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Falar de cancro sem dramas

por VIRGÍNIA ALVES

http://dn.sapo.pt/revistas/ns/interior.aspx?content_id=1469950

Além da investigação e do tratamento do cancro, o IPATIMUP preocupa-se


também em informar para a prevenção. O Cancer Mobile é o projecto
mais recente: destinado aos jovens e adolescentes, vai directo ao assunto
sem papas na língua, como uma autêntica terapia de choque.

NA PLATEIA estão sentados jovens dos 6 aos 18 anos. Ao serem informados de que o
tema da conversa será o cancro do colo do útero, o encolher de ombros dos rapazes,
em simultâneo com a frase «é uma doença de mulheres», não passa despercebido ao
orador. O aviso é feito de imediato: «O vírus que provoca esse cancro também pode
provocar cancro do pénis.» A plateia fica completamente conquistada.

Este é o cenário da mais recente actividade promovida pela Unidade de Educação


Contínua e Divulgação Científica do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da
Universidade do Porto (IPATIMUP), o Cancer Mobile, que para já tem decorrido com
escolas da área do Grande Porto, nas instalações do instituto, embora a ideia seja
alargar a iniciativa a todo o país.

Como contou à NS’ Filipe Santos Silva, investigador no IPATIMUP e responsável pela
actividade, «o objectivo primordial é informar, dar a conhecer os conceitos básicos do
que é o cancro, quais os riscos, as estratégias de prevenção, mas não de uma forma
alarmista, sem provocar dramas». Para o investigador, é fundamental que a
população «comece e familiarizar-se com a palavra cancro, tem de fazer parte do
nosso quotidiano, não podemos continuar a dizer que “morreu de doença prolongada”
ou tentar esconder, é preciso perceber que é uma doença que pode em certos casos
ser crónica».

SÃO VÁRIOS os tipos de cancro a dar a conhecer nesta iniciativa, a começar pelo
cancro do colo do útero, «que pode ser prevenido, é preciso informar, alertar, não
baixar os braços», frisou o investigador, acrescentando que «o cancro não é uma
escolha pessoal, é um risco», mas neste tipo de cancro, «os riscos podem ser
reduzidos».
E para passar a informação aos mais jovens, «porque o importante é conseguir alertar
esta camada da população para os riscos e envolvê-la na prevenção e no combate à
doença», adiantou Filipe Santos Silva, as sessões não podem ser monótonas. E não o
são, de todo.

Começa logo à entrada o envolvimento dos participantes, a quem é pedido que


respondam a um questionário, que é repetido no final da sessão, para avaliar a
sedimentação dos conhecimentos. «Os resultados são magníficos, o que sabiam antes
e depois é incomparável, o sentimento é o de trabalho conseguido», desabafou o
cientista.
Antes do último questionário, muita coisa acontece. «É verdade. Relativamente ao
cancro do colo do útero, depois de dizermos que também pode afectar os rapazes, a
sensação que fica é a de que levaram um banho gelado e todos ficam muito mais
atentos», diz, com um sorriso.

A seguir, é mostrado aos jovens um documentário com dez a 15 minutos de duração


sobre o cancro em questão, a biologia da doença, números de incidência e
mortalidade e alertas sobre o impacte da patologia. Avança-se depois para os factores
de risco, a sintomatologia. Segue-se o que fazer em caso de diagnóstico, onde se
dirigir. A prevenção não podia ficar de fora e são identificados os sinais a estar atento,
quais as formas de prevenção, gestos e atitudes que todos podem ter.
O interessante do documentário é que foi pensado para jovens, «com uma linguagem
simples e não simplista», com imagens fortes, dinâmicas, que prendem a atenção de
qualquer um.

Após mais este impacte, entra um novo elemento em palco, um clínico ou


investigador preparado para uma conversa com a plateia. «É normalmente alguém
que está no terreno e portanto preparado para todas as perguntas, que vão muito
para além do documentário, em muitos casos surgem o que são os receios pessoais
ou então se é contagioso. É interessante verificar que procuram informação mais
detalhada sobre a doença», diz Filipe Santos Silva.

ESTARÃO JÁ os jovens devidamente informados? Para os responsáveis pelo Cancer


Mobile, ainda não. «É preciso passar para as actividades experimentais, para cimentar
a informação, e a nossa proposta é que desempenhem as tarefas de um técnico que
está a fazer o diagnóstico deste tipo de cancro. Nesta fase, as surpresas são muitas e
os riscos que correm são bem percebidos.»
Os jovens são convidados a fazer uma genotipagem do HPV (vírus do papiloma
humano), quais as estirpes patogénicas associadas à doença e, depois de lerem os
resultados, devem emitir um parecer como se fossem técnicos. Para os auxiliar,
podem também utilizar um microscópio virtual em que têm de decidir perante o que
estão a ver, se determinado Papanicolau (o exame mais comum) tem células
estranhas ou não e emitir um parecer.

