Bruna de Carvalho
escolho
Parado
Na plataforma superior
Entre as pernas
no cho
as compras num plstico
Longe do verso perto da prosa
Sem nimo algum
para as sortidas sempre
enquanto duram
venturosas da paixo
Longe to longe
do humor da ironia
das polimorfas vozes
sibilinas
transtornadas no ouvido
da lngua
Ali onde o cho cho
as pernas, pernas
a coisa, coisa
e a palavra, nenhuma
Onde apenas se refrata
a ideia
24 Cisma primeiro semestre 2013
de um pensamento exaurido
de movimento
Entre dois trajetos
dois portos
(duas lagunas)
duas doenas
Sublimes virtudes do acaso
por que no me tomais
por dentro
e me protegeis do frio de fora
da incessante, intolervel, fuga do enredo?
Da escolha?
(alvim, 2004, p. 79-80)
No causaria escndalo dizer, de uma grande parte da produo
de Francisco Alvim, que h confluncias entre sua poesia e propostas
colocadas por alguns dos poetas brasileiros dos anos 70, agrupados
hoje sob a classificao de poesia marginal. E, se tais confluncias
de fato existem, so originadas de um ponto comum facilmente
identificvel entre Alvim e os poetas marginais: a desindividualizao.
Para o grupo, era determinante a tendncia da coletivizao da prtica
da escrita, transmutada em lugar-comum da comunicao, como se a
poesia pudesse e devesse oferecer campo de reconhecimento da
fala submetida aos acordos do cotidiano; algo dessa descrio ressoa
na poesia de Francisco Alvim, especialmente no caso dos poemas que
compem o livro Elefante. Mas estabelecer, de cara, tal identificao,
parece-me arriscado; a leitura vem a se ofuscar pela excessiva luz
imposta pelo reconhecimento com a dita poesia marginal.
Escolho uma coliso na fluidez que conduz a leitura da maior
parte dos poemas de Elefante, fluidez justificada por uma tonalidade
leve, graciosa; e por mais que isso no os purifique de um certo
veneno visto a pela crtica 1 podem ser lidos sem maiores implicaes
(embora alguns apresentem certa contradio, algo que, deixado em
suspenso, continua a nos perturbar,2 como em Vizinho)3. O poema,
j no seu choque da primeira palavra, parado, obriga-nos a partilhar
da experincia do eu-lrico, estagnado no particpio. Aquele que
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Referncias bibliogrficas
Notas
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