http://dn.sapo.pt/revistas/ns/interior.aspx?content_id=1469950
NA PLATEIA estão sentados jovens dos 6 aos 18 anos. Ao serem informados de que o
tema da conversa será o cancro do colo do útero, o encolher de ombros dos rapazes,
em simultâneo com a frase «é uma doença de mulheres», não passa despercebido ao
orador. O aviso é feito de imediato: «O vírus que provoca esse cancro também pode
provocar cancro do pénis.» A plateia fica completamente conquistada.
Como contou à NS’ Filipe Santos Silva, investigador no IPATIMUP e responsável pela
actividade, «o objectivo primordial é informar, dar a conhecer os conceitos básicos do
que é o cancro, quais os riscos, as estratégias de prevenção, mas não de uma forma
alarmista, sem provocar dramas». Para o investigador, é fundamental que a
população «comece e familiarizar-se com a palavra cancro, tem de fazer parte do
nosso quotidiano, não podemos continuar a dizer que “morreu de doença prolongada”
ou tentar esconder, é preciso perceber que é uma doença que pode em certos casos
ser crónica».
SÃO VÁRIOS os tipos de cancro a dar a conhecer nesta iniciativa, a começar pelo
cancro do colo do útero, «que pode ser prevenido, é preciso informar, alertar, não
baixar os braços», frisou o investigador, acrescentando que «o cancro não é uma
escolha pessoal, é um risco», mas neste tipo de cancro, «os riscos podem ser
reduzidos».
E para passar a informação aos mais jovens, «porque o importante é conseguir alertar
esta camada da população para os riscos e envolvê-la na prevenção e no combate à
doença», adiantou Filipe Santos Silva, as sessões não podem ser monótonas. E não o
são, de todo.
Até aqui, tudo parece estar distante da vida de cada um dos participantes: nenhum
dos exames que estão a avaliar é seu. Mas a proposta seguinte deixa-os bastantes
desconfortáveis. É-lhes mostrado na prática, com o auxílio de tubos de ensaio, como
se processa a infecção por aquele vírus. «Se estão presentes na sala 26 alunos, temos
26 tubos de ensaio e avisamos que alguns, sem os identificar, estão infectados com o
HPV. Depois pedimos que façam os cruzamentos que entenderem [ou seja, que façam
em laboratório diversas trocas de parceiros sexuais]. No final de três cruzamentos,
começam a aparecer vários infectados e ao cabo de cinco toda a turma está
contaminada», esclarece o investigador.
Os resultados estão na frente dos jovens, a mensagem é simples e não pode ser
negada, «percebem muito depressa que, afinal, temos de ter cuidados e que isto não
é a brincar. A verdade é que esta é a parte mais forte da sessão». O choque na cara
dos participantes é visível e certamente irão passar a mensagem a todos os
conhecidos.
Programa