Introduo
O romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada
terra, do escritor moambicano Antonio Emlio Leite Couto,
comumente conhecido como Mia Couto (2003), evidencia, por meio
dessa fico, uma proposta de revitalizao, pela via do literrio, da
sociedade moambicana. Nessa perspectiva, a gnese do romance
repousa em uma relao dialtica que se funda, sobretudo, entre a
permanncia (Luar-do-Cho) e a ausncia (cidade), ambas
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mandatrio:
Nesse texto, refiro de passagem um povo do Norte de Moambique,
os chamados Achikundas, descendentes dos escravos, que se
especializaram na travessia do rio Zambeze. Esta gente se dizia de si
mesmo ser o povo do rio e, ao fazer as suas juras e rezas, invocava
o nome do rio. Ainda hoje h quem, naquela regio, empenha a
palavra dizendo: juro pelo rio. E dizem o Rio sem que nunca lhes
tivesse ocorrido dar um outro nome, pois era como se nenhum rio
houvesse no mundo (COUTO, 2009a, p. 62, grifos do autor).
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Consideraes finais
No demais reiterar a forma como a literatura miacoutiana,
temtica e estruturalmente, procura, pelo vis esttico, reformular
uma sociedade historicamente cindida pelos desmandos do processo
de colonizao. Nota-se, pelo que foi exposto, que o embate ferrenho
entre tradio e modernidade j no reina soberano.
A literatura, ento, declara os obliterados anseios nacionais.
Se a assuno de uma via em detrimento de outra pode significar o
comprometimento de ambas, Mia assegura em sua artesania que a
convivncia pode se apresentar como um caminho aberto ao dilogo
e manuteno das culturas que configuram Moambique. E, neste
particular, a representao artstica do rio, como nos ensinou Rosa,
sempre est disponvel a uma terceira margem.
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Recebido em 20/05/2013
Aceito em 05/06/2013
Recebido em 20/03/2013
Aceito em 30/04/2013
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