Até aqui, tudo parece estar distante da vida de cada um dos participantes: nenhum
dos exames que estão a avaliar é seu. Mas a proposta seguinte deixa-os bastantes
desconfortáveis. É-lhes mostrado na prática, com o auxílio de tubos de ensaio, como
se processa a infecção por aquele vírus. «Se estão presentes na sala 26 alunos, temos
26 tubos de ensaio e avisamos que alguns, sem os identificar, estão infectados com o
HPV. Depois pedimos que façam os cruzamentos que entenderem [ou seja, que façam
em laboratório diversas trocas de parceiros sexuais]. No final de três cruzamentos,
começam a aparecer vários infectados e ao cabo de cinco toda a turma está
contaminada», esclarece o investigador.
Os resultados estão na frente dos jovens, a mensagem é simples e não pode ser
negada, «percebem muito depressa que, afinal, temos de ter cuidados e que isto não
é a brincar. A verdade é que esta é a parte mais forte da sessão». O choque na cara
dos participantes é visível e certamente irão passar a mensagem a todos os
conhecidos.

Cancro do colo do útero

É um dos tipos de cancro mais comuns e é a segunda causa de morte em mulheres


jovens na Europa. Em Portugal há cerca de mil novos casos por ano e uma mulher
portuguesa morre por dia vítima deste tipo de cancro, que é causado por um agente
infeccioso, o HPV (vírus do papiloma humano), que se transmite preferencialmente
por contacto directo da pele e mucosas, durante as relações sexuais. Sem esquecer
que também pode causar cancro nos homens.
Mas – e muito importante – pode ser prevenido através da vacina, que foi incluída no
Plano Nacional de Vacinação no ano passado e está indicada, para já, para o sexo
feminino, entre os 9 e os 26 anos. Além disso, pode evitar-se, tendo em atenção o
comportamento sexual, uma vez que o HPV é preferencialmente transmitido por via
sexual. Mais uma vez as medidas para reduzir os riscos são simples: o uso do
preservativo e a tentativa de diminuir o número de parceiros sexuais.
Igualmente importante, a nunca esquecer, é fazer o rastreio: basta fazer o exame
mais comum de todos no seu ginecologista, o Papanicolau. É simples, rápido e
indolor, é apenas a colheita de células do colo do útero.
Resultado positivo? Falemos de tratamento. Quanto mais cedo for detectado, melhor,
nestes casos uma cirurgia pode ser a solução. Em situações mais avançadas, pode ser
necessária a quimioterapia e a radioterapia.

Programa

O Cancer Mobile é financiado no âmbito do Mecanismo Financeiro do Espaço


Económico Europeu em Portugal (EEA Grants) promovido pelo Ministério do Ambiente,
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional e conta ainda com o apoio da
Fundação Gulbenkian. Por ser original na Europa, Bruxelas teve algum problema em
aceitar a parte experimental desta iniciativa. Para o próximo ano, o Cancer Mobile
tem previstas sessões sobre o cancro do colo do útero, do estômago, da pele, do
cólon e da tiróide, e estão a ser pensadas sessões nas próprias escolas. Para já, as
marcações estão abertas para sessões no IPATIMUP através do site do Laboratório
Aberto do IPATIMUP (www.laboratorioaberto.pt).
Para além das sessões regulares do Cancer Mobile, estão previstas mais actividades,
como a que aconteceu no Verão passado quando, em colaboração com a Associação
Portuguesa de Cancro Cutâneo, o Cancer Mobile produziu um toalhete de mesa para
ser usado em esplanadas, subordinado ao tema «Verão com prevenção, pele sem
escaldão».
O desenvolvimento do projecto, além de contar com vários apoios externos ao
IPATIMUP, só foi possível graças ao trabalho desenvolvido por Filipe Santos Silva,
Nuno Teixeira Marcos, Nuno Ribeiro, Luís Carvalho, Joana Salote, Carina Marques,
Rita Coelho e Fátima Carneiro, que acreditam que vale a pena insistir, informar,
educar, para que a incidência de cancro no nosso país comece a reduzir ou que, pelo
menos, todos saibam um pouco mais sobre uma doença que «não é uma escolha
pessoal, é um risco, mas que em alguns casos podemos tomar medidas para os
reduzir».

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