei o que falar
Há alguns anos atrás, muitos na verdade, levei meus alunos da classe de alfabetização até o aterro sanitário ou lixão como
chamavam na época, para ensinar questões ecológicas referentes aos cuidados com o lixo que produzimos. Foi bem interessante.
As Várias
Distâncias
por Tiago Lobão
O que separa um ponto do outro? Fisicamente falando é o espaço entre eles, conhecido como
distância. Esse espaço gera diversos efeitos colaterais, o mais conhecido é a saudade.
Liquefação
Entretanto, além da saudade, temos outro efeito colateral, que é a total falta de controle que
se tem de interagir com a extremidade oposta do plano em questão. Vou aplicar essa teoria a fa-
tos que me aconteceram há tempos atrás, assim fica mais fácil de compreender.
Estava longe, muito longe de tudo o que me era (e ainda é) querido. Como eu reagiria se um
por Thiago Calixto
desses bens distantes deixasse de existir, sem meu ultimo olhar, palavra ou manifestação? E foi
Houve uma época em que o filho questionou o pai acerca o que, tristemente, me aconteceu naqueles tempos: faleceu uma querida tia minha, enfarto ful-
de uma palavra que de tão obsoleta parecia descartada do minante, rápido, não sofreu.
dicionário vigente, do diálogo cotidiano e das relações huma- Não nos despedimos e não vamos nos falar mais em momento algum enquanto eu existir. Ela
nas. Perguntou-lhe o que era sólido. O pai pensou, refletiu, agora é memória, assim como tudo o que deixa de existir. Isso pode nos levar a divagações sobre “o que realmente é existir” ou sobre
analisou, puxou pela memória e respondeu: é algo que tem os conceitos de “realidade” e “irrealidade” ou até mesmo sobre “imortalidade”. Mas não é ali onde quero chegar.
consistência, substância; que não é oco, tampouco vazio; re- Poderia falar sobre a pessoa de minha tia e a falta que uma pessoa pode fazer no mundo (o que é bem óbvio). Gostaria apenas enfa-
siste ao tempo, ao peso, ao choque; tem fundamento, alicerce tizar o quanto a decisão de ficar distante tem um peso absurdo na vida de todos. Nesse caso o “distanciar-se” pode ser entendido num
e base. Possui constituição e pouco propenso a falhas, firme, sentido maior do que o apenas físico. A pessoa que se encerra em si e não se comunica, a pessoa que se comunica pela metade, a
seguro. É durável. pessoa que esquece de se expressar, estão tão distantes do mundo e dos entes queridos quanto pessoas em lados opostos do globo.
O filho - estarrecido diante de algo que lhe fugia ao repre- Assim como eu, todos que decidem pela distância, pelo “deixar pra depois’, pagam um preço por essa escolha, mas o valor só se
sentável foi tomado por um pavor sem nome, e, em função de sabe depois que se decide. Se vale a pena ou não, depende de como se honra a escolha. Entretanto sei que a falibilidade e delicade-
sua existência nos tempos do abstrato, do virtual, do líquido za da vida nos permite aceitar esse preço, pois no fim das contas, todos fomos feitos para partir. Como os corpos celestes ao redor do
e do medo – derramou uma lágrima inóspita, simbólica de sol, orbitamos em torno de algo que se chama vida e a todo momento nos aproximamos e nos distanciamos, num bailar constante e
seus dias, a qual secou antes de percorrer o caminho que inevitável, regido por nossos “sins” e “nãos”.
antigamente lhe era destinado. Tinha pressa! Arriscar, partir, manter-se distante, encarar a mecânica da vida, requer coragem para dar o primeiro passo, perseverança para con-
Mas não me lembro que momento da história foi esse... tinuar a andar e estômago para regressar e enfrentar o que ficou. Quem compra a briga?
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