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Umuarama, domingo,

24 de janeiro de 2010 15

Ensaio do Ser
por Caroline Guimarães Gil
 
Sei o que dizer
Mas não sei ler
Lixopor Ângela Russi

O que escrevo
Sei o que falar
Há alguns anos atrás, muitos na verdade, levei meus alunos da classe de alfabetização até o aterro sanitário ou lixão como
chamavam na época, para ensinar questões ecológicas referentes aos cuidados com o lixo que produzimos. Foi bem interessante.

Foto por Thiago Casoni


Mas não sei agarrar As crianças que tinham entre 5 e 6 anos ficaram espantadas com a quantidade de lixo naquele local. Tudo muito organizado e o lixo
O que mergulho sendo enterrado a céu aberto. O cheiro era horrível e me questionei se havia sido uma boa idéia levá-los. Entre receios e espanto a
  aula foi dada e aproveitada.
Sei o que ser Quando chegamos de volta à escola todos se afastavam de nós porque estávamos cheirando muito mal. Nós não percebíamos, o
Mas não compareço cheiro estava impregnado em nossas narinas, entretanto, os outros que sentiam um cheiro bem melhor antes que chegássemos não
Pra acontecer suportavam estar perto de nós que havíamos estado no lixão. Rimos muito da situação, explicamos aos pais e corremos para casa e
Sei o que ver para o banho.
Mas não acolher    Hoje ao me lembrar disso consigo
O que aflorar tirar algumas aprendizagens para minha
  vida. Primeira, nunca mais levar alunos ao
lixão e segunda, nunca estar perto do lixo
Não sei se nasço por mim por muito tempo, pois o mau cheiro fica na
Ou se me deixo nascer gente e o pior é que nem se percebe caso
Ou se simplesmente nasço fique tempo demais. É preciso que outros
Sem questionar o porque nos avisem.
    Lixo é o que não nos serve mais, é o que
Eu me protejo se pode jogar fora sem culpa. Lixo é tudo
Eu me cotejo que, se analisado profundamente, revela
Eu me tracejo muito da pessoa que o descartou.
  Há  uma crônica do Luís Fernando
Não sei viver Veríssimo que fala exatamente disso. Dois
Mas não vejo a hora vizinhos acabam por conhecer-se mais
intimamente após observarem os restos de
De respirar lixo doméstico um do outro enquanto o levam
De pulsar. para a lixeira. Da conversa sobre indícios de
uma paixão recém terminada que ele reparou
pelas flores jogadas por ela no lixo, para um
encontro a dois, foi rapidinho. Uma forma
bem humorada de falar do lixo doméstico
que, segundo a crônica, transforma o que
era particular em público.
 O indiscutível é que todos nós produzi-
mos lixo. Orgânico ou não, produzimos sim.
Viver é conviver diariamente com todo o
tipo de lixo O lixo que é nosso e o dos outros
também.
Falei até  agora do lixo, lixo mesmo. Restos de uma civilização que consome mais que deveria, mas, de repente comecei a pensar
em outro tipo de lixo. Aquele que resta de nossos atos conscientes ou dos insanos, lixo que produzimos e não nos damos conta. O que
sobra de nosso cotidiano: tristeza, mágoa, rancor, indecisão, rejeição e o que deveria ir para a lixeira, mas, muitas vezes não vai.
Nosso lixo emocional.
O lixo emocional é tão prejudicial quanto aquele que o lixeiro leva embora dia sim, dia não de nossa lixeira. Como todo lixo,
tentamos escondê-lo de alguma forma. O que deveria ter sido descartado e acabamos guardando não é saudável. Lixo exposto fede
na hora. Lixo escondido fede mais tarde. Uma hora ou outra, fede. Afasta quem não suporta o cheiro. É sábio quem consegue lidar
com ele e dar-lhe um destino razoável.
  O que fazer? Primeiro é preciso identificar o que é lixo. Às vezes guardamos lixo como se fosse produto de primeira necessidade.
Lixo faz mal, então, preste atenção. Se causar lágrimas, dor de estômago, insônia, jogue fora mesmo. Depois de identificado, fora
com ele. Sem dó e nem piedade.
Repense sobre sua vida. Olhe ao final do dia para o que produziu. Colaborou em algo para um mundo melhor? Repense, sem-
pre.
E finalmente, recuse o que você não necessita. Vive-se melhor com o que nos é indispensável. O que sobra é o que não fará
falta.
  Minha aprendizagem mais significativa é que o lixo existe, nós o produzimos, escondê-lo ou não cabe a cada um, mas obrigar
aos outros conviverem com o fedor é opressão pura. Nunca mais fui ao aterro sanitário e nem pretendo ir. Reciclarei o lixo que for
possível e me livrarei daquele que pode me fazer mal. Do meu lixo cuido eu. Ninguém tem obrigação de cuidar dele por mim. É claro,
muitos me ajudam com ele. A diferença é que não obrigo ninguém fazer isso. Quem me ajuda ou é por amor, ou é porque pago meus
impostos mesmo.

