Diário do Minho
SEXTA-FEIRA, 25 de Abril de 2008
Salvador de Sousa
Professor da Escola Monsenhor Elísio de Araújo (Pico de Regalados)
Os professores
nunca tiveram receio da avaliação
L i a entrevista da Senhora Ministra
da Educação, no Correio da Manhã do
dia 20 do corrente mês, em que fala,
sobretudo, nos alunos que chum-
bam e na avaliação dos professores
e não posso concordar, de forma al-
guma, quando lá refere o seguinte:
«O que está estabelecido no decreto
regulamentar é que a avaliação, que
no anterior modelo não tinha qual-
quer consequência em termos de
progressão na carreira e contagem
do tempo de serviço, neste modelo
tem consequências… o que aconte-
ce é que Governo nenhum, na mi-
nha opinião, estaria disponível para
abrir uma excepção aos professores
num quadro em que toda a Admi-
nistração Pública está a ser avalia-
da e tem condicionamentos na sua
progressão em função dos resulta-
dos da avaliação…»
Fiquei mais uma vez revoltado,
pois são palavras que, na minha opi-
nião, vão fazer crer que os professo-
res nunca foram avaliados e pode-
rão espalhar ainda mais a ideia de-
turpada que os docentes rejeitam
qualquer tipo de avaliação e isso é
completamente errado. Respeitan-
te aos chumbos também há afirma-
ções que eu não concordo, atenden-
do à minha experiência de dezenas
de anos de trabalho como docente,
mas ficará essa abordagem para um
próximo artigo.
Com a entrada em vigor do De-
creto-Lei n.º 409/89 de 18 de No-
vembro que aprova o Estatuto Re-
muneratório e Estrutura da Carreira
e do Estatuto da Carreira Docente de
28 de Abril de 1990 (Decreto-Lei n.º
139/A), a progressão na carreira do-
Inquérito DM on-line
Manuela Ferreira Leite é a melhor escolha para suceder a Luís
Filipe Menezes na liderança do PSD?
www.diariodominho.pt
cente deixou de ser automática. Por
exemplo, o Decreto-Lei n.º 43/2005
de 29 de Agosto, que determinou o
congelamento das progressões auto-
máticas na carreira, não podia abran-
ger, na minha modesta opinião, os
professores, porque eram avaliados
como podemos ler a seguir:
1) O n.º 1 do Artigo 9.º do De-
creto-Lei n.º 409/89 refere que «a
progressão nos escalões da carrei-
ra docente faz-se por decurso de
tempo de serviço efectivo prestado
em funções docentes, por avaliação
de desempenho e pela frequência,
com aproveitamento, de módulos
de formação»;
2) Era obrigatório apresentar um
relatório crítico de toda a activida-
de docente, respeitante ao respecti-
vo módulo de tempo de serviço em
cada escalão, para ser avaliado por
uma comissão especializada;
3) A avaliação ordinária era feita,
normalmente, dentro dos prazos le-
gais e o professor poderia ter a men-
ção de satisfaz ou de não satisfaz,
sendo esta impeditiva na progressão
na carreira. Vejam só as consequên-
cias de uma avaliação com a men-
ção de não satisfaz: o tempo de ser-
viço naquele escalão deixava de ser
contado para a progressão na carreira
e concurso; duas menções seguidas
ou três interpoladas determinava a
instauração de um processo discipli-
nar que poderia resultar na aposen-
tação compulsiva e para um docen-
te na pré-carreira determinava a ces-
sação da respectiva nomeação. Bas-
tava recusar um cargo pedagógico
sem justificação para estar sujeito à
menção de não satisfaz;
www.diariodominho.pt
Opinião
4) Toda a avaliação tinha em conta
o bom relacionamento com os alu-
nos, a assiduidade, o desempenho
dos cargos, a avaliação dos alunos,
as acções de formação, todo o res-
tante trabalho da actividade lectiva
e não lectiva… Por exemplo, quem
não tivesse as acções de formação
correspondentes aos créditos não
subia de escalão, sendo o docente,
nestas acções, sujeito a uma outra
avaliação, através de um trabalho
final que poderia resultar em men-
ção negativa;
5) A lei vigente de então não re-
fere, em caso algum, que um do-
cente pudesse progredir automa-
ticamente, mas submete o profes-
sor a uma avaliação rigorosa. A pró-
pria menção qualitativa de excelen-
te, que estava prevista no estatuto,
era decidida pelo próprio Ministério
da Educação;
6) O Decreto Regulamentar
n.º 11/98 pode ser consultado para
fundamentar melhor tudo o que re-
feri, chamando a atenção para o ar-
tigo 13.º que veio regulamentar a
menção qualitativa de bom que po-
deria ser já obtido, desde que o do-
cente o requeresse no prazo de 60
dias subsequentes à sua avaliação
com a menção de satisfaz e para o
conseguir teria que ser constituída
uma comissão de avaliação forma-
da pelo presidente do órgão peda-
gógico, um docente exterior ao es-
tabelecimento de ensino designado
pelo respectivo órgão pedagógico e
um docente ou alguém de reconhe-
cido mérito designado pelo docen-
te em avaliação.
Se formos analisar bem, este mo-
Todas as semanas, no nosso site, uma pergunta diferente.
www.diariodominho.pt
www.diariodominho.pt
delo não acrescenta muito ao mo-
delo anterior e os professores sem-
pre o aceitaram, mesmo assistin-
do, por vezes, a acções de forma-
ção no fim-de-semana e fora do
seu horário normal de trabalho. O
principal e que está mais em cau-
sa, com o actual modelo, é a divi-
são da carreira e as limitações esta-
belecidas para se chegar a professor
titular. Não concordo, embora eu já
seja titular, que haja esta divisão e
ver excelentes professores impedi-
dos de ultrapassarem essa barreira.
Existir uma carreira única de pro-
fessor com os respectivos escalões
e com uma avaliação rigorosa esta-
mos todos de acordo, mas impedir,
por via administrativa, de se ascen-
der ao topo da carreira por razões, a
meu ver, meramente economicistas
já não tem justificação. Onde é que
nós encontramos, na Administração
Pública, a denominação de funcio-
nários e funcionários titulares? Ava-
liação sim, divisão não!
www.diariodominho.pt
21
Cartas
ao
25 de Abril
V ivi esta data histórica com
entusiasmo total, porque pen-
sei que esse facto ia mudar
Portugal…
Volvido, porém, pouco tem-
po comecei a desalentar, por-
que muito oportunista dele se
quis aproveitar…
Corremos então o risco de
nova ditadura surgir. Porém,
o povo sensato, nunca disso
quis ouvir…
Hoje, passados tantos anos,
sinto a grande verdade, sei
que o 25 de Abril é hino à Li-
berdade…
António Fernandes Ferreira