Sustentabilidade e sustentação
Entrementes, é perceptível que o fator da conservação não pode somente ficar a cargo
do Estado. Necessariamente, é premente envolver a sociedade civil nesse projeto. Então,
cultura é política pública, todavia precisa se fortalecer, se fazer presente, através das entidades
civis e iniciativa privada. A cultura faz parte da economia em que pese ser geradora de
emprego e renda. Políticas públicas não podem prescindir de parcerias com a sociedade civil,
associações, etc. Logo, quando a sociedade civil se fortalece, mais facilmente, as políticas
públicas, podem ser implantadas pelo Estado. Assim, este poderia atuar, através da educação,
com ênfase na educação patrimonial, estreitando, mormente, a ponte: Estado - sociedade civil.
Não cabe, assim, a imobilidade face à falta de recursos financeiros. Tampouco que a
perspectiva econômica se restrinja apenas a alocar recursos financeiros para a conservação.
Ou seja, há dois conceitos envolvidos no processo: Sustentação e Sustentabilidade. A
sustentação se estende aos investimentos diretos no patrimônio histórico e artístico os quais
resultam benefícios de conservação para ambos, seja governo, seja o proprietário do imóvel,
bem como a parceria entre ambos. A sustentação cuja base é o dinheiro utilizado pelo Estado
com vistas à continuidade nas ações de conservação.
Além disso, a gestão pública através da intervenção física no imóvel tombado tem que
ser fundamentada, escorada nas leis de preservação patrimonial. Por exemplo, leis de uso e
ocupação do solo e planos diretores com o fito de promover o desenvolvimento, o controle
ambiental racional, revisões periódicas e instalação de equipamentos de segurança. O segundo
grupo proporciona instrumentos de Gestão e Articulação cuja premissa é a sociedade civil
como guardiã do seu patrimônio e para isso é necessário que se promova a conscientização
desta. Algumas medidas: a) criação de conselhos públicos para o patrimônio cultural,
envolvendo a sociedade. b) maior permeabilidade dos órgãos patrimoniais junto à sociedade.
c) inserção da cultura no desenvolvimento e planejamento econômico e social. Cabe ao
terceiro grupo, o desenvolvimento dos campos científicos correlatos cuja forma instila o
incremento de pesquisas. Ao quarto grupo, o compromisso de ações de informação e difusão
pautadas pela educação patrimonial na conscientização das comunidades.
Depreende-se que os municípios não eram autônomos, existia uma hierarquia, todavia
a Constituição Federal de 1988 alterou esse status. Pois delegou aos municípios também a
proteção do patrimônio histórico-cultural local, empalmada pela legislação federal e estadual.
Note-se que coube ao Estado, também, a intervenção sob o viés educacional. É a formalização
de novas alianças, parcerias entre os entes federativos com vistas a estabelecer um
entendimento entre o nacional e o local. Pensou-se que a reforma e a modernização
administrativa seriam suficientes, no entanto a continuidade e a modernização de métodos de
trabalho os quais visassem à produção de conhecimento, atrelada à autonomia técnica. Dessa
forma, esse não seqüenciamento impediu o estabelecimento de novos órgãos de preservação.
Por outro lado, existem cidades que conseguiram perceber e estabelecer novos pactos
com vistas a enfrentar desafios da relativização cultural ou da porosidade (aberturas,
influências) das fronteiras. Àquelas buscam apoio técnico para a condução de um processo
mais harmônico que englobe a perspectiva de um desenvolvimento sustentável. Outra seara de
discussão é como desenvolver, sustentavelmente, cultura e patrimônio. A Conferência da
Unesco, em 1970, relacionou cultura e desenvolvimento econômico e social. A partir desta
data começaram os questionamentos dos modelos de desenvolvimento baseados em
sustentabilidade econômica e racionalidade técnica. Foram inseridos os fatores culturais como
base na formulação de novos modelos. Ou seja, em 1982, durante a Conferência Mundial
sobre Políticas Culturais, a Unesco, afirmou que as políticas públicas deveriam ser norteadas
nas forças culturais: patrimônio, identidade e criatividade. De modo que é consenso não ser
mais possível desconsiderar o fator da globalização, entendida não somente como o
espraiamento do capital, em contrapartida com um processo de natureza histórico-cultural as
quais induzem à porosidade das fronteiras tradicionais gerando novos entrelaçamentos
culturais das sociedades. Ou seja, a cultura vai se modificando.
Somente a partir dos anos 90, o conceito de universalidade foi sendo substituído pelo
de representatividade. A relação de bens aumentou cuja contemplação seguiu à reivindicação
dos direitos culturais dos cidadãos do mundo na sua especificidade e diferença. As decisões
não se efetivaram. A lista aumentou, entretanto a simples inscrição pressupunha
“reconhecimento”, logo um “direito” prestes à reivindicação. Foi como um “selo” de
qualidade.