As Várias
Distâncias
por Tiago Lobão

O que separa um ponto do outro? Fisicamente falando é o espaço entre eles, conhecido como
distância. Esse espaço gera diversos efeitos colaterais, o mais conhecido é a saudade.

Liquefação
Entretanto, além da saudade, temos outro efeito colateral, que é a total falta de controle que
se tem de interagir com a extremidade oposta do plano em questão. Vou aplicar essa teoria a fa-
tos que me aconteceram há tempos atrás, assim fica mais fácil de compreender.
Estava longe, muito longe de tudo o que me era (e ainda é) querido. Como eu reagiria se um
por Thiago Calixto
desses bens distantes deixasse de existir, sem meu ultimo olhar, palavra ou manifestação? E foi
Houve uma época em que o filho questionou o pai acerca o que, tristemente, me aconteceu naqueles tempos: faleceu uma querida tia minha, enfarto ful-
de uma palavra que de tão obsoleta parecia descartada do minante, rápido, não sofreu.
dicionário vigente, do diálogo cotidiano e das relações huma- Não nos despedimos e não vamos nos falar mais em momento algum enquanto eu existir. Ela
nas. Perguntou-lhe o que era sólido. O pai pensou, refletiu, agora é memória, assim como tudo o que deixa de existir. Isso pode nos levar a divagações sobre “o que realmente é existir” ou sobre
analisou, puxou pela memória e respondeu: é algo que tem os conceitos de “realidade” e “irrealidade” ou até mesmo sobre “imortalidade”. Mas não é ali onde quero chegar.
consistência, substância; que não é oco, tampouco vazio; re- Poderia falar sobre a pessoa de minha tia e a falta que uma pessoa pode fazer no mundo (o que é bem óbvio). Gostaria apenas enfa-
siste ao tempo, ao peso, ao choque; tem fundamento, alicerce tizar o quanto a decisão de ficar distante tem um peso absurdo na vida de todos. Nesse caso o “distanciar-se” pode ser entendido num
e base. Possui constituição e pouco propenso a falhas, firme, sentido maior do que o apenas físico. A pessoa que se encerra em si e não se comunica, a pessoa que se comunica pela metade, a
seguro. É durável. pessoa que esquece de se expressar, estão tão distantes do mundo e dos entes queridos quanto pessoas em lados opostos do globo.
O filho - estarrecido diante de algo que lhe fugia ao repre- Assim como eu, todos que decidem pela distância, pelo “deixar pra depois’, pagam um preço por essa escolha, mas o valor só se
sentável foi tomado por um pavor sem nome, e, em função de sabe depois que se decide. Se vale a pena ou não, depende de como se honra a escolha. Entretanto sei que a falibilidade e delicade-
sua existência nos tempos do abstrato, do virtual, do líquido za da vida nos permite aceitar esse preço, pois no fim das contas, todos fomos feitos para partir. Como os corpos celestes ao redor do
e do medo – derramou uma lágrima inóspita, simbólica de sol, orbitamos em torno de algo que se chama vida e a todo momento nos aproximamos e nos distanciamos, num bailar constante e
seus dias, a qual secou antes de percorrer o caminho que inevitável, regido por nossos “sins” e “nãos”.
antigamente lhe era destinado. Tinha pressa! Arriscar, partir, manter-se distante, encarar a mecânica da vida, requer coragem para dar o primeiro passo, perseverança para con-
Mas não me lembro que momento da história foi esse... tinuar a andar e estômago para regressar e enfrentar o que ficou. Quem compra a briga?

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